segunda-feira, 30 de novembro de 2009

DANE-SE A DEMOCRACIA

DANE-SE A DEMOCRACIA
(Clerisvaldo B. Chagas. 1.12.2009)

Os Estados Unidos que tem a América Central como republiqueta das bananas, vacilou. Vacilou perante o mundo quando aceitou o golpe de Honduras através das eleições naquele país. Em crônica outra havíamos cantado essa bola. O Tio Sam sempre considerou aquela região como seu quintal. Fica no poder o caudilho que possa ser títere do país do norte. Zelaya não agradava. E se não agradava para que apoio mesmo admitindo um golpe na democracia? Cadê o processo democrático que eles, os americanos defendem? Que processo democrático que nada! Processo democrático uns tomates! Faz-se um acordo pró-ianques com o golpista e pronto. É a nação escrupulosa sem escrúpulo. Afinal a América Central é deles mesmo e tudo certo.
O Brasil tomou posição firme e arrojada. Aguardamos que não recue na decisão sob pena de perder a credibilidade que ora se inicia. Se o nosso país quer mesmo ser um dos líderes do mundo, não se alcança essa posição baixando o pescoço como boi de carro. Sempre dissemos que todos os grandes impérios caíram. Se os Estados Unidos ainda continuam sendo a nação mais poderosa, mas não ousa enfrentar China, Rússia, Índia... E por que o Brasil como potência emergente também teria que estender tapete? O Tio Sam, queira ou não queira, estar deixando de ser o dono do mundo. Será que só os americanos ainda não perceberam uma nova ordem mundial irreversível? Mesmo assim as republiquetas ainda são deles. Chavez, por exemplo, não perde por esperar na ânsia de domínio das cabeças do Caribe. O mar caribenho é território minado onde o Brasil se for esperto, apenas manterá a posição assumida e nada mais. Para que confronto direto por ideologia?
Na verdade, Obama, esperança do mundo, parece andar anestesiado e até agora não disse a que veio. Talvez seja a pressão dos tradicionais do seu país. O medo de falhar diante da expectativa do globo. A responsabilidade que pesa nos seus ombros. E assim vai seguindo devagar igual ao governo Itamar Franco. Os pseudos guardiães da democracia agem como aquele indivíduo que acha uma senhorita terrivelmente feia. Mas aí vem o amigo e diz que ela é muito endinheirada. O indivíduo olha uma segunda vez para ter certeza da feiúra. E a fealdade que julgava ter visto fora apenas um engano, uma ilusão de ótica momentânea. Na verdade a senhorita tem um aspecto exótico, um charme específico que escapou da olhadela inicial. São assim os que ditam leis, mudando de idéias conforme suas conveniências. Durma-se com um barulho desses! Democracia?! DANE-SE A DEMOCRACIA.



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domingo, 29 de novembro de 2009

ARARIBÓIA

ARARIBÓIA
(Clerisvaldo B. Chagas. 30.11.2009)

Sobre nossos livros de História do Brasil, muitos deles omitem episódios importantes que falariam sobre heróis e heroínas. São desconhecidos para quase cem por cento dos estudantes, nomes como Felipe Camarão, Araribóia, Maria Quitéria, Plácido de Castro, Rui Barbosa, Piragibe, Frei Caneca, Anita Garibaldi e muitos outros. Com essa omissão, ficam apenas os heróis Tiradentes e agora Zumbi dos Palmares. O próprio Tiradentes começa a ser esquecido em troca de um político mineiro. Vão desaparecendo datas e nomes como a da proclamação da república, Marechal Deodoro e Floriano Peixoto. Até a data da padroeira do Brasil vai deixando espaço para o dia da criança.
Desde o antigo Admissão ao Ginásio, que os livros traziam o nome e os feitos do herói Araribóia, cacique dos temiminós do grupo tupi. Araribóia significa “cobra feroz” ou “cobra da tempestade”. O domínio desse índio brasileiro era o território que hoje é conhecido como Ilha do Governador, baía de Guanabara. Araribóia era amigo dos portugueses. Quando os franceses invadiram o Brasil, alinharam-se aos tamoios, indígenas inimigos dos temiminós. Para expulsá-los, os portugueses convidaram os índios de Araribóia e foi iniciada uma guerra feroz na região (1555). Arariboia expulsou os holandeses no Espírito Santos e juntou-se a Mem de Sá (Governador-Geral do Brasil) nas lutas contra os franceses. Depois de incríveis e sucessivos atos de bravura (que deveriam ser transformados em filme) Araribóia e os outros conseguiram expulsar os franceses. Tempos depois chegou ao Brasil mais um dos governadores-gerais, Antonio Salema e, no dia da sua posse (1575), o cacique Araribóia veio de longe para a cerimônia. Sentou-se a moda índia, cruzando as pernas. O governador não gostou e chamou a atenção do cacique. Araribóia respondeu: “Minhas pernas estão cansadas de tanto lutar pelo seu Rei, por isto eu as cruzo ao sentar-me, se assim o incomodo, não mais virei aqui”. E nunca mais pôs seus pés no palácio. Araribóia já em idade avançada teria morrido afogado dentro dos seus domínios. Esse grande e esquecido herói brasileiro é considerado fundador de Niterói e ali tem uma estátua em sua homenagem. Foi inspirador para o livro “O Guarani” de José de Alencar.
A gratidão é um sentimento que anda esquecido em minha terra. Os heróis do Magistério e da Literatura que elevaram o nome de Santana do Ipanema para todo o território nacional, vão ficando à margem e quase nunca são reconhecidos e homenageados pelo poder público. Esse prefere homenagear os ausentes, os compadres, os desconhecidos a valorizar os filhos da terra; a não ser do círculo restrito da turma. Um livro inteiro nós teríamos a falar sobre o tema ingratidão em Santana, lembrando as palavras do político Divaldo Suruagy: “O pior defeito do homem é ser ingrato”. E o pior defeito dos que fazem o poder público, os clubes de serviço, a sociedade organizada, continua o mesmo. A ingratidão do Governador-Geral Antonio Salema tem continuidade sobre outros ARARIBÓIAS de Santana do Ipanema, Alagoas.

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quinta-feira, 26 de novembro de 2009

DÁ O QUE TEM

DÁ O QUE TEM
(Clerisvaldo B. Chagas. 27.11.2009)

Diante de certos fatos relembramos lições ensinadas no decorrer dessa vida muitas vezes atribulada. Algumas pessoas são autoridades verdadeiras e fazem o seu papel. Indivíduos outros com o pouco de asa que lhes dão transformam-se em cão da meia-noite a perseguir, a caluniar, a erguer muralhas. Falam mal por falar. Escudam-se numa imaginária linha defensiva de onde alimenta a artilharia de maldades inconsequentes. Por um lado até que não tem culpa, pois foram criados assim, moldados pelos pais no raciocínio retrógado que encaliça e não tem concerto. Existem os que roubam, que assaltam, que tomam a pulso. Mas não são piores dos que procuram aniquilar a alma de outra pessoa com insinuações que ferem, penetram e mata. Ainda tem o arrogante que não atende bem, que se faz de desentendido, que põe obstáculos e que sabe unicamente o verbo espancar.
Contava meu velho que certo proprietário rural muito poderoso provocava com frequência um humilde e sábio vizinho de terras. O segundo defendia-se como podia diante dos ares da ignorância. O tempo passava sob tensão até que o poderoso chamou um vaqueiro e mandou que ele juntasse todos os chifres de reses abatidas. O homem catou as pontas que avistava, encheu um balaio e o entregou ao patrão. O fazendeiro mandou a esposa cobrir tudo com um pano limpo e bordado. Novamente ordenou ao vaqueiro que fosse levar o objeto como presente ao seu suposto desafeto, mas não voltasse sem ver a reação do presenteado. O vaqueiro montou no corcel mais rápido da fazenda e partiu para cumprir as ordens. Quando o homem simples recebeu o presente, tirou o pano do balaio, viu o seu conteúdo e não esboçou nenhuma reação visível. Apenas pediu para que o vaqueiro tomasse um café ou uma bicada, enquanto ele iria preparar os agradecimentos. O homem apeou desconfiado, bebeu um ou dois goles de cachaça e recebeu um balaio novo, coberto, como retribuição. Ao retornar, o vaqueiro percebeu o amo babando para saber como havia reagido o outro fazendeiro. Até já havia reunido a cabroeira pela análise antecipada da resposta. Ora, o seu patrão recebeu com surpresa o objeto novo. Imaginou mil coisas e até pensou em outro balaio de chifres como resposta. Ao matar a curiosidade, encontrou o cesto de cipós, completamente cheio de flores colhidas há pouco.
O resultado da história, a reação do fazendeiro, fica sob a imaginação do leitor que se propõe a refletir. A sabedoria está na cidade e no campo e não é tão difícil obtê-la. Basta querer. A mesma fonte do caso acima ainda dizia que se alguém deseja alguma coisa limpa e difícil “se pegue com Deus. Com ele tudo, sem ele nada”. Mas o coração é uma coisa e o da boca para fora é outra. Ninguém muda com o Deus da boca para fora. É por isso que se comenta sobre exemplos como a questão dos dois fazendeiros: Cada um DÁ O QUE TEM.


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A VOLTA DOS PIPEIROS

A VOLTA DOS PIPEIROS
(Clerisvaldo B. Chagas. 26.11.2009)

Assim como foi formada recentemente a fila enorme do feijão, em Santana do Ipanema, Alagoas, a vez agora é dos pipeiros. A fila do feijão que durou semanas, era em busca da garantia do preço para armazenamento na CONAB. Agora, no mesmo lugar da fila do feijão, vemos outra que parece sucuri. Da localidade Largo do Maracanã até perto do Corpo de Bombeiros, bairros Camoxinga e São José, chama atenção fileira de caminhões no trecho da BR-316. Isso virou rotina anual no período de estiagem quando o Sertão e Alto-Sertão sofrem em busca da água, principalmente na área rural. É uma beleza tristonha a fila enorme encostada à calçada da Rua Pancrácio Rocha. Mas isso também faz circular dinheiro nas churrascarias, restaurantes e lanchonetes durante semanas. Apesar de tantas lutas do povo nordestino, o cenário continua com as batalhas de sobrevivência para o homem e sua agropecuária. O governo paga ao pipeiros que adentram estradas e trilhas levando esperanças para o povo sofrido desses rincões. É bem verdade que muita coisa mudou para melhor desde algumas poucas décadas. Estradas asfaltadas por todos os lugares facilitam o deslocamento das pessoas em busca de socorro. Os carros, também chegam às comunidades mais distantes, bem como adutoras que facilitam a chegada da água. Não se vê como no passado, levas de retirantes e pessoas morrendo por causa da sede. Mas, o gado não tem como escapar. Se hoje a água é mais fácil, porém, a comida não. O pasto resseca, fica magro, o dono coça a cabeça e a tragédia chega. Alguns fazendeiros transferem as reses para outras regiões, outros compram bagaço de cana, palma forrageira, mas nem todos podem fazer o mesmo. Por isso escutamos na adolescência um proprietário dizer que no Nordeste estamos sempre começando. No semi-árido, o homem vai progredindo, consegue criar cem reses ou mais, vem à seca e leva tudo. Quando as chuvas retornam o criador reinicia do zero.
Na última atuação dos caminhoneiros, as chuvas chegaram por todos os lugares, deixando os camponeses sem querer mais receber água. Cisternas cheias, barreiros, açudes e chuvas constantes foram motivos de recusa da água. Mesmo assim o governo continuava desperdiçando dinheiro, pois pagava normalmente as viagens acertadas, pelo líquido não mais aceito. Isso foi o que nos contou um dos pipeiros honestos que achava um absurdo receber por serviço não prestado.
Enquanto isso vamos contemplando o novo ciclo da estiagem. A repetição do espetáculo nas ruas de Santana do Ipanema, com esses carros pesados, atrai motoristas de inúmeras cidades vizinhas como Poço das Trincheiras, Maravilha, Ouro Branco, São José da Tapera, Carneiros, Dois Riachos, Olivença e outras mais. Mesmo assim a “Rainha do Sertão” vai colorindo a Avenida Pancrácio Rocha, na BR-316, movimentando a cidade e distribuindo a verba federal pelo comércio sertanejo. Afinal de contas não estamos na Amazônia. E se a chuva não chega, pelo menos vamos comemorar com toda a justiça mais uma VOLTA DO PIPEIROS.

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terça-feira, 24 de novembro de 2009

O TREM DE SATUBA

O TREM DE SATUBA
(Clerisvaldo B. Chagas. 25.11.2009)

Havia uma expressão popular em Maceió para quem era e o que era bastante devagar: “(...) mais atrasado do que o trem de Satuba”. Satuba, cidade alagoana, faz parte da grande Maceió, hoje separada da capital apenas por uma enorme ladeira. É ali onde sempre funcionou uma escola agrícola que se tornou famosa do litoral ao Alto Sertão. Inúmeros jovens estudaram e estudam naquela escola saindo com a formação de técnico agrícola. Muitas são as aventuras que os alunos contavam sobre os tempos das vacas magras naquele estabelecimento. A cidade continua contribuindo com a agricultura estadual, apesar dos últimos escândalos cujo povo ordeiro não merece. Satuba também é a terra de Zé Preta, um dos maiores jogadores do futebol nordestino que honrou o nosso estado. O município adquiriu fama na arte da cerâmica ali fabricada, cujas chaminés formavam o seu cartão de visitas. Alguns diziam em termos de gozações que Satuba era a única cidade do Brasil aonde o trem ─ sempre atrasado ─ entrava de ré. Outros, envergonhados com isso, pediam publicamente providências para que fosse corrigida a anomalia. O certo é que essa pequena cidade de Alagoas, pela distância é quase um bairro de Maceió. De Satuba ficou conhecidíssima a referência sobre a água do Catolé que, dizem, já foi considerada a segunda melhor da América do Sul. O certo é que a cidade está movimentada, favorecida pela expansão residencial do tabuleiro de Maceió e pelo intenso tráfego dos que vem do Sertão e Agreste pela BR-316.
Demorou muito para que as condições da Escola Agrícola melhorassem. Demorou ainda para que as providências sobre as manobras do trem fossem modificadas. É a burocracia brasileira que emperra a máquina administrativa, irritando a paciência do povo. Em muitos aspectos parecem até os freios russos do tempo do socialismo. Não são raras às vezes em que as reivindicações atendidas demoram tanto que já não servem. Quando servem estão obsoletas. Certa vez foi criado o Ministério da Desburocratização que não conseguiu muita coisa, até porque quando acabou, tudo voltou ao que era antes. Esses excessos de ordens, de papel e de tempo, parecem não acrescentar em nada o combate à corrupção. Quanto mais burocracia mais falatórios e denúncias (felizmente numa Imprensa que ainda pode publicar). Quanto mais afastada do oceano for à cidade, menor é a esperança de ser atendida nas esferas estadual e federal. Certa feita um governador deixou transparecer que o Sertão é pouco habitado, isto é, tem poucos votos a dá. Bastava à votação da Zona da Mata, para eleger um governador; e por que se preocupar com apelos do povo sertanejo? O compromisso estaria com o poder e não com a fatia do semi-árido.
Pelo visto acima, a multidão vai acompanhando essas situações de derrotas, de humilhações, de deuses e semideuses governamentais e criando imagens. Surgem ditados, provérbios, fábulas, lendas... E também gestos inflamados de bananas para uma porção de autoridades. A burocracia quase nada mudou. E as providências urgentes solicitadas pela população, infelizmente continuam mais atrasadas do que O TREM DE SATUBA.

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O SERROTE DE SÃO JOSÉ

O SERROTE DE SÃO JOSÉ
(Clerisvaldo B. Chagas. 24.11.2009)

Quem conheceu Santana do Ipanema décadas atrás, lembra perfeitamente da Rua Benedito Melo, também chamada Rua Nova. Ali uma das travessas até a Rua Antonio Tavares, era chamada “Beco de Seu Felisdoro”. Felisdoro tinha uma bodega em uma das esquinas; na outra, trabalhava Antonio Dantas numa oficina de marceneiro. Felisdoro ─ já nos referimos a ele em outra crônica ─ alto, parecendo um grego também no porte, foi o candidato que só teve o voto dele numa eleição. A esposa “Bila” votou no melhor incentivado pelo próprio marido. Contrastando em tudo com o pacato Felisdoro, Antonio Dantas, vizinho de beco, era baixinho, olhos azuis, cara dura e gostava de bebida. Fabricava caixões de defunto. Dali saíram muitas histórias engraçadas sobre enterros, velórios e entrega de caixões antes do amanhecer.
Como marceneiros gostam de falar sobre coisas referentes à marcenaria, foi ali que ouvi a ingenuidade de dois casos. Entre as ferramentas daquela arte, existe a enxó, um dos principais objetos usados pelos carpinteiros. A enxó chama atenção porque é um instrumento curvo de cabo pequeno e que trabalha em ângulos difíceis. Vendo-me admirando a enxó, um dos marceneiros me disse que era o instrumento do cão. E explicou: um camarada trabalhava com a enxó. O cão chegou perto e começou a tentar o homem: “cuidado para não cortar a venta! Cuidado para não corta a venta!” O homem foi ficando impaciente com aquela conversa até que falou abusado: “Você não está vendo que não se pode cortar a venta com isso? A não ser que faça assim”. E virando o gume da enxó para cima, arrancou o nariz. Fiquei imaginando a força da tentação. E ouvindo o roc-roc do serrote, perguntei se aquele instrumento também era do demônio. O marceneiro falou que o pai de Jesus possuía um serrote muito bom, afiadíssimo. Acontece que sempre aparecia um cidadão para tomar emprestada a ferramenta. Cansado de interromper o seu trabalho e receber o instrumento de volta sempre com problemas, o futuro santo resolveu cortar o mal pela raiz. Deu um jeito na dentição do serrote colocando um dente para um lado, um dente para o outro e assim sucessivamente. O cidadão nunca mais pediu o serrote emprestado. José, entretanto, ao experimentar a nova ferramenta teve uma ótima surpresa. Estava melhor de que antes. E foi assim por acaso que o Carpinteiro inventou um serrote muito mais eficiente. Portanto, a ferramenta não era do cão tal a enxó, e sim de São José.
Com esses casos e lendas também aprendemos bem. Quando a madeira é torta pode não dar para cumeeira, mas é excelente para bodoque. O anzol é torto para pegar o peixe. E, na sabedoria popular “Deus escreve certo por linhas tortas”. Um colega dizia que “quem nasce para cangalha não dá para sela”. E se os da sela não tivessem os da cangalha, quem levaria o peso? Assim, aprendemos que tudo que existe no Planeta serve para alguma coisa. Deus fez o mundo perfeito em todos os seus detalhes; pode faltar apenas a compreensão dos terráqueos. Em diversas ocasiões da vida não podemos ser linheiros QUANDO O CERTO É TORTO.


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domingo, 22 de novembro de 2009

A RUCINHA DO CORONEL

A RUCINHA DO CORONEL
(Clerisvaldo B. Chagas. 23.11.2009)

Meu pai, o comerciante Manoel Celestino das Chagas, nos dava lições práticas de espiritismo (sem saber), sendo católico fervoroso. Suas observações estavam além do tempo e, como Jesus, gostava muito de aconselhar fazendo comparações. Bom em matemática, quase não lia um livro completo e nem sei de onde vinha tanta sabedoria sobre a principal matéria que é a “matéria da vida”. Algumas histórias faziam rir, mas traziam reflexões nas entrelinhas. Muitos casos ouvi quando adolescente e um deles foi o da Rucinha. Não tenho conhecimento se existe alguma coisa escrita, pois não imagino de onde ele retirava suas histórias.
Segundo Manoel Chagas (hoje com 92), tem pessoas que gostam muito de tomar coisas emprestadas, quase como mania. Mas, diz um velho ditado que não se emprestam três coisas: violão, mulher e cavalo bom. Dizia Seu Manezinho que havia um coronel que possuía excelente animal. Desse cavalo tinha um ciúme triste que era da sua mão para a mão do tratador e de mais ninguém. Solto na manga o coronel possuía também, entre outros equinos, uma potranca ruça (pardacenta) muito arisca a quem dera o nome de Rucinha. De vez em quando aparecia alguém pedindo emprestado o seu cavalo extremamente baixeiro. O coronel se mostrava muito amável, fazia gestos teatrais de servidor, e terminava dizendo que não podia emprestar o cavalo. É que ─ alegava o dono ─ se não fosse uma viagenzinha que iria fazer, “o cavalo estaria nas mãos do senhor”. E para rebater a suave recusa do empréstimo dizia, contudo, que ainda restava uma saída para não deixar de servir. “Tenho uma bestinha muito boa pastando na manga. É só o amigo procurá-la e já está emprestada. Devolva quando quiser”. Ora, não havia vaqueiro no mundo que pegasse a Rucinha dentro da manga. O sujeito ia embora sem levar nada e ainda agradecia demais ao manhoso coronel.
A gente vai emprestando as coisas com o maior prazer e, em muitas ocasiões, não tem certeza se o outro é viciado. Assim vai um martelo, um serrote, um alicate... Uma escada. O pior ainda é o empréstimo do livro que não volta à estante. Quando o dono o empresta pensa que a pessoa vai devolver logo porque é esclarecida. A falta da devolução de vários outros objetos é justificada pelo não aprimoramento cultural, porém, livros não. Como uma pessoa esclarecida leva um livro emprestado e não devolve? Estamos nesse mundo para servir. O homem só pode evoluir servindo com boa vontade. Também passar no rosto que serviu, é mesmo que anular o ato anterior. Ocasiões existem, todavia, que pessoas abusam da bondade. É diferente do que toma emprestado com boas intenções e por uma infelicidade da própria vida fica sem condições de devolver e é aguilhoado pelo credor. Este é outro assunto que um dia gostaria de abordar. É de se compreender, entretanto, que muitos agem com prudência e outros na tem a menor vontade de servir. Tanto no primeiro quanto no segundo caso, continua em voga a procura pela RUCINHA DO CORONEL.

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quinta-feira, 19 de novembro de 2009

POR DENTRO E POR FORA

POR DENTRO E POR FORA
(Clerisvaldo B. Chagas. 20.11.2009)
Para: Elba Ramalho – Zé Ramalho – Alceu Valença – Fala Mansa

Galope beira-mar ─ Galope por fora do mar

Navios de guerra apontam na ilha
São encouraçados entrando em ação
No céu a gaivota parece avião
Que frota terrível ô que maravilha
Roncam os motores mortal esquadrilha
O submarino parece apontar
O ataque se forma em baixo e no ar
As ondas de rádio ditando as ações
Berra o comandante disparam os canhões
Nos dez de galope na beira do mar

O bravo vaqueiro engole uma pinga
Depois da cuspida se veste de couro
Dispara o cavalo no coice do touro
O boi furioso tem fogo na binga
Quebrando madeira no rol da caatinga
Cascos de ferro chifres de matar
Vaqueiro estremece cavalo a voar
O boi rodopia o vaqueiro é agreste
Vitória do homem coragem da peste
Nos dez de galope por fora do mar

O céu se transforma regouga o trovão
As águas se abrem o mal tempo atormenta
Nuvens de chumbo chegou a tormenta
Nos vales profundos acorda o vulcão
Corcoveia a procela montado o tufão
Violências de raios vem no ribombar
Rasgando a turquesa o azul milenar
Desmancha a couraça num grande mergulho
São forças divinas fazendo barulho
Nos dez de galope da beira do mar

O jegue ou jumento também tem a ginga
Em lote selvagem corre nas juremas
Por dentro do mato de feras e emas
Mordendo as parceiras é rei na caatinga
Levando no peito toda sacatinga
O casco dá corte de tanto amolar
Até onça pintada não quer lhe enfrentar
Orneja na areia de seixo e calhau
Comendo quixaba com casca de pau
Nos dez de galope por fora do mar

FIM
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quarta-feira, 18 de novembro de 2009

COMO NASCEU UM VASCAÍNO

COMO NASCEU UM VASCAÍNO
(Clerisvaldo B. Chagas. 19.11.2009)

Houve um período no futebol do Brasil em que o Rio de Janeiro e São Paulo eram os poderosos da arte. Os times mais conhecidos do rio: Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense. Depois vinham, não pela ordem, o Bangu, o América, o Olaria e outros. Em São Paulo já não lembro tanto. Quanto aos jogadores mais falados, destacavam-se Ademir e Zizinho. Com a paixão do brasileiro por esse tipo de esporte, o futebol evoluiu em outras partes que conquistaram o espaço antes ocupado pelos times do Sudeste. Assim surgiu com força o futebol do Rio Grande do Sul, depois o de Minas Gerais e em seguida da Bahia. Depois regiões e municípios foram aparecendo mais no cenário nacional, tanto que em todos os lugares tem seus times reconhecidos e disputando em igualdade de condições.
Em Santana do Ipanema da década de 50, quem vendia revistas na cidade era dona Maria, esposa de seu “Quinca”, alfaiate, à Rua Nilo Peçanha ou Rua da Cadeia Velha. As novidades chegavam através de um ônibus também chamado “sopa”, cujos pontos eram em Santana defronte a igrejinha de Nossa Senhora Assunção, Bairro Monumento; em Maceió, defronte o “Hotel Lopes”, perto da antiga Faculdade de Direito. Nessa época eram esperadas com ansiedade as revistas “O Cruzeiro”, “Sétimo Céu”, “Capricho”, “Contigo”, “Idílio” e vários gibis. Entre eles “O Zorro”, “O Fantasma”, “Tarzan”, “Roy Rogers”, “Popeye”, “Bolinha”... Era bom sentir aquele cheiro de revistas novas que impregnava gostosamente a sala de dona Maria. Mas no meio daquilo tudo foi lançado um álbum de figurinhas dos times mais conhecidos do Brasil. Comprávamos o álbum e adquiríamos as figurinhas comprando balas enroladas por elas. Essas figurinhas tinham muita qualidade; de modo que chegava a vontade de torcer por todos os times por causa do colorido vivo das camisas e dos nomes. Bonito eu achava as denominações Bangu, Olaria e Piracicaba. Entretanto, a fama de Ademir do Vasco da Gama era grande e considerado o melhor jogador do Brasil. Tanto que era a figurinha mais rara, juntamente com a de Zizinho. Quando me vi diante do terno do Vasco, apaixonei-me pela camisa, pela cruz de malta dando aquele toque vermelho. Como Ademir era o melhor e pertencia ao Vasco, passei a torcer pelo time da colina até o presente momento.
Não costumo acompanhar jogos. Tenho notícias de vitórias e derrotas do Vasco da Gama, mas para mim tanto faz ganhar ou perder. Nada de fanatismo, discussões ou brigas. Apenas torço pelo Vasco, graças ao álbum de figurinhas da Rua Nilo Peçanha. Entretanto quando o time português vem jogar no meu estado, ganha um torcedor contra. Da mesma maneira torço pelo CSA por causa da cor azul, mas vindo jogar em Santana, a vibração é pelo Ipanema, time da minha terra. Sobre outros torcedores não sei, mas foi dessa maneira COMO NASCEU UM VASCAÍNO.


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terça-feira, 17 de novembro de 2009

NEM SEI SE DELFIM SOUBE

NEM SEI SE DELFIM SOUBE
(Clerisvaldo B. Chagas. 18.11.2009)

Parece que existe na humanidade uma tendência natural de não querer assumir culpas. É em casa, no trabalho, no lazer, seja aonde for. A criança diz que a culpa foi do irmãozinho, o adulto se escora no camarada, o soldado fala que recebeu ordens. Se a tendência, então, é natural, ninguém deveria ser chamado de mentiroso. O que de fato existe por trás da negação do feito? A vergonha de ter fracassado? O medo do castigo? O prazer de acusar terceiros? Lá no paraíso mesmo, onde tudo teve início, Adão eximiu-se da desobediência, alegando ser culpa de Eva. Por sua vez, a primeira mulher falou que a verdadeira culpada era a serpente. Ninguém perguntou a serpente por que fez a tentação. Vê-se por aí que a célebre frase: “Eu mesmo não fui”, vem desde a criação do homem. E se a criança se defende, o jovem aponta para o lado, o adulto nega. Erros assumidos podem ser as coisas mais difíceis da vida. Imaginem a política: os de baixo condenando os de cima; os de cima acusando os de baixo.
Há muitos anos, nós, os poetas, conversávamos nos degraus da Matriz de Senhora Santa Ana, em Santana do Ipanema, Alagoas. Entre eles estava uma das maiores figuras do repente nordestino, Geraldo Amâncio. Geraldo contava muitas histórias de cantadores, principalmente do Ceará. Uma estrofe de um desses casos permaneceu na minha cabeça, mas não lembro o nome do autor e nem o do seu parceiro. A cantoria teria acontecido no tempo em que Delfim Neto era ministro. A inflação estava sem freios e o Brasil passava uma época muito difícil. Todos os setores sociais sofriam com as mazelas da Economia. Pois bem, o povo brasileiro resolveu culpar o ministro tanto pela inflação quanto pelos outros males do País. Até briga de vizinhos seria culpa de Neto. O ódio era grande e voltado para o ministério. Baseado nisso ─ segundo meu amigo Geraldo Amâncio ─ um homem aproximou-se da peleja lá em terras cearenses e, revoltado com a situação pediu um tema trava-língua em décima: “Se não der fim a Delfim/Delfim dá fim à nação". Como o mote também afetava os cantadores, os dois se engalfinharam com versos bonitos, até que um deles deixou para a posteridade:

“Tamo na segunda etapa
Do tempo do realismo
Vai chegando o comunismo
Desse aí ninguém escapa
Atiraram até no papa
Mas em Delfim Neto não
Que falta faz Lampião
Pra atirar em cabra ruim
Se não der fim a Delfim
Delfim dá fim à nação”

NEM SEI SE DELFIM SOUBE.


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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

FORÇA DO MOURÃO

FORÇA DO MOURÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 17.11.2009)

Quem aprecia uma peleja nordestina, conhece os diversos gêneros de estrofes existentes: sextilhas, galope beira-mar, quadrão, mourão, mourão perguntado, martelo agalopado, martelo alagoano, Brasil caboco, gabinete, décimas... São em torno de quarenta gêneros. O básico de qualquer cantoria é a sextilha. A dupla de repentistas pode passar uma noite cantando somente sextilhas, pois com elas se canta qualquer assunto; apenas muda a musicalidade em canta intervalo. Cada pedaço da cantoria é chamado baionada. Quando os cantadores querem ou o povo pede, os repentistas podem cantar vários gêneros após as sextilhas e depois voltar para elas. O gênero mais nobre, em minha opinião, é o martelo agalopado, chamado assim porque imita martelada como o galope de cavalo. O tema ou mote, se alguém pede, é cantado em décimas ou em martelo agalopado que tem mais sílabas, porém, com os mesmos dez versos. O mourão é composto de uma estrofe de sete versos, separados em dois mais dois mais três. O primeiro cantador canta dois versos (duas linhas); o segundo cantador responde com mais dois; o primeiro repentista rebate com os três versos finais. Abaixo iremos dar um exemplo de martelo agalopado e um de mourão.
Zé de Almeida é poeta-repentista santanense e muito conhecido no Nordeste. Ultimamente Almeida vem se dedicando mais ao ramo musical das vaquejadas, fazendo dupla com parceiros também famosos. Certa feita achei tanta poesia em um martelo agalopado feito por ele que imortalizei a estrofe. Está no meu romance Defunto Perfumado à página 8:

“O meu verso já tem se comparado
Com o mel da abelha jandaíra
Com o perfume da flor da macambira
Com o campo florido perfumado
Com as flores que cobrem todo o prado
Com o sol amarelo cor de gema
Com o canto feliz da seriema
Com o grito saudoso da graúna
Com a casca de pau da baraúna
E o verdume da folha da jurema”

Pois bem, Zé de Almeida e seu parceiro pelejavam na cidade alagoana de Maravilha, Sertão de Alagoas. Estavam ambos em uma residência, quando um ouvinte pediu um mourão. Almeida iniciou mais ou menos assim:

O povo pode pedir
Que a gente canta na hora

O parceiro respondeu:

Ninguém vai me impedir
De tocar minha sonora

No momento que Almeida ia concluir o mourão, um homem muito conhecido na cidade, passando por fora espichou o pescoço para dentro da casa (pela janela) e gritou: “Calem a boca dois cornos!” Zé de Almeida desviou o pensamento e respondeu ao parceiro, ao povo e ao intruso:

“Nessa agora eu me concentro
Dois cornos cantando dentro
E um corno gritando fora”

No final tudo terminou em gargalhadas com as brincadeiras do comerciante Leusínger. Essa é a FORÇA DO MOURÃO.





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domingo, 15 de novembro de 2009

CABEÇAS RAPADAS

CABEÇAS RAPADAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 16.11.2009)

Ainda nas décadas 50-1960 no interior, havia uma coisa no mínimo curiosa. O indivíduo preso como ladrão, além de apanhar bastante de cacete e bimba-de-boi, tinha a cabeça rapada. Feito isso, era amarrado com uma corda e, sem camisa, desfilava a pé nas ruas da cidade. Um soldado atrás segurava a corda com ordens para que o preso gritasse a frase: “Eu sou ladrão!” Às vezes colocavam também um cartaz no prisioneiro com a mesma frase. Essa atitude bizarra e humilhante fazia com que as famílias saíssem às portas e janelas. A sociedade ficava revoltada com esse ato infame que representava a força da truculência às vistas de adultos e crianças. Ninguém nunca ouviu dizer que um daqueles ladrões tivesse se regenerado. Apenas depois de solto deixava à cidade e passava a fazer a mesma coisa em núcleos vizinhos. Estamos falando sobre ladrões comuns: os descuidistas e os arrombadores.
O sistema carcerário do Brasil continua sendo uma vergonha. Cadeias e presídios ainda se assemelham às masmorras medievais. Todo mundo quer ver o errado pagando suas culpas. Para que castigo maior de que ficar isolado do convívio social durante trinta anos, por exemplo. Metade de uma vida. Mesmo assim, além da pena, somam-se o abandono, à tortura e tantas coisas indecentes que somente um documentário sério pode revelar. A sociedade quer os marginais atrás das grades, principalmente os que são chamados monstros. Muitos desejam e pedem a pena de morte. Isso acontece porque muitos desses monstros são postos na rua em pouco tempo. As leis brandas com as habilidades dos advogados e até mesmo somadas ao juiz corrupto permitem a impunidade, uma forte tapa social. Famílias equilibradas não querem vingança, clamam apenas por justiça. Mas, em não havendo justiça como fica o quadro dos envolvidos? E quando não há impunidade, existem os depósitos de se jogar pessoas, muitos dos quais concorrem com o inferno.
O povo brasileiro já não aguenta o amontoado de escândalos que alimenta o noticiário do País. Leis mais rígidas, menos corrupção e prisões onde o encarcerado tenha seus direitos garantidos é o que estamos a precisar. Se os de fora se igualam aos de dentro, isto é, dente por dente, então, onde está o mérito dos de fora? Hoje continuamos apenas a barbárie dos reis tiranos da Europa antiga. Afinal, ninguém é isento de erros. Ninguém! Ninguém mesmo atira a primeira pedra. E se fosse para rapar a cabeça de quem erra, o Brasil iria virar um verdadeiro oceano de CABEÇAS RAPADAS.

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sábado, 14 de novembro de 2009

OBRAS INÉDITAS:


Romance: “Deuses de Mandacaru”
Romance: “Fazenda Lajeado”
Paradidático: “Ipanema, um Rio Macho”
Poesia: “Colibris do Camoxinga
(Poesia Selvagem)”
História: “O Boi, a Bota e a Batina
(História Completa de Santana do Ipanema)”


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quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A RAINHA DO RIO

A RAINHA DO RIO
(Clerisvaldo B. Chagas. 13.11.2009)

Estamos no semi-árido alagoano, em época de estiagem. É tempo em que o viajante se depara com um cenário nada animador. A caatinga original ou mesmo a capoeira muda completamente a coloração passando dos matizes verdes para a cor cinza, feia, monótona, sapecada. Com a perda da folhagem o mato fica mais feio ainda, apresentando a terra esturricada. Tremendamente esquelético os garranchos parecem representar fielmente as últimas esperanças dos viventes sertanejos. Nos lombos dos montes os granitos esbranquiçados assemelham-se às feridas abertas a doer nos vegetais. Em diversos lugares do campo não se vê mais animais selvagens, com raras exceções. Uns morreram outros fugiram ao rigor da natureza. A produção de frutos é interrompida, os passarinhos desaparecem e a paisagem fica morta. O silêncio toma conta das capoeiras, somente quebrado quando passa a resistente lagartixa, o nervoso calango ou mesmo o vento morno dando lapadas nos galhos finos. Entra uma tristeza funda no coração de quem vive da terra; de quem ama o semi-árido; de quem poetiza as montanhas. É, porém, nessa ocasião tão desfavorável que, isolada ou em grupos aparece a craibeira.
Árvore sertaneja de alto porte, linda e elegante, contrasta na paisagem vestida inteiramente de amarelo vivo, a Craibeira. Sua floração acontece em novembro/dezembro, quando é encontrada em plena nobreza nas areias salinas dos riachos sertanejos. Dizem que sua ótima florada é sinal de bom inverno no ano seguinte. Falam também que onde tem craibeira tem olho d’água. Essa árvore serviu muito ao sertanejo cooperando com várias peças nas confecções de carros de bois. É bruta e nobre ao mesmo tempo. Com muita justiça a Craibeira foi declarada a árvore símbolo de Alagoas no governo Geraldo Bulhões.
Para nós sertanejos isso não deixa de ser motivo de orgulho, pois entre tantas outras árvores do Agreste, da Zona da Mata, do Litoral, o título ficou com a nossa craibeira.
Quem vem do mar em direção ao sertão alagoano, encontra a craibeira, principalmente, ao entrar no semi-árido. Por Palmeira dos Índios, a partir da fronteira (não rigorosa) do rio Traipu, imediações da cidade Estrela de Alagoas. Vindo por Arapiraca, também a partir desse rio, entre os municípios de Jaramataia e Batalha. Em Santana, encontramos craibeira em ruas, na periferia, no rio Ipanema, nos riachos Camoxinga, Gravatá e outros, tanto isoladas quanto agrupadas; um espetáculo impagável.
No meu livro paradidático (primeira incursão a pé das nascentes a foz do rio Ipanema) intitulado IPANEMA UM RIO MACHO, eu digo que não encontrei nenhuma árvore mais elegante, bonita e majestosa de que a craibeira. Mesmo tendo sido no mês de janeiro, ainda registramos bela floração. Ela sozinha domina a paisagem, parecendo uma noiva entrando na igreja, mas toda de amarelo. Foi por isso que lhe dei o pomposo título de “RAINHA DO RIO”.

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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

AS VIAGENS DE SÃO PEDRO

AS VIAGENS DE SÃO PEDRO
(Clerisvaldo B. Chagas. 12.11.2009)

Ainda no tempo de adolescente, ouvi uma narrativa que, se foi escrita não conheço o autor. A narrativa dizia que São Pedro dirigiu-se a Deus e disse que havia batido certa saudade da Terra. Pediu para passar uns três dias por aqui como uma espécie de folga. Deus ouviu as razões de São Pedro, requisitou outro santo para a portaria e entregou o passaporte ao seu funcionário. São Pedro desceu satisfeito e começou a passear na Terra. O tempo estava bom; fartura em todos os lugares; povo de barriga cheia e festas eram o que mais havia. São Pedro empolgou-se e foi gostando tanto que quando se lembrou do céu estava dentro dos trinta dias. Ficou preocupado e subiu rapidamente às nuvens. Deus perguntou, então, por que o santo demorou tanto, pois só havia autorizado uma folga de três dias. São Pedro contou as maravilhas da Terra diante de tanta bonança e alegou esquecimento do compromisso. Deus, tocando no ombro do ex-apóstolo, indagou: “E eles falam em mim, Pedro?” São Pedro respondeu: “Não ouvi, não, Senhor. Nem uma só vez”. Deus nada censurou e pediu ao santo que fosse cuidar dos seus afazeres.
Certo tempo após a vinda a Terra, São Pedro foi mais uma vez a Deus com o mesmo argumento. Dessa vez pediu logo os trinta dias com medo de uma falha de memória. Deus consentiu de novo e São Pedro desceu. Surpreendentemente com apenas dois dias, o santo estava de volta ao céu. Deus fingiu admiração e lembrou que o porteiro chegara com muita antecedência do prazo estipulado. Será que Pedro esquecera mais uma vez? Justificando, o viajante argumentou que a Terra estava uma porcaria. Secas, enchentes, terremotos, furacões estavam acontecendo constantemente. Havia muita fome, perseguições, guerras, desabrigados e muitos prantos. A violência era uma infâmia e as nações não se entendiam. Após todo o relatório, Deus perguntou como da primeira vez: “E eles falam em mim, Pedro?” E o santo respondeu meio tristonho: “Ah, Senhor, só é em quem falam. Procissões, cultos, missas, promessas, novenas e todas as formas de pedidos ao Pai Eterno”. O restante da narrativa ficou restrito ao céu porque Deus pediu que não vazassem informações.
Atualmente a poluição vai danificando irremediavelmente o planeta. As geleiras vão derretendo, os oceanos invadindo as terras, as nascentes dos grandes rios desaparecendo, animais e homens morrendo de fome e sede. Surgem mais desertos, mais conflitos e mais desentendimentos entre o gênero humano. Os ventos terríveis varrem os continentes, os maremotos horrendos tremem os mares. Contra todos os tipos de violência não há mais lugar seguro aqui em baixo.
Na verdade, nós estávamos falando mesmo era das excursões de Pedrinho ao nosso planeta. Como perdemos o acesso às informações das alturas, ficamos sem saber qual seria o próximo pedido do nosso querido santo. Se fosse hoje, quanto tempo duraria AS VIAGENS DE SÃO PEDRO?


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terça-feira, 10 de novembro de 2009

CURIOSIDADES RELIGIOSAS

CURIOSIDADES RELIGIOSAS
(Clerisvaldo b. Chagas. 11.11.2009)

O Sertão nordestino é uma riquíssima fonte de pesquisa dos mais diversos assuntos. No aspecto religioso, temos vasta literatura sobre, Padre Cícero Romão Batista, Frei Damião de Bozzano, beatos, frades, penitentes, rezadores e tantos ainda. Quando se fala em promessas, encontramos sinais em cidades, povoados, sítios, estradas e veredas. Nas minhas caminhadas de pesquisas no Município de Santana do Ipanema, tive a minha atenção voltada para imagens colocadas em lugares extraordinários. Entre o povoado Areias Brancas (BR-316, a 12 km da sede) e o sítio Serra da Lagoa, há um lajeiro de boa extensão, coberto de lodo amarelado. Quem passa por aquela estrada com olhares inquiridores, logo avista no topo do lajeado uma reduzida capela. É uma coisa diferente, surpresa à distância que não pode ser ignorada. Em andanças entre os sítios Marcela e Água Fria, resolvi cortar caminho e entrei por uma vereda. Só havia a trilha e o mato. À margem da trilha, levei até um susto ao levantar a cabeça e me deparar com uma santa sobre pedra de bom tamanho. A imagem tinha cerca de vinte centímetros de altura. Quem teria ali colocado aquela santa? Qual a motivação do devoto? Em outra jornada a pé, eu passava por uma área de matacões a margem do rio Ipanema, em busca do Poço Grande. Deixei a estrada carroçável e penetrei por uma trilha que na largura somente cabia uma pessoa. Areia fina e preta. Os arredores estavam cercados com arame farpado. O mato e as árvores sugeriam um jardim. Protegida pelo aramado havia uma casinha em cima de uma daquelas pedras cinzentas, com uma imagem do Padre Cícero. A altura da imagem estava em torno de cinquenta centímetros. Bem, como existia uma casa bonita por perto, deu a entender que o pequeno santuário havia sido construído pelo dono daquela chácara. Tudo fora feito com capricho: tinta, grade e alvenaria.
Ainda no mesmo município, procurei visitar a igrejinha das Tocaias, no lugar do mesmo nome. A igrejinha ficava longe da cidade, mas com a expansão de Santana, uma das ruas do Bairro Floresta chegou a uns cem metros da ermida. A igrejinha que faz parte da história da terra estava limpa; sinal que alguém zelava por ela. Mas fiquei triste ao notar duas ou três dezenas de ex-votos, jogados no mato do terreiro. Os que cuidavam da cultura e da religiosidade santanense, não construíram um compartimento para guardar as peças de madeira dos pagadores de promessas. Mesmo para apresentá-las aos visitantes como arte popular do Sertão, os senhores nem ligaram. Mas no museu da cidade havia uma argola de colocar em pata de cavalo.
De qualquer maneira, sempre que realizamos uma caminhada em lugares do Município, vamos descobrindo novidades que surpreendem. Algumas oferecem tudo para realizações de monografias aos pesquisadores. Por mais que já se tenha dito sobre o assunto, ângulos diferentes permanecem virgens aos interessados. Além de atraente, o tema parece impregnar de paz aos que buscam as CURIOSIDADES RELIGIOSAS.

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segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Ô HOMEM SABIDO!

Ô HOMEM SABIDO!
(Clerisvaldo B. Chagas. 10.11.2009)

Quem não gosta de música, a Arte e Ciências de harmonizar os sons? Pode ser forró, frevo, tango, bolero, qualquer uma serve, dependendo da ocasião. Está alegre? Músicas alegres. Bateu à saudade? Vai um Nelson Gonçalves, um Cauby Peixoto, um Altemar Dutra. Conheci certo dentista que acalmava a clientela com a chamada música clássica das grandes orquestras. Em alguns lugares, até as vacas produzem mais leite ouvindo música nas cocheiras. Quem não canta, ouve. Até mesmo a arte brega, antes estigmatizada, caiu no gosto de quem tem amor bandido ou uma esperança apaixonada do coração. Na euforia, até música de péssima qualidade é aceita na força da cachaça.
Falando, porém, sobre indivíduos, tem aqueles que gostam de abusar. São os que ligam o som da casa em toda altura por muito tempo; os que aonde chegam fazem exibições dos potentes aparelhos em malas de automóveis; os dos carros de propaganda que não respeitam os decibeis da Lei; ou mesmo os ambulantes que vendem CDs e DVDs em seus carrinhos infernais. O certo é que até para funeral existe música condizente.
Os gêneros musicais de vaquejadas são bons também, desde que o sujeito esteja no ambiente adequado. Os forrós de vaquejadas, tão em moda, o aboio, alegram a alma de muita gente. Mas estávamos nos referindo ao abuso. Esse é que é danado.
Trabalhando em determinada escola perto de um bar, eu ouvia todas as manhãs músicas e mais músicas de vaquejadas que duravam horas. E o pior, não era daquelas animadas, e sim, toadas longas, tristonhas e arrastadas. Eu era de uns que já não estava suportando. Quando resolvi falar com o dono do negócio, precisamos de uns reparos no sistema hidráulico. Fomos à repartição adequada, trouxemos um moreno de fala mansa, chapéu preto de massa e óculos de grau. O homem iniciou o seu trabalho e eu fiquei perto, pois sempre gostei de conversar com pessoas maduras. Conversa vai, conversa vem, mas ele sempre trabalhando. Terminei dizendo sobre o som que tanto nos incomodava. Falei que não sabia como os da repartição dele, que ficava ainda mais perto do bar, aguentavam. E o homem, bastante experimentado na vida, sequer parou o serviço. Respondeu com sua voz mansa, examinando uma peça à luz solar: “A gente nem fala com o dono do boteco. Não vale à pena. Professor existe quatro tipos de pessoas que mexem com essas coisas: o boiadeiro, o vaqueiro, o vaquejador e o vacorno. O boiadeiro é o que vende e compra o gado; o vaqueiro é o dono da vacaria; e o vaquejador é o que tange a rês. Quanto ao vacorno, é aquele que não possui sequer um bode, vive bebendo e passando toada”. Aprendendo mais uma, pedi licença, saí e logo retornei. Disse a ele que havia consultado o dicionário e não havia encontrado vacorno no Aurélio. E o homem, ainda sem se alterar, rebateu a lição: “No Aurélio pode não ter professor, mas nessa cidade é o que mais tem nas ruas”. Meditei nas suas palavras e não pude desacreditar: Ô HOMEM SABIDO!




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domingo, 8 de novembro de 2009

A POSSE DO REITOR

A POSSE DO REITOR
(Clerisvaldo B. Chagas. 9.11.2009)

Inúmeros automóveis estacionavam perto do prédio sofisticado. Homens e mulheres desciam em trajes de gala e até serviços havia às portas dos veículos. O pátio parecia um jardim pela decoração caríssima e caprichada. Iam chegando doutores, professores, autoridades, alunos... E penetravam pela porta larga e principal. Aconteceria ali, dentro de poucos instantes, uma festa maravilhosa em homenagem ao aniversário e posse do reitor. O recepcionista da porta larga estava vestido com elegância, porém, não conseguia esboçar nenhum sorriso aos que mostravam o convite. Pedro Fobó ─ aluno pobre da universidade ─, todavia não acertou passar pelo tal elegante. Estava ali com o papel bonito, desenhado, limpinho, mas a sua roupa, segundo o sujeito, não combinava com a festa. Fobó argumentou que era o traje melhor que possuía, mas não houve nenhuma complacência. Desenganado, Pedro rogou a Deus que abençoasse os atos solenes que iriam acontecer, desejou boa sorte ao “caxias” e retirou-se de cabeça baixa.
Para Fobó, a humilhação não havia sido grande coisa. Estava acostumado aos reveses da vida. O problema é que viera de carona e estava sem dinheiro para retornar a casa. Sua residência ficava a quase vinte quilômetros dali, à margem do rio Milagres. Ainda bem que do lugar da festa para a residência era um trecho asfaltado. Após respirar fundo, Pedro iniciou a pé a sua marcha de volta. Quem sabe, pensava ele, poderia até pegar uma carona, nem que fosse numa caçamba. Não conseguiu. Ao chegar perto de casa, muito cansado da longa caminhada, parou sob uma árvore e ficou contemplando ali perto o rio dos Milagres. Como havia levado horas no retorno, viu aproximar-se um carro com certa velocidade. Fobó reconheceu o veículo por causa do símbolo da reitoria. Logo o automóvel caiu no rio ao bater num buraco grande.
Pedro Fobó correu para perto e localizou o carro que ainda não havia submergido. Pulou com roupa e tudo, quebrou vidros e terminou arrastando para a margem, três homens que estavam dentro. Nenhum sabia nadar. As três vítimas beberam água, mas nenhuma delas estava ferida gravemente. Fobó providenciou o socorro necessário até que os três homens começaram devagar a se refazer do susto. O reitor reconheceu Pedro Fobó porque ele tinha sido o melhor aluno do ano passado. O bibliotecário também por causa das pesquisas constantes de Pedro nos livros da casa. E o recepcionista, por motivo da rejeição aos trajes do aluno. Os dois primeiros, mesmo ainda nervosos, sentiram alegria. O terceiro ficou envergonhado. Foi então que o reitor quis saber o que o rapaz estava fazendo ali, pois nem aos sapatos abandonara. Pedro Fobó respondeu que morava perto e estava acostumado a puxar pessoas no rio. Encontrava-se de sapato porque acabara de chegar a pé da festa do reitor. “E como esse amigo recepcionista não me deixou entrar para a posse ─ mesmo de convite à mão ─ estou aqui”. O reitor olhou para Fobó, impressionado. O recepcionista pediu perdão pela grosseria e agradeceu pelo salvamento. Pedro Fobó, antes de providenciar outros tipos de assistência, concluiu: “Nem precisam me agradecer; quem salvou a vida dos três foi Deus e não eu. Apenas meus irmãos vieram a minha posse que nem precisa convites e nem trajes de luxo”.

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quinta-feira, 5 de novembro de 2009

DESAFIO EM MARTELO AGALOPADO

DESAFIO EM MARTELO AGALOPADO
(Clerisvaldo B. Chagas. 6.11.2009)
Em Maceió ao poeta José Ormindo e a Wellington Pereira (no Palato)

Meu galope é feroz é desumano
Sem espora sem freio alucinado

Fui o dono das pragas do Egito
Castiguei os hebreus pelo deserto
Milhares acabei em campo aberto
A Hitler ensinei a ser maldito
Quanto a Nero dei fogo num cambito
Pra o incêndio de Roma comandado
Gengis Khan já deixei recomendado
Da bandeira da paz rasguei o pano
Meu galope é feroz é desumano
Sem espora sem freio alucinado

Cooperei na vingança de Sansão
Fui o leme da arca de Noé
Comandei o Egito com José
Ajudei a prender Napoleão
Acabei o cangaço no sertão
Separei a Igreja do Estado
Com Jesus curei cego e aleijado
A ONU implantando dei tutano
Meu galope é feroz é desumano
Sem espora sem freio alucinado

Arrasei a cidade de Pompéia
Somente com fogo de vulcão
Fui tortura na Santa Inquisição
Fiz intrigas no centro da Judeia
Quase arraso com o mar da Galileia
Tangi D.João VI do reinado
Mandei terremoto caprichado
Arrancar pela cepa o Vaticano
Meu galope é feroz é desumano
Sem espora sem freio alucinado

Eu puxei os hebreus do cativeiro
Em Jericó entrei com Josué
Encorajei Maria em Nazaré
O sangue de Jesus eu vi primeiro
Fui amigo do pai o carpinteiro
Homem simples barbudo e bem cuidado
No Brasil deixei tudo articulado
Com a força que dei a Floriano
Meu galope é feroz é desumano
Sem espora sem freio alucinado

Vou botar dinamite no Iraque
Enviar nova tropa ao Paquistão
Provocar mais conflitos com o Japão
Na Coreia do Norte eu dou um baque
Bomba atômica pra mim é só um traque
O que faço é o mal com resultado
Quem quiser que me chame de errado
Porque mato e esfolo o ser humano
Meu galope é feroz é desumano
Sem espora sem freio alucinado

Se você é o mal eu sou o bem
Hoje acabo com essa garra sua
Monto o Sol suspendo mais a lua
Vejo o mundo da torre de Belém
Se você conta um eu conto cem
Qual o mal que resiste a um golpe dado
Com espada com murro com machado
Com vigores da mão do Soberano
Meu galope é feroz é desumano
Sem espora sem freio alucinado

FIM
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quarta-feira, 4 de novembro de 2009

FUSCÃO PRETO

FUSCÃO PRETO
(Clerisvaldo B. Chagas. 5.11.2009)

Meu amigo José morava no quadro do comércio de Santana do Ipanema, Alagoas. Durante a festa da padroeira Senhora Santa Ana, nunca faltam barracas de bebidas que concorrem com os bares fixos. São nove noites bem movimentadas entre o religioso e o profano. As barracas são bastante procuradas e quase sempre amanhecem na força do movimento. Em uma daquelas noites meu amigo José cismou e não saiu à rua. Acontece que havia uma dessas barracas a cem metros da sua residência que não o deixava dormir. Estava nas paradas à conhecida música “Fuscão Preto” que fez sucesso em todas as camadas sociais. Já era a madrugada das três horas, mas o disco “Fuscão Preto” parecia enganchado. Quando o barraqueiro completou a décima quinta rodada, José tomou uma decisão. “Hoje aquele peste me paga. Tá pensando o quê? Ele é o dono da festa, por acaso? José pegou uma 765, encheu de balas, coloco-a na cinta e saiu pensando: “Vou atirar no som, nos peitos do dono e até na p... da mãe dele se ela aparecer. Não... É melhor ir devagar. Vou conversar logo mansinho com o cara, mas se o sacana se alterar, aí eu lhe esfrego essa pistola na venta e pronto”.
José abriu a porta da frente e não viu quase ninguém na rua. Cada passo dado, um pensamento novo. Passou o vigia da praça, dobrou a esquina uma piniqueira, mas o “Fuscão Preto” não parava de rodar. José levou a mão à cintura, apertou a coronha, sentiu-se mais seguro e renovou as ameaças para seus botões. Chegou perto da barraca, parou e, com os olhos fotografou o ambiente. Havia somente um casal, cujo homem parecia embriagado. E “Fuscão Preto” rodava e “Fuscão Preto” repetia e “Fuscão Preto” não parava. José chegou devagarzinho ao balcão, apoiou bem os cotovelos e antes de abrir a boca, o barraqueiro adiantou-se com sorriso largo: “Seu José, o senhor por aqui. Como foi bom ter chegado! Eu já estou que não aguento com aquele cidadão pedindo ‘Fuscão Preto’ o tempo todo. Mande às ordens”.
A raiva do meu amigo foi amaciada 50%. José olhou para o casal, o homem estava de cabeça baixa. Entretanto, a mulher, “morenona” criada à base do cuscuz com leite, aboticou os olhos para o seu lado. A raiva do meu amigo foi amaciada em 25%. Para completar, José que gostava dessas oportunidades, teve vontade de beber. A raiva do meu amigo foi amaciada em mais 25%. Foi quando a mulher sorriu de lá, ele respondeu dali e achou que havia completado os 100. José perguntou através da mímica, se ela estava gostando da música. A morena levantou o polegar e o barraqueiro destampou uma cerveja à mesa do casal. Aí o meu amigo José, com certeza da transformação e da vitória, chamou o dono da espelunca e disse. “Joaquim, também quero dar lucro ao seu bar, mas tem uma coisa: só me traga uma daquelas geladinhas se você me deixar ouvir o “Fuscão Preto”. O barraqueiro bateu com as duas mãos na tábua, aumentou o tamanho da boca de jiboia e gritou animado: “Eita, peste! Enquanto o primeiro freguês cochilava, sumiu a morena da mesa, desapareceu meu amigo José. As cervejas ficaram pela metade, o dia queria amanhecer, e até umas horas, reinou pleno, absoluto e abusado, só o “pito” do velho “FUSCÃO PRETO”.

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terça-feira, 3 de novembro de 2009

O PICOLÉ DE SEU NOZINHO

O PICOLÉ DE SEU NOZINHO
(Clerisvaldo B. Chagas. 4.11.2009)

Firmino Falcão Filho, também chamado “Seu Nozinho (ô)” ou simplesmente Nozinho, foi personalidade importante em Santana do Ipanema. Fazendeiro, comerciante, dono de prédios, chegou a ser prefeito gestão 1947-48. Vindo da Zona da Mata, logo se adaptou bem nessa cidade sertaneja. Entre as suas versatilidades, estava a de brincar o carnaval sozinho. Era o folião solitário que apenas com uma fina máscara percorria as ruas da cidade. No Bairro Monumento, defronte o casarão do Ginásio Santana, do outro lado da rua “Seu Nozinho” abriu uma sorveteria. A nova casa recebeu o sugestivo nome de “Sorveteria Pinguim” e com essa denominação passou muito tempo no bairro. Em 1959, na gestão do Prefeito Hélio da Rocha Cabral de Vasconcelos, foi construído um palanque oficial para o município destinado aos eventos da terra. O lugar escolhido foi a “Sorveteria Pinguim”, na parte superior, uma vez que o terreno daquele comércio pertencia à Prefeitura. Com o forte calor de verão, o ramo do gelo parecia ser bom negócio. E Firmino Falcão Filho passou a vender sorvetes e picolés aos alunos do Ginásio Santana, aos do Grupo Padre Francisco Correia, aos passantes... Aos matutos vindos para a feira do sábado. Quando não havia freguês, caso surgisse um bom conversador, Firmino Falcão Filho puxava os assuntos das suas realizações do tempo de prefeito.
Certa vez eu estava perto do balcão quando chegou um campesino querendo picolé. “Seu Nozinho” abriu a tampa do depósito, o homem escolheu rápido pelas cores e logo estava com um picolé verde-folha às mãos. Chupou o picolé, mordeu, mastigou e perguntou ao comerciante de que era feito aquele verdão. “Nozinho” não contou conversa e respondeu: "De folha de catingueira”. O matuto olhou de lado, fez cara feia e saiu resmungando. Logo apareceu um rapaz querendo a mesma coisa. Pegou o picolé, passou a língua, e perguntou de que era. “Seu Nozinho”, falou brincando ou não: “Você que estar chupando não sabe, quanto mais eu”.
Eleições no interior é uma festa. Muitas coisas acontecem em todos os lugares, inclusive comentários incríveis. Meses depois de uma delas haver sido realizada, eu conversava com um senhor do pé da serra. Ele me falava de uma fila enorme que havia sido formada no centro de Santana para receber notas de cem, novinhas em folha. Deixamos o assunto de lado e começamos a contar casos humorísticos. Depois que ele contou várias passagens, eu passei para ele o caso dos picolés. O matuto, ao invés de gargalhar, olhou-me admirado, pensou um pouco e voltou imediatamente a sua cabeça, o caso da eleição. Apenas cruzei as pernas e mostrei indiferença quando o caboclo rebateu filosofando: “Ah, quer dizer, então que aquela fila enorme da gota serena, era apenas para receber O PICOLÉ DE “SEU NOZINHO”.

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segunda-feira, 2 de novembro de 2009

CLAUDIO CANELÃO

CLAUDIO CANELÃO
(Clerisvaldo B. Chagas. 3.11.2009)

Quando brincávamos na Rua Antonio Tavares, ainda sem calçamento, conhecemos o Claudio que exercia a profissão de sapateiro, bem perto da Travessa maior Benedito Melo. Sendo alto e seco, o sapateiro logo ganhou o apelido de Claudio Canelão. Claudio era uma daquelas pessoas que ninguém adivinha a idade. Poderia ter entre 18 e 25 anos. Caladão, bigodinho e voz horrível. Na época, a grande sensação de todas as ruas sem benefícios, para a meninada era o jogo de ximbra. O jogo com essas bolas-de-gude era chamado de “Papão”. Quem jogava muito bem era chamado de “rato”. Ou se jogava “brincando” ou se jogava valendo uma ximbra por partida. Normalmente ganhávamos ou perdíamos no plano e nos três buracos no solo, entre eles o “Papão”. As vias ficavam repletas de meninos jogando, principalmente nas ruas Antonio Tavares, Senador Enéas e São Pedro. Acontece que o sapateiro também tinha uma atração muito grande por essas pequenas esferas. Era um desastre quando Claudio Canelão chegava perto de um grupo que estava jogando. Quem se arriscasse a jogar com ele, não teria chance alguma. O ponto de partida de cada jogada era sempre feita de cócoras e medindo um palmo para arremessar a bola com o polegar. Todavia, o palmo de Canelão já era meio caminho andado. Nos acertos às bolas era o maior de todos os “ratos” das ruas. E assim o Claudio Canelão, naquela sede medonha, ia embolsando todas as nossas ximbras: velhas, desgastadas, novas, lisas ou coloridas. É certo que ninguém era obrigado a brincar com o sapateiro, mas jogo é jogo e o desejo de ganhar do forte também mexe no mais fraco.
Como as brincadeiras eram muitas ao longo das ruas, surgiram alguns prefeitos intolerantes e começaram a perseguir os jogadores, ou seja, às crianças. Essas perseguições estendiam-se também aos jogos de futebol e pinhão. Como nas ximbras, havia também os “ratos” no pinhão. Esse objeto tinha mais vigor quando era jogado pelos mais crescidinhos. O pinhão bonito industrializado ou aquele feito de goiabeira, tanto dançavam na mão, quanto lascavam ao meio a “mita” colocada. Entretanto, a tara do Claudio Canelão era somente com as bolas-de-gude que brilhavam pelas ruas. Levava todas as nossas ximbras com seu palmo danado e sua pontaria de demônio.
As crianças continuavam naquele estágio de brinquedos, pensando que no futuro tudo seria diferente. E vem a fase da escola, o crescimento, até que um dia também surge o período de análise da vida. Chegam os livros, o rádio, a televisão, o jornal, os comentários... E depois descobrimos que nas diversas administrações públicas que vamos conhecendo, raros, raríssimos mesmo, são diferentes de CLAUDIO CANELÃO.

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domingo, 1 de novembro de 2009

OLHAI PELOS PEQUENOS
(Clerisvaldo B. Chagas. 2.11.2009)

em uma casa no sítio Luz do Dia, Município de Jacaré dos Homens, Alagoas, era um forte dia de verão. Várias pessoas estavam dentro da residência, quando uma rolinha penetrou de repente pela porta de trás e foi ficar na cumeeira. Mostrava-se cansada e nervosa como quem havia fugido de uma grande investida predatória. Houve certo alvoroço das pessoas que se alegraram e também quiseram capturar e abater a ave columbídea. O famoso poeta-repentista, Rafael Paraibano, tomou a frente e disse: “Essa ave é um ser vivo que invadiu a minha casa pedindo proteção. Como posso matar um ser que me pede socorro? Vamos protegê-la e soltá-la quando o gavião não estiver por perto”.
Quando algumas vezes falamos sobre a infâmia da classe política, de gestores de empresas estatais e outros, não falamos por falar e nem colocamos todos em um só processo. Falamos dos que não tem consciência, dos que não tem piedade, dos que não tem coração. Como pode um responsável pelo assunto deixar faltar merenda nas escolas de tantos alunos carentes? Isso é cortar todas as suas possibilidades de bom crescimento, é um crime horrendo que deixa marcas terríveis a médio e longo prazo. O que dizer dos que levam das escolas, a carne, o queijo, o leite e realizam suas feiras com a subtração das prateleiras escolares? E as filas que se formam todos os dias nos hospitais, nas casas de saúde, nos postos espalhados pelos municípios brasileiros? Onde estão os médicos? Cadê os medicamentos? Onde fica o humanismo em um país que estar entrando no primeiro mundo? Por que ao invés de protegerem os necessitados ainda lhes roubam o dinheiro, o direito, à vida? É certo que vivemos em um mundo de expiação, mas muitas vezes ele nos parece muito mais selvagem de que a própria selva. A corrida para tirar tudo que pertence ao pobre, está bastante parecida com as antigas corridas do ouro no velho oeste americano. Fica difícil consertar a corrupção por que ela se generalizou em todos os recantos. Se você tem quase nada, os goelas querem o seu quase nada. Nunca tantos acreditaram em tão poucos. Como dizia Lampião: “Comeram a consciência com farinha”.
E depois que o presidente disse que Jesus teria que fazer conchavo com Judas para ganhar as eleições, o que esperar mais dos homens desta nação de Santa Cruz? Não vemos outra saída a não ser uma grande mobilização nacional ─ de cunho permanente ─ por toda a sociedade organizada. Pois, até a última instância dos apelos populares está sem crédito de um real furado. Em outros aspectos continuamos como nas Idades Média e Moderna com o agravante cigano de outrora. Estamos cada vez mais carentes de exemplos dignificantes. Caímos no salvem-se quem puder ou no quem for besta beba gás. E, mesmo que o nosso grito seja rouco, estar sendo dado: Auxiliai os que sofrem, OLHAI PELOS PEQUENOS.






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