sexta-feira, 31 de julho de 2020

ENTREGANDO JULHO

Clerisvaldo B, Chagas, 31 de julho de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.357

 

     

MONTES E CAMPOS VERDES NO SERTÃO ALAGOANO ( FOTO: B. CHAGAS

Julho entrega o comando ao mês de agosto, bem molhado. Choveu quase todos os dias de julho em Santana do Ipanema e região. É verdade que foram chuvas moderadas e contínuas, um mês atípico, pois, julho sempre foi o mês de chuvas encorpadas que chegam ao topo da escala. Os ventos também foram moderados e a temperatura não desceu tanto aos 13 graus como em anos anteriores. Mas o que o sertanejo quer mesmo é chuva e esse tema nunca deixou de ser a conversa de rotina. É ela quem traz a riqueza para os rebanhos, para hegara lavoura, para o homem. A preocupação dos proprietários rurais é sempre se essas chuvas vão juntar água nos barreiros, nos açudes, o suficiente para atravessar a primavera e boa parte do verão. Os órgãos noticiosos, porém, não publicam essas informações, deixando a desejar os detalhes do inverno na região, trazendo de volta os esclarecimentos de boca a boca, entre os moradores do semiárido alagoano.

Vem aí o mês de agosto, para muitos o mês do desgosto, dos cães raivosos, da pesca ruim, das grandes tragédias. Mas, para outros, um mês igual a aos demais, todos abençoados pelo Grande Arquiteto do Universo. No Sertão sempre teve na sua primeira quinzena uma concorrência forte com a frieza de julho. Um mês em que os que atrasaram no plantio, correm o risco de perder lavoras de feijão com frio e com a lagarta. Mesmo assim o Sertão está verde formando um paraíso na terra. Ainda tem gente colhendo milho maduro e fazendo aqueles pratos irresistíveis que os meses juninos proporcionam.

Boa parte do Alto Sertão de Alagoas já usufrui das águas do Canal do Sertão, o que assegura a sobrevivência o rebanho nos meses mais difíceis. Pelo que se sabe, o Canal que está em São José da Tapera, estará deixando o alto sertão para atravessar alguns municípios do médio sertão pelo núcleo da Bacia Leiteira e logo adentrará à região Agrestina das Arapiracas. Não se vê mais gado morrendo de sede como acontecia no passado. Chegamos de fato a um Nordeste novo e cheio de esperanças e sem regresso.

Deus há de nos abençoar também no mês de agosto. Joelho no solo e Jesus no coração. Sarava! Amém, amém.

 

 

 

 

 



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quarta-feira, 29 de julho de 2020

1938


1938
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de julho de 2020
Escritor Símbolo do sertão Alagoano
Crônica: 2.355

IGREJINHA E QUARTEL DE POLÍCIA, ANOS 40. (FOTO: LIVRO 230,
 DOMÍNIO PÚBLICO)
No dia 28 de julho de 1938, chegava a Santana do Ipanema, proveniente da cidade de Palmeira dos Índios, o interventor intendente para tomar conta da prefeitura local. Seria apenas uma substituição de rotina, com recepção morna, indiferente. Mas, nesse mesmo dia, o major Lucena Maranhão que estava almoçando com o novo interventor, recebeu um telegrama afirmando que naquela madrugada três volantes alagoanas surpreenderam e mataram onze cangaceiros na Grota de Angicos, em Sergipe. Lucena chorou emocionado, a notícia correu mundo: Mataram Lampião!!! Mataram Lampião!... A festa preguiçosa do interventor rapidamente transformou-se em euforia. Povo nas ruas, bebendo, pulando, discursando... Numa confraternização prolongada e quase eterna.
Chegaram rapidamente multidões de Alagoas e de vários estados do Brasil, repórteres até mesmo do estado do Rio de Janeiro. Quando as cabeças dos onze cangaceiros mortos chegaram a Santana – inclusive a de Lampião e Maria Bonita – houve discursos, fechamento do comércio, desfile de cabeças e apetrechos apreendidos, em caminhões. O novo interventor chegara com o pé direito. As cabeças dos mortos foram exibidas em latas de querosene, puxadas pelos cabelos. Porém, na segunda fase, foram organizadas em um lençol branco estendido nos degraus da igrejinha de Nossa Senhora da Assunção, defronte o Quartel. Fotos entrevistas, discursos e bebidas minavam em Santana do Ipanema. Tudo só voltou ao quase normal, quando as cabeças foram transportadas para Maceió, via Palmeira dos Índios.
O interventor Pedro Gaia, assumiu o cargo, fez a primeira reforma da prefeitura e, entre outras coisas, abriu a estrada Santana do Ipanema – Águas Belas, Pernambuco, no roteiro Poço Salgado, Camoxinga dos Teodósio, Pinhãozeiro, zona rural do município em foco. Sua gestão durou apenas um ano, quando Pedro Gaia retornou a Palmeira dos índios.
Depois, o Batalhão de Polícia retornou a Maceió deixando o prédio ocioso e que foi transformado em escola com o nome de Ginásio Santana. A igrejinha de Nossa Senhora Assunção, monumento de passagem do século XIX para o século XX, continua impassível e imponente na praça que tantas vezes mudou de nome.
Falta a história de Santana no currículos escolares.




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segunda-feira, 27 de julho de 2020

SANTANA E A FEIRA DA FARINHA


SANTANA E A FEIRA DA FARINHA
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.354

MERCADO DE CEREAIS PRECISANDO REPAROS, EM 2013.
(FOTO: LIVRO 230/B. CHAGAS)
Farinha de mandioca sempre foi mercadoria gostosa e sem valor comercial. Nos tempos de muita mendicância nas ruas, era o principal produto para os esmoleres. Aplicava-se a denominação de farinheiro ao cidadão que vendia farinha, deixando bastante gente conhecida com esse falso sobrenome. Em Santana do Ipanema, a farinha era vendida em sacos brancos com bocas arregaçadas, em qualquer lugar das feiras livres. Depois os farinheiros ficaram juntos, pela organização da prefeitura, mas ainda no meio da turba. Assim foi criada pelo povo, a expressão “feira da farinha”.  A aglomeração foi dividida por títulos e lugares: feira da farinha, feira das panelas, dos porcos, dos mangalhos, das frutas, do fumo e assim por diante. Mas foi feita outra mudança na feira e os farinheiros passaram a vender a farinha de mandioca, em casa de esquina no início da Rua Tertuliano Nepomuceno (defronte ao hoje mercadão Todo Dia). Houve estranheza do povo. Todos os farinheiros num salão só, na casa, talvez comprada pela prefeitura e cedida para esse fim. Antes, ali funcionava uma barbearia.
Mais tarde foi construído pela gestão do prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, o Mercado de Cereais, em terreno baldio no bairro monumento por trás do, então, Hotel Santanense, de Dona Beatriz, entre 1960 e 1970. O povo estranhou mais ainda, por ficar o lugar muito distante do centro de compras. Mas, o próprio Mercado ajudou a estirar a feira de baixo para cima chegando à sua calçada e ruas próximas. O Mercado de Cereais passou a negociar também feijão e arroz. Depois foi criado um compartimento para vender peixe.  Muitos farinheiros deixavam seus boxes para colocar a mercadoria no corredor de entrada do Mercado, na ambição de vender, dificultando o tráfego de pessoas.
Vários farinheiros se destacaram pelo tempo na profissão, entre eles, os irmãos Camilo: Valdemar, Agenor, José e seu filho Bilola (ô) que depois virou soldado de polícia. O Mercado continua de pé, sofrendo desgastes, mas resistindo ao tempo vendendo farinha.
A mandioca não dá em todo tipo de terra. Mas, dos agricultores que trabalhavam com esses roçados, muitos deixaram o plantio da mandioca e até casas de farinha modernas, cerraram suas portas. Entretanto, vindo dos quatro cantos do mundo, a farinha continua chegando à cidade. E quando o sujeito não presta é chamado no sertão, de farinha: “Aquilo é um farinha”.
E o terreno baldio em que se armavam os circos que chegavam à cidade, passou da alegria temporária ao mister de matar a fome dos seus antigos espectadores.
                                                             










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domingo, 26 de julho de 2020

SEMANA E CASO DO PADRE CÍCERO


‘SEMANA E CASO DO PADRE CÍCERO
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.353

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Contando caso acontecido nos sertões nordestinos.
Seu Guilherme, baixinho, branco e de idade avançada, não perdia um ano sem ir a Juazeiro do Norte, a pé. Morava no Bairro Lajeiro Grande e zelava a igrejinha do padre Cícero no lombo do lajeiro. Aqueles que tinham a coragem do senhor Guilherme, enfrentavam em torno de 500 km por todos os tipos de estradas, sol, chuva, animais selvagens, sede e cansaço nessa estirada de pedras e areias.
Quem já caçou no sertão, lembra da espingarda “soca-tempero”.   Assim chamada porque carregava pela boca. A pólvora, o chumbo, a bucha de corda velha eram socados pela vareta – acessório metálico da arma. Após, levantava-se o cão e colocava-se a espoleta. Estava pronta para o tiro. O chumbo grosso ou fino dependia do porte da caça. A pólvora era guardada pelo caçador em uma cabacinha natural, fruto do cabaceiro. Muitos envernizavam caprichosamente esse depósito que era tampado com pedacinhos de madeira ou sabugo. O chumbo era armazenado em um saquinho de tecido especial com saída arredondada e metálica, chamado chumbeiro. Motivo de apelido para pessoas de boca pequena e redonda: boca de chumbeiro. Em Santana do Ipanema, comprávamos pólvora em embalagem cilíndrica no armazém do senhor Marinho Rodrigues, no “prédio do meio da rua” ou na mercearia do senhor Manoel Vieira, no beco do Mercado de Carne onde hoje é o supermercado Todo Dia. Chumbo também. 
Um grupo de romeiros se dirigia a Juazeiro, a pé. Parou numa casa pediu rancho (pousada).  Durante a madrugada, um deles viu atrás da porta uma cabacinha de pólvora, pendurada. Era tão formosa que ele não resistiu e carregou o objeto. No outro dia, o grupo prosseguiu viagem. Uma vez em Juazeiro, providenciaram as coisas de praxe e na volta foram pedir conselhos e bênção ao padre Cícero. Este aconselhou ao grupo, mas, na saída, chamou um dos componentes e disse: “Amiguinho, quando vocês voltarem e dormirem na casa do senhor Fulano de Tal, deixe a cabacinha no mesmo canto em que você pegou”. Fato narrado no livro que mudou a minha vida: “O Patriarca do Juazeiro”.
Na cidade de Ouro Branco, sempre é formado um grupo de romeiros que continua a tradição. Não temos mais essa força, porém, conhecemos pessoas em Santana do Ipanema que há pouco enfrentaram esse desafio. Os motivos da caminhada são diversos, mas sempre tendo como pano de fundo algo difícil de conquistar ou já conquistado pela fé através do milagreiro cearense.
Seu Guilherme, se fosse vivo, ficaria bastante desgostoso em saber que no Lajeiro Grande substituíram sem coração o santo popular do credo sertanejo.
Cícero é obra de Deus e será sempre um vencedor.





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quinta-feira, 23 de julho de 2020

PADRES DA PARÓQUIA DE SANTANA


PADRES DA PARÓQUIA DE SANTANA
 Clerisvaldo B. Chagas, 24 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.352

PADRE JACYEL (COM LIVRO À MÃO) E ESCRITOR
CLERISVALDO B. CHAGAS. (FOTO: MARCELLO FAUSTO).
Ao completar mais uma noite de festejos em homenagem a nossa padroeira, o livro “o Boi, a Bota e Batina; História Completa de Santana do Ipanema”, mostra que alguns padres se destacaram   em tempos idos em nossa região. Entre eles, o evangelizador primeiro padre Francisco José Correia de Albuquerque, cujas virtudes e feitos deslumbravam um futuro cheio de êxito para o nosso catolicismo em terras da Ribeira do Ipanema.
De 1884 a 1888, tivemos o padre Teotônio Ribeiro e Silva, natural de Traipu. Foi ele quem escreveu a biografia do padre Francisco Correia, tudo que se tem até hoje. Era poliglota de muitas línguas, uma surpresa em sabedoria numa época tão difícil.
Tivemos ainda o padre Veríssimo da Silva Pinheiro entre 1888 a 1892, tudo indica, substituto de Teotônio. Foi ele quem construiu o primeiro cemitério da Santana do Ipanema na parte alta, espaço atual entre a Igreja Sagrada Família e a EMATER.
Foi também padre em nosso município, Manoel Capitulino de Carvalho, natural de Piaçabuçu, terra ribeirinha do São Francisco. Permaneceu entre 1898 a 1919. Entrou na política chegando a ser “prefeito” de Santana. Foi ele quem fez a primeira reforma da igreja fundada pelo padre Francisco Correia. Foi governador interino de Alagoas e elevou à cidade a vila de Santana. Ainda construiu a igrejinha de Nossa Senhora da Assunção como marco de passagem de século.
Padre José Bulhões, 1919 a 1952, filho de Entre Montes, povoado ribeirinho do São Francisco. Fez a segunda grande reforma da igreja central, deixando-a como hoje se apresenta no todo. Adoecendo perto do final da obra, foi auxiliado pelo padre Medeiros, de Poço das Trincheiras.
Destaque também para o padre Luís Cirilo Silva, 1951 a 1982, sendo natural da serra da mandioca em Palmeira dos índios. Oriundo de linhagem holandesa. No seu período o teto da Igreja Matriz veio abaixo, faleceu pouco tempo depois e a igreja sofreu uma grande reforma interior.
Padre Delorizano Marques, construiu o santuário Guadalupe, marco do século e reformou a Matriz que era de estilo tradicional. Delorizano era natural de Major Izidoro.
Atualmente, comanda a paróquia de Senhora Santana, o padre Jacyel Soares Maciel, santanense do sítio Olho d’Água do Amaro, o que representa motivo de orgulho para a “rainha do Sertão.






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quarta-feira, 22 de julho de 2020

LUTA DE LEÃO, PARABÉNS OLIVENÇA


LUTA DE LEÃO
PARABÉNS OLIVENÇA
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de julho de 2020
Crônica; 2.351

DESFILE RUDIMENTAR EM OLIVENÇA (FOTO: SERTÃO 24 HORAS).
Batalha renhida de quatro anos para atingir o canudo da Geografia Plena. Cada ano um drama que, se contado em livro causaria muita emoção ao leitor. Mas, para chegar ao objetivo do título acima, basta a narrativa do ano final de licenciatura curta.
Rodando para Arapiraca pelo terceiro ano seguido, houve até uma amenização sobre os dois primeiros. Juntamente com as colegas professoras Elza Soares, Neide Damasceno e seu esposo Renan, como proprietário e motorista do veículo, partíamos de Santana do Ipanema ao entardecer e retornávamos às madrugadas.
Na faculdade cada qual estudava em classes diferentes. Como sempre fui um Ás em Geografia, os mestres não me deixavam sair antes da última aula para acompanhar mais cedo os colegas viajantes, de saída. Ficava ali ouvindo os professores: juiz Dr. Barreto ou o professor Rildo; ambos de Geografia, que somente faziam a chamada após o término das aulas. Lutando pela presença não tinha como escapar. Eram ótimos. Mas muita coisa eu já sabia. Castigo pelo destaque em mais de 50 colegas.
Ao deixarmos o prédio da faculdade após às 23 horas, íamos comer uma galinha assada e apimentada, com farofa nos bancos de praça da rodoviária, igualmente aos sem-tetos. A professora Elza Soares descobrira uma senhora que vendia àquela delícia e passara a ser cliente. Tudo esquisito na praça, apenas nós matando a fome com a “penosa”. Barrigas cheias, hora de retornar a Santana. Muitas vezes era mais de meia-noite e partíamos pela estrada deserta.  Chegando em Batalha teríamos de continuar por Olho d’Água das Flores. Então, para cortamos caminho, entrávamos por estrada de terra vicinal, péssima, daquelas capazes de quebrar os ossos com tantos catabius (raramente estava em condições de tráfego) e chegando em Olivença, novamente retornávamos ao asfalto. Ao chegar à terrinha era sempre madrugada.
Eu seguia pensando pela estrada de terra, se algum dia um dirigente iria enxergar aquele atalho Olivença - Batalha e providenciar asfalto para encurtar distância até Arapiraca. Terminei meu Curso e parti para novo roteiro de Geografia Plena em Arco Verde, Pernambuco. Também daria um livro essa luta leonina para o topo, mas aí é outra história. Os caminhos de terra de Olivença ficaram esquecidos até o atual momento, quando vejo com surpresa e regozijo que o governador iniciará por esses dias a estrada moderna Olivença – Batalha, nosso sofrido roteiro de tantas ansiedades pelas noites quentes ou geladas nas trevas do Sertão.
PARABÉNS OLIVENÇA! Talvez o asfalto não sirva mais para mim, mas ficará eterno para o conforto de milhares e milhares de sertanejos ou não. Sonho a ser realizado hoje, do futuro de outrora.
Bem dizem os mais velhos: Tudo tem o seu dia.
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terça-feira, 21 de julho de 2020

ESPAÇO CUMMER


 ESPAÇO CUMMER
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.350

Com o êxito total alcançado na manutenção da Feira da Agricultura Familiar, em Santana do Ipanema, foi lançada uma ideia simples, mas de ótimo efeito gastronômico. Ouvi inúmeras pessoas se convidando para o “Espaço Cummer” e me perguntava na solidão do confinamento, o que tem de tão gostoso nesse espaço criativo? Consultei, então, o Secretário de Agricultura, Meio Ambiente e mais uma porção de coisas, agrônomo Jorge Santana, que me respondeu o seguinte:
O Espaço Cummer é uma referência matuta ao Gourmet. Foi uma iniciativa de Dona Rosa, feirante do sítio Serrote do Bois, quando sugeriu trazer para vender na feira, galinha de capoeira já cozinhada e xerém de milho. Abraçamos a ideia e hoje é um sucesso com cardápio variado: mocotó, sarapatel, galinha de capoeira, acompanhado do melhor xerém de milho bem como cuscuz e arroz diretamente da roça, sabor puramente sertanejo que nos remete aos tempos dos nossos avós”.
Assim o antigo xerém dos tempos idos, volta com tudo no Espaço Cummer, para todos os apreciadores da comida grosseira, forte e deliciosa das roças sertanejas. 
A Feira Camponesa cresce e faz circular o dinheiro nas mãos dos agricultores, na zona rural, no Comércio e nas prestadoras de serviços do município inteiro. Aumenta a renda do homem da roça, oferece produtos de qualidade à população, corta o atravessador que promove alta de preço, além de oferecer um ambiente saudável, camarada e dignamente festivo.
Tudo isso acontece todas às sextas, diante da EMATER e vizinho à Caixa Econômica. A limpeza e a forma como são apresentados os produtos, atrai o cliente para essa agricultura sem veneno. Já vimos por ali produtos especiais para o nosso tempo como banha de porco, ovos de capoeira, mungunzá e mel de abelha. Aliás, a Feira Camponesa, dá um exemplo de organização moderna, desde a padronização das barracas a uma higiene que você raramente vai encontrar na feira tradicional. Esse modelo veio para ficar. O comerciante da feira do sábado que adotá-lo sairá na frente por um comércio mais enxuto, mais robusto e mais confiável.
Sinto ainda não puder provar o xerém com galinha de capoeira de Dona Rosa e fincar os dentes em tantas guloseimas feitas na zona rural.
(FOTOS; JORGE SANTANA)




 


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segunda-feira, 20 de julho de 2020

GUADALUPE


GUADALUPE
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.349

SANTUÁRIO N. S. DE GUADALUPE (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230)
Para marcar a passagem do Século XIX para o século XX, o padre Capitulino, em Santana do Ipanema, fez erguer um monumento em forma de igrejinha e o dedicou à Nossa Senhora Assunção. Em torno da igrejinha foi chegando casas e mais casas, deixando bem povoada aquelas imediações. Foi assim que devido ao monumento, o povo deu nome de Monumento ao bairro formado naquela parte mais alta da vila santanense. Foi ali nos degraus da igrejinha/monumento que foram expostas as onze cabeças dos cangaceiros mortos na fazenda Grota dos Angicos, em Sergipe, inclusive a de Lampião e Maria Bonita em1938.
Assim como Capitulino, o padre Delorizano fez erguer, cem anos depois, novo monumento para marcar a passagem do Século XX para o Século XXI. Desta feita o local já era Bairro consolidado de nome São Vicente. Delorizano, com muito bom gosto fez erguer um santuário relativamente pequeno e mais ou menos da altura do primeiro marco. Dedicou-o a Nossa Senhora de Guadalupe. Fica o santuário na entrada do bairro, ladeando o casarão que abriga os velhinhos de São Vicente. De forma cilíndrica vertical torreada, possui bastante vidros ou cristais no segmento da cúpula.  Portas de vidros ou cristais transparentes são encimadas por desenhos triangulares no seu entorno. Externamente, a parte inferior é separada da abóboda por uma espécie de marquise oitavada que segue o padrão de baixo. Sobre a abóboda, uma figura parecida com um anjo, finaliza a obra. O terreno em volta é murado e tem degraus para se chegar ao santuário. Quando a luz natural penetra pelos cristais tem um efeito espetacular dentro da nave.
Durante é tardezinha, quem avista o santuário vindo das imediações da UNEAL, fica encantado com o efeito de luzes do arrebol nos cristais das portas e da abóbada, como se fosse um toque mágico e divino ao mesmo tempo. Se nesse instante as luzes do interior estiverem acesas, o efeito é o máximo de beleza colorida.
Os dois marcos de séculos, são edificações que orgulham os santanenses. Ambos deveriam ser abertos para os visitantes que buscam o turismo religioso em suas peregrinações.
Visitar o santuário de Guadalupe, faz um bem medonho à alma que está dentro da alma.
   
  


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domingo, 19 de julho de 2020

PADRE CÍCERO


PADRE CÍCERO
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.348
PEDRA DO PADRE CÍCERO (FOTO: B. CHAGAS).
O padre Cícero morreu eJuazeiro do Norte em 20 de julho de 1934, aos 90 anos, encontrando-se sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na mesma cidade”. Muito se tem falado sobre o padre do Juazeiro. São inúmeros livros, artigos, discursos, teses e muito mais. Foi eleito o cearense do século e um dos 100 maiores brasileiros, popularmente é considerado o grande santo Nordestino. Após sua transferência acredita-se que espiritualmente esteja fazendo o dobro pelos seus devotos sertanejos. Em Alagoas, a sua maior romaria é na chamada Pedra do Padre Cícero, situada na BR-316 no município de Dois Riachos. Seu oratório foi construído sobre um bloco rochoso às margens da rodovia pelo agricultor José Antônio Lima (falecido) como motivo de promessa nunca revelada, em 1956.
Daí em diante sucederam-se as visitas dos seus devotos e o oratório e seu acesso foram sofrendo modificações para melhor, visando mais conforto aos visitantes. Com medo de cair de cima da rocha, um padre pediu uma capela lá em baixo para melhor acomodar os seus fiéis.  A capela foi construída e as missas ali são realizadas. Além de visitas o ano inteiro, o auge mesmo é no dia de hoje, 20 de julho, quando romeiros de vários estados e de todos os lugares de Alagoas, lotam as imediações. Multidão, ônibus, vans, carro pequenos, motos, cavalos e burros tomam os terrenos vizinhos coisa que só se vê no Juazeiro. O trânsito fica difícil na BR-316 imediações da Pedra. Inúmeras promessas são pagas e outras feitas, muitos fogos lançados ao ar e peças representativas do corpo humano são entregues pelos seus fiéis seguidores.
O padre Cícero Romão Batista, espiritualmente, toma conta e age tanto no Juazeiro do Norte quanto no bloco rochoso do município de Dois Riachos. Como nosso “santo” predileto, já balançamos as pernas de Santana do Ipanema às escadarias de concreto do seu oratório para agradecer de perto uma das tantas e tantas graças alcançadas através da sua intercessão. O dia da morte do “meu padrinho”, tornou-se uma festa religiosa de grandes proporções ali pertinho do afluente do rio Ipanema. Até Lampião dirigiu-se à Grota dos Angicos, em Sergipe, para descansar durante a semana da morte do santo nordestino.
Estamos prestando essa homenagem em época de pandemia e nem sabemos como os dirigentes da festa irão fazer para evitar aglomerações.  Suas bênçãos continuam, porém sobre nós.

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sexta-feira, 17 de julho de 2020

FESTA DA PADROEIRA E MAIS


FESTA DA PADROEIRA E MAIS
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.347
INTERIOR DA MATRIZ DE SENHORA SANTANA. (FOTO: B, CHAGAS)

Tem início hoje (17) a mais de que centenária festa da padroeira Senhora Santana. Por décadas e décadas tem sido a maior festa religiosa do interior alagoano, atraindo pessoas até de estados vizinhos. Agora, entretanto, devido a pandemia, não poderá lotar a sua Matriz e nem desfilar garbosamente pelas ruas e avenidas de Santana do Ipanema. A resolução é assistir ao novenário pelas redes sociais e destacadas rádios das onze implantadas na cidade. O foguetório das seis horas já espantou cachorros e pardais e despertou o santanense para a devoção ao evento. Santa Ana é   nossa padroeira desde que foi entronizada em sua capela fundada  pelo padre Francisco José Correia de Albuquerque na fazenda de Martinho Rodrigues Gaia, em 1787.
“Santa Ana é da família nobre do Rei. Maria, quer da parte de São Joaquim quer da origem materna, é filha de Davi. Ana é originária da tribo de Judá da estirpe e mãe, davídica. O pai de Santa Ana, chamava-se Mathan e a mãe, Maria. Ela era a terceira filha do casal. Era Santa Ana tia-avó de São José, São João Batista, São João Evangelista, São Tiago e São Judas. Santa Ana morreu aos 79 anos. Foi sepultada em Jerusalém, junto do seu Santo Esposo, São Joaquim”.
Para a Ribeira do Panema, a imagem de Senhora Santana e São Joaquim foram trazidas da Bahia, a pedido da esposa de Martinho Rodrigues Gaia, pelo Santo Padre Francisquinho. Juntos a uma escultura do Cristo Crucificado, esculpido pelo próprio Francisquinho, foram entronizados na capela originária da Matriz.
Quis a prefeita de Santana do Ipanema, Christiane Bulhões, entregar hoje ao público, as Praças Cel. Manoel Rodrigues da Rocha e Senador Enéas Araújo, devidamente reformadas. Elas são centrais ao Comércio e principais da cidade, defronte à Matriz, o que representa um presente à Igreja e ao povo santanense.
Além dessas boas notícias, somam-se a elas a ordem oficial do governador para iniciar as obras asfálticas da rodovia Carneiros á Santana do Ipanema e, a continuação de pesquisa sobre feijão mais resistente ao nosso clima, o que beneficiará todo o sertão nordestino durante as estiagens.
VIVA MAIS UM EDIÇÃO DA FESTA DE SENHORA SANTANA!!!

                                             



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quarta-feira, 15 de julho de 2020

ARAPIRACA


ARAPIRACA
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.346

ARAPIRACA (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).
Bafejada pela posição geográfica Agrestina, condições de relevo e solos férteis, a terra das arapiracas surpreende cada vez mais na dinâmica urbana em todos os setores da Sociologia. Com mais de 200 mil habitantes, converge para si, municípios do Agreste, Sertão e Baixo São Francisco, agindo soberbamente como capital do interior de Alagoas. Originária de uma feira de fumo, mesmo antes da sua emancipação política, criou em torno dessa feira, a mais surpreendente cidade das Alagoas. E aquela feira de fumo do início, hoje movimenta mais de um milhão de reais em sua diversidade. Na feira de Arapiraca tudo tem, fala a expressão regional no seu modo de dizer.
O movimento em todo o sertão alagoano tem como alvo o comércio e a prestação de serviços de Santana do Ipanema, uma espécie de capital sertaneja em torno de 50 mil habitantes. Além do seu pujante comércio, seus cursos superiores dão uma dimensão de polo educacional que atrai sertão, alto sertão, sertão do São Francisco, trazendo até mesmo pessoas dos estados vizinhos de Sergipe e Pernambuco. Mas, o déficit das suas ofertas, é procurado na cidade de Arapiraca, quando não na falta do produto surgem os valores da concorrência Agrestina. No caso de não se encontrar o que se procura nas Arapiracas, as opções estão em Maceió, Caruaru (outra potência) e Recife.
A prometida e falada duplicação asfáltica Arapiraca - Olho d’Água das Flores (a 18 km de Santana) poderá mudar os hábitos dos santanenses e outros sertanejos no uso da BR-316 para Maceió via Palmeira dos Índios. Nesse caso, o trajeto por Arapiraca teria a preferência. E como ficaria então, Palmeira dos Índios sem o grande fluxo de veículos vindo do sertão? Somente o tempo dirá se Palmeira pode ficar ou não sem esse movimento. Olho d’Água das Flores será o grande beneficiado, assim como Batalha e outros municípios que compõem a chamada Bacia Leiteira. Santana não teria tanto ganho na sua expansão, pois existe outra rota Alto Sertão – Maceió que não passa necessariamente pela nossa cidade, mas por Olho d’Água do Casado e Olho d’Água das Flores.
Porém, todo progresso é bem-vindo.
O tempo dirá o que nos reserva. Aguardemos.





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terça-feira, 14 de julho de 2020

O CASTELO DE HERODES


O CASTELO DE HERODES
Clerisvaldo B, Chagas, 15 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.345

ZOOM MÁXIMO DA BAIXADA PARA O CASTELO DE HERODES.
(FOTO: B. CHAGAS)
Muito boa a ideia da prefeitura de Santana do Ipanema em construir um conjunto habitacional para os desabrigados da última cheia e déficit habitacional. Além da parte humanitária, dignifica o cidadão traumatizado pelas águas. Na notícia não saiu o local escolhido para o empreendimento, mas seja onde for (menos nos lugares de risco) isso também ajudará a expansão da urbe e atrairá nova estrutura social no seu entorno. Quanto ao futuro nome da rodovia Carneiros – Santana como homenagem ao saudoso prefeito Isnaldo Bulhões, o governador está coberto de razão. E como disse o próprio dirigente, ainda é pouca essa homenagem. É preciso reforçá-la em obra de vulto em Santana do Ipanema. Somos contra, porém, de substituir homenagem antigas e justas. Esperamos que o nome Dr. Isnaldo Bulhões seja acoplado a uma nova obra, necessária, moderna e progressista como estava sendo sua última administração.
Voltando ao foco desviado, matutava sobre a posição da nossa morada. Por coincidência, morando em lugar baixo, como recomendava o horóscopo João de Lima, não tenho paisagem para estirar a vista ao amanhecer. Ou os portões da vizinhança, a oficina do vereador José Déo ou o alto da Floresta onde se alcança os fundos das residências que ficam ao lado do Hospital Clodolfo de Melo. Olhando de cá, observamos o Castelo de Herodes (apelido nosso) construção no topo da colina, com primeiro andar, comprido que parece destinado à pousada visando visitantes do Hospital e futuros estudantes da Universidade Federal de Alagoas.
Ligando uma coisa à outra, lembramos quando o, então, prefeito   Isnaldo Bulhões nos revelava a vontade de construir uma casa nas faldas do serrote do Cruzeiro para gozar a paisagem do centro lá de cima. Indagado se não queria um lugar mais abaixo, ele nos respondeu que não, “Mais abaixo só havia fundos de quintais para serem vistos”, disse ele. Parece que nunca chegou a construir essa casa. Mas, como vivemos na baixada há mais de 30 anos, continuamos contemplando apenas, lá longe, no alto da colina da Floresta, os fundos do CASTELO DE HERODES.
E se Herodes tinha ou não castelo, já pertence a outro departamento.





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segunda-feira, 13 de julho de 2020

ESTRANHO PERCURSO


 ESTRANHO PERCURSO
Clerisvaldo B. Chagas, 14 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.344
Alto do Negros no primeiro plano. (Foto: Livros 230 e Negros em Santana
/B. Chagas).

Interessante são as denominações populares de locais públicos que existem em todas as cidades. Elas se perpetuam chegando ao ponto em que ninguém mais sabe suas origens. Aí é quando entram as informações dos mais velhos ou dos historiadores. Algumas delas são mudadas para nomes de “barões” devido a que os grandes denominam “incômodo”. Em uma cidade da Mata existe a “Rua da Bosta”, em Arapiraca, o “Sovaco da Ovelha”, o “Escorrego do Catita” e assim por diante. A nossa cidade não poderia ficar de fora e apresenta pelo menos quatro apelidos estranhos desde a primeira metade do Século XX. São eles, pela ordem de marcha, três no Bairro Domingos Acácio e o outro no antigo Bairro Floresta: Rabo da Gata, Cachimbo Eterno, Galo Assanhado e Alto dos Negros.
Rabo da Gata, rabeira, o que está por último na fila. Ficava na saída Santana – Olho d’Água da Flores. Uma fileira de casebres na boca da estrada que leva ao riacho João Gomes, margeando o sopé do serrote do Cruzeiro, ala à direita.
Cachimbo Eterno, vizinho ao Rabo da Gata, mais frontal as serrote. Teve origem com os constantes convites dos moradores ao pessoal do Comércio para tomar cachimbo, bebida com cachaça e mel de abelha oferecida quando nasce uma criança. Os convites visavam padrinhos para ajudar na criação. “Ali é um cachimbo eterno”, dissera alguém, batizando o lugar.
Galo Assanhado, também no sopé do serrote do Cruzeiro à esquerda do monte Apelido dado pelos moradores do Cachimbo, cujo desentendimento também os levaram ao apelido de Rabo da Gata.
Alto dos Negros, alguns metros abaixo do Hospital Regional Clodolfo Rodrigues de Melo, pela Rua Principal. Assim chamado por ser um terreno alto de barro vermelho, onde morava uma família de pretos, provavelmente originária do povoado Tapera do Jorge, município de Poço das Trincheiraste, descendentes quilombolas. Zacarias, o habitante mais conhecido, trabalhava no comércio como transportador de malas dos caixeiros-viajantes, dos hotéis para as casas comerciais e vice-versa.
Em Arapiraca, Escorrego do Catita veio de um moleque ligeiro igual a rato catita que escorregava pelo terreno acidentado ao ser acionado pelos seus perseguidores.
Brasil velho, morrendo e aprendendo.







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domingo, 12 de julho de 2020

VIAGEM A MACEIÓ


VIAGEM A MACEIÓ
Clerisvaldo B, Chagas, 13 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.343
(HOMENAGEM AO ESCRITOR FLORO DE ARAÚJO MELO)

Máquina do trem de Palmeira dos Índios no Museu Xucurus. (Foto: Livro:
"Repensando a Geografia de Alagoas/B. Chagas)
Caro leitor, calcule quando foi o acontecimento da narrativa abaixo, do conterrâneo Floro (In memoriam) na íntegra.
A viagem foi extremamente cansativa. Fomos de caminhão até Palmeira dos Índios, ponto terminal da estrada de ferro. Não havia asfalto, a poeira era sufocante, levamos quase um dia inteiro ao sabor de buracos e depressões medonhas do terreno. Ao atingir o destino, ninguém tinha forças para embarcar. Tivemos que pernoitar no hotel, ou melhor, numa estalagem sem conforto e sem muita higiene.
O trem partia de madrugada. Saímos do “hotel” sonolentos e com muito cuidado, devido aos buracos das ruas e à má iluminação da cidade. Eu, entretanto, exultava: garoto do sertão, tudo para mim era novidade e descoberta. Imagine o leitor que jamais ouvira um apito de trem! Com grande estardalhaço, a máquina partiu, levamos horas intermináveis sentados naqueles duros bancos de madeira, ouvindo os ruídos ritmados das rodas em contacto com os trilhos desgastados pelo tempo de uso. Para quebrar a monotonia, eu olhava pela janela e divisava a paisagem que ia ficando para trás, as serras, as casas das cidades por onde o trem passava, as paradas ao longo da estrada e, nessas, uma imagem triste que me ficou para sempre na memória: crianças sujas e maltrapilhas que pediam moedas ou vendiam banana, manga, jaca, etc.,  tudo num vozerio que mais parecia uma dolorosa e sofrida ladainha. Ah, meu Nordeste querido, quando tais cenas deixarão de acontecer em seu seio?!   Minha avó, já conhecedora da melancólica procissão, nem sequer abria a janela, sempre a segurar-me pelo braço. Felizmente, a demora era pequena, o trem apitava estridente altivo e se punha em marcha.
(...Finalmente Maceió...)

MELO, Floro de Araújo. Vim Para Ficar. Borsoi, Rio de janeiro, 1981. Págs 29-30.
Nota: a “minha avó” a que o autor se refere, foi a primeira professora de Santana do Ipanema, Maria Joaquina.






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sexta-feira, 10 de julho de 2020

SANTANA DO ALTO


SANTANA DO ALTO
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.342
(PARA O AMIGO MENDES DO BLOG MENDES E MENDES)

CAPELA NO SERROTE DO CRUZEIRO (FOTO: LIVRO 230/B. CHAGAS.
Você que é visitante em minha terra, procure conhecê-la do alto. Cidade ladeirosa tem a vantagem de possuir mirantes naturais. Venha comigo e vamos conhecer alguns deles. Serrote do Cruzeiro, pequena serra frontal à cidade. O mais abrangente e tradicional de todos. Você escala o monte através de degraus entre arbustos e arvoretas. No cimo tem uma capela em homenagem a Santa Terezinha. O cenário é belíssimo e quem chega quer ficar mirando os arredores por horas a fio. Tem um cruzeiro à frente da capela, cujo marco foi implantado como passagem do século XIX para o século XX. Já foi chamado Morro da Goiabeira na década de 20.
Querendo, pode subir o serrote que vai mudando de nome, vizinho ao Cruzeiro: serrote do Gonçalinho, do Cristo e, ultimamente, da Micro Ondas. Este tem acesso para automóvel, sobe-se pela parte de trás, calçada com paralelepípedos. No cume você vai encontrar um Cristo e as torres de micro ondas. Sua paisagem é voltada para a parte leste de Santana, Bebedouro, Maniçoba, açude do Bode.
Nenhum mirante mostra a cidade completa, somente vistas parciais.
Também do lado norte da cidade você encontra o serrote do Pelado que mudou para Alto da Fé. O automóvel chega ao topo por acesso também de paralelepípedos onde vai encontrar uma paisagem bela dos arredores de Santana. Você vê a paisagem distante, mas o cenário próximo é somente parte do Bairro Monumento.
Fora esses mais conhecidos, Santana pode ainda ser vista do cimo da Serra Aguda, mais distante, do Hospital Regional e mesmo das faldas da serra Aguda. Você chega de automóvel no topo da serra onde está projetada a imagem sacra de Senhora Santana, a mais alta do mundo. O cenário é só maravilha para os arredores, porém o foco voltado para a cidade, mostra a urbe bem distante e pequena.
Muito pouco conhecido ainda é o morro do Bairro Lagoa do Junco, dos antigos quebradores de pedra. Lá do alto têm ângulos diversos e ainda não apreciados pela grande maioria do santanenses.
Sem espírito aventureiro só se conhece a poltrona.





I


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