terça-feira, 26 de março de 2024

 

A GALINHA E O OVO

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de março de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.028

 



Já se foi o tempo em que o criatório de aves nos terreiros de sítios e fazendas saltava aos olhos. Galinhas, pintos, galos, pavões, perus, frangos, guinés, patos e até marrecas obstruíam o caminho dos passantes. Eram as chamadas galinhas de capoeira. Um misto de inúmeras espécies, que ornamentavam a zona rural. Após esse desaparecimento, o vazio e, depois do vazio uma nova tentativa de criar galinha para produção de ovos em quantidade no Sertão e Agreste de Alagoas. Não é fácil transformar qualquer região sertaneja alagoana num São Bento do Una e imediações, onde as granjas estão consolidadas.

Mas já aparecem na região, ovos de galinhas caipiras vindo de cooperativas de Santana do Ipanema, Olivença e de formação em São José da Tapera, além de ovos de granja (o branco) do povoado Laranjal de Arapiraca. Esses ovos vêm em embalagens belas, modernas e higiênicas que parecem que estão desbancando os ovos que chegam de Pernambuco com suas embalagens de papelão rude e anti-higiênicas. Que bom que está sendo diversificada a economia regional no império do boi. Pelo visto o homem sertanejo alagoano também quer criar o Poder Granjeiro como o do estado vizinho. É preciso muita persistência, assistência técnica, capital e muita tecnologia de ponta. Será que conseguiremos?

A galinha branca de granja, todos conhecem. A galinha de capoeira é aquela de qualquer raça criada nos quintais e nos terreiros de sítios e fazendas. Possui ovo branco igual ao da galinha de granja. E a galinha caipira é aquela marrom, cujo ovo também é marrom claro ou escuro. Mas o miolo do assunto é mesmo a Economia. Já pensou em várias granjas no seu município, produzindo 30.000 ovos/dia, vendendo e exportando através de cooperativas? Quanto dinheiro não entra! Quanto em dinheiro circula... E o número de empregos nas granjas e na cadeia produtiva?  Pois chegou a hora de tornar o Sertão independente de ovos, um dos alimentos mais ricos do mundo.

Viva as cooperativas que representam a força de vontade do produtor guerreiro do sertão. Vamos dar preferência aos nossos produtos. Viva a galinha e viva o ovo!!!

GALINHAS CAPIRAS

 


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domingo, 24 de março de 2024

 

O CANGACEIRO MOCIDADE

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de março de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 027

 



Para quem gosta dessas ladainhas de cangaceiros, cumpre-me trazer a lume um cabra dos anônimos do bando de Virgolino Ferreira, o Lampião. Neste espaço, tenho me referido ao Filemon, homem do povo, simples, educado e muito calmo, devagar. Não sabemos se era de Santana ou chegara a Santana. Quando conheci o casal, Filemon e Júlia foi em torno dos anos 60. Ela possuía banca na feira, onde vendia comida caseira. Muita desbocada, dona Júlia. Ele, Filemon, era alto, escuro igual à mulher e poderia ser localizado na casa dos 60 anos de idade ou mais.  Sobre sua atividade, só conhecemos o ato de fazer saborosas comidas para festas, para clubes, sendo mestre na feijoada, no abate e preparo de cágados (jabutis), muito apreciados na época.

Ele nos contava: era padeiro em vila Mariana, Pernambuco. Certa feita, Lampião passou por ali com o bando, convido-o.  Convite aceito partiu com o bandido sertão afora. Recebeu todos os equipamentos de guerra e passou a ser conhecido por  MOCIDADE. Passou a cozinhar para o bando e participou do sequestro de coronel famoso em Águas Belas. Explicou por que Lampião não matou o coronel e toda a sua explicação coincide com livros que falam do assunto. Seis meses do seu ingresso no bando, fugiu, afirmando a si próprio que não nascera para aquela vida. Por ser calmo e paciente, servia às vezes de chacota para o amigo Zé Chagas, homem piadista nato, em Santana do Ipanema. A vida do primo Zé Chagas, daria um livro completo, por sinal, rimos muito no lançamento do livro em Maceió, lembrando suas brincadeiras inusitadas. Fo ali que descobri o nome do CANGACEIRO, através de outro primo, Zé Ormindo.

Pois, estão aí agora, os dois únicos cangaceiros santanenses que se tem notícia. Gato Bravo e Mocidade. Com estilos completamente diferentes, possuem a coincidência de fuga de cangaço. Entretanto, a nossa cidade nunca alimentou histórias de  cangaceiros. Sempre foi um limbo total na tradição do município desde a grande festa de cabeças de 1938. O nome descoberto e apresentado à sociedade e aos estudiosos foi apenas um desencargo da consciência de quem teve acesso.

Estamos indo, fui.

CAPA DE LIVRO (FOTO: B. CHAGAS).


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