domingo, 28 de fevereiro de 2021

 

LANÇAMENTO DE LIVRO

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de março de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.479







Nesta segunda-feira estaremos lançando ao público santanense em geral, o nosso mais recente livro com o título já amplamente divulgado, Canoeiros do Ipanema. Por motivo da pandemia, não faremos as formalidades de sempre em solenidade no AABB, Tênis Clube ou Câmara de Vereadores. O lançamento será simbólico e anunciado pela Rádio Milênio, com os pontos de venda já definidos. Desde já, o documentário Canoeiros do Ipanema, pode ser encontrado no Espaço Cultural/Livraria, à Rua Benedito Melo (Rua Nova), tendo como ponto de referência a vizinhança com a chamada Clínica de Dr. Gerson e mais no Nobre Hipermercado, no Center Pão e No salão Gil Cabelereira. Todos na gentileza do casal Rendricson e Rosângela Carnaúba, proprietários do Espaço Cultural/Livraria.

Devido aos preços elevados das correspondências e as aglomerações nos Correios, não aceitaremos mais depósitos na conta para enviarmos o livro para outra cidade. Os livros serão entregues em endereços somente da cidade de Santana do Ipanema à familiares ou amigos do adquirente. Obrigado pela compreensão que o vírus está violento em nossa cidade.

“Canoeiros do Ipanema”, tem o prefácio do escritor contista Fábio Campos e foi impresso na GrafMarques, em Maceió. Possui 20 páginas/documentário que conta tudo sobre a atividade canoeira no rio Ipanema, quando não havia pontes e aconteciam as grandes cheias registradas pela história.

E como dizia Rui Barbosa: “Os melhores perfumes estão nos menores frascos”. “Canoeiros do Ipanema”, livro perfume e relíquia, resgate de páginas que não podem ficar sepultadas pelos idosos e nem vedadas às novas gerações.

Caso seja construído o “Memorial Rio Ipanema”, gostaria que o nosso livro fosse a primeira peça doada para ajudar na alimentação cultural de jovens estudantes da Rainha do Sertão.

Mesmo com os pontos de venda acima, continuaremos entregando  em nossa cidade somente, com prévio depósito na conta solicitada pelo Zap e envio de recibo de depósito com endereço de entrega. (Em qualquer lugar: 20,00 por unidade)

Cuide-se, use máscara, álcool gel e evite aglomerações.

Saúde para nós todos.

CAPA DE LIVRO (FOTO B. CHAGAS).

 


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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

 

XAXANDO FEIJÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de fevereiro de 2021.

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.478



 

Na região do semiárido o sertanejo não perde tempo. Mal chegaram as trovoadas em pleno mês de fevereiro, notamos a grande animação nos roçados, através das novas tecnologias. São dezenas e dezenas de vídeos na Internet mostrando a alegria sertaneja em relação ao campo. Agricultores cortando terras, plantando feijão e milho, tangendo gado pelos campos imensamente verdes e até mesmo xaxando o feijão.  Xaxar em nosso torrão é fazer uma das limpezas no feijoeiro, geralmente à base da enxada. Consiste em limpar os arredores do pé de feijão e ao mesmo tempo puxar a terra do entorno para os vegetais. Esse movimento faz um ruído característico da enxada na terra, um onomatopaico xá, xá, xá...

Daí ter se criado o termo “xaxá feijão”, isto é, ouvir o som da enxada na terra: xá, xá, xá...

No sertão de Alagoas, grande parte dos que cultivam o feijão e o milho, trabalha ainda no sistema arcaico do arado.  Um cidadão guiando uma parelha de bois ou garrotes puxa o arado enquanto outro homem denominado rabisqueiro equilibra atrás esse mesmo arado em terreno fofo ou pedregoso. A necessidade mexe com as ideias e tem gente utilizando até cavalo e jumento no lugar das parelhas bovinas. Tem agricultor usando lanterna adaptada à cabeça e outra adaptada à barriga para o trabalho de semeadura à noite e não perder tempo nessa época do plantio. Até mesmo para xaxar o feijão, teve agricultor inovando fazendo esse serviço que é individual com enxada, agora utilizando um jumento nas carreiras entre os feijoeiros adaptando uma enxada ao arado, puxado pelo animal asinino. O jegue não pisa nos pés de feijão e usa uma espécie de burga no focinho para não comer a lavoura ainda verde.

Pelo jeito, o sertanejo alagoano continua o preceito do padre Cícero Romão Batista quando o sacerdote mandava plantar assim que chovesse, sem esperar época fixa para esse fim.

Vem por aí boa quantidade de feijão-de-corda para vender e ser devorado com galinha de capoeira e manteiga de garrafa, compadre! Aprecia? Aguardemos.

Euforia geral no Sertão! Bênçãos merecidas.

ROÇADO DE FEIJÃO (CRÉDITO: PIXABAY).


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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

 

CABAÇAS E CABACEIROS

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.477

 









Foi bom saber que o modernismo, não conseguiu extinguir por completo o plantio e uso da cabaça, fruto do cabaceiro. Até mais da metade do século passado, os sertões nordestinos usavam com bastante espontaneidade esse fruto plantado que nasce e se estira em ramas, igualmente à melancia. Feita a limpeza interior, a cabaça é utilizada para inúmeras tarefas domésticas. São elas de todos os tamanhos. Serve para transportar água dos barreiros para casa e também utilizadas como cantil nas longas viagens sertanejas. Mantém a água sempre fria em qualquer temperatura ambiental. Quando pequena, serve para guardar pólvora para espingarda tipo “soca-tempero”. São bastante usadas como boias amarradas à cintura de quem estar aprendendo a nadar.

A cabaça foi muito utilizada em forma de cuia pelos mendigos. E ainda em forma de cuia, utensílio usado nos barreiros para apanhar água. Foi bastante útil no passado como medida no comércio de farinha. “Uma cuia, duas cuias... De farinha. No Rio Grande do Sul a cabaça é chamada de Porongo, utilizado para cuia de chá mate. A industrialização e a popularidade do plástico, tornaram mais fáceis de se obter utensílios domésticos e consequentemente o desestímulo ao plantio do cabaceiro.

Em Alagoas temos a cidade de Coité do Noia e, coité é uma cuia da cabaça. Em Santana do Ipanema, temos na zona rural o sítio Cabaceiro, provavelmente antigo produtor de cuias e cabaças. O nome cabaça também era usado no masculino, mas infelizmente a criatividade humana o associou a virgindade feminina. “Arrancar o cabaço”, linguagem chula que significa tirar a virgindade, romper o hímen.

Documentos tricentenário sobre terras no sertão alagoano, registram o “riacho dos Cabaços”, no alto Sertão, como marco de sesmaria.

Foi gratificante para o sertanejo a exibição em vídeo de uma grande safra de cabaças no estado de Goiás. Destino: cuia de chimarrão.

Não temos informações, todavia, de alguma cultura na zona rural de Santana do Ipanema, hoje.  Aliás, o tempo muda, o produto escasseia, mas o sítio Cabaceiro continua testemunhando as etapas inexoráveis da história.

SAFRA DA CABAÇAS (CRÉDITO: PINTEREST).

 


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terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

 

PARQUE DE VAQUJADA/CENTRO BÍBLICO

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.476

 


No momento em que a Igreja também dá uma pausa nas suas atividades, devido a Pandemia que assola o mundo, passamos defronte ao Centro Bíblico de Santana do Ipanema, notando uma solidão de deserto nas ruas do entorno. Situado no Bairro Camoxinga, mais ou menos por trás do Estádio Arnon de Melo, o lugar, ainda sem habitações, não passava de uma pista de corrida de mourão com o nome de Parque Bela Vista pertencente ao Dr. Dalmário Nepomuceno Gaia. Alguns o chamavam de Parque de Vaquejada, onde a pega de boi na pista divertia o povo. Vendida depois, aquela área de terra passou a ser loteada e atualmente representa uma área residencial bastante concorrida. Foi ali erguido o Centro Bíblico, um lugar de estudos e ações católicas que atingiu o ápice tendo à frente os saudosos senhores José Vieira e José Nogueira, o primeiro, também fundador do Sindicato Rural.

Sob o comando do padre José Augusto, então, dirigente da Paróquia de São Cristóvão, o movimento bíblico tornou-se uma imensa força católica no município com movimentos produtivos e animados que atraíam multidões. Ali surgiram compositores que revolucionaram com novos cânticos para a Igreja. Após anos a fio de crescimento e vigor, o pároco José Augusto foi comandar outra paróquia na capital alagoana. Os líderes bíblicos citados acima, faleceram, o movimento arrefeceu e, o restante não sabemos contar de certo. Lugar bastante agradável, o Centro Bíblico físico continua de pé e como referência para a região onde se acha implantado.

A área em torno do antigo Parque de Vaquejada, foi valorizada pelas ruas planas, terrenos enxutos e pavimentação em paralelepípedos, mas a existência do Centro, deu atestado final à localidade. Formou-se na área uma pequena elite do poderoso bairro. Entretanto, apesar de bem localizada para moradias, as queixas mais comuns daquela região, é crucial. A chegada da água nas torneiras ainda é um grande problema, notadamente durante o verão.

Dizem que era mais fácil derrubar o boi na faixa, no tempo do Parque Bela Vista, de que chegar água todo dia no lugar onde o gado berrava.

Nem com as rezas poderosas do Centro Bíblico.

PARTE EXTERIOR DO EDIFÍCIO CATÓLICO (FOTO: B. CHAGAS)


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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

 

ONDE JUDAS PERDEU AS BOTAS

Clerisvaldo B, Chagas, 23 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.475


Visitando a região de Coruripe e Piaçabuçu, fomos nos deliciando com a mudança de cenário. Ficou para trás o nosso Sertão de rios secos, serrotes e mandacarus. Surgiram diante de nós o rio São Francisco, praias encantadoras e coqueirais dominando o mundo. Culinária deferente e recepção fraterna, vão aumentando o desejo de esticar o passeio por mais uma quinzena. Não gostaríamos de arranjar uma briga, tal o alto número de homens nas ruas conduzindo longos facões de arrasto. No Sertão só quem anda assim, com essa liberdade armada é o carreiro, condutor de carro de boi. Mas, no trecho em que estávamos, amigos e amigas, a sobrevivência dos nativos está diretamente ligada ao coco-da-baía. O facão é ferramenta de trabalho no alto dos coqueirais.

Ligados na paisagem, no povo e nos costumes, apreciávamos o movimento de pessoas sob os esguios coqueiros praianos, quando uma senhora passou comentando com outra sobre a carestia do lugar: “Aqui, minha ‘fia’, foi onde Judas perdeu as botas!”. “Eita, meu Deus! – pensamos – se foi ali, que o Judas perdeu as botas, imaginem, então, o que ele deve ter perdido em Santana do Ipanema, a Capital da Carestia!”. E essa carestia em Santana já era apontada desde a década de 20, tornou-se tradição e continua apavorando a dona-de-casa que procura a feira livre em busca de hortifrutigranjeiros. A falta de produção da terra, acostumada com outros cultivares, permite à morte na faca cega das senhoras santanenses que procuram fazer milagres na compra desses produtos importados de Pernambuco e Sergipe.

Infelizmente uma Central de Abastecimento anunciada pelo, então, prefeito Nenoí Pinto, não chegou a ser concretizada. Daí para cá, ninguém mais ousou retirar a pedra de cima do assunto. Além dos preços absurdos, são comentadas também a qualidade dos produtos que em muitos casos se supõe que o destino seria o lixo. A cidade e região precisam de algo semelhante a uma CEASA para derrubar os preços agressivos e a qualidade murcha das ofertas de restolhos. Não importa de onde parta a iniciativa, governamental ou privada, seria um largo passo na devolução das botas do Judas, das roupas e das pragas dessa tradição abusiva que engole o consumidor santanense. 

Xô! Xô! Xô! Ideias cansadas, obsoletas, medievais. Não queremos vender graxa para as botas do Judas!

FEIRA LIVRE NA CHUVA DE SANTANA (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

 

 


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domingo, 21 de fevereiro de 2021

 

AINDA UM OLHAR URBANO

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.474

 



É deveras gratificante quando uma cidade tem condições de perpetuar os seus marcos históricos ou de referências. Quando não possível, pelo menos fotografá-los, imprimir seus históricos e arquivá-los nos Arquivos Públicos do município, grande fonte de pesquisas para esta e futuras gerações.

Em Santana do Ipanema, Alagoas, tínhamos dois lugares com denominações irmãs: Cajarana ou Alto da Cajarana e As Cajaranas. Construído na gestão Paulo Ferreira, a Conjunto Habitacional Cajarana – muito sofrido e recentemente pavimentado – fica por trás do Hospital Clodolfo Rodrigues de Melo, na parte alta do Bairro Floresta. A origem do nome vem de uma árvore robusta e bastante frondosa chamada Cajarana e que produz os seus frutos Cajás. Imortalizamos a árvore em nosso livro “Negros em Santana”. Esta árvore, símbolo daquele conjunto já sofreu tentativa de queimada por um dos seus próprios habitantes.

O outro lugar representa As Cajaranas, área de terras altas na antiga rodagem Santana – Olho d’Água das Flores, vizinho ao término da rodagem com a AL-130, quase por trás do atual “Posto de Gasolina Lemos”. Já falamos sobre isso. Em nossas andanças pela periferia ficamos chocados com a ausência daquele grupo de árvores, dentro do grande cercado da família Alcântara. Enfrentamos arame farpado, mato, mas descobrimos o assassinato das Cajaranas. Só restaram os tocos como cadáveres sem cabeças. Coisa horripilante! Árvores tradicionais que acompanharam toda a nossa infância e a evolução da cidade. Quem serão os culpados? O leite já foi derramado, mas o lugar bem que merece um marco artificial e oficializado de referência para não cair no esquecimento da juventude.

Quanto a Cajarana árvore por trás do Hospital e que precisa de uma plaqueta indicativa e histórica para o Conjunto, até quando resistirá ao vandalismo, à ignorância e à ambição por madeira?

Até mesmo o hospital da cidade também é apontado como o “Hospital da Cajarana”. Dizer mais o quê!

 ÁRVORE CAJARANA DEU NOME AO LUGAR; FUNDOS DO HOSPITAL, EDIFÍCIO EM AMARELO. Não foi possível melhorar a qualidade da (Foto de B. Chagas)

 


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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

 

FOI DE FAZER MEDO

Clerisvaldo B. Chagas, 18/19 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.473

 



Na última terça-feira, por volta das 19 horas, caiu uma grande trovoada no Sertão de Alagoas, aguardada desde o mês de janeiro. Os trovões foram terríveis com relâmpagos e provavelmente com inúmeros raios pela redondeza. A chuva foi tão forte e duradoura na cidade de Santana do Ipanema que duvidamos de ter escapado uma só casa sem estuque que tenha se livrado de tantas goteiras. As calhas transbordaram e os esgotos de canos de 100, tiveram muito trabalho para escoarem as enxurradas dos telhados. E o pior, faltou energia, Santana perdeu todos os meios de comunicação, ficou completamente ilhada, enquanto os clarões dos céus cortavam o espaço. Comércio fechado, ruas desertas e os trovões encurralando os viventes.

A energia da Equatorial só apareceu lá para as 23 horas, mesmo assim por pouco tempo. A chuva amainou, mas logo voltaram à ativa a escuridão e um resto da chuvarada.  Calor imenso, escuridão sem Internet, sem telefone, sem ar condicionado, sem ventilador, foi uma noite muito dura. O dia seguinte, quarta-feira, nada de energia, nada de comunicações. No anoitecer dessa quarta-feira de Cinzas, nova trovoada teve início, coisa nunca vista, duas trovoadas seguidas em poucas horas. A mesma novela da noite anterior: escuridão total, relâmpagos, trovões e receios, sendo a violência do tempo menor do que a noite da terça. A trovoada só foi se acalmar lá para as 22 horas. Só apareceu a luz no breu da cidade, em torno de 23.30.  Finalmente amanheceu e o sertão mostrou um céu límpido como se nada tivesse acontecido. As ruas estavam lavadas e, cremos que os pecados também.

Só não se perderam os alimentos que estavam em congelador, falam em muito prejuízo. As primeiras notícias da quinta apontaram o apagão em Santana do Ipanema e mais nove cidades sertanejas. Todos queriam uma trovoada, Zé, mas não com as trevas e violência do tempo. O saldo é que deve ter enchido barreiros, açudes, barragens e cisternas de toda a região. Ainda madrugada, espanta-boiadas faziam alaridos sobrevoado o rio Ipanema e logo cedo do novo dia, o leiteiro com sua moto de entrega e buzina de carro grande, anunciava a volta da normalidade na terra de Senhora Santana.

Segundo dia de quaresma.

Amém, amém!

CHUVA EM SANTANA (FOTO: B. CHAGAS).

 

 


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terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

 

NOVO OLHAR URBANO

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.472

 



Ao percorrermos novamente Centro e bairros de Santana, não temos como ignorar a antiga e presente necessidade de assegurar uma nova forma de travessia no rio Ipanema. O velho desejo do povo santanense era a construção de uma ponte no final da Rua São Paulo até o Conjunto habitacional Eduardo Rita, na margem direita, o que corresponde ao trecho da esquecida rodagem Santana – Olho d’Água das Flores. A cidade se desenvolveu, todavia, aquela velha travessia continua sendo a mesma do século passado, isto e, uma frágil passagem molhada que fica submersa durante às cheias, interrompendo a mobilidade urbana. A citada ponte desafogaria a ponte do Comércio, General Batista Tubino, ajudaria a desenvolver toda a região de saída para Olho d’Água das Flores, Pão de Açúcar, Batalha, Jacaré dos Homens, São José da Tapera, Palestina, Senador Rui Palmeira, Carneiros, Monteirópolis, Piranhas e Jaramataia, com inclusão de Arapiraca.

Naquela região de saída estão importantes empreendimentos como o “novo bairro Colorado (Luar de Santana), IFAL, Posto de gasolina, Churrascaria, Casas Comerciais da construção, diante de um tráfego intenso dia e noite. Todos os que viessem dos municípios citados acima, se não precisassem visitar o Centro Comercial de Santana, aliviaria o trânsito pela nova ponte, onde já existem no Bairro São Pedro, várias alternativas de saída para o Norte da cidade e para Palmeira do Índio, Maceió. Achamos que a prefeita atual Christiane Bulhões, poderia deixar a marca definitiva da sua profícua administração com a nova passagem, pois dispõe de um deputado federal e uma senadora na família, além do prestígio inquestionável perante o governo estadual.

Verdade seja dita, foi o prestígio junto ao interventor estadual General Batista Tubino que o, então, prefeito Adeildo Nepomuceno Marques conseguiu a ponte no Comércio e que leva o nome do militar. Assim surgiram os bairros Floresta e Domingos Acácio e tudo de bom que existe atualmente na margem direita do rio Ipanema, inclusive, o Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo.

Além dos perpétuos benefícios que a nova ponte traria para Santana em geral e particularmente para aquela região – antigamente chamada Minuino – a atual gestão deixaria um marco indelével do seu período junto a esta e às futuras gerações. Vamos sair do feijão com arroz!

PONTE GENERAL BATISTA TUBINO, INAUGURADA EM 1969, IMAGEM EM 2013. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

 


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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

 

PAU-BRASIL

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.471

 



“Árvore de até 30 m (Caesalpinia echinata) da família das leguminosas, subfamília cesalpinioídea que outrora habitava o litoral brasileiro, do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro, e hoje em dia é bastante rara, com casca tanífera, madeira de cerne vermelho e tinta da mesma cor, folíolos pequeninos, flores amarelas  e vagens oblongas, também cultivada como ornamentais e por usos medicinais; arabutã, árvore-do-brasil, Arubatã, brasilaçu, brasilete, brasileto, brasil-rosado, ibirapiranga, ibirapitá, ibirapitanga, ibirapuitá, imbirapatanga, muirapiranga, orabutã, pau-de-pernambuco, pau-de-tinta, pau-pernambuco, pau-rosado, pau-vermelho, sapão”. (Wikipédia)

Uma árvore com tantas denominações indígenas e regionais, foi quase extinta no Brasil pela ambição desmedida dos europeus. Além do nome pau-brasil, esse vegetal é semelhante ao papagaio com seus matizes verdes, carimbados como brasileiros. Suas folhas são belíssimas como se tivessem sidos rendadas pelas mais exímias rendeiras do Nordeste. Como o pau-brasil é uma árvore que pode chegar aos 30 metros de altura, bom que seja plantada em fazendas, parques, sítios e chácaras. Não é aconselhável seu plantio para arborização de ruas devido ao seu porte, mas também, cultivada nas ruas, não encontra terreno fértil, afina, entorta o tronco e se amarra em, aproximadamente, 3 a 4 metros de altura. Mesmo assim é de uma beleza desconcertante com suas folhas em cachos suaves e amarelos. Costuma ser visitadas por borboletas, abelhas e pássaros pequenos.

Temos o privilégio em ter a companhia de um pau-brasil na casa vizinha e na arborização da Rua José Soares Campos onde a maioria das árvores são de algumas espécies de Acácia. A arabutã, além de conservar parte da história do Brasil em nossa rua, é até motivo de pesquisa pela sua raridade e folhagem majestosa. Além das sombras para descanso dos passantes, essas árvores atraem os pássaros rurais que invadem as nossas ruas como rolinhas, bem-te-vis e beija-flores que nos oferecem canto e companhia na solidão do Covid 19.

E diante da via completamente deserta, não resistimos a formosura da árvore pau-brasil e zás! Tome uma foto de celular para adoçar os nossos escritos.

PAU-BRASIL EM TEMPO NUBLADO (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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domingo, 14 de fevereiro de 2021

 

ALAGOAS/SERGIPE

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.470



 

Penedo, município localizado às margens do rio São Francisco, foi o primeiro núcleo habitacional de Alagoas. Coisas ainda dos primeiros navegantes portugueses após o descobrimento do Brasil. Depois de cinco séculos de história, o núcleo ribeirinho continua encantando turistas de todas as partes do mundo. É uma das mais belas cidades do nosso território, cheia de sobrados e histórias sem fim. Mas, apesar de carregar nas costas cinco séculos de existência, “enterraram uma cabeça de burro” na travessia de balsas no rio São Francisco que impediu até agora a construção da ponte Penedo (Alagoas) – Neópolis (Sergipe). Bastante progressista, Penedo recebeu um baque com a ponte Porto Real do Colégio – Propriá. Continuou de forma medieval transportando passageiros e coisas na base do remo e do motor de embarcações. Por tudo que representa, Penedo não merecia o descaso federal da obra citada.

Vamos colocar abaixo mais um texto sobre construção da ponte que se tornou sonho do outro mundo. Até a Imprensa cansou de publicar notícias que afirmavam o início das obras sobre o rio São Francisco. Estar muito pior do que aquela antiga novela do asfaltamento Carié – Inajá. Povo iludido há mais de 40 anos, porém, esse seriado enganador finalmente teve um final feliz. Semana passada, mais uma vez a Imprensa da terra volta a tocar no assunto dizendo: “O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, informou ao senador Fernando Collor (Pros) que já dispõe em mãos de um projeto da Companhia do Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASF) para a construção da ponte que vai ligar o município de Penedo”.

A enganação e o descaso com a cidade levam de primeira um descrédito enorme, porém, políticos em busca de reeleição inauguram obas até duas vezes como fizeram com a de Porto Real de Colégio – Propriá. Nesse caso somente resta aos interessados das duas unidades da federação, uma entrada na briga ou o olho arregalado na espera da moita.

Porém, enquanto a ponte fica no sai, mas não sai, você poderá fazer uma visita a terra do saudoso escritor Ernani Otacílio Mero e se deliciar com tantas belezas acumuladas do tempo de balsas e canoas.

PARCIAL DE PENEDO. (FOTO: PREFEITURA/DIVULGAÇÃO

 


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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021

 

FENÔMENO SERTANEJO

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.469

 



Durante e após vários dias seguidos de altíssima temperatura nesse verão de janeiro e fevereiro, o nosso Sertão alagoano aguardava até com ansiedade, uma trovoada daquelas que arrancam braúnas pela cepa. Mas nem tudo é como se quer que seja e a Natureza, tão agredida pelo homem, vez em quando surpreende os terráqueos nas diversas regiões do Planeta. Ontem mesmo, dia 11 de fevereiro, o clima do Sertão desconcertou seus habitantes.  O amanhecer trouxe um céu completamente cor de marfim, frieza mansa e uma garoa a que chamamos aqui de sereninho.  Pois foi esse sereninho e essa inexplicável mudança de tempo que deixaram nosso “verãozão” com cara de inverno normal do mês de junho. Pense o amigo na alegria do nosso habitat.

O pouco d’água, pelo menos ajudou em alguma coisa. Diz o ditado da nossa região: “O pouco com Deus é muito, o muito seu Deus é nada. Se o sereninho não deu para encher barreiros e açudes, melhorou significativamente a temperatura, o ânimo sertanejo, temperou a pastagem seca umedecendo o pasto para o criatório, o boi, o cavalo, o bode... O carneiro, com suas respectivas namoradas: vaca, égua, cabra e ovelha que espanaram água do capim nos seus dedicados vaqueiros. Alegria nos campos, júbilo nas cidades, “coceiras” nos bolsos. Será que teremos um inverno precoce? Não será o fenômeno do dia 11 apenas um capricho da Natura? Os idiotas do mundo mexeram tanto negativamente no meio ambiente que as surpresas do Alto ganham filas em todos os recantos do mundo.

A moça do tempo anunciou na TV chuvas em todas as regiões do País. Seria a continuação da prévia do nosso sereninho?! Vamos tocar a realidade e comparecer à Feirinha da Agricultura Familiar no Bairro Monumento onde estarão se apresentando os Profetas das Chuvas.

Quem mora no Sertão, não é agricultor e nem pecuarista, não deixa, entretanto, de namorar constantemente o tempo. Procura dinheiro nos raios do Sol, na face da Lua, procurando a negação do repentista:

“Cala-te com teu Sertão

Sertão é monturo

A água do teu Sertão

É mijo de bode, puro”.

SERTÃO ALAGOANO (FOTO: B. CHAGAS)

 

 


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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

 

TEMPO IMPLACÁVEL

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.467





Temperatura altíssima nos últimos dias no Sertão. No interior de cada residência a procura do melhor lugar contra o calor. Vegetação amarelando nos montes, nas planuras... Nas baixadas. Fontes d’água mirrando, desaparecendo, rareando “bebidas” para os animais selvagens. Vão mais para longe procurando água: o preá, o teiú, a raposa, os diversos passarinhos que dão vivacidade às matas. Os longos caminhos vão ficando tristes ladeados pela vegetação transparente. No céu os urubus sobrevoam fazendo festa adivinhando mudança de tempo. Fevereiro prossegue forte retardando as trovoadas fugidias de janeiro. Os mandacarus furam o espaço com seus braços compridos, esverdeados e espinhentos. A poeira cobre a estrada onde marca os rastros nervosos do sardão.

O sertanejo deve louvar os seus barreiros, seus açudes... Suas cisternas oriundas do governo. Outrora anunciado como o grande libertador das secas, o Canal do Sertão continua num mutismo impressionante. Uma vez ou outra perdida sai um noticioso pela metade sobre suas ações. Assim não se pode saber como estão as terras cortadas pelo Canal, a política sobre o seu uso, o desenvolvimento dos trabalhos. O Canal do Sertão, cujo final seria em terras agrestinas, ainda não deixou o semiárido. Tampouco não é divulgado o mapa do seu roteiro, deixando o homem do campo desinformado e o investidor em alerta. O que vale mesmo nesse momento de fevereiro, é colocar os joelhos no chão pedindo chuva a quem tem para dá.

Estamos em pleno verão, e verão por aqui é “duro que nem boca de sino”, diz o agropecuarista. O problema é que as trovoadas prometem, mas não descem. Precisamos dessas águas das tormentas para com elas chegarmos ao próximo outono/inverno, meses mais chuvosos da nossa região. É certo, porém, que os dramas das secas são diferentes do passado. Estradas asfaltadas ligando todas as cidades das Alagoas, facilitam muito o deslocamento de pessoas e animais. O pau de arara teve fim, mas não deixa de existir o pequeno agricultor que tem mais sensibilidade aos impactos negativos da estiagem. E diante desse quadro chove, mas não chove, nada demais comparecer ao III Encontro do Profetas das Chuvas do sertão alagoano, na próxima sexta, dia 12.

(FOTO: BIANCA CHAGAS).

 

 

 


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domingo, 7 de fevereiro de 2021

 

PALMEIRA EM FOCO

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.466

 



     Pelas notícias surgidas o governo de Alagoas está mesmo endinheirado. As promessas da semana passada deixam Palmeira dos Índios – cidade no limiar do Agreste fronteira com o Sertão – eufórica. Isso porque o município poderá dar um salto de qualidade, uma vez que o governador vai atuar com força naquela região. Um dos anúncios governamentais é a duplicação da AL-115, rodovia que liga Palmeira dos Índios a Arapiraca, um atalho via Igaci. A rodovia é um verdadeiro pulo entre as duas cidades agrestinas, daí o intenso tráfego de carretas, caminhões e outros veículos pesados, dia e noite pelo trecho perigoso de tantas curvas apresentadas. É também um atalho significativo entre o Recife e a região Sudeste, o que justifica o trânsito perigoso e constante por aquele trecho da AL-115.

Além disso um novo hospital será construído em Palmeira dos Índios e projeto para asfaltamento de 70 ruas. Outros benefícios ainda foram anunciados na Princesa do Agreste e que visa assegurar uma dinâmica de desenvolvimento regional que merece a atenção do   povo sertanejo. Palmeira dos Índios também fica situada em lugar privilegiado, pertinho da capital do interior, Arapiraca, fronteira com o Sertão, vizinho a Pernambuco e rota para Bom Conselho, Garanhuns, Caruaru e Recife. É só vencer a famigerada serra das Pias e logo adentrará a Pernambuco. Palmeira dos Índios recebeu a primeira estrada asfaltada de Alagoas no governo Arnon de Melo, essa merece de verdade uma duplicação até Maceió, porém o governo estadual optou pelo alargamento da AL-115 e que nada temos contra.

Palmeira dos Índios vem de um aldeamento dos índios xucurus do século XVII. Esse aldeamento que ficava no lugar Cafurna corresponde ao sítio da atual cidade. A herança das belas palmeiras que ornavam o território indígena continuou no título da terra das pinhas. Várias cidades fazem parte do cordão de satélites de Palmeira dos Índios, tanto do Agreste quanto do Sertão: Estrela de Alagoas, Minador do Negrão, Cacimbinhas, Igaci e Belém. Em outros tempos já possuiu estrada de ferro ligada à capital Maceió e à cidade ribeirinha do São Francisco, Porto Real de Colégio.

Palmeira dos Índios é a terra adotada por Graciliano Ramos. Também fazem parte da sua história o poeta Chico Nunes, os escritores Luiz B. Torres e Adalberon Cavalcante Lins.

AÇUDE DO GOTI (FOTO: B. CHAGAS).

 


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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

 

SÓ TEM BODE

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.465




Ainda nos anos 60 a carne de bode era bastante desvalorizada. No geral, só quem apelava para essa proteína eram as pessoas de menor poder aquisitivo. Todavia aí não estava incluída a chamada buchada, prato cobiçado por todas as classes sociais. Até havia escolha quando a preferência pelo bode superava a buchada de carneiro, diziam os entendidos. Cantava o forrozeiro:

“Eu faço uma buchada

De bucho de bode

Que o cabra come tanto

Que mela o bigode...”

 

Também eram consideradas coisas para trabalhadores braçais, o charque e o bacalhau que hoje concorrem com o preço do ouro. O bacalhau era alimento dos escravos. O charque era servido aos “batalhões” nos roçados. Mas voltemos ao nosso bode pai de chiqueiro do dia a dia.

Três ou quatro hotéis havia em Santana muito procurados pelos viajantes, assim chamados os caixeiros-viajantes que chegavam de Maceió e Recife para vender seus produtos na Praça. Para economizar, sempre surgiam os que procuravam hospedarias mais humildes como a de dona Rosa no perímetro das feiras semanais. Vez em quando ficávamos sabendo o que se servia nessas pensões pelo humor de algum viajante presepeiro:

 

“Seu Mané como é que pode

Seu Mané como é que pode

Na pensão de Dona Rosa

Só tem bode...

Só tem bode”.

 

Atualmente desapareceu o caprino no médio sertão. “Dar trabalho se criar o bicho pulador de cerca e de pouco rendimento na panela”, falam os criadores de ovinos.  Mas o Candinho da novela das seis, ao procurar um bode para a sua cabra Ariana, parece despertar o apetite pelo bode assado e a buchada sertaneja. Enquanto o dono das cabras está sendo promovido em cidades como Petrolina, Picuí e Recife, de gado miúdo só temos o carneiro para agradar ao turista.

Por favor, não botem a culpa, porém, em DONA ROSA...

Venda de bode (Foto: g1.globo.com)

 

 


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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

 

A BOLA DO FINADO

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica/conto 2.464





O Estádio Arnon de Mello, em Santana do Ipanema, Alagoas, está situado ao lado do Cemitério Santa Sofia, parte alta do Bairro Camoxinga. Recebeu o nome do, então, governador em troca de vários milheiros de tijolos para cercar a praça esportiva. Acordo firmado, hoje em dia a murada anda precisando de reforma para mais segurança dos transeuntes da área.

Certa feita, houve um jogo muito importante. A torcida lotava o estádio, inclusive, havia muitos desportistas até em cima do alto muro que separa o cemitério do estádio. O Ipanema, costumeiramente, sempre foi um time orientado para bola rasteira e rápida, porém, desta feita um zagueiro mandou a bola violentamente para o espaço fazendo com que ela caísse no Cemitério Santa Sofia.

A torcida ficou irritada porque isso atrasaria o jogo, pois, na época, jogando com uma bola só, era preciso enviar um funcionário do campo para rodear pela rua, entrar no cemitério, procurar entre os túmulos e trazer de volta a pelota. Mas eis que um milagre aconteceu. Abola retornou do mesmo jeito que havia deixado o campo. Com o acontecimento inédito, houve uma debandada dos torcedores que estavam encostados ao muro. O bandeirinha saiu em disparada se benzendo e erguendo as mãos aos céus.

O segundo acontecimento foi ainda mais espetacular. O Ipanema jogava um amistoso com um time do Agreste quando um zagueiro, sufocado com o ataque adversário, deu um chutão que a bola subiu e parecia não querer voltar ao solo, foi para nos fundos do cemitério. Após cinco minutos de jogo paralisado, chega o vigia do cemitério e devolve a bola dizendo: “O finado Zé Bodó mandou dizer que se a pelota bater novamente em sua cruz rasgará a bola”. E como Zé Bodó havia morrido há pouco meses, o treinador que recebeu a bola de volta teve uma tremedeira na hora e uma diarreia momentânea, despachada nos recantos do estádio.

Seria o Benedito!

CEMITÉRIO SANTA SOFIA CONSTRUÍDO ENTRE 1942 E 1945. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

 


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terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

 

NOVOS TEMPOS, NOVOS ESQUECIMENTOS

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.463

 



Quando o rio da cidade não tinha ponte era um grande sufoco para a mascateação pelas cidades próximas de Santana do Ipanema.  As enormes caixas de mercadorias dos mascates, quase sempre atravessavam o rio em canoas com seus respectivos donos. Essa prestação de serviço acontecia no poço do Juá, ponto mais largo do Ipanema, bem próximo ao comércio local.  Mas ainda havia prestação de contas com o riacho João Gomes, afluente do Ipanema, que também nos fortes invernos não dava passagem aos caminhões dos mascates. A 3 km do centro de Santana, o valente riacho cortava a rodagem tornando-se obstáculo sério aos negociantes. Muitas vezes a corrente surpreendia os feireiros à tardinha na volta a Santana das feiras de Olho d’água das Flores, Carneiros e Pão de Açúcar.

Horas e horas se passavam com a fila dos caminhões procurando transportar as mercadorias de um lado a outro do riacho e suas cheias. Não me vem à lembrança como os motoristas conseguiam transportar aquelas caixas pesadas de madeira margem a margem. Mas se nada fosse feito, estariam sujeitos à espera de dois, três dias, para que o João Gomes desse passagem novamente. Essas tentativas que se iniciavam ao cair da tarde, prolongavam-se noite a dentro. Imaginem a que horas os mascates chegavam aos seus lares após o riacho João Gomes e o rio Ipanema com as canoas do Juá! E se havia um certo romantismo nessa época, as dificuldades superavam os sonhos das aventuras. Tempos dos “cassacos de rodagens”, homens que trabalhavam fazendo e consertando estradas.

Nessa época Santana do Ipanema era rica em manufatura e exportava couros, peles, calçados, sola, aguardente, vinagre, colorau, massas comestíveis, cordas, caroço e capulho de algodão, móveis, artesanatos utilitários como bicas de zinco e candeeiros de flandres, linguiça, carne de sol e banha de porco. Uma potência depois assassinada pelo descaso administrativo sequencial.

O progresso veio com as construções de pontes sobre o rio Ipanema e sobre o riacho João Gomes. A distância entre cidades diminuiu ainda mais com a cobertura asfáltica sobre a AL-130. Mas o regresso também acompanhou o modernismo acabando com toda a nossa manufatura por conta do que já foi dito acima.

E você que é da nova geração, sabia disso? A história de Santana lhe contou? NOVOS TEMPOS, NOVOS ESQUECIMENTOS.

RIO IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

 

 

 


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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

 

O BOI DE ZÉ CARLOS

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.462



 

Manga significa fruta, peça de roupa e mais uma porção de coisas dentro do nosso Português.  Para quem não sabe dos nossos termos e costumes sertanejos, manga também representa uma extensa faixa de terras coberta pela caatinga onde o gado vive à solta. Essa palavra é bastante usada pelos latifundiários, trabalhadores rurais e especialmente a vaqueirama. Estar em evidência nos últimos meses, a manga particular do senhor chamado José Carlos dos Correios, da cidade pernambucana de Iguaracy. É que a manga de Zé Carlos abriga o boi mais famoso do Brasil, no momento. Na sua última carreira, a do dia 30 de janeiro, Salgadinho mais uma vez driblou os vaqueiros sergipanos de primeira linha, fugiu e se escondeu na manga. Os titãs sergipanos retornaram abatidos da carreira perdida, a quadragésima fuga do boi Salgadinho, apontado como o mais inteligente do País.

Milhares de pessoas se aglomeram na fazenda de Zé Carlos para apreciação das corridas. Caminhões boiadeiros, Reboques para cavalos, bancas de arreios, barracos de alimentos, filmagens com drones de vários canais dedicados ao esporte de cabra macho, são presença obrigatória nas corridas de boi. Nesta última carreira foi proibida a aglomeração que chegava a mais de três mil pessoas. Mesmo assim ainda houve muita gritaria na saída do boi do jequi. Houve aposta de todos os valores, mas sempre ganham os que apostam no boi. A maior atração do Nordeste, hoje, é sem dúvida as carreiras tão aguardadas do Salgadinho. A expectativa é enorme quando o senhor Assis e Zé Vaqueiro, os cuidadores de Salgadinho, chegam com o boi amarrado para soltá-lo do jequi.

É bom saber que os vaqueiros mais destacados do Nordeste em todos os nove estados, já correram e perderam o boi Salgadinho: Maranhão, Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.  Boi no mato, boi em monumento, realmente merece uma estátua na principal avenida da sua cidade Iguaracy. O dinheiro rolou com tantas apostas na cidade pernambucana fazendo circular a verba no comércio da pequena urbe que virou destaque nacional.

E se em Serrita existe a estátua ao vaqueiro, nada mais justo erguer a figura em granito do boi que desafiou o Nordeste. “Ê Salgadinho/boi mandingueiro/corre no espinheiro/ E não pisa no chão...” Muitas outras toadas e canções estão espalhadas em homenagem ao mito dos sertões.

MOMENTO EM QUE SALGADINHO É CONDUZIDO AO JEQUI PARA INICIAR MAIS UMA CORRIDA. (CRÉDITO: BLOGTVWEBESERTÃO.COM. BR.).

 

 

 

 


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