quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

RELEVANTE SERVIÇO

RELEVANTE SERVIÇO

(Clerisvaldo B. Chagas. 31.12.2009)



Satisfação imensa tive ao ler “O Legado do Professor e Geógrafo Ivan Fernandes Lima para Alagoas”, do também Geógrafo David Cristofher M. de Amorim. Este ensaio foi publicado no jornal Gazeta de Alagoas do dia 03 de outubro de 2009, às páginas A4 e A5.
Como nesse país só quem tem fama são cantor, ator e jogador de futebol, os nossos cientistas ficam esquecidos também em detrimento aos políticos. O trabalho do geógrafo e pesquisador David Amorim (estamos nos comunicando por e-mail) vem resgatar um dos autores mais cultos de Alagoas. Uma vida inteira lecionando Geografia possuo a obra do professor Ivan como a nossa bíblia geográfica. Esse livro com o título “Geografia de Alagoas”, foi adotado no antigo Curso Pedagógico que havia em Santana do Ipanema. Peguei-o com a minha esposa que fazia o curso, ficando admirado com o que vi. Ouro, puro ouro, o livro do professor Ivan. Ninguém até agora publicou obra semelhante no estado. Sobre Alagoas, o livro do professor passou a ser meu guia de cabeceira até o presente momento. Velhinho, soltando as páginas, manchado, continua bíblia porque ouro nunca deixará de ser ouro. Nem vendo, nem dou e nem empresto. Mas acuso também no “Legado do Professor”, outros trabalhos trazidos a lume pelo Amorim: “Maceió a cidade restinga”; “Ocupação Espacial do Estado de Alagoas”; “O Problema Geo-Sócio-Econômico-Político do Sururu Alagoano”; “Estudos Geográficos do Semi-Árido Alagoano: Bacias dos rios Traipu, Ipanema, Capiá e adjacentes”... Na verdade, nem precisava para mim, as palavras do emérito professor Aziz Nacib Ab’ Saber. Quem como nós apaixonados pela Geografia, encontramos a mina com a aquisição daquele exemplar para o Curso Médio.
A princípio eu queria fazer Geologia, curso que na época só havia em Recife, motivo que espantava esse desejo. Voltei-me para a Geografia. Pensava em ser geógrafo para o campo, terminei geógrafo para sala de aula. Hoje, conforme crônica publicada sobre a matéria cansei dos rumos incertos, dos conteúdos, das formas apresentadas pelas editoras. Quero geografia agora para consumo próprio. A vontade de fazer uma Geografia Física de Santana à altura do município e depois a de Alagoas, está quase morta pela falta de estímulo e verba. Mas essas palavras do último dia do ano, não foram para falar de meus trabalhos. Foi para reconhecer a feliz idéia do pesquisador Davi Amorim. Sua lembrança, iniciativa e ensaio, são dignos de louvor. O professor Ivan Fernandes de Lima é tudo o que disseram o pesquisador, Aziz e muito mais. Para Alagoas e para o Brasil, o professor Davi Cristofher M. de Amorim, em seu belíssimo ensaio, presta RELEVANTE SERVIÇO.

FELIZ ANO NOVO!

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terça-feira, 29 de dezembro de 2009

ÉRAMOS DEZ

ÉRAMOS DEZ
(Clerisvaldo B. Chagas. 29/30.12. 2009)

Vai à vida seguindo seu rumo natural. E agora na crônica 176, uma forte trovoada cai sobre o Sertão, acabando a feira de Santana do Ipanema. Um trovão mais poderoso que os demais apavora o mundo. Desce água copiosamente sobre as ruas e os telhados rosa da cidade. É sinal de salvação na sabedoria popular que o escritor aceita. E uma vez passada a tormenta, o canto de um galo se faz ouvir. O pedreiro na casa do escriba também interpreta o aviso animal: “Galo cantando fora de hora, professor, é coisa ruim que vai acontecer”. Estamos às quinze horas do último sábado. O escritor não responde e espera. As dezesseis e trintas um telefonema confirma o pedreiro. Neide Braga das Chagas, a doce irmã de 58 que nunca passou dos 13 anos, chegou à passagem. E a casa de Seu “Manezinho Chagas”, acusa mais uma baixa no montante de dez irmãos. E a Rua Antonio Tavares, de luto pelo companheiro de infância mecânico “Cícero de Ambrosina”, adiciona “Dona Florzinha”, figura popular e antiga no trecho. E novamente ─ num espaço curto de tempo ─ a rua contabiliza a partida de Neide. A moça de 58 anos, vítima de meningite aos 13, nunca mais deixou de ser criança. Muita querida na rua e adjacência, uma voz no coral da Igreja Matriz de Senhora Santana, Neide calou todas as suas interrogações. Em manhã abafada de domingo, segue num ataúde branco como branca, sem mácula foi a sua vida. Entre flores e cânticos vai recebendo as últimas mensagens pela existência pura e santa. Curvas, retas, colinas e a derradeira morada no abrigo Santa Sofia. Vai repousar ao lado da mãe Helena Braga das Chagas e do mano José Almir. Ficamos nós, irmãos e irmãs marcando nos corações as perdas familiares. De cinco homens, um já partiu. De cinco mulheres, um novo adeus. E a crônica diária obrigatória sai. Mas sai capenga, vestida de negro, abafada, forçosa, sangrando o peito atingido. É possível sim, diz a fé, a existência de um lugar melhor para os limpos. Uma recepção calorosa, entusiasta dos que foram à frente. Dos amigos, dos conhecidos, dos pecadores que ornaram a amizade. O outro lado há de entrar em júbilo ao acusar o êxito final de missão cumprida. E Neide irá ainda ao desfile, inebriante, mas feliz ao lado de tanta gente conhecida.
A Rua Antonio Tavares fica às escuras. Vão retirando-se de cena personagens marcantes que ornamentaram a via. Uma saudade longa na casa de “Seu Manezinho Chagas”; Uma geral tristeza que sufoca. E as nuvens chumbos e mensageiras trocam a roupagem no domingo pós. O céu se enfeita num azul suave de nuvens rendadas; um céu amigo, complacente, acolhedor, receptivo, às boas almas.
É preciso fechar a cortina para novos atos, no teatro da existência. São aplausos à decisão divina na rosa-dos-rumos, na sabedoria eterna. A Terra esvazia uma cadeira, o céu ganha mais uma estrela. É mais um brilho a iluminar os passos desencontrados da humanidade.
Agora somos apenas oito, mas no tempo recuado ÉRAMOS DEZ.

Nota: Por problema no provedor, não foi apresentada crônica na segunda.


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terça-feira, 22 de dezembro de 2009

UMA BOIA AOS NÁUFRAGOS

UMA BOIA AOS NÁUFRAGOS
(Clerisvaldo B. Chagas. l6.12.2009)

Neste início de verão, recebo telefonema de um amigo solicitando os préstimos do espaço. Essa pessoa bem sucedida financeiramente tornou-se alcoólatra, conseguiu sair da situação, voltou à bebida e agora tenta segurar-se definitivamente. Resolvendo socorrer a si mesmo e ao próximo, dedicou-se a divulgação dos Alcoólatras Anônimos - AA, com denodo e fé. É muito fácil cair na esparrela da bebida, difícil é sair da armadilha. Um gole hoje, outro amanhã, um fim de semana embriagado, o encontro com os amigos e finalmente o domínio absoluto da aguardente... Da cerveja. Uma vez viciado, as companhias passam a ser somente de outros viciados. Assim vem as dívidas, a perda de emprego, as desavenças em casa, a depressão... A consciência do fracasso. Não raras vezes são as brigas no trânsito, os assassinatos pela intolerância e a própria vergonha de não encontrar forças para reagir.
Santana do Ipanema, Maceió, Arapiraca e quase todas as cidades brasileiras contemplam com tristeza grupos de jovens dedicados ao vício da embriaguez. Ao ser advertido, o rapaz costuma sempre dizer que não é alcoólatra, que bebe apenas uma cervejinha em final de semana. Mas se ninguém da família tiver pulso forte para afastá-lo dos bares, o futuro não é de maneira alguma promissor. Tenho alertado parentes a amigos para o maléfico, mas fiquei impressionado com a força de luta pelos demais, através do amigo do telefonema. Prometi uma crônica sobre o assunto e estou contribuindo com o que disponho. A palavra amiga e orientadora no espaço reservado.
Entre inúmeros conselhos do meu velho ─ vez em quando citados alguns nesses escritos ─ estava um sobre os vícios. Dizia ele: “quando o homem resolver deixar um vício qualquer, a primeira providência é conversar com Deus e pedir ajuda. Com Deus tudo, sem Deus nada. Não se vence o vício sem ajuda de Deus". Agora para complementar o amor pelos que sofrem, surgiu o AA, refúgio e orientação para os apanhados pelo vício da embriaguez. Em Santana do Ipanema o AA já funcionou em outros lugares e, se não me engano, passou algum tempo sem um ponto fixo. O meu amigo pede para que divulgue o endereço e dias de reuniões. O AA está funcionando no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, no Bairro Camoxinga (vizinho ao Hospital Dr. Arsênio Moreira) em Santana do Ipanema. As reuniões acontecem as terças e as sextas às 20 horas. Para informações sobre o AA, é bastante dirigir-se ao Sindicato Rural nos dias e horas estabelecidos. A frase de mão estendida dos Alcoólatras Anônimos é: “Se você não quer deixar de beber, o problema é seu; se quiser parar de beber, o problema é nosso”. Em Olho d’Água das Flores também existe um AA em funcionamento. Se você é alcoólatra, salve sua vida antes que seja tarde, procure o lugar certo. Mas se você apenas conhece um amigo, um companheiro precisando de ajuda, leve-o ou o encaminhe a uma reunião do AA, UMA BOIA AOS NÁUFRAGOS.

FELIZ NATAL E ATÉ SEGUNDA-FEIRA!

AA. Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Bairro Camoxinga, Santana do Ipanema, Alagoas. Reuniões as terças e sextas às 20 horas.
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segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

CONTINUAR A JORNADA

CONTINUAR A JORNADA
(Clerisvaldo B. Chagas. 22.12.2009)

Sendo esta a semana do Natal, nada mais gratificante de que a reportagem da Rede Record, com o título: “Os Sete Milagres de Jesus”. Um presente máximo para quem se interessa pela religião. Curiosidades sobre a parte física da antiga Palestina onde viveu o Mestre. A apresentação aconteceu domingo passado à noite, com segurança e didática dignas dos maiores elogios. Afinal, muita gente esquece o verdadeiro dono da festa que o deus comércio quer trocar por Papai Noel. Para muitos cristãos supérfluos, o velhinho europeu é quem tudo comanda numa fantasia exagerada que supera o sentido do Nascimento. O mal não está em reconhecer o ancião de barbas brancas, está em elevá-lo ao pedestal que não é dele. Jesus está em poucos lares, Noel em todas as vitrinas. E se os adultos esquecem quem os convidou para os festejos, imaginem as crianças ansiosas pelos embrulhos.
Lembramos perfeitamente de duas coisas marcantes na adolescência. Havia duas farmácias importantes em Santana do Ipanema que chamavam atenção com objetos à parte. Uma delas era o busto de um negrão lustroso envergando resistente barra de ferro. Essa estatueta fazia parte de propaganda de certo xarope e já foi motivo de crônica neste espaço. O outro objeto era um cartaz com alegoria sobre a porta estreita e a porta larga que se tornou tradicional na Farmácia Vera Cruz. O motivo era uma alusão ao comportamento humano com a advertência: “Entrai pela porta estreita”. A preocupação consumista parece que vai tornando a porta estreita mais estreita ainda. E como “A” puxa “B” e “B” puxa “A” de novo, não custa nada lembrar a passagem de Jesus na casa de duas amigas. Enquanto ele palestrava sobre a vida com uma delas, a outra se preocupava em cuidar da casa. E a segunda recebeu amistosamente uma advertência sobre o que era mais importante.
Dizia Nelson Gonçalves em uma das suas belíssimas canções:

“Esses moços
Pobres moços
Ah se soubessem
O que eu sei (...)”.

Não, não somos contra a fantasia do Papai Noel. Mas não podemos esquecer que é para o filho de Deus todo o aparato, toda honra e toda glória dos preparativos de dezembro. Quem conhece a sugestiva frase de lameira de caminhão: “Eu não sou o dono do mundo, mas sou filho do dono”? Bem elaborada, não? Ah, com seria bom se esse reconhecimento também fosse feito no Natal!
É tempo de reflexão; de um balanço profundo nos proveitos e desperdícios de 2009. E que as lembranças das boas semeaduras não aconteçam somente na missa do galo, na leitura da porta estreita ou em lameira de caminhão. “Ah esses moços (...)”. Vamos CONTINUAR A JORNADA.





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domingo, 20 de dezembro de 2009

PRESTAR ATENÇÃO

PRESTAR ATENÇÃO

(Clerisvaldo B. Chagas. 21.12.2009)

Sempre soubemos que as piores situações da vida deixam resíduos positivos. Assim como a bateia do faiscador deixa passar a água suja e retém o ouro, as vicissitudes também deixam a sabedoria.
Vendo por um ângulo a conferência de Copenhague, foi um fracasso. Olhando por outro lado, um degrau acima. Nunca na história da humanidade houve tanto interesse e participação como no encontro da Dinamarca; nem mesmo durante e após os dois conflitos mundiais. Estamos em uma nave só, chamada Terra. Não existe uma segunda morada para o homem. Caso a ela aconteça algo, todos pagarão o mesmo preço nem que seja de forma diferente. Acontece que os ricos ainda querem manter a pose, como aquele que pensa enganar a morte mandando o outro primeiro para o cadafalso. Quando o navio submerge também vai o comandante.
Resvalando do assunto climático realizado na Dinamarca, notamos claramente a política vacilante do presidente americano. Com o congresso ou sem ele, Obama continua com sua dúbia política inicial. É como se tivesse medo de um escorrego que manchasse a elegância da vitrina. A nação mais poderosa tem um peso, sim; por isso todos esperavam melhor posicionamento naquela conferência. Entretanto, como dissemos em nossos trabalhos anteriores, o mundo já iniciou uma nova ordem que só os americanos não veem ou não querem ver, porque eles sempre ficaram dentro da bolha. As nações se fizeram ouvir. As forças intermediárias de Brasil, Índia, China e África do Sul, mostraram aos ricos que está havendo uma revolução em busca de novos assentos para lideranças globais. Os pobres também resistem. A transformação já está sendo feito e será consolidada nos próximos cinco ou dez anos. É irreversível.
O Brasil está sabendo aproveitar o momento. Ou fracassando ou não a conferência do clima, o País sai com a voz ouvida e respeitada, tanto pelos pobres quanto pelos ricos mais os seus colegas emergentes. Como disse o ministro espanhol, o Brasil já é presente de um futuro que nunca chegava. Agora a República passa a fazer o papel de ator global, queira ou não o Tio Sam. Após a rodada de Copenhague o mundo não será mais o mesmo no assentamento da poeira. E os países desenvolvidos ─ graças às explorações de colônias nas Américas, Ásia e África ─ irão sentir seus antigos escravos à porta querendo ser também sócios do mundo. A conferência para o clima deixa um leque de novas posições políticas, sociais, econômicas que irão criar sulcos profundos na Geopolítica. Se as nações pobres e emergentes saem desanimadas sobre acordos ecológicos, o ensaio dos movimentos em blocos mostra o contrário. Novas forças são incorporadas ao torneio mundial de quebra-de-braço. De agora em diante é só PRESTAR ATENÇÃO.



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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

VIRADA NO CÃO

VIRADA NO CÃO

(Clerisvaldo B. Chagas. 18.12.2009)

Dois Riachos é uma pequena cidade sertaneja alagoana situada no Sertão. Foi planejada para ser cidade, quando aconteciam os trabalhos de rodagem da BR-316. A primeira ponte na BR sobre o riacho Dois Riachos foi o marco da sua fundação. Atualmente a ponte não faz mais parte da BR-316, mas foi conservada e continua servindo na periferia, sendo uma relíquia e peça de museu a céu aberto. Adquirindo terras de Santana do Ipanema e de Major Isidoro, o antigo povoado Garcia, passou à condição de município de acordo com a lei estadual Nº 2238 de 7 de junho de 1960, desmembrando-se de Major. O que mais chama atenção em Dois Riachos ─ cidade com mais de 10.000 habitantes e situada a 245 metros de altitude ─ é sua feira de gado. Apresentada semanalmente entre o riacho de origem e a BR-316, a feira tornou-se a segunda do Nordeste nesse tema. Já foi motivo de várias reportagens e é hoje importante fonte de pesquisa econômica e social do povo sertanejo. Mantendo sua tradição pecuarista, o município conta anualmente com uma festa de vaquejada que atrai autoridades de Alagoas e pessoas de várias partes do Nordeste. Como orgulho maior, a cidade exibe agora uma faixa permanente na entrada, exaltando a jogadora melhor do mundo, sua ilustre filha Marta.
E por falar em Marta, quem assistiu Brasil X China, na noite da última quarta-feira, teve o prazer de verdadeiro espetáculo. Primeiro foi a própria China quem proporcionou a satisfação, por ser um país asiático com futebol e pessoas características. Depois a própria vontade de vê o futebol feminino se desdobrando. Diga-se com sinceridade, o Brasil não foi essa coisa toda no primeiro tempo; mas no segundo foi. Um espetáculo para macho nenhum botar defeito. Dois Riachos deve ter ficada eufórica diante da telinha vendo sua filha famosa fazendo misérias em campo. Cristiane foi um espetáculo à parte nessa partida do “Torneio Internacional Cidade de São Paulo”. A bonita jogadora está “comendo” a bola. Retranca chinesa no primeiro tempo, ousadia no segundo para assegurar a vaga na final, a China apenas valorizou a vitória brasileira. Com Marta fazendo dois gols (sendo um de pênalti) e Grazielle um, o Brasil fica mais fortalecido no Torneio. Quanto a Marta, deve ter enchido de mais orgulho os riachenses. Com jogadas espetaculares e encantadoras, a camisa 10 deve ter afastado de uma vez por todas a discriminação que rondava o futebol feminino. Uma Pelé de verdade. E usando a nossa expressão sertaneja nordestina emprestada à novela, estava VIRADA NO CÃO!


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quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

CONSCIENTIZAÇÃO

CONSCIENTIZAÇÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 17.12.2009)

Iniciando devagar igualmente às nascentes de um rio, foi surgindo à consciência ecológica no mundo. Pequenos movimentos ilhas começavam a ocupar minúsculos espaços nos jornais. Outras fontes de resistência foram aparecendo e como os pequenos afluentes, foram engrossando o todo que desembocou nas grandes reuniões de cientistas. Daí em diante foi como uma explosão que atingiu em cheio a sensibilidade ecológica adormecida. Os constantes alertas sobre uma hecatombe climática no planeta não está deixando mais ninguém quieto. Todos os meios sociais falam do assunto, principalmente nas escolas do governo e particulares. Ninguém quer ficar fora dessa onda boa para salvar o mundo em que vivemos.
Agora temos a “Conferência das Nações Unidas Sobre Mudanças Climáticas” na Dinamarca. Estão ali, além de representantes do mundo inteiro, várias ONGS, ativistas, jornalistas, pesquisadores e inúmeros curiosos vindos de todos os recantos do planeta. Mesmo sendo um país organizado, a emoção toma conta da desordem formada por uma multidão. De qualquer maneira, chegando ou não a um grande acordo, passos importantíssimos para a humanidade já foram dados. É a ocasião, inclusive, de muita gente aparecer, do famoso ao anônimo. Confusões, brigas, zoadas e cassetetes, mas com objetivos. Após essa conferência, seja como for, o mundo não será mais o mesmo.
A Dinamarca, cuja capital é Copenhague, está situada no Norte da Europa, na península da Jutlândia, banhada pelos mares Báltico e Norte. Faz parte de uma monarquia constitucional com sistema parlamentar de governo. É membro da União Européia desde 1973 e da OTAN, da qual também é fundadora. A Dinamarca pratica o governo do estado do bem-estar social. É considerado o “país mais feliz e o mais pacífico do mundo, bem assim como o menos corrupto entre as nações”. São eficientes os sistemas de Educação e Saúde. Aliás, os países nórdicos da Europa são ricos e de vanguarda.
Deixando Copenhague e se voltando para o Sertão de Alagoas, infelizmente as providências estão chegando quase tarde demais. Em alguns lugares, tarde mesmo. A caatinga original está praticamente fora do mapa. O desmatamento acelerado movido pela ignorância, aliado a omissão dos órgãos governamentais, deixou o bioma em situação caótica. Mesmo que haja um grande movimento de recuperação da caatinga, tudo indica, não escaparemos da catastrófica desertificação. Como já falamos dezenas de vezes, nós sertanejos somos os últimos a receber as novidades do progresso. Em Alagoas ─ continuamos a afirmar ─ os benefícios somem antes de descer a ladeira de Satuba rumo ao Sertão. Sempre foi assim. Não sabemos se sempre será.
Copenhague está distante. Nosso Sertão muito presente; sem onça, sem tamanduá, sem peba... Sem tatu. A bicharada foi extinta pelo desmatamento. Torcemos para que os gritos lançados na Dinamarca alcancem o Nordeste, Alagoas, o Sertão velho abandonado à própria sorte. CONSCIENTIZAÇÃO.

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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

O NARIZ DE BERLUSCONI

O NARIZ DE BERLUSCONI

(Clerisvaldo B. Chagas. 16.12.2009)

Certa feita Lampião caminhava em território baiano. Uma seca das maiores castigava tudo. O bando enfrentava altíssima temperatura, levando o “Rei do Cangaço” ao desespero. Não suportando mais o calor contínuo e infernal, Virgulino jogou sua arma ao solo e pronunciou enraivecido: “Tomara que não chova mais nunca!”. Um dos grandes que marchava ao seu lado ─ cangaceiro Labareda ─ recriminou imediatamente o chefe, graças ao prestígio que desfrutava: “Não diga uma coisa dessas, capitão. Isso ofende o Nosso Senhor Jesus Cristo”. Virgulino refletiu com rapidez e aceitou na hora a censura do seu famigerado Ângelo Roque.
Quando eu era menino, minha mãe costumava comprar bananas a um homem feio de voz rouca, nas feiras dos sábados. Ele havia feito precisamente o contrário do ato de Lampião. Aborrecido com chuva demais em sua lavoura, o indivíduo pensava atingir Jesus Cristo dando um tiro na chuva. Dizem que por esse motivo ficou com aquele aspecto horrível que chamava atenção.
As duas histórias diferentes traduzidas pelo povo asseguram uma ofensa a Deus por atos e intenção. O caso do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, parece com os dois exemplos, sendo muito mais pesado ainda. Ofensas contra Deus e contra o povo; inclusive orgias sexuais repetidas por Berlusconi, são mostradas constantemente pela internet. Formas de desprezo à sociedade em que governa. As gafes, à indiferença a outros chefes de estado, indicam um parafuso a menos ou a mais na cabeça do primeiro-ministro. Lembro-me de uma crítica antes da sua posse que dizia que a Itália estava sem opção. Os outros candidatos seriam piores que Berlusconi. Está aí a falta de opção.
O desavergonhado proceder de dirigentes pode chegar a um ponto perigoso. O episódio da estatueta arremessada por Massimo Tartaglia, apenas reflete a reação do povo sem mais paciência pelas presepadas nocivas do seu ministro. Paciência tem limite. O resultado do ataque de Tartaglia foi o nariz quebrado e dois dentes fora com escoriações no rosto do primeiro-ministro. Não sabemos se existiu também dor moral. Caras-de-pau não tem sentimento. Eles são colhidos, presos, ridicularizados. Tempos depois ressurgem diante das multidões como se fossem os heróis da pátria, Superman, Batman... Homem-aranha.
Nada justifica a violência. Para questões existe a Lei que deve ser respeitada por todos. Mas provocar as massas pode ser exceção como no caso italiano. Se a moda pega no Brasil, todos os dias teríamos dentes voando, escoriações faciais e ventas estatuetadas, mais ou menos como O NARIZ DE BERLUSCONI.




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segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O CARRO DE ZÉ LIMEIRA

O CARRO DE ZÉ LIMEIRA

(Clerisvaldo B. Chagas. 15.12.2009)

NAS décadas 1950-1960, brincávamos muito com os carros de ladeira. Pegávamos os carros de pau, levávamos para o alto e descíamos as colinas que davam para o rio Ipanema. Aquele fabricado pelo maleiro Zé Limeira, filho da professora Adelcina Limeira, era o mais bonito de todos. Dava um trabalho medonho empurrar os brinquedos até o topo, mas quando descíamos montados era somente pura emoção.
O funcionamento do hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, é uma das sete grandes lutas do santanense. A juventude não sabe das seis gigantescas batalhas que travamos pelas conquistas de valiosas prioridades. Claro que houve outras lutas, porém, nenhuma como as seis que estão abaixo. A briga pela energia de Paulo Afonso ─ depois que o motor alemão que abastecia Santana quebrou ─ foi a maior de todas. Quatro anos no escuro justificava todo movimento da sociedade organizada. Foi assim que surgiu como instrumento de guerra, a primeira rádio do município. Funcionando na clandestinidade, a Rádio Candeeiro (como referência ao escuro reinante) teve papel de destaque no ânimo da juventude sequiosa de desenvolvimento. Essa foi a briga mais bonita e participativa de Santana. Outra luta importante foi pela conquista da água encanada do rio São Francisco, através da adutora de Belo Monte, cidade ribeirinha de Alagoas. Entre os seis embates anteriores está o do hospital Dr. Arsênio Moreira, situado no Bairro Camoxinga. Nesta meia dúzia não poderia faltar a construção da ponte Gen. Batista Tubino sobre o intermitente rio Ipanema, o que motivou os futuros bairros da margem direita. Ainda com a sociedade organizada lutando como podia, tivemos também a conquista do asfalto Palmeira dos Índios/Santana, através da BR-316. E finalmente a última das seis grandes lutas foi pelo terminal rodoviário que acabou sendo implantado no Bairro Monumento, vizinho a Associação Atlética Banco do Brasil. Esta foi a única que chegou fora de época, ocasião em que o transporte alternativo superou os ônibus tradicionais.
Trava-se agora a sétima batalha que é pelo hospital geral que já tem o nome do primeiro médico da terra, Clodolfo Rodrigues. Construído no governo municipal Marcos Davi, o prédio é formidável e leva um tempo enorme para conhecê-lo por dentro. Verdadeiro labirinto. Situado entre as localidades Conjunto Marinho e Cajaranas, é a atração turística no sopé da serra Aguda. Não acreditamos que haja falta de interesse das autoridades. O que falta é participação social como algumas das outras lutas citadas. Dessa vez o povo se acomodou como se não tivesse mais entusiasmo para continuar lutando. Os políticos, então, resolveram movimentar essa causa mostrando trabalho no rádio e em outros meios de comunicações. Mesmo assim, acreditamos que no próximo ano, mesmo sendo ano eleitoreiro, estará funcionando o hospital Dr. Clodolfo Rodrigues que até agora tem sido apenas um elefante branco. O problema, segundo o que estamos ouvindo, é colocar o carro na cabeça e levá-lo até o topo da ladeira. Daí, ladeira abaixo todo santo ajuda. Caso realmente os políticos cumpram o que estão assegurando, teremos orgulho de ver funcionando O CARRO DE ZÉ LIMEIRA.


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domingo, 13 de dezembro de 2009

NO TEMPO DA PROGRESSO

NO TEMPO DA PROGRESSO
(Clerisvaldo B. Chagas. 14.12.2009)
Para os jovens estudantes de Santana do Ipanema

   Relembrando daqui de Maceió os tempos de estudante, chegam à cabeça partes da história do Sertão e de Alagoas. Sertão de estradas de terra, de asfalto buraqueira. Na capital batia a saudade do interior e os pensamentos galopavam para Santana do Ipanema. Um filho que nunca renegou suas origens. Quando surgia uma oportunidade: a saída da rodoviária velha do Bairro Poço; o cheiro repulsivo do carbono; os lanches invariáveis do balcão; os olhares ansiosos dos quase passageiros marcavam o estudioso. Mas a vontade pétrea de retornar à casa paterna cobria tudo. E lá vai o ônibus da empresa Progresso demorando a rodar. A marcha de alavanca comprida “dando croques”; a paciência diplomada do motorista. Ah! O carro parece não sair de Maceió na sua lentidão. A ladeira de Satuba, sempre marcada como verdadeiro início da viagem, não quer chegar. Quatro horas, quatro horas e meia Maceió/Sertão. Pensamentos febris nas ruas de Santana, nos becos de Santana, nas matas de Santana. Eita viagem longa, meu Deus! Somente após o antigo povoado Bola, hoje Estrela de Alagoas, a alegria começava a fluir. Era para nós outro marco a primeira descida ao Sertão. Rio Traipu, fazenda Mair Amaral, entrada para a cidade Minador... E lá se ia o ônibus da Progresso. Passa Minador do Lúcio (Minadorzinho), chega a Cacimbinhas; desce todos para a churrascaria do Josias, perto do antigo e solitário posto de gasolina. Adicione tempo. Finalmente o transporte segue com sua zoada característica, para aqui, para acolá; nova marcha, nova força. Já estamos no Sertão, quase em casa, mas ainda restam a pedra do Padre Cícero, a cidade de Dois Riachos e duas ladeironas para o povoado Areias Brancas. Agora sim, faltam 12 km para a chegada a “Rainha do Sertão”. Ponte sobre o riacho Gravatá, o cenário da última curva para o serrote Gonçalinho, poço Escondidinho no rio Ipanema. A empresa Progresso acaba de completar mais uma parte na história dos transportes em Alagoas.
Mesmo agora em viagens de automóveis, conservamos as mesmas ansiedades, os mesmos marcos como a ladeira de Satuba, o rio Traipu, a pedra do Padre Cícero. Crônica amarga e doce não fácil de fazer, essa NO TEMPO DA PROGRESSO.

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quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

FECHANDO A SEMANA

FECHANDO A SEMANA
(Clerisvaldo B. Chagas. 11.12.2009)

Para amenizar o final dos dias úteis, marcados pelas tragédias dos jornais, encerremos com poesias. Vamos contar dois casos acontecidos em sextilhas (estrofes de seis versos com sete sílabas). O primeiro tem uma terminação chula, porém, o importante é a criatividade, a rima incomum e a métrica perfeita.
O cantador violeiro-repentista gosta muito de cantar às belezas naturais: o Sol, a Lua, as montanhas, rios lagos, lagoas, inverno, verão... Entre os repentistas se destacam aqueles que são mais específicos em determinados gêneros. Fulano é bom em martelo agalopado, beltrano é ótimo em temas, cicrano é mais lírico e assim em diante. Quando se canta em sextilhas (estrofes básicas de seis versos) o cantador tem que iniciar a sua estrofe rimando com a última palavra da estrofe do companheiro para evitar balaio (jogar verso decorado no meio do improviso como quem passa “rabo de porco” no jogo de dominó).
Pois bem, segundo o saudoso vereador Zé Bodinho e o Cecéu mecânico, uma dupla se digladiava em algum lugar do Nordeste. Um dos cantadores descrevia as maravilhas físicas do mundo e fez uma estrofe mais ou menos assim:

Admiro o céu azul
Que parece uma esplanada
Sem ter cola no espaço
A nuvem fica parada
Admiro a chuva fina
No bojo da madrugada

O outro cantador, afeito mais às coisas do sertão, aproveitou a deixa e disse:

“Eu admiro isso nada
Admiro é o teiú
Que corre dentro do mato
Descalço pelado nu
Com tanta velocidade
Não pega um toco no c...”

É pena não sabermos o nome do autor. O segundo caso foi contado pelo repentista e apresentador da TV Diário, amigo Geraldo Amâncio, defronte a Matriz de Senhora Santa Ana. Não falou sobre o autor da façanha. Um cantador cantava sozinho em uma tolda na feira. Elogiava os transeuntes. Alguns paravam com o elogio e depositavam sempre uma nota de real, não passavam disso. Acontece que o poeta avistou uma dona muito bonita e elegante que se aproximava. Rapidamente indagou ao barraqueiro quem era ela. O homem respondeu que se tratava de uma rapariga, a dona do cabaré local. Ao passar pela tolda, a mulher recebeu um inspirador elogio do poeta. Vaidosa, voltou-se, abriu a bolsa e depositou no prato duas notas de 10 reais. Ora, para quem só estava recebendo de um, o repentista ficou eufórico e agradeceu:



“Muito obrigado dona
Pela paga verdadeira
Mal empregado esse nome
Que lhe dão mulher solteira
Raparigas são as pestes
Que andam lisas na feira”.

(OBS. Leitor assíduo: mande suas impressões sobre os nossos trabalhos através de E-mail ou pelo mural (pombo-correio) do Site Santana Oxente. Não ficará sem resposta, inclusive crônicas dedicadas quando caírem no seu perfil). Até segunda.
Esta crônica saiu adiantada. Correu na frente dizendo: Não me pega, seu besta!





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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O GLOSADOR E A GLOSA

O GLOSADOR E A GLOSA
(Clerisvaldo B. Chagas. 10.12.2009)
Para os que apreciam o mundo dos sonhos.

Continuando para o leigo uma explanação sobre poesia popular, temos a glosa e o glosador. Geralmente o glosador é um poeta que não canta; um apologista que tenta; um violeiro repentista sem a viola. O glosador improvisa versos falando normalmente. A maioria dos casos com glosadores acontece em pé de balcão, em caminhadas com amigos, ou em rodas de repentistas em repouso. A glosa é uma composição poética que antes se repetia o tema ou mote feito nos últimos quatro versos (também chamados linhas ou pés) hoje em desuso. Ficaram, então, somente dois pés (os dois últimos) ou um pé só (o último da estrofe). A glosa de um só verso também é coisa rara. O mais comum é a glosa em décima de dois versos. O saudoso poeta Zezinho da Divisão (fronteira Santana/Carneiros) era mestre em glosa de um pé só. Exemplo: “Só vai arrochando tudo”. Um exemplo completo foi quando deram o tema em um pé só a determinado poeta: “Sua mãe foi fêmea minha”. Esse mote foi criado por um sujeito que não gostava de glosador e queria desmoralizá-lo. Recebeu como resposta mais ou menos o seguinte:

“Sua avó velha safada
Seu avô um beberrão
O seu pai foi um cornão
Sua tia depravada
Sua prima era falada
Sua irmã uma galinha
Seu irmão foi mariquinha
Com sua traseira gasta
Você mesmo é pederasta
Sua mãe foi fêmea minha.”

Outra glosa com o tema: "tudo é desgosto na vida".

O homem faz plantação
A chuva às vezes não tem
E quando essa chuva vem
Não dá preço o algodão
Mas se viceja o feijão
Vem a lagarta comprida
Se a safra não for perdida
Só querem comprar fiado
Pobre só vive lascado
Tudo é desgosto na vida.

Muita atenção porque como na cantoria, a exigência também é na rima correta (amor com temor; Sé com José). Rimar Ceará com ferrar, é crime na poesia dos repentistas. Outra coisa é o número exato de sílabas. São medíocres os versos que tem uma sílaba a mais ou a menos. Ferem os ouvidos. Algumas publicações gráficas na cidade estão nesse nível, mas não ousamos criticar ninguém. Apenas a minha leitura não passa da segunda estrofe.
O poeta Rafael Paraibano da Costa, professor de Zé de Almeida, era ótimo e tranquilo no assunto de glosar. É gostoso ouvir O GLOSADOR E A GLOSA.




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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

AINDA OS REPENTISTAS

AINDA OS REPENTISTAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 9.12.2009)
Para os apologistas Fábio Campos, João Oniel - poetisa Andréia, Telma Cirilo e poeta Carlindo

Não posso guardar apenas para mim as histórias de versos obras-primas dos cantadores nordestinos. Duas passagens importantes para nós apresentamos hoje. Uma com José de Almeida e outra com o poeta Granjeiro. Antes, porém, é preciso esclarecer que os repentistas tem suas regras obedecidas rigorosamente. Uma delas é o final da rima. Não cabe, por exemplo, Ceará com Alencar. Uma tem acento, a outra tem um “r”. Caso o poeta cometa esse erro, será um defeito grave. Outra coisa são as rimas pobres que não valorizam o verso a não ser que haja muita criatividade: “ão”, “ado” e “ia” estão nesse grupo. A rima sendo rara somada à criatividade pode formar a obra-prima; aquela estrofe que passa de boca em boca por gerações e pelo mundo encantado dos repentistas. Foi com a terminação “ó”, que José de Almeida foi ovacionado em Paulo Afonso há bastante tempo. Todos queriam conhecer o poeta santanense que se firmava na cantoria pegando fama. Convidado para cantar com Jó Patriota na “Capital da Energia”, José de Almeida apresentou-se primeiro com um poeta chamado Manoel de Filó (uma fera também assim como Jó Patriota). Na segunda baionada (parte), após o experimento, Almeida senta com Jó Patriota e inicia ─ para felicidade geral do mundo da viola – a seguinte obra-prima em sextilha:

“Já cantei com Manoel
Agora canto com
Um é cobra canina
Outro é cobra de cipó
Eu no mei’ me defendendo
Com um taco de mororó

Foi delirantemente aplaudido.

Pela boca do cantador desistente como eu, José de Sebastião, funcionário público da prefeitura de Santana, ouvi essa outra história. O poeta Granjeiro (não lembro o primeiro nome) cantava em determinado lugar quando pediram um mote em décima: “No coração da criança/ não tem ódio nem rancor”. Ora, baseado em que São Miguel é quem pesa os pecadores, o poeta famoso em fazer belíssimas estrofes de tema ou mote, saiu-se com esta, após o seu parceiro:

“Quando morre um pequenino
Sobe envolto num véu
Chega às portas do céu
Miguel diz para o Divino:
“Vamos pesar o menino
Que é filho de pecador”
“Jesus lhe diz não senhor
Pode guardar a balança
No coração da criança
Não tem ódio nem rancor
”.

Quando acontece uma estrofe assim, é chamada pelos poetas de “verso grande” e de “impagável”, isto é, o parceiro não fará um melhor do que aquele. E depois de vibrantes aplausos da platéia entendida, o parceiro para essa baionada em sinal de respeito à estrofe tão criativa do colega.
No bizaco trago AINDA OS REPENTISTAS.
(Obs. Na crônica de ontem, “Possante Monumento”, parágrafo segundo, leia-se cúpula e não cripta.)


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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

POSSANTE MONUMENTO

POSSANTE MONUMENTO
(Clerisvaldo B. Chagas. 8.12.2009)

Quando o Cônego Bulhões resolveu reformar a Igreja Matriz de Senhora Santa Ana, estava iniciando um arrojado empreendimento. História e reformas da igreja são contadas no livro inédito O Boi a Bota e a Batina, história completa de Santana do Ipanema. Terminada a reforma, com o Cônego Bulhões já enfermo, surgiu uma torre com 35 metros de altura numa época sem avançada tecnologia. Com as modificações narradas no livro acima, a igreja havia recebido ultimamente uma reforma externa na entrada principal sob a batuta do Cônego Delorizano Marques. Não satisfeito com apenas as modificações de entrada, o cônego planejou o recuo do altar-mor. Além do acréscimo de espaço, esse recuo proporcionou um novo quadro que agradou em cheio. Como ficamos ausentes das missas dominicais por certo período, tivemos a grata surpresa das modificações positivas daquele sacerdote. A reforma interior faz jus à tradição da igreja de Senhora Santa Ana. Notamos que os quadros da via-sacra foram substituídos por outros modernos e prateados que fazem um bonito efeito com a cor do teto. O granito negro do piso, juntamente com outras cores, ajuda o embelezamento daquele majestoso templo católico. O Cristo na cruz ─ confeccionado por um dos fundadores de Santana e primeiro padre Francisco Correia ─ recebeu prolongamento dourado nas extremidades da madeira. Ao fundo, quadro representativo da história cristã e desenhos do céu em azul profundo com nuvens esparsas e brancas, impressionam. E se a igreja de Senhora Santa Ana já era o mais belo monumento do Sertão, imaginem agora! Aliás, o Cônego Delorizano Marques, demonstrou bom gosto nas suas realizações físicas como o santuário dedicado à Virgem de Guadalupe, à margem da BR-316. Monumento esse também dedicado à passagem do século XX para o século XXI.
Destoando docemente da arquitetura sertaneja, o santuário visto ao entardecer das proximidades da UNEAL, com seu destaque de vidros azuis e cripta prateada, parece fazer parte de paisagem nórdica européia. Dessa maneira a cidade possui agora três marcos de passagem de séculos. O Cruzeiro do serrote e a igrejinha de Nossa Senhora da Assunção (XIX-XX) e o santuário da Virgem de Guadalupe (XX-XXI).
Voltando à Matriz de Senhora Santa Ana, continuamos com a mesma idéia já exposta várias vezes: cartão de visita da cidade deveria ser o ponto turístico número um se houvesse algum interesse sobre o ramo. Enquanto o turismo continua como um sonho distante, vamos nós mesmos, de Santana e das cidades circunvizinhas, curtindo a beleza do nosso templo maior. Queremos apreciar e estudar mais esse POSSANTE MONUMENTO.


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domingo, 6 de dezembro de 2009

PLANEJAR SANTANA

PLANEJAR SANTANA
(Clerisvaldo B. Chagas. 7.12.2009)

Sobre Santana do Ipanema, afirmamos em outra crônica não haver falta de terrenos. Terras tem de sobra nas áreas de saídas da cidade para Dois Riachos, Olho d’Água das Flores, Poço das Trincheiras e Águas Belas. Enormes e bonitas áreas onde tudo pode ser construído como conjuntos habitacionais, hospital, clínicas, centro de compras, casas de repouso, fábricas e muito mais. Apenas estávamos contrariando os que de má vontade dizem haver falta de espaço. Caso tudo fosse construído no centro, como poderia a cidade se expandir? No final do Bairro Barragem, saída para Poço das Trincheiras, foi construído um belo posto de gasolina. Até aí tudo bem. Mas acontece que essa área era considerada morta ou contramão para negócios. Com o posto de gasolina, porém, outros investimentos foram atraídos e podemos contar agora com uma churrascaria, um mercadinho, um amplo espaço de vendas de material de construção e brevemente uma pousada. Ficamos surpreendidos agora quando também nas imediações do posto, um enorme terreno foi completamente limpo para construção de conjunto habitacional do governo. Estávamos certos. Saída sempre marginalizada, essa para a cidade do Poço, começa a ser enxergada e valorizada. É assim que surge por trás do Bairro Barragem o Clima Bom que, infelizmente ainda não despertou a atenção da prefeitura. Abandonado de pai e mãe. Se ali houvesse planejamento, aquele pedaço de terras, a partir da ponte na BR-316 até a chã em direção a Paulo Afonso, poderia trazer muitas alegrias para Santana.
É preciso ainda planejar o trajeto final da Rua São Pedro à BR-316, via Largo Lulu Félix. Inclusive seria uma ótima opção para quem se desloca do comércio até a UNEAL. E para quem não conhece a nossa terra, Santana do Ipanema não cresce planejada. Sai inchando pelas periferias seguindo as trilhas de bodes, como no passado. Não tem linha d’água, não tem meio-fio, não tem nivelamento. É semelhante à geração espontânea. Atualmente a cidade é um verdadeiro canteiro de obras. Nunca se construiu tanto por aqui. Mas são obras particulares como construções residenciais, de comércio e reformas. Até profissionais estão faltando para atender todos os setores de Santana como pedreiros, pintores e encanador nesse boom construção civil. O surgimento de novas e inúmeras ruas sem planejamento poderá gerar problemas no futuro, como ruas estreitas demais.
Observando à parte, o centro comercial procurou se modernizar e hoje sem dúvida alguma é o mais belo do interior. Lógico que está faltando um calçadão desde o banco do Nordeste até o Museu Darras Noya, mas não se fala por aqui nesse assunto proibido. A cidade cresce na marra e na vontade dos investidores privados. O calçadão, cuja planta carregamos na cabeça, seria o coroamento do esforço desse tradicional comércio desde os tempos de povoado. Enquanto isso vamos registrando como PLANEJAR SANTANA.

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quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

LULA E SARKOZY

LULA E SARKOZY
(Clerisvaldo B. Chagas. 4.12.2009)

A visita atual do Presidente Lula a Alemanha, talvez tenha sido a mais significativa de todas. Luiz Inácio foi recebido pela imprensa como um dos líderes mundiais com direito ao Brasil 5ª economia em breve. Os jornais mais significativos não pouparam elogios ao presidente e ao nosso país, falando até em uma nova descoberta do Brasil pelos demais países do mundo. Chegou o Brasil do futuro, o Brasil da influência global que tanto desejávamos. Com antecedência, a França começou a estreitar encontros com muita propriedade. O país europeu possui seu departamento, a Guiana Francesa, como o nosso vizinho, fazendo parte também da região amazônica. A Inglaterra é a sombra dos Estados Unidos. Aliados desde a Segunda Grande Guerra, para aonde um vai o outro acompanha, formando juntos uma força descomunal. A Alemanha lidera a economia da Europa, trazendo naturalmente certo ciúme entre os membros da UE. A França, que também foi socorrida pelo Tio Sam na Grande Guerra, quer recuperar a liderança da Europa e partiu para uma linha independente dos Estados Unidos. Passou a discordar abertamente de tantas opiniões americanas e inglesas. Sarkozy, prevendo o papel que o Brasil iria desenvolver no mundo, resolveu encostar-se por aqui e aproveitar o formidável momento em que estamos vivendo. O presidente francês procura o lugar de liderança da Europa, consciente de que tem potencial para isso, embora saiba que não será fácil desbancar a Alemanha. É importante, entretanto que a França esteja na mídia. O estreitamento da amizade entre os dois presidentes tem permitido grandes investimentos franceses na terra tupiniquim. Só o trem bala que o Brasil quer construir custará R$ 34 bilhões e, a usina hidrelétrica do rio Madeira, Rondônia, poderá atingir os R$ 9 bilhões. Outros projetos franceses estão em evidência. Pela parte do Brasil, é significativa a compra de 5 submarinos franceses ─ sendo um nuclear ─ 50 helicópteros e mais os aviões caças com transferência de tecnologia. Os parceiros vão alcançando o objetivo. A França não fica sozinha na política do mundo e, o Brasil apóia-se na França para se projetar. Aliás, o relacionamento Brasil/França (país europeu), está bem melhor do que o Brasil com os estados da América do Sul. E se o próprio Obama diz que o Lula é o cara, por que duvidar? A Imprensa alemã, agora assinou em baixo.
O ano de 2010 aguarda uma entrada triunfal do Brasil. É preciso agora cautela até que chegue a copa para nos consolidarmos de vez no cenário mundial. Os investimentos estão chegando de todas as partes, fazendo com que a nossa moeda seja robusta. Não queremos apenas a modernização rápida da telecomunicação, mas de inúmeros outros setores para sermos cada vez mais competitivos, Entretanto, melhor qualidade de vida do nosso povo é o que almejamos em primeiro lugar. Continuamos atentos às jogadas do xadrez político do planeta. O Brasil precisa avançar os cavalos e acuar o rei. Chegou ao momento exato a parceria LULA E SARKOZY.


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quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

AS TROVOADAS

AS TROVOADAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 2.12.2009)

Voando ou devagar os dias vão passando e finalmente chega o início de dezembro. Temos no Sertão de Alagoas o clima semi-árido com as seguintes características: quente e seco; duas estações distintas chamadas popularmente inverno e verão; chuvas mal distribuídas e uma pluviosidade em torno dos 700 mm. Fenômeno notável e muito aguardado pelos sertanejos é a trovoada que pode aparecer em novembro, dezembro ou janeiro. As chuvas de trovoadas amenizam a temperatura, enchem açudes, barreiros, reverdecem os campos e trazem a certeza de melhores dias à população rural. Foi com esse acontecimento que o homem simples criou o ditado: “... igual às trovoadas de janeiro, tardam mais não faltam”. Essas chuvas benfazejas seguidas de relâmpagos e trovões quando atrasam em novembro ou dezembro chegam a janeiro nem que sejam no final do mês. No céu vão se desenhando as nuvens cor de chumbo, os urubus fazem festa, a garrota escaramuça, o boi cava o chão e as formigas procuram abrigo nos lugares mais altos.
Para o agricultor sertanejo, o ano sendo bom de chuvas, as safras de feijão e milho salvam o bolso nos meses junho/julho. Antigamente, quando o homem do campo estava quase sem dinheiro, chegava a safra do algodão no mês de setembro. A venda desse produto industrial era chamada dinheiro quente e ocasionava a saída das dificuldades financeiras. Era com ele que o matuto vinha para as festas de Natal e Ano Bom, quando vestia e calçava toda a família. Depois que o bicudo acabou com o algodão, outra renda ainda não apareceu para substituí-lo. Em nosso estado de Alagoas agricultor não melhora; agricultor só piora. Que nome! Sopiora. E as ilusões do campo continuam para quem não pode mais deixar a terra em que nasceu e por ela derramou suor e lágrimas.
Quando estamos na capital notamos até mesmo raiva de algumas pessoas no apontar das trovoadas. É que ao invés de euforia as chuvas trazem transtornos. Ficamos a pensar sobre o Sertão; a alegria com que as criaturas avistam os sinais dos céus; as nuvens que se acumulam; o escuro do espaço; a felicidade dos que olham do alpendre a precipitação vitoriosa. E na capital as águas escorrem pelo asfalto procurando saída, embaçando a visão, deslizando pneus. Lá no sertão elas furam a terra, abraçam os riachos, deitam-se nas barragens sequiosas.
Sem algodão, sem opção, sem direção ─ diz o poeta ─ seguem sem perder a coragem os descendentes tapuios. Mas o céu de anil vai mudando de cor trazendo um olhar gratificante dos que ainda acreditam no Supremo. A primavera seca facilita um tufo de vida que se aproxima movida por uma prece estranha. E o escritor aniversariante vê o rodeio das nuvens companheiras. Um presente de Deus para ornamentar essa data que também é Dele. Bem vinda seja a pureza das águas que removem faltas. Abençoados venham o cheiro, o fulgor e as benesses das nossas TROVOADAS.

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O MEL DE PEDRO ALEIJADO

O MEL DE PEDRO ALEIJADO
(Clerisvaldo B. Chagas. 2.12.2009)

São inúmeros os casos (hoje chamados folclóricos) acontecidos no interior. Um deles é o de Pedro Aleijado, personagem musical de Santana do Ipanema. Morador da Rua Prof. Enéas de Araújo, Pedro sempre teve habilidade com o pandeiro nos áureos tempos das farras, décadas 50-1960. Assíduo convidado pelos principais farristas da região, também tocou pandeiro para muita gente famosa que passou por essas terras. Pedro recebeu vários apelidos como “Pedro Aleijado”, “Mão de Aço” e “Deixe-Que-Eu-Chuto” (este porque puxa uma perna). Sempre alegre cheio de brincadeiras, Pedro ainda enfrenta um bom gole de Rum. Pelas tardes, o homem coloca uma cadeira na calçada e fica jogando lorotas com quem passa pela estreiteza da rua. Ali é uma fonte de pesquisa sobre as personalidades das noitadas santanenses. Para sobreviver, “Mão de Aço” botou na cabeça, vender mel de abelha pelas cidades circunvizinhas. Certa feita um cidadão, querendo fazer um remédio à base de mel, foi à casa de Pedro. Saiu um garoto e perguntou o que desejava o visitante. Depois o menino falou que o pai estava ocupado lá no quintal, fazendo mel de abelha. Essa passagem contribuiu para que o homem perdesse quase toda clientela automaticamente. É por isso que uma pessoa habilidosa gosta de dizer que faz tudo, menos mel de abelha. Logo quem conhece o caso rebate:"Mas Pedro Aleijado faz”.
Nós alagoanos geralmente não temos opções nas eleições para governador. Quem não faz parte dos “mesmos”, fica com pequenas possibilidades de se eleger. O eleitor fica indeciso, porque sabe que em Alagoas existe um círculo de viciados que não conseguem fazer com que esse estado saia do atraso fruto deles mesmo. Quem espera por uma candidatura nova, um líder jovem, idealista, vibrante, comprometido com a ética e com o povo, vai aguardar muito na poltrona fofa. O eleitor esclarecido, diante da sede de poder de tantos homens perigosos, fica frustrado por não poder contribuir com mudanças verdadeiras. Se não é uma oligarquia é um cartel permanente que resseca as gorduras de Alagoas, deixando o estado a mostrar os ossos para o restante do Brasil. Somos os párias; os filhos que não tem direito; o alagoano garroteado que muitas vezes se envergonha da terra em que nasceu. Quando se aproximam as eleições, o leitor não tem mais ânimo. Ânimo mesmo só para colocar para fora o que estão; para contrair novo desânimo com os que entram. Diz certo setor religioso que Alagoas foi escolhida para ser o lixeiro do Nordeste. Apesar de ser tão bela, carrega um saco permanente para guardar o negativo. Estou quase acreditando nisso. Mesmo assim vamos driblando, sobrevivendo, analisando e desanimando cada vez mais. Continuamos ricos em homens farinhas de Araripina ou semelhantes ao MEL DE PEDRO ALEIJADO.

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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

DANE-SE A DEMOCRACIA

DANE-SE A DEMOCRACIA
(Clerisvaldo B. Chagas. 1.12.2009)

Os Estados Unidos que tem a América Central como republiqueta das bananas, vacilou. Vacilou perante o mundo quando aceitou o golpe de Honduras através das eleições naquele país. Em crônica outra havíamos cantado essa bola. O Tio Sam sempre considerou aquela região como seu quintal. Fica no poder o caudilho que possa ser títere do país do norte. Zelaya não agradava. E se não agradava para que apoio mesmo admitindo um golpe na democracia? Cadê o processo democrático que eles, os americanos defendem? Que processo democrático que nada! Processo democrático uns tomates! Faz-se um acordo pró-ianques com o golpista e pronto. É a nação escrupulosa sem escrúpulo. Afinal a América Central é deles mesmo e tudo certo.
O Brasil tomou posição firme e arrojada. Aguardamos que não recue na decisão sob pena de perder a credibilidade que ora se inicia. Se o nosso país quer mesmo ser um dos líderes do mundo, não se alcança essa posição baixando o pescoço como boi de carro. Sempre dissemos que todos os grandes impérios caíram. Se os Estados Unidos ainda continuam sendo a nação mais poderosa, mas não ousa enfrentar China, Rússia, Índia... E por que o Brasil como potência emergente também teria que estender tapete? O Tio Sam, queira ou não queira, estar deixando de ser o dono do mundo. Será que só os americanos ainda não perceberam uma nova ordem mundial irreversível? Mesmo assim as republiquetas ainda são deles. Chavez, por exemplo, não perde por esperar na ânsia de domínio das cabeças do Caribe. O mar caribenho é território minado onde o Brasil se for esperto, apenas manterá a posição assumida e nada mais. Para que confronto direto por ideologia?
Na verdade, Obama, esperança do mundo, parece andar anestesiado e até agora não disse a que veio. Talvez seja a pressão dos tradicionais do seu país. O medo de falhar diante da expectativa do globo. A responsabilidade que pesa nos seus ombros. E assim vai seguindo devagar igual ao governo Itamar Franco. Os pseudos guardiães da democracia agem como aquele indivíduo que acha uma senhorita terrivelmente feia. Mas aí vem o amigo e diz que ela é muito endinheirada. O indivíduo olha uma segunda vez para ter certeza da feiúra. E a fealdade que julgava ter visto fora apenas um engano, uma ilusão de ótica momentânea. Na verdade a senhorita tem um aspecto exótico, um charme específico que escapou da olhadela inicial. São assim os que ditam leis, mudando de idéias conforme suas conveniências. Durma-se com um barulho desses! Democracia?! DANE-SE A DEMOCRACIA.



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domingo, 29 de novembro de 2009

ARARIBÓIA

ARARIBÓIA
(Clerisvaldo B. Chagas. 30.11.2009)

Sobre nossos livros de História do Brasil, muitos deles omitem episódios importantes que falariam sobre heróis e heroínas. São desconhecidos para quase cem por cento dos estudantes, nomes como Felipe Camarão, Araribóia, Maria Quitéria, Plácido de Castro, Rui Barbosa, Piragibe, Frei Caneca, Anita Garibaldi e muitos outros. Com essa omissão, ficam apenas os heróis Tiradentes e agora Zumbi dos Palmares. O próprio Tiradentes começa a ser esquecido em troca de um político mineiro. Vão desaparecendo datas e nomes como a da proclamação da república, Marechal Deodoro e Floriano Peixoto. Até a data da padroeira do Brasil vai deixando espaço para o dia da criança.
Desde o antigo Admissão ao Ginásio, que os livros traziam o nome e os feitos do herói Araribóia, cacique dos temiminós do grupo tupi. Araribóia significa “cobra feroz” ou “cobra da tempestade”. O domínio desse índio brasileiro era o território que hoje é conhecido como Ilha do Governador, baía de Guanabara. Araribóia era amigo dos portugueses. Quando os franceses invadiram o Brasil, alinharam-se aos tamoios, indígenas inimigos dos temiminós. Para expulsá-los, os portugueses convidaram os índios de Araribóia e foi iniciada uma guerra feroz na região (1555). Arariboia expulsou os holandeses no Espírito Santos e juntou-se a Mem de Sá (Governador-Geral do Brasil) nas lutas contra os franceses. Depois de incríveis e sucessivos atos de bravura (que deveriam ser transformados em filme) Araribóia e os outros conseguiram expulsar os franceses. Tempos depois chegou ao Brasil mais um dos governadores-gerais, Antonio Salema e, no dia da sua posse (1575), o cacique Araribóia veio de longe para a cerimônia. Sentou-se a moda índia, cruzando as pernas. O governador não gostou e chamou a atenção do cacique. Araribóia respondeu: “Minhas pernas estão cansadas de tanto lutar pelo seu Rei, por isto eu as cruzo ao sentar-me, se assim o incomodo, não mais virei aqui”. E nunca mais pôs seus pés no palácio. Araribóia já em idade avançada teria morrido afogado dentro dos seus domínios. Esse grande e esquecido herói brasileiro é considerado fundador de Niterói e ali tem uma estátua em sua homenagem. Foi inspirador para o livro “O Guarani” de José de Alencar.
A gratidão é um sentimento que anda esquecido em minha terra. Os heróis do Magistério e da Literatura que elevaram o nome de Santana do Ipanema para todo o território nacional, vão ficando à margem e quase nunca são reconhecidos e homenageados pelo poder público. Esse prefere homenagear os ausentes, os compadres, os desconhecidos a valorizar os filhos da terra; a não ser do círculo restrito da turma. Um livro inteiro nós teríamos a falar sobre o tema ingratidão em Santana, lembrando as palavras do político Divaldo Suruagy: “O pior defeito do homem é ser ingrato”. E o pior defeito dos que fazem o poder público, os clubes de serviço, a sociedade organizada, continua o mesmo. A ingratidão do Governador-Geral Antonio Salema tem continuidade sobre outros ARARIBÓIAS de Santana do Ipanema, Alagoas.

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

DÁ O QUE TEM

DÁ O QUE TEM
(Clerisvaldo B. Chagas. 27.11.2009)

Diante de certos fatos relembramos lições ensinadas no decorrer dessa vida muitas vezes atribulada. Algumas pessoas são autoridades verdadeiras e fazem o seu papel. Indivíduos outros com o pouco de asa que lhes dão transformam-se em cão da meia-noite a perseguir, a caluniar, a erguer muralhas. Falam mal por falar. Escudam-se numa imaginária linha defensiva de onde alimenta a artilharia de maldades inconsequentes. Por um lado até que não tem culpa, pois foram criados assim, moldados pelos pais no raciocínio retrógado que encaliça e não tem concerto. Existem os que roubam, que assaltam, que tomam a pulso. Mas não são piores dos que procuram aniquilar a alma de outra pessoa com insinuações que ferem, penetram e mata. Ainda tem o arrogante que não atende bem, que se faz de desentendido, que põe obstáculos e que sabe unicamente o verbo espancar.
Contava meu velho que certo proprietário rural muito poderoso provocava com frequência um humilde e sábio vizinho de terras. O segundo defendia-se como podia diante dos ares da ignorância. O tempo passava sob tensão até que o poderoso chamou um vaqueiro e mandou que ele juntasse todos os chifres de reses abatidas. O homem catou as pontas que avistava, encheu um balaio e o entregou ao patrão. O fazendeiro mandou a esposa cobrir tudo com um pano limpo e bordado. Novamente ordenou ao vaqueiro que fosse levar o objeto como presente ao seu suposto desafeto, mas não voltasse sem ver a reação do presenteado. O vaqueiro montou no corcel mais rápido da fazenda e partiu para cumprir as ordens. Quando o homem simples recebeu o presente, tirou o pano do balaio, viu o seu conteúdo e não esboçou nenhuma reação visível. Apenas pediu para que o vaqueiro tomasse um café ou uma bicada, enquanto ele iria preparar os agradecimentos. O homem apeou desconfiado, bebeu um ou dois goles de cachaça e recebeu um balaio novo, coberto, como retribuição. Ao retornar, o vaqueiro percebeu o amo babando para saber como havia reagido o outro fazendeiro. Até já havia reunido a cabroeira pela análise antecipada da resposta. Ora, o seu patrão recebeu com surpresa o objeto novo. Imaginou mil coisas e até pensou em outro balaio de chifres como resposta. Ao matar a curiosidade, encontrou o cesto de cipós, completamente cheio de flores colhidas há pouco.
O resultado da história, a reação do fazendeiro, fica sob a imaginação do leitor que se propõe a refletir. A sabedoria está na cidade e no campo e não é tão difícil obtê-la. Basta querer. A mesma fonte do caso acima ainda dizia que se alguém deseja alguma coisa limpa e difícil “se pegue com Deus. Com ele tudo, sem ele nada”. Mas o coração é uma coisa e o da boca para fora é outra. Ninguém muda com o Deus da boca para fora. É por isso que se comenta sobre exemplos como a questão dos dois fazendeiros: Cada um DÁ O QUE TEM.


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A VOLTA DOS PIPEIROS

A VOLTA DOS PIPEIROS
(Clerisvaldo B. Chagas. 26.11.2009)

Assim como foi formada recentemente a fila enorme do feijão, em Santana do Ipanema, Alagoas, a vez agora é dos pipeiros. A fila do feijão que durou semanas, era em busca da garantia do preço para armazenamento na CONAB. Agora, no mesmo lugar da fila do feijão, vemos outra que parece sucuri. Da localidade Largo do Maracanã até perto do Corpo de Bombeiros, bairros Camoxinga e São José, chama atenção fileira de caminhões no trecho da BR-316. Isso virou rotina anual no período de estiagem quando o Sertão e Alto-Sertão sofrem em busca da água, principalmente na área rural. É uma beleza tristonha a fila enorme encostada à calçada da Rua Pancrácio Rocha. Mas isso também faz circular dinheiro nas churrascarias, restaurantes e lanchonetes durante semanas. Apesar de tantas lutas do povo nordestino, o cenário continua com as batalhas de sobrevivência para o homem e sua agropecuária. O governo paga ao pipeiros que adentram estradas e trilhas levando esperanças para o povo sofrido desses rincões. É bem verdade que muita coisa mudou para melhor desde algumas poucas décadas. Estradas asfaltadas por todos os lugares facilitam o deslocamento das pessoas em busca de socorro. Os carros, também chegam às comunidades mais distantes, bem como adutoras que facilitam a chegada da água. Não se vê como no passado, levas de retirantes e pessoas morrendo por causa da sede. Mas, o gado não tem como escapar. Se hoje a água é mais fácil, porém, a comida não. O pasto resseca, fica magro, o dono coça a cabeça e a tragédia chega. Alguns fazendeiros transferem as reses para outras regiões, outros compram bagaço de cana, palma forrageira, mas nem todos podem fazer o mesmo. Por isso escutamos na adolescência um proprietário dizer que no Nordeste estamos sempre começando. No semi-árido, o homem vai progredindo, consegue criar cem reses ou mais, vem à seca e leva tudo. Quando as chuvas retornam o criador reinicia do zero.
Na última atuação dos caminhoneiros, as chuvas chegaram por todos os lugares, deixando os camponeses sem querer mais receber água. Cisternas cheias, barreiros, açudes e chuvas constantes foram motivos de recusa da água. Mesmo assim o governo continuava desperdiçando dinheiro, pois pagava normalmente as viagens acertadas, pelo líquido não mais aceito. Isso foi o que nos contou um dos pipeiros honestos que achava um absurdo receber por serviço não prestado.
Enquanto isso vamos contemplando o novo ciclo da estiagem. A repetição do espetáculo nas ruas de Santana do Ipanema, com esses carros pesados, atrai motoristas de inúmeras cidades vizinhas como Poço das Trincheiras, Maravilha, Ouro Branco, São José da Tapera, Carneiros, Dois Riachos, Olivença e outras mais. Mesmo assim a “Rainha do Sertão” vai colorindo a Avenida Pancrácio Rocha, na BR-316, movimentando a cidade e distribuindo a verba federal pelo comércio sertanejo. Afinal de contas não estamos na Amazônia. E se a chuva não chega, pelo menos vamos comemorar com toda a justiça mais uma VOLTA DO PIPEIROS.

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

O TREM DE SATUBA

O TREM DE SATUBA
(Clerisvaldo B. Chagas. 25.11.2009)

Havia uma expressão popular em Maceió para quem era e o que era bastante devagar: “(...) mais atrasado do que o trem de Satuba”. Satuba, cidade alagoana, faz parte da grande Maceió, hoje separada da capital apenas por uma enorme ladeira. É ali onde sempre funcionou uma escola agrícola que se tornou famosa do litoral ao Alto Sertão. Inúmeros jovens estudaram e estudam naquela escola saindo com a formação de técnico agrícola. Muitas são as aventuras que os alunos contavam sobre os tempos das vacas magras naquele estabelecimento. A cidade continua contribuindo com a agricultura estadual, apesar dos últimos escândalos cujo povo ordeiro não merece. Satuba também é a terra de Zé Preta, um dos maiores jogadores do futebol nordestino que honrou o nosso estado. O município adquiriu fama na arte da cerâmica ali fabricada, cujas chaminés formavam o seu cartão de visitas. Alguns diziam em termos de gozações que Satuba era a única cidade do Brasil aonde o trem ─ sempre atrasado ─ entrava de ré. Outros, envergonhados com isso, pediam publicamente providências para que fosse corrigida a anomalia. O certo é que essa pequena cidade de Alagoas, pela distância é quase um bairro de Maceió. De Satuba ficou conhecidíssima a referência sobre a água do Catolé que, dizem, já foi considerada a segunda melhor da América do Sul. O certo é que a cidade está movimentada, favorecida pela expansão residencial do tabuleiro de Maceió e pelo intenso tráfego dos que vem do Sertão e Agreste pela BR-316.
Demorou muito para que as condições da Escola Agrícola melhorassem. Demorou ainda para que as providências sobre as manobras do trem fossem modificadas. É a burocracia brasileira que emperra a máquina administrativa, irritando a paciência do povo. Em muitos aspectos parecem até os freios russos do tempo do socialismo. Não são raras às vezes em que as reivindicações atendidas demoram tanto que já não servem. Quando servem estão obsoletas. Certa vez foi criado o Ministério da Desburocratização que não conseguiu muita coisa, até porque quando acabou, tudo voltou ao que era antes. Esses excessos de ordens, de papel e de tempo, parecem não acrescentar em nada o combate à corrupção. Quanto mais burocracia mais falatórios e denúncias (felizmente numa Imprensa que ainda pode publicar). Quanto mais afastada do oceano for à cidade, menor é a esperança de ser atendida nas esferas estadual e federal. Certa feita um governador deixou transparecer que o Sertão é pouco habitado, isto é, tem poucos votos a dá. Bastava à votação da Zona da Mata, para eleger um governador; e por que se preocupar com apelos do povo sertanejo? O compromisso estaria com o poder e não com a fatia do semi-árido.
Pelo visto acima, a multidão vai acompanhando essas situações de derrotas, de humilhações, de deuses e semideuses governamentais e criando imagens. Surgem ditados, provérbios, fábulas, lendas... E também gestos inflamados de bananas para uma porção de autoridades. A burocracia quase nada mudou. E as providências urgentes solicitadas pela população, infelizmente continuam mais atrasadas do que O TREM DE SATUBA.

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O SERROTE DE SÃO JOSÉ

O SERROTE DE SÃO JOSÉ
(Clerisvaldo B. Chagas. 24.11.2009)

Quem conheceu Santana do Ipanema décadas atrás, lembra perfeitamente da Rua Benedito Melo, também chamada Rua Nova. Ali uma das travessas até a Rua Antonio Tavares, era chamada “Beco de Seu Felisdoro”. Felisdoro tinha uma bodega em uma das esquinas; na outra, trabalhava Antonio Dantas numa oficina de marceneiro. Felisdoro ─ já nos referimos a ele em outra crônica ─ alto, parecendo um grego também no porte, foi o candidato que só teve o voto dele numa eleição. A esposa “Bila” votou no melhor incentivado pelo próprio marido. Contrastando em tudo com o pacato Felisdoro, Antonio Dantas, vizinho de beco, era baixinho, olhos azuis, cara dura e gostava de bebida. Fabricava caixões de defunto. Dali saíram muitas histórias engraçadas sobre enterros, velórios e entrega de caixões antes do amanhecer.
Como marceneiros gostam de falar sobre coisas referentes à marcenaria, foi ali que ouvi a ingenuidade de dois casos. Entre as ferramentas daquela arte, existe a enxó, um dos principais objetos usados pelos carpinteiros. A enxó chama atenção porque é um instrumento curvo de cabo pequeno e que trabalha em ângulos difíceis. Vendo-me admirando a enxó, um dos marceneiros me disse que era o instrumento do cão. E explicou: um camarada trabalhava com a enxó. O cão chegou perto e começou a tentar o homem: “cuidado para não cortar a venta! Cuidado para não corta a venta!” O homem foi ficando impaciente com aquela conversa até que falou abusado: “Você não está vendo que não se pode cortar a venta com isso? A não ser que faça assim”. E virando o gume da enxó para cima, arrancou o nariz. Fiquei imaginando a força da tentação. E ouvindo o roc-roc do serrote, perguntei se aquele instrumento também era do demônio. O marceneiro falou que o pai de Jesus possuía um serrote muito bom, afiadíssimo. Acontece que sempre aparecia um cidadão para tomar emprestada a ferramenta. Cansado de interromper o seu trabalho e receber o instrumento de volta sempre com problemas, o futuro santo resolveu cortar o mal pela raiz. Deu um jeito na dentição do serrote colocando um dente para um lado, um dente para o outro e assim sucessivamente. O cidadão nunca mais pediu o serrote emprestado. José, entretanto, ao experimentar a nova ferramenta teve uma ótima surpresa. Estava melhor de que antes. E foi assim por acaso que o Carpinteiro inventou um serrote muito mais eficiente. Portanto, a ferramenta não era do cão tal a enxó, e sim de São José.
Com esses casos e lendas também aprendemos bem. Quando a madeira é torta pode não dar para cumeeira, mas é excelente para bodoque. O anzol é torto para pegar o peixe. E, na sabedoria popular “Deus escreve certo por linhas tortas”. Um colega dizia que “quem nasce para cangalha não dá para sela”. E se os da sela não tivessem os da cangalha, quem levaria o peso? Assim, aprendemos que tudo que existe no Planeta serve para alguma coisa. Deus fez o mundo perfeito em todos os seus detalhes; pode faltar apenas a compreensão dos terráqueos. Em diversas ocasiões da vida não podemos ser linheiros QUANDO O CERTO É TORTO.


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domingo, 22 de novembro de 2009

A RUCINHA DO CORONEL

A RUCINHA DO CORONEL
(Clerisvaldo B. Chagas. 23.11.2009)

Meu pai, o comerciante Manoel Celestino das Chagas, nos dava lições práticas de espiritismo (sem saber), sendo católico fervoroso. Suas observações estavam além do tempo e, como Jesus, gostava muito de aconselhar fazendo comparações. Bom em matemática, quase não lia um livro completo e nem sei de onde vinha tanta sabedoria sobre a principal matéria que é a “matéria da vida”. Algumas histórias faziam rir, mas traziam reflexões nas entrelinhas. Muitos casos ouvi quando adolescente e um deles foi o da Rucinha. Não tenho conhecimento se existe alguma coisa escrita, pois não imagino de onde ele retirava suas histórias.
Segundo Manoel Chagas (hoje com 92), tem pessoas que gostam muito de tomar coisas emprestadas, quase como mania. Mas, diz um velho ditado que não se emprestam três coisas: violão, mulher e cavalo bom. Dizia Seu Manezinho que havia um coronel que possuía excelente animal. Desse cavalo tinha um ciúme triste que era da sua mão para a mão do tratador e de mais ninguém. Solto na manga o coronel possuía também, entre outros equinos, uma potranca ruça (pardacenta) muito arisca a quem dera o nome de Rucinha. De vez em quando aparecia alguém pedindo emprestado o seu cavalo extremamente baixeiro. O coronel se mostrava muito amável, fazia gestos teatrais de servidor, e terminava dizendo que não podia emprestar o cavalo. É que ─ alegava o dono ─ se não fosse uma viagenzinha que iria fazer, “o cavalo estaria nas mãos do senhor”. E para rebater a suave recusa do empréstimo dizia, contudo, que ainda restava uma saída para não deixar de servir. “Tenho uma bestinha muito boa pastando na manga. É só o amigo procurá-la e já está emprestada. Devolva quando quiser”. Ora, não havia vaqueiro no mundo que pegasse a Rucinha dentro da manga. O sujeito ia embora sem levar nada e ainda agradecia demais ao manhoso coronel.
A gente vai emprestando as coisas com o maior prazer e, em muitas ocasiões, não tem certeza se o outro é viciado. Assim vai um martelo, um serrote, um alicate... Uma escada. O pior ainda é o empréstimo do livro que não volta à estante. Quando o dono o empresta pensa que a pessoa vai devolver logo porque é esclarecida. A falta da devolução de vários outros objetos é justificada pelo não aprimoramento cultural, porém, livros não. Como uma pessoa esclarecida leva um livro emprestado e não devolve? Estamos nesse mundo para servir. O homem só pode evoluir servindo com boa vontade. Também passar no rosto que serviu, é mesmo que anular o ato anterior. Ocasiões existem, todavia, que pessoas abusam da bondade. É diferente do que toma emprestado com boas intenções e por uma infelicidade da própria vida fica sem condições de devolver e é aguilhoado pelo credor. Este é outro assunto que um dia gostaria de abordar. É de se compreender, entretanto, que muitos agem com prudência e outros na tem a menor vontade de servir. Tanto no primeiro quanto no segundo caso, continua em voga a procura pela RUCINHA DO CORONEL.

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

POR DENTRO E POR FORA

POR DENTRO E POR FORA
(Clerisvaldo B. Chagas. 20.11.2009)
Para: Elba Ramalho – Zé Ramalho – Alceu Valença – Fala Mansa

Galope beira-mar ─ Galope por fora do mar

Navios de guerra apontam na ilha
São encouraçados entrando em ação
No céu a gaivota parece avião
Que frota terrível ô que maravilha
Roncam os motores mortal esquadrilha
O submarino parece apontar
O ataque se forma em baixo e no ar
As ondas de rádio ditando as ações
Berra o comandante disparam os canhões
Nos dez de galope na beira do mar

O bravo vaqueiro engole uma pinga
Depois da cuspida se veste de couro
Dispara o cavalo no coice do touro
O boi furioso tem fogo na binga
Quebrando madeira no rol da caatinga
Cascos de ferro chifres de matar
Vaqueiro estremece cavalo a voar
O boi rodopia o vaqueiro é agreste
Vitória do homem coragem da peste
Nos dez de galope por fora do mar

O céu se transforma regouga o trovão
As águas se abrem o mal tempo atormenta
Nuvens de chumbo chegou a tormenta
Nos vales profundos acorda o vulcão
Corcoveia a procela montado o tufão
Violências de raios vem no ribombar
Rasgando a turquesa o azul milenar
Desmancha a couraça num grande mergulho
São forças divinas fazendo barulho
Nos dez de galope da beira do mar

O jegue ou jumento também tem a ginga
Em lote selvagem corre nas juremas
Por dentro do mato de feras e emas
Mordendo as parceiras é rei na caatinga
Levando no peito toda sacatinga
O casco dá corte de tanto amolar
Até onça pintada não quer lhe enfrentar
Orneja na areia de seixo e calhau
Comendo quixaba com casca de pau
Nos dez de galope por fora do mar

FIM
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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

COMO NASCEU UM VASCAÍNO

COMO NASCEU UM VASCAÍNO
(Clerisvaldo B. Chagas. 19.11.2009)

Houve um período no futebol do Brasil em que o Rio de Janeiro e São Paulo eram os poderosos da arte. Os times mais conhecidos do rio: Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense. Depois vinham, não pela ordem, o Bangu, o América, o Olaria e outros. Em São Paulo já não lembro tanto. Quanto aos jogadores mais falados, destacavam-se Ademir e Zizinho. Com a paixão do brasileiro por esse tipo de esporte, o futebol evoluiu em outras partes que conquistaram o espaço antes ocupado pelos times do Sudeste. Assim surgiu com força o futebol do Rio Grande do Sul, depois o de Minas Gerais e em seguida da Bahia. Depois regiões e municípios foram aparecendo mais no cenário nacional, tanto que em todos os lugares tem seus times reconhecidos e disputando em igualdade de condições.
Em Santana do Ipanema da década de 50, quem vendia revistas na cidade era dona Maria, esposa de seu “Quinca”, alfaiate, à Rua Nilo Peçanha ou Rua da Cadeia Velha. As novidades chegavam através de um ônibus também chamado “sopa”, cujos pontos eram em Santana defronte a igrejinha de Nossa Senhora Assunção, Bairro Monumento; em Maceió, defronte o “Hotel Lopes”, perto da antiga Faculdade de Direito. Nessa época eram esperadas com ansiedade as revistas “O Cruzeiro”, “Sétimo Céu”, “Capricho”, “Contigo”, “Idílio” e vários gibis. Entre eles “O Zorro”, “O Fantasma”, “Tarzan”, “Roy Rogers”, “Popeye”, “Bolinha”... Era bom sentir aquele cheiro de revistas novas que impregnava gostosamente a sala de dona Maria. Mas no meio daquilo tudo foi lançado um álbum de figurinhas dos times mais conhecidos do Brasil. Comprávamos o álbum e adquiríamos as figurinhas comprando balas enroladas por elas. Essas figurinhas tinham muita qualidade; de modo que chegava a vontade de torcer por todos os times por causa do colorido vivo das camisas e dos nomes. Bonito eu achava as denominações Bangu, Olaria e Piracicaba. Entretanto, a fama de Ademir do Vasco da Gama era grande e considerado o melhor jogador do Brasil. Tanto que era a figurinha mais rara, juntamente com a de Zizinho. Quando me vi diante do terno do Vasco, apaixonei-me pela camisa, pela cruz de malta dando aquele toque vermelho. Como Ademir era o melhor e pertencia ao Vasco, passei a torcer pelo time da colina até o presente momento.
Não costumo acompanhar jogos. Tenho notícias de vitórias e derrotas do Vasco da Gama, mas para mim tanto faz ganhar ou perder. Nada de fanatismo, discussões ou brigas. Apenas torço pelo Vasco, graças ao álbum de figurinhas da Rua Nilo Peçanha. Entretanto quando o time português vem jogar no meu estado, ganha um torcedor contra. Da mesma maneira torço pelo CSA por causa da cor azul, mas vindo jogar em Santana, a vibração é pelo Ipanema, time da minha terra. Sobre outros torcedores não sei, mas foi dessa maneira COMO NASCEU UM VASCAÍNO.


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terça-feira, 17 de novembro de 2009

NEM SEI SE DELFIM SOUBE

NEM SEI SE DELFIM SOUBE
(Clerisvaldo B. Chagas. 18.11.2009)

Parece que existe na humanidade uma tendência natural de não querer assumir culpas. É em casa, no trabalho, no lazer, seja aonde for. A criança diz que a culpa foi do irmãozinho, o adulto se escora no camarada, o soldado fala que recebeu ordens. Se a tendência, então, é natural, ninguém deveria ser chamado de mentiroso. O que de fato existe por trás da negação do feito? A vergonha de ter fracassado? O medo do castigo? O prazer de acusar terceiros? Lá no paraíso mesmo, onde tudo teve início, Adão eximiu-se da desobediência, alegando ser culpa de Eva. Por sua vez, a primeira mulher falou que a verdadeira culpada era a serpente. Ninguém perguntou a serpente por que fez a tentação. Vê-se por aí que a célebre frase: “Eu mesmo não fui”, vem desde a criação do homem. E se a criança se defende, o jovem aponta para o lado, o adulto nega. Erros assumidos podem ser as coisas mais difíceis da vida. Imaginem a política: os de baixo condenando os de cima; os de cima acusando os de baixo.
Há muitos anos, nós, os poetas, conversávamos nos degraus da Matriz de Senhora Santa Ana, em Santana do Ipanema, Alagoas. Entre eles estava uma das maiores figuras do repente nordestino, Geraldo Amâncio. Geraldo contava muitas histórias de cantadores, principalmente do Ceará. Uma estrofe de um desses casos permaneceu na minha cabeça, mas não lembro o nome do autor e nem o do seu parceiro. A cantoria teria acontecido no tempo em que Delfim Neto era ministro. A inflação estava sem freios e o Brasil passava uma época muito difícil. Todos os setores sociais sofriam com as mazelas da Economia. Pois bem, o povo brasileiro resolveu culpar o ministro tanto pela inflação quanto pelos outros males do País. Até briga de vizinhos seria culpa de Neto. O ódio era grande e voltado para o ministério. Baseado nisso ─ segundo meu amigo Geraldo Amâncio ─ um homem aproximou-se da peleja lá em terras cearenses e, revoltado com a situação pediu um tema trava-língua em décima: “Se não der fim a Delfim/Delfim dá fim à nação". Como o mote também afetava os cantadores, os dois se engalfinharam com versos bonitos, até que um deles deixou para a posteridade:

“Tamo na segunda etapa
Do tempo do realismo
Vai chegando o comunismo
Desse aí ninguém escapa
Atiraram até no papa
Mas em Delfim Neto não
Que falta faz Lampião
Pra atirar em cabra ruim
Se não der fim a Delfim
Delfim dá fim à nação”

NEM SEI SE DELFIM SOUBE.


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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

FORÇA DO MOURÃO

FORÇA DO MOURÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 17.11.2009)

Quem aprecia uma peleja nordestina, conhece os diversos gêneros de estrofes existentes: sextilhas, galope beira-mar, quadrão, mourão, mourão perguntado, martelo agalopado, martelo alagoano, Brasil caboco, gabinete, décimas... São em torno de quarenta gêneros. O básico de qualquer cantoria é a sextilha. A dupla de repentistas pode passar uma noite cantando somente sextilhas, pois com elas se canta qualquer assunto; apenas muda a musicalidade em canta intervalo. Cada pedaço da cantoria é chamado baionada. Quando os cantadores querem ou o povo pede, os repentistas podem cantar vários gêneros após as sextilhas e depois voltar para elas. O gênero mais nobre, em minha opinião, é o martelo agalopado, chamado assim porque imita martelada como o galope de cavalo. O tema ou mote, se alguém pede, é cantado em décimas ou em martelo agalopado que tem mais sílabas, porém, com os mesmos dez versos. O mourão é composto de uma estrofe de sete versos, separados em dois mais dois mais três. O primeiro cantador canta dois versos (duas linhas); o segundo cantador responde com mais dois; o primeiro repentista rebate com os três versos finais. Abaixo iremos dar um exemplo de martelo agalopado e um de mourão.
Zé de Almeida é poeta-repentista santanense e muito conhecido no Nordeste. Ultimamente Almeida vem se dedicando mais ao ramo musical das vaquejadas, fazendo dupla com parceiros também famosos. Certa feita achei tanta poesia em um martelo agalopado feito por ele que imortalizei a estrofe. Está no meu romance Defunto Perfumado à página 8:

“O meu verso já tem se comparado
Com o mel da abelha jandaíra
Com o perfume da flor da macambira
Com o campo florido perfumado
Com as flores que cobrem todo o prado
Com o sol amarelo cor de gema
Com o canto feliz da seriema
Com o grito saudoso da graúna
Com a casca de pau da baraúna
E o verdume da folha da jurema”

Pois bem, Zé de Almeida e seu parceiro pelejavam na cidade alagoana de Maravilha, Sertão de Alagoas. Estavam ambos em uma residência, quando um ouvinte pediu um mourão. Almeida iniciou mais ou menos assim:

O povo pode pedir
Que a gente canta na hora

O parceiro respondeu:

Ninguém vai me impedir
De tocar minha sonora

No momento que Almeida ia concluir o mourão, um homem muito conhecido na cidade, passando por fora espichou o pescoço para dentro da casa (pela janela) e gritou: “Calem a boca dois cornos!” Zé de Almeida desviou o pensamento e respondeu ao parceiro, ao povo e ao intruso:

“Nessa agora eu me concentro
Dois cornos cantando dentro
E um corno gritando fora”

No final tudo terminou em gargalhadas com as brincadeiras do comerciante Leusínger. Essa é a FORÇA DO MOURÃO.





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domingo, 15 de novembro de 2009

CABEÇAS RAPADAS

CABEÇAS RAPADAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 16.11.2009)

Ainda nas décadas 50-1960 no interior, havia uma coisa no mínimo curiosa. O indivíduo preso como ladrão, além de apanhar bastante de cacete e bimba-de-boi, tinha a cabeça rapada. Feito isso, era amarrado com uma corda e, sem camisa, desfilava a pé nas ruas da cidade. Um soldado atrás segurava a corda com ordens para que o preso gritasse a frase: “Eu sou ladrão!” Às vezes colocavam também um cartaz no prisioneiro com a mesma frase. Essa atitude bizarra e humilhante fazia com que as famílias saíssem às portas e janelas. A sociedade ficava revoltada com esse ato infame que representava a força da truculência às vistas de adultos e crianças. Ninguém nunca ouviu dizer que um daqueles ladrões tivesse se regenerado. Apenas depois de solto deixava à cidade e passava a fazer a mesma coisa em núcleos vizinhos. Estamos falando sobre ladrões comuns: os descuidistas e os arrombadores.
O sistema carcerário do Brasil continua sendo uma vergonha. Cadeias e presídios ainda se assemelham às masmorras medievais. Todo mundo quer ver o errado pagando suas culpas. Para que castigo maior de que ficar isolado do convívio social durante trinta anos, por exemplo. Metade de uma vida. Mesmo assim, além da pena, somam-se o abandono, à tortura e tantas coisas indecentes que somente um documentário sério pode revelar. A sociedade quer os marginais atrás das grades, principalmente os que são chamados monstros. Muitos desejam e pedem a pena de morte. Isso acontece porque muitos desses monstros são postos na rua em pouco tempo. As leis brandas com as habilidades dos advogados e até mesmo somadas ao juiz corrupto permitem a impunidade, uma forte tapa social. Famílias equilibradas não querem vingança, clamam apenas por justiça. Mas, em não havendo justiça como fica o quadro dos envolvidos? E quando não há impunidade, existem os depósitos de se jogar pessoas, muitos dos quais concorrem com o inferno.
O povo brasileiro já não aguenta o amontoado de escândalos que alimenta o noticiário do País. Leis mais rígidas, menos corrupção e prisões onde o encarcerado tenha seus direitos garantidos é o que estamos a precisar. Se os de fora se igualam aos de dentro, isto é, dente por dente, então, onde está o mérito dos de fora? Hoje continuamos apenas a barbárie dos reis tiranos da Europa antiga. Afinal, ninguém é isento de erros. Ninguém! Ninguém mesmo atira a primeira pedra. E se fosse para rapar a cabeça de quem erra, o Brasil iria virar um verdadeiro oceano de CABEÇAS RAPADAS.

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sábado, 14 de novembro de 2009

OBRAS INÉDITAS:


Romance: “Deuses de Mandacaru”
Romance: “Fazenda Lajeado”
Paradidático: “Ipanema, um Rio Macho”
Poesia: “Colibris do Camoxinga
(Poesia Selvagem)”
História: “O Boi, a Bota e a Batina
(História Completa de Santana do Ipanema)”


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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A RAINHA DO RIO

A RAINHA DO RIO
(Clerisvaldo B. Chagas. 13.11.2009)

Estamos no semi-árido alagoano, em época de estiagem. É tempo em que o viajante se depara com um cenário nada animador. A caatinga original ou mesmo a capoeira muda completamente a coloração passando dos matizes verdes para a cor cinza, feia, monótona, sapecada. Com a perda da folhagem o mato fica mais feio ainda, apresentando a terra esturricada. Tremendamente esquelético os garranchos parecem representar fielmente as últimas esperanças dos viventes sertanejos. Nos lombos dos montes os granitos esbranquiçados assemelham-se às feridas abertas a doer nos vegetais. Em diversos lugares do campo não se vê mais animais selvagens, com raras exceções. Uns morreram outros fugiram ao rigor da natureza. A produção de frutos é interrompida, os passarinhos desaparecem e a paisagem fica morta. O silêncio toma conta das capoeiras, somente quebrado quando passa a resistente lagartixa, o nervoso calango ou mesmo o vento morno dando lapadas nos galhos finos. Entra uma tristeza funda no coração de quem vive da terra; de quem ama o semi-árido; de quem poetiza as montanhas. É, porém, nessa ocasião tão desfavorável que, isolada ou em grupos aparece a craibeira.
Árvore sertaneja de alto porte, linda e elegante, contrasta na paisagem vestida inteiramente de amarelo vivo, a Craibeira. Sua floração acontece em novembro/dezembro, quando é encontrada em plena nobreza nas areias salinas dos riachos sertanejos. Dizem que sua ótima florada é sinal de bom inverno no ano seguinte. Falam também que onde tem craibeira tem olho d’água. Essa árvore serviu muito ao sertanejo cooperando com várias peças nas confecções de carros de bois. É bruta e nobre ao mesmo tempo. Com muita justiça a Craibeira foi declarada a árvore símbolo de Alagoas no governo Geraldo Bulhões.
Para nós sertanejos isso não deixa de ser motivo de orgulho, pois entre tantas outras árvores do Agreste, da Zona da Mata, do Litoral, o título ficou com a nossa craibeira.
Quem vem do mar em direção ao sertão alagoano, encontra a craibeira, principalmente, ao entrar no semi-árido. Por Palmeira dos Índios, a partir da fronteira (não rigorosa) do rio Traipu, imediações da cidade Estrela de Alagoas. Vindo por Arapiraca, também a partir desse rio, entre os municípios de Jaramataia e Batalha. Em Santana, encontramos craibeira em ruas, na periferia, no rio Ipanema, nos riachos Camoxinga, Gravatá e outros, tanto isoladas quanto agrupadas; um espetáculo impagável.
No meu livro paradidático (primeira incursão a pé das nascentes a foz do rio Ipanema) intitulado IPANEMA UM RIO MACHO, eu digo que não encontrei nenhuma árvore mais elegante, bonita e majestosa de que a craibeira. Mesmo tendo sido no mês de janeiro, ainda registramos bela floração. Ela sozinha domina a paisagem, parecendo uma noiva entrando na igreja, mas toda de amarelo. Foi por isso que lhe dei o pomposo título de “RAINHA DO RIO”.

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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

AS VIAGENS DE SÃO PEDRO

AS VIAGENS DE SÃO PEDRO
(Clerisvaldo B. Chagas. 12.11.2009)

Ainda no tempo de adolescente, ouvi uma narrativa que, se foi escrita não conheço o autor. A narrativa dizia que São Pedro dirigiu-se a Deus e disse que havia batido certa saudade da Terra. Pediu para passar uns três dias por aqui como uma espécie de folga. Deus ouviu as razões de São Pedro, requisitou outro santo para a portaria e entregou o passaporte ao seu funcionário. São Pedro desceu satisfeito e começou a passear na Terra. O tempo estava bom; fartura em todos os lugares; povo de barriga cheia e festas eram o que mais havia. São Pedro empolgou-se e foi gostando tanto que quando se lembrou do céu estava dentro dos trinta dias. Ficou preocupado e subiu rapidamente às nuvens. Deus perguntou, então, por que o santo demorou tanto, pois só havia autorizado uma folga de três dias. São Pedro contou as maravilhas da Terra diante de tanta bonança e alegou esquecimento do compromisso. Deus, tocando no ombro do ex-apóstolo, indagou: “E eles falam em mim, Pedro?” São Pedro respondeu: “Não ouvi, não, Senhor. Nem uma só vez”. Deus nada censurou e pediu ao santo que fosse cuidar dos seus afazeres.
Certo tempo após a vinda a Terra, São Pedro foi mais uma vez a Deus com o mesmo argumento. Dessa vez pediu logo os trinta dias com medo de uma falha de memória. Deus consentiu de novo e São Pedro desceu. Surpreendentemente com apenas dois dias, o santo estava de volta ao céu. Deus fingiu admiração e lembrou que o porteiro chegara com muita antecedência do prazo estipulado. Será que Pedro esquecera mais uma vez? Justificando, o viajante argumentou que a Terra estava uma porcaria. Secas, enchentes, terremotos, furacões estavam acontecendo constantemente. Havia muita fome, perseguições, guerras, desabrigados e muitos prantos. A violência era uma infâmia e as nações não se entendiam. Após todo o relatório, Deus perguntou como da primeira vez: “E eles falam em mim, Pedro?” E o santo respondeu meio tristonho: “Ah, Senhor, só é em quem falam. Procissões, cultos, missas, promessas, novenas e todas as formas de pedidos ao Pai Eterno”. O restante da narrativa ficou restrito ao céu porque Deus pediu que não vazassem informações.
Atualmente a poluição vai danificando irremediavelmente o planeta. As geleiras vão derretendo, os oceanos invadindo as terras, as nascentes dos grandes rios desaparecendo, animais e homens morrendo de fome e sede. Surgem mais desertos, mais conflitos e mais desentendimentos entre o gênero humano. Os ventos terríveis varrem os continentes, os maremotos horrendos tremem os mares. Contra todos os tipos de violência não há mais lugar seguro aqui em baixo.
Na verdade, nós estávamos falando mesmo era das excursões de Pedrinho ao nosso planeta. Como perdemos o acesso às informações das alturas, ficamos sem saber qual seria o próximo pedido do nosso querido santo. Se fosse hoje, quanto tempo duraria AS VIAGENS DE SÃO PEDRO?


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terça-feira, 10 de novembro de 2009

CURIOSIDADES RELIGIOSAS

CURIOSIDADES RELIGIOSAS
(Clerisvaldo b. Chagas. 11.11.2009)

O Sertão nordestino é uma riquíssima fonte de pesquisa dos mais diversos assuntos. No aspecto religioso, temos vasta literatura sobre, Padre Cícero Romão Batista, Frei Damião de Bozzano, beatos, frades, penitentes, rezadores e tantos ainda. Quando se fala em promessas, encontramos sinais em cidades, povoados, sítios, estradas e veredas. Nas minhas caminhadas de pesquisas no Município de Santana do Ipanema, tive a minha atenção voltada para imagens colocadas em lugares extraordinários. Entre o povoado Areias Brancas (BR-316, a 12 km da sede) e o sítio Serra da Lagoa, há um lajeiro de boa extensão, coberto de lodo amarelado. Quem passa por aquela estrada com olhares inquiridores, logo avista no topo do lajeado uma reduzida capela. É uma coisa diferente, surpresa à distância que não pode ser ignorada. Em andanças entre os sítios Marcela e Água Fria, resolvi cortar caminho e entrei por uma vereda. Só havia a trilha e o mato. À margem da trilha, levei até um susto ao levantar a cabeça e me deparar com uma santa sobre pedra de bom tamanho. A imagem tinha cerca de vinte centímetros de altura. Quem teria ali colocado aquela santa? Qual a motivação do devoto? Em outra jornada a pé, eu passava por uma área de matacões a margem do rio Ipanema, em busca do Poço Grande. Deixei a estrada carroçável e penetrei por uma trilha que na largura somente cabia uma pessoa. Areia fina e preta. Os arredores estavam cercados com arame farpado. O mato e as árvores sugeriam um jardim. Protegida pelo aramado havia uma casinha em cima de uma daquelas pedras cinzentas, com uma imagem do Padre Cícero. A altura da imagem estava em torno de cinquenta centímetros. Bem, como existia uma casa bonita por perto, deu a entender que o pequeno santuário havia sido construído pelo dono daquela chácara. Tudo fora feito com capricho: tinta, grade e alvenaria.
Ainda no mesmo município, procurei visitar a igrejinha das Tocaias, no lugar do mesmo nome. A igrejinha ficava longe da cidade, mas com a expansão de Santana, uma das ruas do Bairro Floresta chegou a uns cem metros da ermida. A igrejinha que faz parte da história da terra estava limpa; sinal que alguém zelava por ela. Mas fiquei triste ao notar duas ou três dezenas de ex-votos, jogados no mato do terreiro. Os que cuidavam da cultura e da religiosidade santanense, não construíram um compartimento para guardar as peças de madeira dos pagadores de promessas. Mesmo para apresentá-las aos visitantes como arte popular do Sertão, os senhores nem ligaram. Mas no museu da cidade havia uma argola de colocar em pata de cavalo.
De qualquer maneira, sempre que realizamos uma caminhada em lugares do Município, vamos descobrindo novidades que surpreendem. Algumas oferecem tudo para realizações de monografias aos pesquisadores. Por mais que já se tenha dito sobre o assunto, ângulos diferentes permanecem virgens aos interessados. Além de atraente, o tema parece impregnar de paz aos que buscam as CURIOSIDADES RELIGIOSAS.

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