quinta-feira, 28 de abril de 2011

LETRAS E FUZIS

LETRAS E FUZIS
(Clerisvaldo B. Chagas, 29 de abril de 2011).

          Já foi comentado o assunto de dificuldades nas pesquisas, relativas a duas causas importantes. Uma delas acontece nas fontes expostas, como os escritos das placas de metais ou não, colocadas nas obras durante as inaugurações. Estão nas pontes, edifícios, praças, geralmente com datas, autores e dados com-plementares. Com a proliferação das drogas, essas placas são arrancadas pelos viciados e vendidas a preço vil nos ferros velhos para a compra do craque, maconha ou cocaína. Pior do que esses vândalos são a ignorância, a má vontade, o ciúme político dos que deveriam zelar pelo patrimônio público, pela história da sua terra. Esses agem criminosamente destruindo todas as identificações de gestões passadas, nas fontes expostas; queimam, escondem, destroem documentos, dão fins aos arquivos e, no mínimo, dificultam as ações dos pesquisadores com as célebres frases: “Não sei; não vi; não conheço”.
          O coronel José Lucena Maranhão foi prefeito eleito em Santana do Ipanema, quando os próprios dirigentes civis eram interventores. Governou Santana como prefeito na gestão 1948-50, foi deputado e prefeito de Maceió. Como tenente, foi chamado a Mata Grande, onde Virgulino Ferreira e seus irmãos praticavam arruaças, como fizeram em Pernambuco e correram para Alagoas, residindo em Matinha de Água Branca. Lucena cercou a casa, houve resistência e tiroteio. Virgulino e os irmãos escaparam, mas no final da refrega Lucena entrou na casa, viu um morto e indagou: “Quem é esse velho?” Era o pai do futuro Lampião. Homem pacato, mas sem autonomia. Não houve intenção de matar pai de ninguém. E na função de major, Lucena também comanda as volantes que dão fim ao próprio Lampião, em 1938. Um predestinado e marcado pela espada. Chegado a Santana a frente do 2º Batalhão de Polícia em 1936, aliou-se ao padre Bulhões e passou, junto com o padre, a comandar os destinos do município.
          O escritor Oscar Silva, que viveu uma fase sob o seu comando, dizia que o major “gostava de soldado”, isto é, amava e prestigiava a farda; que “suas letras eram poucas, mas compensava com a inteligência e determinação”. Após a hecatombe dos Angicos, Lucena virou coronel e foi prefeito, construindo o mercado da carne e sendo um dos fundadores do Ginásio Santana.
          Ora! Pelo exposto no primeiro parágrafo, sempre pensamos que o fundador da biblioteca de Santana tivesse sido o “Prefeito Cultura”, Hélio Cabral, criador do museu do município. Já pelo parágrafo segundo, não víamos como Lucena iria preocupar-se com biblioteca, sendo um homem de armas. Jubiloso engano! Eis que uma equipe do Departamento de Cultura da atual gestão municipal descobriu dois documentos os quais estamos publicando de forma inédita, agora. Atenção, santanenses! A “Biblioteca Pública Municipal de Santana do Ipanema”, foi criada em 4 de outubro de 1948, Lei nº 16, gestão do prefeito José Lucena de Albuquerque Maranhão, 1948-50. A mesma biblioteca recebeu a denominação de “Breno Acióli”, na segunda gestão do prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, 1966-70, através da Lei nº 291/66 de 22 de abril de 1966. Parabéns a equipe da prefeita Renilde Bulhões em ter desvendado esse mistério tão importante da nossa história. Aqui também, a louvação póstuma ao coronel Lucena que bem soube construir uma ponte entre LETRAS E FUZIS.




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quarta-feira, 27 de abril de 2011

MORENO DAS ALAGOAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2011).

          Nascido em 14 de setembro de 1875, no município de Pão de Açúcar, Francisco Henrique Moreno Brandão, foi uma das grandes inteligências que honrou Alagoas. Tendo uma vida estudantil agitada em busca do seu espaço, Moreno Brandão foi “prosador, poeta, romancista, orador, jornalista, filósofo, historiógrafo, polemista e humanista”, escreveu meu saudoso amigo, escritor e professor penedense Ernani Otacílio Méro. O insigne Ernani Méro, autor de “História do Penedo” e outras obras importantes, não poupa elogios ao filho de Pão de Açúcar, ao prefaciar a obra “História de Alagôas”, relançada em 1981, pela Sergasa. Não bastasse a sua trajetória através das letras, por si só o livro de Moreno, editado em 1909, marcaria o seu enorme talento ao fornecer uma espécie de identidade ao nosso estado, ainda pobre em fontes de alto crédito onde possa se orgulhar dos seus feitos, retalhos da história brasileira.
          Conta, Moreno Brandão, que na época da maioridade de D. Pedro II, a 23 de julho de 1840, Alagoas encontrava-se em estado lastimável de atraso e de descultura, em contraste com suas riquezas não aproveitadas. A instrução primária era nula e havia 1.500 alunos distribuídos em 38 escolas, sete das quais destinadas ao sexo feminino. No caso do ensino secundário, sem plano definido, esparso, com cadeiras em latim, francês, geometria e retórica na cidade de Alagoas (hoje Marechal Deodoro) e em outros centros, com latim e francês, em Penedo. A renda mesmo não atingia os cem contos. Nessa época, Alagoas estava dividida em cinco comarcas, 15 termos e 15 municípios. Falando sobre a segurança, apenas 150 praças tomavam conta de tantas terras, havendo inseguridade e séries de crimes, inclusive ameaças a magistrados. Olhando pelo ângulo das freguesias, havia 20 delas com a proliferação constante de novos templos. Comandava os destinos das terras alagoanas, no momento, Manoel Felizardo de Souza e Mello, que assumira a administração em 18 de julho de 1840.
          Nessa época Santana do Ipanema era Freguesia e ainda contava com o comando do padre Francisco José Correia de Albuquerque que ficou até 1842.
          Está aí um pouco das Alagoas de 171 anos atrás. O exposto permite claramente se fazer um comparativo para análise histórica. É fundamental saber o passado da nossa terra, pois um povo sem história e como um livro sem letras. As nossas escolas, infelizmente não dispõem de matéria específica sobre o estado, nem em cursos básicos e muito menos em esferas superiores. Assim a memória vai sumindo como a de muitas culturas indígenas pressionadas pelos brancos. Por outro lado, o texto mostra a capacidade intelectual de filhos do interior ─ tão distante e permanentemente explorado ─ presenteando o todo com esse acervo magnífico. São necessárias condições e valorização para o surgimento assegurado de outros notáveis, à semelhança de Francisco MORENO DAS ALAGOAS.


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terça-feira, 26 de abril de 2011

VARGAS E O CANGAÇO

VARGAS E O CANGAÇO
(Clerisvaldo B. Chagas, 27 de abril de 2011).

          De vez em quando surgem focos de palestras sobre o cangaço, com as mesmas fotos e os mesmos fatos, num repisar cabuloso das mesmices cangaceiras: as pesquisas das pesquisas das pesquisas. Aqui não tem ângulo novo nenhum. Apenas fato pouco comentado que influenciaram na queda do bando naquela manhã fatídica de 1938.
          Getúlio toma conta do poder em 1930, levado por uma parte da oligarquia, classes médias urbanas e jovens oficiais. Os que o apoiaram queriam a socialização da administração pública, almejavam eleições limpas, economia moderna e industrialização. Evidentemente Vargas tentava equilibrar-se no poder com algumas promessas, concessões e fantasias. Muitos ficaram descontentes pelos mais variados motivos, entre eles, a demora em convocar a Constituinte. Três anos após promulgá-la, rasgou a Constituição e submeteu o país a sua constituição autoritária. Sempre para mostrar boa vontade partiu para combater os problemas sociais urbanos e tentar a industrialização. Assim o homem alimentava esperanças por melhores dias para seguir o seu plano de continuar de cima. Depois de enfrentar a conhecida “revolta paulista” ou “revolução de 32”, outros levantes foram surgindo e sendo dominados através da sua estratégia de perpetuação. Foi assim que Getúlio virou de vez ditador em 1937, decretando tal Estado Novo seguido de intensa propaganda. Era apontado, propositadamente como o “Pai dos Pobres e dos Trabalhadores”, liberando algumas conquistas ao proletariado. Os estados intensificaram a prática de interventores, bem como as intendências e depois prefeituras. Havia aí uma aliança da burocracia civil e militar e da burguesia industrial para promover a industrialização.
          Preocupado com tanto descontentamento, desde o início, 1930, Getúlio estava muito mais voltado para sua situação política de que para os problemas regionais do cangaceirismo. Certo promotor de Água Branca, Alagoas, envia uma carta enérgica para Vargas, explanando o marasmo das volantes e expondo fatos que fizeram com que o ditador se voltasse para os sertões nordestinos. Ao receber ordem severa da presidência, o governo estadual apertou o major Lucena de tal maneira que o comandante saiu da reunião tão acabrunhado que foi direto pedir proteção e ajuda dos santos, na Catedral de Maceió. O governo estadual lhe dava trinta dias para trazer a cabeça de Lampião. Major Lucena convocou o tenente João Bezerra (acusado de cumplicidade) dando-lhe quinze dias para entregar a cabeça do Virgulino Ferreira da Silva. O desenrolar dos fatos, a partir daí, são narrados cientificamente pelo grande pesquisador do cangaço, Frederico Pernambucano. Para poucas pessoas com bastante conhecimento sobre o aperto dos tenazes getulienses, foi esse o toque decisivo que faltava para o golpe final na hoste lampionesca. Uma simples carta dos montes da Matinha ─ terra de Corisco ─ pareceu irrelevante, mas foi ela quem colocou frente a frente Getúlio VARGAS E O CANGAÇO.



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OS MAIS VELHOS

OS MAIS VELHOS
(Clerisvaldo B. Chagas, 26 de abril de 2006).

          No último dia 21, chegamos aos 219 anos da morte do Tiradentes. Pela história narrada, lida em nosso tempo de escola, vemos a Inconfidência Mineira de um modo. Quando estudamos paradidáticos, surgem fatos polêmicos. Mas a história sempre foi e continua assim por que ela é vista sobre vários ângulos de quem as escreve. Restam ainda detalhes de pesquisas posteriores que complementam ou polemizam os fatos.
          Foi colocada para nós, a imagem de um herói brasileiro mostrado às escolas durante muitos anos. Estranha-me, entretanto, que a representação iconográfica fosse um herói dividido em quatro pedaços, inclusive a cabeça, perna espetada, mais crucifixo e corda. Era aquele quadro horripilante de Pedro Américo de Figueiredo e Melo (1843-1905) em 1893. Todo artista tem o direito de produzir suas criatividades. Acho, porém, que os mandatários não têm razão quando querem nos impingir um herói, muitos menos em condições terrificantes. Os quadros macabros verdadeiros eram apresentados aos Brasil como sinal de castigos para os que ousavam desafiar os de cima. A história está cheia de exemplos de cabeças espetadas em vias públicas. Contudo, as autoridades não deveriam ter mostrado os seus ícones naquela situação pincelada por Pedro Américo. Dizem que a imagem ficara esquecida por quase um século.
          Logo depois da coisa acima, a estampa escolhida para representar Joaquim Xavier da Silva, no panteão nacional, foi a de um homem de cabelos longos e barba espichada, produzido por Décio Villares, à semelhança de uma alegoria, com ramos de palmeira, pedaço de cruz e laço datado. Não resta dúvida de que a segunda imagem é bem melhor do que a primeira ─ considerada desrespeitosa. Mesmo assim, por que insistir no aspecto miserável do herói? Finalmente surgiu a imagem do Tiradentes, sem barba, limpo, bem vestido, altivo, parecido com os retratos oficiais de qualquer autoridade. Ah, bom! Agora sim. Os outros castigos após o enforcamento de Xavier pareciam escondidos. Não sei por que alguns livros didáticos ainda insistem em exibir os despojos do homem. Para assustar crianças? Eu mesmo não quero um herói esculhambado daquele.
          Penso que o Ministério da Educação e seus departamentos, bem que poderiam pensar nesses tipos de apresentações didáticas que nada trazem de importante. Outros querem afastar o tradicional Joaquim Xavier, por político de partido “A” ou “B”. Basta o Papai Noel que tomou o aniversário do Cristo. Ê mundo cão sem porteiras!... É morrendo e aprendendo como falavam os nossos avós, como diziam OS MAIS VELHOS.




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domingo, 24 de abril de 2011

DÊ-ME UM CIGARRO

DÊ-ME UM CIGARRO
(Clerisvaldo B. Chagas, 25 de abril de 2011).

          Ao contemplar a paisagem da baía da Guanabara, chega-me ao pensamento, certa marca de cigarro. Deixo-me percorrer uma faixa de lembrança que vai caldeando o cotidiano com a história da minha terra. Arte tem tempo e tem história sim, melhor de que a escrita, muitas vezes. Busco um colecionador de marcas de cigarros que tem mil e setecentas marcas. A mãe dele e ele ficaram encantados com a beleza das estampas, assim como os meninos da minha rua, da minha cidade. Ah! Mas não lembro tantas marcas assim. Mas houve época em que nós, os meninos, andávamos com maços de notas semelhantes às cédulas verdadeiras. Serviam como troca e pagamento em nossos jogos de ximbras. Os cigarros mais conhecidos eram o Continental (maço azul com desenho do continente americano); Astória (maço amarelo); depois o Hollywood. A partir daí um festival de marcas, entre elas, Fio de Ouro, Urca e Yolanda. Continental era de classe. Astória, de quem não podia adquirir continental. Era forte e substituiu o fumo de rolo. Um amigo comprava um maço de cada. No bolso de cima o Astória, “para os pidões”, dizia ele. O Continental no bolso de baixo, bem guardado.
          Nunca fumei, mas achava bonito o vício em mulheres fumantes, entre elas, na minha rua, Dona Mirtes, inveterada. A belíssima Zezé Oliveira, filha de Seu Manezinho Quiliu, mulher em toda plenitude que me fazia sonhar com seu charme, classe e elegância. Ai, ai, meu caminhãozinho de apenas dez anos! Mas a minha prima Isabel Sobreira fumava que só uma caipora. Vi homens que não tirava o cigarro da boca. Partiram em consequência, como o contabilista Luís Medeiros, o comerciante Idelzuíto Melo, Damião irmão de Mirtes, e outros que jamais foram vistos sem um cigarro, pois o próximo era sempre aceso com o anterior. Nessa época, passava frequentemente à porta da minha casa, um cidadão moreno claro, bigodinho, paletó esporte, sempre elegante. Cabelos pretos, cigarro entre os dedos, olhar para baixo, passos rápidos e duros. Caminhava em direção à Rua São Pedro, nem sei se entrava antes ou depois. Ainda hoje procuro saber seu nome e não tenho a quem perguntar. Sei apenas que era jogador de baralho. Mantive seus dois vícios, dei-lhe o dom da poesia e o transformei em personagem do meu romance, Basileu, "Deuses de mandacaru". O cigarro Hollywood chegou como coisa mais fina e até hoje continua na praça. (Os cigarros de hoje possuem cheiro de lixo em combustão). O Yolanda foi motivo de samba. E as outras marcas enriqueceram os nossos bolsos de crianças com a categoria dos seus desenhos e cores.
Os cigarros continuam matando como nunca. Dizem que são os índios americanos vingando os massacres dos brancos europeus. Uma herança indígena, o vício de fumar, que se espalhou por todos os continentes. Mas não quero, falar das doenças provocadas pelo fumo, nem dos óbitos, nem dos males dos vícios. Queria ressaltar apenas o atrativo, a sedução, o fascínio das estampas dos maços. Isso lembra até o ensino das gramáticas. Perguntavam elas nos mistérios da língua Portuguesa se o certo era: Me dê um cigarro ou DÊ-ME UM CIGARRO.

• Depois de ser lido em vários países, tenho a grata surpresa de ser chamado “celebridade” da cultura em site indonésio. Mesmo que não seja, hum! Muito obrigado aí pessoal da Indonésia.


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quinta-feira, 21 de abril de 2011

O CRISTO DE TOMÉ

O CRISTO DE TOMÉ
(Clerisvaldo B. Chagas, 22 de abril de 2011).

          Durante o período de Semana Santa, os jornais televisivos costumam destacar as tradições religiosas de Minas Gerais. Será por que os mineiros mostram atos que não existem em outros lugares? Será pela maior perfeição dos seus trabalhos litúrgicos? Ou será por que as comemorações mineiras continuam no passado e a de outros estados, no presente? Não importa. Os últimos dias de Nosso Senhor Jesus, o Cristo, ainda emociona e atrai multidões em qualquer parte do Brasil. Segundo a televisão, em Sabará, cidade histórica de Minas Gerais, acontece à abertura do túmulo de Jesus. A cena é realizada na quinta-feira na igreja de São Francisco de Assis, mantendo assim uma tradição de mais de duzentos anos. Nessa ocasião existem cânticos, grupo de penitência e finalmente a exposição do corpo de Jesus ensanguentado. É interessante, mas a Bíblia não diz que foi assim.
          Ninguém abriu o túmulo de Jesus e muito menos retirou seu corpo ensanguentado. E na quinta-feira, Jesus ainda vivia. Vejamos:
          Adaptando a leitura bíblica, no primeiro dia da semana, Maria Madalena, ao amanhecer, mas ainda escuro, foi ao túmulo de Jesus, encontrando-o sem campa. Pensando que o corpo havia sido roubado, voltou correndo e foi relatar a Pedro e a João. Os dois correram para o local, porém, João, mais novo, chegou primeiro. Não entrou no túmulo, mas viu os lençóis que envolveram o Cristo. Pedro chegou depois, entrou no túmulo e viu os lençóis. O lenço que estivera sobre a cabeça de Jesus, estava dobrado em lugar à parte. João entrou depois, viu e creu. Entretanto, eles ainda não entendiam a escritura, que importava que ele ressuscitasse de entre os mortos. Voltaram a casa. Maria Madalena permaneceu na parte de fora da sepultura, em pé, chorando. Abaixou para olhar para dentro e viu dois anjos vestidos de branco, assentados onde fora colocado o corpo de Jesus, um à cabeceira, outro aos pés. Perguntaram por que ela estava chorando. Madalena respondeu que era porque haviam levado o corpo “do meu Senhor, e não sei onde puseram”. Olhou para trás e viu Jesus em pé e não o reconheceu. Com a fala de Jesus, ele foi reconhecido e aconteceu um breve diálogo.
          É bom notar que essas coisas aconteceram antes dos três dias completos, pois fora ao amanhecer da segunda e Jesus havia morrido às três da tarde da sexta.
          À tarde, Jesus apareceu aos apóstolos, a casa onde eles estavam reunidos às portas fechadas. Tomé não estava. Só oito dias depois, Jesus apareceu novamente e, dessa vez estava Tomé que não acreditara nas palavras dos amigos. Foi quando Jesus mandou que ele tocasse às suas feridas para acreditar na sua (do Cristo) Ressurreição.
          O que acontece com boa parte dos seguidores, porém, é que, ao invés de viver voltada para a alegria e a boa nova da Ressureição, passa a vida inteira procurando sepulcros. Não consegue achar o sentido da existência. Enquanto encosta-se às sepulturas vazias, com certeza esquece o Senhor vivo de Madalena, O CRISTO DE TOMÉ.




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quarta-feira, 20 de abril de 2011

O LAVA-PÉS DA MATRIZ

O LAVA-PÉS DA MATRIZ
(Clerisvaldo B. Chagas, 21 de abril de 2001).

       Vem à lembrança hoje, quinta-feira Santa, a imagem do cônego Luiz Cirilo Silva, pároco na minha terra entre 1951 e 1982. Originário da serra da Mandioca, município de Palmeira dos Índios, Luís Cirilo assumiu a Paróquia de Senhora Santa Ana, após o falecimento do cônego penedense José Bulhões. De qualquer maneira, a morte do Cônego Bulhões levou com ela o fim do mando religioso na política, iniciado em 1787, com o padre Francisco José Correia de Albuquerque, um dos fundadores do município, da Matriz e da Freguesia de Sant’Anna do Panema. (“O boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema”). Luís Cirilo, inaugurando uma nova fase da Igreja municipal, brevemente tornou-se popular, sendo considerado o mais querido da história paroquiana. Viveu o auge do catolicismo em Santana do Ipanema, época das grandes quermesses, folclore cheio, novenas constantes, leilões obesos, sermões arrebatadores, banda de música, enormes procissões e sucessos absolutos nas festas da Padroeira. Foi professor do Ginásio Santana, fundador do salão paroquial e participante ativo em todos os grandes eventos da “Rainha do Sertão”.
       Certa feita, lá dentro dos meus possíveis dez anos, recebi um convite para participar da liturgia do lava-pés. Aceitei. Vesti o camisão dos apóstolos, quando duas mãos fortes ergueram-me pelas costelas até o altar-mor da Igreja Matriz de Senhora Santa Ana. Fiquei ali, quietinho como um santo, vestido de branco, no meio dos outros meninos. Havia muitos padres. Tudo correu bem, até que fui para casa satisfeitíssimo por ter sido prestigiado entre a garotada. Meus pais, católicos fervorosos, também. De quebra ainda ganhei um envelope azul com uma cédula novinha dentro. Quer dizer, saí num lucro e tanto! Sempre frequentei a Igreja desde os tempos do catecismo, fortalecendo o espírito para enfrentar as futuras barreiras da vida, sem se perder na longa caminhada. Era a época do padre Cirilo, da cantora do coro, Marinalva, sua irmã, do sacristão Jaime, do zelador e sineiro Major.
       O tempo passou. E a surpresa da gente é olhar em redor e notar a falta de tantos companheiros que já se foram. Sempre que chega a Semana Santa e a cultura popular da época, bate certa tristeza no peito do caminhante. Ontem a lua estava belíssima ─ você viu? ─ Com brilho e roupa de gala desfilando no céu desenhado (de Nosso Senhor). O mesmo céu absoluto, fraterno e diligente da meninice. Vou imaginando, imaginando... Que bom, o tempo do padre Cirilo! Desculpe, meu amigo, deixe minha crônica mergulhar na bacia líquida de lágrimas. Semana Santa é toque nos corações poéticos, sofridos, sensíveis, resistentes, dos filhos de Jesus. É difícil prosseguir as linhas sem marejar. Ali, o coração do Homem, acolá, o manto da Mulher. Não, você não tem nada com isso, perdão, foi apenas um argueiro que passou (na alma). Caminhar, caminhar, caminhar... É o sereno da noite, é o orvalho da aurora... O calado silêncio das horas mortas. Quando nos píncaros das ações, no aconchego dos sentimentos, nos granizos do porvir, sinto como se minha vida inteira tivesse sido conduzida como a água, as mãos, o pano e O LAVA-PÉS DA MATRIZ.



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OS TRÊS DA HISTÓRIA

OS TRÊS DA HISTÓRIA
(Clerisvaldo B. Chagas, 20 de abril de 2011).

Resolvemos nessa quarta-feira Santa, mostrar um pouco da história de três pessoas importantes para Santana do Ipanema. Nos anos sessenta, viveu à esquina das Ruas Antonio Tavares com a Tereza de Jesus, o comerciante Carlos Gabriel da Silva, conhecido como Seu Carrito. Vizinho a sua residência, resolveu montar uma bodega, bem organizada e sortida que abastecia os arredores ─ desde o Bairro São Pedro às margens do rio Ipanema. Homem franzino, bigode bem aparado, limpo e bem vestido, Carrito sempre se mostrou calmo, educado e, logo cedo se tornou um pequeno capitalista indispensável à Rua Antonio Tavares. Seu pequeno comércio era organizado e suas conversas puxavam para a religião, a política, embutidas na história do município. O ponto do negócio passou a ser uma espécie de centro dos arredores. Durante os dias de Semana Santa, o comerciante promovia brincadeiras sadias como o pau de sebo e a casa de urtiga. Tanto no cimo do mastro ensebado, quanto na pequena casa rasteira para se entrar de quatro pés, havia prêmios entre dinheiro, cigarros, doces e outros pequenos objetos. Acima da sua residência, os famosos balaústres ainda dividiam parte da Rua Nova com a Rua Antonio Tavares, naquele trecho ligado por degraus. As diversões com pau de sebo e casa de urtiga foram às últimas praticadas na cidade, assim como seu organizador foi morar em Maceió. Carrito ainda construiu à Rua Tereza de Jesus, a capela dedicada a Nossa Senhora Aparecida, em 1969. O comerciante zelava também pela igrejinha de São Pedro e a igrejinha das Tocaias, periferia do Bairro Floresta. Carlos Gabriel da Silva foi pessoa muito importante, tanto por ser benfeitor, quanto comerciante e fonte de pesquisa da nossa cidade.
Euclides José dos Santos, pessoa humilde, pequeno proprietário de terras próximas ao rio Ipanema, construiu uma rua de casas modestas nas vizinhanças da residência. As pequenas casas ainda hoje, continuam alugadas às pessoas carentes daqueles arredores. Depois, com o reconhecimento do poder público, a rua ─ que havia sido batizada pelo seu fundador de Rua da Praia, por ficar à margem esquerda do rio ─ foi calçada com paralelepípedos. Seu Euclides ainda construiu uma igrejinha em homenagem a Nossa Senhora de Fátima, bem na entrada da rua e, que ficou conhecida como igrejinha de Seu Euclides, aproximadamente, em 1987. Um dos seus filhos, o senhor Luiz Euclides, continuou as obras, construindo no local um campo de futebol, cercado de árvores, belo recanto para o lazer dos fins de semanas. Hoje a Rua da Praia virou comunidade e conta também, além do campo de futebol e igreja, um prédio moderno que funciona como centro comunitário.
Sobre o senhor José Quirino já falamos também sobre esse importante fazendeiro e comerciante que fundou a rua, hoje Prof. Enéas, mas que permanece sendo chamada de Rua de Zé Quirino. Quirino, comerciante e empresário, igualmente fundou a Igreja Sagrada Família, importante templo católico localizado no coração do bairro nobre Monumento, em torno do ano de 1959.
Esses homens de Santana, como não poderiam ser esquecidos, estão mais de uma vez registrados como OS TRÊS DA HISTÓRIA.
(Fonte: inédito, “O boi, a bota e a batina, história completa de Santana do Ipanema").


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terça-feira, 19 de abril de 2011

AS TRAPALHADAS DA ONU

AS TRAPALHADAS DA ONU
(Clerisvaldo B. Chagas, 19 de abril de 2011).

       O mundo sofre modificação profunda, rápida e surpreendente. No caso da ONU – Organização das Nações Unidas, o tema da Líbia cai em uso de chavão brasileiro: “perdida como cego em tiroteio”. A Organização não se entende na missão sobre o território líbio. Primeiro, demorou bastante com a decisão a tomar. Segundo, essa decisão não foi unânime. Terceiro, a ação ofensiva saiu pela metade. Quarto, confiou demais nos Estados Unidos. Quinto, subestimou o homem. O resultado geral tem sido a insuficiência das ações. Enquanto demorava discutindo, a população rebelde ia sendo massacrada. Na vez que o Brasil, China, Rússia, pediam calma, a Organização partia para o ataque. A ofensiva foi apenas parcial dentro de uma estratégia, cuja dose nem dava para curar e nem matar o paciente. Os Estados Unidos, premidos pela crise financeira, cortando gastos, apertados pelas forças políticas e, definitivamente desgastados, entregaram o comando. Acostumada à liderança bélica americana, a Europa da ofensiva a Líbia, parece ter ficado tonta, desaprumando o eixo. Tantos países armados até os dentes desvalorizaram a capacidade e resistência do ditador do deserto.
       Enquanto a malfadada operação nada resolve, mais ainda penaliza a população líbia com os contra-ataques do seu guerreiro dirigente. Correm as notícias negativas contra os rebelados. Tropas de Kadhafi matam vinte e cinco em apenas dois dias em Misrata, dizem eles. Os bombardeios do governo conseguiram eliminar mil pessoas e deixar três mil feridos em cerca de sete semanas. Dizem que 80% dos mortos são civis e não poderia ser diferente. Bombas proibidas dos tipos que se fragmentam, estão sendo lançadas pelas tropas de Muammar. Nesse ínterim, o povo da Líbia que pedia ajuda externa, parece decepcionado com tudo por que fica entre o fogo do inimigo e a ineficiência dos socorristas. Só quem está presente na luta feroz do norte africano, sabe o que é ficar encurralado a mercê do adversário vendo tombar centenas de companheiros mais o horror de outras centenas de feridos. Morra quem morrer. Para Kadhafi não há ética, não há civis, não há sangue irmão. Há o poder e o “fora do poder”. Sua cartada é decisiva como um suicida prévio. Se perder, será condenado por um tribunal internacional, cuja sentença já imagina. Se ganhar, terá o prazer de afirmar que derrotou o mundo. Parece, então, conformado como homens-bomba e seus futuros maravilhosos.
       O futebol é uma escolinha danada de boa para oferecer lições. O time completo e cheio de estrelas entra em campo para golear o último da competição. Perde-se dentro das quatro linhas, sem força, sem fôlego, sem determinismo. Sai humilhado, muitas vezes, sob estrondosas vaias da torcida. Sei não! Até agora a Organização das Nações Unidas, faz lembrar Didi Mocó, personagem que bem aplaudiria AS TRAPALHADAS DA ONU.


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segunda-feira, 18 de abril de 2011

DOMINGO DE RAMOS

DOMINGO DE RAMOS
(Clerisvaldo B. Chagas, 18 de abril de 2001).

       Mais uma vez vivenciamos o início da Semana Santa, com o tão conhecido e esperado Domingo de Ramos. É ele quem relembra a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém, poucos dias antes da sua morte. O domingo é assim conhecido, por que o povo cortou ramos de árvores, folhagens de palmeira, para forrar o chão quando Jesus passava e, acenar agitando os ramos. Assim chegava Jesus saudado pelo povo que o aclamava “Rei dos Judeus”, “Hosana ao filho de Davi”, “Salve o Messias”. Essa manifestação popular despertou a inveja de sacerdotes e mestres da lei, desconfiados com medo de perderem antigo prestígio e privilégio. A multidão tem esperança de que Jesus poderia libertar o povo da Palestina do jugo romano. Entendia a Jesus como um homem poderoso, cujo reino poderia ser o da própria Palestina. Tem início aí a trama para eliminar o filho de Deus. A multidão que saudava o Mestre com os ramos das palmeiras, seria a mesma levada pelo plano dos sacerdotes, para incriminar aquele a quem acabava de aplaudir. Jesus iria cumprir sua missão, submetido a um julgamento planejado, com testemunhas compradas. Vai para a humilhação moral e sofrimento físico para satisfazer o ego dos invejosos acusadores.
       Essa tradição cristã leva muitos ao recolhimento, à reflexão que a história impõe aos que gostam de observar a religiosidade. É sabido, porém, que os tempos são outros. Antes, as igrejas ficavam lotadas para a participação e a vivência nos atos solenes que lembravam as belas palavras de Jesus. Belas, mas incompreensíveis para os que não procuram refletir nos ensinamento dos Evangelhos. E se hoje algumas igrejas ainda continuam lotadas, mas nos principais dias da Semana Santa, os bares estão cheios, as bebidas vão batendo recordes de clientes e, a violência ainda impera nos dias santos como se fosse mera rotina de um aguardado feriadão. Os sons dos automóveis com tampa de mala levantada, não soam de maneira alguma a se pensar em respeito algum. Parece que as pessoas esquecem com destemor de que não trazem a imortalidade para esse mundo ou sabem de tudo, estão bem informadas, mas preferem não pensar no futuro desconhecido.
       O que será que leva o homem à indiferença pelo amanhã? Será que os compromissos inadiáveis dessa vida agitada, têm alguma coisa nessa atitude de desilusão, de desprezo, de indiferença pelo sagrado? Não falamos somente sobre a lotação de uma igreja, de um centro, de um templo, de um terreiro. Pensamos em gestos outros como a oração solitária no quarto de dormir, pelos que nada frequentam. Ou terá tempo suficiente, o homem, para falar com Deus ao sair pendido do boteco? Ah, não estamos censurando ninguém, estamos apenas refletindo em letras soltas. Ontem o mundo foi assim. Apenas assim. Sem o hoje, sem o depois. Deus não existe mesmo... Para uns. Para outros foi toda a plenitude de um DOMINGO DE RAMOS.


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sexta-feira, 15 de abril de 2011

OS BRINCOS DOS BRICS

OS BRINCOS DOS BRICS
(Clerisvaldo B. Chagas, 15 de abril de 2011).

Dizem os mais velhos lá do meu Sertão que “quando se está cansado de um lado, vira-se para o outro”. Foi assim que surgiu o grupo de países que recebeu a sigla de BRICS. Devemos em parte a Fernando Henrique e em grande fatia ao Lula, a preferência de afastamento comercial com os Estados Unidos e uma maior aproximação com o bloco europeu. Essa estratégia fez com que a voracidade de domínio dos Estados Unidos, fosse interrompida. Por que deveríamos continuar ligados ao país mais poderoso do mundo se ele só queria nos explorar? Com a aproximação Brasil e MERCOSUL com a Europa, as cosas começaram a evoluir, muito embora saibamos que não é fácil dobrar a organização UE. Logo após o Brasil começou a trabalhar no sentido Sul-Sul, quer dizer, a melhor se relacionar com os países pobres ou em desenvolvimento abaixo da Linha do Equador. Depois partiu para uma ofensiva comercial diante dos países do Oriente Médio, até que trombou com o apoio às pretensões atômicas do Irã. Outro ditado diz que “não se deve guardar todos os ovos em uma cesta só”. O Brasil seguiu os provérbios. Cansados da exploração americana virou-se para o outro lado e diversificou o seu comércio em várias regiões. Funcionou.
Por outro lado, diante da dureza de organizações como o restrito Conselho Permanente da ONU, o clube rico e fechado da Europa e a intransigência imperialista americana, foi costurada com êxito uma frente ampla de países do Sul, pobres e em desenvolvimento, comandados pelo Brasil. Isso fez gerar como consequência uma liderança ampliada pelas maiores forças vindas do Norte como China e Rússia que também buscavam seus espaços. Assim foi formada uma nova e ampliada liderança dos chamados emergentes, com Brasil, Rússia, Índia, China e agora, África do Sul, já apelidados BRICS. O peso dessa união fez o mundo pender para um lado que nunca havia sentido isso antes. Estamos no miolo de uma nova ordem mundial, não existe nenhuma dúvida. O que era um lado só está mudando para o outro.
Nesta última reunião entre os novos cinco grandes, declarações bonitas ganharam o mundo em notas conjuntas dos BRICS. Afinal a China tem a maior população, a Índia a segunda, a Rússia é potência atômica, a África do Sul é o polo convergente de todo o território africano e, o Brasil uma potência da América do Sul crescente para o mundo. Mas ninguém se engane por que não existe uma união de fato, mas de interesses nesse momento da história. Por trás da cortina, todos são concorrentes comerciais entre si, como nos tempos do império romano. É não ficarmos olhando somente para a roupa bonita desse grupo, mas também para os dourados BRINCOS DO BRICS.

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quarta-feira, 13 de abril de 2011

O EXTERMINADOR


O EXTERMINADOR
(Clerisvaldo B. Chagas, 14 de abril de 2011).

Já estamos no segundo decênio do século XXI, mas os sentimentos negativos continuam tentando o homem. Há uma necessidade medonha de psicólogos e psiquiatras no mundo, para explicar mil coisas que nós, os simples mortais, não conseguimos entender. Uma delas é a mudança de comportamento entre o indivíduo candidato a cargo público e o próprio, após assegurar a vitória. Dizem que o camaleão tem o poder da camuflagem ou do mimetismo de acordo com as intenções de caça ou de presa. Mas esse pequeno e sabido animal tem perdido feio quando comparado aos políticos do meu velho Nordeste ou da nossa pequenina Alagoas. Como é possível tanta transformação em um vivente após chegar ao poder! Existe, porém a tese de que não existe mudança nenhuma. O novo cargo serve apenas para extravasar o que o sujeito já é. Dizem também que a verdadeira personalidade do homem é mostrada sob o efeito da bebida. Quando sóbrio, seu modo de ser continua disfarçado.
Lembro-me de vez em quando que uma pessoa falava sobre a política em Palmeira dos Índios. Quando certo candidato ganhou a eleição a prefeito, subiu a serra das Pias para consultar um raposa da política, pois todos que se elegiam em Palmeira faziam a mesma coisa. Ao indagar sobre como deveria agir na sua administração, o velho cacique disse apenas que pagasse dignamente aos seus funcionários. Surpreso, o novo gestor abriu a boca de espanto e indagou se só era aquilo que tinha a fazer. O raposa ratificou. O prefeito, decepcionado, desceu a serra das Pias.
O caso do governador de Alagoas, Teotônio Vilela, está urgentemente precisando de um cacique do bem para orientá-lo, a não ser que tenha trazido no sangue, desde a última encarnação, um ódio mortal contra funcionário público. Pode ter sido também trauma de infância ou ainda a arrogância polida de usineiro. Só um especialista em comportamento humano poderia dizer com precisão. Para nós, os funcionários públicos, tendo votado ou não em Teotônio Vilela, o desejo de arrancá-lo à força do poder, talvez seja muito maior de que a realidade de um reajuste de respeito. Muitos já fazem comparações as mais diversas sobre um homem fora da realidade. Será um Nabucodonosor? Um Chávez? Um Fidel? Como é que um homem que concorreu com Lessa, Collor, consegue uma expressiva vitória e depois frustra deliberadamente os que o levaram ao poder? Como é que um homem perde para as madeiras nobres do Sertão como o cedro, a aroeira, o angico, a baraúna? Que fraqueza é essa pior de que um cabo de vassoura? Vem de onde esse humor negro contra o funcionalismo do seu estado?
Alagoas continuará assim até que o próprio Deus possa mudar esse destino que leva o nosso estado ao primeiro lugar em tudo que não presta.Quem quer respeito faz por onde possa ser respeitado. Por enquanto, se não mudar, o nosso dirigente maior deverá ficar muito feliz com o título de O EXTERMINADOR.

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terça-feira, 12 de abril de 2011

O HOMEM DO COXIM

O HOMEM DO COXIM
(Clerisvaldo B. Chagas, 13 de abril de 2011).

O homem apresenta-se à porta da Van. Identifico-o imediato como gente da roça. Seu chapéu de massa de abas largas não mente a minha afirmação íntima. Tem cara de seus mais de oitenta anos (cara não, “quem tem cara é cavalo”, dizia meu “tio” Manoel Anastácio). Aspecto sereno, agradável e limpo, o passageiro traz um alvo coxim à mão. Penso que o matuto iria ficar um pouco perdido ao entrar no veículo. Perdido o quê! Engano-me redondamente. Do chão não dava para notar quem estava sentado, por causa da altura e do encosto comprido. O “coroné” espia de imediato por baixo da cadeira isolada da frente e, cata assim o passageiro pelos pés. Vejo logo que o homem é muito esperto e viajado. Não descobre pés de passageiro e indaga ao condutor se tem pretendente para a citada poltrona. O motorista anima-se com a figura do velho durinho e responde perguntandose “meu patrão gosta duma cadeirinha à frente?”. Pronto! O cobrador já perdeu a mordomia de antes e terá que viajar sentado no piso.
Com a partida, o motorista vai indagando ironicamente sobre o coxim que o “coroné”, de pronto, havia forrado à poltrona e sentado em cima:Que o coxim era muito bom; que não achava aquele bicho para comprar em nenhum canto; como poderia adquirir igual; tentando puxar conversa com o recente passageiro. O senhor, aspecto de homem que no Sertão chamamos “barriga cheia”, vai-se entusiasmando com os elogios ao objeto e fala também. Há sessenta anos que usava coxim. Aquele havia sido adquirido por quatro reais e andava com ele há vinte anos. Havia sido usado nos carros de boi, nos cavalos e agora nas Vans. O condutor complementa ainda com ironia que “e logo, logo no avião”. O “coroné” rirsatisfeito e responde: “Quem sabe!”.Informa ainda ao motorista que ele pode adquirir um troço daquele nas feiras do Riacho Grande, isto é, na atual cidade Rui Palmeira. Explica ainda o meu simpático “coroné” que onde vendem redes, vendem-se coxins.
Fico besta em viajar com um homem típico sertanejo da área rural. Um pouco mais atrás, fixo sempre o olhar ao seu chapéu, tentando decifrar o pequeno nome ali gravado. Queria saber se era marca das que eu vendia na loja de meu pai: Prada, Cury, Três X... Chama-me atenção sua boca pequena, passando o lábio inferior. Dá-me uma vontade danada de perguntar seu nome, de saber sua vida, de mergulhar fundo num passado rural bonito e perfumoso. A oportunidade é mínima. Vou lembrando o personagem do meu romance inédito “Fazenda Lajeado”, Seu Deolindo; e o coxim macio do mulato ladrão de moça e jogador de baralho do outro romance inédito, “Deuses de Mandacaru”, João Mulato, o homem dos dentes de ouro. A Van chega a Maceió, o homem não esquece seu precioso objeto, despede-se e vai embora. Fico grudado, saudoso, vendopartir meu “coroné” que aos poucos se dilui no modernismo. Viro-me para minha senhora e digo: Vai dá crônica... O HOMEM DO COXIM.

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