terça-feira, 31 de maio de 2022

 

VERA CRUZ

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de junho de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.709

 

A Farmácia Vera Cruz, pertencente ao ex-pracinha e saudoso Alberto Nepomuceno Agra, era uma das mais antigas de Santana do Ipanema. Seu estoque atualizado e qualidade no atendimento sempre foram itens importantes no status Vera Cruz. Mas havia três coisas extras que nos chamavam atenção: o brinde anual de um almanaque, o quadro na parede mostrando a porta estreita e a porta larga e a balança permanente à porta de entrada. Qualquer pessoa passante na calçada – e não somente fregueses – podia verificar o seu peso gratuitamente. E como era importante a balança para aqueles que estavam querendo ganhar peso ou perdê-lo. Um objeto tão relevante para quem dele precisa e indiferente para outros. Quanto a marca da balança, esquecemos de anotar.

Ultimamente, tanto em Maceió quanto em Santana do Ipanema, não encontramos balanças nas entradas das farmácias. Quando você precisa de uma e indaga sobre ela, a resposta é que tem lá dentro, nos fundos do estabelecimento. Outros lugares dizem que não dispõem deste serviço. Se quiser balança, que procure comprar essas de banheiro, vendidas ali mesmo no balcão. Algumas farmácias atendem tão mal que o cliente tem vontade de deixar tudo pra lá e sair em busca de outra. Mas muitas vezes o cansaço e a distancia de um ponto a outro, faz esse cliente sofrer o constrangimento, mesmo querendo comprar e pagar. Enquanto a novela é atualizada por alguns funcionários, o usuário fica a “ver navios”, prateleiras lotadas e atendimento zero.

Mas voltando à Farmácia Vera Cruz. Cumprida a sua missão, Alberto fez a sua passagem. Sua farmácia atualmente está em outras mãos. Andando pelo comércio de Santana, precisei verificar o peso, pois andava buscando uns quilinhos a mais. Lembrei-me da antiga Vera Cruz e fui saber se ainda existia ali uma balança à disposição da clientela e dos passantes. Supimpa! Lá estava ela no lugar costumeiro, logo na entrada. E como manda a boa educação, um pedido de licença e anotação do peso na cabeça.

Quanto vale uma boa prestação de serviço!

O quadro que indicava a porta estreita e a porta larga, pode não existir mais. Os brindes de almanaques de final de ano podem ter sido desatualizados, mas a balança continua prestando ótimos serviços para quem dela necessita.

Para quem precisa, quanto vale uma balança!

BALANÇA. (FOTO: MERCADO LIVRE).

 


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segunda-feira, 30 de maio de 2022

 

 

MALABARISMOS SANTANESES

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.708

 



Quando a ponte barragem na BR-316 foi construída sobre o rio Ipanema, em Santana, facilitou o trânsito para as cidades situada do outro lado do rio. Mesmo assim, em épocas de grandes cheias, os veículos davam um rodeio enorme passando na ponte e depois seguindo em direção a estrada que leva a serra da Remetedeira, perto do hoje Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo. Aliás, o próprio Clodolfo possuía fazenda por ali e contemplava subidas e descidas de automóveis e caminhões contornando o rio Ipanema zangado, lá abaixo das barreiras. Antes da construção da ponte, no início dos anos 1950, não havia alternativa. Era passar em lombos de canoas ou não viajar para a margem direita do rio. Às vezes um automóvel conseguia ser levado pelos canoeiros, mas caminhões, não havia como, deixando inúmeros feirantes e suas mercadorias sem as feiras de Pão de Açúcar, Carneiros ou a de Olho d’Água das Flores, as mais frequentadas por santanenses.

Grande influência teve a conhecida Ponte da Barragem na Economia de Santana e no seu desenvolvimento. E se foi batizada com nome de gente, perdeu-se no tempo. Com seus mais de 70 anos continua servindo em todo movimento do Sertão pela BR-316. Formou-se ali vizinho o Bairro da Barragem formado por “cassacos” que trabalharam na obra. Hoje o Bairro Barragem que era somente ao longo da pista, se expandiu e mostra seu lado progressista e moderno do lado oposto da BR seguindo à margem da barragem rio acima.  Por outro lado, toda a área que representava os fundos do antigo casario, foi completamente ocupada formando o chamado Clima Bom, bairro denominado pela criatividade popular.

Pontes físicas, sociais e espiritualista é isto que a humanidade precisa.

ÁGUA CHEGANDO NO IPANEMA APÓS A PONTE DA BARRAGEM. FOTO/ARQUIVO.

 


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domingo, 29 de maio de 2022

 

ESPERANÇA NA ESPERANÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.707

 



No meu sertão, geralmente não se mata lavandeira, beija-flor, bem-te-vi, cancão, espanta-boiada (quero-quero) e o inseto conhecido como esperança. A tradição deixou muitas lendas, superstições e experiências e que perduram por séculos e séculos. Mas não é somente no sertão nordestino ou no Brasil onde essas particularidades existem é no mundo inteiro. Lavandeira e bem-te-vi, estão muito ligados a uma lenda que fala em Nosso Senhor Jesus Cristo. O cancão e o espanta-boiada, não são atrativos para a espingarda, a peteca, a armadilha, porque são muito magros para um bocado, a ponto de haver o ditado popular: “magro que só um cancão”. A esperança é blindada contra investidas humanas porque representa bom augúrio. Alguma coisa boa irá acontecer com você quando a esperança pousar na sua casa, em você, no seu quarto...

A esperança verde e real é tão apreciada quanto a esperança sentimento presságio de coisa boa. É um inseto verde, romântico, que pode causar grande alegria ao pousar por perto. É como se fosse um aviso, uma mensagem direta dos céus que vem aí uma coisa boa desejada por você. A esperança ainda tem parentesco com os grilos e gafanhotos e acha-se espalhada em todos os continentes habitados. Às vezes a esperança chega de repente e a pessoa procura matá-la por causa do susto pensando tratar-se de um gafanhoto. Mas a esperança é bem delicada, suave e silenciosa como deve ser uma mensagem de paz enigmática. Seu verde agradável acende o outro verde que carregamos dentro de nós. Impossível ficar indiferente à esperança.

Lampião era um ótimo observador da Natureza, assim como outros sertanejos do seu bioma. Graças a isso, teve sua vida salva diversas vezes com indicativos de pássaros com aproximação e cantos que demonstravam perigos imediatos, posição de inimigos e muito mais, até mesmo o voo inesperado do urubu, mostrava o perigo na área.  Assim é o canto da acauã, da ema, do pavão e do voo rasgando da coruja. Tudo obsorvido pelo sertanejo atento.

Uma cigarra entrou no meu quarto e permaneceu quieta e no mesmo lugar durante o dia e só foi embora à noite. Sertanejo da cepa, aguardei. Logo no dia seguinte, após o café da manhã, recebi na porta de casa duas notícias boas e fui apressado realizá-las mesmo com a chuvarada mansa que caía em Santana do Ipanema;

Obrigado esperança, obrigado a quem te enviou.

ESPERANÇA (FOTO: RAPADURA CULT.).


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terça-feira, 24 de maio de 2022

 

MEL BOM, FERRÃO RUIM

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.706

 




Sentado na área interna da casa, vejo o Sol evoluindo nas horas ou a chuva caindo mansa, ora encorpada tamborilando o teto e lavando o chão. Levanto a vista para a caixa-d’água altíssima do vizinho e me surpreendo com o que vejo. Nada mais do que um enxu gigante pendurado naquelas alturas. E para quem não sabe, enxu no Sertão, também é chamado inxu, é uma colmeia de qualquer abelha. As danadinhas trabalhadeiras fizeram o enxu aproveitando um fio pendurado que desce da caixa. Não dá para vê se a estrutura também está colada à parede por cima do fio ou não. Estar ali o pacote: vertical em forma cilíndrica, enfrentando sol e chuva sem nenhuma alteração. Também não sei dizer que material é aquele utilizado por elas, as abelhas, olhando de longe parece barro.

Não sei se essas fabricantes de mel têm ferrão ou não têm. Também nem quero saber a qual gênero pertence o enxame. Deixemos as bichinhas quieta no labor animal. E se um mal-informado for brincar com abelhas, pode ser atacado e fazê-las atacar a vizinhança, aí o diabo se solta. Quantas pessoas não já morreram no Brasil vítimas de picadas desses insetos! Sim podem ser abelhas sem ferrão, mas você não quer ir perguntar a elas, quer? E naquelas alturas da caixa-d’água, só o cão vai lá e ainda leva o Corpo de Bombeiros que é quem sabe lidar com essas coisas. Diz o matuto “que não se deve futucar o cão com vara curta”; e ali não é o cão, mas é abelha, cabra “véi”. Quem vai encarar ferroadas nos olhos, nos braços... Na bunda!

O mel é um dos alimentos mais completos do mundo e ajudou a salvar muitas pessoas da fome, nas caatingas das secas de outrora. Mas não se pode esquecer que a abelha braba ainda é parente da vespa e da formiga. É considerado um inseto útil, mas não vale mexer com ele. Pelo que sei, não estamos na seca, não estamos com fome em busca de mel, não temos experiência em mexer com abelhas, nem o vizinho quer uma guerra contra tantas guerreiras. Hummm... Diz os mais velhos: “Não devemos mexer com quem está quieto”. Em breve as abelhas completarão a tarefa na caixa-d’água e irão embora na paz da Natureza.

Será que o amigo ou amiga, concorda?

Estamos de olho no ferrão e no mel.

ENXU (FOTO: B. CHAGAS).

 


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segunda-feira, 23 de maio de 2022

 

ONDE ESTÃO AS ANDORINHAS?

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.705

 

Ninguém pode negar o belo espetáculo das andorinhas na Santana dos anos 60. Tempo como este agora, invernoso, o bando revoava pela região do rio Ipanema e fazia seus malabarismos para os banhistas do Poço dos Homens. Revoavam circulando o poço, pegando bichinhos no ar e tocando o peito nas águas claras ou barrentas que encantavam os adolescentes e adultos frequentadores assíduos do lugar. Às vezes ali se encontrava o cantor “Cícero de Maraquinha” e, seu violão e voz maviosa pareciam uma orquestra para acompanhar as incursões das andorinhas. Do Poço dos Homens dava para vê o retorno do bando em círculo e o assentamento com alarido na torre da Igreja Matriz de senhora Santana.

Essas aves passeriformes, pertencem a família Hirundinidae e gostam muito de construírem seus ninhos colados ao teto dos casarões, dos sobrados, tal com o conhecido “sobrado do meio da rua” (hoje extinto) onde costumavam se abrigar. Sabemos sim que andorinhas são aves que migram conforme a estação do ano, mas retornam sempre. Então, ficamos a indagar por que as andorinhas abandonaram a torre da Igreja Matriz, o Poço dos Homens, a nossa Santana do Ipanema. Dos anos 60 para os anos próximos seguintes, não houve essa transformação apressada dos climas. Portanto as nossas aves que alegravam o cinza do nosso inverno foram embora sem explicações. Teria sido pela morte do cantor Cícero de Mariquinha, que nunca mais tocara para o bando?

A torre da igreja de Senhora Santana, continua bela. Ano 2022 e o mesmo cartão postal máximo da cidade. E se não tem alaridos de andorinhas, também não tem sujeira para a limpeza através de homens intimoratos à altura. O “sobrado do meio da rua” Já não existe para abrigar beleza, romantismo e andorinhas. O Poço dos Homens perdeu o brilho após a construção da Ponte General Batista Tubino. Ficou essa passagem quase em cima do poço. O lixo colocado no local pelos desavisados, fez surgir tapetes verdes de plantas aquáticas por sobre as águas poluídas.. E assim ficou o ballet das aves migratórias apenas na memória dos que viveram à época, notadamente escritores, poetas, historiadores e saudosistas.

Nunca se viu dizer que as andorinhas fizessem mal a alguém.

ANDORINHA (WIKIPÉDIA).


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domingo, 22 de maio de 2022

 

A MODA DO CHOFER

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.703

 



Apesar de tão útil, o chapéu de couro nunca foi socialmente valorizado. Era coisa de carreiro, vaqueiro, tirador de leite... Que era assim que se pensava. O chapéu de palha também não encontrava muito abrigo em zonas urbanas. Era do roceiro, do trabalhador braçal, do puxador de enxada. A desvalorização social fazia com que o segundo fosse vendido aos montes, no chão das feiras semanais a preço tão baixo que era praticamente de graça. Já o chapéu de couro era encontrado em bancas de madeira em meio às bugigangas relativas à zona rural, como facão, foice, peixeiras... O chapéu de couro, desprezado até pelas forças volantes de combate aos cangaceiros, no início, terminou em cabeças de vários policiais dessas forças.

O chapéu de massa, também chamado de baeta, demonstrava mais ou menos a posição social do indivíduo. Incrivelmente caro (ainda hoje) era usado na zona urbana com o comerciante mais abastado e, na zona rural pelos fazendeiros, coronéis ou particulares de boa condição financeira.

O boné foi surgindo timidamente. A princípio por pessoas mais humildes como carregadores de saco, engraxates e principalmente motoristas. Entretanto, o sertanejo espirituoso que falava jocosamente do chapéu de couro e de palha, passou a discriminar o boné. Dizia: “Homem de boné, ou corno ou chofer. O alvo só fazia esboçar um sorriso amarelo e, claro, levar no tudo na brincadeira.

O boné foi comendo pelas beiradas; o preço do chapéu de massa e do panamá (palhinha) em parte, foram culpados da ascensão do boné. Sem terras, estudantes, atletas, até chegar à cabeça do próprio presidente dos Estados Unidos. Chapéus de couro e palha continuam os mesmos em zona rural. E não é tão fácil encontrar um homem usando um chapéu de massa, por aqui. Mas o boné, em um período só usado nas caminhadas, desembestou no uso geral. Muito mais bonito, sofisticado, vai faturando em cima de marcas famosas que descobriram o veio. Registramos também que em campanhas eleitorais, por exemplo, é o boné o brinde mais procurado pelos eleitores, mais do que as famosas camisetas. E mesmo detestando o troço fui obrigado a aderir à moda.

A sociedade resgatou o objeto pagando à língua a dignidade do chofer.

BONÉ (FOTO: B. CHAGAS).

 


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sexta-feira, 20 de maio de 2022

 

CHOCHA BUNDA

Clerisvaldo B Chagas, 20 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.704

 



Choveu bem nesta sexta no Sertão de Alagoas. Em Santana do Ipanema, céu de cambraia e chuva mansa quase o dia todo. Na rua, as pessoas comentavam: “Muito feijão-de-corda por aí”. E de fato, muito feijão-de-corda apareceu nas feiras e em lugares diversos da cidade como o Maracanã e a ponte General Batista Tubino. De onde veio tanto feijão desse tipo, também chamado feijão-verde? Seria da irrigação Sergipe/Petrolina? Não, não senhor, veio da nossa área mesmo porque o povo plantou na hora certa e teve sua colheita garantida. Imagina agora com mais benefícios das chuvas de maio para toda a Agricultura!

O feijão-de-corda que algumas pessoas acham que é um feijão fraco, é altamente medicinal e riquíssimo em nutrientes. Portanto não faz sentido ser chamado pelo próprio sertanejo de “chocha-bunda”. Olhe seus benefícios vitaminas K, C, A, é rico em proteínas, fibras solúveis, minerais como cálcio, ferro e fósforo. Nenhum colesterol e gordura e baixas calorias. Benefícios à saúde: bom para o diabetes; bom para a saúde cardiovascular; benefício para os ossos; para a circulação sanguínea; ótimo para gravidez e pressão.

Além de tudo, é saboroso puro, tropeiro, com arroz, com carne, café, seja lá com o que for, sem tirar o pico do interesse do feijão-de-corda com galinha de capoeira ou galinha velha. Encontramos nos restaurantes típicos, na zona rural e em todos os lares de nossas cidades interioranas.

Em nossa cidade mesmo, tem um restaurante no lugar Maracanã com o nome de “Restaurante Feijão Verde”, sendo muitas as opções de acompanhamento. Não estamos receitando nenhum alimento para os nossos leitores e leitoras, mas simplesmente decantando as maravilhas de um alimento que deixa o sertanejo feliz, de barriga cheia. Então por que se dizer que o nosso querido feijão de-corda é chocha-bunda?! Pode ser aumentar a bunda de tantos nutrientes, mas nunca chochar a bunda. Falar nisso, nem sabemos o preço do produto na sua cidade, estado ou região, mas aqui em Santana do Ipanema é considerado caro por estar sendo oferecido a 8,00 o litro.

Vamos ao feijão-de-corda, gente!

ROÇA DE FEIJÃO-DE-CORDA (INTERNET).


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quarta-feira, 18 de maio de 2022

 

REVENDO SÍTIO E RUA

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de maio de 2022.

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.703

 



Após à visita ao sítio Tocaias, ficamos a contemplar a mais antiga rua do Bairro Paulo Ferreira (Floresta). Muitas casas já de fachadas modernizadas, apesar da humildade dos seus moradores. Ganhou creche e ginásio de esportes e continua pavimentada com paralelepípedos. É a mais antiga rua do bairro e a principal da parte baixa. Tem o nome de Joel Marques que foi um dos prefeitos de Santana do Ipanema. A rua Joel Marques tem início logo após a ponte sobre a foz do riacho Salgadinho, riacho esse que divide o bairro Floresta com o Bairro Domingos Acácio. É uma rua muito comprida e reta até chegar ao final onde existe uma bifurcação. A da esquerda segue pela parte mais baixa do relevo, vai formando a estrada antiga das Tocaias e vai sair no riacho João Gomes, via Igrejinha das Tocaias. A da direita sobe até as faldas da serra Aguda e continua até o riacho João Gomes, mais acima, onde está sendo construída a maior barragem do município

A parte do lado esquerdo da rua de quem vai para o João Gomes, tem ao fundo do casario, o riacho salgadinho, afluente do rio Ipanema. Seu trajeto é curto e tem as nascentes dentro da Reserva Tocaia. Mesmo assim, dava um trabalho danado antes da construção da ponte pelo prefeito Adeildo Nepomuceno Marques e ampliada pelo prefeito Isnaldo Bulhões. Tanto a rua citada quanto o bairro inteiro, tiveram suas ocupações principalmente pelos que chegavam da zona rural e encontravam terras mais baratas, a exemplo de antes no Bairro Camoxinga.

Atualmente quem segue pela Rua Joel Marques e entra pela antiga estrada das Tocaias, caso vá somente até à Igrejinha ou até a Reserva que fica defronte, ainda pode seguir devagar de automóvel. Quem quer seguir, porém, até o riacho João Gomes, só a pé ou a cavalo. Tem que subir pela estrada mais moderna que passa no sopé da serra Aguda. Caso venha a ser construída a imagem planejada pelo saudoso prefeito Isnaldo Bulhões na serra Aguda, também a região baixa da Floresta, poderá ser incorporada aos avanços que chegarão através do turismo religioso incorporando a Igrejinha das Tocaias e a Reserva Tocaia, pontos de alto prestígio para os santanenses.

Minha visita e pesquisas na área com o escritor João Neto Félix Mendes, fizeram atrasar às crônicas costumeiras. Vênia!  

 

ENTARDECER NA ESTRADA DAS TOCAIAS (FOTO: B. CHAGAS).

 


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domingo, 15 de maio de 2022

 

OS ARTISTAS DA PEDRA

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.702



Ficamos admirando mais uma vez a cerca de pedra da figura, copiar colar. Uma arte praticada por vários escravos negros, denominados mestres. Essa arte tão admirável foi passando para alguns descendentes quilombolas chegando até os nossos dias e repassando também para outros tipos humanos de mestres, atualmente sumidos do mercado. Veio a cerca de pedra do tempo em que não havia cercas de arame farpado e, depois, mesmo com o arame de farpas, a abundância de pedra no local, a mão-de-obra disponível, a segurança e a economia, permitiram que surgissem esse tipo de cercado em variadíssimos recantos nordestinos. Sua altura está entre o peito e o pescoço de um adulto em pé. As pedras são incrivelmente encaixadas e o nivelamento da superfície da cerca é admirável.

As pedras são tão bem encaixadas que só as famosas pirâmides do Egito. Verdadeira obra-de-arte. Até animais maiores do que lagartixas não encontram como fazer morada onde não existe espaço para isso. Aí vem à lembrança de cerca de pedra existente em Santana do Ipanema, no lugar Barragem, no sítio Laje dos Frade  (município de Poço das Trincheiras) e mesmo na Fazenda Coqueiros, Reserva Tocaia e nos limites da Igrejinha das Tocaias, ainda em Santana do Ipanema. Não tem cimento, areia, barro ou outro material, apenas pedras e mais pedras encaixadas maravilhosamente umas nas outras. A longevidade dessas obras, como já vimos, é coisa para muitos séculos. Mais informações sobre elas permitirão a um guia embalar o turista no Sertão do Nordeste.

Ficamos encantados com a visita a Laje dos Frade, onde uma cerca de pedra limita um lajeiro enorme, cuja centro côncavo, acumula tanta água tal um barreiro. Lugar muito agradável, água límpida, recanto para lazer, descanso e até dormidas às sombras de árvores que se debruçam na cerca de pedra de fora para dentro. Uma felicidade permanente para a família de agricultores, logo por trás de casa.

Atualmente o homem procura compensar as cercas de madeira proveniente das devastações, com estacas de cimento. Outros usam menos estacas e arame liso em cerca eletrificada.

Sertão estudado surpreende.

CERCA DE PEDRA DELIMITANDO A IGREJINHA DAS TOCAIAS (FOTO: ARQUIVO/ B. CHAGAS).

 


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quinta-feira, 12 de maio de 2022

 

BILIRO

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.701

O quadro da festa de Senhora Santana estendia-se por toda a extensão do Centro Comercial, o Quadro da Feira e Ruas José Américo e Tertuliano Nepomuceno. As atrações profanas eram variadíssimas, mas o Parque de Diversões sempre acenava como a maior delas, inclusive com a roda-gigante.  A roda-gigante quase sempre ficava entre o “prédio e o sobrado do meio da rua”, quando não era ali, localizava-se entre a “Casa Atrativa” do senhor Abílio Pereira (sobrado do meio da rua) e o “Hotel Central” da conhecida Maria Sabão. Entre tantas atrações, estava sempre também defronte a Casa Atrativa a seção do parque da PESCARIA. Era um redondo com grade onde o público se debruçava para pescar na areia no solo representando água. Ali estavam enterrados muitos objetos de pouco valor: caixa de fósforo, pente, colchete, biliro e um ou outro de maior relevância.

Com um anzol, o indivíduo pescava os objetos enterrados, com um arame para ser puxado. Bastava pagar. O locutor fazia uma zoada medonha e chovia de pescadores. Depois anunciava o nome do “peixe” pescado: um pente, uma bola, etc. Era uma brincadeira bem divertida mesmo. O que mais me chamava atenção era o nome “biliro” que o parque trouxera de outra região e que aqui se chamava simplesmente “grampo” de prender cabelos. Biliro saía muito na pesca e eu perguntava que diabo é biliro? Pois bem, para uma pessoa de bem com a vida bastava ganhar um biliro, um pente, para comentar em casa e rir à vontade, após a festa.

Estamos comentando apenas sobre a parte profana da Padroeira de Santana do Ipanema. Pois as reflexões estão tanto   dentro da nave quanto fora. Em todas as situações humanas cabem as meditações que podem conduzir à felicidade interna. Foi assim que muitos refletiram sobre a imensa alegria em pescar um objeto tão simples como uma caixa de fósforo, um colchete, uma bola... Porque o sentido da brincadeira não era enriquecer no puxar do anzol, mas assim como a vida, ser feliz em participar pois o que menos importava era ganhar uma joia, mas saber valorizar a simplicidade, daí alegria e risadas após a festa. Os sábios compreendem o complexo da vida e sabem celebrar junto a Deus a conquista significativa e profunda de um BILIRO.

CAIXINHA DE BILIRO (CRÉDITO: PINTEREST).

 


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terça-feira, 10 de maio de 2022

 

 

EXTRA, EXTRA

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.700

 



Não é fácil chegar a 2.700 crônicas. É preciso muito amor e dedicação aos escritos. Lembro-me de uma oportunidade quando me achava no Colégio Divino Mestre e o professor Valter Filho me fez um convite para escrever crônicas no seu site. Como estava precisando fazer alguma coisa entre uma publicação e outra de livros, aceitei na hora. A minha primeira crônica na Internet estava muito motivada e crítica sobre compra de votos. Antes, porém da Internet eu tinha publicações de crônicas na “Rádio Correio do Sertão”, na voz do saudoso Edilson Costa sempre às 12 horas, com o nome de “A Crônica do Meio-Dia”. Com seu vozeirão e modo de lê, o homem dava vida ao que estava escrito. Uma crônica diária anos a fio, é mais do que “matar um leão por dia”.

Passei a reforçar o site “SantanaOxente” que funcionava na época como opção do noticiário sertanejo e hoje é destaque no mundo da informação. Daí em diante os nossos trabalhos foram sendo divulgados em outros sites e os artigos chegaram em muitos países onde são apreciados diariamente. Entretanto, a fidelidade SantanaOxente continua e o lugar dos Blogs abriga também o nosso. Mesmo assim achamos que deveria haver maior visibilidade ou chamada especial, porém, quem procura acha. Santana do Ipanema está bem servida de órgãos noticiosos cada um com seu formato e estilo. Uma contribuição importantíssima que teve início com a Rádio Correio do Sertão, relíquia para o mundo sertanejo e que foi ampliada para outras rádios, sites e blogs.

Continuo grato ao Valter Filho, também conhecido como Valtinho.  Já tentei visitá-lo ultimamente, mas nunca deu certo. Torço, porém, que o seu site – feito e mantido com muita garra – esteja a cada dia melhor no conteúdo, no formato e no alcance de tantas mensagens importantes, cujo Sertão precisa divulgá-las. Por outro lado, desejo-lhe muita saúde, inspiração e  sucesso contínuo.

Crônicas no geral registra o cotidiano. Inclusive as coisas simples e mais simples que acontecem diante das multidões e só o cronista ver. E por mais desinteresse que ela cause no momento, não deixa de ser registro importante para o futuro quando novos pesquisadores e historiadores sobre elas se debruçarão. Sem vaidade, acho que eu e o Valtinho merecemos um champanhe.

ENCONTRO CASUAL COM VALTINHO NA CÂMARA DE VEREADORES, EM TRAJE DE GUARDIÃO DO RIO IPANEMA. (FOTO: ARQUIVO DE B. CHAGAS).

 


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segunda-feira, 9 de maio de 2022

 

CAROÁ

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.699

 




Deus concede conhecimentos ao homem para enfrentar qualquer tipo de ambiente onde tenha nascido. É interessante observar como era possível viver, por exemplo, num ambiente de caatinga bruta com apenas pobreza no couro cabeludo. Pobreza, mais a sabedoria divina para a sobrevivência extraída do próprio meio. Assim o catingueiro se alimentava das caças e quando não tinha arma industrializada, com a sua criatividade, fazia armadilhas para os bichos. Pegava o preá, o tatu, o mocó, o peba e aves da sua região. Às vezes, como os indígenas, usava o bodoque, armas perigosa e eficiente que ajudava a matar a fome. Mas também aprendeu a tirar mel silvestre de todas as espécies de abelhas que a caatinga oferecia.

Sendo o mel um dos alimentos mais nutritivos do mundo, tinha muito significado a peleja para obtê-lo no oco do pau, no cupim, na terra, nos enxus pendurados nos galhos das árvores. Mas também chama atenção o fabrico de objetos diversos com matéria-prima do próprio ambiente e um deles era a corda de laçar, de amarrar e para muitos outros fins. O matuto para fazer corda utilizava a fibra de uma planta bromélia denominada caroá, também chamada croá. Folhas compridas, esverdeadas com alguns espinhos, eram coletadas e trabalhadas com habilidade até chegar ao ponto de corda e mesmo de barbante. Esse processo era muito rudimentar dentro da mata, mas às vezes era utilizado com mais conforto nas clareiras ou no terreiro de casa.

A cidade de Senador Rui Palmeira, (antes Riacho Grande) teve sua origem numa fábrica de barbante de caroá ou croá. Esse fabrico fez com que esse lugar, no início, fosse chamado de “Usina”. Veja como foi importante um fabrico de corda de fibras nativas na própria caatinga. A cidade de Senador Rui Palmeira continua crescendo no Alto Sertão de Alagoas, graças ao impulso inicial dos produtos do próprio bioma. Falar nisso, vem à lembrança uma fabriqueta de corda no Bairro Floresta, em Santana do Ipanema. Era uma engenhoca ainda rudimentar à margem da Rua Joel Marques. Isso faz uns dez anos e parece-me que a matéria-prima não era caroá, mas sim, agave chamado em outras plagas de sisal. Havia muitas plantações de agave no município, inclusive, no conjunto residencial onde residimos, era só plantação de agave.

Pesquisas e observações.

CAROÁ (CNIP).


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domingo, 8 de maio de 2022

 

 

CAÇADAS CONTINUAM

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.698




 

Quando o caçador chegava do mato, da caçada, “desfilava” orgulhoso pelas ruas e pelo comércio com vários nambus e nambus-do-pé-roxo (menor) pendurados em torno da cintura. Desfilava é um modo de dizer, mas ali tinha muito orgulho ao mostrar a todos o resultado do seu trabalho. Geralmente as caças já estavam todas encomendadas ou quase todas.  E o caçador sentia prazer ao ouvir quem passava dizer: “cabra que atira bem no voo”. E atirar bem no voo era a principal virtude do caçador. Estamos falando do profissional a exemplo do saudoso Mário Nambu, o único que cantava melodias de Augusto Calheiro na cidade com o seu vozeirão. Tempos de natureza ameaçada e sem leis. As leis eram apenas as dos proprietários das terras: aceitavam ou não as caçadas.

Faz bastante tempo que não vemos caças nos bares como tira-gosto. Se ainda matam nambu, é coisa escondida dos que moram na caatinga. O que surge com frequência são os pássaros para vender nas feiras. Muitos já vêm com a gaiola caprichada para valorizar ainda mais a ave canora que varia no preço conforme a espécie e o canto. A variação vai de 500,00 ao valor de um automóvel, por isso os viciados procuram burlar a Lei. Vez em quando se noticia à apreensão de aves selvagens nas feiras do Sertão e Agreste. Os pássaros são levados para as reservas mais próximas onde pelo menos ganham a liberdade.  A presença do Nambu, da codorniz, vai ficando cada vez mais rara no comércio. Talvez também nas matas nativas.

Não faz tanto tempo, passávamos na chã de Belém e havia o “Bar do Nambu”. Não foram poucas as vezes em que passamos ali indo e voltando de Maceió e o bar resistindo. Nunca paramos para verificar e nem comer um nambuzinho torrado. Nem sabemos se ainda existe. Na verdade, depois das leis de proteção ambiental, não fica fácil desafiá-las. Portanto, o jeito é ir comprando codorna de criatório, cujo sabor também é excelente, além dos ovinhos pintados que dizem ser afrodisíacos. Falar nisso, lembramos as incumbências de pelar juritis no quintal de casa. Mas isso era no tempo que podia e caçadores diziam que era a caça mais saborosa da caatinga. Devia ser mesmo.

O nambu possui várias denominações conforme os estados brasileiros: Nambu, Inhambu, Lambu, Chororó, Inhambu-Chitã, Perdiz e tantos outras regionalistas. Quer dizer do tupi: ave do voo curto.

NAMBU (WIKIPÉDIA).


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quinta-feira, 5 de maio de 2022

 

ESPIANDO O GADO

Clerisvaldo B. Chagas, 6 maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.697




 

Maravilha o poder da Web. Inúmeras postagens de vídeos por todos os lugares, principalmente as divulgações amadoras sobre aspectos de feiras e feiras de gado. As feiras de gado estão mostradas pelos estados de Pernambuco e Alagoas, pelo menos são as que mais aparecem. É óbvio que estamos vendo uma melhora significativa no aspecto físico, na qualidade dos bichos, na distribuição do espaço e em mais caprichados currais. Muitas delas respeitando o espaço de cavalos, bovinos e animais menores, mas ainda não vimos postado, um sistema de alimentação, bebida e sombra para isto, a não ser das árvores surgidas do acaso. Feira de gado deveria ser igualmente a uma exposição agropecuária com toda a estrutura para o bem estar animal.

Destaque em Alagoas é a Feira de Gado de Dois Riachos e a chamada Feira dos Cavalos no distrito palmeirense de Canafístula Frei Damião. E a feira no geral que era coisa da Idade Média, para surpresa de muitos, resistiu à modernidade do Supermercado, do Mercadão, do Mercadinho, do hiper e de outras formas de vendas nas cidades e capitais. Os destaques são justamente as Feiras Camponesas e as feiras de gado que ninguém vai levar uma vaca para vender no Mercadinho. Ao contrário de quem pensava que as feiras iam acabar, viu o diferente: cada vez mais revigoradas e divulgadas. No caso da feira de animais de porte, entra e circula milhões de reais nesses municípios que descobriram a mina. Isso sem contar com as prestações de serviços nos entornos dessas feiras, consideradas comércios miúdos, mas que arrecada muito dinheiro e assegura a dinâmica do movimento feireiro.

Almoço quase sempre com galinha de capoeira, a bebida, os artigos de couro, os doces diversos e até cangas, vara-de-ferrão e acessórios para montarias, tapiocas, milho assado, água de coco e muito mais. Como foi dito, parece um negócio miúdo, porém bastante dinâmico e que assegura a sobrevivência de inúmeras famílias e o próprio andamento da feira. Esse movimento que teve início defronte os castelos medievais, portanto, atesta a força da compra livre e da validade desse sistema secular. Nem o moderníssimo sistema de compras pela Web conseguiu abalar as feiras de gado nordestinas. Para quem gosta do ramo, uma grande atração pessoal.

CANAFÍSTULA FREI DAMIÃO (FOTO: TRIBUNA DO SERTÃO).


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terça-feira, 3 de maio de 2022

 

POVOADO ÓLEO

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.696




 

Entre nomes de sítios e povoados santanenses um nos chama à ordem, mas só sabe a origem da sua denominação quem já leu da minha autoria algo a respeito. Continuo com um trabalho rural em mais de 60% e interrompido que fala sobre o significado dos nomes dos mais de 130 sítios e povoados do município. O mistério do povoado Óleo é um deles. Estranho nome povoado Óleo! Localiza-se bem perto de São Félix. Antes, 2 ou 3 casas num terreno insalubre, esburacado, dentro de   olaria. Hoje, segundo Jorge Santana, secretário, maior do que o tradicional povoado São Félix. Sua evolução aconteceu com bastante rapidez graças aos inúmeros benefícios solicitados pelos seus representantes, a luta do seu povo e a boa vontade da gestora municipal.

Pois bem, o vereador Jaime Costa tinha uma fazenda ali perto e sempre passava pelo futuro povoado. Certa feita viu alguns trabalhadores deixando o trabalho na hora da refeição e disse: “Olhem ali a turma do Óleo!”. Estava o vereador referindo-se a uma comparação que se diz na cidade com frequência: Turma do óleo, aqueles que trocam o óleo dos automóveis nos postos de gasolina e outros serviços relativos. O apelido pegou imediatamente, segundo contou-me de viva voz o saudoso vereador.  E assim, de um lugar que não tinha nada de óleo e sim, barro de olaria, passou a ser chamado estranhamente: “povoado Óleo”.

Sendo o povoado Óleo no mesmo roteiro do povoado São Félix, para os lados da serra do Caracol (falada no primeiro documento sobre Santana do Ipanema), naturalmente é contramão e só vai lá quem tem negócio; mesmo assim encontrou fôlego suficiente para crescer e progredir. Como existe quase uma conurbação entre ambos os povoados, esta conurbação acontecerá em breve. E para quem não sabe, conurbação (palavra feia!) é a ligação de uma cidade a outra devido a expansão das duas, o que pode acontecer também entre povoados. Quando o asfalto for para aquelas bandas, com certeza chegará garbosamente até o lugar Óleo, quem duvida? A propósito, seguindo margeando a serra do Caracol, além do povoado Óleo, pode se chegar por entre grotas e montanhas, às terras queridas do município de Dois Riachos.

MUDANDO O ÓLEO (IMAGEM: PIXABAY).

 


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segunda-feira, 2 de maio de 2022

 

TEMPO RICO

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de maio de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.695




Fui me vacinar contra a influenza, sob uma chuvarada que pode enganar, mas tem tudo para ser o início da nossa época invernosa. É certo que o mês de maio é o início, mas costuma ser do meio para o fim. Agora vem aguando a terra mesmo antes do final de abril. Ao chegar ao Posto de Saúde São José, tem-se uma visão maravilhosa dos arredores distantes; foi aí que pude ver as colinas que circundam Santana, completamente tomadas de chuvas sobre os nossos belos campos ora dominado pelo verde escuro. Nada teve diferente do inverno, a paisagem e a friezinha conhecida nossa. Por isso não me contive e exclamei para o agente: “Tempo rico!”. E de fato o tempo estava como o sertanejo gosta. Voltei com prazer sob a garoa que ornava o espaço.

Água escorrendo pela sarjeta, passarinhos encolhidos na fiação da rua, urubus recolhidos aos montes e gatos na beira do fogão. Cenário de inverno que nos faz refugar em algumas tarefas e pensar num agasalho, daqueles mais velhos que a gente tem em casa. Um café pequeno vez em quando, um naco de bolo de macaxeira, uma boa melodia cavernosa e um saudosismo dos melhores momentos da vida. A chuva tamborilando no telhado, as plantas agradecendo no jardim, trazem uma melancolia para matar na cama. E aquela espiada obrigatória para a rua deserta, faz parte do ritual molhado que nos iguala aos passarinhos dos fios. Estendo a vista pela crônica em acabamento e o Divino Espírito Santo cuida da devida generosa inspiração.

O cenário rural é de limpar o mato, cortar terra, fazer roça. Pena que em pleno Século XXI, ainda se veja no Sertão o cenário arcaico dos nossos antepassados: O agricultor cortando terra com arado à antiga puxado por parelhas de garrotes. Em muitos casos, nem parelhas de garrotes, mas sim, parelhas de jumentos, outros, nem parelhas, mas com uso apenas de um jumento só. Estão aí os vídeos postados na Internet pelos próprios matutos, o que fazer? Faltam os cooperativismos quando todos podem usar máquinas modernas através das suas parcerias. Mesmo assim, contemplamos a alegria sertaneja no uso do ditado popular: “Quem não tem cão, caça com gato”, embora seja ainda um processo extenuante, traz ao homem do campo a sensação do dever cumprido e comprido. Deus nos dê coragem e um coração feliz.

CHUVA NA BAIXA E NAS COLINAS (FOTO: B. CHAGAS).

 


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domingo, 1 de maio de 2022

 

AMÉM, SÃO JOSÉ

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de maio de 2022



Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.694




 

Finalmente, após marchas e contramarchas, o espaço depredado da Praça das Artes, construída no governo Marcos Davi, será revigorado. Os vândalos da região destruíram o logradouro que passou a servir a ratos, baratas, mosquitos, cavalos, burros, carneiros, maconheiros e lixos colocados pelos próprios moradores, por muitos anos. O pior é que a outrora Praça das Artes, por alguns dias, é vizinha ao Posto de Saúde São José, posto de saúde este, modesto, mas muito bonito. É verdade que na onda de asfalto pelas ruas de Santana não ganhou esse benefício, porém não merece uma vizinhança desclassificada igual a que tem, não por falta de autoridade, mas pela incompreensão dos destruidores da coisa pública.

Semana passada a prefeita Christiane Bulhões emitiu ordem de serviço para reforma da Praça das Artes. Isso trouxe muita esperança para o espaço Posto de Saúde São José, sua vizinhança e todo o bairro que tem o nome do santo. Com a reforma da praça o Bairro São José consolida assim a presença pública quando a nova estrutura deverá se acoplar entre a parte alta e a parte baixa enriquecendo o trecho que já tem Corpo de Bombeiros, Justiça Federal, Posto de Saúde, escola básica de porte e DENIT. Por sinal, está havendo a festa de São José que é sempre realizada na parte alta onde está localizada a sua igreja. O Bairro São José também representa saída e entrada para o Alto Sertão com a sua vizinhança Bairro Barragem e Clima Bom.

A origem do Bairro São José vem da antiga CONHAB VELHA, na parte alta e do Conjunto Habitacional São João, na parte baixa do relevo. Foi desmembrado do grande Bairro Camoxinga, após a construção da sua igreja em uma das ruas principais, embora a principal mesmo seja a Avenida Castelo Branco onde se instala o Parque de Diversões durante os festejos ao pai de Jesus. Liga-se ao Bairro Camoxinga pela BR-316 (Pancrácio Rocha) e várias ruas paralelas. A região sempre representou muito mais lugares habitacionais de que propriamente comércio. Este ainda é insípido e falta até o básico como farmácia, açougues e muito mais.  Portanto, a praça que será reformada com disponibilidade de cerca de 600,000 reais, poderá trazer novos aspectos para o entorno do bairro. Feita a praça, divulgaremos a foto da obra.

PRAÇA DAS ARTES, DEPREDADA, HOJE. (FOTO: B. CHAGAS).


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