segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

QUEBRADORES DE PEDRA

QUEBRADORES DE PEDRA
(Clerisvaldo B. Chagas, 1º de fevereiro de 2011).

       Em Santana do Ipanema existe um lugar chamado Lagoa do Junco. Um estreito patamar divide o relevo em morro, por trás, e em terreno descoberto acidentado, pela frente. O patamar forma rua de um lado só como se fosse à base do pobre casario distribuidor de mais dois ou três, morro acima, cujo topo também mostra ameaça de futura rua. Para melhor disfarçar a pobreza e o abandono, convencionou-se chamar àquele núcleo de bairro. A maioria dos seus habitantes vive em função dos granitos semeados lá em cima. Sua gente batalhadora na pobreza extrema recebe a denominação de “quebradores de pedra”. Poucas são as pessoas que possuem empregos no centro da cidade. Apenas enfrentam o dedo em riste discriminatório baseado na marginalidade. O sustento único dos seus moradores oscila de acordo com a vontade dos prefeitos de Santana. Uns compram pedras para calçamentos de ruas, assegurando a estabilidade da pobreza. Outros fecham as portas para o Junco, indo comprar a matéria-prima em cidades distantes, rebaixando a pobreza à miséria, nesse lugar dos excluídos.
       Lá na frente, a trezentos, quatrocentos metros, o progresso vai chegando às margens da BR-316. Primeiro a escola superior ESSER; depois o fórum de arquitetura moderna; o batalhão de polícia; o prédio singelo da SEFAZ; uma bonita escola municipal modelo; uma empresa particular de artigos marmóreos... E os terrenos marginais vão sendo ocupados pouco a pouco, esticando a cidade como borracha de peteca para as bandas dos Dois Riachos, de Maceió. O cimo do morro sem nome da Lagoa do Junco, decorado no alto pelo azul profundo, também funciona como excelente mirante para os quatro pontos cardeais. O medo e a falta de serviços especializados, não deixam que pessoas do centro conheçam o mirante, a Geografia do morro, a trajeto rua acima e o modus vivendi dos quebradores de pedras, do povo necessitado da Lagoa do Junco. Alguns poucos líderes do lugar, de maior discernimento, são disputados a peso de ouro nos períodos eleitorais. E como fala a sabedoria popular “casa de ferreiro espeto de pau”, os próprios moradores não usufruem das pedras quebradas por eles.
       Entre o progresso gerador na BR-316 e o fundão temerário da Lagoa do Junco, forma-se o vazio de um futuro incerto, onde o planejar é fantasia, onde a saúde vale não mais de que um simples cabo de marreta. Carros de luxo deslizam pelo asfalto vinte e quatro horas e os ônibus lotados estacionam diante da ESSER. Alunos e mais alunos entram e saem pelas portas escancaradas da UNEAL, procurando assento no país que se desenvolve. E de lá da Lagoa do Junco, da base, da ladeira, do cume, os olhos dos seus habitantes veem pelo dia, lacrimejam pela noite, juntos aos pirilampos, o progresso tão perto e tão longe dos QUEBRADORES DE PEDRA.


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domingo, 30 de janeiro de 2011

IPANEMA, A CENA DO URUBU

IPANEMA, A CENA DO URUBU
(Clerisvaldo B. Chagas, 31 de janeiro de 2011).

       Abrem-se as cortinas do esporte alagoano. Desfilam as cores da fantasia que deslumbram multidões sedentas de espetáculos. No mundo multicor abrasante, o verde-amarelo pipila com o curto bico do canoro Serinus canarius. Vindo das ilhas Canárias, da Madeira e dos Açores, o canarinho tornou-se uma das aves passeriformes mais queridas e apreciadas do país. Suas penas passaram a representar a bandeira nacional, parecendo um legítimo e inspirador filho do Brasil. Adotado simbolicamente pelo imaginário sertanejo, o canário no diminutivo, passou a fortalecer como mascote os passos do Ipanema Atlético Clube. Ipanema esse que sempre elevou o nome da cidade aos quadrantes do estado de Alagoas. Por uma parte é representante, embaixador, chanceler das terras de Senhora Santa Ana nos mais diversos estádios onde se reúnem os aficionados do reino Bola. Ora ganhando, ora perdendo, vai cumprindo os objetivos pelos quais foi nascido, batizado e crescido. Ele é filho de uma cidade que sempre apreciou o futebol desde os tempos mais longínquos onde a sede pelo esporte só era aplacada com os tiros de couraça nas redes adversárias.
       Para bem mostrar a presença da “Rainha do Sertão” no mapa triangular, o futebol matuto colheu a força extraordinária do operário sofrido do DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra a Seca – onde o suor e o sangue dos cassacos agigantaram as glórias do time do coração. Ipanema, mesclado com a poeira das rodagens e dos catabis sertanejos insolúveis, trazia derrotas e vitórias nos alforjes robustecidos das suas incursões.
       Santana, cidade situada a 220 km de Maceió, sem petróleo, sem turismo, sem canavial e sem indústrias, como pode conservar um time vencedor a altura das suas tradições? O campeonato alagoano de futebol, primeira divisão, é uma oportunidade de ouro para se elevar os nomes das urbes que adquiriram o direito desse torneio. Mas manter um time de futebol profissional com uma folha mínima é tarefa de abnegadas pessoas que merecem todo o respeito de uma imensa região. Despesas com folha de pagamento, obrigações sociais, refeições, farmácias, lavanderia, manutenção do estádio, viagens e tantas outras coisas que dependem dos seus parcos recursos, desestimulam os que não tem amor ao Clube. Existe ajuda sim, mas essas ajudas são poucas para formar um time como todos nós queremos. Portanto, mesmo com as quatro derrotas seguidas e uma vitória magra no Estádio Arnon de Mello, ainda consideramos os dirigentes do time canarinho uns verdadeiros heróis. Pessoas que poderiam estar cuidando da família e descansando em casa, trabalham nessas humilhantes tarefas de arrecadar dinheiro e enfrentar todo tipo de coisas para um pouco de alegria ao povo em vê o Ipanema jogar. A culpa do fracasso, na realidade, não é do time, não é dos dirigentes. A derrota é daqueles que tem obrigação moral de ajudar, por uma série de argumentos, mas ao invés de papel de boto, preferem fazer a CENA DO URUBU.




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sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

BARLAVENTO OU SOTA-VENTO

BARLAVENTO OU SOTA-VENTO
(Clerisvaldo B. Chagas, 28 de janeiro de 2011).
À memória do jornalista Mendonça Neto.

       Geograficamente, barlavento é o lado de uma montanha que recebe o vento. Diz-se que parte da montanha, da serra, da cordilheira, está a barlavento. Quando o vento sopra, então, para aquele lado, forçosamente eleva-se com sua umidade provocando chuvas ou orvalhos. Isso é uma das causas da chamada chuva de relevo. O monte a barlavento está quase sempre verde. A generosidade das águas permite a alegria, o ornamento natural, o refrigério, a receptividade à semente, a louvação ao cosmo. O sota-vento é a parte do morro oposta ao vento. Ao sota-vento, o vento chega seco e ajuda a maltratar o solo e a vida.
       Na política, a ciência de comandar, é semelhante aos fenômenos geográficos. O bom político é acima de tudo um bom caráter. O legítimo representante do povo é uma pessoa constantemente preocupada com o bem-estar da sua gente. Tendo como exemplo um prefeito, a primeira coisa que faz é acercar-se de pessoas decentes e capazes de, com ele, realizarem um trabalho planejado para o beneficiamento geral dos seus munícipes. Atende a todos com urbanidade, discute os problemas com seu povo e os encaminham com boa vontade as soluções. É ocupado, mas não humilha, mantém um diálogo constante com os mais frágeis nas áreas urbana e rural. Não governa para amigos, compadres, parentes, familiares, nem somente para a elite. Governa para todos, procurando eliminar vícios, zelando por uma cidade limpa, ruas livres de entulhos, terrenos baldios abertos, animais à solta, criação de porcos. Vai abrindo novas passagens, becos, ruas, avenidas, dando diretrizes, zelando pelo patrimônio público, valorizando as tradições, fomentando o progresso com emprego e renda. É humilde, amigo, receptivo, sem vacilar na autoridade que lhe foi outorgada. Não anda metido em escândalos e tem a admiração do povo que o elegeu. Mesmo que não faça tudo nas diversas áreas da sua competência, detém o reconhecimento público por todo esforço empregado e bom relacionamento com seus munícipes. Eis um líder. Esse é o prefeito barlavento.
       Como seria então o prefeito sota-vento? É seco. Governa para meia dúzia, preferencialmente para familiares e minoria. Despreza o povo, só atende aos escolhidos, distribui esporros e piadas, acerca-se de bonecos. Acha-se melhor do que os outros, aposta na imortalidade dos encarnados, ilude-se com o prazo de gerência, conduz a humilhação como bandeira. Não tem vínculo às massas. É xingado, odiado por onde passa numa sucessão de pragas que um dia tornar-se-ão palpáveis. Mantém-se no poder apenas pela força do suborno às autoridades outras, tão imundas quanto ele. É filho de satã, travestido de púrpura e que deixa morrer de fome e vergonha, os que a eles trata como escravos e não como credores. Espinho de mandacaru, furador e torturador dos humildes que o elegeram. Algo razoável, só de mau humor (ruindade nos cromossomos). Eis aí o prefeito sota-vento.
       Como você classifica o seu presidente, governador ou prefeito, meu amigo? Pode até haver um meio-termo, mas não deixa de ser apenas um véu de filó ou de gorgorão que encobre um dos dois: BARLAVENTO OU SOTA-VENTO.




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quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

A PACIÊNCIA DO POVO

A PACIÊNCIA DO POVO
(Clerisvaldo B. Chagas, 27 de janeiro de 2011).

       Para a linguagem das ruas, o pau estar comendo no Egito. Havia certa quietude no norte da África, ouvindo-se falar em agitações e mesmo guerras civis, abaixo da faixa saariana. Mas agora, quando o povo cansado de ditadura, botou a correr o dirigente da Tunísia, as ações de revoltas iniciam a moda também na parte setentrional do continente. O Egito, celebrando um acordo de paz com Israel em 1979, passou a ser aliado dos Estados Unidos e um moderador nos conflitos entre as nações árabes e Tel Aviv. O Egito, de tantas glórias no passado, é hoje uma república governada por um primeiro-ministro e um presidente. Na prática mesmo, quem manda é o presidente, no caso, Mohamed Hosni Mubarak, já com 82 anos de idade e no poder há mais de 50, sempre se saindo nos pleitos eleitorais como candidato único. As próximas eleições estariam marcadas para setembro próximo, quando Mubarak, apresentaria seu filho Gamal.
       Como as comunicações vão ficando mais fáceis no mundo, todos os povos vão sabendo o que se passa no restante do planeta. Assim vão caindo ─ devagar ou com revoltas ─ costumes bárbaros civis ou religiosos, ditadores, preconceitos contra negros e mulheres, amarras contra a liberdade total do homem e tantas outras coisas que o mundo civilizado pensa não existir. A fechadura oxidada de Cuba, China, Coreia do Norte, Venezuela que privam o povo da liberdade, quebrar-se-á hoje ou amanhã, assim como foi destroçada a da Tunísia e ameaçada a do Egito. O confronto no centro do Cairo, entre população e polícia, já matou mais de seis pessoas, deixando 50 feridas e 800 presas. Milhares investem contra o poder, o desemprego, a inflação, a corrupção, pedindo a saída de Mubarak, do primeiro-ministro e a dissolução do parlamento, na ânsia de um governo de unidade nacional. É de se saber que o Egito, com 80 milhões de habitantes, para a África tem posição de cabeça, mas ainda são muitos os problemas a serem resolvidos. 40% da população vivem com dois dólares por dia e um 1/3 do geral são de analfabetos. Sua economia baseia-se na Agricultura média, no petróleo e no Turismo.
       Para Estados Unidos e União Europeia, O Egito de Mubarak, representa um moderador nas brigas da região, mas também ponto de apoio e até de exploração do Ocidente. A imprensa oficial procura minimizar a revolta, mas a instigação pelo derrubada do atual governo, cada vez ganha mais força e o povo adere aos apelos da Internet. Tanto a UE quanto os EUA, pedem de uma forma patética ao senhor Mubarak, reformas políticas, econômicas e sociais. Lembram-se da História do Brasil, quando o ministro Ouro Preto pensou no assunto para não cair? Era tarde demais. Queda de Ouro Preto, queda de D. Pedro II, queda da Monarquia. Foi proclamada a República, imediatamente. Mas ainda existem muitos ditadozinhos ordinários que fazem dos olhos vidros foscos e dos ouvidos caixas de ilusão. Raramente um ordinário desses pensa na PACIÊNCIA DO POVO.





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terça-feira, 25 de janeiro de 2011

HISTORIANDO A LINHA

HISTORIANDO A LINHA
(Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2011).

        Falar sobre a cidade ribeirinha alagoana de Piranhas é tarefa para muitos dias de computador. Mas hoje não vamos nos ater às belezas daquela, designada por mim, como “Cidade Presépio”. O compromisso do momento é falar sobre a ferrovia de Piranhas. A cidade foi construída por D. Pedro II para servir de entreposto entre o baixo São Francisco e o alto Sertão de Alagoas e Pernambuco. Para melhor entendimento, é sabido que no final do século XIX, os navios subiam o rio São Francisco até Pão de Açúcar e Piranhas. Daí as mercadorias passavam para frotas de carros de boi que distribuíam pela zona oeste do estado. As grandes embarcações não podiam navegar entre Piranhas e Paulo Afonso, na Bahia. A construção, portanto, de uma via férrea de Piranhas a antiga Jatobá (Petrolândia) via Paulo Afonso, foi planejada e executada. Já havia em Alagoas, ramais na zona da Mata. A ferrovia Piranhas ─ Jatobá, teve início em 1879, tendo sido entregue ao tráfego em 1883, tendo a frente o engenheiro André Rebouças. A bela estação, em estilo barroco, foi inaugurada em 25 de dezembro de 1881. Essa ferrovia, cumprindo o seu papel de transportar passageiros e mercadorias dos navios para o alto Sertão de Alagoas e Pernambuco, foi arrendado a Great Western em 1901. Permaneceu sempre uma ferrovia isolada, isto é, nunca interligada a outros ramais. Em 1964, 81 anos depois de inaugurada, alegando prejuízo, desativaram as atividades da ferrovia de Piranhas. Seu trajeto representava quase 116 km.
       Falar sobre a história de Piranhas é reescrever a saga de Delmiro Gouveia e os inúmeros episódios da vila da Pedra. A região enche sobejamente os embornais de História, Geografia, Economia e Sociologia da época dos coronéis. Na estação de Jatobá, Lampião, enfurecido, escreveu na parede: “Polícia Podre!” O trem não tinha horário certo de chegar ou sair, na fase do cangaço, porque dependia da proteção e disponibilidade das chamadas volantes.
       No meu romance (ainda inédito) “Fazenda Lajeado”, machadeiros trabalham na fazenda e quando terminam a faina, vão embora para Piranhas trabalhar em madeira para dormentes. Quer dizer, com a ferrovia em pleno andamento, subtende-se manutenção. Fui a uma pesca em Volta do Moxotó, Pernambuco, e muito me impressionou a estação do lugar. Bem conservada e bela, assemelhava-se a de Piranhas. Os trilhos passavam sob um imenso braço d’água, servindo de ponte falhada, perigosa para os poucos transeuntes. História, história, história, perdida naqueles esquisitos. Estivemos na ponte sobre o rio Moxotó, construída para a ferrovia, com 147 metros, hoje ponte rodoviária. Estamos (ali na foto: Clerisvaldo; Juca Alfaiate, seresteiro; José Gomes, eletrotécnico; sargento Osman, delegado de Poço das Trincheiras; José Maria Amorim, professor; Manoel da Guanabara, comerciante e, Sebastião Poara, aposentado). Enquanto eles curtiam a farra e a pesca, eu mergulhava nos áureos tempos da ferrovia e seus incontáveis episódios para variadíssimos gostos. Ah! É um filme que passa HISTORIANDO A LINHA.


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MAREJAR OS OLHOS

MAREJAR OS OLHOS
(Clerisvaldo B. Chagas, 25 de janeiro de 2011)

       Amigos de Santos enviam mais de oitenta fotos para a minha apreciação. Um show na “Churrascaria Boi Bom” apresentava um dos monstros da Música Popular Brasileira, Agnaldo Timóteo. Voltando no tempo, vozes românticas e originais vão surgindo e fazendo enorme sucesso nas décadas 1960/70: Anísio Silva, o cantor da voz de veludo, descoberto quando cantava em um balcão de farmácia; Altemar Dutra, voz única, minha preferida até hoje; Miltinho, ritmo de compasso silabado; Silvinho, canto estridente e longo; Valdick Soriano, estilo brega e chorão; Moacir Franco, voz macia e romântica; Agnaldo Rayol, despontando com grande futuro e, Agnaldo Timóteo com o primeiro disco arrebentando no Brasil inteiro. Uma voz diferente de tudo que se conhecia, selvagem e potente. Porém, no início da carreira, muito antes da fama, Agnaldo Timóteo, ex-motorista de Ângela Maria, esteve em Santana do Ipanema. Não compareci ao Tênis Club onde aconteceu a apresentação, mas dizem que Agnaldo levou ali ruidosa vaia. Revoltado, o futuro ídolo teria dito que jamais retornaria a Santana.
       O tempo passou, Agnaldo tornou-se um dos grandes cantores do país (para muita gente, até o maior) e quase não descansava com tantos compromissos nos palcos de todas as regiões. Ultimamente o cantor apareceu doente, magro e pálido, mas sem perder as características de brabeza que sempre o acompanharam. A marcha do tempo vai mudando também para os chamados cantores, se bem que hoje se vê mais zoada eletrônica do que voz poderosa como a do próprio Timóteo. Mas não foi somente Agnaldo que foi ficando à margem com essa geração. A concorrência é grande e a mídia divulga muitas novidades, mesmo que sejam coisas efêmeras e medíocres, entre fenômenos musicais. Valores como Zé Ramalho surgem das cinzas com roupagem nova pela sobrevivência. Elba luta como leoa para não cair no esquecimento. Outros valores de primeira qualidade, não resistem às pressões e viram apresentadores de televisão ou ainda sucumbem à intensa variação da mídia.
       Nas mais de oitenta fotos enviadas pelo sistema jpeg, vimos um Agnaldo Timóteo gordo, alegre, vestindo terno xadrez. Dá pena contemplar a notável churrascaria da Baixada Santista, “Boi Bom” quase vazia para o espetáculo de uma celebridade. Estava ali um reduzidíssimo público composto 99,9%, por pessoas da terceira idade, recordações dos anos 60/70. Agnaldo cumpriu promessa e jamais retornou a Santana do Ipanema que apenas viu de longe sua ascensão, glória e liderança musical. Nos sucessos de Timóteo, estávamos conhecendo as cidades de Batalha, Jacaré dos Homens e Belo Monte, ouvindo em todos os lugares a força da voz estupenda do seu primeiro disco. Ainda hoje ouvir Agnaldo é lembrar às festas de Senhora Santa Ana, no mês de julho e, as três cidades alagoanas acima. O tempo cumpre a sua parte, mas não proíbe MAREJAR OS OLHOS.


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domingo, 23 de janeiro de 2011

BAR DO BACURAU

BAR DO BACURAU
(Clerisvaldo B. Chagas, 24 de janeiro de 2011).

       Pensando em parar de escrever crônicas, pois estou captando inspiração para continuar o terceiro capítulo do quinto e último romance do ciclo cangaço, fui à inspeção no Bairro São José. Ao deparar-me com o artista plástico, Roninho, deixei as outras observações em segundo plano, por que o mago do pincel preencheria com certeza a crônica quingentésima primeira. Portanto, a continuação da coluna e do blog foi graças a esse encontro providencial do Bairro São José. Ao passar margeando a lateral esquerda do muro do Corpo de Bombeiros, chamou-me a atenção o desenho de uma ave de hábitos noctívagos. Na parede, no centro de um círculo estava a figura e o nome cortando: “Bar do Bacurau”. Lá dentro, atrás do balcão, o proprietário dava os últimos retoques para abrir à clientela. Pois é, Roninho agora associou aos seus trabalhos à venda de bebida e já possui bons clientes do bairro. No balcão, vários frascos de cachaça, repletos de frutas como abacaxi, pêssego e outras, atraem de primeira o cliente sedento. Com orgulho, Roninho diz que tudo aquilo é sua invenção e não deixa de mostrar o frasco preferido à base de uma misturada denominada “pitó”. Todos os frascos tem nome e no momento aguardavam adesivos com suas respectivas denominações.
       As paredes do “Bacurau” estão decoradas com dois enormes quadros regionalistas bem ao estilo do autor. Interessante é que personagens das imediações, alguns frequentadores do bar, estão desenhados em folhas de papel, pregados em outras secções da parede. Eles chegam vibrantes, pedindo emprestadas suas próprias caricaturas para mostrarem por toda a vizinhança. Roninho diz estar satisfeito com a nova atividade que complementa a sua luta em busca de um reconhecimento mais abrangente. Vejo o mostruário dos seus trabalhos, vou me divertindo e oferecendo sugestões. Então, o artista mostra-me suas fotos com pessoas famosas: Roninho e o governador Teotônio Vilela, adquirente de um quadro do autor. Roninho recebendo um broche na camisa, pelo grande ex-técnico da Seleção Brasileira e ex-jogador Zagallo. Roninho, rosto colado a maior jogadora de futebol do mundo, Marta... E por aí afora.
       Mas o artista também vai indicando companheiros santanenses que vem se destacando na pintura e na escultura, falando sobre o trabalho de cada um. Sua nova profissão às vezes puxa para altas horas. Por esse motivo e por ter caçado a ave com petecas, na meninice, Roninho colocou acertadamente o nome típico, simbólico e original do dono da noite das caatingas, difícil de matar, o invocado Bacurau.
       Agora, nenhum escritor, jornalista, pintor, poeta, apologistas, pode dizer que não tem em Santana um cantinho modesto para encontros do intelecto, movido, se quiser, a um bom aperitivo quente ou frio sob olhos e ouvidos de Roninho. Os dos Monumento, larguem a preguiça e venham para o lado Oeste da cidade. Por ironia, o homem da Arte fica vizinho a ex-Praça das Artes, destruída pelo abandono da atual gestão e pelos vândalos guiados pelas rédeas do demo. Ganhei meu domingo e a inspiração de volta no BAR DO BACURAU.








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quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

QUINGENTÉSIMA CRÔNICA

QUINGENTÉSIMA CRÔNICA
(Clerisvaldo B. Chagas, 21 de janeiro de 2011)

Nem sei se estou feliz com essa crônica de número 500. Nunca tive vontade de ser cronista nem historiador. Sou de águas mais profundas, sou do romance, o gênero literário mais complexo e completo da Literatura. Gosto sim, de ser chamado romancista sobre qualquer outro título. Como não surgiu ninguém para escrever a história do município, resolvi prestar esse inestimável serviço, com o maior documentário jamais visto em Santana. Cidade sem história é cidade sem identidade. Tenho ainda um livro completo sobre o rio Ipanema, paradidático que complementará a história do município. Pensem na novela em que estou metido para a publicação desses dois livros em primeiro lugar. Somente quando “desovar” os pestes, é que partirei para as tentações de uma editora de Tocantins para publicar os dois próximos romances do ciclo do cangaço: “Deuses de Mandacaru” e “Fazenda Lajeado”, juntamente com a poesia selvagem de “Colibris do Camoxinga”. Penso publicar uma pequena quantidade de cada um, porém, os três de uma vez só. “Deuses de Mandacaru” é um romance de aventura que acontece de Maceió a Piranhas. “Fazenda Lajeado”, é todo o resgate de como se constrói uma fazenda, detalhadamente, entre amor, cangaceiros, política, coronelismo, sexo e emboscadas. A meta, depois, é transformar meus romances em seriados ou filmes. “Colibris do Camoxinga” são poesias selvagens reunidas dos mais diferentes gêneros, para justificar o título de poeta. E para encerrar o meu ciclo romanesco do cangaço, iniciei o quinto romance para resgatar a figura do rastejador, importante personagem da época no meio rural. A história se passa na década de trinta com o auge sendo a hecatombe de Angicos. Escreverei outro romance? Só Deus sabe. Se acontecer, deverá ser um tema urbano sério, de profunda desigualdade social.
A primeira crônica publicada na Internet foi “Comendo Boi, Comendo Onça” que trata dos vícios das épocas eleitorais. Vou escrevendo diariamente, das segundas as sextas, para o meu próprio blog (clerisvaldobchagas.blogspot.com) e para os sites (santanaoxente.net/) com ligação direta do blog e (maltanet.com.br/). Fui o único escritor da segunda fase que ficou em Santana; o único de dentro ou de fora a criticar erros e apontar soluções e o que em todas as suas obras fala sobre a sua terra elevando-a a quanto pode ser elevada através das letras, Por isso tem razão quem diz que eu sou o mais importante escritor para Santana do Ipanema. Desprezo os famosos que raras vezes ou nunca vieram a terra. Os letrados que nunca a defenderam; os que só escrevem pão com mel traindo o dom que Deus lhes enviou. Mesmo assim não lhes faltam homenagens, inclusive com nomes de logradouros públicos, num desenterrar de mortos que faz gosto. Vou cumprindo o papel que Deus me deu, embora sem reconhecimento das “otoridades”, sem “papé”, sem “omenage”, sem “medaia”, mas baseado nos grandes como Adelberon: “Ninguém se surpreenda, pois, se Clerisvaldo se tornar um dos maiores romancistas do país”. Chegar ao cimo de 500 crônicas escritas diariamente, não é tarefa para qualquer um. Mas a decisão de continuar esses escritos, o leitor amigo só saberá na segunda-feira no blog do autor ou nos principais sites de Santana. Tirando a Praça Frei Damião, de ontem, cabra velho, conto com você para comemorarmos hoje a QUINGENTÉSIMA CRÔNICA?


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quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A REVOLTA DA CACHAÇA

A REVOLTA DA CACHAÇA
(Clerisvaldo B. Chagas, 20 de janeiro de 2011).

       Não sei quantas pessoas bebem no Brasil, nem quero saber, mas que a coisa é séria é. A onda avassaladora não respeita sexo nem idade e não existe fabricante nesse país que consiga encalhar mercadorias. Quanto mais se fabrica mais se bebe. Já contei a história do vereador que em outra época nos convidou a visitar o seu engenho, em Boca da Mata, cidade de Alagoas. Ao chegarmos à casa do homem, ele nos levou para um amplo galpão atrás de casa, colocou aguardente numa vasilha e limão aberto num pilão manual, colocou açúcar, pegou a mão de pilão, começou a moer e nos deu a provar aquela verdadeira delícia. Eu, sendo sertanejo e esperando ver muitas máquinas trabalhando naquele lugar da Zona da Mata, fui surpreendido quando o vereador disse que seu engenho era aquele artefato de fazer caipirinha.
       Como deve acontecer em todas as cidades do Brasil, os viciados aguardam o amanhecer nas imediações das bodegas e bares. Um desses pontos “alugados” é a Praça Frei Damião, em Santana do Ipanema. As quatro da matina já tem gente aguardando companhia pelas imediações. Olho comprido no barzinho que abre cedo, lá na frente. São os chamados “pés na cova” que desafiam o golpe final da “moça branca”. Tristes cenas que bem caracterizam a fraqueza humana.
       Na costa da África, a aguardente era chamada de “Jeribita”, cujo sabor agradava bastante o paladar dos nativos. A principal região produtora de cachaça na América era o Rio de Janeiro, mas havia fabrico espalhado por vários lugares, chamados engenhocas. Essa cachaça, juntamente com o tabaco produzido principalmente no recôncavo baiano, Pernambuco, Maranhão e no próprio Rio, serviam de moeda de troca para o comércio escravagista com a África. A coroa portuguesa, para proteger seus destilados vinícolas, proibiu o fabrico da aguardente no Brasil em 1647. Mesmo assim a aguardente de cana continuou sendo produzida, principalmente depois da expulsão dos holandeses, 1654. O jeitinho brasileiro continuava até que em 1659, nova lei de Portugal manda destruir todos os alambiques. O Rio tentou uma saída, deixando as engenhocas em paz, contanto que se pagasse uma alta taxa para a administração da colônia. Foi aí quando explodiu o que ficou registrado como a Revolta da Cachaça.
       A sociedade brasileira pouco tem feito por essas criaturas que tanto precisam de ajuda. Contudo, piadas sobre português, papagaio e bêbados, são produzidas com as mesmas velocidades dos alambiques. No Brasil também já houve inúmeros levantes com as mais diferentes denominações. Com toda a certeza, se fossem contados esses episódios com a “Jeribita” brasileira aos “pés na cova” da Praça Frei Damião, haveria um preito significativo aos que fizeram a REVOLTA DA CACHAÇA.


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FACHEIROS E MANDACARUS

FACHEIROS E MANDACARUS
(Clerisvaldo B. Chagas, 19 de janeiro de 2011)

       Prosseguindo a tradição brasileira de correr atrás de prejuízos, é anunciado o resgate aos nossos cientistas. Quando partimos para a industrialização do país, nós o fizemos com atraso de cem anos. O pioneirismo da Inglaterra foi acompanhado pela França, Alemanha, Bélgica, Japão e Estados Unidos. Com a mentalidade voltada unicamente para a Agricultura, tendo como expoentes primeiro à cana-de-açúcar e depois o café, entramos para a corrida industrial com esse espaço todo no meio, daí ter sido chamada “industrialização tardia”. Enquanto essas nações enriqueciam rapidamente e nós comprávamos a elas desde navalha de barbear e talheres a máquinas sofisticadas como descaroçador de algodão, nossas indústrias davam os primeiros passos através do ramo de alimentos. Entre outros fatores, inclusive o de exploração das Américas, foram usadas as cabeças dos seus inventores que continuam sendo estimulados para descoberta de novas tecnologias.
       Quando estudante ginasiano, discutíamos de tudo na “Esquina do Pecado”. Eu ficava triste quando a pauta partia para o cientista brasileiro. Sentíamos a falta de estrutura e o descaso com os nossos jovens inventores que deixavam o país, atraídos pelos convites de outras nações, como os Estados Unidos, por exemplo, que formaram o “Vale do Silício”. Diziam que o Brasil não podia pagar bem. Mas afloravam informações de que vários cientistas brasileiros queriam apenas condições de trabalho e ninguém apertava por dinheiro. Novamente perdíamos as oportunidades históricas de nos igualarmos as outras nações poderosas. Continuamos até hoje pagando “royalties” dos inventos alheios, pela nossa ignorância progressista. É verdade que já temos um razoável parque tecnológico, formando um arquipélago, principalmente sob o comando de universidades. Mas não basta. Continuamos a indolência Império/República Velha puxada por carros de boi ou automóveis sem estradas.
       Quando o insípido político Aloizio Mercadante disse que o Brasil iria tentar repatriar os nossos cientistas, marca um belo gol, sem dúvida alguma, porém, com outro atraso de cem anos, como o da industrialização brasileira: um “Repatriar Tardio”. Mercadante, ex-vice-presidente do PT, candidato derrotado ao governo de São Paulo, ganhou como consolo o Ministério de Ciência e Tecnologia. Para atrair nossos cientistas, esperamos que ele ponha mel nas iscas, sal no assunto, reais na capanga e condições no trabalho. Foi assim que fizeram e continuam fazendo, Coreia do Sul, Índia, China... Vietnã.
       Em Santana do Ipanema, década de 1950, um cidadão chamado Agenor, cuidava do motor da Companhia Força e Luz que abastecia a cidade com energia elétrica. Todos o chamavam cientista, devido aos seus inventos, pesquisas e trabalho constante, individualmente. Era pobre, morreu pobre, sem nenhum tipo de ajuda que o levasse a desenvolver grandes projetos para o país. Um professor Pardal perdido nas caatingas nordestinas. Talvez agora Mercadante leia e descubra nessa crônica o Agenor, representante falecido de dezenas de outros companheiros de invento que se perderam entre FACHEIROS E MANDACARUS.



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segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

NOSTALGIAS CULTURAIS

NOSTALGIAS CULTURAIS
(Clerisvaldo B. Chagas, 18 de janeiro de 2011)

       O caso do Cine Belas Artes, da cidade de São Paulo, casa de espetáculo de longa tradição, virou manchete nacional. Os antigos cinemas, centros de tantas histórias de lazer, amores e romantismo da segunda metade do século XX, foram quase todos dizimados após o advento da televisão. A telinha vista da poltrona, também foi arrasando sem querer outras expressões da cultura popular como os folguedos que decoravam as ruas, praticamente o ano todo. Os grandes bailes da época, realizados nas capitais e nas médias cidades interioranas, foram interrompidos com suas inolvidáveis orquestras. As positivas ações da TV e de outras tecnologias, engoliram teatros e mesmo acontecimentos religiosos que se tornaram indiferentes, trocados pelo comodismo de casa. Para o tradicional mundo da Cultura, cada teatro fechado, cada orquestra desfeita, cada cinema vencido, representa a morte de um parente, a agonia de uma estrela magnífica.
       Em Santana do Ipanema, capital do Sertão alagoano, já havia teatro desde os tempos de vila, isto é, antes de 1921. Em 1952, também funcionava um cinema, pertencente ao cidadão José Fialho, no mesmo lugar onde funcionara o teatro, no famoso “sobrado do meio da rua”. No ano seguinte Santana se dava ao luxo de possuir dois cinemas que passavam filmes como Tarzan e Rock Lane. Depois vieram os cinemas de prédios fixos em algumas cidades sertanejas. Após o auge da sétima arte, todas as tradições foram murchando com o progresso, assim como vão fenecendo as rosas de um jardim abandonado. Saudosamente cerraram suas portas os cines Glória e Alvorada, em Santana, o Cine Pax em Pão de Açúcar, outro cine em Major Isidoro e assim por diante. Tantos os palcos dos cinemas de Major Isidoro, na Bacia Leiteira, quanto o da cidade ribeirinha de Pão de Açúcar, acolheram e muito bem a nossa “Equipe XVI”, fundadora do quarto teatro de Santana, sob o comando meu e de Albertina Agra, com a peça de Martins Pena: “Irmão das Almas”.
       Em São Paulo, o Cine Belas Artes tornou-se ponto dos aficionados que preenchiam parte da noite naquele particular prazer. Como o dono atual do prédio pediu o espaço de volta, formou-se um frenesi no mundo da Cultura, em busca de salvação. Ultimamente duzentas pessoas protestaram sob o vão livre do MASP ─ Museu de Artes de São Paulo. Dizem que o Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico vai votar o seu tombamento. De qualquer maneira, a dimensão do caso fez movimentar interesses adormecidos. É pena não ter encontrado agitação semelhante em todas as cidades brasileiras onde tinham prédios de teatros e cinemas. Mesmo parados, representariam verdadeiros museus e atrações para o turismo cultural de cada um desses municípios. E como o que é bom é para poucos, vamos torcendo para que haja sucesso na preservação do Cine Belas Artes. No momento é o nosso representante guerreiro, cujos dramas despertam fundo NOSTALGIAS CULTURAIS.




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domingo, 16 de janeiro de 2011

OS GANSOS DE SANTANA

OS GANSOS DE SANTANA
(Clerisvaldo B. Chagas, 17 de janeiro de 2011)

       Mais uma vez vamos visitando bairros e ruas da nossa terra. Mandando notícias para os santanenses que estão espalhados por este país; para os da cidade que não andam na periferia. Dessa vez, com mais algumas pessoas, fomos dar uma olhada no Bairro Floresta como um todo. Primeiro estivemos no Conjunto Marinho, lado superior do novo hospital. A única novidade desde a gestão do senhor Paulo Ferreira, é uma igreja bonita não católica, ainda em preto, ao lado das últimas casas do conjunto e da cidade para aquelas bandas. As mesmas “casas de pombos” construídas na gestão dos Ferreira. Ruas esburacadas, sem calçamento, inclinadas e difíceis onde à pobreza extrema predomina na área. Conjuntos Cajarana, Santa Quitéria, e a rua principal do Bairro que dá acesso às Tocaias e a sítios distantes como o Olho d’Água do Amaro, completamente sem benefícios, entregues a própria sorte. Nada, absolutamente nada foi feito pelo poder público no bairro que se tornou perigoso para quem transita por ali à noite. O riacho Salgadinho que corre ao longo dos fundos de quintais, continua enlarquecido pela tradição de extrair argila para tijolos. Seu leito nunca foi aprofundado para evitar invasão às residências. O Bairro Domingos Acácio encostou seu casario no Salgadinho, porém, nem sequer uma pinguela de tábua foi construída para interligar os dois bairros durante as cheias, por aquelas imediações. Não existe nenhum planejamento para ambos os bairros que crescem desordenadamente. O terreno enorme que impede a expansão da cidade abaixo da malfadada fábrica de fubá, pertence aos da elite que não loteiam e nem vendem o terreno. Aliás, a cidade está cercada de terrenos de figurões, que não são incomodados pela prefeitura. Nenhum gestor tem a coragem suficiente para a desapropriação dentro da lei em benefício do crescimento de Santana. Permanecem os gargalos ditados pelos proprietários que muitas vezes são amigos ou compadres dos gestores. No lugar onde iriam ser construídas as instalações da UFAL, não se vê sequer um marco visível, das cercanias.
       Começo a me perguntar se não já é hora de fazer como tantos que deixaram sua terra querida por não suportarem sucessivos desmandos que parecem infinitos. Maceió, Recife, Aracaju, estão ali bem pertinho de nós, acolhendo os descontentes, os inconformados com o vício do desprezo ao município por parte das autoridades. Se você, caro leitor santanense, estiver morando em outras plagas, não deixa de contemplar também outros desmandos. Mas a dor não é a do filho da terra em que nasceu. Praticam os absurdos, mas você vai entregando a revolta para os nativos. Por que se estressar tanto? Mas se fosse no torrão natal, amigo, sendo pessoa esclarecida você estaria com os nervos a flor da pele. O descaso contínuo com a “Rainha do Sertão” vai continuar pela falta de voz na defensiva. Os gatos-pingados não tem força para enfrentar os caminhões de “gansos” do bico aberto. Talvez as inspeções parem por aqui. Afinal, nunca um dito popular expressou tanta verdade: “Cada povo tem o governo que merece”. Em São Miguel dos Campos, ficou famosa a Feira da Ponte, onde se compram galinhas na Semana Santa. Mas se você, cabra velho, não gosta dessa ave, traga uma carreta para levar OS GANSOS DE SANTANA.

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sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

RAIOS, CORISCOS E TROVÕES

RAIOS, CORISCOS E TROVÕES
(Clerisvaldo B. Chagas, 14 de janeiro de 2011)

       Como no momento falarmos de outro assunto perante as tragédias que se abateram sobre o Sudeste do Brasil? A televisão exerceu papel fundamental no entendimento dos fenômenos naturais que dividem meio a meio com a inobservância humana. As imagens vistas e repetidas dos deslizamentos de encostas, o desespero das vítimas e as terríveis marcas de destruição, lembram os bombardeios alemães sobre Londres ou os tsunamis do mundo asiático. Antigamente o que chamava a atenção eram as secas do Nordeste que dizimavam centenas de milhares de pessoas e animais e, as cheias do Recife e Maceió. Praticamente resolvidas essas vergonhas de todos os anos (em Maceió com o Dique Estrada) mudam-se os alvos para cidades ribeirinhas e serranas de grande parte do país. O Sudeste urbano com suas cidades grandes e prevenções pequenas são a atração do infortúnio com alagamentos e quedas de barreiras. Ambos os motivos são culpas das autoridades pelos mais diferentes motivos relacionados à prevenção. Entre eles: indiferença falta de pulso e política.
       Os alagamentos em cidades com o relevo da capital paulista, não podem ser apontados com a desculpa de fenômeno. O tempo traz chuvas, relâmpagos, tempestades. Quem não sabe disso? Cabe ao homem proteger-se contra os excessos e para isso existem as autoridades votadas por ele. Se o povo obstrui canais de escoamento com lixo, cabem as autoridades uma campanha permanente de fiscalização e duras medidas. E ainda no mesmo assunto, solucionar os problemas com equipes de engenheiros, geólogos e urbanistas abrindo novos caminhos e ampliando outros para o escoamento das águas que não é mais mistério o como fazer. No caso de quedas de barreiras o caso é também das construções irregulares pelos motivos expostos. Deixe de construir em área de risco e o problema não existirá. Mas os nossos dirigentes, de um modo geral, procuram desviar as verbas que poderiam salvas centenas de famílias. Vão deixando os problemas que tem relacionamento direto com a Natureza como ameaças de rios, morros e formas abruptas de vales.
       Quem percorre qualquer lugar das regiões serranas do estado do Rio ou dos morros cariocas, fica embevecido com tanta beleza. O tempo de estio nesses lugares, em relação à paisagem natural, tem mesmo relacionamento com o tão sonhado paraíso. É de se permanecer horas a fio vendo o mundo lá de cima cercado de matas, colinas, córregos, estradinhas e horizontes azulados que anulam o estresse de qualquer um. Nessa época de Sol forte é difícil prestar atenção aos riscos permanentes das estações chuvosas. Mas as autoridades não são pagas pelo povo para contemplar paisagens paradisíacas. A sensibilidade para o perigo deve fazer parte da alma e da política de quem está à frente da defesa coletiva. Ao invés da prevenção, andar correndo atrás de prejuízos, atos típicos, corriqueiros e nefastos dos que nos representam, costuma mostrar depois os horrores televisionados. Enquanto não houver punições para os verdadeiros assassinos pelas tragédias, vão procurar um jeito de levar os inocentes à cadeia: RAIOS, CORISCOS E TROVÕES.


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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

PEDRO BAIA

PEDRO BAIA
(Clerisvaldo B. Chagas, 13 de janeiro de 2011)

       Já falei nesse indivíduo antes: Pedro Baia. Anos 60, em Santana do Ipanema, Pedro Baia, pintor de paredes, chamado na época de caiador, era profissional do ramo. Um pincel usado era de um tipo de planta, compacto, leve e comprido com aparência de fêmur, por isso mesmo chamado “Canela de Ema”. Ao terminar o serviço, Pedro costumava desenhar seu logotipo que era justamente o próprio animal. Na época surgiu um atrativo forró, se não me engano, de Jackson do Pandeiro que teve grande sucesso:

“A ema gemeu
No tronco do juremá
Será que é o nosso amor,
Moreninha
Que vai se acabar (...)”

       Pedro Baia era galego, alto, forte, bem rosado, usava chapéu de couro abas viradas para cima e um lenço vermelho no pescoço. Mesmo assim todo cristão se achava no direito de enxugar o braço no pé do ouvido de Pedro Baia. Chateavam-no com perguntas como “Pedro cadê a ema?” Fizeram até uma paródia com a música do forró. Após o estribilho acima, vinha a criatividade:

“A ema quando canta
Pedro Baia se levanta
Com medo de apanhar (...)”

       Um dia, cansado de tantas gozações e taponas, Pedro fez de uma espingarda de cartucho sua companheira de andanças. Foi avisando a todos que daquele dia em diante, o primeiro que mexesse com ele morreria. Dito e feito. Ao tirar a vida do adiantado, foi preso, tirou cadeia e, um dia em liberdade, foi embora para sempre de Santana do Ipanema.
       O Brasil já “apanhou” muito da Inglaterra, no passado imperial. Essa ação corajosa de não permitir que um navio de guerra inglês em direção as Malvinas, aportasse no Brasil, foi também soberana e solidária a Argentina. O exemplo terá repercussão positiva em toda a região. Ele é o líder e é quem tem que mostrar o caminho de destemor e coerência, sem arrogância como fez. Restou a Inglaterra reconhecer a ação do Brasil e pronto. Por que fazer tempestade nessa hora? O ato brasileiro é passo importantíssimo no fortalecimento político de auto defesa coletiva na América do Sul.
       Quanto à Itália que vive às voltas com a crise econômica e com os escândalos do lascivo e imoral Berlusconi, não dispõe de força nem para mudar o seu palhação ministro. Para esconder a situação difícil, quer agora criar problema com o Brasil para sair do ostracismo e ganhar manchetes de jornais, desviando seus problemas internos, heranças de Nero, Calígula, e outros Césares devassos da Roma antiga. A decisão em congelar acordo de defesa, é no mínimo idiota como o outro ministro que levantou o problema. O Brasil deveria também radicalizar, cancelando de vez o acordo e contatando a França ou países outros do continente asiático. Pior para eles que perderiam os bilhões do Brasil. Dilma, por favor, não se afrouxe com esses comedores de macarrão. Diplomacia sim, mas sem urinar os cueiros. De vez em quando o Brasil tem que arreganhar os dentes quando preciso, para não ficar na qualidade da primeira fase de PEDRO BAIA.



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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

CARNAGREVE

CARNAGREVE
(Clerisvaldo B. Chagas, 12 de janeiro de 2011)

       Em 1817, explodia a Revolução Pernambucana, tendo como ideal a proclamação da República e a elaboração de uma Constituição liberal. Entre os motivos, estava o luxo da corte pago com os impostos dos trabalhadores. Muito sangue derramado em Pernambuco. Cem anos depois, aconteceu a greve de São Paulo que passou a ser conhecida como a “Greve de 1917”. Essa foi a primeira grande greve geral da história do Brasil. Com a morte de um operário, por parte da polícia, a paralisação grevista envolveu não apenas a cidade de São Paulo, mas também outras regiões do país. O cálculo é para mais de 50 mil operários participantes da greve. Foram muitos conflitos nas ruas entre polícia e trabalhadores. A violência das autoridades fez surgir, por parte dos operários, passeatas, comícios, piquetes e barricadas. O firme movimento operário deixou o governo e os industriais assustados e que resolveram negociar. Foi assumido compromisso de não haver punições aos grevistas, caso todos voltassem normalmente ao trabalho. As concessões obtidas pela classe trabalhadora, no entanto, eram provisórias. Não havia interesse em melhorar a condição social dos trabalhadores. O último presidente mesmo, da República Velha, Washington Luís, chegou a dizer que a questão social era caso de polícia. Para os poderosos, a revolta social dos trabalhadores devia ser tratada e contida na base da violência policial.
      Nos últimos tempos, conhecemos muito bem quando a paciência do povo atingiu o seu limite. A queda do governador Suruagy foi um exemplo claro e que muitos políticos parecem ter esquecido a revolução de Maceió. Como a greve de 1917, não se pode apagar a violência policial contra grevistas nas ruas da capital sob o comando de tal “coroné” Rochinha, o pau-mandado do, então, governador, Geraldo Bulhões. Agora, com quatro anos sem reajuste salarial, a classe trabalhadora do estado alagoano, promete uma grande mobilização contra a imoralidade salarial dos nossos representantes e a seca prolongada de reajustes para os barnabés. Ninguém sabe ainda o que irá acontecer durante o movimento integrado dos trabalhadores, inclusive, policiais. Nada pode ser descartado. Uma revolta popular, quando tudo parece sob controle, pode surgir de uma simples ponta de cigarro nos entulhos. Não é à toa que lembramos a Revolução Pernambucana e a greve de 1917. Entre as cacetadas do desarvorado Rochinha e o seu amo Geraldo Bulhões e o cerco ao palácio com Suruagy, poderá surgir a Revolta de Alagoas. Toda insurreição inicia com a última gota d’água. O Carnaval será em março, mas fevereiro promete um CARNAGREVE.


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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

BASSOURAS DE GARRANCHOS

BASSOURAS DE GARRANCHOS
(Clerisvaldo B. Chagas, 11 de janeiro de 2011)

       Vamos convivendo nesse Brasil velho de meu Deus, entre democracia e absolutismo doméstico. O aumento “papai Noel” dos parlamentares vai lembrando os contos das “mil e uma noites”, envolvendo arranha-céus nova-iorquinos ou formidáveis minaretes de Bagdá. Assim os caminhos liberais revistos na Revolução Francesa, vão-se transmudando em castelos encantados, inefáveis, cromatográficos que inebriam. A teocracia emanada dos deuses espúrios comanda sem arreios os umbrais de quantidade assustadora de prefeituras. Os sucessivos escândalos no país inteiro arrastam ─ estampados nos jornais ─ todas as esferas dos poderes constituídos. Mas, enquanto a vassoura vai agindo resoluta nessa áspera missão, vem à superfície figuras saídas dos brumosos históricos e longínquas anotações.
       E para não indagar ao amigo se já ouviu falar em Zé Pelim, vamos quebrando a língua com o grego Pisístrato que governou Atenas por volta de 530 anos a.C.. Classificado como tirano realizou importantes reformas sociais. Concedeu empréstimos aos pequenos agricultores. Construiu obras públicas como canais e portos, incentivando ainda o comércio externo e a construção de navios. Psístrato apoiou realizações culturais construindo bibliotecas e incentivando a atuação de artistas, poetas e sábios. Está aí a Filosofia para explicar a lógica das coisas ou as coisas da lógica. Se esse indivíduo fez essas bondades todas há mais de quinhentos anos antes de Cristo, prefeitos do Brasil inteiro deveriam fazer muito mais, após 2.500 anos das ações de Pisístrato, concorda ou não, compadre? Tem prefeituras por aí que até as vassouras continuam como bassouras de garranchos.
       Se olharmos um pouco mais ao lado, vamos para 510 a.C., com outro indivíduo de Atenas chamado Clístenes. Sendo aristocrático, assumiu o governo de Atenas e governou de uma forma em que todos os cidadãos participavam dos assuntos da cidade-estado: a democracia. Nessa época havia a lei do ostracismo. Se uma pessoa fosse perigosa para a democracia, o povo tinha o direito de votar a favor ou contra sua expulsão da cidade por dez anos. Se fosse expulso, o excluído perdia os direitos políticos e os bens.
       Como sem passado não pode haver comparativo, vamos desenterrando figuras que podem ajudar na sintaxe da arte astuciosa, não acham? Ou os amigos continuam na inércia do “ninguém dá jeito?” O Sol de hoje será o mesmo Sol de amanhã, contudo, pela omissão dos pais, o bem-estar dos filhos talvez não seja. Depende de você, amigo leitor, continuarmos ou não nas BASSOURAS DE GARRANCHOS.


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LEÃO PELADO

LEÃO PELADO
(Clerisvaldo B. Chagas, 10 de janeiro de 2011)

       A mobilização humana com suas nuanças vai mexendo definitivamente na Geografia Física e Humana do Planeta. Para quem acha que a matéria é parada demais, perdeu-se nos tempos da decoreba escolar. Quem não tem uma boa ideia da Geografia, não pode, efetivamente, conhecer o mundo em que vive. Tufões, terremotos, desmoronamentos, maremotos, secas e outros fenômenos naturais, vão modificando tudo. Ilhas surgem e desaparecem refazendo a paisagem, as costas transformam-se, rios secam, aparecem desertos e inúmeros ambientes que se modificam rapidamente. Acontecem da mesma maneira as transformações sociais que modificam radicalmente os mapas políticos. Mesmo na Europa ─ continente civilizado ─ surgem questões profundas de valores étnicos, culturais e religiosos que não trazem bons exemplos para o mundo. A Ásia também tem suas questões, muitas encabrestadas para evitar terríveis consequências. Sem dúvida alguma, a África é a campeã das desavenças que se traduzem em milhares de vítimas anualmente. Os maltraçados mapas deixados pela retirada dos colonialistas europeus tem provocado inflação de milhões de almas para o céu e para o inferno, até agora.
       O Sudão, país relativamente grande, para os padrões africanos, está prestes a se dividir em dois. Não fica tão longe da Europa. É logo ali, na vizinhança sul do Egito. Após uma guerra civil entre o norte muçulmano e o sul cristão, acordo para um decreto do povo, realizado nesse último domingo, poderá resolver o grosso do problema. O sul, sempre reprimido pela maioria do norte, aguarda com ansiedade a realização do plebiscito que poderá fazer da parte meridional o mais novo país do mundo. Talvez ocupe também o desonroso lugar de o mais pobre entre todos. A capital do país (norte) é Cartum e a do sul é Juba. Entre Juba e Cartum ainda existe a questão divisória do petróleo, principal riqueza do estado sudanês. O presidente do atual país, Omar Hassan al-Bathir, disse que irá juntar-se à festa de emancipação, caso o plebiscito seja aprovado. Mas também já disse que o sul não tem condições de independência. Homem de muitas e confusas palavras. No sul, os dirigentes pedem calma aos eleitores. Nas últimas horas de ontem houve alguns combates com acusações desencontradas.
       Caso a parte de baixo seja vencedora, o nome do novo país ainda vai ser discutido e poderá levar alguns meses para entrar na lista oficial de países independentes. A parte sul ainda terá muitos problemas importantes para resolver após alcançar a vitória nas urnas. O importante é que o passo maior já foi realizado. É acompanhar (quem tiver interesse) para vê o desfecho dessa guerra civil. Estabilidade no Globo é fundamental para o desenvolvimento dos povos. Depois, é dizer que os do sul lutaram como leões e não perderam a Juba. Isso até faz lembrar uma questão genética: como as leoas, será que existe LEÃO PELADO?




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sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

CAIXA DE BOMBONS

CAIXA DE BOMBONS
(Clerisvaldo B. Chagas, 7 de janeiro de 2011)

       Quando se fala em cultura ─ nova moda da esfera federal ─ vem as nossas cabeças os vários museus municipais que, pequenos ou gigantes, particulares ou oficiais, contribuem de forma efetiva com a formação histórica e artística brasileiras. Eles podem ser específicos ou gerais e vão despertando o interesse de professores, alunos, pesquisadores e turistas. Algumas cidades não possuem museu, outras possuem apenas um e outras trabalham até com muito mais de três. O gosto por essa fonte de cultura é conquistada aos poucos, por que, para a grande maioria da população, museu é apenas sinônimo de coisas velhas, imprestáveis, depositadas também em casas escuras e fantasmagóricas. Mas ainda bem que a insistência intelectual em afastar os fantasmas, vai conseguindo essa façanha tão difícil de vencer a tradicional ignorância. E por falar em museu, lembramos de um dos cartões postais e ponto de referência de São Paulo.
       O MASP, pela singular arquitetura, é de fato único no mundo e causa uma admiração superlativa. O corpo principal edificado é um vão livre correspondente a 74 metros plantado sobre quatro pilares laterais. Seu impressionante desenho foi elaborado pela arquiteta italiana Lina, Lina Bô Bardi, casada com o também italiano Pietro Maria Bardi. O casal apaixonou-se- pelo Brasil e aqui vieram em 1947. Mas essa é uma bela história à parte que não se encaixa nesta apresentação. O Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, com o acrônimo: MASP é o mais importante da América Latina e do Hemisfério Sul. Fundado em 1947, O MASP é uma instituição sem fins lucrativos e está desde 1968 na Avenida Paulista da capital. Sua forma é de uma grande e retangular caixa de bombons. Foi criado para ser um centro cultural e dinâmico. Tem a função de divulgar e amparar as artes de um modo geral, especialmente as artes plásticas.
       O MASP é simplesmente magnífico. Mantém pinacoteca, biblioteca, fototeca, filmoteca, videoteca, cursos de artes e serviço educativo de apoio às exposições. Como exemplo, mexe com exibição de filmes e concertos de interesse artístico e cultural. Quem visita essa caixa de bombons, primeiro se encanta com sua própria arquitetura. Ela pode ser bela ou feia para o apreciador, nunca indiferente. Lá dentro podem ser encontradas obras de autores de diversas nacionalidades como Rafael, Andrea Mantegna, Botticceli, Bellini, Rembrandt, Frans Hals, Cranach, Velazquéz e Goya. A pintura francesa predomina. Podem-se encontrar ainda obras de Ronoir, Manet, Cézanne, Degas, Van Gogh e outros famosos mundiais.
       Com essa exposição, notamos que os museus passam a exercer fascínio e orgulho, agora com aparato tecnológico que faz aumentar o prazer e o conforto de visitantes e apreciadores. E se o MASP atrai multidões pelo seu arrojado conteúdo, o exterior estimula o apetite pelas guloseimas da CAIXA DE BOMBONS.


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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

CHIMANGOS E JURUJUBAS

CHIMANGOS E JURUJUBAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 6 de janeiro de 2011)

       Enfrentando os diversos e sérios problemas do seu governo, dom Pedro I não resistiu a tantas pressões e terminou abdicando. Com o afastamento do imperador, logo teve início a briga pelo poder. Podemos, então, sintetizar o cenário da época dividindo os interessados em três grupos distintos: liberais moderados, liberais exaltados e restauradores. Os liberais moderados assumiram o poder, iniciando o período da História governado por regentes. Os moderados representavam os desejos e expectativas da aristocracia rural, primordialmente das províncias do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo. Pensavam eles em pacificar o país e consolidar a nossa independência. Dos adversários, os liberais moderados receberam o apelido pejorativo de “chimangos” (de ximangos, aves de rapina do extremo sul do Brasil). Nomes importantes compuseram essa ala como Bernardo Pereira Vasconcelos, Evaristo da Veiga e padre Feijó (que depois criou a Guarda Nacional elevando o prestígio dos chamados “coronéis”).
       Os liberais exaltados, por sua vez, eram inimigos dos portugueses e defendiam maior liberdade às províncias; portanto amparavam o federalismo. Destacaram-se nessa luta, pessoas como Borges da Fonseca e Cipriano Barata. Queriam, os liberais exaltados a instauração da República brasileira. Também não ficaram isentos de apelidos, pois eram apontados como farroupilhas ou jurujubas.
       A terceira corrente era formada por aqueles que desejavam a volta do imperador. Tinham tendências absolutistas e eram ex-aliados de dom Pedro, por isso chamado restauradores, mas vulgarmente conhecidos como “caramurus”. Os “caramurus” foram surpreendidos, porém, com o falecimento do ex-imperador dom Pedro I, em 1834, fenecendo com ele as esperanças desse segmento que logo foi extinto.
       Estamos vivendo, nesse início de governo Dilma, um acotovelamento de partidos aliados com a velha prática do “chega pra lá”, em busca de postos importantes no espaço do Executivo. Em relação ao poder de mando, uns querem cargos, outros querem rasteiras no governo e outros ainda, choram adiantados pela volta do imperador, digo, de Luiz Inácio Lula da Silva. Não sabemos se dá para manter as aspirações dos atuais caramurus, por que o próprio ex-presidente já declarou que não quer voltar ao planalto. Bem, você acredita em palavra de político? Ficam os aliados dependendo do tal “freio de arrumação”. Como as coisas estão se organizando após essas primeiras trovoadas, não é possível ainda uma visão minuciosa dos bastidores. Ainda se tateia no escuro. Ninguém perde nada em conter a gula de notícias. Breve o candeeiro será aceso para delinear as sombras caneludas que rodeiam a presidenta. E sob os acordes do Hino Nacional, entre a égide e a hégira, ficaremos rindo e apontando em direção a novos CHIMANGOS E JURUJUBAS.


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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

MÃE BICENTENÁRIA

MÃE BICENTENÁRIA
(Clerisvaldo B. Chagas, 5 de janeiro de 2011)

       Atualmente existe um controle maior sobre os órgãos públicos, graças, em parte, ao surgimento de tantos aparelhos avançados que interligam rapidamente o País. Inúmeras bibliotecas e museus prestam inestimáveis serviços aos pesquisadores jovens e adultos sequiosos de conhecimentos. Cada município que possui a sua fonte pública como a biblioteca, tem aí uma história à parte que deverá ser contada sempre aos frequentadores das escolas. Quando se puxa essa narrativa, vai-se descobrindo como foi dura a constituição daquele patrimônio para todos. Surgem aí vultos importantes da comunidade como o idealizador, doadores, pessoas que contribuíram das mais variadas formas com o prazer único de servir. Muitos ficam no anonimato perpétuo por que os narradores futuros, não aprofundam suas pesquisas históricas sobre essa notável joia de uma cidade.
       Completou em 2010, duzentos anos de fundação da Biblioteca Nacional com sede no Rio de Janeiro. Sua história bonita e inusitada tem início com o nome de Real Biblioteca e vem dos tempos mais difíceis dos portugueses. Com a ameaça de Napoleão Bonaparte, Portugal imaginou trazer para o Brasil também a sua biblioteca com cerca de sessenta mil peças, embaladas em caixotes. Entre as peças, livros, mapas, estampas e manuscritos. Mas como as tropas napoleônicas foram muito rápidas na invasão a Lisboa, não teve como seguir os caixotes no caos formado durante o pesadelo de embarque da família real e da nobreza. Os bibliotecários zelaram o patrimônio que ficou abandonado no porto. Os caixotes só começaram a vir para o Brasil, em 1810. Em 1811, toda a biblioteca foi refeita quando três viagens completaram a nobre tarefa interoceânica. A Real Biblioteca foi fundada no Rio de Janeiro em 1810, com apenas parte do seu acervo. Até 1814, apenas os estudiosos podiam frequentá-la e assim mesmo com autorização régia. Após essa data, o acesso à biblioteca foi liberado para quem precisasse. Cinquenta anos passou no mesmo local esse patrimônio importante, até que foi transferido para outro prédio. No início do século XX, outra mudança levou-a para o lugar onde funciona atualmente. Agora com o nome de Biblioteca Nacional, possui um acervo de quatro milhões de livros, sendo no momento a maior da América Latina. O prédio onde funciona a biblioteca foi inaugurado no centenário de fundação da Biblioteca Real. Seu endereço é Avenida Rio Branco, número 219, Centro, no Rio de Janeiro.
       Muito bom se tivesse um ponto específico em nossas cidades, nas bibliotecas públicas, onde se encontrassem diariamente escritores, pesquisadores, apologistas, para trocarem ideias e serem facilmente encontrados pelos estudantes. Um ponto tão curioso quanto à própria biblioteca. Está lançado o desafio aos dirigentes das cidades, aos comunicadores e escreventes em geral. E como não podemos frequentar com regularidade a longeva e respeitável matrona, parabenizamos efusivamente todas as bibliotecas do País através da MÃE BICENTENÁRIA.





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segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

ILUSÕES DOS ENCARNADOS

ILUSÕES DOS ENCARNADOS
(Clerisvaldo B. Chagas, 4 de janeiro de 2011)

       A complexidade de matérias específicas nas mais diversificadas áreas do Saber, pululam nas universidades. A observação arguta do cotidiano, porém, parece ser a mais proveitosa para as relações humanas que acumulada, chama-se experiência de vida. Para os bons observadores, essa sabedoria chega mais cedo; para outros inquiridores, só com idade avançada vira poço de conselhos e, para a grande maioria, não existe observação alguma. Essa vai passando pela vida como a percorrer um longo corredor sem janelas, sem paisagens, sem interrogações. Não são poucos os que se iludem com “carguinhos” ou cargos elevados nos mesmos erros dos corredores sem janelas.
       Em uma das suas inúmeras músicas, Luiz Gonzaga fala de uma besta muita bonita e bem arreada que possuía. Desfilava na cidade, vaidoso de ser o centro das atenções. Observado sempre por uma bela mulher, dirigiu-se a ela, certo de ter conquistado uma namorada em seu passeio. E qual não foi à surpresa quando a mulher dissera apenas que estava interessada na besta! Ele não era visível àqueles olhos femininos. Bem assim são os que estão montados em seus cargos pensando que são os admirados da vez. Ao deixarem as funções, um olhar sequer não capta em suas direções. O cargo, a função, vale mais do que o homem. Certa vez uma prostituta largou um indivíduo no maior amor para atender imediatamente a outro desconhecido que chegava numa carreta. O primeiro cliente ─ que viera de carro novo ─ protestou contra o ato descabido. E a mulher, com o mesmo cinismo da sociedade, mas direta nas convicções, respondeu que apenas trocava um homem de quatro por outro de dezoito pneus.
       Essa situação foi comprovada pelo senhor Fernando Braga Costa, psicólogo social com sua tese de mestrado da USP. O homem sempre cumprimentado por todos, vestiu o uniforme de gari e passou a varrer as ruas da universidade. Um mês como gari, com vencimentos de 400 reais, trabalhando meio período, Fernando diz nunca ter recebido um só bom-dia nessa fase em que a função e o uniforme fizeram-no invisível a todos. Mesmo nos esbarrões com professores, colegas ou estudantes não saíam sequer um pedido de desculpa. Estava comprovada a tese da “Invisibilidade Pública” que a ele causava grande sofrimento. Pessoas não valorizam pessoas (regra) só enxergam a função social do outro.
       Se por um lado a multidão só enxerga o cargo, o vaidoso do cargo só enxerga os bajuladores, os chamados gansos sem limites. Ao deixar o poder, os capachos afastam-se como os urubus distanciam-se da carniça com a presença do perigo. Logo depois retornam ao banquete com o novo indicado. E os estudiosos da vida vão filtrando a essência com argila, areia e o cascalho da paciência. Enquanto isso continua a viagem da nave bojuda que recolhe orgulhos e ILUSÕES DOS ENCARNADOS.


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domingo, 2 de janeiro de 2011

PRIMEIRA MARCHA

PRIMEIRA MARCHA
(Clerisvaldo B. Chagas, 3 de janeiro de 2011)

       Independente de tudo foi um final de ano arrojado e feliz para todos os eleitores brasileiros. Quando falamos para todos, é que mesmo os que votaram em outros candidatos para a presidência, foram recompensados com o grande acontecimento democrático mostrado para todos os continentes.
       Os típicos festejos do Natal, levando milhões e milhões de pessoas às compras, mostraram o momento de felicidade econômica que move o país. Os principais centros de compras do Brasil mostrados aos países ricos pela mídia mundial, já foi um espetáculo belíssimo de paz e prosperidade. Depois a noite de Ano Bom emenda as tradições natalinas com crenças e superstições apresentadas de Norte a Sul, principalmente na faixa litorânea. Todos os santos dos céus estão em alta e de plantão para atender pedidos chegados dos mais diferentes lugares da terra. E cada um com seu ritual particular, procura entrar em sintonia com a boa sorte para assegurar um ano diferenciado. A água do mar para muitos é o remédio de espantar para bem longe as energias negativas. O branco vai predominando na paisagem agitada das multidões, formando uma corrente única nessas badaladas da meia-noite. E as alvas areias dos rios, dos lagos, das praias, logo vão sendo batizadas com farofas, espumantes, cervejas e exóticos perfumes das mais diversas origens. Mas o foguetório parece ser o ápice da semana mais esperada do ano. E de fato é uma adesão que toma o Brasil em todos os municípios por que é como mostrar a imensa alegria bem alta, no espaço transformado em fogos de artifícios que arrancam admiração profunda de crianças e adultos. Fogos, sentimentos acumulados durante um ano inteiro que jorram em forma de lágrimas. E depois da limpeza das águas, das ervas, dos traçados flamejantes, a pureza do abraço, do beijo, da ternura, do sentimento bom e sagrado que nos invade a alma com o desejo da sinceridade: feliz ano novo.
       E para coroar o êxtase brasileiro, outro espetáculo de rara beleza cívica emociona os filhos aguerridos dessa nação. Ninguém pode dizer quem mais brilhou na festa da democracia. Uma torcida grande pela presença de Alencar; uma apoteose para Lula; uma crença sem tamanho para Dilma. Multidão arisca ao relento, circunspectos estrangeiros no salão. O maravilhoso teatro dos batedores, a guarda feminina sob a chuva atriz, o contraste dos faróis amarelos com o fundo cinza da saraiva, ditavam a grandiosidade marcante absorvida pelos olhares do planeta. E naquele desfile respeitoso de cumprimentos estrangeiros, europeus, asiáticos, africanos, americanos e oceânicos, o tremular da bandeira nacional pelo reconhecimento generalizado que arrepia. Quantos e quantos anos foi preciso viver para desfrutar esse momento! Esse é aquele país evocado por nós no passado quando dizíamos que o Brasil era um país do futuro. Já estamos navegando nesse futuro. Logo, logo estaremos passando à quinta por que essa é apenas a PRIMEIRA MARCHA.


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