DONA-DE-CASA: VALORIZE O TAMBORETE Clerisvaldo B. Chagas, 17 de dezembro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.2...

DONA-DE-CASA: VALORIZE O TAMBORETE


DONA-DE-CASA: VALORIZE O TAMBORETE
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.231

(FOTO/DIVULGAÇÃO)
Em Santana do Ipanema, funcionavam o Banco do Brasil e o Banco do Estado de Alagoas – PRODUBAN. O funcionário do primeiro, chamado João Farias, fumava muito. Vez em quando pegava o cigarro entre os dedos e dizia para clientes em dúvida: “Banco é o do Brasil... O resto é tamborete”. Tamborete ou banco no Sertão todo mundo conhece; pequena peça de madeira entre três ou quatro pés, quadrado ou redondo é fundamental para o tirador de leite. Foi assim que o cangaceiro Corisco e seus cabras encontraram a minha tia Dorotéia sentada no banquinho, saia rodada, ordenhando no curral da fazenda. A pose mereceu um elogio do subchefe do cangaço: “Olhem aquela como está! Parece uma princesa”. E nem sequer parou na sua caminhada.
Voltando para o início, o PRODUBAN terminou cerrando suas portas. O tamborete faliu e todos comentaram o motivo, mas aí é outra história, camarada. Atualmente até médicos especialistas recomendam à dona-de-casa, o banquinho da ordenha. Esse tamborete está mais ativo de que nunca. Para quem tem problema de coluna, principalmente, o banquinho é seu grande assistente em várias situações do lar. Serve para sentar quando for mexer na parte baixa da geladeira; serve para subir e pegar coisas mais altas no armário; para sentar, colocar e tirar roupas da máquina moderna com tampa na frente. Apoiar um pé ao passar ferro ou nas tarefas da pia. Até aí o Banco do Brasil “não serve para nada”, a não ser para financiar a compra do tamborete.
Para adquiri-lo, basta encomendar ao marceneiro ou então comprar o produto em mercado de atacarejo. Existem os bons e os péssimos assim como preço justo de uns 15,00 ao absurdo de mais de 200,00. E o pior, mais frágeis do que cabo de vassoura. Os de plástico rígido não valem nada, mas têm o poder de lhes fazer raiva. Assim fica resgatado o quase esquecido tamborete de madeira.  Numa reforma feita em apartamento, entre quatro pessoas, o banquinho foi solicitado muito mais de cem vezes.
Ah! Ia esquecendo outra função importante do tamborte. Se o seu marido gosta de fumar o fumo de rolo ou mamar no cachimbo de coco catolé, compre outro para ele também. Deixe-o no seu cantinho da casa que terá a réplica viva de Preto Velho, com todo respeito. Amém, amém.

CORDÃO DE SÃO FRANCISCO Clerisvaldo B. Chagas, 16 de dezembro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.230 CORDÃO ...

CORDÃO DE SÃO FRANCISCO


CORDÃO DE SÃO FRANCISCO
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.230
CORDÃO DE SÃO FRANCISCO (FOTO/DIVULGAÇÃO).
Quando criança, nas minhas incursões pela caatinga bruta, capoeiras e margens de riachos, treinava na escola da vida com os matutos. Aprendi, entre outras coisas, a descascar laranja com as unhas, a fazer flauta de caule de abóbora, comer das cercas de arame o melão-de-são-caetano, brincar com o chumbinho e o fio-de-ouro, identificar os indivíduos da fauna e da flora. Entre os vegetais, gostava de sugar flores daquilo que sempre chamei de espinheiro. As flores longas e amarelas que rodeavam o núcleo cheio, pontiagudo e macio pareciam com espinhos. Fazia igual ao beija-flor (colibri, bizunga), degustando o néctar, gostoso, de ínfima quantidade. E somente agora, compadre venho a descobrir nome e serventia da planta formosa do Sertão.
 Conheci que o espinheiro, por mim chamado, tem o nome de cordão de frade ou cordão de São Francisco. Sua espécie é a Leonotis nepetaefolia, pertencente à família Labiatae. Originária da África pode ser encontrada na Ásia e em toda a América. Mas a surpresa não estava somente aí. Diz a botânica: suas propriedades são ótimas para problemas de rins, aliviam os gases, indicadas para dores abdominais, aliviam a circulação do sangue, desincha o pé, auxiliam nos problemas de estômago, cólica, fraqueza, reumatismo, cistite, nevralgias, febre e malária. Ajuda criança a aumentar os glóbulos vermelhos, reforça as defesas, ajuda problemas respiratórios como asma, infecção pulmonar, rinite e sinusite. Limpa os pulmões, reduz o catarro, curar tosse seca e dores de garganta.
Será que o nosso saudoso amigo Ferreirinha, cantor e mateiro, também sabia disso? Bem que ele publicou um folheto – era garrafeiro – sobre as curas pelas plantas.  A última vez em que vi o meu espinheiro foi no pátio de terra da Escola Estadual Professora Helena Braga das Chagas. Ao avistá-lo recordei a adolescência, mas só agora conheço os seus benefícios. Não sou eu quem recomenda os seus chás.
Se fumado, o cordão de São Francisco tem o mesmo efeito da maconha.
Ô Sertão arretado! “É morrendo e aprendendo”, comadre, com hífen ou se hífen





DESCENDO O VALE Clerisvaldo B. Chagas, 13 de dezembro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.229 RIO IPANEMA ...

DESCENDO O VALE


DESCENDO O VALE
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.229

RIO IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).
Há algum tempo resolvemos fazer uma vistoria em trechos do rio Ipanema velho de guerra. Junto aos companheiros Manoel Messias, Marcello Fausto, Sérgio Campos e Ferreirinha, descemos a partir do lugar Barragem e fomos contemplando as duas faces do rio. Leito seco, na época. Justamente, iniciamos pelos lugares mais poluídos onde alguns animais selvagens teimam pela sobrevivência. E a admirável vegetação que prolifera no leito era a mesma que sempre ofereceu soluções para a saúde popular. E esses próprios vegetais que curam estavam sufocados pelo lixo sem controle dos inconscientes periféricos. Banhados encontravam-se com material aquático fruto da poluição intensa onde garças pantaneiras procuravam alimentação.
Visitamos nesse trecho o poço das Mulheres, o poço do Juá e o poço dos Homens. Encerramos essa fase na passagem molhada do Minuíno até a chamada Ponte dos Canos, cuja adutora transpõe o rio embutida por concreto. Estivemos galgando a antiga Pedra do Sapo que marcava a largura das cheias. De um oratório erguido no topo, restavam apenas os degraus de acesso, feitos com cimento. Continuamos, então, pelo segundo trecho, margeando o rio, por veredas de poeira, muita vegetação e limites de arame farpado. Mulungu, Unha-de-gato, Mamona, Mussabê, Urtiga e Mororó faziam parte da flora medicinal das ribanceiras. Fomos sair além do longo poço do Escondidinho, coberto totalmente de plantas aquáticas. Atravessamos o rio em outro poço adiante e voltamos pela margem oposta passando e examinando a foz do riacho do Bode.
Época de muitas flores no campo formando belo colorido no pano de fundo verde. Mas as ruínas da Igreja de São João, construída em 1917, causaram comoção na equipe aventureira. O poeta, compositor, cantor e pescador Ferreirinha, saía mostrando e explicando certos vegetais: fio-de-ouro, catingueira, urtiga, mororó... Exaltando seus poderes nas curas de certos incômodos. Fomos sair na casa de Dona Joaninha, mulher guerreira engajada conosco na luta pela proteção ambiental.
Outra incursão igual aquela... Estou a duvidar.
Ferreirinha já partiu, mas a sua foto pescando no lugar “Cachoeiras” (rio Ipanema) já faz parte do nosso livro “Repensando a Geografia de Alagoas”, inédito.