domingo, 28 de fevereiro de 2010

VULCÕES E TERREMOTOS

VULCÕES E TERREMOTOS

(Clerisvaldo B. Chagas. 1.3.2010)

Ultimamente as notícias mundiais sobre terremotos e vulcões tornaram-se frequentes e arrepiantes. O nosso planeta tem suas terras divididas no interior como se fosse um quebra-cabeça. Estamos vivendo em cima desses pedaços gigantescos que flutuam num mar de lama incandescente, chamados placas tectônicas (descobertas pelos nossos verdadeiros herois cientistas). Os países estão localizados em cima dessas placas. Aquelas nações que ficam sobre os limites, isto é, entre uma placa e outra, correm riscos permanentes dos chamados abalos sísmicos. Os abalos sísmicos, de variadas intensidades, ocorrem basicamente em três situações: Quando duas placas em movimento se resvalam; quando duas placas em movimento se afastam; quando uma placa mergulha por baixo da outra. Os efeitos sempre são catastróficos. Mas existem outras formas de abalos.
Quanto aos vulcões, aparecem inúmeros espalhados pelo mundo. Os vulcões funcionam como válvulas de escape das pressões interiores. Imagine uma panela de pressão que durante a fervura deixa escapar o vapor pela válvula apropriada; caso contrário a panela poderia explodir como uma bomba comum. Assim, quando a pressão está insuportável no interior da Terra, o magma ─ matéria incandescente desse interior ─ sobe para a superfície por um caminho denominado chaminé. O vulcão pode se apresentar de várias formas, porém, a mais conhecida e bela é a forma de cone. O vulcão destroi e constroi a superfície da Terra onde atua. O problema é que as populações moram perto da ameaça e não se mudam para distante. Isso em nada difere dos ribeirinhos que constroem suas casas às margens do rio e até mesmo no seu leito seco, na esperança de que esse rio nunca virá com uma grande cheia. Olhando, porém, pela parte natural, é bom e desejável que existam os vulcões, alívio do interior terrestre. Dos chamados vulcões, uns são extintos, outros estão em atividades permanentes, outros ainda, entram em erupção quando menos se espera. A maior concentração deles acontece no Oceano Pacífico, quando seguem as bordas das placas tectônicas. Essa concentração já foi denominada “Círculo do Fogo do Pacífico”. Alguns vulcões tornaram-se famosos em diversas regiões do Planeta. Talvez, porém, nenhum tenha alcançado a notoriedade do Vesúvio, localizado na Itália e que no ano 79 arrasou as cidades de Pompéia e Herculano. Até mesmo o saudoso Nelson Gonçalves ─ um dos maiores cantores do mundo ─ falava desse monte. Dizia o intérprete, falando da sua imensa paixão, que o seu peito, seu interior estava em chamas: “(...) Vesúvio de lavas colossais (...)”
Lamentamos profundamente as tragédias das placas acontecidas há pouco no Haiti e agora no país chileno. Os jornais falam em centenas de mortos que vão se somando às vítimas de acontecimentos semelhantes nos mais diferentes lugares. E mesmo sem domínio nenhum sobre essas forças da Natureza, o homem continua estudando exaustivamente VULCÕES E TERREMOTOS.






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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

FALANDO GREGO

FALANDO GREGO

(Clerisvaldo B. Chagas. 26.2. 2010)
BLOG DO AUTOR: http://clerisvaldobchagas.blogspot.com

É preciso muito respeito quando se fala sobre a Grécia, nação que muito contribuiu com a civilização ocidental. A Grécia faz parte da Europa, sendo banhada pelos mares Egeu, Jônico e Mediterrâneo. Sua Geografia é complicada porque parte das suas terras faz parte do continente, enquanto a outra parte se fraciona em inúmeras ilhas espalhadas pelos mares acima. Sendo seu território seco e rochoso e com apenas 28% de terras aráveis, aquele país partiu, então, para a sobrevivência através do mar. Assim desenvolveu a atividade pesqueira, a arte da navegação e o fabrico de navios que aluga ao mundo. Tendo como capital Atenas, a Grécia possui uma longa lista de benefício à humanidade que aqui se torna impossível enumerá-la. Seu estudo é obrigatório nos cursos Fundamental, Médio e Universitário. Nada saber da Grécia, é nada saber do mundo. Ela é considerada o berço da Democracia, da filosofia ocidental, dos jogos Olímpicos e ainda da Literatura Ocidental, da Historiografia e da ciência política. Foi lá que nasceram também a Geografia e ramos notáveis dessa ciência, bem como os mais importantes princípios matemáticos. Os livros estão repletos de nomes imortais na Filosofia, na Matemática, no teatro, na fábula, no militarismo... Nas Artes. Analisando de frente, cada ilha da Grécia tem alguma coisa a contar para outros povos. Como exemplos tem a ilha de Rhodes, lugar do célebre Colosso, estátua gigante destruída por um terremoto; a ilha de Lesbos, de onde se originou a palavra lésbica com o sentido de hoje; a cidade de Olímpia que inventou as Olimpíadas e assim por diante. Quem nunca estudou Platão, Sócrates, Homero, Erastóstenes, Diógenes e assim em diante.
Mesmo tendo contribuído tanto com a humanidade, a Grécia até há pouco tempo era um país não desenvolvido, assim como Portugal, Espanha e mesmo a Itália, o primeiro dos quatro a alcançar o desenvolvimento. Os gregos tiveram muito trabalho, bem como Portugal e Espanha para fazerem parte da União Europeia. Uma vez aceito, foi preciso carrear muita verba para tirar o país do nível em que se encontrava. Hoje a Grécia é considerada uma nação desenvolvida, porém, no momento está atolada em dívidas, cujos empréstimos coincidiram com a crise mundial. Sem encontrar soluções mágicas, o governo põe a mão à cabeça sem saber o que fazer para pagar o que deve e sair da situação desesperadora que sempre acaba em descontentamento popular. A União Europeia também fica na dúvida de como agir em socorro de um dos seus membros. Com a crise presente que não quer largar a Europa, a falência da Grécia pode ser um precedente perigoso que ameaça o continente rico. Os mãos-de-vaca, como a Alemanha ─ carro-chefe da Economia regional ─ olha com pena as notas novinhas que forçosamente enviarão. Espanha, Portugal, Itália, ficam de barba de molho que a coisa não está boa não, senhor. O povo sai às ruas de Atenas para protestar e brigar com a polícia que tenta resolver a crise no cacete. Não é pequeno o perigo de outras nações também ficarem FALANDO GREGO.


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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A ONU SE DEBATE

A ONU SE DEBATE

(Clerisvaldo B. Chagas. 25.2.2010)

Enquanto o pai de família trata todos os filhos por igual, é um bom pai. Quando sua atenção volta-se apenas para a minoria, a sua função de dirigente está comprometida.
A OEA foi criada após a Segunda Grande Guerra, para minorar as tensões e evitar conflitos. Afinal de contas, os homens são apontados como negros, brancos e amarelos e não simplesmente como homens, criaturas de Deus, filhos de um mesmo criador. Se existe desentendimento entre os mesmos matizes, quanto mais em cores diferentes. Além desses desencontros gerais, existem milhares de outros que nem caberiam em lista longa e caprichada. E se os desvelos iniciam dentro de casa, imaginemos os olhares enviesados das nações. É muito mais fácil haver confrontos entre os povos do que se imagina. Basta citar um dos inúmeros embates desde o início da civilização: a força romana invadindo o norte da África. Seus ataques a Cartago seguiam carregados de inveja pela prosperidade daquele povo africano. Foi ali que as mulheres cartaginesas cortaram suas tranças para transformá-las em cordas de arcos guerreiros. Atualmente a Índia já advertiu ao Brasil que são parceiros como emergentes, mas que ela continua na concorrência. Recentemente o Brasil ganhou na OMC, o caso do algodão com os Estados Unidos. Assim, as divergências entre homens e nações continuarão até o fim dos tempos, segundo anunciou a mãe do Cristo.
A ONU – Organização das Nações Unidas, procura administrar o globo com a mesma estrutura dos tempos da criação. Na teoria, foi feita para todos, na prática é para atender aos interesses dos que fazem o Conselho Permanente como Estados Unidos, Rússia, China, França... Sobretudo aos do primeiro. Mas ninguém fala nada. Foi preciso que o presidente Lula dissesse a verdade lá no México. Verdade essa que dirigente nenhum teve coragem de dizer. O representante brasileiro foi bastante corajoso no seu pronunciamento. Há muito falávamos sobre esse vício e covardia da ONU, mas as nossas palavras nem sequer chegam por lá. São muitos os ilustres do mundo. Mesmo quando dizíamos que a ordem mundial (que os livros de Geografia e História chamam de Nova Ordem Mundial) está superada. Uma ordem mais recente está surgindo e mostrou a sua face definitiva com as reuniões do G20. Dissemos também em crônica sobre o decreto de morte do G8, nessa revolução que só os desatentos não percebem.
O presidente Lula falou bonito e grosso. Muito proveitoso também seus pronunciamentos no México ao lado de Felipe Calderón. Ou a ONU amplia o seu Conselho Permanente com sangue novo ou tudo estará perdido. Depois de Lula, outros líderes mundiais ganharão coragem e falarão palavras semelhantes. Segundo o sertanejo, por onde passa um boi passa uma boiada. Por enquanto, um touro peitou o aramado carcomido. Os grandes escorregam, os emergentes fungam e A ONU SE DEBATE.





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terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A DANÇA DAS AMÉRICAS

A DANÇA DAS AMÉRICAS

(Clerisvaldo B. Chagas. 24.2.2010)

A imprensa brasileira, pelo menos, não nos pareceu interessada sobre a reunião de Cancún. Nesse balneário do caribe mexicano, estiveram presentes 25 chefes de estados latinos e caribenhos. Visando integrar as duas regiões, América Latina e Central, a chamada cúpula do grupo do Rio parecia discreta. Como os escândalos sempre estão em lugar de evidência, breve discussão entre Chávez e Uribe ganhou os jornais do mundo inteiro. Todos os objetivos simples e profundos, vão por terra perante a velha prática chavista de provocar. Isso lembra a família que reúne seus membros para uma confraternização e briga na hora da merenda. Querer os países, do México ao Chile, sem a presença dos Estados Unidos e seu apêndice o Canadá, não é tarefa muito fácil. Acostumados a mandar e a desmandar abaixo das suas fronteiras, os Estados Unidos não vão querer largar o suculento pernil. Como latinos do Sul e caribenhos sempre foram desunidos, não enxergamos em médio prazo essa independência sem estrutura interna regional.
Quanto ao caso das Malvinas, louvável foi a decisão unânime de apoio a Argentina. Entretanto, Os Estados Unidos, mesmo com a decisão da cúpula do grupo do Rio, jamais deixarão de apoiar a Inglaterra, sua sombra desde a Segunda Guerra Mundial. Foram os americanos que deram apoio logístico ao país europeu contra a nação do seu continente. E voltando ao assunto primordial da integração, é possível porque tudo no mundo é possível, mas não com o povo oprimido nas ditaduras disfarçadas de alguns chefes regionalistas. A tradição do caudilhismo ainda é resistente nos países menos desenvolvidos que integram o Hemisfério Sul. Esse negócio de esquerda e direita parece marcha de soldado em parada militar; representa a roupa cafona de certa apresentadora de televisão da Globo. Não faz mais sucesso. O que continua mesmo em cartaz é a sede de poder. A imitação barata e empinada do Imperador Pedro I.
Na América Latina, com toda razão, Álvaro Uribe deixou as nações vizinhas arrepiadas quando permitiu a instalação de bases americanas em seu território. Todos conhecem a insaciabilidade do Tio Sam. Entretanto isso não é motivo de provocações para nações que se dizem irmanadas no destino de ex-colônias. O fracassado e insano presidente da Venezuela tem o parafuso frouxo característico dos malucos que dão trabalho. Não tendo capacidade de bem governar o seu povo, navega com palavras em águas turbulentas geradoras de intrigas. Pelos nossos acompanhamentos seus dias estão contados. Se não cair pelo americano deve cair cedo ou tarde por revolta popular. Admirador de Fidel Castro, também quer se perpetuar no poder, sem a roupa de Fidel. Com Chávez ou sem Chávez, positiva se torna uma América Latina libertária, mas sem revanchismos idiotas que não levam a nada. Quem irá fazer a verdadeira revolução dessas nações, serão estudantes e intelectuais de todos os países. É por isso que a Educação é o maior bem de um povo, porque é com ela que se conquistam todos os outros benefícios. Sejamos mais um nesse objetivo de integração e não apenas espectador contemplando a nervosa DANÇA DAS AMÉRICAS.


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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O JEGUE DE BANDA MEL

O JEGUE DE BANDA MEL

(CLERISVALDO B. CHAGAS. 23.2.2010)
BLOG DO AUTOR: http://clerisvaldobchagas.blogspot.com

Jumento, jegue, asno, inspetor, babau... Despontou no mundo desde a chamada pré-história. É originário da Abissínia, país africano localizado no chifre da África, cuja capital é Adis-Abeba. A Abissínia é considerada por muitos como o país mais antigo do mundo e berço do homem mais moderno. A língua oficial desse país do oeste africano é o Amárico. Foi daí que o Equus asinus, ou melhor, o jumento, espalhou-se pela África, Ásia e o planeta inteiro. Aqui no Brasil esse animal de porte médio serviu muito e ainda serve nas regiões rurais, conhecido por várias raças como a Pega (ê) e a Canindé. Possuindo força extraordinária, o jumento é motivo de piadas pelo exagero do órgão sexual, pela teimosia e mesmo pelas aventuras quando em bando selvagem. A ele devemos muito, pois transportou as nossas mercadorias pelos sertões longínquos. No caso particular de Santana, foi o jumento que abasteceu a cidade durante décadas com água do rio Ipanema. Uma dívida impagável ao animal que tem a cruz no lombo. Pelo menos ganhou estátua em praça pública que foi motivo de polêmica entre os insensíveis. O jumento já foi decantado em prosa e versos, por cronistas, historiadores, poetas, escritores, jornalistas, quando alcançou o ápice com o cantor e sanfoneiro Luiz Gonzaga.
Não pude deixar de rir quando li o apelo do colega Fábio Campos ao Valter Filho do site Santana Oxente. É que sua crônica “Meus Documentos, Pergunte a Esse Jegue” (título quase imoral), estava na pauta há vários dias e precisava urgentemente ser substituída. O colunista, então, enviou através do mural de recados o seguinte apelo: “Valtinho! Atualize aí minha coluna rapaz! Já enviei outras crônicas. Essa do jegue (de novo?) já está na tela há muito tempo!” Para quem conhece o Fábio Campos, fala mansa e arrastada, conseguiu ver o rosto choroso do colunista e a preocupação estampada no apelo. Ri das duas coisas, do apelo e da redação. Eis que a crônica sobre o jumento foi substituída pela benevolência do Valter e surgiu à outra intitulada: ”A Ressaca do Carnaval de Banda Mel”. Diverti-me mais uma vez à custa de meu amigo. Como um teatrólogo, ele tangia o jegue de cena e entrava o vidraceiro “Banda Mel”, figura folclórica de Santana do Ipanema. Logo imaginei Banda Mel montado no jegue; tangendo o babau para ocupar o seu lugar; desesperado com a presença do jumento.
Banda Mel tem residência à Praça Frei Damião. Gente muito boa e competente profissional. Mas quando conversa com a lourinha, não tem cristão vivo que aguente. Uma das características do homem magrinho e moreno é falar explicadamente mastigando cada palavra, demonstrando inteligência, educação e conhecimento. Mas é como se sabe, a marvada bota tudo a perder. Todavia, o problema para desenhar a crônica é que Banda Mel não possui jumento algum, pelo menos que eu saiba. Acho que deve ter pegado uma carona no inspetor do meu amigo Fábio Campos. E para distrair a seriedade do cronista, vamos imaginando o vidraceiro bem alegre, paletó e gravata, entrando em cena montado e, o autor da “Ressaca” anunciando com megafone nos bastidores: Atenção senhoras, apresentamos no momento o formidável, o fabuloso, o incrível, o imoral JEGUE DE BANDA MEL.

(NOTA: Friso nosso)




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domingo, 21 de fevereiro de 2010

PUNHAL ENFERRUJADO

PUNHAL ENFERRUJADO

(Clerisvaldo B. Chagas. 22.2.2010)

Em Santana do Ipanema, décadas 50/60, havia um doido conhecido pelo vulgo de “Coleta”. Lembramos muito bem da sua figura alegre usando chapéu de palha quebrado nas laterais. Coleta costumava fazer o trecho do Largo da Feira, entre o mercado de carne e a Igreja Matriz de Senhora Santana. Sua parada predileta era na padaria de Isaías Rego, onde recebia seus admiradores. Ninguém mexia com o doido, apenas falava animado com ele e, Coleta respondia fazendo gestos de esfaquear. “Olhe o punhal velho enferrujado!”
Ainda refletindo sobre a política, ficamos admirados com o vigor físico dos candidatos. O postulante a vereador percorre todos os sítios existentes na área rural e todas as ruas da cidade. Esse conhece, sem dúvida alguma, as bibocas do sertão e sabe exatamente onde o cão dorme, cochila e come. Uma vez eleito, com prestígio ou sem prestígio do Executivo, naturalmente continua suas peregrinações. É que o edil não tem nada a perder. Se conseguir realizar os pedidos dos eleitores, fica feliz; se não conseguir, escora-se na doce vingança de atribuir a falta ao chefe do município. Tirando os eleitores mais exigentes, os outros se conformam com apenas a presença da autoridade, como sinal de bom relacionamento.
Por outro lado tem o candidato a prefeito. Esse é guiado pelos vereadores ou postulantes pelas estradas, trilhas e veredas. Se não tem energia, arranja, mas vai percorrendo vales, grotas e montanhas na ansiedade febril de conquistar os munícipes. Além do gasto exorbitante do real, as promessas miraculosas levam finalmente o indivíduo ao éden insistentemente desejado. Uma vez com seus paramentos na cadeira fofa, a lógica se inverte como as gangorras da nossa juventude. Antes, uma pessoa preocupada com o porvir do município e o bem-estar dos cidadãos; um futuro empregado do povo, pago para administrar honesta e corretamente seus bens. Agora, um reizinho a mais no emaranhado político do País. Uma autopromoção a dono do município, patrão de todos e não mais gerente do povo. Na campanha podia, agora não pode mais aumentar salário, nem promover a Cultura, nem assegurar a Educação... Nada pode. Contudo, apresentar bandas caríssimas em espetáculos de macaquices com o dinheiro do contribuinte, pode. Em geral não existe uma equipe, existe um bando que freneticamente imita o ritmo sem parada das saúvas cortadeiras. Pobre reino de César, de Calígula, de Nabucodonosor... De fulano de tal. Final de mandato, malas arrumadas, voos para chácaras, fazendas, Europa... E o eleitor que recebeu uma onça ou outro bicho qualquer, cabisbaixo, humilhado, desmoralizado, se levantar a cabeça vê somente passar o rabo do avião. O bando se desfaz e fica cada um a espera de qualquer outro chamado para novo saque.
Não se preocupe meu amigo. Nada disso que foi dito acima é verdade. É apenas ficção de romancista. No sertão do Nordeste brasileiro não ocorre isso não. Mas, se você tem dúvidas, nas próximas eleições, ao abrir a porta para quem bate, fique atento; pode ser um “Coleta” travestido: “OLHE O PUNHAL VELHO ENFERRUJADO!”


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quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

LÁ VEM O VELHO FÉLIX

LÁ VEM O VELHO FÉLIX

(Clerisvaldo B. Chagas. 19.2.2010)
(Blog do autor: http://clerisvaldobchagas.blogspot.com)

Diga conosco:

“Lá vem o velho Félix
Com o fole velho nas costas
Tanto fede o velho Félix
Como o fole do velho Félix fede.

Esse fraseado todo se chama trava-língua. Essa linguagem curiosa sempre foi motivo de brincadeiras entre amigos. O trava-língua também foi muito usado entre os cantadores de pagode, emboladores e até por repentistas-violeiros. Ninguém acha fácil fazer uma leitura de trava-língua, quanto mais cantá-lo.
A política brasileira é interessante, tanto no todo quanto na forma regionalista, principalmente no Nordeste dos antigos coronéis. Até certo tempo atrás, na segunda metade do século XX, caso um prefeito não tivesse em sintonia com o governador, teria como certo um poderoso adversário para lhe fazer sombra e raiva. O chefe-político era essa figura que, por um lado, aliviava os seguidores da oposição, por outro, roubava completamente o prestígio do prefeito. Nesse caso havia quase sempre dois mandatários no município: o de fato e o de direito. Quando o eleitor não conseguia um favor com o chefe do executivo, recorria ao chefe-político que apelava para o governador.
Mas existe outra coisa também interessante na política. Quem entra fica deslumbrado com o poder, as mordomias, as facilidades e as bajulações. Não quer sair mais nunca da arte de governar. É como se tivesse ganhado um pedacinho do céu que, para defendê-lo, usa unhas, dentes, coices e mordidas. O leitor procura gente nova, jovens idealistas inteligentes e capazes, mas quando esses jovens aparecem, quase sempre é a continuação genética dos poderosos. A grande maioria não tem aptidão nenhuma de governar o povo. Mas o tronco velho insiste em colocar o rebento no mesmo ramo. Se puder, coloca também a empregada, o papagaio, o cachorro porque tudo significa dinheiro e poder. A próxima eleição, a próxima e a próxima, são os mesmos, os mesmos e os mesmos. O político brasileiro não procura servir ao seu povo, mas sim, servir-se do povo. Qualquer profissional como um médico, um professor um empresário, como exemplo, tira o seu tempo de mandato e não quer mais voltar à antiga profissão. Não já ocupou o cargo público? Por que não dá vez a outro? Não, o político de primeiro mandato começa a tratar a política como emprego permanente. Lembrando as eleições passadas, só os políticos profissionais tinham oportunidade. Homens e mulheres de outros segmentos debateram em vão os problemas do estado. Enquanto não houver rigorosas punições para os desvios de conduta, como nos países desenvolvidos, os velhos continuarão criando novas raízes igualmente às bananeiras. Você quer votar nas próximas eleições para governador, deputado, senador? Prepare-se para votar nos mesmos. Ô sina triste dos nordestinos. Pior de que a situação de Cuba: sem liberdade de escolha, mas sem corrupção. Pode ser até que um novato quebre o círculo. Você acha fácil? Então diga conosco: LÁ VEM O VELHO FÉLIX...







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NA PELE DO TIGRE

NA PELE DO TIGRE
(Clerisvaldo B. Chagas. 18.2.2010)

Para louvar a Deus durante o Carnaval, foi fundado há bastante tempo o retiro dos homens em Santana do Ipanema. Tendo à frente o bíblico da Paróquia de São Cristóvão, José Vieira (de saudosa memória) tornou-se realidade o objetivo de louvar ao Senhor, em local distante da influência carnavalesca. Assim foi escolhido o sítio Tigre, no Município de Maravilha, às margens da BR-316 e do riacho topônimo do sítio. Indo no sentido Santana─Paulo Afonso, o açude está localizado à direita da BR, ficando o acampamento no lado oposto. O riacho passa banhando o local, deixando um recanto com pedregulhos e árvores frondosas. Ali, o grupo do senhor José Vieira organizou o terreno que possui várias árvores naturais e outras plantadas. Foi construída capela, banheiro, coreto e outras dependências.
Durante a época da folia, os homens se cotizam e compram alimentos em grande quantidade. São levados para o lugar, cozinheiros e auxiliares, não faltando comida a qualquer hora do dia ou da noite. A animação é grande e entre rezas, brincadeiras e descansos, os objetivos são alcançados. Lá para trás ficam as cozinhas de alvenaria e ao ar livre. Na entrada fica a capela à disposição. No centro, o coreto de estudos, orações e debates. Ao lado, as árvores às margens do riacho Tigre. Existe uma ala onde se improvisam os barracos para armações de redes. Muitos se protegem do vento e da chuva naqueles abrigos, mas, quem quer, pode dormir em outro local isoladamente. São quatro dias agradabilíssimos, onde os cristãos católicos renovam suas energias e aperfeiçoam a parte espiritual. Às vezes afluem ao retiro centenas de homens (a maioria de Santana) vários vindos de outros municípios e até de Pernambuco com ônibus lotado. Comida farta, brincadeiras, pesquisas, debates, rituais... São encerrados com a vinda de um padre para confissões e missa. O retiro do Tigre tornou-se tradição do mundo católico de Santana do Ipanema.
Estivemos no retiro há alguns anos, infelizmente saindo antes do encerramento. Na época, comandavam o encontro os senhores José Vieira e José Nogueira, veteranos da Paróquia. Em geral, a pessoa que nunca foi ali, poderá ser convidada por qualquer um daqueles frequentadores. Mas desejando participar desse magnífico encontro no próximo ano, cremos, é procurar informações na Igreja Matriz de São Cristóvão. O saudoso José Vieira também foi um dos fundadores do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santana do Ipanema e teve participação ativa, junto a José Nogueira, na fundação do Centro Bíblico da Paróquia, além de ser compositor sacro dos movimentos bíblicos do Município. Vale à pena para quem não pula Carnaval, esse encontro tão gratificante que enche a alma de paz e alegria. Foi um dos melhores que participamos até o presente momento. É a ocasião exata de fugir da violência urbana e se refugiar por inteiro na PELE DO TIGRE.


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terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

CARNAVAL DO LOBISOMEM

CARNAVAL DO LOBISOMEM

(Final)
(Clerisvaldo B. Chagas. 17.2.2010)

Quando Zé abriu os olhos, o povo passava para o baile do Tênis. Ele esfregou os dedos maculados nas pálpebras morenas, espreguiçou-se e tentou localizar-se. A cachaça ainda lhe dava dores de cabeça. Girava um pouco. Teve acanhamento de estar caído ali com o povo passando. Ainda lhe ressoava o alarido forte do bloco. Parecia que aqueles sons esquisitos haviam penetrado para sempre no mais íntimo dos seus miolos. Rodavam ali dentro matando-o aos poucos! “O urso preto vem da arca de Noé...”
Levantou-se. Bateu o sujo das roupas e lembrou-se de muitas coisas... Das palavras de Zefinha... Tombou; aprumou-se. Desceu a rua fazendo esforços para caminhar firme. Descansou um pouco defronte a Rádiotécnica do Petrônio; ralou-se na casa de peças de Genísio e desceu firme em diagonal. Na porta do hotel do centro deu uma topada e disse um palavrão impublicável; tirou um fino no cartaz do cinema e quase foi atropelado defronte o “Paraíso da Criança; pisou num degrau da Igreja Matriz e foi sair na “Côda Boutique”; deslizou o braço no travessão do cine e tirou de um fôlego só até a ponte nova. Achava-se cansado quando chegou ao posto de Zé Carlos, mas prosseguiu atravessando lépido a ponte da Floresta. Desviou para a esquerda e pensou: “Dessa vez não vou chegar a casa madrugada como estou acostumado”. Olhou o relógio: onze horas. Era muito cedo também. Passou por baixo de uma cerca de arame e sentou-se num galpão de olaria. Remoeu um ódio surdo, uma frustração desesperadora.

“O urso preto
Vem da arca de Noé...
Todo mundo já dizia
Que esse urso não saía
Esse urso anda na rua
Com prazer e alegria...”

Colocou as mãos na cabeça e pela primeira vez na vida disse: “Meu Deus!” Os olhos queriam dormir, todavia, a cabeça pedia para permanecer acordado. “Urso, João, Lobisomem, Zefinha, Bela, Maria, Maria Bela... E como é... O urso... Quando deu doze horas, deixou o seu abrigo e dirigiu-se para casa. Não estava mais bêbado; não queria estar bêbado. Caminhava aprumado. Abriu a porta trêmulo como um trigal ao vento. Não viu Maria Bela. Não estava na sala; não estava no quarto; nem na cozinha; também não estava no quintal, mas o portão achava-se aberto.
─ Labisomem! Ói o labisomem! – gritaram os curiosos numa certa distância, no escuro.
Conceição voltou para dentro. Mexeu na gaveta do guarda-louça e achou um revólver que havia trocado certa vez por meio tabuleiro de doce. Examinou-o. Estava carregado. Seis balas, Taurus. Saiu pelo portão como um possesso. Acostumou os olhos ao escuro. Parou. Localizou alguns ruídos a uns trinta metros de distância. Agachou-se e saiu engatinhando; dedo no gatilho. Então, diante de si apareceu um vulto enorme (mais ou menos do tamanho de João Baía) não tinha forma definida. Era muito escuro. Pareceram-lhe duas sombras numa só. Zé Conceição, o vendedor de quebra-queixo, não teve dúvidas. Disparou todas as balas do tambor e ainda ficou apertando o gatilho várias vezes, como um autômato.

É quarta-feira de cinzas. Acabou-se o carnaval. Zefinha está muito triste. Zé Conceição abre os olhos cansados como se tivesse vivendo um sonho. É o dia que entra pelas grades da prisão. Não existe mais lobisomem... Não existe mais João Baía... Não existe mais Maria Bela... Agora, somente uma prolongada ressonância nos tímpanos de alguém:

“E como foi...
E como é...
O urso preto...
Vem da arca de Noé...”







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CARNAVAL DO LOBISOMEM

CARNAVAL DO LOBISOMEM

(Clerisvaldo B. Chagas. 16.2.2010)
Conto lançado em 1979. Páginas 22, 23, 24 e 25. Final amanhã, quarta-feira de cinzas.

Caiu na rede, apagado. Só veio acordar, ainda zonzo, meia-noite, com um vozerio ao longe:
─ Ói o lobisomem! O lobisomem passou!
Espiou para dentro do quarto; Maria Bela não estava. A cabeça pesava-lhe como um saco de cimento. Levantou-se grunhindo e foi até o quintal. Não viu Maria. Pensou onde ela estaria à uma hora daquela. Será que tinha ido à casa da vizinha?A gritaria continuava nos arredores, nos quintais próximos. O lobisomem solto por aí. Que diabo estava fazendo a polícia que não dava uma batida para acabar logo com aquele bicho? Convenceu-se que de que ela estava mesmo era na casa da amiga, uma dona que vendia coco na feira. Lembrou-se de olhar o portão. Estava aberto. Fechou-o porquê o lobisomem poderia entrar por ali. Retornou à sala; meteu o caneco de “óleo Bem-te-vi” dentro do pote e bebeu um litro d’água. Depois caiu novamente na rede; entrou em letargia.
No terceiro dia de carnaval, Zé Conceição acordou cedinho. Viu Maria toda enrolada na cama, tomou um banho, vestiu roupa engomada e penteou-se no espelho de bolso. Iria brincar o carnaval como seu Nozinho: só, rua acima, rua abaixo. Ligou o rádio de Maria Bela, mas só havia forró àquela hora. Cremilda cantava:

“Eu não gosto
De forró que não tem briga
Forró que não tem briga
Num me diga que é forró
Eu não gosto de forró
Que não tem briga
Pelo meno uma intriga
Tem que haver num forró...”

Ele mesmo fez café e tomou com pão doce de dentro de uma lata. Depois saiu rua a fora. A primeira pessoa que encontrou na rua foi Ivanildo, consertador de fogão.
─ Fala Zé, aonde vai assim?
─ Pra rua, vamo?
─ Vou não, venho chegando agora.
─ De onte?!
─ De onte. Passei a noite toda brincando por aí.
─ Olhe Ivanildo, num visse falar num tá de lobisome, não?
─ Ouvi sim, mas eu já ando prevenido.
─ Vou pra rua, inté logo.
─ Inté. Vou drumir que tou bebo de sono.
Zé Conceição continuou e foi bater papo na frente das Casas GG. Deu uma tentação de ir à casa de Zefinha e ele desceu para lá.
Zefinha, sempre querendo conquistá-lo definitivamente, depois de muitos afagos, contou-lhe algo que o estarreceu. Deixou-o com voz embargada. Conceição, sem querer acreditar interrogou Zefinha duramente com o olhar. Ela insistiu na afirmativa:
─ Quem me contou foi Tonho de Tereza, que é muito amigo dele.
Zé Conceição afastou-se pensativo. Chocado. Não mais ouviu os fuxicos de Zefinha e subiu o Beco São Sebastião com as orelhas queimando, pegando fogo. Era cedo e nesse último dia de carnaval ele também começara cedo. Mas agora iria beber por outro motivo. Iniciou desta feita pelo Samburá, onde bebeu três doses puras de “Montilla”. Sentou-se em um dos bancos e viu o mundo querendo rodar. Ou era a sua cabeça que girava? Girava... Girava... Girava. Não era ainda pelo efeito da bebida, mas sim pelas revelações de Zefinha. Estava se sentindo mal. Mas não queria ir para casa agora. Não adiantaria. Saiu percorrendo a rua como um sonâmbulo. Sem sentir, bebeu mais e mais até que localizou o famoso bloco dos carregadores em frente ao Tribunal do Júri. Lá vinha a famigerada música do Urso misturando-se com ele, com o álcool, com seus problemas, com sua vida. E o mundo girando, girando... Gargalhadas, sons, urso preto, gira mundo, Maria Bela, gira, João Baía, gira mundo...
Conceição caiu no Calçamento
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domingo, 14 de fevereiro de 2010

O APERTO DA VIOLÊNCIA

O APERTO DA VIOLÊNCIA

Clerisvaldo B. Chagas. 15.2.2010)
Com a expansão da cidade e a falhas sociais, Santana do Ipanema, a mais florescente cidade do interior, após Arapiraca, vai imitando a capital. O movimento desordenado de gente, automóveis, camionetas e motos, das segundas aos sábados, impressionam bastante. Durante o turno vespertino tudo parece quieto na “Rainha do Sertão”. Entretanto, pelas manhãs dos seis dias citados, o movimento nas ruas principais vira um caos muito difícil de dirigir. Todas as repartições públicas e outras prestadoras de serviços estão lotadas. INSS, bancos, correios, casa lotérica, DETRAN... Em alguns lugares a maçada no atendimento leva entre duas e três horas. As pessoas se irritam com razão, principalmente as que moram na área rural. Estas são obrigadas, muitas vezes, a resolver um problema simples, dando várias viagens. É que os transportes que chegam dos sítios, povoados, cidades circunvizinhas e até mesmo de lugares mais distantes como Piranhas, Canapi, Mata Grande, Pão de Açúcar, tem hora certa de retorno. Santana fica abarrotada de camionetas transportadoras específicas de estudantes e das que transportam passageiros comuns. E se a cidade não se expande mais ainda, é por causa dos donos de terrenos que circundam o núcleo que nem vendem e nem loteiam. Mesmo assim, com ares de capital em todas as manhãs, Santana também não escapa a onda de violência.
Igual a Maceió, um centro de elite mesclado com a classe média, o núcleo urbano estar cercado de pontos carentes como a Lagoa do Junco, Rua das Pedrinhas, Conjunto Marinho, Lajeiro Grande, Rua da Praia... Para se transitar pela Rua das Pedrinhas tinha-se que pagar pedágio. No Bairro Floresta, ninguém podia subir à Rua Abdias Teodósio - após a Escola Lions - à noite. No complexo educacional que envolve escolas como Prof. Mileno Ferreira, São Cristóvão, Aloísio Ernande Brandão e o Ginásio de Esportes Cônego Luiz Cirilo, as quadrilhas agem em grupo de até quinze elementos, tomando celulares, depredando ou ainda cobrando pedágio. Sempre se ouve falar nos perigosos dos lugares citados. Vez em quando sai à notícia de que “apagaram mais um” ou aqui ou acolá. Antes, até que o povo se benzia. Hoje nem se benze mais. Diz apenas que foi um bandido a menos e pronto. “Melhor ele de que um pai de família”. E a ineficácia da segurança vai sendo fortalecida pela indiferença de uma população cansada de notícias ruins. Chama atenção também à faixa etária que, vista por um trabalhador da periferia: “muitos desses meus vizinhos não vão chegar aos vinte anos”.
Apesar de ser a cidade da paz, Santana não tem como fugir à sina brasileira da marginalidade precoce e das drogas sem fronteiras. Quem pula o carnaval (muitos já desistiram) tem que estar voltado para a alegria, sabendo que o álcool não é amigo da concórdia. Todos tem o direito de brincar, mas se não tiver cuidado o bicho pega. É preciso extravasar. Se a razão predomina, pelo menos se esquece um pouco o APERTO DA VIOLÊNCIA.








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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

O IRÃ PEGA FOGO

O IRÃ PEGA FOGO
(Clerisvaldo B. Chagas. 12.2.2010)
Sempre nos chamou a atenção, no Curso Ginasial, o fato de o Brasil pouco apoiar os seus cientistas. Aplicar em tecnologia foi em nosso país algo de esquisito, assim como os valores para a Educação. No primeiro caso, falta de apoio, no segundo, uma fonte inesgotável de abastecimento para bolsos políticos. Enquanto países como o Japão, a Coréia do Sul e os nórdicos da Europa aplicavam maciçamente na escola, a Educação brasileira andava capengando, com os professores fazendo parte de uma sub-raça, desvalorizados e incomodados com o desprezo do governo e da sociedade. As verbas da educação foram sempre a grande fonte que enriqueceu a muitos. Na área tecnológica, os novos jovens cientistas, sem nenhum tipo de apoio no Brasil, foram obrigados a migrar para países da Europa e dos Estados Unidos que ofereciam vantagens para os cérebros mundiais. E assim fomos perdendo uma juventude promissora capaz de criar em diversas áreas do conhecimento humano. Só recentemente a Educação tomou novo rumo no País, porém, ainda tem longo caminho a percorrer. Alguns centros tecnológicos já começaram a aparecer para o Brasil e parte do mundo, inclusive em algumas universidades. Fomos nós, os brasileiros, que inventamos o balão, a máquina de escrever e o avião. Viesse de longe o apoio necessário, seríamos hoje um dos primeiros do mundo em tecnologia.
Surpreende a nós, um país como o Irã, apertado por todos os lados, mas lançando foguetes lá na Ásia Seca. Muito feliz o presidente Ahmadinejad quando fala na capacidade tecnológica do Irã, através da sua juventude estudiosa que inventa, assim como os árabes foram inventores no passado. Situado na Ásia, na particularidade denominada Oriente Médio, o Irã é banhado pelo mar Cáspio e o Oceano Índico. Sua capital é Teerã. O país carrega grande fatia da história universal com Ciro II, o Grande; Cambises II; Dario I; Xerxes I e outros nomes importantes que escreveram as páginas da história. Quem não estudou nos tempos ginasianos a batalha naval de Salamina? Durante a Segunda Grande Guerra, o Brasil teve que produzir muitas coisas que antes importava da Europa e que esse continente já não podia fornecer. Assim a Guerra de 45, foi um estímulo à indústria e à pesquisa brasileiras. Crescemos muito graças ao conflito que abalou o mundo. Assim está fazendo o Irã, praticamente isolado pelas nações mais adiantadas. Vai incentivando o seu próprio desenvolvimento com a juventude pensante estimulada. A infelicidade, entretanto, também aparece nas palavras do mesmo Ahmadinejad, quando nega o holocausto e diz que quer varrer Israel do mapa. Desse jeito, seria um doido a mais no mundo. Quem é que pode confiar que o homem estar trabalhando apenas para uma fonte de energia progressista? Os arsenais de outras nações com bombas nucleares continuam cheios. Não precisamos mais de bombas. Agora, como todo regime fechado, o dique também rompeu no Irã. Um regime não pode se fechar por tanto tempo num mundo cheio de recursos. Ninguém pode esconder mais a seu povo o que se passa no resto do planeta. E ninguém mais pode também segurar a juventude e os intelectuais em busca de mudanças naquele país. Aguardemos. O IRÃ PEGA FOGO.

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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

PEÇAS DE MUSEU

PEÇAS DE MUSEU

(Clerisvaldo B. Chagas. 11.2.2010)

Alcançamos o museu de Santana do Ipanema, funcionando à Avenida Nossa Senhora de Fátima. Não temos a certeza se esse foi o seu primeiro endereço. Pertinho do museu atuava o Tribunal do Júri no prédio da Câmara de Vereadores. O prédio da Câmara continua o mesmo, apenas reformado. Antes de se transformar em casa legislativa, nesse prédio funcionou a empresa de força e luz, fundada em 1922, quando Santana passava à cidade. Também não nos recordamos se o museu tinha nome de algum homenageado. O que sabemos é que, apesar de estreito e pequeno para abrigar a história e a arte do Município, havia peças importantes que não podiam ser desviadas sob hipótese alguma. Foi ali que pela primeira vez entramos em um museu. A nossa visita não nos causou nem alegria nem tristeza, porém, logo veio à mente uma interrogação. Estava ali uma das rodas do automóvel de um dos dois maiores empresários brasileiros: Delmiro Cruz Gouveia. O carro de Delmiro foi o primeiro de Alagoas e, nessa época, nem o governador possuía automóvel. (Delmiro é motivo de recordação constante do personagem principal do nosso romance inédito “Fazenda Lajeado”). A interrogação de rapazote era por que não estavam ali as outras rodas? Nesta vimos o aro e o pneu de borracha. Tempos depois retornamos ao museu e só encontramos o pneu retorcido. O aro havia sumido e ninguém dava notícias. Soube depois que haviam levado para Palmeira. Com ordem de quem? O povo, dono do patrimônio, foi consultado? E assim, o museu fundado pelo prefeito Hélio Cabral de Vasconcelos, foi pouco a pouco sendo dilapidado até ficar no “osso”. As pessoas cultas começaram a recusar fazer doações para que suas peças históricas não fossem parar em fontes desconhecidas. O museu de Santana chegou ao ridículo de ser gozado por pessoa inescrupulosa que fazia parte do governo Genival Tenório. Depois, em alguns outros governos municipais, o museu de Santana passou a ser lugar de castigo para funcionários que não rezavam na cartilha de alguns deles. Onde estão as outras peças importantes do museu?
O primeiro arado da região e que fez uma revolta na agricultura, está desprezado e se acabando a céu aberto. Ninguém fala, ninguém grita, ninguém protesta. Nenhuma apuração tivemos notícia sobre desaparecimento e descaso com o museu desde várias gestões sucessivas. Enquanto cidade pertinho de nós, possui três museus, nós vamos capengando com o que restou. Bem assim foram livros e mais livros de autores santanenses ou outras obras de relevo que desapareciam da Biblioteca Pública, também fundada pelo mesmo prefeito do museu. Cidade seu museu, sem biblioteca e sem monumentos, é cidade zumbi de conteúdo zero. De maneira alguma queremos remoer o passado, mas apenas alertar para a importância do patrimônio cultural do povo. É uma parcela mínima da população que compreende, louva e defende abertamente a cultura. Mas que pelo menos fosse respeitado o desejo dessa minoria. Com a indiferença absoluta dos munícipes, todos nós também vamos virando PEÇAS DE MUSEU.




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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

AS DUAS MORENAS

AS DUAS MORENAS

(Clerisvaldo B. Chagas. 10.2.2010)

Mesmo sem ter conhecido ainda o livro de crônicas “Fruta de Palma”, do meu conterrâneo e escritor Oscar Silva, frequentávamos a serra do Gugi. Situado a 12 km de Santana do Ipanema, o belíssimo relevo faz parte do maciço de Santana, encravado em plena caatinga sertaneja. Com a sua irmã, serra do Poço, imitava o paraíso descrito por Oscar em uma das suas crônicas - “Miragem da Serra”- e por nós em outros escritos. Quando com os nossos dezesseis, dezessete anos, frequentávamos o monte todos os domingos. Saíamos de Santana com um pequeno grupo, a pé, e sempre encontrávamos um papagaio na última casa do Bairro São Vicente. Andávamos bastante, passávamos pelo sopé da serra da Camonga, descíamos o ladeirão até chegar à porteira paralela que dava entrada para o Gugi. Faziam parte dessas constantes caminhadas, o meu amigo Francisco Assis e Mileno Carvalho, ótimo companheiro da nossa juventude. Ali naquela casa da porteira, havia u’a morena muito bonita, cabelos pretinhos e longos que nos chamavam atenção. Sempre parávamos a jornada por ali para pedir água, de mentirinha, só para tentar um flerte. Que nada! A morena servia copo e caneco à mão, mas não saía o menor gesto que nos encorajassem. Prosseguíamos a caminhada, vadeávamos o riacho Gravatá, afluente do Panema e chegávamos a nosso ponto de apoio, a casa do Jonas Brandão e dona Creusa. Dali, subíamos a serra até o sítio de dona Neném, família dos Carvalho. No sítio havia muitas frutas, entre elas a manga tipo “gobom” de caroço mínimo e muito doce, o nosso alvo. Tomávamos garapa no sítio de Olavo, velho que tinha um engenho de canas excelentes. (No futuro colocamos esse pedaço de chão em nosso romance “Deuses de Mandacaru”, inclusive com o personagem e sítio do Olavo). Na descida, tomávamos banho em poço aprazível do riacho afluente e, à tarde, estávamos retornando à Santana de olho na morena. Nada! Dezenas de anos depois, como candidato a prefeito, revi o trajeto do Gugi. A morena morava na mesma casa e descobri que na atualidade era mãe de um jovem colega de trabalho.
Essa recordação também puxa outra. Quando solteiro frequentávamos o sítio Amargosa, município de Monteirópolis. A casa frequentada tinha várias moças bonitas e por isso mesmo atraía rapazes da redondeza. Em uma noite de festa, havia muitos convidados. Lá pelo “oitão” da residência, um rapaz mandou chamou uma das moças. O portador indagou qual era. O rapaz disse em voz alta: “a morena mais bonita da casa”. De repente surgiu o dono do sítio meio quente da “branquinha” e falou abusado e grosso às ventas do sujeito: “A morena mais bonita desta peste sou eu!” Nem precisava dizer, mas o rapaz demorou pouco e evaporou-se na noite mais amargosa ainda.
Morenas belíssimas continuam brotando na região sertaneja. Flores de cactos que se exibem em tempo de seca. Nessa matéria não temos inveja de outras regiões. Basta o exemplo DAS DUAS MORENAS.



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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

VAI TIRAR LEITE?

VAI TIRAR LEITE?

(Clerisvaldo B. Chagas. 9.2.20100)

Com nomes de hotel, hospedaria ou pousada, os locais de acolhimento aos viajantes são bastante antigos. Basta lembrar como exemplo, a peregrinação de José e Maria à cidade de Belém. O casal procurava por uma hospedaria e as que encontravam não tinham vaga. Isto quer dizer que, mesmo numa cidade tão pequena, havia mais de uma casa de hospedagem.
No interior de Alagoas, como em todo o Brasil, a história de hotéis e similares não ficaram registradas especificamente. As fontes sobre o assunto são os mais velhos que quando morrem levam grande parte do conhecimento. Mesmo assim os mais velhos são fontes confiáveis porque não poucos foram testemunhas vivas e cheias de detalhes dos temas pesquisados.
Pelo menos nos tempos de vila em Santana do Ipanema, deve ter havido várias hospedarias. A mais antiga que conhecemos vem da década de 50 e trata-se do “Hotel Central” que funcionava à Avenida Barão do Rio Branco; defronte o final da Praça Cel. Manoel Rodrigues da Rocha. Sua fachada e estrutura faziam parte do casario tradicional de vila que iam desde o atual Museu Darras Noya à foz do riacho Camoxinga. O estilo da época trazia figuras e linhas geométricas em alto-relevo, significando prestígio de seus proprietários. As casas residenciais do quadro comercial santanense, como as da Avenida Barão do Rio Branco, também eram estreitas na frente, pegadas umas às outras e compridas até os fundos que terminavam nos cercados do Padre Bulhões. Daí a casa de morada ser adaptada como hotel. A dona do hotel era conhecida como “Maria Sabão”. Depois o “Hotel Central” subiu mais, indo para o 1º andar do casarão ao lado esquerdo da Matriz de Senhora Santana. Ali funcionou até a sua extinção. O “Hotel Central” era o preferido dos caixeiros-viajantes que faziam à praça de Santana. Herdando o nome “Sabão”, surgiu “Paulo Sabão” – bancário e ótimo professor de Matemática – e “Carlos Sabão”, comerciante da cidade. Acusamos a existência paralela de uma hospedaria (também chamada pensão) nas imediações da Rua Ministro José Américo, da proprietária Rosa. Sobre ela, um viajante presepeiro costumava cantarolar:

“Como é que pode
Seu Mané
Como é que pode
Na pensão de dona Rosa
Só tem bode
Só tem bode...”

Conhecemos também o “Hotel Santanense” que funcionava à antiga Praça da Bandeira, na esquina, quase defronte a igrejinha de Nossa Senhora Assunção. Era pertencente à Dona Beatriz, pessoa respeitável do Bairro Monumento. Depois mudou a direção, tomando conta a senhora Elsa, gaúcha casada com gente da terra. Fechou. Na entrada de Santana, de quem vem de Maceió, foi instalado o mais recente dos três, o “Hotel Avenida”. Era proprietário o senhor Leusínger.
Hotel é uma coisa abençoada por acolher o estrangeiro. Por isso deve ser admirado e respeitado como extensão da própria casa. E para encerrar sobre o assunto em Santana, contemos um dos muitos casos engraçados entre o hospedeiro Leusíger e os seus hóspedes. No sertão a ordenha é realizada entre quatro e cinco horas da manhã. Desconfiado de que um dos seus hóspedes planejava deixar o hotel sem pagar, Leusínger ficou em alerta. Às quatro da madrugada, o sujeito tentava escapulir através da janela. Qual não foi a surpresa ao pegar a mala! Seu Leusínger chegou de mansinho e indagou: “Bom dia, meu prezado, VAI TIRAR LEITE?





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domingo, 7 de fevereiro de 2010

CARTA ABERTA

CARTA ABERTA

(Clerisvaldo B. Chagas. 8.2.2002)

Geralmente o homem se educa em três fontes principais: em casa, na escola e na religião. Para o preparo da longa jornada da vida, as absolutamente seguras são as de casa e a da religião. Ambas são fundamentais porque fortalecem o espírito para não haver desvios de condutas. Os mandamentos estão nessa base moral, generalizada. Mesmo com outras palavras, os evangelhos são aplicados em nós pelos nossos pais. Acontece que muitas vezes os filhos se desviam das frases ensinadas. O vício da embriaguez é trocado pela inveja (um dos males mais perigosos para quem o cultiva). O vício de fumar é substituído pela ambição desmedida. O do jogo, pela arte de semear pedras no caminho alheio (quem coloca pedras, nelas tropeça). As drogas saem, entra a omissão calculada. E a visão bela e transparente é trocada pela máscara escura e rude que se põe em reses bravias. Às vezes o Cristo sai da boca, mas não sai do coração, porque Jesus não habita no coração negro onde não há lugar para ele. E quando sai na boca, sai como o bom vinho misturado a água da sarjeta, sem valor algum. Os túmulos caiados confundem a sociedade, mas não enganam a Deus.
Um homem a quem Jesus entrega a candeia é acompanhado pelo Divino dia e noite. Infelizes os que ousam lhes arrebatar o fogo. É melhor acompanhá-lo na humildade (irmã da sabedoria) e no reconhecimento. É fácil conhecer os condutores da luz. É só atentar às mãos os frutos da semeadura. Quem distribui flores fica com o perfume nas mãos. Todos os que irritam o justo sofrerão suas penas. O supérfluo e as vaidades artificiais não se sustentam em pé por muito tempo. “Eu farei chorar os que te aborrecem”. Ninguém deve mexer no ungido por Deus, nem com bruxarias nem com artifícios infames; assim como não se deve aproveitar da viúva correta, do inocente ou da mãe desesperada. O grande taumaturgo do Juazeiro, dizia: “meu amiguinho, se já fez não faça mais...” E os que me entregaram; e os que me caluniaram; e os que me rejeitaram... Que são mais do que os que me omitiram, dos que me discriminaram, dos que me marginalizaram? Cegos como o desprovido de Jericó, não enxergaram o manto às costas do escolhido. Quanto mais o iníquo sopra a chama de um predileto, mas ela brilha. Um a um vi tombar os que me aborreciam, Senhor, quando na vida só ajudei a expandir à luz que me confiastes.
Agradeço ao colunista Malta pela sua inspirada recepção em coluna do Portal MALTANET, a minha chegada aquele site de origem santanense. É um prazer participar de uma plêiade comprometida com o engrandecimento da terra. Os diversos colunistas que colaboram com os mais variados assuntos, vão fomentando as letras na juventude que procura e matando a sede cultural dos internautas. Escrever com orientação divina é aspergir ouro em pó na humanidade (que alguns querem transformá-lo em cobre). Ninguém pode barrar a força do vento que na terra não existe similar. Unidos por Santana, a “Rainha do Sertão” merece. Rasguemos o envelope, deixemos a CARTA ABERTA.



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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

NÃO ME FALE EM CAMINHÃO

NÃO ME FALE EM CAMINHÃO

(Clerisvaldo B. Chagas. 5.2.2010)
DO CD “SERTÃO BRABO, dez poemas engraçados”
Eu era um matuto besta
Morava no Travessão
Sonhava ser motorista
Porém cadê condição
Aprendi jogar bozó
Quase que fico zoró
Mas comprei um caminhão

Foi quinze dias colado
Sem encontrar nenhum frete
Mas um dia apareceu
Maneca de Zé pivete
Veio meu carro alugar
Mode o seu time jogar
Com o time da Marinete

O time e toda mundiça
Subiu na carroceria
Cinco entraram na boleia
Foi a maior correria
Atropelaram o pãozeiro
Derrubaram o xangozeiro
Pai de santo da Bahia

Corri pra o radiador
Botei água da bodega
Danei a chave no bicho
O peste quage não pega
Pra frente voou a tampa
Lascou a testa de Vampa
Cunhado de Joana Cega

Depressa tamo atrasado
Motorista da mãe Tonha!
Gritou um caboco forte
Com o rabo chei de maconha
Uma bicha venta torta
Me impressava na porta
Com a cara mais sem vergonha

O carro veio tremia
Quage que poca o pneu
Bem no miolo da rampa
Deu um estouro e morreu
A mãe do goleiro Maia
Quebrou o cordão da saia
Pulou de riba e correu

Bote o cepo Zé Ligeiro!
Berrei lá da direção
O fubek tava bebo
Meteu o fucim no chão
Nisso com sua mão tola
O cabrunco do baitola
Quase me arranca o travão

O dono do time tava
Com dor de barriga e gogo
Mas levantava a bandeira
Um carçolão cor de fogo
Quando a torcida mandava
O ponteiro esquerdo cheirava
Para dá sorte no jogo

Bem no descer da ladeira
Vomitou um desportista
Quebrou pedal, faltou freio
Deu cento e vinte na pista
O caminhão barrufava
Um doido em riba gritava
Empurra o pé motorista!

Uma velhinha banquela
Baforava doutro lado
Um fumo de corda bruto
Fedorento, desgraçado
Vi fumaceiro no mundo
Chutou dois tiro do fundo
Tava de fole furado

Pular do meu caminhão
Era essa minha ideia
Porém um macaco prego
Subiu no vão da boleia
Abraçou um crioula
Mordeu a mão do baitola
Ficou fungando na veia

O meu mundo veio abaixo
Com a barra da direção
Entremo duzento metro
Só de toco e cansanção
Caímo bem num chiqueiro
Matemo o rebanho inteiro
Quinze porca e dois barrão

Gandula quebrou a perna
Zefa perdeu o corpete
Ouvi dizer mate o cabra!
Fiz dois ou três cacoete
Do time fi duma égua
Corri mais de meia légua
Pra não entrar no cacete

Não quero ser mais choufé
Moro aqui no Travessão
Comprei um revólver taurus
Um cano grande do cão
Paguei caro a Zé Celeste
Prometo atirar num peste
Que me fale em caminhão

FIM
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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

DOMÍNIO TRESLOUCADO

DOMÍNIO TRESLOUCADO
(Clerisvaldo B. Chagas. 4.2.2010)
Afeganistão, país montanhoso (85%) da Ásia Central, é um dos mais pobres e inóspitos do mundo. Seu clima é formado de verões quentes e invernos frios, caracterizando assim o tipo continental. Além da pobreza, o país, frequentemente recebe abalos sísmicos, já incorporados como castigos naturais por aquele povo tão sofrido. Afeganistão, cuja capital é Cabul, já recebeu várias invasões desde os tempos mais antigos. Atualmente produz o ópio que abastece os países da Europa.
Dizem que a primeira derrota dos Estados Unidos foi no Vietnã. É fácil entrar em qualquer país, difícil é sair. No Vietnã foram os nativos que deram o sangue pela sua nacionalidade, derrotando o gigante do norte, apesar da alta tecnologia. Não existem mais guerras de confrontos tipo exército x exército. As guerras atuais são pulverizadas em guerrilhas, principalmente pelos invadidos. Essa estratégia foi usada por Lampião que, para sobreviver com um bando respeitável, foi obrigado a dividi-lo em subgrupos de cinco ou seis homens. A antiga União Soviética não soube se espelhar na derrota americana do Vietnã e cometeu o mesmo erro invadindo o Afeganistão em 1979. Foi a guerra de um exército preparado para outro exército e não para enfrentar a guerrilha. Conflito longe da imprensa, pouco se sabia do palco da luta. Extenuados, os soldados soviéticos retiraram-se do Afeganistão derrotados após uma briga de dez anos. Os Estados Unidos ajudaram à guerrilha, inclusive tendo Osama Bin Laden como combatente. E agora, quanto tempo faz desde a invasão do Iraque? Quantos jovens iniciando a vida foram deixar seus corpos em solo iraquiano? Os Estados Unidos continuam na política de fomentar guerras contra outras nações contrárias as suas idéias. As montanhas do Afeganistão que derrotaram os soviéticos continuam as mesmas, engolindo mais rapazes da América. Mais da metade da população daquele país fugiu para outras nações. Entretanto, não faltam guerrilheiros determinados contra os invasores. Onde os Estados Unidos buscarão motivos para novas ocupações? Na Coréia do Norte? No Irã (que ele mesmo armou anteriormente)? Na Venezuela? Quando é que esse titã vai saciar a sua sede vampiresca? Até mesmo a ajuda ao Haiti, foi fantasiada de invasão militar arrogante como se fosse um alerta para países como o Brasil, tipo: “quem manda aqui sou eu!”
É de se lamentar tanta força dirigida para o nada. Para a ambição comercial e à tola vaidade que desequilibram as mentes. Enquanto isso se acumulam problemas que parecem insolúveis como a fome no Haiti, na Ásia, na África. Roda o mundo nas leis disfarçadas de quem pode mais. E poder não é para construir. Parte do planeta vive na era espacial, muitas fatias permanecem na Pedra Lascada. Sim, talvez se não fosse o império americano fosse outro: russo, chinês, indiano ou mesmo brasileiro. Criam-se tecnologias, mas continuam as intenções de DOMÍNIO TRESLOUCADO.




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terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

REVIVENDO O CANGAÇO

REVIVENDO O CANGAÇO

(Clerisvaldo B. Chagas. 3.2.2010)

Entre o povoado Candunda e a região da ribeira do Capiá, alto Sertão de Alagoas, viveu um cidadão de sobrenome Rodrigues. Homem rico, respeitado e misterioso, dependia da agropecuária. Lampião passava pelas imediações de vez em quando, mas, usando seus dons ofertados por Deus, Rodrigues tornava-se invisível aos olhos do “Rei do Cangaço”. Não concordava com as tropelias do bandoleiro. Certa feita, Lampião acampou ali por perto e mandou chamá-lo. Dessa vez o fazendeiro resolveu comparecer e apresentou-se ao chamado do bandido. O capitão afastou-se com o visitante ficando sob árvore frondosa nas proximidades. Disse que tinha conhecimento dos dotes de Rodrigues e queria apenas que ele copiasse uma reza forte das muitas que sabia. O fazendeiro alegou não saber escrever. Pediu para que Virgulino anotasse que ele iria ditando. Assim foi feito. Naturalmente Rodrigues não deve ter ensinado o pulo do gato. Lampião pediu também consentimento para levar o filho do fazendeiro, conhecido por Rodriguinho. O pai alegou que a decisão era do filho. E assim Rodriguinho partiu com Lampião, passando certo tempo no cangaço. Sua especialidade era atirar de longe nos bodes da caatinga, quebrando duas patas com um tiro só. Aquilo entusiasmava o capitão. Cansado das maluquices do cangaço, entretanto, Rodriguinho desertou. Lampião – que não perdoava desertores – andou algumas vezes na fazenda de Rodrigues, manso, maneiroso, querendo notícia do filho, pois gostava muito dele”. O pai, macaco velho, desconversava, alegando sempre que não sabia onde se encontrava o rapaz. Rodriguinho, sob a proteção do velho, nunca mais em vida viu Lampião. Rodrigues morreu com 102 anos, tendo anunciado com bastante antecedência o ano, o dia e à hora da passagem. Tudo se cumpriu.
Rodriguinho constituiu família e, já em idade avançada, o tempo do cangaço bateu novamente em sua porta. Com uma neta casada com um sujeito perdido, teve que ver e aguentar muitas coisas para continuar em paz. Um dia o marido da neta partiu para a última ofensa. Após desdenhar do passado de Rodriguinho como cangaceiro, ameaçou bater no velho e partiu para a ação. Mas o agressor só teve tempo mesmo de erguer a mão. Caiu para trás ao receber as balas de um revólver 38, após o velho limpar a vista e não tremer as mãos. Polícia e Justiça quiseram cair em cima, porém, o homem que mandava em São José da Tapera e região interferiu: Como poderia a polícia prender um ancião que defendera a própria vida para não ser desmoralizado? E assim o caso não deu em nada.
Se Rodriguinho tinha um nome de guerra no bando de Virgulino, meu narrador não lembra mais. A vida desse moço faz parte do todo que embasou as hostes lampionescas. Nem mesmo após os arrependimentos ninguém está livre das tentações; nem com idade avançada. Essa narrativa veio a lume, graças à boa vontade de “Tonhe Véi”, homem decente que ajudou a preencher com família a ribeira do Capiá. Entre tantas e tantas histórias narradas envolvendo Lampião, incluímos a do cangaceiro anônimo Rodriguinho REVIVENDO O CANGAÇO.





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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O RÁDIO DE ORMINDO

O RÁDIO DE ORMINDO

(Clerisvaldo B. Chagas. 2.2.2010)
Esta crônica de nº 200 é marco de etapa. É oferecida ao professor Valter Filho, cujo cajado de Moisés abriu o mar Vermelho

Fragmentos exaustivamente pesquisados dão conta de que também havia uma escola particular em Santana do Ipanema que não é muito lembrada. O que não é registrado termina morrendo na boca dos mais velhos. O esquecimento toma conta do restante e pronto; vai-se um pedaço da história. Tudo leva a entender que a escola particular do professor Domingos Gonçalves Lima, fardada, disciplinada, bem dirigida, existiu após a extinção da escola pioneira do professor e senador Enéas Augusto Rodrigues de Araújo e esposa professora Maria Joaquina de Araújo. Não encontramos em outras fontes referências ao contabilista mais antigo em Santana. Primeiramente, Domingos Gonçalves Lima, então com 18 anos de idade, chegou à “Rainha do Sertão”, como contador da firma do Coronel Manoel Rodrigues da Rocha. Veio de Porto da Folha, solo sergipano, direto para seu primeiro emprego. Muito temos sobre todos eles no livro inédito O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema. O nosso ponto de hoje, porém, é sobre outro contabilista que conhecemos na década de 60.
Ormindo Monteiro era contador da firma de meu pai. Baixinho, muito sério, vez em quando aparecia no senadinho da loja de tecidos. Conversava pouco e sempre trazia uma novidade. Geralmente era uma notícia diferente que as pessoas demoravam a acreditar. Na hesitação dos presentes, Ormindo costumava afirmar: “deu no rádio”. Ora, o rádio ainda era privilégio de poucos e contava com boa credibilidade. Dessa maneira Ormindo não dava rasteira em sapo. Qualquer dúvida sobre suas notícias vinha logo à salva-guarda: “deu no rádio”. Certa feita, depois de muita conversa alguém disse que o animal que mais comia era a égua. Nem valia à pena criar essa biscaia. Quem quisesse que prestasse atenção. Até o cavalo parava para dormir, mas a besta passava a noite toda acordada a pastar; era só ouvir o chocalho badalando até o amanhecer. No outro dia chegava Ormindo para confirmar a conversa anterior. Havia se enrolado num capote e passara à noite inteira sob o aveloz escutando o chocalho da besta, dissera. Lógico que ninguém acreditou em tamanho absurdo. Nenhum cristão consciente iria passar uma noite acordado ouvindo chocalho de besta. E foi dessa vez que Ormindo não pode provar porque não havia dado no rádio.
As eleições se aproximam. Políticos locais já se assanham porque o postulante a deputado, a senador, a governador, apareceu em Santana, pagou churrasco, conversou muito, saiu na mídia. Existe ainda muita ilusão no pai-nosso da política. Os seis possíveis candidatos a prefeito vibram quando chegam os arautos do mundo com suas promessas costumeiras. Em outras localidades, não sabemos, mas em Santana do Ipanema o chocalho da besta já deu no RÁDIO DE ORMINDO.





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