domingo, 31 de julho de 2016

CORRER ATRÁS DE DOIS

CORRER ATRÁS DE DOIS
Clerisvaldo B. Chagas, 31 de julho de 2016
Crônica 1.554
ASSENTADOS NA PRAÇA SINIMBU. Foto (Clerisvaldo).
Vai expirando o mês de julho, o mais chuvoso do Sertão. Mas este ano julho não quis muita conversa com o sertanejo. Chuvas escassas e má distribuição permitiram apenas a seca verde, isto é, o mato enverdece, porém, não existe água o suficiente para açudes, barreiros e lavouras. E como as coisas estão pelo avesso no mundo todo, pode ser até que aconteça um bom milagre fora do inverno.
Enquanto isso vamos também com tempo escasso para crônica diária e aparecimento no Face. Munido de câmera e coragem, haja fôlego para subir e descer ladeiras em busca do ideal. Bem que estivemos na estação do VLT, na Praça Palmares e na Praça Sinimbu. Na estação, diálogo com quem entende de trem urbano, foto para livro, informações para o transporte ferroviário. Na Praça Palmares, a informalidade do comércio menor onde a mistura confunde qualquer um. Entra aqui sai acolá e a Avenida da Paz surge como representante do relevo alagoano da Planície Litorânea. Mas o grosso mesmo é o acampamento dos Assentados na Praça Sinimbu.
Ontem, “Sem Terras”, hoje, “Assentados”, aquele mundo de gente estava ali reunido para algumas palestras de interesse próprio. Representantes de Assentados de doze municípios estavam concentrados em lonas, árvores e barracas. E fomos nos aproximando devagar pela área das panelas, onde a fumaça há muito já desenhava no ar.
As palestras já estavam em pleno andamento e só ouvíamos referência à organização das elites. E essa conversa trazida desde os tempos de rapazinho nos discursos dos políticos do estado, não nos empolgava. Serviços fotográficos feitos, com os dizeres do Sertão: Capamos o gato que a desconfiança era grande. Lá adiante, muito mais adiante, nada para o segundo objetivo. Assim voltamos novamente à sabedoria sertaneja: Quem corre atrás de dois perde um.



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quinta-feira, 28 de julho de 2016

JESUS MISTURADO


JESUS MISTURADO
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de julho de 2016
Crônica 1.553

Imagem: (br.freepk). ilustração.
Você não quer ver, mas vê. Você quer ver, mas não vê. A vida vai se revelando em cada esquina e nós vamos navegando nos mistérios que se apresentam. Os momentos mais simples marcam mais na alma da gente do que os grandes feitos. Eles sempre ressurgem nos momentos de descanso e de meditação. A simplicidade sempre marcou a existência de grandes homens porque ela faz parte da sabedoria. Existem também as grandes loucuras momentâneas, cujas marcas são levadas para a eternidade. E assim vivemos entre a simplicidade e a loucura ou nossa ou dos outros. É interessante como o nosso planeta Terra acolhe essa grande diversidade de ideias. Ah! Planeta de expiação, dizem os espíritas. E nós vamos colocando a bota nos curtos ou longos caminhos que acenam com dedos dourados.
No consultório eu via aquelas duas criaturas tagarelas conversando. Uma, alta e seca, outra mais baixa e magra. Mas aquela conversa enjoada que os dois puxavam com uma senhora
que aceitou ouvir e dialogar com gosto, quase não tinha fim. O alto e seco não me agradava em nada. Homem da cobra, pernóstico, chato, cabuloso. A conversa era uma mistura de Jesus, conversa de crente e de moral diária. Com a minha exceção, ninguém ficou. Só os dois falastrões e a senhora que entrou no ramo, a ponto de desabafar toda a sua vida.
Ah! De repente a secretária chamou um nome que me alertou. O sujeito grandão levantou-se e foi lá. Imediatamente lembrei quem era o tal. Ficara famoso na mídia. Um ex-prefeito que praticara crime bárbaro contra um funcionário que denunciara suas falcatruas. Aquela vítima que foi eliminada e carbonizada dentro de um veículo, não teria sido a primeira, segundo a imprensa. Mas o monstro estava ali no anonimato ministrando moral e citando Jesus. O cabra pode até ter se arrependido do que fez. Afinal a vida é dele e não minha. Mas em um consultório médico estamos como em nosso Planeta total, cercado pela biodiversidade das mentes. E como a palavra do Mestre cabe em todos os lugares, também estava ali, mesmo vindo do monstro dos assassinatos com seu Jesus misturado.




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terça-feira, 26 de julho de 2016

OS BANDIDOS, TODOS OS BANDIDOS

Os BANDIDOS, TODOS OS BANDIDOS
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de julho de 2016
Crônica 1.552

Foto: (poa24horas).
Aqui em Maceió, amigo, só se fala em roubos e assaltos. Assaltam-se ônibus interestaduais, intermunicipais e vans que fazem os mesmos trajetos. Assaltam na Serraria, no Jacintinho, na Jatiúca, aqui não se escolhem bairros. Ninguém mais quer trabalhar. Ganhar dinheiro com o suor do trabalho honesto virou piada de mau gosto no Brasil. Ora, se os exemplos vêm de cima, como extirpar esse câncer que se apoderou da pátria. Os engravatados do poder levam o dinheiro do país inteiro e ainda dão um golpe “fia da puta” na democracia. Os acordos dos ladrões paralisam as operações de guerra contra eles e, os brasileiros, quando muito protestam nas ruas e mais nada. O silêncio volta a dominar o Brasil, mas os golpistas continuam no poder. Afinal aqui não é a Turquia, não é mesmo, camarada?
Se os poderosos dão o exemplo maior da mão grande, o que podemos esperar na saída de casa, nas ruas, nos transportes públicos? Os pedidos a Deus nunca foram tão usados nesse país que clama por Justiça e fim dos assaltos que viraram praga. É o pé de chinelo drogado matando inocentes, sem piedade nenhuma. É um rapar de direitos do cidadão comum como hospitais, escolas e liberdade, cujo fim não poderá ser bom. Invade-se escritório médico, residência, restaurantes, o diabo! O homem do povo anda atordoado, saindo com medo, sem arma, sem canivete, sem um “berro bom” porque se não a polícia toma. E quando não é a polícia é o bandido. Se a verba for pequena, o rato das grotas leva. Caso seja muito, já fica nos bolsos dos mandatários, com raras exceções.
Católicos apostólicos romanos, não acreditamos mais nesse modelo frouxo que se instalou no país da mão por cima e mãos nos bolsos. Mas quem faz as leis são eles. Os mesmos que assaltam as leis.

Os homens perderam a vergonha, camarada. Comeram-na com farinha como dizia Lampião. E como o povo brasileiro é muito rezador, talvez esteja aguardando que Jesus esgote toda a paciência que acumula. Mesmo assim, é como diz a personagem Encarnação da novela o Velho Chico: “Espero que quando Deus acabar com tudo, deixe a minha família por derradeiro”. Acho que os ratos de cima e os de baixo acreditam piamente nisso ou se consideram ladrões imortais.

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OS ARTISTAS DA NATURA

OS ARTISTAS DA NATURA
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de julho de 2016
Crônica 1.551

TRABALHO DE RONINHO. Foto: (minutosertão).
Nós que gostamos de andar pelos matos, rios, serras, vales, colinas, trilhas de bode... Sempre estamos a descortinar. Carregamos dentro de nós a alegria das descobertas e um sentimento de frustração. Frustração essa da impossibilidade de trazer a presença viva do mundo em nossos passos. Além do ar puro e do perfume da mata, enormes ou mínimas formações encantam a alma naturalista. Chega, então, a lembrança de outros tantos artistas: os que escrevem sobre a natureza, os artesãos, os pintores, poetas e mais.
Ali a nossa frente está uma árvore morta. Um dos galhos tem forma de animal e é logo percebido pelo artesão que vai extraí-lo e aperfeiçoá-lo. Adiante, um bloco de pedra mostra semelhança a um  boi. O desenhista deixa com seu pincel mágico, a figura exata do ruminante naquele lugar. Os próximos caminhantes terão uma surpresa enorme quando se depararem com o boi de pedra. Enquanto isso, compradores e apreciadores do belo estão admirando nas feiras específicas o animal de madeira.
Precisando de uma imagem rural, saímos a navegar pela Internet. Após conferir tantas e tantas ilustrações procuradas, fomos nos agradar de apena uma. Era tão bonita, tão perfeita que nos surpreendeu. Estávamos diante de um quadro a óleo pintado sobre tela. Como é que essas pessoas, homens ou mulheres, conseguem tanta perfeição numa obra terrena? Quantos olhares passam, todavia, sobre a peça e não se detêm!
Alagoas tem mais artesãos do que repentistas na Paraíba. Isso é apenas um modo de dizer, mas a quantidade de gente boa no que faz atesta o que afirmamos. Eles estão em todas as regiões do estado, mas seria uma injustiça citar apenas os que conhecemos. E diante de tantos problemas que nos cercam os artista e seus maravilhosos talentos, nos conduzem em cadeirinha de algodão. Oásis na dureza da vida!




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domingo, 24 de julho de 2016

AH! NOVAMENTE ELES!



AH! NOVAMENTE ELES!
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de julho de 2016
Crônica 1.550
ATRAÇÃO TURÍSTICA. Foto: (Clerisvaldo).

A percepção, a sensibilidade, não está nos corações de todos. É bem verdade que qualquer pessoa, qualquer ser do planeta, age como quer quando pode assim fazer. Mas um homem público tem enorme compromisso com o povo. Infelizmente a cultura da corrupção, o acomodamento particular enraizado, faz com que escapula o restinho de qualquer sentimento benéfico ao coletivo pelos imperadores que dirigem os nossos sertões.
Pois bem, em nossas andanças, estivemos no chamado curral do gado, em nossa cidade, que corresponde ao lugar da feira semanal de animais. Enquanto Dois Riachos, um lugar tão pequeno, conhecido como terra da jogadora Marta, exibe a maior feira de gado do estado e a mais famosa do Nordeste, Santana continua de cócoras. O lugar é insalubre, pequeno, sem piso, sem cobertura, sem água e sem rações para os quadrúpedes. Os gados ovino, caprino e bovino, misturam-se num espaço ridículo do tipo salve-se quem puder. O dinheiro que circula na cidade, proveniente dessa feira, não se transforma em benefício. Os animais chegam ao amanhecer e ficam sob uma temperatura altíssima, sem água fresca, sem cobertura, sem ração, sem o mínimo conforto para eles e seus tangedores. Feira de gado em Santana é feira do século XIX. E Dois Riachos vai melhorando seus currais com o auxílio do governo. Em Santana todos colocam desculpas: prefeitos, vereadores e mesmo o poder judiciário que aguarda alguma denúncia para agir. A lei de proteção aos animais não existe na terra de ninguém.
Voltamos com o nosso trabalho feito, mas decepcionadíssimos com os descompromissados.
 Encerramos a missão com uma visita à pedra do sapo, atração turística no sítio Barriguda. Aí é outra história, amigo.


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sábado, 23 de julho de 2016

NA CHÁCARA DO CIÇO

NA CHÁCARA DO CIÇO
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de julho de 2016
Crônica 1.549

SANTANA. REGIÃO PERIFÉRICA. Foto: (Clerisvaldo).
Como diz o povo: enquanto descansa carrega pedra. Mergulhado no trabalho da Geografia, ficamos sem escrever crônicas todos os dias. Mas, ontem, sexta-feira, em plena festa da padroeira Senhora Santana, fomos pesquisar na periferia. Eis que nos encontramos com o Cícero Nobre, ex-comerciante e perito em jardinagem. Levado quase à força a sua “Chácara Padre Cícero”, descemos pelo Bairro Lajeiro Grande até às margens do rio Ipanema. O homem apaixonado pelas plantas foi nos mostrando os vários compartimentos da sua propriedade em área de lajeiro e matacões. Muitas plantas de ornamentos e medicinais, inclusive, árvores robustas para produção de madeira.
E o Cícero, amante das plantas e da Natura foi mostrando os seus feitos e contando histórias as mais diversas sobre sua vida, obras, plantio, comércio e tantas coisas mais que encerramos a visita sentados num lajeado contemplando a paisagem dos arredores, fotografando, anotando, num interminável diálogo.
Além do nosso trabalho, naquela sexta-feira, Deus nos permitiu manhã agradabilíssima com lazer e missão profícua. O bornal trouxe limões e mais limões para temperar a galinha de capoeira que o Cícero teimava em nos presentear.
Sempre fomos conhecedores da região, mas não da chácara nem do espaço preenchido caprichosamente. Foi quando pudemos apreciar as belas jaçanãs fazendo festa nas “orelhas de burro” de seus dois enormes barreiros.
Para quem se levantou ao amanhecer com o céu prometendo chuva, o trabalho do dia pareceu profícuo e abençoado pelo perfume do mato verde e das boas palestras do proprietário da chácara. Em casa, a contabilidade deu altamente positiva e, como sempre, agradecemos ao Mestre dos mestres, pelo árduo se transformar em benesses.
Continua ainda, compadre, a festa da padroeira.



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sexta-feira, 15 de julho de 2016

VAMOS!...

VAMOS!...
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de julho de 2016
Crônica 1.548

PESQUISADORA GIRLENE M ONTEIRO E PROCÓPIO. Foto (Clerisvaldo).
Acertando o número embaralhado das crônicas, vamos deixando a capital rumo ao Sertão. O dia em Maceió amanheceu frio e chuvoso lembrando aquele cheirinho de terra molhada das fazendas sertanejas. O bem-te-vi urbano saudou a manhã e a nossa partida a Santana do Ipanema.
Infelizmente, a mania concentradora do homem virou cultura. Tudo tem que ser em Maceió. Documentação, saúde, comunicações, encaminhamentos gerais. Cumpridas algumas etapas, conversamos também com o senhor Procópio, inúmeras vezes presidente da AVTA – Associação de Violeiros e Trovadores de Alagoas – no Museu Palácio Floriano Peixoto. Vamos arrebanhando e tangendo os ventos culturais pelos caminhos que se descortinam. Mesmo assim estamos conduzindo ideias para mais uma fundação idealista e prática no Sertão.
A festa da Padroeira Senhora Santana, vai iniciar, comadre! Bafejada pelo inverno vacilante e os ventos mais frios do mês de julho, a cidade externa a alegria do encontro divino. Aí sim, vamos ver e escutar outros bem-te-vis que representam as caatingas, os serrotes, os rios intermitentes, os balanços de quipás, facheiros e mandacarus. É tempo de ouvir zumbidos de abelhas, concentração de nuvens e beber o orvalho nas folhas novas da laranjeira.
Agora vamos para outra etapa. Para as planuras de Canapi, os vales de Mata Grande, o São Francisco de Piranhas e as palmeiras ouricuri de Delmiro Gouveia. Vamos para o lajeado de Ouro Branco, ao bicho preguiça de Maravilha e ao sol escaldante de Pão de Açúcar. O sertão inteiro nos aguarda para a última inspeção da “Repensando a Geografia de Alagoas”. À disposição: automóveis, motocicletas, vans, cavalos e pernas. Longas pernas compridas para as trilhas escondidas da caatinga. Vamos!...




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quinta-feira, 14 de julho de 2016

SERÁ!... SERÁ, CARIÉ?


Será!... Será, Carié?
Clerisvaldo B. Chagas, 14 de julho de 2016
Crônica 1.458

INAJÁ - CARIÉ. foto (Márcio Martins-blog).
Falamos outras vezes do sofrimento do povo canapiense em relação à rodagem que liga o povoado e entroncamento Carié a Inajá. São 50 quilômetros de terra no trecho da BR-316 desde o entroncamento citado como o mais importante do Nordeste até Pernambuco, passando pela cidade de Canapi. Mais de 40 anos de promessas políticas elegeram a muitos com essa conversinha “que vamos asfaltar".
A “Estrada de Lampião”, título de outra crônica nossa, fala sobre a frequência com que o bando de Virgulino andava por aquela estrada. Canapi, cidade de gente que almeja o progresso foi sempre prejudicada pela estrada de terra. Exportar sua produção leiteira e produtos da agricultura, sempre esbarrou na poeira ou na lama e buracos da rodagem. Até motorista de táxi, cobra uma fortuna para chegar até ali. Os arredores foram se enchendo de asfalto, mas ficou o vazio de barro entre o povoado Carié que também pertence ao município de Canapi e Inajá cidade de cunho indígena de Pernambuco.
A luta do povo canapiense tem sido grande, mas esbarra sempre nas mentiras políticas enganchadas nos galhos dos mandacarus.
Finalmente, após tantas promessas que nem dá para contá-las, foi anunciado, segundo um site santanense, o início das obras para amanhã, dia 15.
No roteiro do interior não pode ficar de fora a simpática Canapi, plana, cheia de sol e oásis do viajante para o Alto Sertão. Esperamos de verdade, que a notícia não seja mais uma das inúmeras frustrações sertanejas. Em breve estaremos visitando o município, com ou sem asfalto, mas transmitindo força de luta para os guerreiros daquele município.






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quarta-feira, 13 de julho de 2016

DAS GROTAS AO PALÁCIO

DAS GROTAS AO PALÁCIO
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de julho de 2016
Crônica 1.547

CONSELHO ESTADUAL DE CULTURA. Foto (Clerisvaldo).
Depois de grotas, praias, lagoas, falésias e mangues, fomos ao Museu Palácio Floriano Peixoto. Ali iria haver a reunião do Conselho Estadual de Cultura e, uma das pautas nos interessava. Tratava-se de discussão sobre o tombamento da igrejinha de Nossa Senhora dos Prazeres, do povoado Barra do Ipanema. No local estavam vários conselheiros como a representante da Secretária de Cultura, Jaime de Altavila, Ênio Lins, representante do IPHAN, bispo de Maceió e outros conselheiros. A luta de Girlene Monteiro, filha da Barra do Ipanema, para o tombamento da igrejinha do Morro dos Prazeres, havia me conduzido até ali com sua colega altamente educada e intelectual. Estávamos enfrentando essa luta pelo tombamento e ficamos ouvindo o debate.
Finalmente o Conselho foi para a votação e o tombamento da igrejinha da foz do rio Ipanema, no Morro dos Prazeres do rio São Francisco, foi aprovado por unanimidade. Muitas palmas para a decisão, muitas palmas para a lutadora pela causa, Girlene, aplausos para esse humilde escritor nessa luta gloriosa. Aprovado na esfera estadual, temos certeza que o IPHAN também aprovará essa decisão. Queremos o tombamento e restauração daquela igreja seiscentista. Foi nessa luta que surgiu o nosso último livro ainda a ser publicado: Barra do Ipanema, um povoado alagoano.
Logo após, conhecemos o ator Chico de Assis, que nos convidou para uma entrevista em seu programa de TV. Em breve estaremos lá. Foi do nosso interesse também saber os caminhos da publicação do nosso mais recente livro, ainda em fase de acabamento: Repensando a Geografia de Alagoas e como chegar à TV com um dos nossos romances.
Aguardem, aguardem as novidades do Sertão que têm coisas boas e novas em crescimento.



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domingo, 10 de julho de 2016

O LABAREDA E LAMPIÃO

O LABAREDA E O LAMPIÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de julho de 2016
Crônica 1.546

CANGACEIRO LABAREDA (ÂNGELO ROQUE) APÓS O CANGAÇO.
Sem Psicologia, Psiquiatria ou acompanhamento, o cangaceiro Ângelo Roque, o Labareda, foi o que nos chamou maior atenção no bando de Virgulino. Suas participações na caterva – narradas pelo doutor Estácio de Lima no livro O mundo estranho dos cangaceiros – mostram a mesma personalidade de várias passagens com o bandido que não constam naquele compêndio.
Labareda mostrava ser um cangaceiro diferente. Taciturno, parecia não gostar de pertencer aquele bando. Vamos encontrá-lo com sua rudeza, um homem pensante, menos cruel de que os comparsas, supostamente ativo a respeito da vida geral e da vida que pôs nos ombros. Seus comportamentos diferenciados eram como se não aprovassem a maioria dos atos satânicos praticados pelos cangaceiros mais ferozes. Não lhe faltava coragem, isso é notório desde que tomou a vingança como seu caminho e a solidão das matas. 
Para sua sobrevivência contra as ações policiais, teve que ingressar no bando de Lampião que por ironia estava mais bem protegido das investidas. Obedecia ao chefe, mas parecia antipatizar alguns parceiros que se excediam. Comportava-se como um analista da situação nômade de todos, mas na ignorância que conduzia no bornal, não conseguia detectar essa qualidade. Era por isso, talvez, que nem se exibia e estava sempre atento ao modo de cada um.
Equilibrado até certo ponto, Ângelo Roque não era nenhum santo. Contudo, as vítimas do bando, em geral, estavam mais seguras com a sua presença se solicitado e tomando partido. Cangaceiro diferenciado, insistimos na sua condição de analista, jornalista ou escritor que vivia e não alcançava.
Ângelo Roque, o Labareda, poderia ter sido um excelente sargento de volante à semelhança de um Zé Rufino que bem se aproxima do seu modo de ser.
Resistiu com pequeno grupo até à parceria com Lampião, mas nenhum do bando ocuparia o cargo do chefão com sucesso garantido, nem mesmo Labareda.
Ângelo Roque sempre foi um cangaceiro social. Um ser retraído, humilde, valente, respeitado e observador, é isso que mostra a sua biografia.





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terça-feira, 5 de julho de 2016

É ROJÃO FIDERÁ

É ROJÃO FIDERÁ
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de julho de 2016
                                                               Crônica 1.545
Pois foi, meu amigo! Na Fernandes Lima “a bocada é quente”, diz o taxista. Corredor de trânsito mais importante de Maceió é lugar onde acontecem as coisas. Mas quem foi Fernandes Lima? Lima foi governador de Alagoas no início da década de vinte. Certa vez adoeceu e passou seis meses afastado do cargo. Foi substituído nesse período pelo ex-intendente de Santana, padre Capitulino. Este aproveitou o aconchego da cadeira e promoveu a vila de Santana do Ipanema à cidade. Para complementar, Capitulino era filho de Piaçabuçu e veio a falecer já afastado da política, na Igreja de São Benedito, em Maceió, logo após a missa celebrada por ele.
Voltando a Fernandes Lima, tudo parecia tranquilo quando ouvimos pelo menos um tiro no meio do trânsito. Os passageiros do ônibus ficaram apavorados e muitos quiseram se estirar no piso do veículo. Da cadeira da frente, vimos um cabra escorregar da moto e se esparramar no asfalto. O motorista do ônibus grita: “é ladrão! É ladrão!” Mesmo assim não botou o busão por cima do bandido. O cabra, visivelmente apavorado, levantou-se da pista, conseguiu erguer a moto e a saiu empurrando por uns vinte metros. “óóó!...” exclamavam os passageiros. E o motorista repetia: “é ladrão, é ladrão”, mas nada fazia. O cabra da moto conseguiu montar, ainda de capacete branco, retornou um pouco e desembocou em rua transversal. Quem dera o tiro? Logo passou o carro da polícia, mas ninguém sabia para onde. Uma velhinha falou: “Devia matar essas pestes tudinho, ora já se viu!”.

Cada passageiro teve o direito de falar o que bem quis na linguagem bonita nordestina de revolta. Antes de descer do bichão ainda ouvimos um aposentado de bigode e chapeuzinho tipo “venha cá meu co...”, dizer como se a coisa não tivesse mais jeito no país: “É parada fiderá”...

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domingo, 3 de julho de 2016

JEGUE, JUMENTOS E COISA E TAL

JEGUES, JUMENTOS E COISA E TAL
Clerisvaldo B. Chagas, 4 de julho de 2016
Crônica 1.543

Foto: (proagri).
Pesquisando pelos mangues, falésias, restingas e lagoas, não deixamos de cruzar inúmeras vezes pelas rodovias modernas do estado. Tanto nas rodovias da Planície Litorânea, quanto nas do Baixo Planalto dos Tabuleiros, nos deparamos com jumentos nas pistas. E o jegue, já se sabe, não liga para buzinas e nem para palavrões. Dizem que o Equus asinus é pré-histórico. A suspeita é que o jumento do Brasil tenha vindo do norte de África.
O bicho que tanto serviu pelos sertões, hoje se acha desvalorizado e custa apenas um real. Foi trocado modernamente pelo trator, moto e camioneta. Vive pelas estradas, ignorados pelo governo e cobiçado pelos espertos para abatedouros clandestinos. Um país que tanto fala em proteger os animais esquece-se do asno forte, paciente, trabalhador e viril.
Na década de 60, em Santana do Ipanema, o povo admirava os dois enormes jumentos Pegas (ê) do comerciante Isaías Rego, fazendeiro e panificador. Todas as tardes os dois animais devoravam os pães boias, colocados em caçuás na calçada da padaria. Nós também admirávamos a força de um jegue Canindé em nossa fazenda no pé da serra da Camonga. Menor do que o jumento Pega, pelagem marrom e desempenho de trem de ferro. Fazenda sertaneja sem jumento e carro de boi, não tinha prestígio. Lembramos também de uma farra que certo “coronel” fez e convidou os amigos para um almoço. Somente depois da refeição, levou a prova do crime para os convivas. Tratava-se de carne de jumenta. Elogios e vômitos foram apresentados sob gargalhadas do “coronel” matador de gente.
Enquanto os jegues vagueiam sem destino, surge solução esdrúxula de outro jegue sádico de dois pés que escapou da récua.
 E se ninguém nunca assaltou montado num jumento, sua substituta, a moto, tornou-se a campeã brasileira dessa fuleragem.
Quanto ao modo de despachar os vivos, o jegue mata parado, a moto, correndo!



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sábado, 2 de julho de 2016

OS RIOS DE ALAGOAS PEDEM SOCORRO

OS RIOS DE ALAGOAS PEDEM SOCORRO
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de julho de 2016
Crônica 1.542

RIACHO REGINALDO /SALGADINHO. Foto (Clerisvaldo)
Pesquisando para o livro “Repensando a Geografia de Alagoas” – após elaboração de texto sobre os riachos de Maceió – fomos fotografar o Salgadinho. O mais famoso curso d’água da capital, o Reginaldo, recebe a denominação de Salgadinho ao passar pelo Bairro do Poço. Através de canal, joga suas águas na praia da Avenida da Paz, em pleno centro da cidade. Recebe influência das marés e ora se apresenta cheio, ora quase seco.
Milhares de famílias habitam seu vale chamado de Grotas, receptoras de esgotos e lixo doméstico. A sujeira no baixo Reginaldo pode ser vista ou não a olho nu, conforme o dia. Durante a nossa presença o Salgadinho estava cheio, não boiava lixo e, a foto para o livro até ficou parecida com cenário do Canadá. Linda! Dirá alguém sem saber que hoje aquilo é um esgoto a céu aberto.
Havia um rapaz de boa aparência com uma banca na margem  esquerda do riacho. Vendia bolos e outros produtos comestíveis à sombra de uma das inúmeras árvores do trecho. Perguntou sobre a finalidade das fotos, explicamos e dissemos que o riacho parecia limpo. O vendedor disse que tinha dias que estava assim. Comentei que se todos tivessem consciência não jogariam lixo no córrego. Ele concordou. Mas ao deixar o lugar percebi o lixo deixado pelas suas vendas que descia pela barranca do Salgadinho. O rapaz utilizava a sombra da árvore, o ponto estratégico do riacho e não tinha por ali nem uma lixeira bolsa plástica para os clientes. Fala-se do governo, mas o povo também é culpado pela poluição que domina o mundo.
Todos os rios importantes de Alagoas estão agonizantes: Mundaú, Paraíba do Meio, Ipanema, Traipu... Todos, todos com exceção dos que se acham protegidos como mananciais ou reservas. Desmatamento, veneno, esgotos, lixo doméstico, estão acabando com as nossas riquezas hídricas, inclusive com o pai de todos: o rio São Francisco, denunciado em novela.
A campanha de Maceió “não jogue lixo na rua”, parece dizer que jogue nos córregos. Representa apenas 5% por cento ou menos do que precisa ser feito... Sei não... Parece até que os crentes estão certo: Só Cristo salva.



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