segunda-feira, 30 de junho de 2008

CONVERSA FRANCA


CONVERSA FRANCA
(Clerisvaldo B. Chagas-30.6.2008)

Este blog trará ao amigo internauta, um artigo diário, uma crônica, uma página de livro, fotos ou outras apresentações, fomentando cultura. O básico, porém, será o artigo com temas diversos, locais, nacionais internacionais... Vários artigos estarão resgatando detalhes não capturados no nosso livro O Boi, a bota, e a batina, história completa de Santana do Ipanema.
Agradecemos o convite com esta finalidade ao Valter Filho que mantém o Santana Oxente, com independência política, aspiração do povo.
Por alguns problemas técnicos iniciais, o blog foi interrompido. Apenas cinco artigos foram publicados, sendo eles: Comendo boi, comendo onça; Farra dos precatórios; País violento; Oscar Silva-Informações e Idade Média. (Arquivos). Ficaremos felizes se o amigo internauta, a partir de hoje, acompanhar o nosso trabalho diário no Santana Oxente. Obrigado.
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http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2008/06/conversa-franca.html

domingo, 29 de junho de 2008


LAMPIÃO E VINTE E CINCO
(Clerisvaldo B. Chagas-18.6.2008)

Olho d’Água das Flores é uma cidade do semi-árido alagoano. Pela fertilidade de suas terras, era grande produtora de feijão, milho, mamona, algodão e mandioca. Pertencente a Santana do Ipanema nos tempos de vila e possuindo pequeno comércio regular, aquela urbe atraía a atenção de atravessadores e caixeiros-viajantes. Situada ao pé da serra do Gavião, o lugar sempre foi “bom chovedor” e de lençol freático à flor da terra.
Virgulino Ferreira da Silva, nas suas andanças incansáveis pelos sertões nordestinos, sempre pensava em Alagoas como alvo das suas estripulias. Esta afirmação é proveniente do fato de que a “Terra dos Marechais” era, no período 1920-40, o estado mais rico do Nordeste. Assim como Matinha de Água Branca e Mata Grande tinham sido alvos de bandos de cangaceiros, Olho d’Água das Flores também não iria ficar fora da sanha destruidora de Virgulino. Na era de 20, após a frustração que teve em Juazeiro do Norte com o caso da pseuda patente de capitão, o chefe do bando desceu com sua fúria para o território alagoano. Após observar de longe a Coluna Prestes, desistir de persegui-la e recolher-se a sua ira, o chefe ensandecido atropelou o estado das Alagoas, cujo governador era o também famoso Costa Rego. Foi assim que Lampião invadiu a vila de Olho d’Água cometendo atos severos e repugnantes. Mas antes Lampião não conhecia “Vinte e Cinco”.
“Vinte e Cinco” era um doido que havia na vila de Olho d’Água das Flores, segundo informações de um comerciante de bar daquele município. Lenda ou Verdade ficou registrado o caso folclórico e pitoresco colhido pelo pesquisador nos primeiros anos do século XXI naquele próspero núcleo urbano. “Vinte e Cinco”, o maluco, perambulava livremente pelas ruas da vila de Olho d’Água num dia de feriado. População recolhida em casa ou nos sítios na periferia, não tinha conhecimento de que a vila corria perigo. Virgulino estava nas imediações pronto para dar o bote. Amoitado, ansioso, arisco, o cabeça queria informações.
Lá longe, na curva da estrada, surgiu uma figura masculina que se aproximava do bando. Faquinha de cabo preto deslizando na palha do cigarro, andar cambaio, aió a tiracolo, o sujeito levou um susto desgraçado quando surgiram àqueles homens de dentro do mato, armados até os dentes.
— Bom dia, vem da vila dos Ói d’Água?
A intuição do homem não falhou ao reconhecer o tal Lampião. Gaguejou mas respondeu:
— Bom dia, venho sim senhor.
— Tem muitos macacos (soldados) na Rua?
E o pobre homem, tremendo de medo e sem malícia, falou timidamente:
— Não senhor, na rua só tem “Vinte e Cinco”.
Lampião que só contava no momento com doze homens olhou para os companheiros, pensou e disse:
— Vamo simbora, pessoá! Outro dia nós invade os Ói d’Água das Fulô.
Um tiro sequer foi disparado. E foi assim que um doido chamado “Vinte e Cinco” salvou a vila de Olho d’Água das Flores. Um doido não, um herói. Pelo menos medalha de lata no peito merecia.

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CONVERSA FRANCA
(Clerisvaldo B. Chagas-30.6.20080)

Este blog trará ao amigo internauta, um artigo diário, uma crônica, uma página de livro, fotos ou outras apresentações, fomentando cultura. O básico, porém, será o artigo com temas diversos, locais, nacionais internacionais... Vários artigos estarão resgatando detalhes não capturados no nosso livro O Boi, a bota, e a batina, história completa de Santana do Ipanema.
Agradecemos o convite com esta finalidade ao Valter Filho que mantém o Santana Oxente, com independência política, aspiração do povo.
Por alguns problemas técnicos iniciais, o blog foi interrompido. Apenas cinco artigos foram publicados, sendo eles: Comendo boi, comendo onça; Farra dos precatórios; País violento; Oscar Silva-Informações e Idade Média. (Arquivos). Ficaremos felizes se o amigo internauta, a partir de hoje, acompanhar o nosso trabalho diário no Santana Oxente. Obrigado.


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sábado, 28 de junho de 2008

LAMPIÃO E VINTE E CINCO

LAMPIÃO E VINTE E CINCO
(Clerisvaldo B. Chagas-18.6.2008)

Olho d’Água das Flores é uma cidade do semi-árido alagoano. Pela fertilidade de suas terras, era grande produtora de feijão, milho, mamona, algodão e mandioca. Pertencente a Santana do Ipanema nos tempos de vila e possuindo pequeno comércio regular, aquela urbe atraía a atenção de atravessadores e caixeiros-viajantes. Situada ao pé da serra do Gavião, o lugar sempre foi “bom chovedor” e de lençol freático à flor da terra.
Virgulino Ferreira da Silva, nas suas andanças incansáveis pelos sertões nordestinos, sempre pensava em Alagoas como alvo das suas estripulias. Esta afirmação é proveniente do fato de que a “Terra dos Marechais” era, no período 1920-40, o estado mais rico do Nordeste. Assim como Matinha de Água Branca e Mata Grande tinham sido alvos de bandos de cangaceiros, Olho d’Água das Flores também não iria ficar fora da sanha destruidora de Virgulino. Na era de 20, após a frustração que teve em Juazeiro do Norte com o caso da falsa patente de capitão, o chefe do bando desceu com sua fúria para o território alagoano. Após observar de longe a Coluna Prestes, desistir de persegui-la e recolher-se a sua ira, o chefe ensandecido atropelou o estado das Alagoas, cujo governador era o também famoso Costa Rego. Foi assim que Lampião invadiu a vila de Olho d’Água cometendo atos severos e repugnantes. Mas antes Lampião não conhecia “Vinte e Cinco”.
“Vinte e Cinco” era um doido que havia na vila de Olho d’Água das Flores, segundo informações de um comerciante de bar daquele município. Lenda ou Verdade ficou registrado o caso folclórico e pitoresco colhido pelo pesquisador nos primeiros anos do século XXI naquele próspero núcleo urbano. “Vinte e Cinco”, o maluco, perambulava livremente pelas ruas da vila de Olho d’Água num dia de feriado. População recolhida em casa ou nos sítios na periferia, não tinha conhecimento de que a vila corria perigo. Virgulino estava nas imediações pronto para dar o bote. Amoitado, ansioso, arisco, o cabeça queria informações.
Lá longe, na curva da estrada, surgiu uma figura masculina que se aproximava do bando. Faquinha de cabo preto deslizando na palha do cigarro, andar cambaio, aió a tiracolo, o sujeito levou um susto desgraçado quando surgiram àqueles homens de dentro do mato, armados até os dentes.
— Bom dia, vem da vila dos Ói d’Água?
A intuição do homem não falhou ao reconhecer o tal Lampião. Gaguejou mas respondeu:
— Bom dia, venho sim senhor.
— Tem muitos macacos (soldados) na Rua?
E o pobre homem, tremendo de medo e sem malícia, falou timidamente:
— Não senhor, na rua só tem “Vinte e Cinco”.
Lampião que só contava no momento com doze homens olhou para os companheiros, pensou e disse:
— Vamo simbora, pessoá! Outro dia nós invade os Ói d’Água das Fulô.Um tiro sequer foi disparado. E foi assim que um doido chamado “Vinte e Cinco” salvou a vila de Olho d’Água das Flores. Um doido não, um herói. Pelo menos medalha de lata no peito merecia.
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FUMO NO CACHIMBO


FUMO NO CACHIMBO
(Clerisvaldo B. Chagas-28.6.2008)

No início da minha adolescência havia uma grande variedade de pássaros na região. Como exemplos, rolinhas (branca, azul, caldo-de-feijão, fogo-pagou), galo-de-campina, zé-neguinho, soldadinho, caga-sebo, lavandeira, shofreu, azulão, anum (preto e branco), garrincha, beija-flor, sabiá, canário, coleira, papa-capim, bem-te-vi, cancão, ferreiro e muitos outros que faziam parte da vegetação de caatinga. Sobre a lavandeira e o colibri, dizia a lenda que foram eles quem lavaram os paninhos ensangüentados de Nosso Senhor. Ninguém matava lavandeira, poucos atiravam em colibris. Dizia outra lenda que enquanto a Sagrada Família escapava para o Egito, o bem-te-vi anunciava a passagem para os perseguidores com o seu canto: “bem que vi”. Nas matas nativas de Santana do Ipanema, Sertão de Alagoas, também habitavam aves como a codorniz, o nambu pé-roxo e o nambu-pé.
Afirmavam os caçadores de aves que para se obter sucesso na caçada, a pessoa teria que agradar logo a caapora, conhecida no semi-árido como caipora. Segundo eles, a caipora era o espírito que tomava conta das caças. Ao entrar na caatinga fechada, o caçador teria que deixar nas primeiras árvores um bocado de sal e fumo, este para o cachimbo da caipora que muito fumava. Depois da oferenda, o interessado fazia os seus pedidos e adentrava a mata. Se estivesse usando cachorro, este também como seu dono, estaria protegido. Caso esse ritual não fosse realizado, a caipora esconderia todas as caças e aplicaria surra terrível no cachorro que sairia ganindo pela mata.
Entre os caçadores famosos da época, década de 50, estava o Mário, profissional tão eficiente que recebera o apelido de Mário Nambu. No dia que resolvia ir à mata, Mário perguntava logo quantos nambus o cliente queria. Perguntou isso muitas vezes ao meu pai. Voltava sempre com a quantidade de aves selvagens encomendadas. Não sabemos, entretanto, se o Mário usava o ritual da caipora. Além disso, o caçador, devido a sua bela voz rouca, era um dos seresteiros preferidos para cantar músicas do cantor nacional Augusto Calheiros.
Há alguns anos um assessor de prefeito santanense revelava que o prefeito estivera em Brasília em busca de verbas. Perguntaram se o homem tinha projeto. Disseram que ele levaria verbas para o que quisesse levar, desde que tivesse projeto. Ao alegrar-se diante de tão boa perspectiva, um dos lobistas acrescentou: desde que você deixe tantos por cento para nós. Uma percentagem elevadíssima. O prefeito, surpreendido com o método morte aos iniciantes, voltou a Santana sem o dinheiro.
Não é fácil lutar contra os corruptos de Brasília. Assim como nas caçadas dos anos 50, é preciso conquistar a caipora. Colocar muito sal e fumo no cachimbo dos chaveiros brasilienses. Se levar cachorro, pior.
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quinta-feira, 26 de junho de 2008

ROUBANDO SANTO


ROUBANDO SANTO
(Clerisvaldo B. Chagas-26.6.2008)

Eu avistava a pedra mais famosa do rio da varanda dos fundos da casa de meu pai. Contemplávamos dali também as cheias periódicas de verão ou de outono-inverno. Lá estava ela a cerca de mil metros da Rua Antonio Tavares. Majestosa, empinada, vertical, a pedra de cabeça enegrecida de lodo, parecia realmente um sapo. Ficava e ainda continua de plantão na margem direita do rio Ipanema. Algumas pessoas chamavam-na de Pedra do Cuscuz, contudo, eu preferia o nome da sua aparência mais exata que era a do animal anuro: Pedra do Sapo.
A Pedra do Sapo talvez não tenha três metros de altura, mas além do seu belo porte, servia de marco naquele trecho urbano e era a principal fornecedora da intensidade das cheias por aquelas bandas.
Mais ou menos nas últimas duas décadas do Século XX, um negro alto, chamado José Preto (Zé Preto), vendedor de “mangaios” na feira, teve uma idéia. Zé Preto morava na antiga estrada que dava acesso ao rio Ipanema e que atualmente tem nome de Rua São Paulo. Por motivo de promessa, Preto construiu um pequeno oratório no topo da Pedra do Sapo, colocou o santo lá dentro, tendo antes feito uma pequena escadaria de cimento. Não é preciso dizer que pouco tempo depois de inaugurado o oratório, vândalos quebraram sua pequena porta e carregaram o santo. Em lugares ermos, sem proteção nenhuma, basta começar a selvageria para que todo o restante da obra venha abaixo. Não sabemos qual teria sido a reação de Zé Preto, naturalmente de constrangimento, entretanto, o feirante havia concluído a sua parte. Após o feito dos marginais, parece que a pedra perdeu o encanto. Até parece que perdeu também a pose que demonstrava a adolescentes e adultos. Não foi mais a mesma é verdade, porém, nunca perdeu a sua essência de pedra; pedra forte; pedra diferente; pedra ornamental.
Se você não é nada leitor é apenas uma pedra comum, ninguém mexe com você. No dia em que a sua pessoa conquistar o primeiro cargo na vida, vira Pedra do Sapo. Os infelizes adversários, baba caindo de inveja, logo logo quebrarão a sua portinhola e carregarão os santos.
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terça-feira, 24 de junho de 2008

O CORONEL E A VERGONHA


O CORONEL E A VERGONHA
(Clerisvado B. Chagas-24.6.2008)

O Tenente José Lucena de Albuquerque Maranhão, da polícia alagoana, fazendo uma diligência para prender arruaceiros e assassinos no alto Sertão do seu estado, cercou a casa do velho José Ferreira. Houve tiroteio. Dali saiu morto o velho Ferreira, pai de Virgulino Ferreira da Silva, o futuro Lampião. Lucena só foi saber quem era José e que ele estava na casa, após o tiroteio. Virgulino ainda era cangaceiro manso. José foi sepultado no, então, povoado Santa Cruz do Deserto, pelo sargento Maurício. Lucena passara a ser o inimigo número 1 de Virgulino.
Muito mais a frente, Lucena chegou à cidade de Santana do Ipanema na condição de major, comandando um batalhão de polícia que ali seria sediado.  Os seus componentes haviam sido escolhidos a dedo pelo major, com a finalidade de combater o banditismo. Era o ano de 1936. Com o QG em Santana, as forças volantes do major, chefiadas por sargentos, tenentes e aspirantes, espalharam-se pelo Sertão. Em 1938, as forças de Lucena acabaram com o cangaço trucidando onze cangaceiros, entre os quais, Lampião e Maria Bonita.
Lucena angariou a simpatia do povo santanense fazendo dupla de prestígio com o Padre José Bulhões, até 1950. Chegando ao posto de coronel, José Lucena de Albuquerque Maranhão ainda foi prefeito de Santana, deputado estadual e prefeito de Maceió. (Foi ele quem construiu o mercado de carne e demoliu o cemitério velho do bairro Monumento). A principal via urbana da cidade passou a ser chamada até o presente de Avenida Coronel Lucena.
Contou-me um comerciante que há alguns anos uma pessoa de Sergipe havia sido convidada para ministrar uma palestra no Tênis Clube Santanense. Não recordamos o assunto. Por coincidência, o palestrante era família do Coronel Lucena que ficou muito entusiasmado com o convite. Afinal poderia ser muito bem recebido em Santana por causa da história do parente. Durante o início, eufórico, o palestrante dizia pertencer à família de Lucena, Luceninha... Silêncio na platéia. Nada de aplausos. Foi aí que o comerciante que narrou o fato, numa atitude pouco aconselhável, gritou para o palestrante que ninguém ali sabia quem era Lucena ou Luceninha. De imediato sumiu a terra nos pés do homem. A palidez arrebanhou o seu entusiasmo. Que vergonha passou o palestrante, o povo de Santana presente e os ossos do coronel!... Simplesmente a juventude não sabia da sua história, nem sequer uma linha sobre a avenida principal da cidade
Triste de um povo sem história, sem memória, sem ânimo e sem motivação. Povo fruto de uma escola que não transmite seus valores; professor sem compromisso com a história, com a literatura local, com o sangue literário que é e que se foi. Povo sem memória, sem história, sem crédito, sem miolo. Ignorância sobre o torrão natal é um mal que ataca a maioria dos municípios brasileiros. E inúmeras escolas formam apenas párias sem orgulho, sem chama, sem raízes; fantasmas que não se sustentam nem diante de um soldado, quanto mais de um coronel.

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segunda-feira, 23 de junho de 2008

FOGUEIRA E GENTE


FOGUEIRA E GENTE
Clerisvaldo B. Chagas-23.6.2008)

Aroeira, angico, estalos, faíscas. Estalos, faíscas; estalos, faíscas; estalos, faíscas. Fogo preto, amarelo, fogo vermelho, fogo fogo. É um silêncio longo numa rua longa, numa madrugada longa. Lenhas tortas, lenhas retas, lenhas linheiras na fogueira cambaleante, embriagada, saudosa, compassiva, chorosa. É um coração grande, um esvair fumaça, um esvair de sangue. Uma calma que acalma, que toca, que chora, que desanima.
Passa o gari, cai à garoa, pula o graveto. Desce do céu lágrimas de arame sobre os paus da fogueira esmaecida. Brasas espalhadas, vacilantes, enlutadas. Neves de cinzas nas cristas retintas em despedidas. Soluços mudos numa noite negra, numa rua escura. Doce morte dourada sob as brancas cinzas, sobre as brancas pedras, sobre escalarte chão. O vento é fraco no inverno triste, de um junho triste de um São João tristonho. E a fumarola enrosca-se, expande-se, esvoaça, envulta-se no espaço longo, carregando os sonhos, transportando o tédio, refletindo a vida. Dilata-se a
quentura, refletem-se o calor, o porvir... A juventude. Os restos, o bagaço, o cisco, escondem-se na madeira grande que também é fraca, que também é frágil, que também é cinza.
A fogueira espelha no seu peito (no peito dele). A alma reflete na fogueira, nas achas retorcidas, que se vão. É ativada como o calor... Das catingueiras. Contorce-se com as lamboradas das labaredas coleantes. Despede-se com as longitudes das chamas desiguais. Conforma-se qual brasa arremessada, solitária, na agonia dos estertores... Acovarda-se como a lenha seca, e deita, e chora, e esmaece e tomba... Como a cinza mole na madeira dura.
Cerram-se as portas e o povo dorme e a rua agoniza. E a fogueira morre, e as trevas comem o mundo, o tudo, o nada.
A alma do poeta segue montada na fumaça morna, no corcel branco noturno, rumo aos céus, rumo às estrelas, rumo a outros rumos de uma rosa, dos ventos, sem fim! Sem fim... Sem... Fim...
Alma de poeta não morre no sem nada, nas esferas, no sangue eterno do Senhor. Poeta é pedaço do coração de Deus. Tridimensional... Infinitamente infinito.

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FORNECENDO HISTÓRIA


FORNECENDO HISTÓRIA
(Clerisvaldo B. Chagas-23.6.2008)

Vi muitas coisas acontecendo quando era redator do Jornal do Sertão, encarte do Jornal de Alagoas. Produzido na Rua Nova, nos três andares de um prédio logo no início da rua, o Jornal do Sertão era forte combatente. Forneci os apelidos para uma churrascaria chamando-a Defuntão (por está localizada defronte ao cemitério); e para um estádio municipal, Florestão, por está sendo construído na localidade Floresta do outro lado do rio Ipanema. Denunciamos e apelidamos também um bando de assaltantes que agiam na região do alto sertão como Lampião II e lutamos incessantemente pela nova adutora Pão de Açúcar/Santana do Ipanema, afora tantas e tantas outras reportagens de peso.
Lembro-me que certo dia, o repórter Edvan Silva deixou a redação em disparada por causa da primeira notícia de AIDS em Santana do Ipanema. Era tabu falar-se no assunto. Corria o boato que certo cidadão viera de São Paulo com esta doença e havia ido até uma barbearia para fazer a barba e cortar o cabelo. Ao saber de quem se tratava, logo após terminar a sua tarefa, o barbeiro teria jogado a navalha de marca famosa no lixo e tomado rapidamente outras providências. Lembro-me como hoje do retorno de Edvan ao local de trabalho, papel e caneta na mão, suor farto pela testa morena e ansiedade sem par visando um furo de reportagem. Era o ano de 1986. Agíamos com bastante independência.
Em 1926, quando Lampião invadiu a vila de Olho d’Água das Flores, causando muita revolta e sofrimentos, os jornais de Alagoas calaram. Segundo o saudoso escritor palmeirense Valdemar de Souza Lima (Lampião e o IV mandamento) uma linha sequer foi escrita a respeito do assunto. Ora, a Imprensa alagoana da época ou foi omissa no seu sagrado compromisso de bem informar ou tinha um conchavo com o governo do momento ou ainda possuía um medo triste do famoso Costa Rego.
Parte da imprensa alagoana de hoje ainda não saiu da condição de provinciana e fora alguns dos motivos acima, não sabemos outros poréns. O que sabemos é que se prefere ficar falando de bandido pé de chinelo, de meio quilo de maconha, do buraco da rua ou de receita de bolo. Essas são “fontes inesgotáveis de notícias”, para uma Imprensa que talvez não queira o respeito dos seus leitores. Inúmeros fatos de suma importância e repercussão internacional acontecendo em nosso estado e quando se liga a televisão, parceiro da imprensa, a esposa, o genro, o amigo, o povo logo diz: lá vem m... É de doer até em cabeça de prego. Uma VERGONHA! Imprensa grande que se faz pequenininha, minguada, sumida, esquelética, zumbi. Imprensa covarde como o general que deserta da guerra; como o médico que não examina; Como o boi que não produz; como o juiz medroso no julgar.
O Sertão está precisando de gente para trabalhar na roça; de preferência de mãos finas, de caneta ouro, de terno inglês, de porte Mister. Pelo menos o homem da enxada queimado pelo Sol, temperado pelo sereno, vislumbrado pela fé, sabe de cor e salteado o seu dever de produzir.

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domingo, 22 de junho de 2008

PRESENÇA DO PASSADO


PRESENÇA DO PASSADO 
(Clerisvaldo B. Chagas-22.6.2008)

Fui pioneiro solitário do estudo Santana-Arapiraca; primeiramente através dos ônibus da Companhia de Transportes Progresso via Palmeira dos Índios, depois pelo mesmo transporte via Batalha e suas fazendas nas estradas de barro da época. Por Palmeira, baldeando com o transporte particular de colegas palmeirenses. Por Batalha, num longo trajeto sem fim que parecia não chegar nunca. No último ano, finalmente, acompanhando de automóvel a construção do asfalto Arapiraca—Olho d’Água das Flores; passo a passo, cenário a cenário, seguindo o nascimento do pretume na AL 220. Três anos de lutas e sacrifícios que se encaixam num romance bem contado.
Fui pioneiro também no estudo Santana-Arcoverde, Pernambuco. Inicialmente num esforço automobilístico via Águas Belas-Iati-Tupanatinga. Em seguida, por desvios esquisitos, extravagantes, desérticos de caatinga brava. Já no final da luta, seguindo através do único ônibus para aquelas bandas da Companhia Jotude fazendo linha Pão de Açúcar, Alagoas-Recife. As viagens de retorno sempre foram viagens de contramão com absoluta falta de transportes como ainda hoje.  Nada mudou. O retorno era um esforço inusitado para tomar o ônibus único para Alagoas de uma da madrugada que fazia linha Recife—Penedo via Garanhuns. Teria que chegar na “Suiça Brasileira” antes da meia-noite para tentar uma vaga (era proibido pegar passageiro) no ônibus da Jotude e saltar em Palmeira dos Índios, amanhecer num hotel e retornar a Santana pelos ônibus da Progresso.
Foi lá em Arcoverde, cursando a Plena de Geografia que tive a felicidade de conhecer o professor e escritor Aleixo Leite Filho. Baixinho, calvo, gozador e intelectual, Aleixo me fez abrir caminho para outros santanenses que ali foram aos estudos após minha saída. Meu nome passou a ser referência em todos os lugares da faculdade, abrindo portas para eles.
Travei uma sólida amizade com Aleixo que afirmava não gostar de Arcoverde. Amava a sua terra Caruaru onde morava e mora. Lá pesquisava, lecionava e escrevia. Li e possuo alguns livros de Aleixo como “A Cartilha do Cantador”, “Mangação do Pajeú” e “No Bico dos Gaviões”. Esqueci de dizer que Aleixo Leite é apaixonado pelas coisas do Sertão e Agreste, sobretudo por cantoria de viola. Certa feita aquele ilustre escritor escreveu longo artigo tecendo elogios a um dos meus romances “Defunto Perfumado”, através de conceituado jornal de Caruaru.
Após longo tempo sem contato, eis que recebo um belo livro de 40 crônicas escolhidas do meu amigo e professor. Trata-se de “Presença do Passado” quando o autor demonstra seus conhecimentos e habilidades numa variação enorme de temas interessantes. Li com muito gosto o seu presente, mas não pude responder de imediato.
Caruaru, além de projeção nacional com a feira gigante, com os bonecos do mestre Vitalino, com a festa do maior São João do mundo, na certa também deve ter ficado orgulhosa com mais um livro na sociedade fruto de um homem que ama e honra a sua terra.
Parabéns Aleixo Leite Filho. A jornada é longa e sua cabeça é uma indústria. Mas o mote é meu, feito na hora: A “Presença do Passado” é o presente/quando Aleixo resolve usar a pena. Salve!
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quarta-feira, 18 de junho de 2008

OSCAR SILVA -INFORMAÇÃO

OSCAR SILVA-INFORMAÇÃO
(Escritor Clerisvaldo B. Chagas-6.6.2008)

Nasceu Oscar Silva em 1915, na Rua do Sebo, depois Cleto Campelo e atual Rua Antonio Tavares, em Santana do Ipanema, Alagoas. Sua casa era um pardieiro situado em cima de pedras fixas que lutava contra chuvas e ventos. De família extremamente pobre, o garoto foi criado pela avó Josefina, viúva que para sobreviver exercia a profissão de fladreleira. Confeccionava artigos de flandres como candeeiro e outros objetos de lata. Extremamente rígida, voz compassada e metálica a velha “Zifina” fazia malabarismos para manter a vida escolar e social do neto.
Oscar foi criado brincando na Rua do Sebo, no Poço dos Homens, nas capoeiras, na periferia de Santana. Mais tarde exerceu várias funções como marceneiro, tecelão e mesmo como músico da bandinha do Joel. Para fugir das constantes secas que assolavam a região, resolveu alistar-se como voluntário para lutar na revolução paulista nos anos 30. Descendo para Maceió no caminhão dos flagelados — que também seguiam com a mesma finalidade para fugir da fome — não conseguiu ser aprovado. Tempos depois surge Oscar como sargento de um batalhão de polícia formado para combater Lampião. Comandado pelo, então, Major Lucena, o Batalhão chegou a Santana em 1936 e ali implantou a sua sede. Oscar não fora escolhido a dedo como os demais e tinha certo complexo por ser intelectualizado, pois era autodidata e andava sempre com livros debaixo do braço. Como intelectual não participava de incursões contra os bandidos, porém, com outros companheiros chegou a enterrar os restos de Lampião e seus cabras vítimas da chacina de Angicos, em 1938.
Provavelmente Oscar deve ter retornado a Maceió com o batalhão no período 1940-50. Escrevendo seus primeiros artigos, Oscar Silva fez parte do segundo movimento regionalista de literatura originário do Recife e que acontecia na capital de Alagoas em 1950. Lutando contra preconceitos em todas as áreas, o menino pobre de Santana do Ipanema, publica o seu primeiro livro de crônicas sertanejas que tem Santana como pano de fundo. “Fruta de Palma” é lançado em 1953, através da editora “Caetés”. Surge Oscar em outros momentos como funcionário público federal, exercendo as funções de Coletor na cidade de Toledo, Paraná. Em 1968, o escritor publica o seu romance “Água do Panema”, em edição própria ainda na cidade de Toledo.
Como a casa da sua avó era defronte a casa de meu pai, ainda conheci “Zifina” e a ela dei um certo trabalho quando criança na era de 1950.
Conheci Oscar Silva quando da sua última visita a Santana do Ipanema, ocasião em que jantamos juntos no “Biu’s Bar e Restaurante”, juntamente com sua companheira Gilda, o comerciante Bartolomeu Barros e Djalma Carvalho. Nesta ocasião o escritor nos pedia para que escrevêssemos a história de Santana. Sem intenção nenhuma em atendê-lo, eu a escrevi. Crítico feroz de quem redigia mal, Oscar, dizem, costumava sublinhar em vermelho as frases erradas dos livros alheios. Seu estilo é simples, permeado de frases de efeito, respingado de complexo de infância. O desenrolar dos seus trabalhos é doce e profundamente humano. Oscar Silva é o primeiro ou um dos primeiros escritores da terra; meu escriba predileto de Santana do Ipanema.
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IDADE MÉDIA

IDADE MÉDIA
(Clerisvaldo B. Chagas -2.6.2008. 15 Horas)

Vive-se um boom de otimismo em Santana do Ipanema, Alagoas. A próspera cidade sertaneja iniciou um processo de saneamento básico típico dos países desenvolvidos. Certamente esse é um raro privilégio que nem todas as metrópoles brasileiras arvoram-se em possuí-lo. Naturalmente os benefícios serão inúmeros entre a faixa primordial da Saúde e os estamentos de ponta da Economia. 100% de saneamento urbano elevarão sem dúvida a qualidade de vida do santanense deixando o nascimento da vaidade à flor da pele.
Anunciam-se ainda na Rainha do Sertão, novos cursos superiores à distância; escola profissionalizante federal; universidade do estado e funcionamento do hospital novo, cujo prédio é um dos mais impressionantes do Nordeste. Coroando os incríveis empreendimentos, estariam previstos ainda cursos importantes da UFAL, tendo a frente o mais famoso de todos, o de Medicina.
Caso torne-se realidade o anúncio das trombetas, alguém poderá inquirir o porquê dos pés de barro na majestosa estátua de ouro. Não estou falando sobre o trânsito caótico e a falta de uma ponte sobre o Ipanema na antiga estrada Santana/Olho d’Água; nem sobre a infra-estrutura de pousadas, restaurantes e hotéis. Ainda não. Falo da feira mais imunda das Alagoas. Imundície que tem início na sexta à noite, quando o lixo já se acumula por trás das bancas cobertas de lonas pretas. No decorrer do sábado, encontram-se desde o papel, o plástico, a casca de frutas até as horripilantes cabeças de bois disputando com os cachorros às pernas e pés dos transeuntes. O lixo faz lama por trás das bancas e pela frente, dificultando as mesquinhas avenidas da feira de Santana. Uma lixeira é coisa rara. À semelhança das feiras medievais — entra prefeito e sai prefeito — a persistência da imundície, da ignomínia, do enjôo estomacal, continuam fora de controle sanitário.
Fluem comentários sobre a organização da feira de Senador Rui Palmeira; Enche a vista a nova feirinha do Tabuleiro em Maceió, após fase semelhante a nossa; dá gosto passear pelos mercados públicos de Fortaleza...
Quem será o prefeito herói ou a prefeita heroína que elevará a feira santanense dos tempos medievais para a fremente realidade ecológica do século XXI?
Não combina estátua de ouro com pés de barro.
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PAÍS VIOLENTO

PAÍS VIOLENTO
(Clerisvaldo B. Chagas-10.6.2008)

Não se sabe ainda se Obama será melhor de que Bush. País guerreiro, os Estados Unidos procuram comandar o mundo como se dele fosse o dono. Dizem que não pode haver dirigente pacifista porque os fabricantes de armas não deixam. O bom presidente para essa classe seria, então, aquele que promovesse guerras e mais guerras para que novas armas — de série infinita — fossem testadas e vendidas aos pseudos amigos ou aliados. Ai do presidente que promover a paz.
Além do caso dos poderosos fabricantes de armas, a própria constituição americana incentiva a uma defesa virtual que resulta no policiamento do globo. Não bastasse tudo isso, a ambição pelas riquezas alheias parece não ter fim: o petróleo do Iraque, a Amazônia brasileira, a hegemonia do continente, o comando da economia ocidental, a derrubada dos contras.
Caso Obama vença as eleições, terá que iniciar seu governo recebendo pressões racistas (típicas do país do norte) e outros apertos internos tanto dos fabricantes de armas, quanto dos conservadores da linhagem Bush, o sanguinário.
O Brasil não se cansa de dar exemplo de amizade ao mundo, através do futebol, do incentivo ao combate a fome, do respeito mútuo e do trabalho duro para tornar este País uma das potências do século XXI.
Os Estados Unidos esquecem que todos os grandes impérios foram desmoronados, antes e depois do Cristo. O país mais odiado do mundo não perde por esperar o surgimento de uma nova ordem mundial onde a China, o Brasil e a Índia começarão a dar as cartas.
Pelo desejo de homens anômalos as guerras continuariam apesar dos arsenais que dariam para destruir o Planeta inúmeras vezes. Eles não percebem, entretanto, que a própria Natureza mostra diariamente seus sinais de enfados e intolerância: são os tufões violentíssimos, os vulcões aterradores, os abalos sísmicos sem precedentes e, entre outros, a fome que pela primeira vez também ronda os países ricos. É o fruto das guerras promovidas por eles que destruíram a agricultura africana, principalmente. É pena um mundo tão bom feito para o gênero humano, ser destruído por meia dúzia de cabras bestas, crianças desmamadas do passado, vampiros do presente.
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segunda-feira, 16 de junho de 2008

FARRA DOS PRECATÓRIOS

FARRA DOS PRECATÓRIOS
(Clerisvaldo B.Chagas - 12.6.2008)
“Farra dos precatórios” é manchete do jornal ESSE, edição de 30 de maio a 5 de junho.
O bravo jornal denuncia o que está acontecendo em relação aos precatórios, aliás, escândalo previsto por todos os funcionários públicos. Num estado que teve o seu desmonte numa sucessão sem parar a trinta anos atrás, isso tudo já estava na agenda dessa terra de ninguém.
Mesmo assim, os funcionários ainda depositavam alguma esperança em seus respectivos sindicatos. O SINTEAL por sua vez, muito combativo, entregou, contudo, o caso ao esquecimento alegando que não tinha mais nada a fazer. A filosofia sindical é que a união faz a força. Se este órgão que congrega milhares de funcionários não tivesse deixado o caso no esquecimento talvez isto não estivesse acontecendo. É sabido que dinheiro alheio nas mãos de ladrões de gravata move-se após o esquecimento. Estou interpretando o jornal ESSE. O SINTEAL deveria, desde o início ter marcado uma agenda permanente de mobilização até ser pago o último centavo aos seus afiliados. Deixar o funcionário sozinho diante da malícia do vício é deixá-lo sem armas diante da onça. Cabe também ao governador proteger os funcionários públicos do seu estado. Não é uma declaração ou outra perdida que vai resolver o problema dos precatórios. Como o SINTEAL, o governador deveria entrar nessa luta duramente nessa época de descrédito administrativo onde a corrupção campeã toma conta de todas as esferas e o pobre servidor já não sabe para quem apelar.
Fala-se da Amazônia como se o maior transtorno fosse daquela região. Os intermináveis escândalos em Alagoas, entretanto, mostram que seria preciso um oceano de tinta e uma floresta canadense de papel para dar conta das folhas de jornais. E o pior, o que mais fere a alma do alagoano, é notar que certos setores da Imprensa não dão a devida cobertura dos fatos escabrosos do estado. Enquanto a casa está caindo, é preferível divulgar receita de bolos e buracos de estrada. É uma vergonha afirmar-se Imprensa quando não existe a coragem para exercê-la.
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Comendo boi, comendo onça

Comendo boi, comendo onça
(Clerisvaldo B. Chagas -1.6.2008. 17 hs).

Antigamente o eleitor tinha duas opções; ou votava no governo e ganhava tapinha nas costas ou não votava no governo e recebia chibatadas no lombo.
Nos anos 50 do século passado, o sistema sertanejo nordestino já havia evoluído. O leitor vinha para a cidade no dia do pleito e almoçava na casa do candidato. O sacrifício de um boi assegurava o prestígio do pleiteante a cargo público, notadamente para prefeito. Além de comer do boi do festim, o “compadre” ainda era regiamente agraciado com pares de alpercatas novas e chapéu de massa fina. Para a “comadre”, sapatos da “rua” e vestido florido de preferência vermelho.
Com os lentos apertos da Justiça, foram desaparecendo os acessórios, permanecendo apenas o almoço disfarçado de necessidade.
Após o regime de exceção, entretanto, surge à prática que iria substituir os sabões dos pratos e as barrigas inchadas. Daí em diante os metais aparecem, fortificam-se, engordam, agigantam-se. É o delírio tresloucado das massas. A valorização do real em pleno século XXI faz a mágica do engolidor de moedas e o papel colorido reina absoluto nas eleições dos interiores. Sai Floriano, afasta-se Getúlio. A figura atrativa, elegante, feminina e poderosa da onça-pintada brasileira assume definitivamente o reinado de Pedro II.
Durante as atuais eleições para prefeitos de municípios do Sertão, a onça berra como nunca, nas grotas, nas quebradas, nas serras; invade as periferias urrando nas consciências degeneradas das multidões. O seu império alcançou o centro de cidades pequenas e médias. Categorias profissionais em peso, vergonhosamente fazem fila em pleno centro comercial para receberem o papel engomado dos cinqüenta.
Mesmo com as últimas operações policiais e ações da Justiça em Alagoas, a prática da compra de votos dificilmente cessará. A fome de dinheiro ainda esbugalha os olhos e desperta uma cobiça quase agressiva do eleitor viciado através de décadas. É pouco “xô” e muitos urubus. Os políticos estão desconfiados, é verdade. Entretanto, a prática tem mostrado os malabarismos no reino do felino em questão. Eles sabem. Estão cansados de saber, que sem dinheiro não se chega à meta desejada. No Sertão o prestígio capitula diante do bolso fermentado. As últimas eleições foram ganhas pelos que gastaram mais. Assim será a próxima. Um leilão insano, intolerável, suicida que tem ameaçado constantemente a Democracia brasileira. Não se barra uma cultura viciada da noite para o dia. Enquanto escrevo, muitíssimos estão por aí conspirando como avançar no “carvão”, no “cacau”, no “João-da-cruz”, no “cinqüentinha”... Como comer a onça-pintada das mãos fétidas dos corruptos brasileiros.
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