quarta-feira, 31 de março de 2021

 

EU NO SAGRADA FAMÍLIA

Clerisvaldo B. Chaga, 1 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.502


Quando descobri aquele casarão abandonado na Rua Martins Vieira, tive desejo de conhecê-lo por dentro. A enorme obra inacabada era composta de inúmeros vãos, mas só havia mesmo o telhado e as paredes caídas de branco. Um dos compartimentos era somente uma grande vala de barro aguardando um dia ser aterrada para o nível correto do piso. Para mim, um pequeno abismo. Pessoas falavam que obra era mal-assombrada. Passei a brincar ali dentro. Vinha da Rua Antônio Tavares, cruzava a Rua Nova, pegava um matagal e chegava pelos fundos no prédio do mal assombro. Eu tinha medo por um lado, mas o desejo de brincar ali dentro era maior e nunca vi nada que me botasse para correr. Às vezes saía do Grupo Escolar Padre Francisco Correia e seguia para casa passando por dentro do edifício sinistro.

Eu não sabia, mas Deus me preparava para ser no futuro, professor de Geografia do Casarão temido. Já adulto e lecionando Ciências no Ginásio Santana, via aquele prédio, antes ao abandono, transformar-se em Colégio com o nome de Instituto Sagrada Família, cuja direção pertencia as irmãs holandesas (freiras) Leôncia e Letícia. Convidado pelas irmãs, passei um tempo feliz naquele estabelecimento, assim como também amava o Ginásio Santana.

Lembro-me que foi o professor Alberto Nepomuceno Agra que me falou que a outrora obra inacabada, pertencera ao cidadão que fora interventor de Santana nos anos trinta e passara a ser agiota, Frederico Rocha. E que Frederico emperrava a construção para especular. Por isso dera certo trabalho quando pessoas da sociedade foram tentar adquirir a obra inacabada para transformá-la no Colégio Sagrada Família, naturalmente, com verbas holandesas.

Para não ferir a memória de ninguém, não falarei aqui o motivo do fechamento das portas do Colégio. Ainda hoje conservo uma placa de estojo em homenagens “aos relevantes serviços prestados” naquele estabelecimento, diz a placa. Atualmente o edifício vai de uma rua a outra e funciona também como escola municipal. Aquelas árvores plantadas no pátio com bancos de granito rodeando-as, foi ideia minha. Recordo-me disso quando passo por ali em tempos eleitorais, pois funciona com várias sessões para os votantes. Ali também passei cerca de trinta anos sendo mesário na sessão 115. Nas últimas vezes em que fui votar, por coincidência, o presidente da mesa era um ex-aluno, funcionário do Banco do Nordeste.

Está aí a história para os pesquisadores santanenses sobre a origem de mais um dos admiráveis casarões de Santana do Ipanema, uma das 10 escolas desse território onde lecionei, do total de 12 com outros municípios.

Continuo amparado pela SAGRADA FAMÍLIA. AMÉM.

 

PRÉDIO QUE PERTENCERA AO SAGRADA FAMÍLIA, FUNDADO EM 1976.  (FOTO EM 2013: LIVRO 230/ACERVO B. CHAGAS).

 

 


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terça-feira, 30 de março de 2021

 

NAS TRILHAS DO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.501





Saí a pé disposto a enfrentar o desconhecido. Segui pela estrada que leva até a Fazenda Baixio, na época pertencente ao senhor Firmino Falcão (Seu Nozinho). Segui em frente e passei direto pelo acesso que leva até o sítio Camoxinga dos Teodósio. É bom dizer que a estrada era boa, mas não encontrava um só indivíduo humano, somente cantos de pássaros.  Avistei um pequeno poço no pé de uma pedra tipo matacão, muito branca e uma craibeira de porte médio fazendo sombra na pedra. Um local bucólico que pedia banho e rede. Provavelmente aquele seria o riacho Camoxinga seco, mas a quem perguntar?  Aos pássaros? Às cercas de arame? À paisagem perfumada? Fui avistar uma casa adiante, fumaça saindo na chaminé, mas nada de cara de gente na janela. Desviei-me para a nossa Fazenda Timbaúba, deixando a estrada que leva até o sítio Barra do Tigre.

Ao sair da parte baixa da Timbaúba, voltei pela Timbaúba alta, onde havia muitas pinheiras, entrei por uma trilha ladeada de caatinga e saí acompanhando paralelamente o lombo da serra da Camonga em direção à cabeça. Quilômetros e quilômetros pela trilha, tão silenciosa que nem canto de ave surgia nos vegetais. Estava sozinho num deserto que nem calango cruzava a vereda. Depois de muito caminhar fui sair na estrada larga que leva ao povoado São Félix, um pouco antes da ladeira que passa pelas imediações da cabeça da Camonga. Bastava atravessar a estrada de terra e estaria diante do sítio Imburana do Bicho. Por que Imburana do Bicho? Pensei: a imburana pode ser de cambão ou de cheiro.  Bicho deveria se referir a algum tipo de praga que havia deformado a arvoreta ponto de referência do lugar.

Retornei à cidade, passando pela fazenda conhecida como “Fazenda Baixio de Abílio Pereira”. Um pouco antes, dei uma espiada em um caminho antigo que saía no Açude do Bode. Eu já o   percorrera com certa dificuldade, pois estava abandonado, solo irregular devidos às enxurradas e mato obstruindo a passagem. Difícil até para burros e cavalos. Nem sei como a ambição humana não avançara as cercas sobre ele e o englobara. Na estrada ainda estava de pé a grande craibeira, marco da estrada para São Félix, quase na frente da casa-grande da fazenda Baixio de Abílio Pereira. Cheguei em casa cansado, mas satisfeito em ter navegado pelas trilhas do Se

Nunca mais revisei meus cafundós

Com essa tal pandemia, só posso respirar nos vegetais do Sertão agora, pelas fotos que o tempo não deixa de mostrar.

 

1.   SERRA DA CAMONGA, AO FUNDO, VISTA DA RUA PEDRO BRANDÃO. (FOTO B. CHAGAS).

2.   SERRA DA CAMONGA VISTA DA RUA PEDRO BRANDÃO. (FOTO: GUILHERME CHAGAS).

 


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segunda-feira, 29 de março de 2021

 

AINDA O MUSEU E OS CIGARROS DE AUDÁLIO

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.500

 



Explanando para os futuros pesquisadores sobre o Casarão/Museu de Santana. Além do que foi descrito em crônica anterior com o nome de PERGUNTA NO AR, o prédio ainda possuía (e possui), um pequeno quintal. Continuando o quintal, lateralmente havia (e ainda há) um compartimento com frente para a Rua Ministro José Américo, via também da feira livre. Em determinado tempo, aquele compartimento foi cedido ou alugado e passou a funcionar como bodega de cachaça para os viciados da feira. Nessa época o museu para algumas autoridades, era apenas um lixo que a ignorância não sabia como se livrar do entulho. Bem que o compartimento poderia ter servido para ser instalada a parte administrativa da permanente exposição. A cachaça e o cuspe no pé da mesa venciam a Cultura.

No oitão do edifício, voltado para o Largo da Feira, ainda hoje existe uma pequena porta no sótão. Alguns feirantes guardavam ali suas mercadorias após a feira. Um deles chagou até a negociar suas bugingangas, parte dentro do sótão e parte fora. Era um homem amigo de meu pai, dente de ouro e pronúncia aberta para feijão a que ele chamava de féjão.  Vizinho à entrada do sótão (nós chamávamos de porão) o senhor Audálio colocou ali uma barraca vertical para vender cigarros e que funcionou por muito tempo. Houve ocasiões em que os viciados procuravam os tubos de fumo na cidade e não encontravam, mas na barraca do Audálio sempre havia cigarros, servidos, alíás, com muita rapidez e agilidade no troco, quando precisava. Seu Audálio tornou-se uma pessoa muita conhecida em Santana, com sua barraca de cigarros ao lado do museu. No porão, atendeu por muito tempo o sapateiro Genésio, onde formou sua tenda.

Muitas e muitas histórias foram contadas na barraca do fumo por ele mesmo, o dono. Sentado em banquinho de madeira, bem como seus assíduos frequentadores das palestras, principalmente as noturnas, como a presença marcante do saudoso professor José Maria Amorim, a noite era consumida. Como o tempo é o senhor de tudo, Audálio, nem sei o motivo, fechou o ponto e foi para casa. “Vão comprar cigarros agora na casa da peste!” – disse um gaiato da rua como desabafo.

O que você acha? Essa é a história do museu que não é do museu. Entretanto, acho que daria um livro completo de tantos e tantos casos do “Seu Audálio da Barraca de Cigarros” e seus compromissados com os ouvidos.

Quer saber?! Acho que o homem não fumava e se fumava era com a boca alheia. Ô vida de gado!...

 

ANOITECER DE DOMINGO NO LARGO DA FEIRA, VENDO-SE A LATERAL DO MUSEU DARRAS NOYA E A MATRIZ DA CIDADE. (FOTO: ACERVO/ B. CHAGAS).

 


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domingo, 28 de março de 2021

 

VACINA, SIM

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.499

 







     E vamos nós para o Bairro e Rua São Pedro onde estava havendo vacinação, 24 de março. Chegada a nossa vez, não podíamos vacilar na bênção da Ciência, embora encarando tudo com normalidade. No sistema drive-thru, a Saúde bem organizou o lugar e o trânsito. Os automóveis seguiam pela Rua Antônio Tavares, atingiam a Rua São Pedro, abaixo da praça onde se encontrava a equipe da Saúde, vacinavam seus idosos e seguiam em frente até o final da do trajeto onde subiam pela primeira ladeira e escolhiam suas opções. 15 horas, o movimento estava fraco e apenas pegamos um automóvel na frente, nenhum atrás de nós. Uma tranquilidade.  Documentos à mão, rapidamente atendidos e a expectativa da agulhada. Sorte de encontrar alguém da mão de seda. Apenas uma picada de mosquito, nenhuma reação, como se não tivéssemos sido vacinados. Agradecimentos ao pessoal da Saúde, ao santo do bairro; dever e direito cumpridos, retorno a casa e espera da segunda dose.

Tudo isso fazia lembrar a vacinação contra a varíola, acontecida no tempo de criança no Grupo Escolar Padre Francisco Correia. Naquela ocasião, nós, os alunos, fomos vacinados por uma equipe volante da Saúde e que era usada para “arranhar” o nosso braço, uma espécie de pena de escrever (ainda hoje carrego a cicatriz). Lembro-me ainda de uma única pessoa da equipe de Vacina que era o primo Zé Chagas. A epidemia da varíola foi tão aterrorizante quanto o Covid de hoje. No rio Ipanema já havia uma loca natural para onde eram conduzidos os infectados. Ali, ou escapavam ou morriam.

Tempos difíceis aqueles. Vi muitas pessoas pintadas com as manchas na pele. Cenas desagradáveis, principalmente quando se tratava de pessoas da pele negra quando se acentuavam as marcas terríveis da doença. Há alguns anos atrás, subi o rio Ipanema e fui até o lugar denominado Poço Grande, onde havia “a loca dos bexiguentos”. Fica numa ilha do rio onde o Ipanema se divide em dois braços. Afirma um místico santanense que aquilo é uma pirâmide construída por alienígenas e que até já recebera equipe da Sociedade Rosa-Cruz do Paraná que atestaram às rochas místicas.

Nunca mais andei por aquelas bandas.

Xô, xô... Epidemias!

SÃO PEDRO, PRAÇA DA VACINA (FOTO: ACERVO B. CHAGAS)

 

 


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sexta-feira, 26 de março de 2021

 

PERGUNTA NO AR

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.498

 



 

Pergunta-me o escritor João Neto Félix se eu tenho algum registro oficial de quem construiu o prédio que hoje representa o Museu Darras Noya. Não tenho e nunca ouvi falar quem teria sido o construtor do edifício, um casarão piso de tábuas, inúmeras janelas e duas entradas/saídas. Localizado em pleno Centro Comercial o magnífico prédio faz lembrar os últimos anos de Santana/vila ocasião em que surgiram as grandes construções tanto para moradias quanto para o aluguel comercial.  Ouvi dizer que ali já foi a moradia do Maestro fundador da primeira banda de Santana, Manoel Queirós, conhecido como Seu Queirós. O homem também era coletor federal e fazia parte do primeiro teatro santanense. Fica a dúvida se foi ou não o próprio Queirós o construtor da casa grande com um sótão sob a madeira.

É sabido também que ali morou gente famosa com o Dr. Arsênio Moreira, o médico do 70 Batalhão de Polícia, o primeiro clínico de fora a atuar em Santana.

Da minha parte, o morador mais antigo que eu conheci morando naquela enorme residência, foi a filha do Maestro Queirós. Salvo engano, Antéa era solteira e habitava o casarão já em idade avançada quando a conheci. Branca, alta, educada e prestativa Antéa era intelectual. Quando o museu foi transferido para aquele casarão, a própria filha de Seu Queirós passou a tomar conta daquele patrimônio a si confiado. Recebia e explicava as peças com a maior deferência, pois vivenciara o tempo de quase todo o mostruário do museu.

Lembro-me muito bem quando a filha do maestro dissertava para nós a queda da ponte de madeira sob o riacho Camoxinga, em 1915.  A casa de Antéa possuía um longo jardim que tomava todo o oitão direito da Igreja Matriz, limitado por muro de alvenaria. A construção do Salão Paroquial, pelo padre Luís Cirilo Silva, avançou sobre o jardim que atualmente não mais existe. Também não sei dizer ao certo se a filha de Seu Queirós tinha o “I” de Anteia ou não. O que dava para notar, era apenas a dedicação daquela pessoa simpática que parecia também fazer parte das peças do museu.

O que acho engraçado é que o prédio do museu falava de tanta coisa da nossa antiga sociedade, porém calava a respeito da sua própria construção... Quem sabe! Talvez nunca tenham perguntado sobre isso.

MUSEU DARRAS NOYA. Livro 230/B. CHAGAS).


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quinta-feira, 25 de março de 2021

 

TEMPO É CAMALEÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.497



 

Com história detalhada e muito bonita desde o início de tudo, a Matriz da Freguesia de Nossa Senhora dos Prazeres, em Maceió, foi inaugurada pelo imperador D. Pedro II e sua esposa, a Imperatriz Teresa Cristina de Bourbon, em 31 de dezembro de 1859. Tornou-se Catedral no ano de 1900.

Em Santana do Ipanema, Alagoas, a Igreja Matriz de Senhora Santana, teve um período comandada pelo Cônego Bulhões. Não recebeu a presença de nenhum imperador, mas demonstrava excepcional prestígio em todo território alagoano. Durante as celebrações anuais da padroeira avó do Cristo, chegavam cantoras famosas de Penedo para reforço novidade ao coro elevado da Igreja. A convite do Cônego Bulhões também se fazia presente a banda de música daquela cidade ribeirinha, primaz das Alagoas. A fama da banda Musical e das cantoras da Igreja, davam um brilho especial às novenas de tantas repercussões nos quatro cantos do estado.

Após essa fase de ouro, bandas da nossa própria cidade chegaram a tocar dentro da nave, mas depois, por isso ou por aquilo, esse movimento musical passou a tocar somente nas imediações da Matriz, ocasião em que era soltado o tradicional balão de papel seda multicor e decorado. Nunca faltou foguetório e nem carro de fogo no arame da Praça Manoel Rodrigues da Rocha, defronte à Igreja.

O último maestro que eu conheci, foi o senhor Miguel Bulhões que nunca deixava de animar os festejos de julho com os seus pupilos de boa vontade.

O maestro Miguel Bulhões morava à Rua Nova, era um pequeno comerciante e possuía escola de música, bastante concorrida. Décadas de história musical da terra que havia iniciada com a Filarmônica Santa Cecília ainda nos tempos de vila, também encerra esse áureo período de sons, com outra Filarmônica Santa Cecília, como se fosse uma peça única de início, meio e fim.

O seu filho Ivaldo, com o talento da música, não conseguiu reviver o tempo musical do Bulhões, maestro. Santana passou a contar apenas com bandas marciais de colégios que seguiram o mesmo destino das filarmônicas.

Ninguém pode manter o tempo sob cabresto. Nem o antigo, nem o nosso, nem os do porvir. TEMPO É CAMALEÃO.

INTERIOR DA MATRIZ DE SENHORA SANTANA, ATUALMENTE. (FOTO: ACERVO B. CHAGAS).

 

 

 

 

 

 

 


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terça-feira, 23 de março de 2021

 

O GUARDA, A PESTE E O CANTADOR

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.496

 

Essa pandemia faz lembrar o combate à peste, doença transmitida pelo rato. Isso já foi após a campanha da varíola que o povo chamava de “bexiga” e matou muita gente. Havia vários guardas de peste em Santana do Ipanema. Na minha rua morava um deles, na Travessa Benedito Melo morava outro e na Avenida N. S. de Fátima também. Inclusive, estourara o escândalo em que uma criança havia sido estuprada pelo guarda da Avenida. Dirigindo-me ao Grupo Escolar Padre Francisco Correia, encontrei multidão defronte a casa do homem, ou pedindo Justiça ou querendo linchá-lo. Nunca soube no que deu. O chamado guarda de peste deixava uma bandeira na porta ou janela da casa visitada, enquanto procurava colocar medicamento nos potes e em outros depósitos d’água. Muita gente fazia como os que hoje não querem usar máscara, isto é, não deixavam o guarda colocar o remédio. Alegavam que o líquido ficava com gosto estranho.

Os dedicados funcionários saiam também pela zona rural e muitas vezes passavam dias fora de casa. Como todo combate às doenças, em alguns lugares eram bem recebidos, em outros, escorraçados.

Certa feita, o poeta repentista já mencionado aqui em outro trabalho, Joaquim Vitorino, descansava numa rede no alpendre de uma fazenda, quando chegou um daqueles guardas. Joaquim fez uma crítica amarga ao futuro concorrente de um bom almoço na casa do fazendeiro. Sapecou-lhe uma décima:

 

Aqui no meu Nordeste

Vem gente igual ao senhor

Goza mais do que doutor

Nesse negócio da peste

Andando pelo agreste

Não lhe falta o que comer

E com esse parecer

A profissão tem regalo

Comendo galinha e galo

Botando o pote a perder

 

Não se brinca com repentistas.

REDE DE DORMIR (FOTO/DIVULGAÇÃO).

 

 

 

 

 


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segunda-feira, 22 de março de 2021

 

O PÉ DO MENINO JESUS

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.495

 

 

Santana do Ipanema expandiu-se em todos os pontos cardeais, após quebra das amarras dos fazendeiros periféricos. Cada vez mais surgem loteamentos em lugares que você nunca sonhava antes. Mas a população não invade a Reserva Tocaia e nem sobem o serrote do Cruzeiro, pulmões verdes da Rainha do Sertão. Do centro da cidade dá para ver muito bem o serrote e uma estrada solitária na capoeira, que segue até o cume. Muitas vezes a mata de segunda está completamente seca e sujeita a incêndio, mas quando chove em Santana do Ipanema e região, aquele pedaço de caatinga é o primeiro a sinalizar a milagrosa mudança do tempo para melhor na zona rural. As primeiras chuvas caídas no final de ano, criam não somente uma árvore de Natal, mas sim, a mata completa nos matizes do verdume em louvação ao Senhor dos Mundos.

O serrote do Cruzeiro, para os mais antigos santanenses continua sendo o mirante natural que oferta maior beleza, simpatia e religiosidade nos ares do seu entorno. As visitas de Semana Santa enchiam o lajeiro onde está situada a capela de Santa Terezinha. Lembro-me muito bem das duas capelas anteriores e suas ruínas. Os adultos dizendo a nós, crianças: “Este pequeno buraco na rocha é a rastro do menino Jesus quando passou por aqui com os seus pais. Aquela outra marca do lajeiro, é o rastro da pata do jumentinho que carregava o filho de Maria”. Aí todos nós mediamos os nossos pés na marca deixada pelo menino santo. Lembro-me do saudoso alfaiate Demerval pegando a mim e ao meu coleguinha, erguendo-nos pelas costelas e nos colocando no altar em ruínas, dizendo com meiguice: “Vocês são dois anjinhos”.

A deferência do senhor Demerval Pontes num momento de tanta inspiração, fez-me sentir anjo pelo menos essa vez na vida. Por coincidência, no futuro, fui professor do seu filho Vitárcio, procurando orientar o filho de quem me chamou de anjinho aos pés do altar. Esvaziada das incansáveis visitas, hoje, a capela de Santa Terezinha – solitária no alto do serrote – parece convidar o povo santanense para conversar no monte sagrado.

E no grande lajeiro do topo do serrote, onde as águas das chuvas empoçam na depressão, para os urubus, pegadas do jumentinho e dos pés do Menino Jesus continuam aguardando mais crianças para o experimento na forma (ô) dos pés.

Saudades...!

AO FUNDO, SERROTE DO CRUZEIRO E PARTE ALTA DA RESERVA TOCAIA. CENÁRIO VISTO DA BR-316, BAIRRO CAMOXINGA (FOTO: B. CHAGAS).

 


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domingo, 21 de março de 2021

 

SÃO JOSÉ

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.494









     Já iniciamos o período de outono no último dia 20 e não esquecemos São José em 19 de março. O dia de São José é a última esperança em sinal de chuva para um bom inverno nordestino. A tradição profética chegou a ser imortalizada pelo intérprete Luiz Gonzaga na sua música “A triste Partida”. Não é à toa a coincidência entre ambas as datas.  Nos Sertões de Pernambuco, Alagoas e Sergipe, o período chuvoso é de outono/ inverno, vindo as chuvas mais cedo ou mais tarde, mas sempre dentro de ambas as faixas de estações do ano. O nome José toma conta de todo o País e muitos abreviam esse dissílabo de registro simplesmente para o apelido “Zé”. É espantoso São José em nome de estabelecimentos comerciais, paróquias, ruas, bairros e logradouros públicos.

José faleceu no início da vida pública de Jesus. Foi avisado que estava na hora da partida e, ainda pediu para visitar o templo de Jerusálém. Sentiu-se mal e faleceu nos braços de Jesus e Maria. Pessoas viram no espaço, anjos conduzindo sua alma aos céus. A tradição é quem explica essas particularidades que não se encontram na Bíblia Sagrada. Apesar de não ser um ferrenho devoto do Santo em questão, perdura o respeito e as considerações pelo carpinteiro pela sua paciência, humildade, honestidade trabalho, que podemos resumir como se diz atualmente: “Um homem de bem”. Vários papas afirmaram que depois de Maria, São José é o santo de maior prestígio no céu. Um inimigo terrível de satanás.

Moramos no Bairro São José, desmembrado do grande Bairro Camoxinga, tão humilde quanto o pai de Jesus. Tendo a chamada COHAB velha como centro, foi construído o Conjunto São João com 18 casas, apelidado Baixada Fluminense, depois o surgimento de ruas e mais ruas, escolas diversas e repartições públicas, a localidade virou bairro também. Há bastante tempo sua igreja foi construída no acesso à COHAB Velha o que assegurou os festejos do padroeiro anualmente. O Bairro São José é contramão para comércio, mas tem muita receptividade e calor humano para os que procuram sossego como opção de vida.

Ontem, dia 21 deu um esperançoso sereninho de São José, em Santana do Ipanema.

Viva o pai de Jesus!

IGREJA DE SÃO JOSÉ NO SEU BAIRRRO, EM SANTANA DO IPANEMA. (Foto: Livro 230/B. CHAGAS). IMAGEM DE SÃO JOSÉ/DVIULGAÇÃO.


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quinta-feira, 18 de março de 2021

 

OS BICHOS DO COLORADO

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.493



Visitando o Loteamento Colorado que está aos poucos sendo preenchido com seus 800 prédios, além da beleza do lugar avisto animais selvagens na última quadra colina acima nos seus 340 metros de altitude.  O Loteamento Colorado também é chamado Luar de Santana e fica na margem direita da AL-120 saída para Olho d’Água das Flores. É uma colina que tem início na rodovia e termina justamente no topo com a última rua. De lá, à noitinha avista-se a iluminação de inúmeros sítios rurais como Queimadas do Rio, João Gomes, Serrote dos Bois, Campo de Aviação e muitos outros ainda. Como a família está construindo ali, costumo visitar a obra, cujo Luar do Sertão é cercado de fazendas e matas de caatinga. Além de uma rica flora, sempre avisto Espanta-boiadas, corujas, formigas, teiús e pássaros diversos. Deve ter raposas, tatus, pebas, cobras e mais dezenas de animais miúdos.

Tive, então a ideia de convidar o meu amigo, escritor, professor biólogo e desenhista Fábio Campos para fotografar a fauna e a flora daquele habitat, catalogando animais e plantas num trabalho científico, com os nomes clássicos e correspondentes populares para enriquecer a cultura santanense. Fábio Campos, o contista, aceitou na hora e marcou a possibilidade para depois da Quaresma.  O resultado do futuro trabalho poderá ir à exposição, revistas científicas, aulas específicas nas escolas de Santana e até mesmo venda de painéis para as 800 famílias que se instalarão no Luar de Santana.

Embora tenha feito Geografia na qual dou a preferência aos meios físicos, em especial ao Relevo, tenho plena consciência do seu ramo, a Biogeografia. Entretanto a carga passada para o meu amigo Fábio Campos, pertence com maior profundidade à Ciência Biológica e suas particularidades. Acho que mesmo no ambiente de colina do Luar de Santana, pode haver compartimentações para animais e plantas chamadas nichos ecológicos.  O habitat possui relevo tipo grota e de média altitude, o que é possível encontrar comportamentos diferenciados de bichos e plantas.

E por ser o meu colega escritor mais novo, suas pernas aguentarão por certo, o “barrufo” de subidas e decidas da caatinga periférica do Luar de Santana.

Estou fazendo a minha parte.

LOTEAMENTO LUAR DE SANTANA (FOTO: B. CHAGAS).

 


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quarta-feira, 17 de março de 2021

 

JUMENTO CANINDÉ E COLOLÔ

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2. 491





 

Passamos do dia 15. No sertão se diz: “Mês miou mês findou”. A frase é usada pelos menos instruídos que usam miou no lugar de meiou. E agora que o mês “miou”, passa um bando de aves voando em direção leste e nós logo achamos que elas estão indo em direção ao açude do Bode, na periferia da cidade. O espanta-boiada ou tetéu, em outros lugares chamado quero-quero, gosta muito de mudanças de tempo e frequentam os arredores de rios, lagoas e açudes, embora façam seus ninhos em lugares altos. Ainda madrugada revoam em alaridos anunciando a proximidade da aurora. O espanta-boiada é cheio de histórias, assim como outras aves que metem medo e estão enraizadas no folclore das superstições e das certezas. Não são muito apreciadas pelo povo e servem de apelidos para muita gente feia.

Entre as aves lúgubres do Sertão, apresentam-se a coruja, o caboge, o caboré, o bacurau e o cololô, entre outras. Algumas são parentes entre si e hoje em dia nem os dicionários registram mais nomes já consagrados pelo povo. Lembro-me que fui com o Cololô pegar uma carga de palma no sopé da serra Aguda. Eu, pré-adolescente, Cololô, filho de um nosso empregado rural. O transporte era um jegue da raça Canindé – menor que o jumento pêga – cor de macaco, peludo e força descomunal. Jumento com dois caçuás, viajamos no caminho do sítio Lagoa do João Gomes, beirando a serra Aguda que na época pertencia quase toda ao Sr. Marinho Rodrigues. Mas nós tínhamos um grande cercado de palma por ali. Enchemos os caçuás que o jegue chega impava de tanto peso, Cololô achou pouco e me colocou na garupa do animal. Eu tinha pena, mas esse Cololô não tinha.

Diante daquele cenário de pé de serra, ainda desconhecido para mim, pensei em estudar plantas e animais da região, além das belas paisagens sertanejas. Conduzimos a carga até à Rua Professor Enéas, antiga Rua de Zé Quirino, onde tínhamos cercado na beira do Ipanema, lugar em que o gado leiteiro dormia e comia ração, além de suínos que eram alimentados com abóboras, vindas da nossa fazenda Timbaúba.

Tempos depois Cololô deixou o emprego e passou a frequentar a praça central da cidade numa aventura sem futuro. Parece-me que chegou até motorista, depois... nem notícia do homem.

Jumento Canindé e ave Cololô se misturam no baú da memória. Hoje procuro cololô e não o encontro nem mesmo nos melhores dicionário do País.

 


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terça-feira, 16 de março de 2021

 

CHICO NUNES DAS ALAGOAS

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.489




O poeta Chico Nunes, de Palmeira dos Índios, ficou imortalizado na memória de inúmeros apologistas, mas também no livro do ator e escritor Mário Lago. Era um cantador de pagode, embolador que assegurava o motivo do seu canto com um pandeiro na mão. O exímio e criativo poeta, porém, tinha a chamada boca suja. Era sempre convidado para duelar no chamado “Desafio”, com vários cantadores de outras localidades.  Muitas passagens de “Chico Nunes das Alagoas” estão expostas e nuas no livro de Lago, desde suas putarias ao lirismo que explora a sensibilidade. Todavia, nem todas as aventuras do vate boêmio encontram-se no livro. Os apologistas ainda hoje transmitem de geração em geração episódios do canto chulo do repentista palmeirense.

O prazer de um cantador é aplicar uma surra de versos no oponente. Cantam coisas. Mas na hora que alguém pede um desafio que é cantado em qualquer gênero, aí a coisa muda. Cantar desafio é o cantador se exaltar e depreciar o adversário. Muitos desses poetas já têm boca suja ou boca porca de nascença, aí é quando aproveita o desafio para suas pornofonias. Algumas são tão bem feitas e criativas que mesmo sendo putaria não se nega o valor da estrofe. Em Alagoas eram mestres pornôs os poetas: Zezinho da Divisão e Chico Nunes. Explicada a coisa para quem não entende bem o desafio, voltemos a um episódio acontecido com o “Rouxinol da Palmeira”.

Chico Nunes fora chamado para a região de Major Izidoro, Sertão de Alagoas para duelar com outro vate chamado Zé Nicolau. A cantoria teve início e, o seu adversário tinha uma grande torcida. Chico ficou enciumado do prestígio do outro que recebia muitos aplausos, principalmente das moças que ocupavam o salão. Vez em quando um intervalo para beberem uma cachacinha. E foi em uma dessas paradas que as moças correram para a cozinha e trouxeram um bom pedaço de bacalhau como tira-gosto para o cantador José. Para Chico Nunes sobrara apenas uma pelanca com espinha. O cantador que vinha inchando de ciúmes, não perdeu tempo e estourou o seu chulo repertório, sem perder a oportunidade das rimas. Ergueu lentamente o tira-gosto ganho. Colocou-o com os dedos contra a luz da candeia e disse diante do silêncio profundo:

 

 

Da espinha do bacalhau

Vou fazer uma vareta

Pra futucar na buc....

Da mãe de Zé Nicolau.

 

“Escapou fedendo” de uma boa camada de madeira, mas foi expulso da casa, sem direito à volta.

Outros episódios semelhantes com o “Rouxinol”, ainda hoje são contados nos pés dos balcões sertanejos e agrestinos das Alagoas.

CHICO NUMES, O ROUXINOL DA PALMEIRA (FOTO: ZÉ MARCOLINO).

 

 

 

 


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segunda-feira, 15 de março de 2021

 

REPENTES

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.485




Para quem aprecia a cultura popular nordestina, não deixa sua paixão pelo mundo encantado da viola. Há bastante tempo tinha fama em Alagoas o poeta Manoel Neném, na cidade de Viçosa. E Joaquim Vitorino, de Pernambuco era um dos repentistas mais famosos do Nordeste. Os grandes de Viçosa organizaram um desafio entre os dois vates, lá mesmo na Rainha das Matas. Folcloristas registraram algumas coisas, mas as duas primeiras estrofes dos cantadores, até hoje são imortalizadas na boca dos apologistas.

O poeta pernambucano iniciou a cantoria:

 

Sou Joaquim Vitorino

Filho do velho Ferreira

Natural de Pernambuco

De Afogados da Ingazeira

Sou o maior cantador

Dessa terra brasileira.

 

O outro respondeu a sextilha:

 

Eu sou Manoel Neném

Cantador que não se braia

Sou vento rumorejante

Nos coqueirais de uma praia

Sou maior que Rui Barbosa

Na conferência de Haia.

 

Essas duas estrofes até hoje correm mundo. Mas, sobre os bastidores, contou-me o meu saudoso sogro também repentista, Rafael Paraibano da Costa: “No meio da cantoria naquela noite    houve uma pausa entre a dupla, para beber água, pinga ou qualquer outra coisa. Manoel Neném, enciumado pelo sucesso do cantador de fora, disse aos seus amigos lá no escuro do terreiro, que iria acabar com a vida do vate adversário. Neném era metido a valente e usava punhal na cinta. Foi aí que um dos influentes de Viçosa lhe disse: ‘Não senhor, não se mata um canarinho desse em território alagoano’. Assim o bom poeta, mas intolerante, teve que engolir o ciúme e a valentia.

Não sabemos se na mesma época ou anos depois, o poeta Joaquim Vitorino, hospedou-se em Santana do Ipanema, na última casa da Rua Pedro Brandão na calçada alta, Bairro Camoxinga. Ali, em casa de família, o poeta que tinha problema de asma, antes de dormir vira um frasco com rótulo do remédio que usava. Tomou o conteúdo sem saber que era veneno guardado pelo dono da casa com rótulo para asma. Vitorino foi levado para Palmeira dos Índios, mas não resistiu à fatalidade. Faleceu lá mesmo em Palmeira.  Familiares vieram do Pernambuco para investigar e constataram apenas o que se sabia. A casa da Rua Pedro Brandão tinha uma varanda em forma de arco, hoje é casa de primeiro andar e pertence a um senhor conhecido como Hermes Som.

Logo voltaremos com mais histórias sobre Joaquim Vitorino.

VIÇOSA – AL (FOTO: IVALDO PINTO).

 

 

 

 

 

 


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domingo, 14 de março de 2021

 

ENTENDA SUA TERRA

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.488

 

Mesmo tendo adquirido a grande sesmaria da Ribeira do Panema, que ia da Serra do Caracol ao Riacho Grande (hoje Senador Rui Palmeira) e dos Dois Riachos ao riacho dos Cabaços, os três irmãos que vieram da Bahia, pelo visto, ainda não estavam satisfeitos com o mundo de terras pleiteadas. Tanto é que Martinho Rodrigues Gaia fixou-se onde atualmente é o Centro Comercial de Santana do Ipanema. Dali saiu a sua residência e a construção da capela – bem pertinho de casa – e que se transformou no futuro na Matriz de Senhora Santana. Essa fazenda que ainda não teve seu nome descoberto, isto é, se tinha nome, deu origem a cidade de Santana do Ipanema. Mas, mesmo tendo chegado em tempo de sesmaria, já existiam famílias ocupando terras por aqui.

O irmão de Matinho Rodrigues Gaia, Martinho Viera Rego, chegou a comprar uma fazenda vizinha a seu mano, a fazenda chamada “Picada”, cujo vendedor foi João Carlos de Melo e que tudo indica, morava no Bebedouro. Essa fazenda Picada, iniciava-se na Pedra do Barco, onde hoje está situado o Bairro Lajeiro Grande, e prosseguia em direção ao atual povoado Pedra d’Água dos Alexandre, porém não chegava lá, ia tão somente até o riacho Mocambo, cerca de 12 quilômetros antes do povoado. Portanto, a Fazenda Picada nada tem a ver com a fundação de Santana, cujo dono, após sua venda, foi residir em Olho d’Água da Cruz, atual cidade de Poço das Trincheiras. O terceiro irmão, Pedro Vieira Rego, também adquiriu fazenda vizinha a sesmaria, mas até o momento não se tem clareza do exato lugar dessas terras.

Voltando ao fundador de Santana, Martinho Rodrigues Gaia, este imaginou o futuro da família, cujos filhos iam casando e precisavam independência e terras. Começou a lotear a sesmaria adquirida, entre filhos e filhas que iam deixando a casa paterna. Um desses lotes, corresponde ao atual sítio Olho d’Água do Amaro, talvez a mais falada e rica faixa da partilha. Atualmente o sítio dispõe de escola, igreja e já está sendo chamado popularmente de povoado, mas pelo que sabemos, casas esparsas não caracterizam um povoado.

Essas grandes sesmarias não tinham outras finalidades a não ser a agricultura e o criatório que prosperaram mesmo num clima difícil que caracteriza o sertão nordestino.

CAPELA QUE DEU ORIGEM À MATRIZ DE SENHORA SANTANA. (CAPA DO LIVRO 230/ARQUIVO B. CHAGAS)

 


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quinta-feira, 11 de março de 2021

 

CURIOSIDADES 2

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.487


Voltamos com uma espiada nos significados de nomes de cidades nordestinas que chamam atenção. A curiosidade é ao título do município que foge ao palavreado comum. Fica a expressão estranha bem acostumada aos ouvidos dos seus habitantes, mas os de fora ficam sempre curiosos sobre a expressão diferente naquela região. Louvamos também às cidades que conservam seus topônimos, transforma-os em tradicionais e se orgulham das suas origens. Assim vamos apresentar esses nomes de cidades nordestinas que chamam atenção aos que não conhecem as origens das palavras. Escolhemos, então, municípios de três estados que são eles: Sergipe, com Gararu, Carira e Cumbe. Bahia, com Caculé e Curaçá e Piauí com Jaicós e Oeiras.

A pesquisa é superficial, podendo o amigo interessado, aprofundar as investigações que naturalmente descobrirá coisas muito mais interessantes:

Gararu – Significa curral de pedras.

Carira – Nome de mulher que chefiava uma aldeia indígena na região, denominada Mãe Carira. Entretanto, o próprio topônimo Carira, não foi encontrado.

Cumbe – Aguardente, lesma...

Caculé – Irmão mais novo, caçula.

Curaçá – Chefe indígena, paus trançados em cruz.

Jaicós – Tribo indígena, atualmente extinta.

Oeiras – do latim, refere-se às minas de ouro.

Em Alagoas também existem cidades que se encaminham para o exótico, como: Maragogi, Jaramataia, Satuba, Canapi, Inhapi, Pariconha, Traipu, Paripueira e mais algumas, mas você está tão acostumado que se exime da curiosidade. Bem assim temos denominações rurais que somente a pesquisa revelará suas raízes, assim como os sítios Malembá, Camoxinga, Remetedeira, Puxinanã, Ipueiras, Araçá e outros ainda.

Aumente seus conhecimentos.

Seja uma fonte de informações.

Mergulhe nas leituras sadias fortalecendo sua alma e fugindo do estresse da pandemia.

GARARU (Crédito: sergipeturismo,com).

 

 

 

 

 

 


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quarta-feira, 10 de março de 2021

 

GOSTA DE PRAÇA?

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.486

 


Temos admiração por belas praças sejam do tamanho que for. Em Maceió a preferência é pelas Praça Deodoro (Centro) e Praça do Centenário (Farol). Mas, mexeram tanto na Deodoro que perdeu a graça; diferente da belezura em que ficou a Praça do Centenário que poderia ser chamada de Parque.

Em Santana do Ipanema, Sertão alagoano, a primeira praça que se tem notícia, também teve o nome de Praça do Centenário. Ainda na década de 1920, era em que Santana fora elevada à cidade surgiu esse logradouro no meio do Largo do Comércio, hoje chamado Enéas Araújo. Era apenas uma pracinha o suficiente para um obelisco e três bancos de cimento sem encosto. Mesmo naquele tempo, houve muita politicagem tendo a pracinha como epicentro.

A segunda praça de Santana do Ipanema, foi construída mais de dez anos após a Emancipação da cidade. No início dos anos trinta o dirigente Frederico Rocha construiu e inaugurou obra em frente à Matriz de Senhora Santana. Muito larga e comprida a praça quase encostava no “sobrado do meio da rua” e recebeu o título inicial de João Pessoa. Com o tempo, o nome mudou para Cel. Manoel Rodrigues da Rocha, um dos homens de maior prestígio na Rainha do Sertão, falecido em 1920. Reformada várias vezes, alcançou o seu auge de beleza nos anos 60 quando se mostrava como um verdadeiro jardim, canteiro com pequenas estacas, vigias, reservatório d’água e bancos nos mais diferentes lugares. Fotografada, circulou na Revista Cruzeiro, a mais famosa da época, em 1940.

E como dizia Castro Alves: “A praça é do povo como o céu é do condor”.

As praças apontam boas fontes de pesquisas. Placas de inaugurações, datas, valores, material utilizado no piso, nos monumentos, nomes de artesãos e estilos, preencheram revistas culturais e históricas direcionadas à Educação. Além disso têm suas plantas com variações desde as gramíneas às árvores regionais que motivam estudos mais apurados.

Praça, lugar de descanso,

Ponto de lazer.

Fonte de conhecimento.

Bem vindas as praças públicas do Brasil

 

PRAÇA DO CENTENÁRI, MACEIÓ (FOTO: B. CHAGAS).

 

 


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