quarta-feira, 23 de abril de 2025

 

HEROÍNAS DO RIO

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de abril de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.231

 



Às pressas, tive que passar ferro em algumas camisas e logo veio o pensamento para dona Antônia Lavadeira e Zefinha Engomadeira, personagens reais da minha adolescência. As lavadeiras levavam as trouxas de roupas para o rio Ipanema e lavavam à beira de cacimbas escavadas na areia. O sofrimento era está ali debaixo do girau de madeira e pano a uma temperatura altíssima, no verão. E mais sofrimento ainda, uma criatura ficar de cócoras o tempo todo, até manhã inteira lavando, lavando, lavando para quem podia pagar pelos serviços. Durante as cheias, não havia cacimbas, quando a água barrenta limpava um pouco – após uns três do início da enchente – as lavadeiras usavam essa mesma água pela margem do Panema.

Já as engomadeiras – as que passavam ferro nas roupas – eram assim denominadas porque vários tipos de tecidos levavam goma. Tinham também o sofrimento continuado da quentura do ferro em brasa e ainda a curvatura do corpo nesse mister, por horas e horas seguidas. Como adolescentes não tínhamos ainda essa conscientização, mas o tempo aponta. Sabemos também que essas atividades como são descritas acima, aconteciam em todas as regiões do nosso País, mas estamos no referindo apenas a labuta das mulheres do Ipanema. Hoje, sumiram as cacimbas e surgiram lavanderias coletivas em alguns bairros. A goma não existe mais para aquela função. O ferro em brasa evoluiu para o ferro elétrico e, atualmente para um aparelho a vapor.

O romance inédito AREIA GROSSA, resgata a labuta dessas mulheres do rio. E vamos caminhando para um tempo em que, já chegou, muitos tecidos não precisam mais de passar, de engomar e de coisa parecida. Estamos aguardando agora, aquele tecido de vestir pessoas que não seja mais preciso lavar. Nesse caso, se está dispensada lavadeira e engomadeira, iremos dispensar também a valente máquina de lavar. Economia, mulher! E assim prossegue a humanidade. Os mais velhos viveram todas essas fases até agora, os mais novos, só sabem do passado mediante pesquisas.

Sertão fala.

Sertão conta.

Sertão contribui com a cultura brasileira.

 

LAVADEIRAS DO SÃO FRANCISCO. (AUTOR NÃO IDENTIFICADO).

 

 


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terça-feira, 22 de abril de 2025

 

O COMPRADOR DE CINZAS

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de abril de 2025

Publicação extra: Poesia

 

 




O COMPRADOR DE CINZAS

                                                   (Autor) 

 

O comprador de cinza é empregado

Do dono usurário dos curtumes

Sai à noite com céu iluminado

Pelo dia vagueia pelos cumes

 

Vão as cinzas nos sacos encardidos

Que seus burros transportam com firmeza

Paga a compra dos preços discutidos

Pela rua do rico ou da pobreza

 

Um idílio na mente viageira

Do seu rancho à trilha é transladado

Para o casco do burro e da poeira

 

E se amor de caminhos não embasa

Como a cinza mais frágil do comprado

Mas no rancho, não cinzas... Só a brasa.

 

 

DO LIVRO

“SANTANA: REINO DO COURO E DA SOLA”

(publicação recente)

 

 

 

 

 

 

 

 


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