segunda-feira, 30 de setembro de 2024

 

CONTANDO PARA OS NOVOS

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de outubro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.119

 



O “sobrado do meio da rua” ficava a cerca de 50 metros do “prédio do meio da rua”. Espécies de shopping da época, construídos ainda nos tempos de vila. Nos 50 metros que os separava, era realizada parte da feira-livre e onde se realizava as matinês carnavalescas. O primeiro andar era um salão que congregava toda a extensão do prédio. Um vão livre para aluguel. No térreo, no meu tempo, três pontos comerciais. Cada ponto ia de um lado ao outro do prédio. O edifício era retangular. No primeiro andar já havia funcionado muitas coisas, como o primeiro cinema, o primeiro teatro, escolas e fórum. A última atividade ali, antes da demolição, foi o fórum, ainda na época dos advogados Aderval Tenório e João Yoyô Filho. Estamos falando dos anos 60, primeira metade.

No térreo funcionava na primeira cabeça (voltada para o Norte): o ponto comercial “Casa Atrativa”, Armarinhos do senhor Abílio Pereira. No ponto vizinho, a casa “Arquimedes Autopeças”; e na cabeça de baixo (Sul) A “Casa Triunfante”, armarinho de José Constantino e depois, do irmão Manoel Constantino. Essas casas tinham os fundos fechados para o Leste, lado da Praça Manoel Rodrigues da Rocha,

Durante às noites de festejos da padroeira Senhora Santana, os balões eram erguidos na parte dos fundos da casa “A Triunfante”, bem como os divertimentos “onda” e “curre” na extensão dos fundos do sobrado. Entre a cornija e o telhado do primeiro andar, havia um autofalante de comunicação da prefeitura “A Voz do Município”, acima da “Casa Atrativa”.

O “sobrado do meio da rua”, era o mais belo edifício de Santana do Ipanema. Foi demolido logo após a demolição do “prédio do meio da rua. Enquanto o prefeito demolia o primeiro, fazia uma pracinha no lugar do segundo, já demolido. Alegava o homem, que iria modernizar Santana. Após a demolição de ambos os prédios, o prefeito iniciou a troca do calçamento de pedras grandes por paralelepípedos da Avenida Coronel Lucena e todo o Comércio. Em seguida proibiu que carros de boi, circulasse pelo calçamento novo. Foi aí que os carreiros, usaram a criatividade: substituíram a roda de aro de ferro do carro de boi, por rodas de pneu. Esse tipo de transporte passou, então, a fazer parte da paisagem urbana de Santana do Ipanema.

O “SOBRADO DO MEIO DA RUA” COM SUA FACE SUL, VISTO DE LONGE, (FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO/LIVRO 230/ACERVO DO AUTOR).


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domingo, 29 de setembro de 2024

 

O MANÁ DE SEU CAROLA

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.118

 



Vou contar de novo. O senhor Cariolando Amaral, vulgo “Seu Carola) (ô), era um dos donos de farmácia em Santana do Ipanema. Galego alto, tipo alemão, sério e usuário permanente de gravata borboleta. Tinha sua farmácia no “prédio do meio da rua” e, por trás do balcão havia um busto de um negrão forte, lustroso envergando uma barra de aço, em propaganda do tônico “Fhipatosan”. Quando o “prédio do meio da rua” foi demolido, Seu Carola passou para um dos pontos comerciais sob o Hotel Central de Maria Sabão, entre a esquina e a Igreja Matriz de Senhora Santana. Naquela época ainda se vendia maná em farmácias. Naquela farmácia, o vidro do maná estava na prateleira mais alta. Entre o trabalho e o lazer, Seu Carola jogava gamão com seus parceiros, nas tardes de verão defronte o Bar do Tonho na sombra agradável do hotel.

Ah! cabra véi, ninguém escapa da malandragem dos gaiatos, nem mesmo Seu Carola. E foi assim que um grupo deles se combinou e teve início a “onda” como o galego. Chegou um rapaz e pediu, “Seu Carola, quero quinhentos réis de maná”. O homem pegou a escada e foi pegar o vidro na última prateleira. Guardou a escada e embrulhou o pouco do produto. O rapaz foi embora. Cinco minutos depois, um segundo rapaz: “Seu Carola, quero quinhentos réis de maná”. La vai Seu Carola repetir todo o ritual.  E sempre que o dono de farmácia guardava a escada, mais um e mais outro gaiato chegavam para comprar maná. Seu carola começou com desconfiança, enquanto na esquina do hotel os gaiatos se divertiam às gargalhadas.

O senhor Cariolando Amaral, quando trabalhou no “prédio do meio da rua”, foi nomeado delegado civil. Atuou, inclusive, nas preliminares do caso Floro Novais, em Olivença. Retirava do rosto toda a seriedade que possuía, para atuar nos blocos carnavalescos de Santana. Quando o saudoso prefeito Ulisses Silva demoliu o “prédio do meio da rua”, as imediações da farmácia, ficaram repletas de cacos de telhas e bainhas de facas tomadas dos matutos. E se o senhor Cariolando Amaral era sisudo dono de farmácia e delegado civil com gravatinha borboleta e tudo, foi machão para os bandidos, mas não conseguiu escapar da troça do maná.

O maná de seu Carola!

 

 

  


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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

 

RECORDAR PORQUE...

Clerisvaldo B, Chagas, 27 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.117



 

Meu pai ordenava cortar o cabelo. Eu não tinha direito de escolher o corte como os outros adolescentes que faziam o chamado meia-cabeleira a moda dos rapazes da época. Mas no meu caso a ordem era seca: “passar a máquina zero”. E passar a máquina zero significava cortar o cabelo estilo militar, recruta. Duas coisas me deixavam chateado. A primeira, enfrentar a máquina manual cega do barbeiro Nézio no “prédio do meio da rua”, vizinho do armazém de seu Marinho, depois Salão de Sinucas do José Galego, ex-jogador do Ipanema. A máquina puxava mais o cabelo do que cortava e era uma das torturas do momento. A segunda coisa era como arranjar namorada com aquele corte de cabelo militar ridículo! Ah... muito demorou para a minha libertação. Mas enfrentar dentistas era a outra tortura que apavorava adolescente e adultos.

Poucos se lembram de Nézio, personagem santanense e primeiro barbeiro que eu conheci na cidade. Tempos depois conheci os seus filhos Vavá Capoteiro que fazia sofá, capotas e outros objetos. Na época de adolescência estava em moda as camionetas cobertas, uma das fontes de trabalho para Vavá Capoteiro. E também o Dorival de Nézio que trabalhou muito em fiscalização de obras de rua, com o saudoso prefeito Paulo Ferreira. Até aí a máquina cega de Nézio ia sendo substituída por novas ferramentas nas barbearias e já não fazia medo nenhum à meninada. Vários objetos de barbearia tinham origem na Alemanha como a navalha “Solinger”, orgulho do barbeiro que a possuía. Não lembro mais se foi por demolição do homem ou pelo tempo que a parte do “prédio do meio da rua”, relativa a barbearia do Nézio foi tombada. Isso muito antes do prefeito Ulisses Silva fazer desaparecer o “prédio do meio da rua”, totalmente.

Acabo de sair da barbearia. Eita, desculpe. Barbearia agora é palavrão. Cabelereiro Fulano, cabeleireiro Beltrano... muitos deles recusam tirar barbas. Alegam as mais diferentes coisas, como dor nas costas. Ah! Mosquito com tosse. E quando se fala em meia cabeleira, diz o atual cabelereiro “Já ouvi falar”. E assim vamos acompanhando e usando a radical mudança dos tempos. Vá seguindo a propaganda, cabra véi: “Eu sou o mesmo, mas os meus cabelos... quanto diferença! “.

Pague logo o corte de cabelo entre 15,00 e 20,00 e vamos embora. Quem conversa muito é pai de moça.

BARBEARIA DE NÉZIO DESAPARECIDA NO “PRÉDIO DO MEIO DA RUA”, AO LADO DO VEÍCULO. (FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO/LIVRO 230/ACERVO DO AUTOR).

 

 

 

 

 


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quarta-feira, 25 de setembro de 2024

 

AS CUECAS DE LABIRINTO

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 116

 



Vou contar de novo com outra roupagem. Uma vez por ano uma turma de homens casados jovens e alguns rapazes, saiam para Pernambuco para pescaria no riacho do Navio. Isso se tornou tradição. A medida que o tempo passava novos elementos iam aderindo à viagem de lazer que durava, aproximadamente uma semana. A turma levava a feira total, acampava sob às craibeiras de um poço, armavam redes e inventavam mil divertimentos, chamados pelos participantes de “cachorrada”. Tinha muitas brincadeiras pesadas no meio. Entre eles, se entrosou o cidadão com mais de 60 anos, Sebastião Gonçalo, vulgo Sebastião Labirinto. Fumava muito, era sério ou fingia, mas gostava das cachorradas dos parceiros. Contava seus casos vantagens, mas não escondia as rebordosas.

Certa feita Sebastião estava palestrando defronte à loja de tecidos de meu pai, quando os amigos das “cachorradas” começaram a acuá-lo dizendo que “ele só tinha uma cueca”. Este cerco durou vários dias e, Sebastião Labirinto fazia que não estava ouvindo, mas intimamente, gostava da “cahorrada”, como já foi dito. Entretanto, não era somente os companheiros de pesca que mexiam com ele, mas também outros que procuravam agastá-lo, mas, Labirinto continuava fumando e rebatendo de outras maneiras. Um dia apertaram tanto: “Sebastião só tem uma cueca”, que Labirinto, saiu e foi até a sua casa onde ultimamente morou, na CONHAB velha. Pois não é que Sebastião Labirinto retornou com um pacote e o entregou a um dos zombadores dizendo: “Abra”.

Os cabras, pegos de surpresa, abriram o pacote. Estavam ali entre dez e doze cuecas brancas tipo samba-canção, moda da época. Os colegas ficaram pasmos, pois jamais esperariam uma atitude daquela.

Calmamente, disse labirinto: “É porque são todas brancas.

As brincadeiras não paravam entre eles e muitas vezes eram sobre fatos acontecidos nas pescarias do riacho do Navio.

Os enfrentantes das viagens foram adoecendo, morrendo, e a tradição teve fim em Santana do Ipanema.

Sebastião se foi também, muito feliz com as “cachorradas”. Depois do pacote, nunca mais ninguém duvidou das CUECAS DE LABIRINTO.


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segunda-feira, 23 de setembro de 2024

 

PRIMAVERA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 114

 



É, meus amigos e amigas, foi domingo, primeiro dia de primavera que fiquei eufórico por ter terminado o livro que estava escrevendo sobre o padre Cícero Romão Batista. Muitos percalços nesses 12 anos de pesquisas, inclusive o COVID. “Padre Cícero, 100 milagres Nordestinos”, agora foi para a segunda fase que é consultas a gráficas para orçamento. E com outras etapas, se Deus quiser, o livro será distribuído gratuitamente, primeiro entre os depoentes/testemunhos, depois aos romeiros que estiverem na Pedra do Padre Cícero no dia 20 de julho, em Dois Riachos, Alagoas. Grande romaria tradicional à Pedra pelo dia de morte do padre Cicero. Mas como ia falando, chegou a primavera trazendo esperanças para o nosso hemisfério e para todas as nossas almas.

O sertão, nesse primeiro dia da estação, amanheceu, nublado, úmido e ainda com as últimas friezas do inverno que se foi. As árvores da caatinga estão floridas se preparando para o Natal, a exemplo da belíssima craibeira de flores amarelas. Pela intensa arborização dos quintais de Santana, vamos notando a mudança do tempo com flores e frutos de época. Mesmo na arborização das ruas, diversas árvores como a Acácia, o Pau-Brasil... Vão soltando seus pequenos frutos que atapetam o chão. Os montes que circundam a cidade, convidam para um domingueiro passeio familiar. E pelas ruas da cidade, pelos sítios, pelos povoados, o ritmo febril de campanhas políticas, parece nem ligar muito para a Natureza. Mas a primavera avança acenando para o mundo.

Infelizmente, o rio Ipanema continua poluído, pelo próprio povo inconsciente. E como foi dito acima, faz parte de belas paisagens genuinamente sertanejas. Mesmo cheio de descartes dos poluidores, suas areias mostram muito o verde, formando um belo jardim entre os pedregulhos, bolsões de lixo, poços afogados e pedras lisas. E os jardins primaveris que se formam no trajeto do leito sem água, igualam-se a quaisquer outros belos jardins, mas também depende dos olhares do observador.

Pensamento positivo, leitoras e leitores para contribuirmos com uma PRIMAVERA verdadeira na faxina dos mundos e baseada no coração magnânimo do Grande Arquiteto do Universo.

IGREJA AO PADRE CÍCERO. LAJEIRO GRANDE (B. CHAGAS/ACERVO DO AUTOR).

 


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domingo, 22 de setembro de 2024

 

O HOMEM TEIÚ

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.113



 

O lagarto Tiú, Teiú ou Tejo, é muito inteligente, quase sempre ganha as brigas com as cobras e, sua carne com sabor galinha, é muito apreciada pelo sertanejo. Gosta de tomar o Sol da manhã esparramado nos lajeiros. Numa briga com a cobra, ao se sentir picado, abandona rapidamente a luta, vai morder uma batata contraveneno e retorna ao embate. O Tupinambís, assim como o Cágado ou Jabuti, já foram muito caçados e vendidos, principalmente para os farristas dos anos 60 em Santana do Ipanema. Com a caça proibida volta o fôlego a esses importantes animais da fauna nordestina.

Em Santana do Ipanema, entre os fundos das casas comerciais e o rio Ipanema, morava a família dos Biu. Pobre e amundiçada viviam principalmente de esgotar fossas e realizar os serviços mais sujos da “Matança”, assim chamado o lugar aberto de abate de bovinos. Diziam que comiam de tudo, cães, gatos e vísceras de animais. Dormiam em amontoados e os parceiros sexuais pertenciam a mesma família, pai com filha, mãe com filho e assim por diante. Isso são histórias contadas pelo povo. Entre os Biu, surgiu a figura carismático de um caçador de Tiú. Homem esmolambado, aparentando 60 anos, tinha as feições agradáveis e de aspecto permanentemente alegre. Era sempre visto entre o Beco São Sebastião (Comércio) e o Mercado de Carne. Usava um bornal velho sebento, tipo aió, onde guardava a caça e procurava comprador. Por onde o homem passava, chovia alegria no povo e vinha cumprimentos por todos os ângulos: “Teiú, Teiú, fala Tiú! Tudo bom, Tiú?”...

Nunca vi uma figura tão popular e querida igual ao caçador Tiú! Quantos e quantos políticos gostariam de possuir aquele carisma do homem esmolambado e paupérrimo que emergia e submergia no Beco São Sebastião! Gradativamente a família Biu desapareceu da terra santanense, provavelmente pelas condições contínuas da miserabilidade, sem médico, sem farmácia, sem dinheiro, sem a misericórdia dos grandes da cidade.  Assim, nem a força simples e carismática de Tiú, foi capaz de despertar solidariedade.

O Beco São Sebastião é repleto de histórias sertanejas.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

 

PRINCÍPIOS DA GEOGRAFIA

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Cônica: 3.112

 



Caso você seja um admirador da Geografia, ama pesquisar sozinho ou em grupo, sem muito compromisso, acostume-se a anotar suas observações que podem ser importantes para outrem. Mas veja que se você observar os princípios desta Ciência, ficará mais fácil alcançar o que procura. Os Princípios da Geografia, isto é, as Leis dessa Ciência fortificarão suas pesquisas. São cinco: Extensão, Analogia ou da Geografia Geral, Causalidade, Atividade e Conexidade.

Extensão – O geógrafo localiza, delimitando em um mapa, a paisagem ou o fato geográfico que deseja estudar.

Analogia ou da Geografia Geral – O geógrafo compara as características da área estudada com as de outras regiões da terra, estabelecendo semelhanças e diferenças existentes.

Causalidade – O geógrafo explica a origem e a evolução das paisagens por ele estudadas.

Atividade – O geógrafo encara a paisagem, em caráter dinâmico, admitindo que ela está em constante mutação.

Conexidade – O geógrafo focaliza o fato estudado, observando as suas conexões com outros fatos e não com fato isolado.

Os autores destes princípios, foram Frederico Ratzel (extensão); Karl Ritter e Vidal de La Blache (Analogia); Alexandre de Humbolt (Causalidade); Jean Brunhes (Atividade, Conexidade). Todos franceses menos Humbolt.

Entretanto, suas pesquisas, individuais, podem alterar a ordem dos princípios, de acordo com seus métodos e sua facilidade de compreensão, contanto que as leis sejam aplicadas, para mais segurança e credibilidade.

Estamos fora das atividades geográfica, porém, surgiu um caso a ser estudado e compreendido no sítio serrano Camoxinga dos Teodósio, em Santana do Ipanema. Ninguém sabe explicar com precisão o que aconteceu. Pelo jeito trata-se de afundamento de terra, surgimento de fontes ou coisas assim. Estamos aguardando uma criatura interessada no fenômeno para nos guiar até ali, onde dizem que o local estar sendo usado com balneário. Só vendo a coisa para estudar o comportamento da Natureza.

Estamos à disposição.

 

PEDRA DOS BEXIGUENTOS NO RIO IPANEMA (LIVRO 230/B. CHAGAS).

 

 


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quarta-feira, 18 de setembro de 2024

 

SERTÃO/HISTÓRIA

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.111

 



Vê-se na foto abaixo, uma cena do sertão nordestino, provavelmente de início dos anos 60. Trata-se da feira livre de Santana do Ipanema, Alagoas, em dia de sábado. O lugar é da maior concentração da feira, mas com certo espaço para o trânsito dos veículos rurais da época, o carro de boi. Era ele quem trazia os produtos do campo para à venda na cidade e vice-versa, notadamente mercadorias mais pesadas que não davam para transporte em caçuás de jumentos, burros e éguas. O grosso desse aglomerado é no Largo da Feira, onde se encontra até hoje o Mercado de Carne e a grande algodoeira que comprava todo o algodão produzido na região, separava o caroço do capulho, vendia o primeiro para o gado leiteiro regional e exportava o capulho em forma de fardos.

A foto histórica de domínio público, mostra ao fundo a serra do Poço, altitude que divide os municípios entre Santana e Poço das Trincheiras. Na parte direita da foto, parte da Algodoeira do saudoso industrial Domício Silva. Na parte esquerda, pedaço do prédio da Mercado de Carne, mercearia destaque entre os outros prédio e beco do Mercado, (não visível) entre o Mercado e a mercearia. O restante são as variadíssimas situações momentânea dos feirantes. Naqueles momentos dezenas e dezenas de carros de boi, aguardavam mercadorias no leito seco do rio Ipanema, ponto principal de estacionamento e espera.

São essas fotos antigas, tiradas por profissionais da época ou por algum curioso amador. O certo é que elas nos ajudam aqui, acolá, a recompor partes da história do Sertão e, particularmente, de Santana do Ipanema. Toda movimentação feireira estar baseada na pecuária e na agricultura com os produtos, feijão, milho e algodão. Esta, a planta industrial que gerava riqueza. E como vivemos esses grandes momentos sertanejos, você pode avaliar se bate ou não a saudade!

PARCIAL DA FEIRA DE SANTANA ANOS 60 (FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO/ ACERVO DO AUTOR).

 

 


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terça-feira, 17 de setembro de 2024

 

 

CURRAL DO MEIO NOVO BAIRRO

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de setembro de 2024

                                 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 110

 



 No município de Santana do Ipanema, existem dois sítios rurais com o nome de Curral do Meio. Um mais distante do centro, outro nas imediações da cidade. Portanto, Curral do Meio I (mais perto) Curral do Meio II (mais longe). Pois bem, No Curral do Meio I, foi implantada uma estação agrícola experimental que revolucionou a agricultura sertaneja no ano de 1925. Então, a região do sítio Curral do Meio II, também passou a ser chamado pelo povo de Sementeira. Nos últimos anos, dizem que a Sementeira do governo passou a ser um Reserva Biológica, mas todos seus arredores ainda são denominados Sementeira ou Curral do Meio. Vale salientar que antes de se chegar ao Curral do Meio I, tínhamos que passar por outro sítio rural chamado Cipó.

Pois bem, a expansão Leste da cidade, engoliu o sítio rural Cipó, lugar que perdeu a referência e o nome. Poucos lembram que ali era chamado Cipó. Agora, a expansão urbana avanço pelo antigo Cipó e está aos poucos se ligando ao sítio Curral do Meio I que têm muitas residências. Curral do Meio I ou Sementeira, já está ligado à cidade por calçamento de paralelepípedos. Apenas um vazio de cerca de 500 metros separa as últimas casas da urbe com o Curral do Meio/Sementeira. Podemos dizer que, como previmos o engolimento do sítio Cipo, com muita antecedência, Prefirimos chamar, não oficialmente já, o sítio rural Curral do Meio/Sementeira de bairro. O mais novo bairro de Santana. Pedimos apenas ao futuro prefeito que ao oficializar o lugar como bairro, conserve esse belo nome tradicional de Bairro Curral do Meio.

No momento não temos nenhuma outra ameaça de partes extremas da cidade deglutir sítios rurais. Pelo menos por alguns anos, está tudo estabilizado. Porém, daqui para 10 anos à frente, o sítio Riacho do Bode poderá estar ocupado. Aguardemos o impacto urbano para melhor análise após a ligação da AL-120 com a BR-316 contornando a cidade e passando nas faldas da serra Aguda, onde ficará a estátua de Senhora Santana. O roteiro para evitar carros pesados entrando pela cidade, poderá fazer efeito contrário com a própria cidade se expandido pelos novos trechos. Aí ficaria tudo no mesmo.

Aguardemos,  pois.

CENTRO DE SANTANA (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 


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segunda-feira, 16 de setembro de 2024

 

CARNAVAL HISTÓRICO E INUSITADO

Clerisvaldo B. Chagas 17 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.109

 



O escritor santanense Oscar Silva cita nomes de alguns blocos carnavalescos das décadas 1920-30. Mas nos anos 60 os blocos já não eram os mesmos da época do saudoso escritor.  Alguns se tornaram tradicionais, outros tiveram pouca duração. Entre os gerais estavam os “Negras da Costa”, o “Bacalhau”, “os Cangaceiros”, as “Volantes”, os “piratas” e o mais longevo o “ Urso Preto”. Este é o que nos interessa. Alcançamos o bloco do “Urso Preto” no comando de Seu   Carola (ô), dono de farmácia – o galego seríssimo com pinta de alemão e eterna gravata borboleta. Era ele quem guiava o urso preto acorrentado em companhia de brincantes e conjunto musical com   sanfona, pandeiro e outros instrumentos simples. Depois de Carola, o comando do bloco e do urso passou a ser do cidadão Chico Paes.

Somos avessos às palavras de baixo calão, vulgares e chulas, porém, as duas narrativas abaixo tiradas dos carnavais de Santana no obriga. O malandro Zé Nogueira fazia o papel do urso de seu Carola. Fantasia pesada e quente, o urso, seu domador e amigos entravam de casa em casa, comendo, bebendo e dançando. Zé Nogueira teve um desarranjo intestinal violento. Disse para seu domador: “Seu Carola, urso quer cagar! E o seu domador: “Vai para lá, urso... Urso na caga. E depois de várias tentativas de se libertar da corrente e da fantasia, não teve jeito. A catinga medonha tomou conta do bloco. O urso preto se desmanchava em merda. E se a mente não engana, esse foi o último Carnaval de Seu Carola.

Já mais adiante, o mecânico Josinho, sobrinho do Chico Paes, estava dentro da fantasia do uso preto. Ao passar pelo famoso Largo do Maracanã, seus acompanhantes ainda cantavam:

 

 E como foi

E como é,

O urso preto

Vem da arca de Noé...

 

Um espectador abusado que estava bebendo num bar, gritou a pleno pulmões: “Vamos comer o c. do urso!!!

Nesse grito de guerra, o urso preto, Josinho, rasgou a fantasia, puxou uma lapa de faca de umas dez polegadas, riscou a lâmina no chão de pedra, fazendo voar faísca para todos os lados e gritou de volta:

“Pois venha comer o c. do urso, rebanho de peste!”.

Foi um corre-corre geral e o tarado perdeu o tesão na hora.

URSO PRETO SIMILAR AO SANTANENSE.

 


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domingo, 15 de setembro de 2024

 

O CHARQUE E O TEMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.108

 



Você gosta de uma boa feijoada nordestina? Sem charque não presta. O que é charque?  É a carne de boi, curtida no sal abundante durante vários dias. Dizem que o método de transformar carne fresca em charque foi ensinado pelos indígenas quíchuas da América do Sul. Já em 1780 o Rio Grande do Sul fazia seu primeiro lote de charque. Isso permitia uma exportação sem arruinar o produto que seria perecível. Até a metade do segundo quarto do Século XX, o charque – chamado em outros lugares de carne seca e jabá – era comida de pobre e trabalhador de roça do alugado. Inclusive, em um dos nossos romances do ciclo do cangaço, FAZENDA LAJEADO, retirantes da seca trabalhando na Fazenda Lajeado, alimentavam-se de feijão com charque. Retrato histórico da época.

Em Santana do Ipanema, comprávamos charque de primeira qualidade e bacalhau – que também era comida de pobre – no armazém de Seu Marinho, o maior da cidade. O charque dos tempos dos trabalhadores braçais da zona rural, continua resistindo ao tempo, sofisticou-se no preço e passou a ser alcançado somente pelo rico. O balcão do armazém de Seu Marinho que ficava no “prédio do meio da rua”, defronte à Casa Ideal, sapataria de luxo de Seu Marinheiro Amaral, era lotado de charque e bacalhau. O freguês, hoje cliente, mesmo indo comprar outra coisa, beliscava no charque ou o no bacalhau arrancando filepas e degustando. Valia à pena. E o sistema de se fazer feijoada era com feijão normal, com muitos ingredientes, porém, a cereja do bolo era o charque.

Esse negócio de feijão preto, não era coisa da nossa região. Havia pessoas especializadas contratadas unicamente para elaborar uma feijoada para muita gente. Não se colocava tanta coisa para não tornar a comida mais pesadona do que um porco. Tudo na medida certa, como os profissionais faziam, homens ou mulheres. E quando havia festa com feijoada, quase sempre esse tipo de almoço era servido em pratos de barro, comprados na feira livre às paneleiras do povoado Alto do Tamanduá – Poço das Trincheiras – ou do sítio vizinho e santanense, Baixa do Tamanduá. Conhecemos o comerciante Pedro, como o último de Santana a vender charque de primeira qualidade. Nem sabemos se ainda existe isso em Santana para se comprar.

Viva a feijoada, patrimônio sertanejo nordestino!

Mas... Com bastante charque.

 

 

 


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quinta-feira, 12 de setembro de 2024

 

NO GINÁSIO SANTANA

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.107

 



Em Santana do Ipanema, o prefeito Joaquim Ferreira, construiu com o governo estadual o Grupo Escolar Padre Francisco Correia e também a estrutura física para um hospital. Usou bastante mão-de-obra- indígena dos Carnijós de Águas Belas. Entretanto, o enorme prédio para hospital, ficou ocioso por falta de pessoal e equipamento. Mais tarde o prédio ocioso foi ocupado por um batalhão de polícia formado para combater o cangaceirismo no Nordeste. Quando o batalhão foi embora o prédio ficou novamente ocioso. Então, passou a ser usado para abrigar uma unidade escolar da Rede Cenecista em Alagoas. Foi, então, fundado o Ginásio Santana que foi inaugurado em 1950. Com seus idealizadores à frente: Padre Bulhões, coronel Lucena, padre Teófanes e outros mais o estabelecimento de Ensino passou a funcionar da quinta a oitava série.

O Ginásio Santana funcionava devido pagamento e, seus professores eram pessoas que se destacavam na sociedade pelo seu saber, gratuitamente ou com pequenas gratificações. Era um bancário, um contador, um padre, um comerciante, um médico e assim por diante, tudo a título de colaboração. Das décadas de 60-70, lembramos como alunos de algumas características de alguns professores: O professor de História Conrado Lima, nunca deixava de falar em Rocha Pombo; o professor de História e Matemática, Ernande Brandão, era “E assim sucessivamente... “, “a ordem dos fatores não altera o produto”; a professora de Desenho dona Déa, quando se dizia que não estava entendendo: “Tenho tanta pena do senhor...”: José Pinto Araújo, professor de Geografia: “A Ponta Seixas, no cabo Branco na Paraíba”; Genival Copinho, professor de Matemática: “O crivo de Erastóstenes”; A professora de Francês, Maria Eunice: “biquinho: oui, Mademoiselle”; padre Luiz Cirilo, professor de Latim: “Puela, puela, puela...;  Neco professor de Matemática: Cai fora, deputado!;  Doutor Jório, professor de Ciência: “Quantos corações nós temos? – Dois, doutor Jório, um meu outro do senhor; Alberto Agra, professor de Geografia: “O sujeito só quer seus direitos, compreendeu? Esquece dos seus deveres”; Branco, professor de Inglês: “Nos Estados Unidos é assim, na Inglaterra é assim”.

O silêncio medroso acontecia nas aulas de Dr. Jório, dona Isinha, Seu Alberto.


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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

 

AS PEDRAS E OS SAPOS

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 106

 



Na década de 60, quando o rio Ipanema botava cheia, nós, os adolescentes, com o rio sempre às vistas, marcávamos a intensidade dessas cheias de acordo com uma pedrada margem direita do rio, logo abaixo das olarias. A pedra tinha o formato de um anfíbio, daí a denominarmos “Pedra do Sapo”.  Se a cheia não chegava até lá, era pequena; se as águas chegavam até a sua base, seria uma cheia média e, se as águas chegassem quase a cobrir a pedra do Sapo ou mesmo a cobrir, seria uma cheia respeitavelmente grande. Tudo indica que foi na década de 80, quando o mangaieiro Zé Preto – que morava nas imediações da Rua São Paulo – por motivo de promessa, ergueu um oratório no topo da pedra e fez um acesso de alvenaria. Pronto, estava acabada a nossa tradição.

Mas, tempos depois, no sítio Barriguda, às margens da AL-220, um funcionário aposentado e artista amador, tendo adquirido uma chácara por ali, notou uma pedra em forma de sapo e usou a sua imaginação: Pintou o animal aproveitando as suas formas. A pintura do artista passou a ser uma grande atração turística. Muitas paradas de viajantes para uma fotografia tirada do pé da cerca de arame farpado. Até invasor subia na pedra para exibir fotografia como troféu. Assim encontramos outros artesãos que aproveitam pedras e árvores da caatinga com formato bruto de bichos.  Pintam a forma ou terminam o trabalho da natureza ao dá acabamento. Mas somente essas pessoas dotadas percebem essas formas de imediato porque a arte já está dentro da sua cabeça. Os olhos estão aguçados.

Tempos depois do oratório com escadaria na pedra do Sapo do rio Ipanema, os vândalos destruíram quase tudo, deixando apenas a escada de alvenaria. Nem chegamos a ver o santo da devoção de Zé Preto. Quanto ao sapo do sítio Barriguda, sempre estava sendo atualizado com pintura. Não sabemos, porém, se a manutenção continuou após a morte do proprietário da chácara. Mesmo assim, o “sapo” da Barriguda foi parar em nosso livro, ainda inédito: “Repensando a Geografia de Alagoas”, fotografado em 2016. (Ver abaixo). Quem marca agora as intensidades das cheias do rio Ipanema, não é mais a pedra do Sapo, pois, a modernidade aciona o Corpo de Bombeiros, cuja sede se encontra no Bairro São José.

Ô meu Sertão curioso!

 


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terça-feira, 10 de setembro de 2024

 

A MORTE DA RODOVIÁRIA

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.105

 



Após muita luta da sociedade santanense, foi construída e inaugurada a Estação Rodoviária de Santana do Ipanema, em 13 de março de 1976; era uma das grandes conquistas da “Rainha do Sertão”. O local, muito agradável que até de mirante servia, ali na Avenida Dr. Otávio Cabral, no Bairro Monumento. Os ônibus que circulavam na linha Santana/Capital e vice-versa, finalmente puderam através da nova rodoviária, melhorar conforto, segurança e organização no transporte intermunicipal. Mas, como as reinvindicações demoraram muito a chegar, a Estação Rodoviária, quase não pega mais ônibus nenhum, pois começara a decadência dos grandes carros de transporte e a modalidade VAN, começa a tomar conta de todo o Brasil e o estado de Alagoas.

A estação, abandonada pelo estado e sem o grito municipal, entrou em ruínas. Tudo se foi acabando aos poucos: cadeiras de passageiros, bancos de bagagens, tento desgastado, fios pendurados, árvores da frente entregues à própria sorte. Ficou apenas um pequeno pega-bebo de cunho particular. Mais tarde, nem vaso sanitário, nem letreiro na fachada, nem energia no letreiro, nem vidro protetor. A marginalidade começou a rondar o prédio. Um ou dois ônibus perdidos no Sertão não encontraram mais apoio e, as VANS, estacionadas por tempo mínimo passou a utilizar a sombra maltratada das árvores defronte ou o meio da rua como ponto. Quem se aventura andar ainda por ali, é com “um olho no gato, outro no prato”, isto é, um olho no solo o outro no teto com medo do desabamento.

Até quando a Estação Rodoviária de Santana do Ipanema vai permanecer se diluindo até a última pá de cal? Estamos ainda aguardando, talvez sem esperanças, uma reforma boa, valorosa onde os novos veículos possam atender as básicas necessidades de condutores e passageiros que pagam seus impostos e precisam manter a dignidade em trânsito. Poderia indagar novamente quando é que o povo santanense será respeitado? Não se admite mais ali no bairro Monumento, área nobre da cidade, um monstrengo assombrando passageiros desinformados, inseguros e receosos. Venha senhor, governador, se servir da Rodoviária que se encontra em suas mãos. Como o senhor faria numa dor de barriga braba na hora de uma visita à estação?

RODOVIÁRIA EM 2013 (FOTO: LIVRO 230/ B. CHAGAS).

 

 


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segunda-feira, 9 de setembro de 2024

 

JUAZEIRO/AMOR COM ESPINHO

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.104

 




Sim, o juazeiro é mesmo a árvore símbolo do Nordeste, mas existem várias outras representantes. Pode crescer entre 4 a 5 metros e é mais conhecida por causa da sua resistência às secas. Pode-se escovar os dentes com a rapa do seu tronco e suas folhas são consideradas medicinais. Os seus frutos são pequenos, amarelos e arredondados. O homem pode comê-los em pouca quantidade. É adocicado e bastante apreciados pelos caprinos. Dizem, porém que o vegetal é abortivo. O juazeiro está sempre verde e no verão é convite para um bom cochilo na sua sombra. Aconselhamos, no caso, dá uma varrida primeiro por causa de fezes de animais e de pequenas galhas que se quebram e caem com o vento. Os galhos têm espinhos terríveis e não caem individualmente, mas sempre em fileiras de quatro ou cinco.

O espinho do Juazeiro é comprido, marrom, roliço, duro, pontiagudo e torneado. Penetra firme pelo calçado mole de borracha e provoca uma dor terrível e grossa. O Juazeiro (Ziziphus joazeiro), coopera com sua madeira para fabricação de móveis, barcos, artesanatos, peças finas e muitas outras utilidades. Nunca vimos, porém, alguém derrubando Juazeiro no Sertão onde todos procuram preservá-lo. Entre os poucos pássaros que procuram nele um bom abrigo, está a rolinha que, em casal, gosta de cantar bastante entre a sua folhagem. Terreno varrido, uma boa esteira, deve ser delícia gozar esse cochilo na sombra em pleno verão. O Juazeiro gosta de gemer, atritando seus galhos com o vento, o que bota para correr qualquer desavisado.

Em nosso romance DEUSES DE MANDACARU, existe uma cena em que um personagem fugitivo, depara-se com os gemidos de um juazeiro, ao descer da serra do Gugi altas horas da noite. Pois, o Ziziphus é assim mesmo, cheio de surpresas nos exemplos da sua resistência no mundo rural nordestino. Luiz Gonzaga foi muito feliz quando cantou e imortalizou o Juazeiro, inspirador do nome da cidade do padre Cícero no Ceará e da pujante urbe da Bahia.  Porém, bonito mesmo é você que não o conhece e o arrodeia ao vivo, curioso e com seu caderninho de anotações. E por falar nisso, a região da Bacia Leiteira Alagoana é pródiga na espécie, cuja figura se acha semeada pelas terras férteis e onduladas de um Sertão rico e agrestado.

Em Santana do Ipanema existe o poço do Juá, na parte mais larga do trecho urbano do rio Ipanema.

JUÁ E JUAZEIRO.

 


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