segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

PÃO DE AÇÚCAR CONHECE?



PÃO DE AÇÚCAR CONHECE?
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de janeiro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Foto: (Culturaeviagem).
 Crônica 1.627

IGREJA MATRIZ DE PÃO DE AÇÚCAR

Quedo-me diante da foto da igreja e deixo desfilar imagens sacras sanfranciscanas. Os olhos dançam diante do casario de Pão de Açúcar e vou buscar o gesto do meu saudoso professor de Geografia Alberto Nepomuceno Agra. Coloco as mãos para trás e apenas balanço a cabeça para cima e para baixo em sinal de aprovação. Pão de Açúcar tem história, muitas histórias, inúmeras histórias.
Desde quando os índios Urumaris receberam terras de D. João VI e chamaram o lugar de Jaciobá (Espelho da Lua), rolam as narrativas encantadoras. E com a invasão dos Chocós; morro do Cavalete imitando forma de fazer açúcar; visita de D. Pedro II com narrativa registrada; lorotas sobre Lampião; sítios arqueológicos artesanato e lazer chega uma vontade danada de passar uma semana pesquisando e descansando nas águas do Velho Chico.
Cidade plana, casario tradicional, bares na orla, bancos de areia e violão à noite. Terra de músicos e intelectuais. Lembra-me o escritor Aldemar Mendonça (Efémerides de Pão de Açúcar) Seu Dema e, com ele lançando o meu primeiro livro, o romance “Ribeira do Panema”. Presentes o prefeito, o escritor Etevaldo, o professor Guimarães.
Muito me impressionou a Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus pela sua beleza arquitetônica, característica imponente dos templos católicos do Baixo São Francisco.
Uma visita ao Cristo de braços abertos olhando o rio à jusante deixou-me cansado, mas feliz. E as conversas sobre as piranhas que frequentam as águas locais, vão excitando a imaginação.
Quando solteiro, diante do calor intenso na cidade ─ dizem que é a terceira mais quente do Brasil ─ meu pai jurou nunca mais colocar os pés ali. Por outro lado, fez o mesmo com Garanhuns após pegar um frio de arrancar a pele.  
Fiquei apaixonado pelo lugar a partir da minha primeira visita. Pão de Açúcar nunca me negou fogo. Conhece?






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sábado, 28 de janeiro de 2017

CLIMA BOM, DINHEIRO PESTE



CLIMA BOM, DINHEIRO PESTE
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de janeiro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.626

BEBEDOURO/MANIÇOBA. Foto: (Clerisvaldo).
Quando a elite tomou conta do centro das cidades, a plebe foi escorraçada à periferia. Seguindo o velho ditado “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”, os miseráveis foram-se distanciando pelas áreas insalubres cem por cento arriscadas. Assim ocuparam os morros, margens de rios, encostas, mangues, bordas e sopés de barreiras. A grande maioria das tragédias causadas por chuvas e enchentes é proveniente dessas condições jamais solucionadas na totalidade.
Mesmo assim, em muitos lugares do Brasil, os pobres ficaram em lugares privilegiados pelos cenários ou pelo clima. Os ricos e empreendedores mobiliários vêm invadindo esses lugares para construções de hotéis, mansões e conjuntos habitacionais.
Em Maceió, chama atenção o bairro que se formou no tabuleiro e que pega a ventilação de área baixa e de reserva ambiental. A pobreza ainda é grande, mas o lugar foi batizado de Clima Bom. Baseado ou não nessa localidade criou-se pela própria natureza, também em Santana do Ipanema, Alagoas, o Bairro Clima Bom, por trás do outro (Barragem), ao longo da BR-316. A parte mais alta é bem ventilada e agradável atestando o clima. Agora, imaginem a pobreza que impera por ali. Uma visita rápida ao Clima Bom, nos últimos dias, constata a mesma miséria de 20 anos atrás. Até a igreja da comunidade, iniciada com muita movimentação, nunca passou das paredes, agora caída pela metade. Chão de terra, lixo, esgotos a céu aberto, não se vê um único benefício público.
Mas não é somente o Clima Bom. É de cortar o coração o que se constata na periferia. Como foi dito, nada mudou em vinte anos: Panelas vazias na Rua da Praia, Bebedouro, Maniçoba, Conjunto Marinho, Conjunto Eduardo Rita, Clima Bom, Pedrinhas e parte da Lagoa do Junco, retrato do Brasil corrupto que mata seus filhos de fome.
Três adolescentes no Clima Bom, cada qual com uma boneca de carne nos braços, aguardando ajuda da pessoa que me acompanhou. Nada em casa para comer e nem beber.
Meu Deus, que Clima Bom e que dinheiro peste!



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quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

A NATUREZA AGRADECE



A NATUREZA AGRADECE
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.625

Exemplar da Mata Atlântica. Foto: (Governo).
A Natureza agradece sim, a boa notícia sobre desmatamento zero na Mata Atlântica de São Paulo e em mais seis estados. Mas criou-se uma mística em torno da Mata Atlântica (Floresta Tropical) e da Floresta Equatorial (Amazônica) que tem prejudicado outros biomas. Quer saber? É só a fiscalização passar o olho nos quintais das padarias do interior. Pátios cheios de material nobre da caatinga.
Mas a boa notícia oriunda de São Paulo faz-nos refletir não somente sobre as planuras da caatinga, mas as áreas de encostas de inúmeras serras importantes do sertão do Nordeste. E como exemplo da nossa própria terra, apontamos Gugi e Poço.
Serra do Gugi, outrora oásis, uma Zona da Mata dentro do Sertão nas proximidades do povoado São Félix. Imortalizada também pelo escritor santanense Oscar Silva (Fruta de Palma) foi descrita como um paraíso que Deus deixou no mundo. Além das cigarras cantadeiras em árvores gigantes, frutas como jabuticabas, mangas, sapotis e até mesmo cana-de-açúcar com seus engenhos banguês não resistiram aos novos tempos.
A serra do Poço, avistada do centro de Santana do Ipanema como um grande muro de 500 metros de altura, abastecia a cidade de frutas. Rodeada de mata robusta de encosta à semelhança do Gugi, estendia seus pomares no topo que se estirava até o município de Poço das Trincheiras. Nas feiras semanais de Santana era bastante afirma que a laranja, a jaca, a banana ou mesmo a fava e o feijão guandu eram originários da serra do Poço. Garantia forte de japonês.
O desmatamento em ambos os lugares são as notícias contrárias às anunciadas acima. Complementa a tristeza, a descendência dos serranos que trocaram as alturas pelas luzes da cidade. Os velhos sem os familiares no campo deixaram de produzir. E os frutais que não foram renovados ficaram caducos e isolados em nova paisagem devastada. Das lembranças coloridas restam somente as altitudes do Poço e do Gugi. Uma recordação chorosa.


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segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

VERDE E ARRISCADO



VERDE E ARRISCADO
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de janeiro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.624
Manoel Celestino das Chagas. Foto; (Clerisvaldo).

Pensando bem, se Lulu Félix o maior mentiroso de Santana do Ipanema em todos os tempos ainda fosse vivo, na certa falaria agora sobre sua propriedade rural. Homem de bem, baixinho e elegante, mentia pela arte de mentir, sempre mantendo a serenidade de quem tem crédito na praça. Nessa malvada seca que destempera quase todo o estado, Lulu estaria vendendo em casa ovos cozidos e galeto assado pelo Sol.
E foi em seca semelhante que um sujeito vindo dos campos do Riacho Grande, entrou na loja de tecidos de meu pai. Fez algumas compras, mas depois cismou em escolher um pano verde para fazer uma camisa. Nenhuma peça agradou ao paciente e irritante freguês. Estando pertinho, vi meu pai usar de todos os argumentos para desviar a ideia fixa do homem pela cor da bandeira nacional. Não houve jeito. Só o verde interessava. Derrotado pela férrea vontade do matuto, o dono da loja apelou para a última cartada: “Olhe que o tempo é de seca total. Verde no campo tem somente juazeiro e papagaio. O senhor corre um grande risco, pois se um jumento o avistar de camisa verde vai pensar que é pasto e o estrago estar feito”.
E o cabra, com a mesma mansidão na fala desde o início, afirmou arrastando a língua: “Mas eu só quero verde, Seu Manezinho, vou correr o risco”.
E diante do espelho vou trazendo para hoje a presença de Lulu Félix, de Manoel Celestino das Chagas, para enquadrá-los nessa estiagem cujas turinas de Batalha estão dando leite em pó.
Mas, qual é a camisa do momento? Vou sair com a preta, a branca, a vermelha ou a verde? Verde! Verde no Sertão só juazeiro, papagaio e eu... Zapt! Jogo a camisa longe e dessa vez vingo meu pai perante o roceiro: Correr perigo diante de jegue pai de lote! Estou fora, Jerusa!

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domingo, 22 de janeiro de 2017

AJEITANDO OS MALOTES



AJEITANDO OS MALOTES
Clerisvaldo B. Chagas, 22/23 de janeiro de 2017
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.623
Foto: (Clerisvaldo).

Quando os pardais se agitarem no telhado; quando o bem-te-vi estridular no olho do pau; quando o galo carijó pular na estaca do paiol, a pequena equipe geográfica vai cair no oco do mundo.
 A direção não é mais para o Alto Sertão Delmiro/ Moxotó. O rumo é caatinga, agreste, baixo São Francisco.
Numa programação seriada e periférica vamos à ravina do riacho João Gomes, Batalha e fazendas, açude de Jaramataia, serrote do Japão, Arapiraca, lagoa Pé Leve, várzeas de Igreja Nova/Porto Real de Colégio, Penedo e Pontal da Barra em terras de Piaçabuçu. E numa volta de alto nível, São Sebastião, Junqueiro, Anadia, Boca da Mata, Maribondo, serra do Ouricuri, vale do rio Porangaba, serra das Pias, serrotes do Cedro e do Vento e assim por diante.
Mês de janeiro em pesquisa de campo é favorável em vários aspectos. Mas o Sol valente que não larga o plantão costuma partir o sujeito em dois. Chapéu à cabeça e um botijão d’água completo nas rampas das serranias, sombra de quixabeira é miragem de caminhante.
Quando o jumento ornejar na hora aprazada; quando gemer a rolinha fogo-pagou; quando o gavião baixar dos céus e quando a sombra chegar à barriga do cavalo, é sinal de estômago vazio. Acampar!!!
E por aqui, amiguinhos, no Sertão afogueado do Ipanema, nem sinal de chuva! Nimbus e Cumulos não surgem mais.  Olhos grudados lá pra cima, sertanejos como nós ainda montam na esperança de robustos e temerários trovões; afinal, dizem os mais velhos: “trovoada de janeiro tarda mais não falha”. Quem sabe!
Vamos à FOZ?



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