domingo, 30 de junho de 2019

VEM AÍ A PADROEIRA


VEM AÍ A PADROEIRA
Clerisvaldo B. Chagas, 10 julho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.136

INTERIOR DA MATRIZ DE SENHORA SANTANA. (FOTO: B. CHAGAS).
Foi embora o mês tão aguardado e querido das festas típicas e arrebatadoras. Junho entregou julho ao Nordeste com chuvas, friozinho e fartura, pelo menos nas Alagoas. Mas também é aguardado com muita expectativa o mês, geralmente mais chuvoso, coroando o tempo da bonança em nossos sertões. Espera-se a maior festa religiosa do interior em Santana do Ipanema, com sua padroeira Senhora Santana. O recesso escolar que era no período da festa, foi mudado pelo governo estadual que unificou o calendário para todos os municípios. Assim as escolas não ficaram completamente livres para louvar a padroeira. Mesmo assim, a medida não abalou a fé, a esperança e a devoção dos participantes dos atos da Igreja Católica.
Foi incorporada à abertura, a procissão dos carreiros, quando a imagem da padroeira sai de uma cidade circunvizinha com destino a sua Matriz, em Santana. Em torno de mil e quinhentos carros de boi, acompanham e participam ativamente da procissão, cuja imagem da santa é conduzida no carro da frente. Em relação ao padroeiro do Bairro Camoxinga, São Cristóvão, o início e com a procissão dos vaqueiros e veículos. Este mês repetir-se-á a grande festa que tem como novidade o espaço novo da antiga ponte do Urubu. Agora este espaço urbanizado recebeu o nome de Cônego Bulhões e oferece todo o conforto para grandes encontros na cidade. A Festa de Senhora Santana, ganhou mais volume e dinamismo com o tradicional carro de boi e o arraigado saudosismo.
A imagem de Senhora Santana chegou à região que se chamava “Ribeira do Panema”, em 1787, data oficial da fundação de Santana. Foi entronizada na igrejinha construída para esta finalidade, na fazenda do fazendeiro Martinho Rodrigues Gaia, a mesma igreja que hoje é a Matriz do município. Trazida da Bahia pelo padre Francisco José Correia de Albuquerque, a imagem de Senhora Santana fora um pedido da esposa do fazendeiro, Ana Teresa, primeira devotíssima da santa que também pedira a construção da capela.
O padre Francisco era penedense.
Assim Santana do Ipanema completa seus 232 anos de fundação, homenageada há dois anos com o nosso livro/enciclopédia “230”. VEM AÍ A FESTA DA PADROEIRA.










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quinta-feira, 27 de junho de 2019

SÃO PEDRO: O AMARGO ESPERIMENTO


SÃO PEDRO: O AMARGO ESPERIMENTO
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de julho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.135

(IMAGEM/DIVULGAÇÃO)
 São Pedro é um santo muito popular no Nordeste. Em relação a ele, o nome Pedro ainda hoje prolifera em todas as unidades nordestinas. Todos conhecem a história do homem que teve o prestígio de ser amigo de Jesus. Ainda hoje Pedro é apreciado como o chaveiro do céu. Os nordestinos gostam tanto de Pedro que o chamam como brincadeira respeitosa, de Pedrinho. Dizem que certa feita, o homem que abre e fecha o céu, pediu a Jesus para passar três dias na Terra. Estava com saudade, dissera ele. Jesus consentiu e Pedro desceu. Mas, não retornou no dia combinado. Somente quinze dias depois Pedro lembrou-se do trato com o Senhor e partiu para cima. Sem brabeza alguma, Jesus passou a interrogar a Pedro.
“Perdoe Senhor, mas é que na Terra estava tão bom que eu esqueci do prazo. Era festa por todos os lugares, Mestre. Música, dança, farra, fartura... Uma beleza”. Aí Jesus indagou: “E falam em
mim, Pedro?”. “Não ouvi não, Mestre”. O tempo passou e no ano seguinte bateu a mesma saudade da Terra no ex-apóstolo de Cristo. Dessa vez pediu os mesmos três dias de férias. Jesus foi generoso e disse: “Não Pedro, pode passar quinze dias na Terra que eu me arranjo por aqui”. Pedro agradeceu e partiu para o Planeta. Passados apenas três dias, São Pedro estava de volta. Jesus, então,  perguntou ao amigo o que tinha acontecido. Não havia lhe dado quinze dias, porque voltara em apenas três?
Pedro respondeu: “Ah, meu Senhor, voltei logo porque a coisa está feia na Terra. Muita fome, terremotos, enchentes, maremotos, guerras, secas, desentendimentos... Muito desespero, Mestre”. E Jesus, calmamente, perguntou de novo: “E falam em meu nome, Pedro?”. Pedro ficou triste e respondeu: “Só é em quem falam Senhor, o vosso nome é um clamor geral”.
E assim foi encerrada essa lenda em que os mais velhos contavam nas rodas instrutivas de outrora. O amigo bem que poderia repassá-la aos filhos, netos e amigos. Quem sabe se a narrativa não iluminará a meditação de alguém.
Respeito profundo a Pedrinho.
Viva São Pedro!.

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quarta-feira, 26 de junho de 2019

MONSTRENGO NAS BR


MONSTREGO NAS BR
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de junho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.134

SILHUETA ESTILIZADA. (FOTO: B. CHAGAS).
Todos eleitores esperam do seu candidato eleito, tino administrativo apurado. Prefeito, governador, presidente, estão – pelo menos no início – como esperança de um trabalho profícuo sem desculpas amarelas... Esfarrapadas. Obra iniciada e não concluída só atrai o que não presta, tanto para o povo quanto para o gestor. As inúmeras carradas de pragas e palavrões devem mexer muito negativamente na espiritualidade e na política do alvo das multidões. Pragas e xingamentos não podem trazer o que é bom. Um viaduto que seria de anel viário, trevo, passagem ou outro nome qualquer, enganchou no meio da BR-101 e BR-316 no trecho São Miguel dos Campos – Rio Largo; Pilar – Atalaia. Levantado pedaço do viaduto, obra parada e longos anos pousando no equívoco humano.
Ah, essas obras inacabadas que não levam a lugar nenhum, são muito parecidas com o destino enigmático de muita gente. Calculamos em mais de dez anos a resistência do monstrengo no mostruário em terras alagoanas. Quantas e quantas piadas e palavrões ouvimos dos motoristas que trafegam por ali! Havia muitas comparações com o asfaltamento do povoado Carié – Inajá, com enrolamento de mais de 40 anos e a conversa fiada do trevo da Polícia Rodoviária. A primeira já foi realizada. A segunda, em Maceió, finalmente está em pleno vapor e se desenha como obra de fato magnífica. Vai ser aliada da nova entrada Satuba/Maceió, antes imunda e hoje transformada em jardim.
Bem, para os longevos e pacientes cidadãos, parece que a coisa vai. Quem trafega no trecho na antiga presepada começa a
ver movimento de máquinas e operários no local, dando nítida impressão que mexeram nos pauzinhos. Assim, passamos no ponto mais de uma vez e aproveitamos para fotografar, mesmo em hora inconveniente. Pelo menos mostra a silhueta do bicho de concreto. E se o negócio dos novos dirigentes é desenterrar cabeças de burros, que assim seja. As três obras citadas são valorosas e representam ao final, desenvolvimento e segurança nas estradas que cortam o nosso estado.
Na realidade, existem os coveiros de cabeças e os desenterradores de muares.
Xô!.



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CACIMBINHAS: MERCULHO NO SERTÃO


CACIMBINHAS: MERGULHO NO SERTÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de junho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.133

(FOTO: ASCOM/SEINFRA)
Em toda a região sertaneja nordestina é incessante a luta pela sobrevivência.  Cada fonte d’água descoberta ou construída, alivia, renova e aumenta a esperança que recusa morrer. Lá em Cacimbinhas, sertão alagoano, registra-se uma dessas batalhas em busca do precioso líquido. Trata-se da barragem Gravatá que está sendo construída e projetada para atender a 4.700 moradores. Segundo o site TribunaHoje, a obra foi iniciada no mês de abril, está com 35% concluída e em breve chegará ao final. Os recursos vêm do Fundo Estadual de Combate a Erradicação da Pobreza – Fecoe. Cacimbinhas estar localizada na zona sertaneja da Bacia Leiteira e faz vizinhança com Dois Riachos, Major Izidoro e Minador do Negrão.
A barragem Gravatá será alimentada pelo riacho Gravatá e quando pronta deverá ser a solução hídrica para centenas de pessoas, para o criatório e para a agricultura familiar. 
Em nosso romance (inédito) “Fazenda Lajeado”, descrevemos em várias páginas, uma construção de açude por multidão de retirantes. Tudo feito sem máquina alguma. Hoje são ao contrário, duas ou três pessoas na obra, manejando alguns tipos de tratores fortes e modernos. Esses reservatórios – de extrema necessidade para o sertanejo – não custam barato. A barragem de Gravatá, mesmo, tem investimento de mais de um milhão e ocupará uma área de 99 mil metros quadrados. Quando concluída deverá acumular 280 mil metros cúbicos de água.
  Com uma barragem, os habitantes se livram do caminhão-pipa, o governo também se livra das despesas daquela forma de abastecimento. Em Santana do Ipanema, perto de Cacimbinhas, foi anunciada a construção de uma barragem no sítio Barra do João Gomes, que será alimentada pelo riacho João Gomes. Temos a impressão de que o projeto ainda não foi realizado. Barra no Sertão, geograficamente falando, significa foz, desaguadouro, lugar onde um riacho, um rio, despeja em outro. Podemos até chamar Sertão das Barragens, pela quantidade e importâncias que elas exercem sobre seus moradores.
Sem água não tem doce.
Doce só com água.
               

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terça-feira, 25 de junho de 2019

O POETA E O GUARDA DE PESTE


O POETA E O GUARDA DE PESTE
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de junho de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.132

(FOTO: MAICON MARCOS LITHIRE)
No século passado houve um período de intensa campanha organizada pelo governo, contra a peste. No combate a doença, transmitida por roedores e suas pulgas, estava inserido o “guarda de peste” ou “mata-rato” que visitava as casas investigando e tentando evitar a doença. Cheguei ainda a conhecer cerca de três desses bravos heróis da saúde, em minha terra. Muitas vezes o guarda saía pela zona rural onde passava até uma semana fora de casa, nas suas visitas diárias aos sítios. Examinava, anotava, e sempre colocava um produto nos depósitos d’água de beber, notadamente no pote de barro, largamente usado na época. Era uma vida dura.
Mas o povo não gostava muito do guarda de peste, porque o produto defensivo – chamado pelos habitantes do sertão de veneno – deixava a água do pote com gosto esquisito. Nem sempre, porém, a recepção era má. Havia pessoas que recebia o guarda de forma cordial, convidava-o para o almoço ou lhe dava pequenos presentes, originários dos sítios.
Ao entrar na residência, o funcionário do governo deixava uma bandeira na porta ou na janela. Foi em uma dessas ocasiões em que o festejado poeta Joaquim Vitorino estava no alpendre de uma fazenda, quando um guarda de peste se aproximou e fez o cumprimento. O vate não perdeu tempo e, com muita ironia e talvez com um pouco de inveja, vomitou a estrofe, em décima:
Aqui nesse meu Nordeste
Vem gente igual ao senhor
Goza mais do que doutor
Nesse negócio da Peste
Andando pelo Agreste
Não lhe falta o que comer
É vinho e pinga a valer                 
Grande é o seu regalo
Comendo galinha e galo
Botando o pote a perder.






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