domingo, 29 de dezembro de 2019

CHUVA NAS ALAGOAS


CHUVA NAS ALAGOAS
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.237
CHUVA EM SANTANA do IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

Infelizmente ou felizmente notícia gosta de usar as duas faces. E as previsões de chuvas para o estado nos três primeiros meses, do ano, deixam o nosso Sertão esperançoso e quase feliz. E o quase fica por conta das alvíssaras até as realizações dos torós anunciados. Para a capital que vive os problemas de afundamentos de bairros, quedas de barreiras, batidas no trânsito e crateras/ armadilhas cheias d’água, não é notícia muito agradável; até mesmo porque se diz que haverá chuvas contínuas e muito calor, bem diferente das trovoadas passageiras e tradicionais. Imaginemos a aflição dos Bairros Pinheiro, Mutange, Bom Parto e imediações com tantos casos revoltantes e não resolvidos.
Mas o semiárido poderá sorrir de boca larga porque chuva na terra é melhor de que ouro em pó. Essas precipitações encherão pilões, barreiros e açudes, permitindo uma ponte robusta entre o verão e a época invernosa. Planta-se feijão de corda, enche a palma, sai o pasto, o capim encobre o lombo luzidio das vacas leiteiras, fabrica-se o queijo e, o legume faz a barriga cheia. O aroma desejado e gostoso da terra molhada dilata as narinas do sertanejo em festa. Estira-se o mandacaru, pia a codorniz e os poetas enchem os salões das fazendas com aboios, emboladas e repentes na viola.
O pincel da natura cobre o giz do espaço com o cinza dos cúmulos, dos nimbos, empurrados pelo regougar dos trovões assustadores. Os traços fortes das chuvaradas cantam nos telhados vermelhos da casa-grande, faz tinir as bicas das taperas e derrubam a lataria enferrujada por cima dos potes de barro. Enrosca-se a cascavel, recolhe-se o carcará, muge o bezerro na baixada e a velha peleja com o fogo do cachimbo vindo do Juazeiro do padrinho Ciço.
Feijão, milho, melancia e mandioca só faltam quebrar o espinhaço do jegue, a mesa do carro de boi ou os eixos do caminhão valente a caminho do armazém.
Na beira do córrego, esse matuto observa e anota até mesmo quando o patriarca da humilde família bota os joelhos na terra, ergue as mãos aos céus e murmura. O gavião ali perto não irá compreender, mas Deus – presente nos matizes do verdume –  abençoa os seus dizeres e suas lágrimas que escorrem rumo ao pequeno riacho murmurante.



,




Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/12/chuva-nas-alagoas.html

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

UM PERSONAGEM DA MINHA RUA


UM PERSONAGEM DA MINHA RUA
Clerisvaldo B. Chagas, 26/27 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.236

RUA ANTÔNIO TAVARES. (FOTO: B.CHAGAS/LIVRO 230).
Ao ver na Internet o apelido nada agradável de certa pessoa da minha infância e adolescência colocada rudemente aos pés da sua filha, no Face, resolvi fazer essa crônica.
Chamava-se João Barbosa Filho, era marceneiro, morava e trabalhava quatro casas após a de meus pais; entre o vizinho José Urbano e o soldado Joaquim Manoel. Seu João Barbosa era um homem alto e magro e poderia contar com mais de sessenta anos de idade. Sua casa pobre com oficina na entrada oferecia serviços de marcenaria a quem dela precisasse. Na época eram imprescindíveis profissionais como marceneiros, sapateiros, flandrileiros e tantos outros eiros. Portanto, as tendas ou oficinas estavam sempre lotadas de encomendas, principalmente em tempos de bons invernos.
Seu João, ali na Rua Antônio Tavares, era um ótimo profissional e homem trabalhador. Nunca se ouviu dizer que o cidadão fosse metido em encrencas. Sobre isso, tinha a sua própria filosofia. De vez em quando bebia, se muito ou pouco não sei não me lembro. Também não me recordo quanto tempo passava quando chegava à distração. Depois Seu João mudou-se para um ponto entre o antigo clube Sede dos Artistas e a atual clínica ortopédica no Bairro Monumento, hoje espaço murado. Ganhou o apelido de João Cachaça. Quando bebia fazia o trajeto de casa à oficina, sempre murmurando alguma coisa e, entre elas, a frase famosa da sua vida: “João Barbosa Filho, quanto mais bebo, mais respeito”. E de fato era muito respeitoso.
Todos da rua gostavam do marceneiro. Não estou bem seguro, mas devido à situação, sua filha (não sei se tinha mais de uma) foi adotada, estudou com dignidade, tornou-se professora e diretora de escola. Muito me orgulha em falar do seu sucesso, respeito e amizade. Honrou a todos com sua força, inclusive à Rua Antônio Tavares onde seu pai foi exemplo de homem de bem. Quanto à bebida, todos bebem diante de problemas da vida.  Chamar Seu João Barbosa Filho de João Cachaça, fora a intenção, não o desabona em nada. Agradecidos estão os milhares de alunos que passaram até agora pelas mãos da sua filha professora e a sociedade santanense. Orgulhe-se, mulher, de seus pais, assim como estou orgulhoso de você, minha colega de profissão.

Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/12/um-personagem-da-minha-rua.html

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

SANTANA DO IPANEMA: O RENASCER DA RÁDIO CORREIO


SANTANA DO IPANEMA: O RENASCER DA RÁDIO CORREIO
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.235
RÁDIO CORREIO DO SERTÃO (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

Houve muita tristeza no Sertão quando a rádio pioneira encerrou suas programações. Inaugurada em 29 de janeiro de 1979, a Rádio Correio do Sertão tem a sua própria história dentro da história sertaneja. Foi a grande novidade da época que revolucionou a comunicação e a convivência no semiárido alagoano. Todavia, a tristeza cedeu lugar à alegria, após a notícia de que a Emissora retornaria ao espaço de gravata e colete. Não estava morta, mas apenas hibernando para voltar em grande estilo. É que foi publicada no Diário Oficial da União (segunda 23) a sua adaptação de AM para FM. “Com a decisão, o veículo informativo de Santana do Ipanema prestará melhores serviços com qualidade de som  na frequência 100.9 mega-hertz (MHz)”.
Portanto, no próximo mês a Emissora estará completando 41 anos de existência. Sua migração para FM poderá deixá-la em pé de igualdade e até ultrapassar a concorrência, dependendo apenas dos seus próprios méritos. A migração foi assinada pelo Ministro de Estado da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Carlos Alberto Flora Baptistucci.
As emissoras de rádio são de suma importância nos interiores nordestinos, aonde as notícias só chegavam a cavalo. Hoje em dia elas proliferam até mesmo como rádios comunitárias, deixando mais informadas as populações que também divulgam os seus interesses.
No caso da Rádio Correio de Sertão, implantada em Santana do Ipanema, ergueu-se novo conceito social que iria modernizar o semiárido e azeitar o progresso de muitos outros empreendimentos. Pertencente à família Bulhões, a emissora também serviu a muitos neófitos que se tornaram posteriormente grandes profissionais da comunicação. Não existe sentimento maior do que a alegria, com a notícia da Fênix Sertaneja. Portanto, o esforço pela migração deve ter sido grande como enorme foi a surpresa positiva da notícia.
Parabéns aos Bulhões, aos ouvintes cativos da Rádio Correio do Sertão e ao povo santanense.





Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/12/santana-do-ipanema-o-renascer-da-radio.html

O MENDIGO ESPERTO


O MENDIGO ESPERTO
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.234
O MENDIGO (FOTO: B. CHAGAS).

Não havia opção. Fiquei no pé do muro naquela nesga de sombra, aguardando a abertura do consultório. O ponteiro resfolegava para o meio-dia, numa temperatura de queimar tijolo. Junto ao cadeirante, sem uma perna, mais observador do que linguarudo, era mesmo que não ter ninguém para conversar, em quase uma hora de espera. Como eu sempre via o sujeito no mesmo lugar pensei tratar-se de um vigia. No fiapo de sombra só nós dois e o vazio de voz. Aproveitei o limão para fazer a limonada do dito popular. Observei que o cabra não era vigia de coisa nenhuma, mas um pedinte viciado e esperto com lugar cativo.  Devia fazer o ponto há anos, pois conhecia todos os que moravam na viela e os trabalhadores das imediações.
Quando não falavam com ele, o próprio se adiantava no cumprimento e assim ia pingando moedas e papel na sua mão. Passou a madama, o empregado, o catador de ferro, as moças... E de repente um do seu nível, suado, celular à mão, veio trocá-lo pelo aparelho similar do cadeirante. Conversas, vantagens, torna, cada figura querendo levar vantagem sobre a outra. A troca chegou muito perto, mas ficou para a próxima rodada. Ao passar do meio-dia o cadeirante puxou o aparelho e telefonou para um familiar mandado que providenciasse o seu almoço. Deu o lugar onde se encontrava seu cartão de crédito e fez outras recomendações. Hum!... Que chique! Por nada nesse mundo ele abandonaria o posto para almoçar.
Macaco velho, escolado, conhecia de sobra o tempo do lucro e do prejuízo. Enquanto aguardava a próxima vítima, perdão, novo cliente, balançava com as duas mãos as moedas que tiniam bonito perto dos ouvidos. Perguntei para firmar certeza nos futuros dizeres, como seria o nome da viela sem placa indicativa. “Viela Três Marias”, respondeu sem muito boa vontade sobre a Travessa Itatiaia. “O senhor conhece o filho do cangaceiro Corisco?” Indaguei. “Sim, senhor, mora lá no fundo da rua, é o Dr. Silvio Bulhões”. Calou-se.
Defronte o consultório abriu. Entrei e fui atendido. Ao retornar à rua continuava lá a estátua grudada do cadeirante. Não julguei nada e nem cabia julgar coisa alguma. Simplesmente rodeei o homem e zás! Uma foto de costas para a próxima crônica. Para que filosofar a vida? Respirei fundo... E fui.




Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/12/o-mendigo-esperto.html

domingo, 22 de dezembro de 2019

MENDES E O NORDESTE NU


MENDES E O NORDESTE NU
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.233

MENDES (blog do Mendes).
Nesta véspera de NATAL, quero agradecer aos nossos leitores do Brasil, Estados Unidos, Portugal, Rússia, Alemanha, França, Cingapura, Reino Unido, Dinamarca, Espanha e outros mais. Tudo isso graças à parceria entre o nosso blog: (clerisvaldobchagas.blogspot.com) e o (blogdomendesemendes), Alagoas com Rio Grande do Norte. As crônicas de Clerisvaldo chegaram para preencher o vazio entre publicações de livros do autor. São escritos que abordam todos os temas do mundo, com ênfase no solo alagoano e nordestino. O blog do Mendes, mais focado no antigo relicário cangaceiro, publica também os cenários periféricos do cangaço e expõe todo o Nordeste, principalmente os sertões, sem terno, sem gravata, sem cueca, completamente despido.
José Mendes Pereira que nasceu no sítio Barrinha, em Mossoró, é filho de Pedro Nél Pereira e de Antônia Mendes Pereira. Com seus estudos, pesquisas e determinação, atuou no mundo gráfico, tornou-se professor e criou o blog atual, dedicando-se ao universo do cangaço. O seu blog, pouco a pouco atingiu uma dimensão colossal ultrapassando fronteiras, firmando-se como indispensável aos que pesquisam o Sertão do Nordeste na Sociologia, História, Geografia e nas Artes. Mas nem somente de cangaço vive o blogdomendesemendes. Imprensado entre os cangaceiros estão os escritos ecléticos de Clerisvaldo B. Chagas e de Rangel Alves da Costa. São crônicas normais e longas que permitem o lazer aos “cangaceirólogos” e ao planeta. O sergipano Rangel é um escritor versátil, sensível, seguro e poético que sabe exatamente onde cabe cada uma das suas palavras escritas. Um mestre escritor.
RANGEL (Blog do Mendes).
Assim as crônicas são ornadas pelas pesquisas e artigos de José Mendes Pereira e, às vezes, cintilam “O Nordeste Nu”. O miolo, porém, destes escritos é mais para parabenizar o Mendes por mais um ano de vitória no repto da sua vida prestando relevantes serviços ao mundo da Cultura. Seu hercúleo esforço para fabricar o “pão e entregá-lo ainda quente na madrugada” é tarefa mesmo para os maiores titãs da Mitologia e do Cangaço. E na valorização das suas publicações diárias, responde o próprio Nordeste riquíssimo em ditados populares: “Rapadura é doce, mas não é mole não”. FELIZ NATAL PARA O GLOBO E PARA NÓS.


Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/12/mendes-e-o-nordeste-nu.html

terça-feira, 17 de dezembro de 2019

LAMPIÃO E A ESTRELA CADENTE EM MACEIÓ


LAMPIÃO E A ESTRELA CADENTE EM MACEIÓ
Clerisvaldo B. Chagas, 18 de dezembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.232
CHUVA DE METEOROS. (IMAGEM/WIKIPÉDIA).

Na noite do último sábado (14) houve um grande apagão em Maceió. Mas foi visto um imenso clarão no céu e “alguns estouros nos postes de alguns bairros”. Depois de algumas horas a energia retornou e, os boatos se espalharam com rapidez. Coisa de Internet você sabe como é. Um meteorito havia provocado o apagão e estourado tudo por aí. Meteorito também é chamado de meteoro, aerólito, bólide, zelação, corisco e muito mais. Meteoritos são rochas e fragmentos que vagueiam no Universo. Quando esses fragmentos penetram na atmosfera terrestre, provocam clarões em vista do atrito provocado. Coisas sem muita importância. Geralmente os namorados chamam o fenômeno de Estrela Cadente e na hora costumam fazer três pedidos, crentes que serão atendidos.
Entretanto, nem o romantismo dos namorados, nem o medo terrível de quem estava perto do clarão. A mentira do meteorito que correu mundo era baseada num fenômeno acontecido há muitos e muitos anos no Recife. Na verdade o que houve foram problemas causados dentro das próprias subestações, uma no Bairro Cruz das Almas e outra no Bairro Tabuleiro dos Martins em conexão com a cidade de Marechal Deodoro, esclarece os responsáveis pelo fornecimento. Todavia ainda tem muita gente que não viu o desmentido geográfico e continua entre dois mundos.
Isso nos faz lembrar a última noite de Lampião, Maria Bonita e seus nove sequazes na Grota dos Angicos. No desembarque para Sergipe, muitos sinais negativos surgiram na Natureza, entre uivos de cães e zelação, no rio São Francisco. No cerco da madrugada, pelas volantes, o foco de uma lanterna teria sido confundido com pirilampos ou com uma zelação.
Assim, o fenômeno causado pelo meteorito, zelação ou estrela cadente, sempre foi registrado no mundo em diversas épocas e ocasiões.
Em Maceió, o namoro com a zelação não foi bonito, “cabra véi”.
Ainda quer fazer os três pedidos?
Ufa! Danou-se.

Link para essa postagem
https://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2019/12/lampiao-e-estrela-cadente-em-maceio.html