quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

AS DUAS FACES DE ALAGOAS



AS DUAS FACES DE ALAGOAS
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de janeiro de 2015
Crônica nº 1.356

Foto: (impressãodigital.126.com.br).
Com tantas notícias que nos envergonham lá fora e aqui, sobre o nosso estado, temos que ressaltar, quase como desabafo, o brilho de alvíssaras.
O anúncio concreto de instalação da 1º fábrica de equipamentos para energia solar do Brasil, em Marechal Deodoro é motivo de comemoração sim. É preciso industrializar o estado diversificando seu parque fabril, escapar da monocultura canavieira e destacar-se no cenário brasileiro.
As obras de construção da fábrica já foram iniciadas em uma área de 80 mil m² no Polo Industrial José Aprígio Vilela, em Marechal Deodoro.  A fábrica vai gerar 100 empregos diretos. Após o início da produção e dos processos de instalação dos equipamentos, segundo o executivo da Pure Energy, Gelson Cerutti, a perspectiva é que até cinco mil empregos indiretos sejam gerados”.
Infelizmente nosso sertão vai contando nos dedos as fábricas instaladas em Murici, Maceió e Arapiraca e fica apenas conformado com galinhas e carneiros. Conformado porque não se vê um único movimento entre os prefeitos do semiárido que olham unicamente para o umbigo e o seus feudos calados como defuntos. Prefeito nenhum lança uma bandeira de industrializar o sertão, numa campanha séria e forte entre seus colegas e a bancada nula de deputados. Não trazem para seus respectivos municípios nem sequer uma fabriqueta de quebra-queixo. Se não são coronéis a quem só interessa o atraso, mas são filhotes da inércia, da acomodação, da vidinha corriqueira das bajulações, buchadas de bode e lapadas de aguardente nas chácaras dos compadres.
Sertão desgraçado, abandonado, acomodado, pessimamente dirigido, com o dedo indicador enroscado na reata da calça de cada gestor municipal. Sertão que ainda vive de esmola, onde a população é apenas massa, massa marroque, pão dormido de três dias, pisada e desprezada por lideranças dúbias, frágeis, enganosas, descompromissada com tudo que cheira a progresso, com raríssimas exceções.
As únicas indústrias que chegam ao sertão são as indústrias das drogas, da insegurança, dos crimes, da miséria, tudo gemendo debaixo da riqueza crescente dos espertos. A culpa não é dos governadores, mas dos próprios maus prefeitos que não gritam por sua gente, mas bocejam de tédio e roncam de destempero.
A sociedade civil organizada não reage e o legislativo só pensa em aumento de salário, mordomia e se exploda quem quiser.
Como pode apenas uma voz solitária como a nossa fazer alguma coisa? Onde estão os outros. Por certo em lugares alagadiços só com a cabeça de fora como cágado jabuti.







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quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O URSO PRETO DE SANTANA



O URSO PRETO DE SANTANA
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de janeiro de 2015
Crônica Nº 1.355

Os velhos carnavais de Santana do Ipanema têm seus registros mais antigos na década de vinte, através do escritor santanense Oscar Silva. Oscar comentava até com detalhes sobre alguns blocos masculinos e femininos e fala muito mais sobre o “Negras da Costa”, oriundo de Quebrangulo. O “Negras da Costa” daquela cidade Agrestina dançou várias vezes nos carnavais de Santana do Ipanema. Esta cidade, porém, inspirada na brincadeira de Quebrangulo fundou o seu bloco fazendo grande sucesso pelas ruas da cidade, tendo como brincantes, entre outros, os saudosos Zé Urbano e Filemon. Esse bloco formado de homens vestidos de branco, imitando baianas, roda e requebra pela cidade, numa cadência de causar inveja. Recentemente o bloco de “Negras da Costa” apresentou-se em Maceió, continuando com a mesma beleza impressionante dos carnavais da década de 20.
Entretanto, um dos blocos mais antigos e tradicionais de Santana é o do “Urso Preto” do malandro Zé Nogueira, Seu Caroula, Chico Paes e outros personagens que tornaram esse animal imorredouro nos tempos carnavalescos.
As histórias do bloco do urso e suas presepadas ainda hoje podem ser conhecidas nos bares e nas esquinas centrais da minha terra.
Estamos, porém, com mais de uma década de fracassos carnavalescos, muito embora haja muita propaganda. Os brincantes resolveram abandonar o torrão e partir para cidades como Pão de Açúcar e Piranhas, principalmente por causa do banho no rio São Francisco.
Existem, porém, os insistentes que teimam em brincar, independente de ajuda do poder municipal.
Esse ano, com a crise particular que aperta as goelas de Santana do Ipanema, nova machadada cai na cabeça dos foliões sem condições de nada.
E lá na Rua Delmiro Gouveia, no restaurante Zé de Pedro, um desses brincantes mais pobres, estava a se lamentar.
Foi ele mesmo quem disse que para tirar o prefeito da apatia, a solução era desenterrar uma cabeça de burro na entrada da cidade e sentar um urso preto, como totem nos degraus da prefeitura.
Alguém perguntou ao folião se isso resolvia.
Ele respondeu:
─ Se resolve mesmo, não sei, mas pelo menos é um fantasma a mais diante de quem tá dentro.

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terça-feira, 27 de janeiro de 2015

VELHO CEPA




VELHO CEPA
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de janeiro de 2015
Crônica Nº 1.354

CEPA. Foto: (Clerisvaldo).
Quem diria! Deixando um colégio particular tão famoso de Maceió, mas em decadência, não suportei mais de um ano naquele lugar tão esquisito. Saí levando na bagagem apenas à frustração e a certeza de um ano perdido. As únicas coisas boas que transportava dali eram as aulas do professor Douglas Apratto e o bê-á-bá filosófico do padre Teófanes.
Resolvi arriscar o 2º Ano do Curso Médio em escola pública e parti para o Moreira e Silva, chamado na época de Cepinha. Um ginásio de esporte, uma velha piscina e o casarão à frente com o título da escola, eram tudo que havia naquele imenso espaço, praticamente vazio. Foi a melhor coisa que fiz. Peguei um ensino de qualidade, bons professores com frequência regular e em dose dupla por matéria: dois professores da língua portuguesa, dois de Biologia, Dois de Física, dois de Química e assim por diante.
Sertanejo enraizado olhava o terreno vazio, largo e comprido do CEAGB e mergulhava na melancolia da saudade.
CEPA. Foto: (Clerisvaldo).
E ali, à margem da Avenida Fernandes Lima, passava o tempo com uma lentidão enervante, aguardando o mês, o dia e a hora de rever os meus serrotes, minhas serras, meu Panema e o meu cheiro de caatinga.
Dois anos se passaram. Foi construída outra piscina, reformado o ginásio, novas construções foram surgindo naquele massapê... E eu fui deixando para trás aquele colega Marcos que era doido pelas músicas de Gonzaga, o Armando que tocava piano, os três inseparáveis riquinhos, a morena indiferente e caidíssima pelo professor de Biologia, dessa vez levando um mundo de coisas boas aprendidas no estado.
O Cepinha cresceu agigantou-se, tornou-se o maior complexo educacional da Terra dos Marechais e recebeu a denominação de CEPA (Centro Educacional Público de Alagoas). Atualmente ali funciona também a Secretaria de Educação.
CEPA. Foto: (Clerisvaldo).
E hoje, ao correr atrás de uma aposentadoria rosqueada, percorro o CEPA, sem mágoas, sem saudades, sem alegria e sem tristeza. Para mim, apenas um CEPA e nada mais.





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segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

CAJUS DO SERTÃO E O POLÍTICO PESTE



CAJUS DO SERTÃO E O POLÍTICO PESTE
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de janeiro de 2015
Crônica Nº 1.353

Foto: (marluce-erem.blogspot.com)
Coisa saborosa no sertão de Alagoas é o caju amarelo. E se ele for do povoado Areias Brancas, é feito de mel.
O cajueiro (Anacardium occidentale) pode ser anão, com até quatro metros de altura ou gigante que pode bem passar dos cinco metros e, em condições propícias, chegar aos vinte.
Chamado pelos índios de “acayu”, esse fruto é riquíssimo em vitamina “C” (mais de que a laranja), contém vitamina “A” e do complexo “B”, e ainda é rico em proteínas, lipídios e carboidratos; fonte de cálcio, fósforo, ferro, zinco, magnésio, fibras, gorduras insaturadas e niacina. As suas propriedades trazem enormes benefícios à saúde.
Até a casca do cajueiro se apresenta como medicinal. O tronco produz uma resina amarela, goma do cajueiro, que pode substituir a goma arábica e é usada na indústria do papel e farmacêutica.
As flores têm propriedades tônicas. A seiva produz tinta e a raiz tem propriedades purgativas.
Cajueiro, um verdadeiro achado.
Os índios brigavam pela coleta do caju. Os negros escravos doentes ficavam meses sob os cajueiros do litoral para à cura de problemas bucais.
Mesmo assim, com essa fonte nutricional riquíssima ainda se desperdiçam cajus no sertão que ficam aos montes apodrecendo no chão, enquanto parte do mundo passa fome.
No sertão, porém, o caju vermelho não é tão apreciado quanto o amarelo. Em dez cajueiros vermelhos ou mais, aparece um caju de sabor razoável. O bicho é azedo que arripuna!
Em outras regiões, como o agreste e o litoral o caju vermelho concorre facilmente com o caju amarelo.
O certo é que os areais de solo raso do sertão, não favorecem muito essa espécie Anacardium. O caminhante passa sob os cajueiros de frutos vermelhos e nem sequer estende a mão para apanhá-los, fazendo trejeito de repulsa na boca e no pescoço.

Um matuto do sítio Pau Ferro dizia que o mau político, o safado, o mentiroso, o corrupto, o ladrão da merenda das crianças, do bem estar da saúde pública, enfim, o político peste, é tão repulsivo quanto os cajus vermelhos do sertão. A única coisa perfeita que eles carregam é a castanha no lugar exato.







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