quinta-feira, 29 de outubro de 2020

 

SEU CARRITO E O OVO DA JUMENTA

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.409

 

Já falei aqui sobre o personagem da minha terra, Carlos Gabriel, o Seu Carrito. Bodegueiro na Rua Antônio Tavares, muito prosperou no seu negócio com bodega bem sortida, bastante elegância e educação. Magro, aprumado, chapéu de massa, fala mansa e compassada, bigode sem exagero e muito querido ali naquelas redondezas. Gostava da fazer folclore em tempo de Semana Santa, quando promovia o pau-de-sebo e a casa-de-urtiga, no terreno baldio defronte a bodega onde hoje é a casa do, então, prefeito Paulo Ferreira. No salão do seu estabelecimento de esquina, sempre tinha pessoas palestrando. Carrito alimentava essas palestras, quando havia pausas entre as compras da sua clientela.

O comerciante gostava de contar histórias das administrações passadas, de Santana do Ipanema, dos bairros, da cidade... Era uma espécie de historiador local, para uma plateia, infelizmente, analfabeta em maioria. Foi através dessas palestras que escutei ali quando rapazinho, sem saber que no futuro estaria reproduzindo em livro os ensinamentos do querido bodegueiro. Posso exemplificar sobre o histórico da igrejinha de São Pedro, nossa vizinha da Rua e Bairro São Pedro. Caso soubesse do meu futuro como escritor e historiador da terra, teria obtido livro completo sobre nossa cidade, mas é proibido prever o dia de amanhã.

Nas imediações da bodega, já na rua de baixo, chamada Rua de Zé Quirino (construída por ele, o Quirino), morava uma cliente da bodega, fofoqueira de ofício. O que via, o que quase via, o que nada via, “espalhava aos quatro ventos”, como reza o ditado popular. Por isso ou por aquilo andou boatando coisas. Nunca procurei saber o quê. Carrito, não querendo ser direto e grosso com a cliente, aproveitou uma daquelas palestras em que a cuja estava presente e disse para todos com muita seriedade: “Tinha uma jumenta lá no sítio Sementeira (estação experimental do governo) que botava ovos semelhante às galinhas...”  Ninguém entendeu nada, nem indagou, inclusive eu que estava presente.

Só muito depois fui raciocinar e compreender que Seu Carrito dava uma lição na mulher presente, tiraria à prova da sua língua ferina quando ela espalhasse a conversa da jumenta da Sementeira.

Carrito, além de historiador, aplicava assim seus dotes da psicologia.

Obs. Somente depois das bodegas, vieram as mercearias, maiores e mais sortidas.

PAU DE SEBO. (FOTO: DIVULGAÇÃO/SEJAL)

 

 

 


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quarta-feira, 28 de outubro de 2020

 

SANTANA – CULTURA E MUSEUS

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.408


Para preservar a nossa história, usos e costumes, foram criado os museus que contarão aos nossos filhos, netos e bisnetos como vivemos hoje e como as nossas bisavós, avós e pais viveram. Em algumas regiões é preciso usar os serviços de arqueologia, sendo muito mais fácil bem equipar, melhorar, evoluir e conservar os nossos museus para o aprendizado dos nossos alunos, povo em geral, pesquisadores diversos e turismo.  Assim, podemos dizer que após altos e baixos no museu único da nossa cidade, hoje ele se encontra nos melhores níveis de grandes cidades brasileiras, graças a dedicação da, então, prefeita Renilde Bulhões. Antes, muita gente recusava entregar suas peças aos cuidados públicos com medo dos constantes desaparecimentos de peças importantes, quando não roubadas, desviadas para museus de outras cidades.

Entre tantas peças importantes naquele casarão, destacamos o primeiro arado do sertão de Alagoas, que tem uma história belíssima e desconhecida até para quem cuida do museu. Uma pedra mó, (15 mil anos antes de Cristo) que nossos antepassados usavam para triturar o milho, fazer xerém e consumir com leite. Consiste em duas pedras grandes, esféricas e polidas uma sobe a outra, ligadas por um veio de madeira e orifício por onde se colocava o milho e acionava o veio manual para rodar a pedra da superfície e triturar o produto. É por isso que estamos (Clerisvaldo e Jorge Santana) querendo entregar ao Museu Darras Noya, duas peças históricas da nossa agricultura. A primeira, descoberta pelo Secretário, Jorge. Trata-se de uma grande peça de um engenho rapadureiro que existiu no sítio Serra dos Bois, município de Santana do Ipanema. Incrível! Um engenho de rapadura em plena caatinga sertaneja. A outra peça será doada pelo nosso amigo ex-bancário, fazendeiro Paulo Décio, do sítio Olho d’Água do Amaro: um vaso de zinco de guardar feijão.

Temos ainda uma peça que almejamos entregar à prefeita Christiane Bulhões, como sendo a PRIMEIRA doação ao futuro museu: MEMORIAL RIO IPANEMA, assegurado por ela. É o livro documentário CANOEIROS DO IPANEMA, episódio santanense resgatado por nós: 40 páginas ilustradas e com prefácio do escritor contista Fábio Campos. Muitas e muitas outras peças já estão em nossas ideias de auxílio ao MEMORIAL como uma canoa de Pão de Açúcar, semelhante às adquiridas ali pelos nossos heróis santanenses do remo. Deus no comando.

PEDRA MÓ E ARADO NO MUSEU (FOTO: B. CHAGAS).

 

 


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terça-feira, 27 de outubro de 2020

 

NOVA POLÍTICA

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica; 2. 407

As pequenas cidades do Sertão de Alagoas, evoluíram bem no aspecto físico e em grande parte da estrutura básica. Os antigos líderes que já faleceram ou se afastaram da política, foram substituídos por uma nova geração de mentalidade progressista. Com isso, a arrogância, o sentimento de propriedade particular, violência e coronelismo, parecem em sucessivas quedas. Mesmo sendo vários administradores públicos filhos, filhas ou familiares dos coronéis, não se nega essa evolução na mentalidade política. É certo, porém, que ainda se encontra resquício à moda ainda recente do feudalismo, todavia, mais como exceção do que regra geral. Essa nova geração de políticos traz quase todos formados em diversas áreas como agronomia, direito, medicina, magistério, administração e outros. Portanto, a mentalidade é diferente além da pressão popular, da fiscalização e das comunicações por todos os meios. Não há mais espaço para coronéis.

Notamos ainda, muito claramente, os projetos em todas as áreas da administração pública, colocadas pelos candidatos à prefeito durante entrevistas nas rádios sertanejas. Ou projetos escritos por terceiros ou pelo próprio candidato, são aqueles que de fato as comunidades necessitam e aguardam aquelas realizações. A impressão é que todos estão empenhados em fazer evoluir o seu respectivo município. Pode ser que exista engodo, falsidade e manhas por trás das orelhas, mas pelo menos os pronunciamentos são excelentes vindos desse sangue novo que ingressa na política.

Todos sabemos que o progresso, geralmente, tem início histórico nas capitais e cidades beira-mar. Muitas vezes esse progresso demorava séculos para chegar a mais longínqua e pequenina cidade do interior. A hierarquia continua a mesma, mas a velocidade se consolidou com as excelentes redes de transporte e muita tecnologia do século XXI.

Hoje no Brasil existe muita prosperidade em vários interiores fazendo o caminho inverso da tradição, isto é, do interior para as capitais. Quando todas as mentes administrativas do Brasil, levarem à sério o papel do “administrador de mão cheia”, poderemos despontar no mundo como um país desenvolvido e igualitário pelo nível superior.

Não ser otimista demais, porém, nunca perder a fé.

(FOTO: DIVULGAÇÃO).

 

 

 

 


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segunda-feira, 26 de outubro de 2020

 

O DOCE DE CADA DIA

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.404


                                         (foto: blogdocasamento.com.br)
Foi muito bom o espaço dado a agricultura familiar com a feira das sextas, no bairro Monumento. Mas, nesse momento de pandemia e muito difícil para dinheiro, sugerimos ao Secretário da Agricultura, Jorge Santana, outra criação de espaço para fomentar renda para pessoas sem oportunidades. O exemplo vem do Recife onde uma ponte interditada passou a ser o ponto das boleiras e doceiras em toda a sua extensão. Barracas padronizadas, higiene e ponte lotada de compradores, assegurando autonomia das profissionais, gerando também pequenos empregos e renda. Um ponto certo de todos os dias, movimentado e livre do ruge-ruge do trânsito. Não são poucas as exímias doceiras e boleiras de Santana sem oportunidade de expor os seus produtos por uma série de fatores.

A verba empregada pela prefeitura seria o mínimo possível, quase nada, cujo resumo seria distribuição de barracas padronizadas, estrutura para água e luz, terreno municipal como um beco interditado ou outro qualquer espaço favorável a comercialização. Caso alcançasse o sucesso esperado, o espaço exclusivo de boleiras e doceiras poderia ser multiplicado em outros espaços importantes da cidade onde é grande o movimento dos trabalhadores, permitindo assim um lanche rápido nos intervalos do trabalho e mesmo novidades a mais para a alimentação de casa. Um fortalecimento supimpa para mãe de família, boa mão, sem oportunidades. Não é só a roça que precisa ajuda, mas também a nossa periferia tão carente que aguarda olha para ela.

Doceira: mulher que faz ou vende doces, confeiteira. Boleira: Aquela que faz ou vende bolos. A proposta é válida para ambos os sexos, pois as habilidades são uníssonas. Aqui a doceira pode ser boleira e a boleira também pode ser doceira, apenas estamos especificando, pois existem as pessoas que fazem doces variados, menos o bolo e vice-versa. Todas as formas de gerar renda, principalmente entre os necessitados, deveriam ser abraçadas pela municipalidade. É criar inúmeras formas baratas, criativas e eficientes, de modo que todas as famílias tenham condições de pegar e fazer circular o real. A pobreza sempre existirá, mas a miséria é fruto das péssimas administrações públicas e de um infeliz olhar atravessado para os menos aquinhoados filhos de Eva.

 


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domingo, 25 de outubro de 2020

 

PROJETO GAVIÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.405

                                         (FOTO: PIXABAY)

Apesar de não sermos jornalistas, gostamos de noticias boas que envolvam o nosso sertão alagoano. Quem conhece as riquezas agropecuárias de Petrolina, pode imaginar um início daquelas sementes no projeto Gavião, em nosso estado. É que o governo estadual irá desenvolver um projeto piloto no município de São José da Tapera, margeado pelo Canal do Sertão. O projeto é para fruticultura irrigada e prioriza a agricultura familiar com recursos de 12,8 milhões do Fundo de Erradicação da Pobreza (FECOEP). No caso, 17 lotes serão pleiteados e que receberão certa quantidade de água para desenvolvimento dos lotes.

Está prevista a produção de manga, maracujá, uva, melão, goiaba, mamão, banana e acerola. Todos esses produtos chagam de Petrolina, estado vizinho, abastecendo Maceió e nosso interior o que é bom por um lado e vergonhoso por outro. Em nossa própria cidade, todo o sistema de frutas e hortaliças chega do estado de Pernambuco, tanto de Petrolina quanto de Rainha Isabel e para alcançar os preços é preciso usar escadas de bombeiros. Sabemos que nada pode ser do dia para à noite, porém, poderemos um dia chagar à riqueza de Petrolina onde só se fala em três coisas: Dólares, toneladas e carro importado. Inúmeras indústrias do agronegócio atuam naquela ilha de prosperidade com até mesmo exportação direta do seu próprio aeroporto. Não é à toa que essa cidade do interior possui duas faculdades de Medicina.

O Canal do Sertão que vai desde o município de Delmiro Gouveia, no Alto Sertão e se encontra agora em São José da Tapera, poderá transformar o Sertão e Alto Sertão do nosso estado em um paraíso, igual à Petrolina, baseado no agronegócio, onde também está inserida a indústria de transformação. O Canal está programado para penetrar no agreste, seu ponto final. Embora se fale bem pouco do que está sendo feito e planejado ao longo dos trechos consolidados, confiamos que, sendo bem dirigido pelos órgãos estatais, erradicaremos a miséria da região e quem sabe... Nossa linguagem mudará também para: tonelada, dólar e carro importado.

 

 

 


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sexta-feira, 23 de outubro de 2020

 

VASO DE FEIJÃO

Clerisvaldo B, Chagas, 23 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.403


Ao assistir sobre armazenamento de grãos nas grandes plantações do Centro-Oeste, vêm as lembranças do nosso Sertão de Alagoas. Nas tentativas de armazenagens do feijão, colhido nas inolvidáveis safras sertanejas, foi descoberto o vaso de zinco, recipiente arredondado e cilíndrico que iam desde um metro de altura a três metro e até mais. Os vasos de zinco eram confeccionados pelos exímios artesãos da época, num trabalho garantido para passar por várias gerações. Dificilmente uma casa de fazenda, uma residência de produtor rural, deixaram de exibir esses belos depósitos, com alguns chegando bem pertinho do telhado. Lembramos ainda de alguns vasos de guardar feijão, na sala residencial e oficina do saudoso artesão do zinco, Zé Gancho, na Rua Nilo Peçanha, bem perto da primeira travessa. Zé Gancho era vizinho do senhor José Lopes, que possuía alambique de cachaça, se não nos falha a memória.

Para não dá o gorgulho e outras pragas nos grãos armazenados, o sertanejo vedava a boca do vaso com cera de abelha e, a longevidade sadia dos grãos ganhava garantia. Era a mesma técnica dos cangaceiros que armazenavam balas em garrafas de vidro vedadas com o mesmo tipo de cera e as escondiam em ocos de árvores da caatinga. Cenas das cheias de 1960, nunca deixaram à nossa cabeça, quando sentávamos nos lajeiros marginais ao rio e víamos as coisas passando nos carneiros das enchentes: animais mortos boiando, como cachorros, porcos, bois, cavalos... Árvores completas de troncos robustos, cercas de arames, roupas e inúmeros vasos de guardar feijão. O material que não se enganchava pelo caminho das águas, espirravam no povoado Barra do Ipanema, no município de Belo Monte.

O zinco era muito procurado nas casas de ferragens, tanto para ser utilizado em vasos de feijão quanto em “bicas’ de residências. (bica, biqueira, calha). Não eram poucos os artesãos que trabalhavam com esse material em solo sertanejo. Em todas as cidades havia os seus mestres que respeitavam o trabalho que faziam. Infelizmente não guardamos nenhum deles em museu. Muitos trabalhavam o zinco fazendo candeeiro, mas não faziam o vaso de guardar feijão.

Mesmo sendo raridade, ainda se encontra o objeto nas peregrinações pelas fazendas sertanejas.


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quarta-feira, 21 de outubro de 2020

 

O INCÊNDIO DE CACIMBINHAS

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.343

           Incêndio em Cacimbinhas (Foto CBM-AL)
O
incêndio de Cacimbinhas deixou o sertanejo alagoano desconfiado. Desconfiado devido aos crimes dos incendiários praticados em todo o Brasil, com incentivo criminoso que todos sabem de quem. A nossa vegetação de caatinga, nesse período do ano começa a ressecar e vai sendo assim encaminhada para a fase de verão onde atinge o ápice. Temos incêndio célebres no sertão e, particularmente, em Santana do Ipanema. Houve no passado grande incêndio na zona rural que ninguém conseguiu apagar e somente teve fim ao chegar no rio Ipanema, onde só havia água e areia. Por isso mesmo o lugar passou a ser conhecido até os dias atuais como sítio ou comunidade Queimadas do Rio.

Pois bem, o incêndio dessa semana ocorrido em Cacimbinhas chamou a atenção de todo o estado das Alagoas. Cacimbinhas é cidade sertaneja entre Santana do Ipanema e Palmeira dos Índios, sendo satélite desta última. É terra de gado e vaquejada, possui mais de 10 mil habitantes e já foi parada obrigatória de quem saía do Sertão e Alto Sertão rumo a Maceió. Foi preciso acionar o Corpo de Bombeiros de Santana do Ipanema e de Palmeira dos índios que passaram 4 horas seguidas para o final do sinistro e que teve início com um pequeno fogo para queimar penas de galinhas, descartadas às margens da BR-316.  O fogo atravessou a pista e o vento o levou para uma fazenda a cerca de 1 km do centro da cidade. Depois de muito fogo e bastante fumaça o incêndio foi dominado à noite, para alívio do próprio povo cacimbiense.

Isso faz lembrar a necessidade da presença do Corpo de Bombeiros em todas as cidades polos. Eles, os bombeiros, não só combatem incêndios, mas socorrem a população em inúmeras outras ocorrências como enchentes, quedas de barreiras, afogamentos, invasões de residência por abelhas e muito mais. O ideal é que todas as cidades possuíssem pessoas treinadas e equipadas para esses imprevistos, mas “o brasileiro só se previne depois de roubado”, afirma o ditado popular. A priori, O Corpo de Bombeiros de Santana do Ipanema tem como sede o Bairro São José, vizinho a Escola Professora Helena Braga das Chagas, na Avenida Castelo Branco, a principal do bairro.

Eles nunca irão deixar de ser heróis do povo brasileiro.

 


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SANTANA: SUBINDO A COLINA

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.402

FINAL DO BAIRRO FLORESTA (FOTO: B. CHAGAS)


       Informando aos ausentes da terrinha. Subimos a colina do Bairro Floresta, passamos pelo Hospital Clodolfo Rodrigues e seu vizinho Conjunto Habitacional Marinho, final da linha urbana por aqueles lados da cidade. Com olhar geográfico, continuamos a viagem até o novo loteamento nas imediações da antiga sede da fazenda do conhecido Clodolfo. Apesar da propaganda e maqueta, praticamente só encontramos muito mato rasteiro no local. Como nem procuramos nem vimos ninguém que informasse alguma coisa, rodeamos a área e bem que vimos o asfalto que desce dali até a baixada chegando no riacho Salobinho, a 100 metros do antigo matadouro. Do Matadouro a BR-316, continua sem asfalto, é a informação. É a informação porque o início do asfalto, no loteamento, estava interditado por um montão de mato sob forma de garranchos. Ninguém desce por ali.

De construção vimos apenas alguma coisa parecida com um marco, e um prédio onde seria uma escola de enfermagem. Não temos certeza, apenas boatos. Como boatos também se fala de uma faculdade de direito no terreno. Entretanto, boatos ou verdade, é grande a solidão ali encontrada. Talvez tenha sido a pandemia que não pode deixar prosseguir as construções. Quanto ao terreno, é muito bom, enxuto, apropriado a novos e bons empreendimento que opta por duas entradas/saídas: pela estrada até o Centro via-hospital e descendo até encontrar a BR-316 no Bairro Barragem. Um pouco mais adiante, vamos encontrar o lombo da serra da Remetedeira, porém podemos quase afirmar que esse novo loteamento já faz parte do início da serra.

Santana ganhará maior expansão por aquelas bandas, surgindo novo bairro desdobrado do Bairro Floresta que poderá seguir dois destinos: continuar crescendo em direção ao lombo da serra da Remetedeira e descer ao longo do asfalto até se encontrar com a BR-316, num futuro não tão longe assim. É tempo em que chegam bares, farmácias, mercadinhos, postos de gasolina, restaurantes que irão moldando as feições do loteamento e seus arredores, surgindo um bairro novo cheio de oportunidades. O local nos faz lembrar os arredores de Garanhuns e Caruaru, no estado de Pernambuco.

Esperamos êxito no futuro do loteamento e na expansão de Santana pelo Oeste, outrora completamente esquecido e agora cheio de esperanças para o porvir.



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segunda-feira, 19 de outubro de 2020

 

A CRAIBEIRA DA SAUDADE

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.401

CRAIBEIRA FLORIDA AO FUNDO DA IMAGEM. (F. B. CHAGAS).
 

Do serrote do Cruzeiro percebe-se a intensidade arbórea nos quintais de Santana do Ipanema. A arborização das ruas parece se esconder diante do jardim que se forma visto do alto. E fomos buscar de longe a florada representativa da craibeira da Escola Professora Helena Braga das Chagas. Árvore símbolo de Alagoas, a craibeira já começou a se ornamentar para o período natalino. Sua madeira de lei produz cachos de flores amarelas que muito combinam com o belo verde da folhagem. E aquela imponente árvore de vinte metros de altura sabe muito bem ornamentar a nossa cidade como rainha do bairro São José. No final do ano despeja suas sementes nos arredores que vêm em invólucro semelhante ao fármaco band-aid. Sua madeira faz a base do carro de boi dos nossos sertões.

Antes da construção da escola Helena Braga, havia uma craibeira centenária no local, testemunha da estrada construída pelo coronel Delmiro Gouveia, ao passar por aquele trecho. A craibeira atual que chama atenção de longe da Avenida Castelo Branco, foi germinada já com a escola funcionando há mais de trinta anos. Descobrimos que foi plantada pelo senhor conhecido como João Boêmio, esposo de professora da própria unidade. Chegamos a planejar uma festa para homenagear seu semeador: placa na árvore com nome popular e científico, corpo discente e docente reunidos, autoridades e cantos para deflagrarmos no dia da árvore. Mas como sempre surgem os imprevistos, a citada escola voltou à pertencer ao município como era antes.

Direção e professores foram designados para outras escolas e até a biblioteca organizada com muito sacrifício e amor, teve seu acervo removido para a Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira. O projeto da homenagem se desfez, tanto para a rainha da flora quanto para quem a plantou. Seria uma surpresa para o senhor João Boêmio e que agora pedimos desculpas pela frustração. Muito rara a lembrança de quem fez o benefício após 30 anos, com a nova geração.

Não sabemos até quando viverá a nossa querida craibeira, ou morrerá de velhice ou vítima de novo machado como foi a sua antecedente centenária. Continuamos agradecendo ao senhor João Boêmio pelo presente que orna o nosso Bairro. Matamos a saudade da escola em horas contemplativas por cima dos quintais.

Craibeira florida ao fundo da imagem. (Foto: B. Chagas).

 


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domingo, 18 de outubro de 2020

 

O TIÚ CARISMÁTICO

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.401

(FOTO: DANIEL PASSOS)

O tiú, lagarto também conhecido como teiú e tejo, é tão apreciado no Sertão quanto o tatu. Ambos possuem carne saborosíssima e estão na linha de frente da caça sertaneja nordestina. Antes das leis rigorosas ambientais o teiú era caçado abertamente, vendida a pele e oferecida a carne para os farristas de sanfona, violão e cachaça sem restrição alguma. As mulheres tinham nojo do lagarto, porém muitas delas sabiam como ninguém fazer o preparo do prato cobiçado pelos “caneiros”. No preparo guisado, cheirava que era uma maravilha. Ao ser indagada às cozinheiras qual era o segredo da culinária, elas respondiam: “Você prepara do mesmo jeito de galinha, coloca todos os temperos, só isso”.  E assim o tiú fazia a alegria dos farristas nos bares da cidade.

Nos anos 60, 70, surgiu o personagem popular em Santana do Ipanema, de apelido Tiú. Ninguém sabia seu verdadeiro nome, talvez até ele mesmo já desacostumado com o original e ser insistentemente chamado pelo vulgo. Muito mal vestido, remendado, chapéu de couro velho, escuro e ensebado, longo bornal a tiracolo, Tíú era quase preto, tremendamente carismático e querido em Santana do Ipanema. Quase sempre era encontrado no Beco São Sebastião, onde fazia suas negociatas caçadoras. Por onde passava, todos tinham prazer em gritar seu apelido e lhes dirigir um aceno e ser notado pelo homem. “Tiú! Tiú! Era esta a saudação quando o caçador de lagartos surgia no Comércio da cidade. Tiú respondia acenando e rindo, igualmente a vereador em campanha.

O caçador Tiú virou coisa do passado, mas a perseguição aos animais selvagens, não. Não se mata mais onça porque já mataram todas; mata-se raposa porque ela ataca galinheiros; captura-se o tejo porque a fiscalização é fraca. Os passarinhos canoros não escapam da gaiola, da venda lucrativa, da sanha sem consciência dos destruidores da fauna. O tejo sempre aparece nos sítios, nas periferias... Toma sol nos lajeiros às manhãzinhas, caça, briga e derrota as cobras peçonhentas. Protege a sociedade, mas por ela é perseguido.

Deixemos o tejo em paz. Ele não faz falta à nossa mesa, mas a simpatia do homem Tiú, bem que faz a diferença para alegrar como ontem o Centro de Santana do Ipanema.

 

 


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quarta-feira, 14 de outubro de 2020

 

SÃO CRISTÓVÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2400

(FOTO: DIVULGAÇÃO)

Primavera continua, ora pegando fogo, ora mais branda. Com essas mudanças climáticas no Planeta, tudo se embaralha ou se transforma. E nesse tempo seco em nosso sertão alagoano, acontece mais uma vez a Festa de São Cristóvão, em Santana do Ipanema que continua em andamento. A procissão de Senhora Santana incorporou os carros de bois no cortejo de abertura. Já a Festa de São Cristóvão, trouxe os vaqueiros e outros personagens a cavalo, abrilhantando, dando maior vigor na abertura dos festejos. Mas esse ano tudo foi modificado em vista da pandemia. Mesmo assim, tem os arrogantes que não usam máscaras e conduzem seus procedimentos como um desafio à sociedade.

A programação da festa teve início na sexta-feira (9) com a novena a São Cristóvão, Eucaristia, presença dos noiteiros e o responsável do dia. O novenário prossegue até o próximo sábado (17) com a Eucaristia presidida pelo padre Thiago Henrique Soares Pinto Tavares. Após a Santa Missa haverá tradicional leilão de animais, o que leva ao leilão muita gente ligada a agropecuária. A programação particular da Festa propriamente dita, será no próximo domingo com muitas atrações religiosas: Eucaristia, salva de fogos, solene Eucaristia, solene procissão, bênção do Santíssimo Sacramento, aspersão dos veículos e motoristas, descerramento do estandarte de São Cristóvão com salva de fogos.

 As procissões carreatas acontecem sempre com o encerramento, saindo o padroeiro de uma cidade circunvizinha em direção à sua Matriz. No próximo domingo à tarde, essa procissão de automóveis, motos, caminhões... Estará saindo da cidade de Dois Riachos, rumo a Santana do Ipanema. Percorrerá as ruas do Bairro Camoxinga onde está localizada a sua Paróquia. Mesmo com a pandemia solta, o entusiasmo é o mesmo entre todos os motoristas em louvação ao gigante padroeiro. Nessa ocasião inúmeras promessas são pagas, incluindo a de acompanhar o santo protetor na sua procissão. Almejamos tremendo sucesso para mais essa edição sagrada do Catolicismo.

 

 

 


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segunda-feira, 12 de outubro de 2020

 

VISITEI A IGREJINHA DAS TOCAIAS

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.399












Após quase sete meses confinado, saímos de casa, finalmente, para uma visita dominical à Igrejinha das Tocaias, vizinha à Reserva Tocaia. Após o final da Rua Joel Marques, no Bairro Floresta entramos à esquerda de uma bifurcação com estradas de terra. Quase 1 km de piso ruim e desprezado, cujo final é o riacho João Gomes. A temperatura estava altíssima e só havia verde e água na bela Reserva, o restante, seco com ares desértico. Ali, entre a fazenda Coqueiros e a Reserva, encontramos a igrejinha delimitada à margem da estrada, com arame farpado, cancela e cerca de pedras, tudo dentro de uma tarefa de terras; Material de construção na frente para reparar os três patamares da calçada e trabalho interrompido pelas últimas chuvas e a pandemia que se alastrou pelo mundo.

No pátio de entrada, uma árvore seca cheia de fitas nas suas galhadas representa grande número de promessas pagas ao Senhor Manoel da Paciência, nome trazido do oriente e que representa Nosso Senhor Jesus Cristo. Capelinha simples por fora e por dentro com umas quatro bancadas para sentar e ajoelhar. Alguns santos posicionados no altar único e singelo e uma força invisível destruidora de males dos devotos necessitados. Quem conhece o lugar, lembra as festas animadas que aconteciam na primeira gestão do saudoso prefeito Paulo Ferreira. Mas agora, tão solitária e enigmática, a capelinha parece sentir falta da movimentação humana em busca de graças e bênçãos.

O verdume da Reserva defronte parece esperança de dias melhores para aquele templo de beira de estrada. Sua história foi resgatada por nós e entregue nas escolas da cidade, para a presente e futuras gerações. Graças aos seu abnegados zeladores ou administradores, a ermida continua de pé, testemunha e parte da história santanense. Estar sempre a precisar de um conserto, de uma porta novo, de uma pintura, e uma modificação qualquer no prédio ou nos arredores. Nesses tempos de pandemia, nem podemos trocar palavras presenciais com seus colaboradores diretos, mas temos ideias para passarmos que visam melhorar os aspectos externos sem mexer na singeleza apreciada pelo seu padroeiro.

De volta entregamos a chave à zeladora, senhora Maria José Lírio e agradecemos a felicidade representante daquele domingo.

IGREJINHA DAS TOCAIAS (FOTOS: B. CHAGAS, INTERIOR, ÂNGELO RODRIGUES (EXTERIOR).  

 


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domingo, 11 de outubro de 2020

 

SUMÁRIO DE APARECIDA

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.398



APARECIDA E SUA PASSARELA DE 35 METROS DE ALTURA (Wikipédia)

“Em 1717 três pescadores, Domingos Garcia, João Alves e Felipe Pedrosa, moradores das margens do rio Paraíba, do município de Guaratinguetá, desanimados por não terem apanhado peixe algum, depois de várias horas de trabalho, já estavam rumando de volta para casa, quando lançaram mais uma vez a rede, retiraram das águas o corpo de uma imagem sem cabeça e, num segundo arremesso, encontraram também a cabeça da imagem de terra cozida. Impressionados pelo evento, experimentaram mais um lance da rede e, naquele momento foi tão abundante a pescaria que encheram as três canoas. Limparam a imagem com muito cuidado e verificaram que se tratava de uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, de cor escura. Colocaram-na na capela de sua pobre vila e diante dela começaram a fazer suas orações diárias. Não tardou a Virgem a mostrar por novos sinais que tinha escolhido esta imagem para distribuir favores especiais aos sus devotos. A devoção e a afluência do povo cresciam todos os dias e por isso impunha-se a construção de duma capela em lugar apropriado a fim de facilitar a devoção dos fiéis. Estava aí o morro dos Coqueiros, o mais vistoso de todos os altos que margeiam o rio Paraíba. Em cima deste morro foi construída a primeira capela em 1745 e foi celebrada a primeira missa. \a imagem de Nossa senhora da Conceição, já chamado pelo carinhoso nome de Aparecida, estava em seu lugar definitivo, dando origem à cidade do mesmo nome.

A Catedral Basílica Santuário Nacional de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, também conhecida com Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida é um templo religioso católico localizado no município brasileiro de Aparecida no interior do estado de São Paulo. É o maior templo católico do Brasil e o segundo maior do mundo, menor apenas que a Basílica de São Pedro, no Vaticano. maior catedral do Mundo visto que a Basílica do Vaticano não é uma catedral. Também é o maior espaço religioso do país, com mais de 143 mil m2 de área construída ao longo de todo o Santuário”.

(Fonte: Wikipédia)

 

 

 

 

 

 


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sexta-feira, 9 de outubro de 2020

 

O CONTO DA CIGANA

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.397

(CRÉDITO: JOGOABERTONET.BR).

Algumas décadas atrás, a população rural era maior do que a da cidade, no município de Santana o Ipanema. Os candidatos a vereador e prefeito agiam com muita segurança quando possuíam bases ruralistas. Com a chegada do progresso nas cidades e os contatos juvenis com escolas diversões e facilidades citadinas, começaram esses jovens a deixarem o campo e a vida mais dura da roça. A zona rural foi ficando cada vez mais despovoada. Os pais viam os filhos migrando para a cidade e já não contavam mais com a mão de obra familiar para produzirem. Gente para trabalhar nos roçados também foi desaparecendo e se sustentando em aposentadorias. Resultado: Muitas fazendas fecharam as porteiras, o campo virou deserto e sua população começou a se abrigar nas periferias da sede ou em povoados.

A obrigação do povo vindo da roça, em trabalhar no campo logo cedo e retornar ao povoado ou cidade à tardinha, também foi desaparecendo. A produção rural caiu e um vazio de muitos quilômetros tomam conta dos sítios. As capoeiras cobrem os terrenos e tomam conta do abandono. A nossa cidade passou a ter um equilíbrio populacional com o campo quase meio a meio na balança.

Surgiu assim uma nova mentalidade entre os jovens que vieram da roça e que absorveram todas as informações através de escolas, rádios, televisão e nos acessos às redes sociais. Assim, ou candidatos mudam a forma em pedir votos aos cidadãos ou afundam com as mesmas ideias retrógradas dos tempos dos seus pais e avós. Além disso, os rigores da lei na pandemia, obriga a mudanças de táticas e somente os prestigiosos e mais espertos conseguirão o êxito dos seus propósitos. Isso faz lembrar o eleitor que deixou um belo cartaz na porta da sua casa: “Cuidado com o Cachorro bravo, conhece e ataca políticos”. E outro: “Prezado candidato, passe por longe, todos estamos com convid-19”.

Começa hoje o rasga-rasga. os vitoriosos irão se lambuzar no mel e entre os desavisados, apenas choro e ranger de dentes.

A cigana continuará gargalhando sob o véu da crendice dos ambiciosos

 

 

 


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quinta-feira, 8 de outubro de 2020

 

VOU LHE LEVAR PARA A INTENDÊNCIA

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.396


FOTO (C4 notícias.com.br)

Foi noticiado mais um acidente no Sertão em que uma pessoa perdeu a vida ao bater num cavalo. Cidadão conhecido em Olivença não resistiu ao colidir com sua moto em animal na pista. Esse tipo de acidente não é raro em nossas rodovias. É uma coisa tão comum que virou negócio sem importância a vigilância rígida nas estradas e o recolhimento desses causadores de acidentes. Quem viaja, principalmente à noite, está sujeito às colisões fatais.  Causam mortes nas estradas com mais frequência: jumentos abandonados, cavalos e vacas. São as batidas frontais, cujos vultos só são percebidos já em cima. Esses animais se confundem com a noite, sendo os bichos mais escuros quase invisíveis aos faróis. Já o cachorro, mata mais pelo desvio do veículo com as capotagens que terminam às margens das vias.

Lembramos que na era de 60, havia verdadeira busca pelos animais que perambulavam sem condutores pelas estradas e pela Zona Urbana. Em Santana do Ipanema, pelo hábito do tempo dos intendentes, ainda se conduziam esses animais para a “Intendência”. O termo desvirtuava completamente o que fora denominado Intendência, uma coisa muito remota para a juventude dos anos 60. Qualquer animal solto, de porte, podia ser levado para a intendência que não era o gabinete do intendente, sombra do passado. Nesse período, a intendência era popularmente, apenas um curral cercado de arame onde o animal apreendido ficava preso até o aparecimento do dono que pagava multa para ter o bicho de volta. Lembramos ainda que o senhor Duda Bagnani, figura folclórica da cidade, parecia ter um prazer enorme em descobrir e conduzir os animais para a prisão provisória.

 A famigerada intendência, ficava no lugar vizinho à chamada Matança onde é hoje é piso do Bairro Artur Morais. Até motivo de chacota foi o lugar quando se dizia como brincadeira: “Vou lhe levar para a intendência”. Os caçadores de animais vadios não eram apreciados pelo povo. “Hem, hem, os bichinhos!”, diziam muitas senhoras com pena. Quanto aos donos dos animais capturados, reagiam desde à submissão à multa, aos argumentos recusados, ao ódio, discussão e ameaças a esses funcionários públicos “desalmados”.

Mesmo assim, a “intendência” de Santana do Ipanema, foi uma grande precursora na prevenção de acidentes nas estradas e no paisagismo urbano mais civilizado.

 

 


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terça-feira, 6 de outubro de 2020

 

IMPRENSE, ZÉ

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.395


                                     O PERNA DE PAU (FOTO: TREKEARTH

Com o mundo dos circos em alta e pouquíssimas diversões na cidade, a chegada de um deles agitava toda uma população, Em Santana do Ipanema, o circo era armado onde hoje estar implantado o Mercado de Cereais, no Bairro Monumento. Posteriormente os circos ficavam armados por trás da Delegacia de Polícia no lugar Aterro. Havia no local uma árvore centenária com uma casa ao lado de uma senhora branca, alta, cara enrugada, irritadíssima e “boca porca” chamada Mirindão. Apesar dos nossos apelos literários e ecológicos, o então, prefeito Paulo Ferreira amolou o machado na árvore de Mirindão. Os circos, geralmente distribuíam brindes (ingressos) com autoridades e gente de influência. Logo cedo, o palhaço perna de pau estava nas ruas acompanhado pela criançada com tinta preta nos braços como senhas para o espetáculo noturno. E quando não era o perna de pau, era o palhaço montado num jegue, virado para trás e megafone à mão.

“Peguei na aba do meu chapéu...” E a meninada respondia atrás: “Mulher buchada não vai pra o céu...”

O circo era grande espaço cultural. Além do espetáculo propriamente dito, apresentava ainda a segunda parte denominada: drama. Peça teatral muito bem encenada que chegava até arrancar lágrimas de muita gente. Alguns adolescentes sem dinheiro costumavam “maiá”, na linguagem deles, significava burlar a vigilância, passa sem ser notados pelas cerca de arame e entrar por baixo da lona, saindo em baixo do poleiro. Vez em quando eram flagrados pelos do circo.

Pois bem, um sujeito não perdia espetáculo. Mostrava um belo cartão ao porteiro com o nome IMPRENSA e entrava sem ser importunado. Um dia, porém, o porteiro estava com um mau humor terrível e indagou abusado: “O senhor é o quê? Repentista, comunista, jornalista ou o que peste é?

E o cabrão, fazendo trejeitos com a cara mais sem-vergonha do mundo, respondeu: “Eu mando imprensar, bobagem! Como você não imprensa, eu entro”.

Mas o progresso que derrubou teatros, bailes e folclore, também não deixou escapar o circo de uma permanente e mortal rasteira de validade.

 

 

 


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domingo, 4 de outubro de 2020

 

VOCÊ CONHECE?

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.383

(FOTO: B. CHAGAS).


Conheci o início da formação do paraíso no rio Ipanema, quando estive lá em uma pesca de esgotamento de poço. Um dia inteiro esgotando águas de pequenas poças e um fim de tarde com peixe para dar e vender. Lembro-me que fui a convite de Luiz Fumeiro, o fundador do time Ipiranga. Já havia avenidas de mato ralo, algumas rochas descobertas, várias em formato de panelas com se tivessem sido esculpidas pelo homem. Fiquei encantado. Tempos depois passei ali na minha caminhada a pé pelo rio Ipanema, das nascentes a foz, o lugar havia evoluído. Cerca de vinte anos depois, a transformação foi enorme. O rio Ipanema escavou cerca de 1 km do leito, descobrindo rochas de todos os tamanhos. As plantas começaram a nascer pelos arredores, na areia, pelas frestas das rochas, surgindo muitas espécies da caatinga: rasteiras, cactáceas, xerófitas e arbóreas com altura de 15, 20 metros. Entre os desenhos das rochas fios d’água e poços formam um conjunto incrível que duvido seja menos belo do que os jardins da Babilônia.

O Ipanema cheio é um rio comum, ele seco é um jardim em diversos trechos do Sertão. Revelamos esse paraíso para os santanenses, tivemos lá várias vezes, inclusive com Dona Joaninha – saudosa líder comunitária – e a reportagem da TV Gazeta. O lugar passou a ser um refúgio natural para os animais como serpentes, teiús, raposas, gatos do mato, aves e pássaros, alguns levados e soltos ali pelo próprio IMA. Uma família que mora às suas margens, usa e defende o trecho como propriedade particular proibindo as ações predatórias do homem.

O trecho do rio Ipanema é chamado de “Cachoeiras”, localizado logo após os subúrbios Maniçoba/Bebedouro. Enquanto o trecho urbano do Ipanema estar recebendo toneladas de fezes pelos esgotos da cidade e pela própria responsável pelo saneamento – segundo denúncia de vereador na tribuna – o paraíso das fezes e o paraíso verdadeiro dividem o Pai de Santana entre inferno e céu. Conheça as “Cachoeiras”.


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sexta-feira, 2 de outubro de 2020

 

O PÉ DE PICA DA PREFEITURA

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de outubro de 2020

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.382

Antiga prefeitura (Foto: livro 230/domínio público)

Após a primeira reforma da prefeitura de Santana do Ipanema, em 1938, para a época, o ambiente ficou bastante agradável. Chamava atenção os grandes janelões de madeira que abriam e fechavam através de cordões robustos permitindo a entrada intensa da claridade natural. As laterais do prédio suportavam bem o movimento de pessoas e, tanto nessas laterais quanto no pátio frontal havia várias árvores ajardinando o edifício. Mas, apesar da beleza das árvores, havia um, porém. Algumas delas botavam frutos estranhos.  Eram relativamente pequenos, duros e esverdeados. Possuíam formato de duas glandes, uma para cima, outra para baixo. Ninguém nunca definiu o nome científico das árvores safadonas. Nem também se sabia se teriam sido plantadas naquela reforma ou muito depois.

Homens feitos mostravam com malícia aos adolescentes, os frutos em formato de cabeça de pênis. Estes era colocados na mão fechada escondendo uma parte e mostrando apenas a outra, o que de fato se assemelhava ao órgão sexual. Tanto havia admiração de quem conhecia o troço, quanto risos sem-vergonhas depois. Naquele tampo havia certo cuidado para não ser mostrados às mulheres e gerar constrangimentos. Mas também havia aquelas que agiam semelhante aos homens. As árvores permaneceram na prefeitura por longo período. Para evitar maiores constrangimentos e repercussões negativas ao poder público, as árvores foram derrubadas a golpes de machado, tudo indica no governo municipal Genival Tenório.

“Como se chama essa árvore?”, indagavam os curiosos. A resposta era quase sempre a mesma: “Um pé de pica”.  E Assim, como ninguém sabia o nome verdadeiro do vegetal, o “pé de pica” ia varando as gerações. Após sua erradicação, acabou-se o constrangimento feminino e até o prédio ficou mais iluminado.

No primeiro governo Isnaldo Bulhões, o prédio da prefeitura sofreu uma segunda reforma que pareceu muito adiantada para a época, porém, atualmente, bem que a prefeitura ficou pequena para tantas atividades. Já está obsoleta. Mas, mesmo que seja construído um edifício nova geração de arquitetura, estar banido para sempre o

charmoso e safado Pé de Pica.


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