segunda-feira, 31 de julho de 2023
NÃO
CORRA SEM VÊ O BICHO
Clerisvaldo
B. Chagas, 10 de agosto de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.937
Bem
dizia a grande líder comunitária, dona Joaninha: “Não corra sem vê o bicho”,
pois foi assim que fomos para uma entrevista com um deles. O coronel José
Lucena de Albuquerque Maranhão (coronel Lucena) era o homem mais temido do
Sertão Alagoano. Comandante do Batalhão de Polícia, cujas volantes deram fim a
Lampião e Maria Bonita. Lucena fora o primeiro prefeito de Santana do Ipanema,
eleito pelo voto direto, na Era Vargas. E no dia da Eleição, o comerciante
Manoel Celestino das Chagas, meu pai, fora convocado como presidente dos
mesários de uma daquelas sessões. Por coincidência, era eleitor naquele salão o
tão famigerado coronel Lucena. Tudo normal se não fora o esquecimento dos
documentos de votação por parte do comandante.
E
na hora do registro de comparecimento às urnas, “Seu Manezinho”, não pestanejou
diante da fama de valentia de Lucena e falou: “coronel, para o senhor assinar,
estar faltando o documento”. Lucena – um trovão para muitos – educadamente
exclamou: “Eita! Você tem razão. Esqueci, vou buscar”. E assim procedeu sem
causar nenhum transtorno. E com o resultado do pleito, o coronel exerceu a
função de prefeito de Santana do Ipanema. O homem de bem é manso, anda com a
verdade e o destemor. O homem sábio pode ser pacato, pode ser valente, a
sabedoria não o deixa de acompanhar.
Os
tempos de dirigentes nomeados, governadores e prefeitos, foram de uma época
conturbada de exceção. Para um ditador entrar é ligeiro, para sair dar
trabalho, igualmente a uma doença difícil de se curar. Imaginamos que os
problemas com dirigentes nomeados, os prefeitos com várias denominações,
aconteceram em todo o país. Em Santana, o governador nomeado, nomeava também o
prefeito. Alguns desses indicados não conseguiam chegar ao fim do tempo de
nomeação. Muitos não passavam de 24 horas, outros não ultrapassavam a um mês.
Uns não tinham competência, outros desagradavam gente de prestígio político e
outros ainda eram acusados de roubo. O negócio só foi tomar rumo novo, após as
eleições livres com a despedida da ditadura maior. Mesmo assim, muitos vícios
ainda deram trabalho no início da democracia. A ambição de poder e do poder
continua destruindo almas que se regozijam na terra e se perdem no espaço.
CORONEL
LUCENA, (LIVRO LAMPIÃO EM ALAGOAS).
domingo, 30 de julho de 2023
INHAPI
Clerisvaldo
B. Chagas, 31 de julho de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.936
Inhapi,
é um município alagoano, situada no maciço de Mata Grande e dela emancipado.
Estar situado numa média de 400 metros de altitude e seu título possui origem
indígena tupi: “buraco na pedra”, referência aos lajeados côncavos que
acumulavam água da chuva. Sua sede é progressista, mesmo sendo muito nova e sem
indústrias de porte, tem mais de 18.000 habitantes, o que ultrapassa muitas
cidades sertanejas famosas mais que não passam de 10.000 mil pessoas. Inhapi
vive da agropecuária e do comércio urbano e seus munícipes são denominados
“inhapienses”. Possui um relevo plano e de ladeiras suaves, sendo atualmente
uma cidade bastante visitada que não fica de fora para os que querem conhecer
os municípios alagoanos do extremo oeste.
Festas
e mais festas acontecem em Inhapi. Uma delas é a da Emancipação que acontece na
data de 22. 08. A Festa dos Reis no dia 6 de janeiro é um grande atrativo, mas
a Festa da Padroeira Nossa Senhora do Rosário, celebrada em 7 de outubro dia da
Santa, atrai toda a vizinhança e faz o povo inhapienses vibrar muito durante os
seus festejos. Existem outras festas que adquiriram fama e já se tornaram
pontos de encontros dos sertanejos do Alto e Médio Sertão. Todo ano tem o
encontro dos Carreiros fazendo com que toda a região participe com seus carros
de boi, de Carneiro, de bode, carroceiros e cavaleiros. A culinária sertaneja de Inhapi e a sua
paisagem campesina, alimentam o turista de novidades, gosto pela terra e
vontade de voltar continuadamente.
Com
Alagoas total asfaltada, fica fácil chegar até Inhapi saindo da capital Maceió
e percorrendo uma distância de 271 Km pela BR-316, passando por Santana do
Ipanema. Vindo pela dorsal AL-220, serão percorridos 298 Km, pelo Agreste de
Arapiraca, Bacia Leiteira, Olho d’Água do Casado, etc. O presente é que as cidades sertanejas não
estão tão distantes uma das outras, permitindo se conhecer várias delas com um só
destino. Em todos os lugares, atualmente, proliferam as pousadas, que são
hospedagens mais simples, econômicas e objetivas onde o turista fica
completamente à vontade. Em Inhapi não deve ser diferente.
Diga:
“vamos ao Sertão de Inhapi”, e venha mesmo conhecer o buraco na pedra.
INHAPI
(FOTO: PORTAL FÉRIAS)
terça-feira, 25 de julho de 2023
FARMÁCIA IPANEMA
Clerisvaldo B. Chagas, 26 de julho de 2023
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.935
A
busca por ervas curativas sempre foi prestigiada por aqueles que precisavam de
saúde. Os nossos antepassados, não tendo
médico na redondeza, apelavam para alguns conhecimentos dos donos de antigas
farmácias chamadas boticas, era o boticário. Mesmo na época do boticário e
antes disso, o sertanejo doente se fazia na reza e no mato. E quando falamos em
mato, era a raiz, as folhas, as cascas, as flores e os frutos que curavam todos
os tipos de mazelas. Porém, como ainda hoje, essa farmácia natural depende
muito ainda dos conhecimentos do homem rural, cuja faina diária o torna um
especialista no ramo, fica difícil. Muitos desses medicamentos milagrosos, como
os antigos, ainda os encontramos no leito seco do rio Ipanema. Remédio para
tosse, lombrigas, diabetes, pancadas, afinar o sangue, pedra na vesícula,
aborto, menstruação, dor de cabeça e tantas outras mazelas que afligem o
sertanejo.
Raramente
um tipo de erva do leito seco do rio Ipanema e árvores encontradas, não são
medicinais. Numa passada recente num determinado trecho do rio vimos
carrapateira (mamona) Muçambê, urtiga, unha-de-gato, cardinho, vassourinha,
quebra-pedra, capim-santo e tantas e tantas outras espécies. Mas como era bom
andar nas trilhas com o garrafeiro (raizeiro) saudoso Ferreirinha que conhecia
a serventia do mato como a palma da mão. A falta de médico até mais da metade
do Século XX, fez criar fama raizeiros, parteiras e rezadores. Embora esses
profissionais tornem-se cada vez mais raros, nunca deixaram de existir
Para
quem quer fazer um balanço entre o passado sertanejo e o presente, pode sim,
notar uma diferença até gigantesca, porém, a carência médica continua, independente
de SUS, de hospitais, de clínicas particulares... Assim o homem do campo e da
periferia ainda grita para a mulher: “Maria, vai ali no mato e me traga olhos
de velame para afinar o sangue. Aproveite e pegue raiz de urtiga para fazer chá...
“.
É
verdade que a Educação teve uma melhora e tanta em todas as regiões sertanejas,
embora o ideal ainda precise ser conquistado, mas na saúde ainda falta tanta
coisa que uma relação bem feita iria hoje parecer sonho impossível.
É
por isso que o leito seco do rio Ipanema continua sendo um celeiro de
medicamentos.
LEITO
SECO DO RIO IPANEMA FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).
segunda-feira, 24 de julho de 2023
CARRO VOADOR
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de julho de 2023
Escritor Símbolo do sertão Alagoano
Crônica: 2.934
Quando
eu era rapazinho, um cidadão de fora colocou uma casa de aluguel de bicicletas
que funcionava no “prédio do meio da rua”. Ah! Isso era uma grande novidade
para a juventude que não tinha acesso à compra de uma bicicleta nova e, nem
sequer havia lugar de venda na cidade. Andar de bicicleta era coisa rara e
quase fantástica, assim como muitos e muitos anos depois, a irmã holandesa Letícia
usava esse veículo para se deslocar ao trabalho. Com o hábito de freira sem
nada atrapalhar, a irmã passeava de bicicleta com a maior desenvoltura chamando
atenção de todos os santanenses. Costume da Holanda posto em prática por aqui,
cuja população jamais vira uma freira naquelas condições. Os hábitos da irmã surpreendiam
até na hora de tomar um cafezinho sem açúcar.
Mas
voltando ao aluguel das bicicletas, pouco tempo depois, o cidadão daqueles
serviços deixou o “prédio do meio da rua” e mudou-se para um compartimento à
Rua Coronel Lucena, defronte ao chamado Beco de seu Abdon. Era uma beleza! O preço
do aluguel por uma hora era bastante razoável e cabia no bolso da meninada
sequiosa por algo novo em suas diversões, além dos jogos de ximbras, pinhões,
bola, gangorra, e banhos no rio Ipanema. Além do aluguel barato, o dono do
negócio era muito paciente e tranquilo, coisa que transmitia segurança. Era ele
mesmo quem consertava e ajustava as peças do veículo de duas rodas. Lembranças
vêm de um dos dentes da corrente que penetrou no meu dedão do pé e deu um
trabalho danado para sair.
Diante
do anúncio nacional em que a Embraer via iniciar sua fabricação de carro
voador, em São Paulo, fizemos uma comparação dos anos 60, no caso dos veículos.
E lá atrás cada carro diferente comprado por alguém da cidade, era notado de
pronto nessa urbe cujo tempo passava devagar. O carro de boi continuava em
evidência, o cavalo esquipador, o carro lustroso de praça, ou a sopa que fazia
o trajeto interior – capital. Até mesmo o famigerado “Zepelim” – balão dirigível
em forma de charuto – foi sucesso absoluto por aqui. Tudo isso sem contar com a
correria de adultos e adolescentes para contemplarem de perto os aviões tipos
teco-teco que aterrissavam no campo de aviação a 3 km do centro da cidade. Será
que a EMBRAER vai colocar em Santana do Ipanema, uma CASA DE ALUGUEL DE CARRO
VOADOR?
AVIÃO
TIPO TECO-TECO.
domingo, 23 de julho de 2023
OURO BRANCO
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de julho de 2023
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.933
Ouro
Branco faz parte do Alto Sertão de Alagoas, cuja cidade mais próxima é
Maravilha e no mesmo roteiro. Como lugarejo era chamado de Olho d’Água do
Chicão ou simplesmente Chicão. Chicão progrediu com suas terras de areia
branca, enfrentou a diversidade do clima, virou povoado. O povoado evoluiu e se
emancipou de Santana do Ipanema, no dia 21 de junho de 1962. Ouro Branco está
situado a 380 metros de altitude e faz divisa com Canapi, Maravilha e
Pernambuco. Sua distância à capital corresponde a 241 km e tem acesso a partir
da BR-316. Seus habitantes são chamados de ouro-branquenses e, o título da
cidade, após Olho d’Água do Chicão, (povoado) passou a ser Ouro Branco devido a
sua produção de algodão, plantações bem adaptadas às suas terras brancas de sílicas.
Possui uma população um pouco mais de 11.000 habitantes.
O
padroeiro de Ouro Branco é Santo Antônio, celebrado no dia 13 de junho, em
torno da praça Siloé Tavares e na Igreja Matriz. Apesar do clima rigoroso do
semiárido e Alto Sertão, a cidade mostra-se progressista, aproveitando
sabiamente a sua topografia plana que se estende muito além do perímetro
urbano. Sua redondeza acha-se bastante habitada com chácaras e fazenda,
notadamente em direção a Pernambuco. O município é cortado pelo riacho
Capiazinho, afluente do rio Capiá, o mais importante do Alto Sertão. Ouro
Branco cria gado bovino, ovino e caprino e produz feijão, milho e ainda insiste
no produto que lhe deu o nome. Sua culinária é típica do Alto Sertão e o
turismo se deleita com o aspecto de planura branca e lajeado que a cerca.
Podemos afirmar que é uma bela cidade.
Quando
ainda era Chicão e Olho d’Água do Chicão, o lugar era frequentado por Virgulino
Ferreira (antes de ser o Lampião), mas atuando no bando dos Porcino. Gostava de
demorar por ali. Inclusive, houve tiroteio entre uma volante de voluntários de
Santana do Ipanema com o bando dos Porcino naquele lugar (Lampião em Alagoas).
Estando em Santana do Ipanema e querendo chegar até Águas Belas (PE), tanto
você ir “por dentro” (atalho por estrada de terra) ou indo por Maravilha, Ouro
Branco, por asfalto, e aí, na saída da cidade ouro-branquense, conectar-se à
rodovia que leva a Garanhuns. É muito prazeroso rodar pelo sertão de Ouro
Branco, tanto no inverno quanto no verão porque a paisagem verde ou crestada
tem suas particularidades brilhantes e imorredouras.
O
ouro é realmente branco.
MATRIZ
DE SANTO ANTÔNIO, EM OURO BRANCO (FOTO: B. CHAGAS).
quinta-feira, 20 de julho de 2023
O
LEITE DE CADA DIA
Clerisvaldo
B. Chagas, 21 de julho de 2023
Escritor
símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.932
Sim,
é um altíssimo privilégio em um município pertencer a Bacia Leiteira de
Alagoas. Sabemos, é óbvio, que o critério de um município para pertencer a
chamada Bacia Leiteira de Alagoas, é produzir leite, isso todo mundo sabe. Mas, levando-se em conta que todos os
municípios do Agreste e Sertão de Alagoas se cria gado junto à lavoura, todos,
então deveriam estar incluídos na Bacia. Todo proprietário rural é
agropecuarista. Lógico que a quantidade de vacas leiteiras depende da
quantidade de terras e do poder aquisitivo. Mas todos têm a vaca leiteira no
seu espaço. Não encontramos uma fonte que explicasse o porquê do seu município
fazer parte desse privilégio. Consultando duas fontes distintas, fomos
encontrar uma Bacia Leiteira com 11 municípios e 2.782,9 Km2.
Anotamos
os municípios de Batalha, Belo Monte, Cacimbinhas, Jacaré dos Homens,
Jaramataia, Major Izidoro, Minador do Negrão, Monteirópolis, Olho d’Água das
Flores, Palestina e Pão de Açúcar. Porém, na segunda fonte, o número de
municípios salta para 16 e amplia a área para 5.053 Km2.
Acrescente-se Dois Riachos, Estrela de Alagoas, Igaci, Olivença e Palmeira dos
Índios. No primeiro caso temos somente municípios sertanejos. No segundo caso,
parte do Agreste faz parte com Estrela de Alagoas, Igaci e Palmeira dos Índios.
Dois Riachos e Olivença são município do Sertão. Bem, pode ser que seja uma
Bacia Leiteira atualizada. Mas isso fica
para uma terceira e definitiva pesquisa. Leite tem uso estadual e para
exportação.
A
Bacia Leiteira de Alagoas é a maior do Nordeste. O estado é o maior produtor de
leite dos estados nordestinos. Isso quer dizer que não é possível faltar leite
a uma criança no estado de Alagoas e, se faltar será motivo de descaso público.
Além dos empregados de qualquer uma das fábricas de leite, ainda temos os que
trabalham com o gado leiteiro, o corpo técnico dos rebanhos, os transportadores
do produto das fazendas para a recepção e os transportadores do leite industrializado
para outros centros. O que importa mesmo além do desenvolvimento, é o emprego
com origem no campo que acalma e dignifica milhares de pessoas, pais e mães de
família que louvam a atividade e o pão de cada dia.
O
tema ainda merece ser estudado e visto de CARA NOVA.
VACA
GIR LEITEIRA (FOTO: PINTEREST).
quarta-feira, 19 de julho de 2023
PASSANDO O MÊS
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de julho de 2023
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.931
Após
uma semana de trégua, as chuvas voltaram a cair em Santana do Ipanema. Um
solzinho para tirar o mofo das coisas e de nós, uma semana de varal lotado, sem
frio excessivo e Sol moderação. É certo, porém que as chuvas que caem em nossa
terra desde o mês de maio, são suaves, serenas, pingadeiras e pouco apressadas.
Mas hoje, dia 19, o céu amanheceu completamente cor de marfim com a chuva
moderada voltando à cena. O Sol luta para atravessar as névoas e,
provavelmente, teremos novo dia ensolarado, mas a partir das 9 ou 10 horas do
primeiro turno. Ainda bem que a procissão dos carreiros, domingo passado, abriu
os festejos à Senhora Santana no estio de parada estratégica dos céus. Muito
bom o tempo.
Bem
diz o sertanejo: “Mês miou (meou) mês findou”. E vamos contemplando essa
segunda quinzena do mês mais tradicionalmente, chovedor no Sertão de Alagoas; esse
ano, porém, como já foi dito acima. Assim a festa à Padroeira vai acontecendo
todas as noites, com os eventos religiosos celebrados por padres diferentes,
convidados especiais para as pregações. E até agora os profetas das chuvas vão
acertando 100% nas suas previsões: bom inverno, mas com pouca chuva por aqui.
Ainda temos esse restante de mês com eventos internacionais que nos interessam
de perto como a Seleção Brasileira de Futebol Feminino, a expectativa da Bienal
Internacional, em Maceió e os encontros de turistas e estudiosos do cangaço, em
Piranhas e visitas a Angico, em Sergipe, pelo aniversário de morte de Lampião e
Maria Bonita. Um mês cheio de eventos... Porém, nada como um dia atrás do outro
e uma noite no meio.
Particularmente
temos agendas para os lançamentos de livros do escritor e jornalista Fernando
Valões, entrevista na Rádio Cidade e pente fino no tema que será discutido em
Maceió na Bienal. Provavelmente não teremos crônicas entre a próxima terça e a
sexta-feira, nas arrumações para essas agendas. Segunda-feira, traremos a
cidade de Ouro Branco como sequência de um município sertanejo por semana em
nossos trabalhos. Vamos curiando esse tempo do mês de julho, talvez o mais
aguardado do ano que é ele o maestro inquestionável do nosso calendário.
AMANHECER
EM SANTANA DO IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS).
terça-feira, 18 de julho de 2023
SENHORA SANTANA
Clerisvaldo B. Chagas, 19 de julho de 2023
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.930
Teve início a abertura da tradicional Festa de Senhora
Santana, padroeira do município de Santana do Ipanema. O Evento se deu no
domingo passado pela manhã, quando a tão aguardada procissão de carros de boi,
deixou o Parque de Exposição Izaías Vieira Rego, em direção ao centro da
cidade. A procissão dos carreiros percorreu 3 km pela rodovia AL 130, desde o
Parque de Exposição até o centro da urbe, liderada pelo padre da paróquia,
Jacyel Soares Maciel com a imagem de Senhora Santana e São Joaquim. Os
carreiros assistiram à Santa Missa no Parque e, na cidade receberam a aspersão
de água Benta. Muitos santanenses estiveram ao longo da rodovia na entrada da
cidade para registrar o acontecimento.
Com 749 carros de bois, além de homens e mulheres a
cavalo, desta feita o número de carros de boi foi muito reduzido, pois de
outras vezes chegara quase aos 2.000 veículos. Prosseguem os festejos até o
próximo dia 26 com encerramento de procissão e descerramento da bandeira da
festa. Veja o resumo da programação:
1ª Noite – 17/07 (Segunda-Feira)
19h00min – Novena
19h30min – Santa Missa
Pregador: Pe. Cristovam Oliveira
da Silva Júnior
2ª Noite – 18/07 (Terça-Feira)
19h00min – Novena
19h30min – Santa Missa
Pregador: Dom Manoel de
Oliveira Soares Filho
3ª Noite 19/07 (Quarta-Feira)
19h00min – Novena
19h30min – Santa Missa
Pregador: Pe. Clarindo
Lopes da Costa
4ª Noite – 20/07 (Quinta-Feira)
19h00min – Novena
19h30min – Santa Missa
Pregador: Pe. Humberto da
Silva
5ª Noite – 21/07 (Sexta-Feira)
19h00min – Novena
19h30min – Santa Missa
Pregador: Pe. Roberto
Benvindo dos Santos
6ª Noite – 22/07 (Sábado)
19h00min – Novena
19h30min – Santa Missa
7ª Noite – 23/07 (Domingo)
19h00min – Novena
19h30min – Santa Missa
Pregador: Pe. Aderval
Rodrigues Ferreira
8ª Noite – 24/07 (Segunda-Feira)
19h00min – Novena
19h30min – Santa Missa
Pregador: Pe. Tácito José
Alencar Souza
9ª Noite – 25/07 (Terça-Feira)
15h00min – Leilão no Parque
de Exposição Isaías Vieira Rêgo
19h00min – Novena
19h30min – Santa Missa
Solenidade de São Joaquim e
Sant’Ana –
26/07 (Quarta-Feira)
09h30min – Santa
Missa
Pregador: Pe. Adauto Alves
Vieira
Coral: Senhora Sant’Ana
15h00min – Santa Missa
Pregador: Pe. José Paulo
Rosendo da Costa
Coral: Filhos da Imaculada
16h00min – Procissão com as
imagens de São Joaquim e Sant’Ana
Bênção
do Santíssimo Sacramento e descerramento da
bandeira
PROCISSÃO
DOS CARREIROS NA AL-130 (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES/ARQUIVO B.CHAGAS).
segunda-feira, 17 de julho de 2023
BATALHA
– PARABÉNS ALAGOAS
Clerisvaldo
B. Chagas, 18 de julho de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.929
Nesse
momento em que o Brasil está se preocupando com o leite importado, Alagoas
consegue uma magnífica vitória no Sertão. Trata-se da fábrica de leite em pó
implantada na cidade de Batalha que já começa a produzir os frutos de coragem
do empreendimento. Com a tristeza prolongada da CILA, da CAMIL e da CAMILA,
sucessivamente, parecia não haver mais esperanças para a Bacia Leiteira, e logo
agora quando o Canal do Sertão está bem pertinho do núcleo da bacia! Foi
anunciada há pouco a fábrica de leite em pó que funcionará em Batalha e já
existe o anuncio que nesses quinze dias se dará a inauguração. A fábrica de
leite em pó de Batalha, afirmam seus idealizadores, será a maior do Norte e
Nordeste e congregará cerca de 5.000 produtores de leite no sistema cooperado.
A
Cooperativa de Produção Leiteira de Alagoas (CPLA), prepara leite em pó na UBL
de Batalha, cujos objetivos é produzir leite em pó, soro lácteo, leite
condensado, doce gourmet, soro em pó, composto lácteo, etc., fazendo com que a
CPLA seja destaque no Brasil. Foram investidos 35 milhões de reais e a visão
sobre os cooperados é passar de 2.000 para 5.000 mil, com uma captação de 400
mil litros de leite/dia. São 200 funcionários trabalhando nos três turnos. Por
tudo isso que foi divulgado nos principais meios de comunicação do estado, faz
com que o alagoano confie na força e na capacidade de Alagoas, notadamente com
empreendimento desse porte e no Médio Sertão do qual fazemos parte.
Isso
nos faz lembrar quando fazíamos com que os nossos alunos (Geografia) trouxessem
embalagens de produtos industrializados os mais diversos, para separá-los por
estados e saber quais eram as maiores potências industriais entre eles. E nos
lembra ainda das vibrações nossas quando formávamos um montinho de produtos
industrializados de Alagoas, mesmo sendo pequeno nos fazia vibrar de orgulho. E
como já foi dito, é grande a cadeia do leite e que estará sempre em expansão
até mesmo fora dessa cadeia com novos empreendimentos que se complementam
satisfatoriamente.
De
Alagoas para o mundo! Aplausos! Só Aplausos.
ALDEMAR
MONTEIRO, PRESIDENTE DA COOPERATIVA (ASSESSORIA)
domingo, 16 de julho de 2023
PARICONHA
Clerisvaldo
B. Chagas, 17 de julho de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.928
Pariconha
é uma cidade montanhosa do semiárido alagoano. Fica nos confins do estado e
também faz divisa com Pernambuco. Podemos dizer que o município é muito novo
ainda, emancipado de Água Branca em 5/10/1989. Com um pouco mais de 10.000
habitantes, localiza-se a 360 metros de altitude, no Maciço de Mata Grande. Da
capital a Pariconha existe uma separação de 306 quilômetros, que podem ser vencidos
tantos pela BR-316, via Santana do Ipanema, quanto pela dorsal do estado, via
Arapiraca (sendo duplicada). O seu nome tem origem num ouricurizeiro, cujo
fruto possuía duas conhas (polpas). Daí o nome evoluiu para Pariconha e tem o
gentílico de pariconhenses.
É
certo que a cidade é pequena e muito nova, mas procura modernizar-se, coisa que
fez com a igreja local que é muita bonita. O município, devido ao clima
semiárido mais forte dos extremos do estado, destaca-se com as lavouras tradicionais
da região e a criação de gado miúdo, ou seja, caprino e ovino, mais resistentes
ao clima. Seus festejos mais em destaques são a festa da Emancipação e as
homenagens ao padroeiro, Sagrado Coração de Jesus. Pariconha, como antigo
povoado, já sofreu ataques, pelo menos três, de Virgulino Ferreira, antes de se
tornar Lampião e pertencente ao grupo dos Porcino (Lampião em Alagoas). Houve
episódios dramáticos, cujo delegado da época foi muito maltratado. Em busca de
pesquisas cangaceiras, essa região montanhosa é rica em narrativas e abrange
todas as cidades do Maciço.
Pariconha
limita-se ao Norte com Tacaratu (PE), ao Sul com Delmiro Gouveia, a Oeste com
Água Branca e a Oeste com Jatobá (PE). Isso supõe um intenso intercâmbio entre
essas cidades do extremo Oeste do estado, mas tendo como ponto de convergência
a cidade de Delmiro Gouveia, a maior do Alto Sertão. Ao conhecermos a região
serrana, ficaremos no mínimo, impressionados com as paisagens de altitude. Inclusive,
o pico mais alto de Alagoas está por ali em território de Mata Grande: é a
serra da Onça com 1.016 metros de altitude, isto é, tudo nas vizinhanças de
Pariconha. É sempre bom visitarmos regiões de altitudes, onde iremos encontrar
hábitos diferentes, belas paisagens e não raras vezes, animais e vegetais, com
características próprias do nicho.
Pariconha
lhe aguarda.
PARICONHA
(DIVULGAÇÃO).
quinta-feira, 13 de julho de 2023
ZUMBI
NO IPANEMA
Clerisvaldo
B. Chagas, 14 de julho de 2023
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.927
Eu
ainda não havia ingressado no Ginásio Santana, quando alunos daquele
Estabelecimento de Ensino, aproveitaram uma aula de história e montaram uma
peça teatral sobre o herói negro Zumbi dos Palmares. Deve ter sido um grande
sucesso, mas eu não me encontrava presente. Contudo, vi quando desceu do
Ginásio aquela turma de estudantes pretos de carvão em direção ao banho noturno
no rio Ipanema. O aluno Marcos, que fazia o papel de Zumbi, era muito alto,
trabalhava nos Correios e, parecia ainda comandar os comaradas fora do palco.
Desceram pela rua que antecede o Bairro São Pedro, onde havia a bodega de “Seu
Carrito”, e foram para os poços e cacimbas limpar a cara do pretume. Nossa! Até
à noite o Ipanema estava à disposição de quem dele precisava.
Quando
as lavadeiras do rio Ipanema denunciaram na delegacia que os machos estavam
tomando banho nus no poço dos Homens, o delegado civil José Ricardo, proibiu a
prática no poço. Os gaiatos da cidade, todos “filhos de papai”, vestiram-se com
terno e gravata e desceram para o poço dos Homens, conclamando a população para
os acompanharem ao banho. Não vi o movimento, mas sim a notícia. O certo é que
os rapazes mergulharam no poço dos Homens de terno e gravata, sim. A
repercussão humorística ganhou todos os quadrantes de Santana do Ipanema e não
faltavam risos frouxos na urbe. Foi terrível para o delegado. Não houve, porém,
nenhuma consequência danosa a qualquer das três partes envolvidas. Somente
comédia. Muita comédia!
Tudo
já foi contado por aqui. O Ipanema sempre abraçando e sendo o ponto de diversão
santanense. Foi por isso que o famoso e boêmio sapateiro “Tarde Fria”, correu
da polícia, por isso ou por aquilo, sendo perseguido de perto pelos policiais.
Tempo de inverno, Panema cheio, e a polícia pega-não-pega “Tarde Fria”. O sapateiro aprumou pelo Beco São Sebastião e
foi bater nas pedras lisas do poço dos Homens. Dali pulou com terno e tudo e a
polícia esbarrou na água. Na outra margem, surgiu o boêmio todo molhado e
deixando a água escorrer tenho abaixo. Acenou para os soldados e saiu cantando
para os lados onde morava: “Tarde Fria, sinto frio na alma, só você vem e me
acalma...”.
Ah!
Nunca é demais falar no rio Ipanema.
RIO
IPANEMA (FOTO: SÉRGIO CAMPOS).
quarta-feira, 12 de julho de 2023
SISAL – AGAVE
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de julho de 2023
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.926
Agave
é um gênero de planta da subfamília Agavoideae, originária do México, Estado
Unidos, América Central e América do Sul. Aqui no Brasil, tem a Paraíba e a
Bahia, como grandes produtores. É planta, sim de região seca, fibrosa que nasce
em touceira arredondada, folhas duras e longas com espinhos fortes na pontas.
Aqui no sertão de Alagoas, chamamos o Sisal de Agave e. se tem alguma diferença
nunca notamos nada. Nem todos os lugares do nosso sertão produzem agave. É uma
planta que serve para fazer barbante, corda, tapete, sacos e artesanato. Uma
extensa plantação visa vender o produto para se fazer cordas, principalmente em
épocas que ainda não havia a corda sintética. Dizem que o México faz tequila
com o agave, mas nunca vimos falar nessa invenção em nossas plagas.
O
município de Senador Rui Palmeira, quando ainda estava em formação, se chamava
“Usina”, istó é, local de fazer corda, usina de fazer corda e cordão. A agave
tem a vantagem de ser plantada em larga escala, enquanto outras plantas
contribuem mais como espécies nativas coletoras. Somente conheci em Santana do Ipanema, uma
fabriqueta de corda a céu aberto, muito rudimentar e que se localizava no
Bairro Floresta, margem do Ipanema. Mas ao mesmo tempo em que falo sobre esse
tema, recordo da minha própria pessoa, montado numa cangalha de jegue, repleto
de produtos da roça em caçuás e trilhando pelos caminhos de barro vermelho do
roçado; tudo isso no sopé da serra Aguda. Sim, lembro que o tangedor do animal
se chamava Cololô, filho de Sérgio, nosso caseiro.
E
como já foi dito aqui sobre várias indústrias insipientes de nossa terra e do
sertão inteiro, os proprietários dependiam unicamente da própria sorte. Nada de
incentivo do poder público e, se havia algum incentivo de determinado “coronel”
era para tomar-lhes o pouco que possuíam. Vez em quando precisamos de uma corda
para colocar no punho da rede, um rolo de barbante... Mas que pena, estarmos
comprando produtos de outros estados e de outras Regiões Geográficas, porque
nunca houve a valorização pelo que é nosso. Já se fala (pesquisadores
brasileiros) em novos e surpreendentes produtos feitos com a agave.
E
agora José?
Morrer
na faca cega.
PLANTAÇÃO
DE SISAL – AGAVE (ROBSON DE ANDRADE SANTOS – WELLINGTON BRANDÃO).
terça-feira, 11 de julho de 2023
ARTESÃO SELEIRO
Clerisvaldo B. Chagas, 12 de julho de 2023
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
2.925
Se
um artesão já é uma pessoa inspirada e habilidosa, imaginem um artesão seleiro!
É que um sela para chegar à vitrina, passa por várias etapas que impressionam
em cada detalhe. E ao terminar o fabrico de uma sela, simples ou de alto luxo,
podemos dizer sem errar que estamos diante de uma verdadeira obra-de-arte.
Existem inúmeros especialista espalhados por todo o território nacional, nodadamente,
em regiões onde o cavaleiro é um destaque nato. E nesse trabalho dos
profissionais do couro, especialmente o seleiro, existem pequenas máquina que
ajudam aqui ou ali, mas estamos mais focados no seleiro do sertão nordestino,
aquele que confecciona à mão todo o seu trabalho.
Tivemos
grandes artesãos do couro, em Santana do panema, como Mestre Alexandre,
Gervásio e Nestor Noia, mas não podemos afirmar que eles fossem seleiros.
Aliás, pegamos a imagem de Nestor Noia, do nosso tempo e, por ter sido um tipo
marcante, demos a ele outro nome e o fizemos motorista de caminhão de couros e
peles, no romance “Fazenda Lajeado”, (ainda inédito). Interessante na arte, são
os nomes das inúmeras peças que compõem uma sela como: assento, estribo,
suador, pito, barrigueira, paralama, virola, aba traseira, margarida, aba do
suador, cabeça, garganta, argola dianteira, argola traseira, aba de assento e
correia de paralama... Não iremos detalhar a função de cada peça que podem ter
denominações diferentes nos vários tipos de selas e em outras regiões do país.
Uma
sela tem validade pelo menos de uns quinze anos, dependendo também do zelo do
dono. Pode custar na faixa entre 400,00 a 600 reais. Mas, conforme coisas
extras que se pede, pode alterar bem os custos básico do artefato. Um trabalho
bem feito exige qualidade, beleza e conforto, coisas que não faltam nas mãos de
mestres famosos ou não. A beleza complexa da arte da sela, não deve encobrir a
confecção da cangalha para animais cargueiros, pois nessa particularidade o
artesanato, também têm seus mestres tão famosos e procurados quanto os
seleiros. A cada ano aumentam as encomendas de sela no país para o vaqueiro,
para o trabalhador da fazenda, para o esportista e para o competidor de
corridas...
Deus
semeou talento nos quatro cantos da terra.
SELA (IMAGEM
PIXABAY).