quinta-feira, 31 de agosto de 2023

 

 

QUANDO VIER A PRIMAVERA

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de setembro de 2023

Escrito Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.955

 



Não lembro o que estava fazendo naquela manhã ensolarada, mas o bancário Ulisses Braga, do Banco do Brasil, convidou um resumido grupo de adolescentes, para ir até a AABB – Associação Atlética Banco do Brasil. O clube, relativamente novo, era inalcançável para o restante dos mortais que não fossem bancários, principalmente pela arrogância de uma madame que se achava acima do mundo cotidiano. Ulisses, bancário sem frescura, altamente inteligente e conversador, não mostrava, mas descrevia as maravilhas do computador, uma novidade ainda e, para poucos. A rotina ainda era a máquina de datilografia. Ficávamos encantados com aquela narrativa de Ulisses sobre o PC. Depois ele começou a passar belas canções musicadas e de bom gosto. Entre elas estava uma que nunca esqueci: “Quando Setembro Chegar”.

O bancário casou depois com uma filha do comerciante Abilio Pereira. A madame chata (Deus lhe perdoe os pecados) está hoje passando maus momentos, segundo o povo. Ulisses foi embora de Santana e que também viera de fora e, nunca mais tive notícias sobre ele. Mas, a música “Quando Setembro Chegar”, iluminou muito a minha vida. Foi como se dissesse: o amanhã será muito melhor do que hoje. Sol, Flores e perfume após inverno cinza e rigoroso.       

Chegou o mês de setembro, em breve virá a primavera, trazendo esperanças e bondades para o interior de todos nós. É o globo inteiro aguardado “quando a primavera chegar”. Vamos ouvir as duas páginas musicais?

Atualmente nem posso falar em ausência de computador. Meu companheiro de todas as horas, facilitador dos nossos sentimentos. Quanto vale uma cena despretensiosa, simples, humana, para o futuro de nossas vidas! São marcos gravados a fogo que iluminam as nossas almas nos momentos mais difíceis. Lembranças que nos emocionam e nos trazem lágrimas de felicidades há muitos recolhidas. E quanto mais distante da terra que nos viu nascer, mais profundos realçam os sulcos felizes do passado, onde não nos interessa o porão das humilhações que são partes robustas do nosso aperfeiçoamento nesta encarnação.

Deixe a lágrima fluir....

Quando a primavera chegar...

SERTÃO PRIMAVERA (AUTOR NÃO IDENTIFICADO).

 


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terça-feira, 29 de agosto de 2023

 

E AGORA?

Clerisvaldo B Chagas, 30de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.954



 

Seguindo rigorosamente a tradição, agosto foi mês de frio e das últimas chuvas do nosso inverno sertanejo alagoano. Dias mais, dias menos da primeira quinzena, “últimos tamboeiros do inverno”, segundo o saudoso poeta, Rafael Paraibano. O Sol mais fraco reinicia o domínio e logo robustece o “pega fogo” Mesmo faltando alguns dias para a Primavera, o inverno já foi consolidado dentro das previsões dos “profetas das chuvas” que não erraram em nada. Observar o mundo, o clima no Hemisfério Norte, as ações naturais na terra, o aquecimento das águas do Oceano Pacífico, enchentes, incêndios e o blábláblá dos homens. Pelo menos até agora, o boi está de barriga cheia e provoca o suspiro de alívio da Agropecuária. A safra foi colhida ou falta pouco e, o restante do ano, nós sertanejos raiz, entregamos tudo nas mãos do Senhor dos Mundos.

A frieza foi enfraquecendo e, como se diz por aqui: “O verãozão tá pegado”. Logo cedo, mesmo antes da barra do dia, alguns tipos de pássaros começam os remexidos nos ninhos com seus chilrear urbano. E quando o relógio marca 5.15 começa a surgir a tímida claridade de um novo amanhecer. As portas estão cerradas, as ruas estão desertas, os gatos ainda dormitam antes do reconhecimento diurno, cujo lixo de recolhimento é atração instintiva. Apagam-se as últimas luzes dos postes. Não passam mais os bandos do Espanta-boiada, como nas madrugadas chuvosas. Vozes se aproximam... São dos primeiros corajosos à caminhada antes da barra. Começa o preparo do cuscuz fumegante, do café gostoso do novo dia de inverno sem chuva.

Assim o mês “perigoso” de agosto vai chegando ao fim. Perigoso porque ficou estigmatizado por ter acontecido grandes tragédias nacionais em trechos dos seus trinta e um dias.

 Já o meu pai que nascera em agosto, celebrava aniversário e Dia dos Pais, muito próximos. Dizia gostar muito do mês de nascimento e que “agosto era igual a todos os outros”. O que geralmente pensamos é que, passado esse período, estamos praticamente no final do ano, quando todas as atenções da economia do país começam a se mexer muito cedo visando Natal e Ano Novo. E sobre o tempo, deixe que venha o El Niño, as previsões sobre as coisas do céu. Tudo é de Deus.

CÉU DO MANHECER EM 22 DE AGOSTO, 5.15 HS, EM SANTANA DO IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS).

 


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segunda-feira, 28 de agosto de 2023

 

DIA DO RIO IPANEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.953

Ao jornalista Fernando Valões

 



O “Dia do Rio Ipanema” foi criado pelo idealizador e escritor Clerisvaldo B. Chagas, na época, um dos fundadores da AGRIPA – Associação Guardiões de Rio Ipanema, com sede em Santana do Ipanema, Alagoas. A ideia foi endossada pela AGRIPA, apresentada a Câmara Municipal de Vereadores, Tácio Chagas Duarte, votada, aprovada e transformada em Lei. Então, o “Dia do Rio Ipanema”, ficou oficializada como “21 de abri”, em 2014. O escritor foi inspirado pelo “Dia do Rio Piracicaba”, comemorado em Piracicaba, São Paulo. Governava o município alagoano o gestor Mário Silva. A comemoração anual ainda é insipiente, sem a força e a pompa que deveria ser, por parte das autoridades, sobre o “Pai de Santana”. Sem ele, Santana não existiria.

A data foi escolhida porque abril é um mês pouco chuvoso e além disso não precisaria criar-se um novo feriado no município porque já era Dia de Tiradentes, antigo feriado nacional. Rio periódico ou intermitente, passa a maior parte do ano seco e beneficia a população desde os tempos indígenas. Já forneceu argila para o fabrico de tijolos e telhas, areia para construções, água para matar a sede e gasto doméstico, pasto para diversos tipos de gado, juncos para fábricas de colchões, lenha para fogões, madeira para carro de boi e móveis, inúmeros tipos de ervas, arbustos e árvores medicinais, pedras para decoração, caça, peixe, crustáceos e banhos em correntes, poços e cacimbas. Cheio só fornece água. Seco, uma diversidade enorme.

Nunca foi olhado com olhar de amor, pelas autoridades, mas como o grande receptador de dejetos. Quem sabe se daqui para frente, com a política do governo federal pelo meio ambiente, desperte alguma coisa de bom, daqueles que estão vivos graças aos inúmeros favores prestado aos seus pais, avós e demais familiares! Por falar nisso até agradeço ao escritor Fernando Valões por ter citado positivamente meu nome no seu livro “Santana do Ipanema, Sua Origem”, páginas 4, 187 e 188 e, ao outro amigo que tem três página do seu livro, sobre a história da cidade de Batalha, referindo-se ao nosso trabalho literário “Ipanema um Rio Macho”.

Que saudade dos banhos no Poço dos Homens!

Ipanema, pai dos pobres... E dos arrogantes.

GAZETA DE ALAGOAS ENTREVISTA ESCRITOR CLERISVALDO NO RIO IPANEMA, SECO.

 

 


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domingo, 27 de agosto de 2023

 

OLHO D’ÁGUA DO CASADO

Clerisvaldo b. Chagas, 28 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.952

 



Quem vai de Delmiro Gouveia em direção a Olho D’Água do Casado, atravessa longa planura quase deserta, pela AL-225 e chega ao destino com a mesma planura, em cerca de 20 minutos de estrada. Bem vizinha à Piranhas, Olho D’Água do casado também é conhecida como a terra do caju e até possui festa relativa. Com pouco mais de 8.000 habitantes, sua denominação vem de uma fazenda com uma conhecida minação (olho d’água) em terras de um cidadão que tinha “Casado” no sobrenome. O lugar cresceu com acampamento de operários da Hidrelétrica de Xingó e se emancipou do município de Piranhas. Seus habitantes são denominados “casadenses” e vivem sob a proteção do padroeiro São José. Sua localização é bem próxima ao rio São Francisco, perto da hidrelétrica e atrativo de balneário no “Velho Chico”.

Localizado a 286 metros de altitude, Olho d’Água do Casado, estar ligado definitivamente com a movimentação cotidiana de Piranhas, pela sua grande proximidade. Da sua espécie de entroncamento, se avista o retão, tanto para Delmiro Gouveia, por um lado, quanto para São José da Tapera, por outro. A agricultura e pecuária é a tradicional do sertão, com destaque para o cultivo do caju, como já foi dito. O turismo ainda não tem a fama da sua vizinha Piranhas, porém tem potencial para o crescimento com parte dos cânions, sítio arqueológico e paisagismo sertanejo – franciscano, do rio. Entre as festividades, destacam-se a festa do padroeiro, as festas juninas, a da Emancipação (21 de setembro) e do caju, em novembro.

Quem vai para Delmiro Gouveia por São José da Tapera, costuma dar uma paradinha em Olho D’Água do Casado para um lanche que ajuda na inspiração da travessia na planura até Delmiro e que pode conhecer no trajeto o Canal do Sertão, mais de perto. Para quem gosta de cangaço, a vizinha Piranhas oferece viagem até a Grota dos Angicos, onde aconteceu o fim do banditismo, mas, dali do Olho D’Água, saiu um o cangaceiro mais valente do cangaço, apelidado Meia-Noite, segundo pesquisadores. Estando na capital, a melhor opção para se chegar a Olho D’Água do Casado é via Arapiraca, Bacia Leiteira, Olho d’Água das Flores, (entroncamento) São José da Tapera e retão ao destino.

É muito bom conhecer a cidade, vamos!?

PARCIAL DE O.D. CASADO (ADALBERTO GOMES)

 

 


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quinta-feira, 24 de agosto de 2023

 

MACACO-PREGO

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.951

 



Quando o senhor Silvano mantinha um macaco-prego engaiolado em gaiola de ferro, diante do seu estabelecimento de serviços, servia de curiosidade e distração aos seus clientes. No lugar chamado “Firminão” – saída de Santana do Ipanema para Pão de Açúcar – o símio era valente, estressado e tanto se masturbava quanto avançava em quem com ele mexia. Era de fazer pena, um bicho enjaulado onde mal cabia o próprio macaco. Isso fazia pensar se aquele era o último macaco sertanejo de Alagoas, pois, do seu parente o saguim, tínhamos notícias sobre sua existência em reserva ecológica, próxima. Inclusive, o macaco do Silvano foi motivo de peça de cordel, por cordelista das proximidades. O caso está com alguns anos e não sabemos onde foi parar o (Sapajus flavius).

A descoberta recente da existência de um bando de macacos-pregos-galegos, numa Unidade de Reserva do nosso Sertão, pelo IMA, traz uma certa alegria às pessoas que se preocupam com a conservação da Natureza. Uma Natureza belíssima semeada pelo Criador e destruída pelo homem. A onça já foi, o tamanduá, o veado galheiro, o lobo-guará, a preguiça... Ficando apenas os que tentam resistir como a cobra, o preá e a raposa...  Portanto, uma notícia dessa trazida por órgão oficial, da existência do macaco-prego-galego, não deixa de ser uma esperança de que mesmo tarde, da reação protetiva dos humanos, é melhor de que nunca. Não é o bastante uma vigilância efetiva nas Unidades de Conservação, mas uma consciência coletiva no entorno para reforçar a segurança dos bichos, comidas e assistência veterinária

Os macacos gostam de viver em bando, possuem organização e lideranças. Alimentam-se de frutas e gostam de comer coquinhos, tipo Ouricuri, que quebram com uma pedra à semelhança de um ser humano. O nome macaco-prego vem da constante ereção do pênis.

Quando entram em roçado de milho costumam roubar espigas organizadas em atilhos. Enquanto fazem esse serviço, é escalado um vigia, cujo descuido na vigilância leva castigo do bando. Lembram-nos um macaco-prego acorrentado na feira de Santana que fazia acrobacias e vários mandados do seu dono, para ganhar dinheiro. Mais tarde soubemos que pelos mal tratos, o primata assassinou o seu algoz, com uma facada, pelas costas, na zona da Mata. É isso, este não suportou mais tempo pela chegada da lei dos humanos. Não soubemos, porém, o seu destino após a vingança peculiar de um bicho escravizado.

MACACO-PREGO (FOTO: TRIPADIVISOR).


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quarta-feira, 23 de agosto de 2023

 

MARTÍRIOS

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

 Crônica: 2.950

 



Bem no centro de Maceió, a Igreja dos Martírios, popularmente conhecida, tem como padroeiro o Bom Jesus dos Martírios.  Por ficar defronte a uma grande praça, esta também passou a ser denominada pelo povo de Praça do Martírios. E o antigo Palácio do Governo, do outro lado da praça, repetiu a tendência geral: Palácio dos Martírios. Conheço aquela igreja, por fora, desde o tempo de criança, mas a alguns anos, vinha notando um certo abandono na limpeza que muito me incomodava. Hoje no interior de Santana do Ipanema, vejo noticia na mídia da sua restauração completa, o que vem acontecendo no período de três anos, segundo reportagem.  A Igreja dos Martírios foi construída no século XIX e é o mais luxuoso templo de Maceió. Com milhares e milhares de azulejos portugueses, dizem que é única no Nordeste.

O terceto acima é a história e o testemunho da história de decisões e desenrolar de lutas e mais lutas naquele quadrado de terras. Lembro-me, inclusive, de uma decisão do, então governador Osman Loureiro, citado em nosso livro “Lampião em Alagoas”. Chamando o coronel José Lucena Albuquerque Maranhão, ao palácio, o governador exigiu desse comandante do 70 Batalha de Polícia, sediado em Santana do Ipanema para combater cangaceiros, 30 dias para acabar com Lampião. Getúlio Vargas, havia dado o prazo de 60 dias aos governadores. A primeira coisa que Lucena fez após o rigor da ordem, foi sair acabrunhado do palácio e se dirigir diretamente à Igreja dos Martírios, pedir ao Bom Jesus, luzes para cumprimento da missão.

Em menos dos quinze dias estipulados, Lucena entregava a cabeça de Lampião, Maria Bonita e mais 11 sequazes, ao comando geral, em Maceió.

Com a conclusão da igreja restaurada, vibra a capital e o estado com o feito determinante, necessário e infinitamente relevante para o povo católico, devoto e abrasador das Alagoas. Quantas e quantas vezes tirei foto daquelas torres ocupadas pelos pombos elegantes dos arredores! Praça de batalhas e batalhas sem conta do SINTEAL contra a tirania de dirigentes palacianos sobre política salarial dos servidores!

Parabéns a quem merece, pela restauração total! Acabou o martírio dos Martírios.

IGREJA RESTAURADA (FOTO: ADAILSON CALHEIROS/TRIBUNA DE ALAGOAS)

 

 


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terça-feira, 22 de agosto de 2023

 

INHAPI/JUVENTUDE

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.949



 

Ficamos felizes ao retornarmos da bienal e passarmos no posto de gasolina, em Maribondo, vizinho à Praça Padre Cícero, por volta das 19 horas. Àquela parada para um lanche na loja de conveniência, fez um bem danado, ao viajor. E foi naquele posto onde havia uma verdadeira festa estudantil na área dos banheiros. Uma ou duas vans, repletas de alunos da cidade de Inhapi, retornavam da bienal do livro, de Maceió, onde a alegria estava estampada no rosto de cada um. Que grande acerto do dirigente do município, enviar aquela juventude, sedenta de Saber, para o grande evento cultural do estado! Remover meninos e meninas de um interior longínquo para um mundo novo tão diferente da rotina interiorana! Procuramos conversar com eles e parabenizar a iniciativa.

É essa mesma juventude que vai mudar para melhor a mentalidade política arcaica que sempre predominou no sertão e na figura do “coroné”. Prefeitos de desmandos e arrogância que têm sede de poder e de verba públicas para seus bolsos fundos.  Embora essa nova geração política tenha melhorado muito nos sertões nordestinos, ainda é preciso mais depurações que por certo virão com uma juventude muito mais sadia e digna do humanismo, da fraternidade, da tolerância. Esses dirigentes que ainda insistem no coronelismo, são o restolho que pensam serem imortais e donos do mundo. Mas a depuração de ordem do Alto já começou e não vai para tão cedo. Não importa se os arrogantes já perceberam ou não, um futuro limpo que já está chegando e nos enche de esperanças.

Portanto, investir na cultura é investir em um mundo novo, onde humanos de “última geração”, estão e estarão aptos a tomarem conta da Terra por todos os quadrantes do Planeta. Muitos dos “coronéis” serão forçados pelas circunstâncias, a investirem nesses princípios a que eles mesmo não resistirão e serão tragado pela onda avassaladora altamente preparada e sábia, pre-formada pela imensidão do Universo. O poder e o dinheiro taparão a vista dos viciados que apenas compreenderão a força de mando, a vaidade pessoal e a falsa ilusão da verba pública. E nos desfiles dos caixões envernizados jamais caberão gavetas para levar o acumulado para os umbrais.

AMIGOS QUE NOS PRESTIAGIARAM NA BIENAL, SALA MANGABA, DEBATE LAMPIÃO EM ALAGOAS.

 

 


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segunda-feira, 21 de agosto de 2023

 

O TRINOME DO POVOADO

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.948



 

Não somente aquela cidadezinha do interior demonstra tranquilidade. A calma do dia a dia pode aliviar em muito o seu estresse da cidade grande. A boa vizinhança, o bom-dia das pessoas, a marcha lenta do burro, do carro de boi, a busca de água no chafariz coletivo ou o grito do vendedor de macaxeira. O hábito alimentar mais simples e original também cativa, assim como os passeios matinais pelos arredores... Tudo, tudo se reflete também no povoado onde a vida caminha sem pressa e mais segura. São inúmeros esses povoados menores no Sertão alagoano. Mas hoje apontamos especificamente o antes arruado, com três nomes e uma longa história das antigas estradas de rodagem e seus briosos “cassacos” que pavimentaram o progresso do futuro de hoje.

É ali, às margens da BR-316 onde um povoado brilha com sua tradição e bravura, no município de Cacimbinhas, entre Dois Riachos e Estrela de Alagoas. Falamos do povoado Minador do Lúcio, Minador ou Minadorzinho. Qualquer chamado é carinhoso e bem bonito, pontamente atendido. Isso deve-se a um olho d’água ou minação que surgiu por ali e por essas três denominações passou a ser conhecido e montou firme na tradição sertaneja da região. É de topografia plana, simpático e marco histórico para quem trafega entre Santana do Ipanema e Palmeira dos Índios. Cresceu em sentido contrário da antiga rodagem em ambos os lados da BR-316, ganhou pracinha bonita e ponto de transporte para Leste e Oeste. Só não pesquisamos quem foi Lúcio que dá nome ao lugar, mas é muito fácil deduzir.

Minadorzinho foi acampamento dos funcionários do DNER – Departamento Nacional de Estradas de Rodagem, apelidados “cassacos de rodagem” ou “cassacos do DNER” porque comiam muita galinha no entorno do acampamento, de forma clandestina como raposas. Naqueles tempos difíceis para os cassacos, em nossa opinião, são heróis do Brasil, titãs alagoanos que superaram os tempos amargosos de salários baixos, para que a nação pudesse chegar na posição que hoje ocupa. Minador tem muito o que dizer das epopeias da poeirenta estrada de rodagem trabalhada e que nos dias atuais representam um brinco valioso para os transeuntes.

Obrigado Minadorzinho, obrigado queridos cassacos.

MINADOR DO LÚCIO (PREFEITURA/ DIVULGAÇÃO)


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domingo, 20 de agosto de 2023

 

DELIMIRO GOUVEIA

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.947



 

Vimos algumas cidades sertaneja iniciando no Médio Sertão, perto de Santana do Ipanema, seguindo pela BR-316 e acessos. Cidades nas planuras do sertão: Poço das Trincheiras, Maravilha, Ouro Branco e Canapi. Subimos para as montanhas com Inhapi, Água Branca, Pariconha e Mata Grande e, agora vamos descer para as planuras novamente com Delmiro Gouveia, Olho d’Agua do Casado e Piranhas. Delmiro Gouveia ocupa as planuras regionais e representa a mais importante cidade do Alto Sertão com 51.763 habitantes. Sua distância à capital Maceió, é calculada em 304 km e sua altitude mostra 256 metros acima do nível do mar.

Antigamente o lugar era uma fazenda chamada Pedra que progrediu com o implante de uma fábrica de tecidos pelo pioneiro Delmiro Gouveia. Através do tempo, Pedra desenvolveu e ganhou sua Emancipação Política no dia 10 de junho de 1952, passando a se chamar Delmiro Gouveia e cujos munícipes são chamados de delmirenses. A cidade vive da indústria têxtil, do comércio, da pecuária, da agricultura, da sua própria história e de parte dos cânions do São Francisco que atraem pesquisadores e turistas. Faz divisa com Pernambuco, Bahia e Sergipe. Comunica-se com a capital pela BR-316 (Via Santana do Ipanema – Palmeira dos Índios) e pela AL-220 (via Batalha – Arapiraca que está sendo duplicada.

A história de Delmiro Gouveia envolve fábrica têxtil, energia de Paulo Afonso e episódios lampionescos. Sua padroeira é Nossa Senhora do Rosário, celebrada no dia 10 de outubro com empolgação pelos seus habitantes. Os visitantes do Recife, Caruaru e Garanhuns chegam ao núcleo Delmiro Gouveia através da rodovia BR-423, passando pelo Entroncamento Carié, um dos mais importantes do Nordeste.

Vale à pena conhecer a cidade, sua vizinhança e sua história belíssima e enigmática narrada por vários escritores, entre eles, o santanense Tadeu Rocha, cujo livro é considerado o melhor entre todos.

PARCIAL DE DELMIRO GOUVEIA (DIVULGAÇÃO MUNICIPAL).

 

 

                                                                        


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quinta-feira, 17 de agosto de 2023

 

OS MUSEUS NO TEMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.946

 



Lembrando a antiga estrada de rodagem, Palmeira dos Índios – Sertão, continua ainda de pé, testemunhando a história dos transportes e da engenharia em Alagoas, a antiga ponte sobre o rio Traipu.  A referida ponte foi descartada por ser estreita para o novo padrão rodoviário. O outro padrão veio de ponte mais larga e logo recebeu cobertura asfáltica. Aponte antiga, muito bem feita, por sinal, ficou à beira da estrada, servindo apenas para passagem de carros de boi, pesquisador ou apreciadores das cheias do rio, observadas por ambas as pontes. É bem ali na BR-316, próximo do acesso a Minador do Negrão. Sem dúvida alguma uma relíquia da história no museu a céu aberto que irá se acabando com o tempo. Mas se não podemos levá-la para um museu fechado, pelo menos deveria ser feita uma maqueta para tal fim.

Outra ponte relíquia da história é a de Dois Riachos que perdeu para ponte nova com outro traçado do trecho que passa pela cidade.

Mas, essa ponte, sabiamente passou a ser uma das entradas da urbe, usada normalmente por automóveis, carroças, animais e humanos na rotina da “Terra de Marta”. Tanto a ponte nova quanto a ponte velha, são também mirantes para apreciação das cheias do rio Dois Riachos, afluente do Ipanema e de calha bastante respeitosa. E mesmo ainda com tanta serventia, não deixa de ser, a ponte, um museu a céu aberto de muito significado para a cidade e município da “Pedra do Padre Cícero”. Os estilos das pontes velha e nova são diferentes, mas a história é a mesma em riquezas de detalhes.

Estamos falando de lugares, aonde palmilhamos ultimamente e vamos sentindo a evolução como acontece com as diversas ciências que iluminam a condição humana. O sertão do carro de boi para o sertão do automóvel; os rios das travessias, para os rios das pontes; O interior do grito pelo interior do celular; os lugares da escolinha pelos lugares das universidades; as cidades das rezadeiras pelas cidades da telemedicina... E a firmeza na crença no desenrolar do mundo. O caráter do homem também transfigurará, fazendo desse planeta de expiação, uma sociedade mais justa, mais igualitária. Afinal, o HOMEM não morreu em vão. Deixemos que o sertão vire mar e que o mar vire sertão. O coração do homem não pode é dispensar a harmonia e a beleza do rotineiro e do exótico para alimentar a sua alma sedenta do Grande Arquiteto do Universo.

PEDRA DO PADRE CÌCERO – (DOIS RIACHOS – AL) – foto: gazeta de alagoas.

 


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terça-feira, 15 de agosto de 2023

 

VI DE PERTO

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.945

 



Voltando da Bienal, já no domingo à noite (13), passamos no distrito palmeirense de “Canafístula Frei Damião”. Para matar a vontade do meu neto Gabriel e a minha, adentramos ao distrito para vermos a recente estátua implantada do fantástico “Pregador do Nordeste”. Ali eu havia visitado há muito, a Festa da Pinha e que havia gostado bastante. Desta feita, via a expansão do povoado naquelas terras planas de barro Vermelho, onde a feira de animais por um lado e as visitas à Frei Damião, por outro, projetaram a famosa terra da pinha doce. Chegamos ao “Santuário Frei Damião” com a noite fria e já iniciando uma pingadeira dos céus. Cedo da noite, mas tudo quase deserto, portas fechadas e um silêncio profundo nas ruas, provavelmente a frieza encurralava as pessoas sobre os lençóis.

Fiquei impressionado com a estrutura externa do santuário bem iluminado, beleza de arquitetura e bom gosto, muito espaço ocupando a frente da igreja onde se realizavam as festas do lugar; agora dividida em patamares ajardinados com assentos para os visitantes. A estátua do Frei também impressionou bastante, tanto pela obra física em si, quanto pela perfeição da face do santo do Nordeste. A escadaria até o patamar da estrutura geral, semeado de fitas deixadas pelos romeiros, no corrimão de metal em caracol, atestavam pedidos e pagamentos de promessas daqueles de fé inabalável em quem acreditam. Discretamente um vigia numa casa ao lado, tudo observava, mas sensível ao nosso boa noite que a educação pedia. Uma atmosfera de paz nos abençoou e nos fez prosseguir a viagem com mais otimismo e segurança.

Frei Damião nasceu em Bozzano, Itália, em 5.11.1898 e faleceu no Recife em 31.5.1997. Contava, então, com 98 anos de idade e foi sepultado no próprio Recife no Convento São Félix de Cantalice. A causa da sua morte foi uma parada cardíaca.

Pregador vigoroso, conquistou a Região Nordeste, com suas previsões, milagres e Santas Missões que ficaram famosas e atualmente ainda correm de boca em boca em prosa e verso em território nordestino. Um santo de sangue italiano e coração brasileiro. Ê, Nordeste! Ê, Sertão!

MINHA ESPOSA IRENE E MEU NETO GABRIEL NO PEDESTAL FREI DAMIÃO. (FOTO: B. CHAGAS).

 


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segunda-feira, 14 de agosto de 2023

 

BIENAL, SUCESSO E BÊNÇÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.94?

 



Estamos agradecendo a todos da plateia do nosso debate em mesa redonda, na Bienal. Os santanenses presentes, muito nos honraram. Mas não só os santanenses inúmeros sertanejos da nossa região, maceioenses e pessoas outras. E uma sala lotada com as mais ilustres pessoas que ficaram atentas até o final do debate de duas horas de duração, beira o maravilhoso. O debate a três era sobre o livro “Lampião em Alagoas”, Cada um dos palestrantes abordou um tema do cangaço, ficando para mim a parte em que os Ferreira agiram em Alagoas, antes de Virgulino se tornar o Lampião. O companheiro Marcello Fausto falou sobre parte da vida do coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão, comandante do Batalhão de Polícia sediado em Santana do Ipanema, cujas volantes deram cabo do famigerado “Rei do Cangaço”.

O outro companheiro Inácio Loiola discorreu sobre o período de Lampião em Sergipe e as influências dos coiteiros. Além de uma plateia extremamente atenciosa e educada, teve ainda uma segundo e importantíssima festa no encerramento do debate: A alegria do encontro entre os familiares presentes, abraços, força e a satisfação interior entre todos pareciam não ter fim e que não nos deixaram atender muito mais conhecido, pois um segundo debate iria haver com outros participante na mesma sala e estávamos no limite do tempo. A denominada mesa redonda, foi mediada pelo companheiro Malta, do blog Malta Net. Afinal, um livro nosso vai ser lançado na Bienal, elaborado a seis mãos, onde participarão dois dos três autores: os amigos Elgídio, e João Neto Félix, porém não irei participar, aguardando para o lançamento em Santana do Ipanema.

E para relaxar após o debate do nosso livro “Lampião em Alagoas”, fomos para o “Gelato Borelli” e complementar no Marco dos Corais. Já no domingo pela manhã, ainda sem cair a ficha, fomos a um tour pelo bairro nobre da Gruta, mas não chegamos a visitar a Gruta de Lourdes, onde havia a fonte milagrosa. Lembrando a euforia do evento, com tanta gente querendo conversar, nem pude dar um abraço nos dois ex-prefeitos presentes, do nosso Sertão. A nota atribuída à palestra, pelos nossos conhecidos, foi 10 e o conceito excelente. Continuamos gratos pela atenção dos que foram nos prestigiar e dividir conosco esse tão significativo evento.

 

Orgulho em ser sertanejo!

ALGUMAS FOTOS ACIMA DA CRÔNICA

 

 

 


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quarta-feira, 9 de agosto de 2023

 

TEMA DA BIENAL

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.943

 



Virgulino Ferreira e irmãos, durante suas desavenças com a vizinhança, em Pernambuco, veio com os pais morar em Alagoas, em 1918. Aqui chegando, foram morar em Água Branca, no sítio Olho d’Água. A família viera a convite do parente Antônio Matilde que viera antes, também fugindo de Pernambuco. Acontece que a 1 km de onde ficaram morando, viviam os cangaceiros mansos, irmãos Antônio, Manoel e Pedro Porcino. Como os semelhantes se atraem, logo os Ferreiras estavam entrosados com os Porcino, reforçando aquele bando com mais Antônio Matilde e Marin, cunhado de Virgulino que também estava em Alagoas visitando Matilde. O bando de Antônio Matilde, acolheu os irmãos Ferreira e os Porcino também, às vezes atuando jutos e outras vezes separados.

Virgulino e irmãos atuavam no bando de Antônio Matilde, indo também a Pernambuco com ele, onde praticavam roubos e arruaças. Outras vezes saiam com os Porcino que assaltavam estradas. Virgulino ficou trabalhando com o Coronel Juca, em Mata Grande, onde cuidava dos cavalos. Entre uma folga e outra, andava pelas feiras da Pedra, de Mata Grande e de Água Branca, fazendo arruaças, outras vezes juntos aos Porcino, peal região, inclusive no atual Ouro Branco. Assim, entre arruaças com os irmãos, o bando dos Porcino e o bando de Antônio Matilde, os Ferreira iam cometendo seus absurdos em terras alagoanas. Donos de terras de Pernambuco vieram se queixar ao juiz de Água Branca, de roubos de Virgulino em suas terras.

No fórum, diante das provas dos queixosos, Virgulino, na frente do juiz, puxou um longo punham rasgou os documentos apresentados, botando o homem para correr. Correu também. O juiz mandou o delegado prendê-lo e declarou os Ferreiras bandidos. Houve muitos tiroteios, mas não conseguiram prender Virgulino.

 Muitos desses acontecimentos com detalhes vão ser apresentados na Bienal, dia 12, das 14 às 16 horas, sala Mangaba em mesa redonda, quando debateremos “Lampião em Alagoas”, eu e meus dois companheiros escolhidos.

Esperamos a sua presença no debate sobre o único livro que fala totalmente em Lampião nas Alagoas. Vamo-nos conhecer, trocar gentilezas, autógrafos e experiências positivas.


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segunda-feira, 7 de agosto de 2023

 

FURANDO O TEMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.942

 



Difícil era se deslocar do Sertão para Palmeira dos Índios e Maceió.  Qualquer coisa que se precisasse em Palmeira dos Índios, a viagem seria feita através de caminhão, ou na boleia ou na carroceria igual a qualquer amontoado de algodão, de suínos ou de carvão. Enfrentar uma estrada poeirenta e esburacada no verão e cheia de atoleiros no inverno, era coisa humilhante e sem esperanças. Houve época que para se chegar a Maceió, após o caminhão até Palmeira dos Índios, dormia-se ali em qualquer hotel e, pela madrugada, ainda no escuro da cidade sem luz, procurava-se a estação do trem para embarcar e partir via – cidade de Viçosa. E olhe que já era um relativo conforto, pois antes do trem em Palmeira, fazia-se o trajeto sertão até Viçosa a cavalo para dali embarcar no trem até a capital.

Quando o asfalto chegou a Palmeira dos Índios (o primeiro do estado) no início dos anos 50, Surgiu também em Santana do Ipanema, uma ônibus, chamado naquela época de “sopa”, e cujas bagagens viajavam no teto da sopa, parte externa, cobertas por uma lona. Em Maceió o ponto final acontecia no famosíssimo “Hotel Lopes”, vizinho a antiga praça da Faculdade de Direito. Em Santana do Ipanema, pontos de saídas e chegadas eram diante da Igrejinha de Nossa Senhora Assunção (Bairro Monumento) e na Pracinha do Centenário (Centro) onde havia uma bomba de gasolina, três bancos sem encostos e um obelisco.

Mas em 1951, a estrada de rodagem do governo havia cruzado Santana do Ipanema, rumo ao Alto Sertão. Aproveitando a primeira ponte sobre o rio Ipanema, foi construída uma barragem tendo como paredão a parte de baixo da referida ponte. A barragem serviria para abastecer Santana que ainda não dispunha de água encanada. Quando os operários (cassacos) do DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra a Seca, terminaram a obra, muitos deles, de fora, quiseram permanecer na cidade, no acampamento. Surgiu assim do acampamento, o Bairro Barragem que ainda hoje permanece com esse nome. Surgiu, muitos anos depois, um filho da Barragem, por trás do casario ao longo da rodagem, a que o povo denominou de Bairro Clima Bom. Do outro da rodagem que era desabitado, surgiu um complemento moderno e bonito do Bairro Barragem que até poderia ter recebido um nome novo de bairro.

Nenhum escritor registrou essas histórias, infelizmente. A propósito, os cassacos do DNOCS, ganhando pouco, diziam, soletrando e interpretando a siga da repartição: “Deus não olha cassaco sofrer”.

PARTE NOVA DO BAIRRO BARRAGEM MARGEANDO O RIO, VISTA DE LONGE (FOTO: B. CHAGAS).


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domingo, 6 de agosto de 2023

 

MATA GRANDE

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de agosto de de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.941

 



Estamos encerrando a série de cidades montanhosas do Maciço de Mata Grande, extremo Oeste de Alagoas, após Água Branca, Inhapi e Pariconha. O município de Mata Grande já teve seu auge histórico tanto quanto se chamava Paulo Afonso, quanto na denominação moderna de Mata Grande. Tem muitos destaques físicos e mil histórias para contar. Foi a cidade alagoana que repeliu ataque de Lampião e seu bando, impedindo-o de entrar na urbe. Situada a uma altitude de 635 metros, a cidade dista da capital, Maceió, 280 Km. Mata Grande possui uma população de mais de 21.000 habitantes e que são chamados mata-grandenses. Seus grandes festejos de Emancipação Política acontecem no dia 5 de junho, data da sua Emancipação em 1902.

 O aspecto de Mata Grande é diferente de tudo que você já viu. Ladeirosa, agradável e bela, a sua padroeira é Nossa Senhora da Conceição celebrada em 22 de dezembro, dia em que a cidade toda se engalana e demonstra toda a fé dos corações dos seus munícipes. Suas terras de altitude são férteis e sua vegetação antiga e arbórea permitiu que o município chegasse ao título oficial que possui e se consolidou. Quanto ao alcance da sua agricultura, é bom dizer da satisfação que se tem de uma listagem galante: algodão, banana, cana-de-açúcar, cebola, feijão, laranja, mamona, mandioca, manga, melancia, melão, milho, tomate... E por aí vai.

Mata Grande muito abasteceu a região e além região, de rapaduras, graças aos seus engenhos rapadureiros, assegurados pela cana-de-açúcar, bafejada pela a sua altitude. A paisagem das montanhas encanta acumulando belezas por todos os recantos do relevo e traduz um orgulho alagoano: o pico mais alto do estado de Alagoas: a serra da Onça, nos seus arredores, com mais de 1.000 metros de altitude. Ultimamente a cidade ganhou acesso asfáltico também com intercessão pela BR-316. Pode-se se chegar a Mata Grande pela rodovia AL-145 Água Branca – Mata Grande, também

Quem conhece valoriza.

Vamos lá!


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quinta-feira, 3 de agosto de 2023

 

PONTOS DE REFERÊNCIA

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.939

 



Achamos que as autoridades, quando houvesse um marco importante da história da cidade, pudesse registrar e arquivar no Patrimônio Público a bem da histórico municipal, caso tivesse de ser extinto, até por catástrofes naturais. O problema é que os compromissos dos ignorantes, os não estudiosos do seu torrão, a má vontade com o patrimônio coletivo ou a empáfia desajustada, prejudica pesquisadores, estudiosos e uma tradição histórica. Estamos nos referindo aos inúmeros casos que acontecem neste país chamado Brasil. As coisas simples, de tradição até seculares, fazem parte da cultura de um povo, seja popular, seja elitista. Vamos nos referir a três coisas do cotidiano santanense desde os tempos dos nossos avós.

“As Cajaranas”, lugar marcado por um conjunto de árvores chamadas cajaranas, situadas no final da antiga rodagem para Olho d’Água das Flores. O lugar “Cajarana”, hoje rua situada por trás do Hospital Clodolfo Rodrigues de Melo, por existir ali uma frondosa cajarana. Um marco que dividia o trecho urbano do rio Ipanema em dois; uma craibeira baixa, de tronco muito grosso e torto, situada na margem direita do rio, na curva perto da antiga olaria de “Seu Piduca. O pé de mulungu muito antigo à beira do caminho abaixo da famosa fazenda de Isaías Rego – estrada para a serra do Poço. E a craibeira frondosa por trás da delegacia de polícia, onde se armavam os circos que chegavam à cidade. Olhem o destino desses patrimônios de Santana do Ipanema de longa e longa tradição:

As cajaranas foram cortadas, ficando apenas os tocos. Quem fez o crime? A cajarana do outro lugar Cajarana, já havia sofrido um atentado de incêndio por um bêbado ou um irresponsável. Foi derrubada por uma forte ventania e, o lugar continua sendo chamado Cajarana. Até o hospital é denominado pelo povo de Hospital da Cajarana. Da craibeira do rio Ipanema, restou apenas o toco. Quem praticou o crime? O pé de mulungu, também foi cortado na surdina. Só o toco ficou. E a craibeira dos circos, foi derrubada por ordem do, então prefeito Paulo Ferreira, que não atendeu inúmeros pedidos da sociedade, inclusive, um apelo nosso num jornalzinho maçônico da época. Assim a história de um município vai se apagando e seus habitantes, viram alienados da história.

RIO IPANEMA (FOTO: REPENSANDO A GEOGRAFIA DE ALAGOAS, B. CHAGAS).

 

 

 


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GAMÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.939



 

O senhor Cariolando Amaral, dono de farmácia por muitos anos em Santana do Ipanema, era muito sério, porém grande folião em nossos carnavais. Usava uma permanente gravata borboleta que não era dispensada em nenhum momento do dia. Aliás, era a única figura da cidade, que conservava esse hábito antigo de elegância. Sempre estava entre o balcão da farmácia e a calçada, jogando gamão com seus parceiros cativos.  Quando foi construída a primeira pracinha de Santana, no largo, hoje, prof. Enéas, “Seu Carola”, como era conhecido, doou os três bancos de cimento sem encosto e, segundo testemunhas, para representarem suas três filhas pequenas, na Pracinha João Pessoa. Mas Seu Carola também se tornou delegado civil por um bom tempo e atuava na sua farmácia, primeiramente no “prédio do meio da rua”.

O que chamava atenção naquele estabelecimento comercial, era o busto de um negro forte, careca e lustroso, envergando uma barra de aço, propaganda de um remédio. Quando demoliram o prédio do meio da rua, ficou no solo da farmácia e na rua, um verdadeiro mar de bainhas de facas espalhadas. Com o tabuleiro de gamão em cima das pernas suas e do seu adversário, o jogo era constante. Copo de couro para misturar e jogar os bozós (dados) e as pedras de marcação que eram sementes de mulungu, grandes, vermelhas e belas, atraiam os olhares dos “perus”. E como crianças ou adolescentes, tentávamos adivinhar de onde vinham aquelas sementes tão bonitas.  Mas eram sementes dos tantos mulungus que havia na região periférica da cidade.

Dizemos sem certeza que a farmácia de Seu Carola se chamava “Farmácia Amaral”. Era o tempo em que as pessoas compravam muito maná e Seu Carola vendia bastante esse produto. A farmácia, com a demolição do prédio do meio da rua, passou a funcionar em um dos compartimentos comerciais do casarão da esquina, onde funcionou no primeiro andar, o “Hotel Central”, de Maria Sabão.  As partidas de gamão passaram a ser na sombra que fazia à tarde, na parte da escadaria do hotel. E como se dizia como forma de desprezo: “Gamão é jogo de velho...” Será que o gamão tinha o poder de driblar as mazelas da vida?

Ah, só se perguntasse ao negrão que torava aço na farmácia Amaral de Seu Carola!.

MULUNGU (FOTO: TEREZINHA TAVARES)

 


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terça-feira, 1 de agosto de 2023

 

FERVENDO

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de agosto de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.938

 



       Há muito o mundo vem sabendo que se deve cuidar da natureza. De alerta em alertas nacionais e internacionais, prevaleceu em resposta o famigerado ouvido de mercador. A ambição humana não tem limites e, a procura pelo mais fácil, mais prático, mais barato, deu no que deu, primeiramente no Hemisfério Norte. As ondas de calor só podem ser comparadas a um castigo rigoroso da mão Natureza, pelos ataques contantes e insanos às coisas que Deus deixou no mundo para tornar mais agradável a permanência dos seus filhos na esfera carnal. O Globo bota as mãos à cabeça, faz conferência e mais conferências, aponta os erros alheios, depois as mãos no bolso. Assim, os incêndios, as enchentes, os deslizamentos, o vulcanismo, as invasões marítimas, as altas absurdas e proféticas da temperatura e tantas outras são catástrofes anunciadas que puxam com força as orelhas da humanidade.

        Terminamos o mês de julho no Sertão, dentro do previsto pelos profetas das chuvas, homens do campo que baseiam seus experimentos no comportamento das plantas, dos animais, dos astros, através de décadas e décadas seguidas. E esse mês que acaba de dá adeus, é normalmente o mais chuvoso dos nosso Sertão, mas foi agora de chuvas excessivamente moderadas, variando muito mais entre tempo nublado e sol entre nuvens. Não deixa mesmo assim, de ter sido um mês bom para a lavoura, porém, de armazenamento de água para o restante do ano, deixou muito a desejar. É claro que todo sertanejo, direta ou indiretamente depende das chuvas, agradecem a Deus por tudo, mas carregam uma interrogação permanente sobre o tempo.

       O El Niño foi anunciado, lá atrás, mas pelo visto, não foi levado muito a sério, pelos comandantes das nações, apesar dos seus efeitos assinados e carimbados quando sempre ressurgiu. Vai ser mais uma tacada grande no clima da Terra, independente das coisas que estão acontecendo com notícias diárias e assombrosas dos jornais. E, particularmente em nosso torrão, este mês de agosto vai acontecer como um grande revelador do que virá daqui para o fim do ano. O frio sim, esse não negou sua tradição no mês passado, indiferente às cores variantes do céu: chumbo, cinza, azul e marfim... O certo mesmo é que nada será como antes com o clima e suas influências. Ainda duvida, Tomé?

SANTANA AO AMANHECER (FOTO: GLEMILDA).

        

 


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