domingo, 31 de janeiro de 2021

 

OS PREÁS DA BARRIGUDA

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de fevereiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.461




Quando criança, fui visitar algumas vezes, a casa do senhor Cirilo, último tropeiro de Santana do Ipanema. Subia a calçada de pedra do Almocreve, à Rua Antônio Tavares, a convite de outra criança, Iran Siqueira, filho do cabo Leôncio e Dona Bela. Tudo para ver de perto a pequena criação de mocós em um dos cômodos da casa. Os mocós estavam ali, branquinhos com manchas coloridas na pelagem. Era realmente apaixonante contemplar aquelas criaturas fofinhas e dóceis que Iran dizia serem dele. O mocó (Kerodon rupestris), família Cavidae, é um pouco maior do que o seu parente preá e, ambos vivem em lugares de pedras e lajeiros, onde possuem a toca protegida. São muito perseguidos pelos predadores como as cobras, os gaviões e os homens. Por sua vez o preá (Cavia operea) também chamado Bengo, tem pelagem cinza e pertence à família Cavidae. Ambos não têm cauda, são roedores como o rato e se alimentam de folha, capim, frutos e cascas de árvores.

Esses simpáticos roedores podem ser uma praga para a agricultura, porém já alimentaram milhares de pessoas nas grandes estiagens sertanejas. São caçados a tiros, com armadilhas chamadas aratacas e de muitas outras formas.

Nessas alturas da vida, pensei que não mais existissem esses atrativos cavídeos, devido à fome, ao desmatamento e a intensa caça predatória.

Fui, então, surpreendido pela belíssima foto do secretário da Agricultura municipal, Jorge Santana, fruto das suas constantes andanças pela zona rural. A fotografia representa o sítio Barriguda, cortado pela AL-130, onde está exposto o sapo de pedra – atração turística – feito por artista local. Achei a foto a mim enviada, uma relíquia. Representa um casal de preás, logo cedo do dia, tomando Sol nas pedras do entorno da toca matriz. Além disso ainda tem um pequeno facheiro, vegetal espinhento da caatinga e as rochas de granito rachadas pelas intempéries. É o meu Sertão alagoano ensolarado e palpitante de vida selvagem montado nas coisas tão belas, presentes do Criador.

Passe Corona, passe que eu quero voltar aos campos da minha terra com máquina fotográfica, água no cantil embornal a tiracolo e muito amor no coração. (FOTO: JORGE SANTANA).

 

 

 

 


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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

 

A VOLTA DOS PROFETAS

Clerisvaldo B. Chagas,28/29 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.460



Com muita satisfação recebemos convite do Secretário da Agricultura, Meio Ambiente e Recursos Hídricos de Santana do Ipanema, Jorge Santana, para participar de grande evento municipal. Estamos falando de mais um Encontros de Profetas Populares das Chuvas do Sertão Alagoano. Dar-se-á o acontecimento no próximo dia 12 de fevereiro, das 8 às 12 horas. O local será defronte a Secretaria da Agricultura, vizinha à Caixa Econômica no Bairro Monumento. Por coincidência, o dia 12 cairá numa sexta-feira, quando se realiza em Santana a Feirinha da Agricultura Familiar que vai ganhando tradição na mesma localidade. Além da apresentação dos Profetas da Chuvas, o evento contará com a presença dos repentistas José de Almeida e Manoel Cruz, poetas que se apresentam todos os dias na Rádio Correio do Sertão.

Esta será mais uma jornada que vem fazendo sucesso em Alagoas, quando homens experientes, observadores da Natureza, expõem seus conhecimentos sobre o futuro das chuvas na região. O evento municipal procura valorizar o homem do campo na sua sabedoria acumulada através de anos a fio estudando a flora, a fauna, a posição dos astros, a maneira de agir do tempo sertanejo. Foi mais uma tentativa que deu certo por parte da Secretaria da Agricultura. A expectativa é grande, tanto pelos habitantes da cidade quanto do homem rural. Aguardamos mais novidades ainda sobre os conhecimentos que virão.

Enquanto isso, a Feirinha da Agricultura Familiar, será naquele dia uma espécie de suporte para os que procuram se alimentar com as comidas de panelas e as guloseimas oriundas do campo. É um momento único que bem poderia constar no calendário turístico estadual. Quem quer perder um acontecimento único e inusitado que não se vê em outros lugares das Alagoas.  As profecias anteriores não trouxeram o excesso d’água nas enchentes do Panema, mas previram a chegada das águas em rio, riachos e riachinhos. O inverno foi bom como foi anunciado no palanque dos Profetas, a despeito das cheias e do Corona.

Que venha a nova edição das profecias para mais uma inolvidável manhã de sexta-feira.

Ponha máscara, se cuide e marchemos rumo ao Bairro do Monumento.

(CARTAZ/DIVULGAÇÃO).

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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terça-feira, 26 de janeiro de 2021

 

AGUARDANDO TROVOADAS

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo de Sertão Alagoano

Crônica: 2.459



 

 Quem conhece os sertões nordestinos, também conhece as agruras das longas estiagens e, consequentemente, os barreiros, açudes ou barragens da região. Os barreiros são depósitos d’água escavados no solo em lugares que possam receber o fluxo das enxurradas. Eles podem ser pequenos, médios ou grandes, quase sempre de forma arredondada. Os barreiros, muitas e muitas vezes menores do que as barragens ou açudes, são as formas mais grosseiras, baratas e simples de acumular água nas propriedades sertanejas. Antes, o barreiro era feito manualmente em forma de mutirão. Na época de limpeza, isso também era realizado manualmente usando-se o couro de boi esticado para jogar a lama fora. Hoje, usa-se o trator para cavar o barreiro e para a limpeza periódica.

Alimentado pela terra nua, os barreiros recebem água da chuva diretamente e por meios das enxurradas nos terrenos inclinados, ocasião em que essas enxurradas trazem com elas muita sujeira e terra na lixiviação do relevo. O barreiro enche, todavia, fica assoreado, recebendo cada vez menos água em cada chuvarada. Daí a necessidade periódica do que se chama por aqui de limpeza. Retirada toda a areia, lama, e sujeiras outras, volta o depósito a receber e acumular quantidade maior de água que vai ajudar a varar a estiagem até a volta do período chuvoso. O pequeno agricultor não consegue sozinho fazer essa limpeza, pois não pode pagar os custos do procedimento. Daí entrar a prefeitura através de algumas secretarias nas ações gratuitas assistindo à Agricultura Familiar.

Tudo isso tem que ser feito no período certo, isto é, antes da chegada das trovoadas, chuvas fortes e benfazejas dos sertões. É assim que estar procedendo a prefeitura de Santana do Ipanema, limpando os barreiros do pequeno agricultor, enquanto no céu, arrodeia e ameaça as trovoadas de janeiro. Dia o ditado popular: “Trovoada de janeiro tarda, mas não falta”. Também é época de reparar os telhados. No sertão, reparar é olhar, prestar atenção, mas o reparar do texto é conserto mesmo nas telhas que se afastam nas caçadas dos gatos.

Faz muito bem a espiada eficiente da prefeitura para o social do campo. É de lá que vem a alimentação dando fartura à nossa mesa e dispensa com produtos agrícolas de boa qualidade.

Viva a Agricultura Familiar!

(FOTO CRÉDITO: JEAN SOUZA/SERTÃO NA HORA).

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


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segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

 

IMAGINANDO A MATRIZ DE SANTANA

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.458




Vendo a imponente Igreja Matriz de Senhora Santana, temos que seja originária da capela inicial, construída em 1787 pelo padre Francisco Correia. Na verdade, foi uma parceria feita entre o fazendeiro Martinho Rodrigues Gaia e o padre Francisco. Martinho fornecendo mão de obra e material de construção, o padre, elaborando sua arquitetura, seus desenhos, seus altares. Imaginamos a esposa do fazendeiro, primeira devota de Senhora Santa Ana, acompanhando e encorajando os trabalhos da capela, cujo santos ela encomendara ao padre que os trouxe da Bahia. O padre só inaugurou a igreja após esculpir o Cristo Crucificado com suas próprias mãos.

Podemos conferir que foi seguida a sua arquitetura na reforma que sofreu em 1900, pelo padre Manoel Capitulino de Carvalho, futuro intendente de Santana e também governador de Alagoas. Basta examinar uma foto antiga e de domínio público mostrando a reforma da igreja ainda em preto e rodeada de andaimes. É comparar com o desenho da igreja original e notar a sua semelhança. Nada mais sabemos fora a data de inauguração da reforma e do mestre de obras denominado: Francisco José Bias. A igreja de Senhora Santana só vai aparecer na história com a significativa reforma já inserida em Santana/cidade, na segunda metade da década de 1940. Mas, dessa vez temos apenas os nomes do padre Bulhões, como seu reformador e seu auxiliar, padre Medeiros, após os problemas de saúde de Bulhões.

No caso dessa grande reforma que externamente até hoje perdura, não temos conhecimento de quem teria sido, mestre de obras, engenheiro ou trabalhadores. Também não sabemos com exatidão o material empregado fora o tijolo: argamassa, ferro, cal, tipos de areia... Temos a ideia, porém, e a realidade da beleza única da sua arquitetura, sem fugir aos desenhos originais do padre Francisco Correia. A Igreja Matriz de Senhora Santana foge de todos os padrões dos templos católicos ao longo do rio São Francisco, em Alagoas, a maioria com duas torres. Atualmente a beleza e a pujança do edifício, destaca-se como o mais atraente cartão de visitas do Sertão alagoano e um dos mais chamativos de Alagoas, senão o maior de todos.

E se o relógio quatro faces já não funciona, se os abençoados sinos não dobram como antes, mas seu campanário não perdeu a sua mística e nem sua torre o magnetismo dimensional entre Deus e os homens. Amém, amém...

 

 

 


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A VACA DA REMETEDEIRA

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de janeiro de 2021.

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.457

 

Ao olhar os montes que circundam Santana do Ipanema, chegam até nós a impressão de que foram formados de uma vez só há milhões de anos. Vista do serrote Pelado (Alto da Fé), a cidade parece construída dentro de um vulcão extinto, pelo menos é o que deixa transparecer o círculo de elevações em torno da urbe, mesmo com vários intervalos entre elas. Nesse contexto aparece a serra da Remetedeira, cujo nome estranho sempre intrigou a vontade da pesquisa. Para quem conhece a região fica mais fácil entender. Podemos falar que a serra da Remetedeira tem início na parte baixa do Bairro Floresta, exatamente à margem direita do rio Ipanema, no poço do Juá, com a barreira onde se inicia a subida para o Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo.

A serra tem início na barreira do Juá e vai subindo, passa pelo hospital, forma um platô nas imediações e continua ganhando altura quando começa a circundar. Alguns quilômetros à frente, atinge o seu pico no meio do círculo, visto da região Oeste da cidade. Dali continua o seu círculo até que vai amainando a altitude até chegar perto da BR-316, além do Bairro Barragem. É um percurso que ainda sonhamos percorrê-lo totalmente e conhecer de perto o seu pico. Visto de longe através de aparelhos, o cume da serra da Remetedeira é rochoso e imensamente quebradiço pela constante exposição às intempéries.

Quanto a denominação, contam os antigos que ali em um sítio vivia uma vaca que procurava proteger a sua cria dando carreira em gente. Os habitantes do lugar chamavam a rês de “vaca remexedeira”.  Um padre chegado à região, sabendo sobre a vaca remexedeira e o motivo, corrigiu o português matuto do lugar dizendo que o correto seria “vaca remetedeira”, o animal que arremete, que ataca com fúria. E assim, não somente a vaca, mas a serra também passou a ser chamada: serra da Remetedeira, isto é, (serra da vaca que arremete). Isso deve ter acontecido entre os Séculos XIX e XX.

Examine a foto e confira a narrativa.

Vamos juntos conhecê-la?

(FOTO: CRÉDITO B. CHAGAS/LIVRO 230)

 


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sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

 

CALDO DE CANA

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.456



 

Nos montes de consideráveis altitudes nos sertões nordestinos, costumam-se plantar, além de outros produtos específicos das alturas, também a cana-de-açúcar. Mas não estamos falando da produção para grandes engenhos e sim, um plantio suficiente para o consumo da família do produtor e alguns amigos vizinhos. Nesse caso, a cana é escolhida como de boa qualidade para produzir o caldo de cana, também chamado no sertão, de garapa. Primeiro o moedor doméstico era feito de madeira, manuseado por apenas uma pessoa.  Hoje em dia já existe esse engenho feito de ferro, manual ou movido à força elétrica. O velho moedor de pau desceu das serras para a cidade, transformou-se em metal e passou a ocupar praças e outros lugares estratégicos para se vender garapa. Caldo de cana é uma delícia nordestina que faz a festa de qualquer vivente.

“A cana é uma planta composta, em média, de 65% a 75% de água, mas seu principal componente é a sacarose, que corresponde de 70% a 91% de substâncias sólidas solúveis. O caldo conserva todos os nutrientes da cana-de-açúcar, entre eles minerais (de 3 a 5%) como ferrocálciopotássiosódiofósforomagnésio e cloro, além de vitaminas do complexo B e C. A planta contém ainda glicose (de 2% a 4%), frutose (de 2% a 4%), álcool (0,5% a 0,6%), amido (0,001% a 0,05%) ceras e graxos (0,05% a 0,015%) e corantes, entre 3% a 5%”. (Wikipédia)

Nada para curar ressaca quanto caldo de cana! Entretanto, não é aconselhável para diabéticos.

Isso faz lembrar o engenho de pau da serra do Gugi, no município de Santana do Ipanema, Alagoas. Íamos para àquelas alturas beber garapa no sítio do velho Olavo, em nossa juventude. Não resisti no futuro e transformei o velho Olavo em personagem do meu romance: “Deuses de Mandacaru”, onde narrei cenas com a serra do Gugi.

E se até os europeus descobriram a rapadura brasileira e compram-nas para suas escolas, imaginem se eles descobrem o sabor nordestino do caldo de cana! Fora anemia!

Muitos trabalhadores do campo gostavam das horas do lanche quando o patrão fornecia caldo de cana com pão doce. Até nas capitais o interiorano já pode matar as saudades dos engenhos nas esquinas onde estão de pontos fixos os antigos engenhos do tipo “velho Olavo”.

Caldo de cana... Doce que só beijo de morena apaixonada.

(FOTOS: WIKIPÉDIA)


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terça-feira, 19 de janeiro de 2021

 

AS CARÇAS DO CARCELEIRO

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.455


 

No momento em que o estado de Alagoas estar abrindo concursos para diversos seguimentos sociais, chegou à lembrança de um acontecimento humorístico já apresentado aqui faz bastante tempo. Omitiremos desta feita o nome do protagonista, para evitar melindres desnecessários.

O penúltimo dos grandes alfaiates de Santana do Ipanema, também seresteiro e pescador ocasional, trabalhava em sua residência à Rua Nilo Peçanha que por coincidência também pertencera a outro alfaiate e pescador conhecido como Seu Quinca. Porta de ferro aberta direta para a rua, grande balcão de trabalho, manequim olhando para fora e fita métrica no cabide do pescoço, nosso amigo alinhavava de pernas cruzadas. Vez em quando chegava um cliente para encomendar uma roupa ou um conhecido para puxar conversa.

Fo assim que em manhã de trabalho puxado chegou um amigo auxiliar de mecânico, fala mansa, estudo a desejar e a conversa com “Seu Juca” teve início. O visitante sentou-se num banco de tiras de couro e abriu o livro da sua vida. Juca de vez quando estimulava a palestra que girava em torno de trabalho, emprego, remuneração e coisas assim, até que foi tocado o assunto novidade de Alagoas: o concurso público cujo edital já fora publicado. O Alfaiate indagou se o amigo já estava sabendo e recebeu resposta inusitada.

As pessoas de pouca instrução costumam chamar “carça”, no lugar de calça: “Nem deu tempo de fulano vestir as carça”.

Pois bem, voltemos ao diálogo. Esperançoso com as boas novas do estado, o auxiliar de mecânico disse: “Eu mesmo vou fazer o concurso para carceleiro” (carcereiro). Juquinha fez de conta que tinha ouvido mal: “Concurso para quê?”. “Para carceleiro”, repetiu o mecânico. Juca deixou escapar uma risada gostosa e irônica e disse: Tá doido, rapaz! E você vai fazer “carça” na penitenciária? Diante da sarcástica advertência, o mecânico tentou remendar as “carça” perante o alfaiate... Gaguejou aqui, acolá... E zás! Abandonou ligeirinho o banco de tiras e mergulhou na Rua Antônio Tavares, onde morava, levando a vergonha na cabeça, na camisa e nas “carças dos carceleiros”.


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COMPARANDO

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.454

 

 

      Sempre lembrada pelos mais velhos e repetidas aos mais novos, a maior cheia do rio Ipanema ficou imortalizada em 1941. Como marco, as águas chegaram até os pés do prédio da Perfuratriz no final da Rua São Paulo. Esse prédio estava localizado onde é atualmente, mais ou menos a sede da Associação de Moradores da Rua da Praia, defronte a sua a igreja. O prédio da Perfuratriz, muito bonito, tinha forma de cubo, rodeado de janelas. Diante dele, um caminho ladeado de aveloz iniciava ali onde hoje é a Rua da Praia e seguia até o último beco da Rua São Pedro, atualmente extinto por moradores. Esse caminho de cerca de 400 metros, parecia um túnel, não deixava penetrar a luz do Sol por causo das cercas altas do aveloz.  Aponta-se como a segunda cheia do rio Ipanema, a de 1960. Essa nós presenciamos de perto.

     De acordo com o cidadão de mais de 80 anos, Manoel Fontes, o senhor Pedro Agra, falava que 100 anos antes da cheia de 1941, isto é, em 1841, houve cheia semelhante.

Na cheia de 1941, não havia ponte nem no rio Ipanema, nem no riacho Camoxinga. Na cheia de 1960 não havia construções no leito do riacho e nem no lastro do rio Ipanema.

Na última cheia, a de 2020, pode até ter sido a maior, mas vamos levar em conta o seguinte, no rio Ipanema: havia uma pequena aglomeração de casas, logo após a barragem. Por trás da Rua Delmiro Gouveia, uma rua completa dentro do rio Ipanema, não no centro, mas dentro do rio.  Mais abaixo, uma oficina debaixo da ponte General Batista Tubino. Casas comerciais dentro do rio, trepadas por colunas. Rua da Praia construída no limiar do Panema. Por onde você acha que o rio iria passar?

No riacho Camoxinga, construções dentro do riacho a partir da Ponte do Colégio Estadual. Antes, casarios margeando o riacho com seus quintais. Garagem construída na foz do riacho Camoxinga. Além da sua cheia, o riacho represou com o rio Ipanema, por onde você acha que riacho iria passar?

     Essas obstruções vêm sendo construídas desde os tempos da gestão de Genival Tenório. Um dos seus auxiliares na época, diante da minha crítica, chegou a me oferecer um lote no rio Ipanema, na Ponte do Padre. Agradeci e saí enojado. Daí para cá, ninguém mais segurou as construções absurdas nos leitos dos riachos Salgadinho, Camoxinga e rio Ipanema. Inclusive, o represamento do valente riacho Salgadinho também foi responsável pela inundação da parte baixa dos Bairros Domingos Acácio e Floresta.

     Será que depois do susto todos voltaram para os mesmos lugares? O rio continua vivo.

 CHEIA DO RIO IPANEMA, MARÇO 2020 (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES/ACERVO B. CHAGAS).

 

 

 


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segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

 

NOVO LIVRO NA PRAÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.453



 

Da ninhada de mais de duas dezenas de livros, nasce o caçula que será apresentado ao povo santanense. Trata-se do documentário da navegação em nosso rio com mais de duas décadas de atividade. A epopeia dos nossos heróis sertanejos, foi resgatada por nós e faz parte da grande história santanense, desconhecida das novas gerações de terra. Assim como resgatamos a história da “Igrejinha das Tocaias”, “Negros em Santana”, “Ipanema um Rio Macho”, “Barra do Ipanema, um Povoado Alagoano” e outros mais, apresentaremos à sociedade o único livro de Santana que fala e resgata a canoagem na Rainha do Sertão. O livro já saiu do prelo e está sendo entregue pela GrafMarques, Maceió, pronto para a publicação.

O documentário “Os Canoeiros do Ipanema”, não terá lançamento como estamos habituados, mas será entregue, principalmente, aos professores da cidade, escolas, bibliotecas, para que repassem para as gerações dos anos 70 em diante, esse episódio de heroísmo da nossa terra quando não havia pontes em nosso principal rio e riachos seus afluentes. “Os Canoeiros do Ipanema” – ricamente ilustrado – é um documentário com mais de vinte páginas e prefácio do escritor contista, Fábio Campos. Para quem pensa imediatamente no preço da obra, este não será maior do que o número de páginas, mas a preferência, como já foi dito, será para os mestres, as escolas e bibliotecas visando o repasse informativo do episódio para essa juventude que não tem ao seu dispor outras informações a respeito.

O preço será muito baixo para obra tão valiosa que nem compensa enviar pelos Correios com os custos maiores do que o preço do livro. Portanto os santanenses ausentes poderão encomendar para ser entregue a familiares em nossa cidade e eles darão um jeito de enviá-lo ao destino. Para professores, escola e bibliotecas, poderá haver patrocínio, caso isso aconteça restará uma pequena reserva para os demais segmentos da população.

Cidade sem história é cidade morta e os canoeiros foram gigantes bem vivos da nossa sociedade.

Comunicaremos com antecedência a data de entrega do trabalho na mão do povo. (20,00).

FOTO DE CAPA (B. CHAGAS).

 


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quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

 

COISAS DO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.451




O clima da região de Maceió é tropical úmido e no calor deixe a pele oleosa, com dificuldade de evaporar. O clima do Sertão é tropical seco ou semiárido. No calor o suor evapora fácil. Na capital a chuva pára abruptamente como se tivesse sido cortada num só golpe. No Sertão a chuva vai parando aos poucos.

O sertanejo, principalmente do campo, tem um modo especial de falar sobre o tempo. Quando o céu está repleto de nuvens cinzas, ele diz: está bonito pra chover...”. Os mais experientes distinguem as coisas: “Não vai chover, isso é somente carregação...”. E de fato, o céu está bonito para chover mais não chove.

Muitos sertanejos ignoram as quatro estações do ano. Para eles, só existem duas estações: verão e inverno. O verão é marcado pela ação do Sol, o inverno, pelas ações das chuvas. A primavera não conta mesmo sendo amena em relação à temperatura. O outono surge como início de chuvas, portanto, classificado popularmente como inverno. A temperatura em pleno verão pode atingir até 39, 40 graus pelo dia e, à noite sofrer a chamada “amplitude térmica”, quando a temperatura declina, permitindo noites agradáveis e prazerosas.

Um pouco antes das chuvadas de verão, vários tipos de animais chamam atenção do sertanejo. Uma dessas maneiras de atrair a curiosidade é a chamada:” festa no céu”, como aconteceu na tarde de ontem: urubus em bando, sobrevoam em longos círculos repetitivos, distanciando-se aos poucos do ponto inicial da festa.  Dificilmente, nessas ocasiões, o céu não molha a terra até o dia seguinte.

Também não é raro no prelúdio das chuvas, as ventanias que provocam os redemoinhos, diversão de adultos e da meninada que grita insultando o vento: “Rapadura!” “Rapadura!”. Dizem que essas palavras fazem com que o vento furioso se dirija com seus redemoinhos para onde está sendo chamado.

Na situação de temperatura alta com chuvas abundantes e momentâneas, pode ocorrer o fenômeno do granizo, chamado por aqui de “chuva de pedras”.

Entretanto, o presente esperado mesmo pelo sertanejo, é a trovoada, chuvas abundantes de uma vez só, quase sempre acompanhada de raios apocalíticos e trovões terrificantes. Não fica um só cachorro na rua, galinha no terreiro e de nervosos sem mergulhar debaixo da cama.

TROVOADA IMINENTE OU CARREGAÇÃO? (FOTO: B. CHAGAS).


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SÃO SEBASTIÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.450




”Sebastião nasceu na cidade de Narbona, na França em 256 d.C. Seu nome de origem grega, Sebastós significa divino, venerável. Foi criado em Milão na Itália, onde ele cresceu e estudou. Seguiu a carreira militar, do seu pai. Chegou a ser capitão da primeira guarda pretoriana. O imperador era Maximiano que não sabia que Sebastião era cristão e que não participava dos martírios, nem de idolatrias romanas, apesar de cumprir seus deveres militares. Visitava os presos e os ajudavam.

Ao tomar conhecimento de cristãos infiltrados no exército romano, Maximiano realizou uma caça a esses cristãos, expulsando-os do exército. Só os filhos de soldados ficaram obrigados a servirem o exército. E este era o caso do Capitão Sebastião. Para os outros jovens a escolha era livre. Denunciado por um soldado, o imperador se sentiu traído e mandou que Sebastião renunciasse à sua fé em Jesus Cristo. Sebastião se negou a fazer esta renúncia. Por isso, Maximiano mandou que ele fosse morto para servir de exemplo e desestímulo a outros. Maximiano, porém, ordenou que Sebastião tivesse uma morte cruenta diante de todos. Assim, os arqueiros receberam ordens para matarem-no a flechadas. Eles tiraram suas roupas, o amarraram num poste no estádio de Palatino e lançaram suas flechas sobre ele. Ferido, deixaram que ele sangrasse até morrer.

Irene, uma cristã devota, e um grupo de amigos, foram ao local e, surpresos, viram que Sebastião continuava vivo. Levaram-no dali e o esconderam na casa de Irene que cuidou de seus ferimentos.

Depois de curado, Sebastião continuou evangelizando e se apresentou ao imperador Maximiano, que não atendeu ao seu pedido. Sebastião insistia para que ele parasse de perseguir e matar os cristãos. Desta vez o imperador mandou que o açoitassem até morrer e depois fosse jogado numa fossa, para que nenhum cristão o encontrasse. Porém, após sua morte, São Sebastião apareceu a Lucina, uma cristã, e disse que ela encontraria o corpo dele pendurado num poço. Ele pediu para ser enterrado nas catacumbas junto dos apóstolos

Alguns autores acreditam que Sebastião foi enterrado no jardim da casa de Lucina, na Via Ápia, onde se encontra sua Basílica. Construíram, então, nas catacumbas, um templo, a Basílica de São Sebastião. O templo existe até hoje e recebe devotos e peregrinos do mundo todo.

Tal como São Jorge, Sebastião foi um dos soldados romanos mártires e santos, cujo culto nasceu no século IV e que atingiu o seu auge nos séculos XIV e XV, tanto na Igreja Católica como na Igreja Ortodoxa. São Sebastião é celebrado no dia 20 de janeiro. Existe também uma capela em Palatino, com uma pintura que mostra Irene tratando das feridas de Sebastião. Irene também foi canonizada e sua festa é no dia 30 de março”.

No Sertão alagoano, São Sebastião é Padroeiro de vários lugares como Poço das Trincheiras, Monteirópolis e outras cidades, além do povoado santanense de Areias Brancas.

(Texto e foto extraído do site Cruz Terra Santa, Santos e ícones Católicos).

 

 

 


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segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

 

A BALA DA BALADEIRA/SABIÁ E BACURAU

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.448




          Dificilmente você encontrará em Santana do Ipanema uma pessoa que saiba quem foi Batista Accioly. Facilmente, entre os mais velhos, você encontrará quem diga que estudou na Escola Bacurau, no Bairro São Pedro. Ninguém sabe de nada, ninguém lembra de nada, pois a nossa história é só o presente.  Não existe a história de Santana nas escolas, muito embora essa tentativa infrutífera venha da nossa parte desde 2006 com o livro “O Boi a Bota e a Batina; história Completa de Santana do Ipanema”. Vamos relembrar aos mais velhos e surpreender os mais novos:

Entre os anos 1937 e 1938, foi construído um prédio modesto em Santana do Ipanema, com o intuito de escola para trabalhadores que não podiam frequentar suas instruções pelo dia. O prédio foi edificado no Bairro São Pedro, vizinho a modesta igrejinha do mesmo santo. Foi o primeiro estabelecimento escolar noturno da cidade. Recebeu o nome de Escola Batista Accioly, governador de Alagoas desde junho de 1915 e que veio a falecer em sua terra, Maragogi em 1938. Logo, logo, a Escola Batista Accioly, recebeu pelo povo o apelido de Bacurau por funcionar no turno noturno. Sua trajetória é uma história rica e à parte em minha terra. O prédio é cheio de janelas, bem ventilado e iluminado pela luz do Sol. Mas, a partir de aproximadamente 1960, ninguém na cidade sabia quem fora Batista Accioly, somente o Bacurau. Muitas pessoas ilustres passaram por ali. O edifício venceu períodos ociosos e períodos laboriosos.

Não está com tanto tempo assim, o nome Batista Accioly (que ninguém sabia mais quem fora) teve seu nome excluído e escrito na fachada: Biblioteca Municipal Profa. Adercina Limeira. Sua simples citação faz lembrar o professor Agilson, funcionário do Departamento Nacional de Estradas e Rodagens – DNER – lecionando turmas grandes e particulares para o Admissão ao Ginásio, inclusive com este narrador como aluno.

Estive visitando o Bacurau e vi quatro ou cinco livros nas estantes praticamente vazias. Por que o costume da terra de apagar homenageados para colocar outros no lugar? Lembram também da Praça do Toco? Praça Emílio de Maia que recebeu o mesmo destino? A falta de conhecimento das autoridades sobre nossos valores históricos depreda mais o nosso patrimônio histórico do que os vândalos pichadores e ladrões de placas inaugurais.

Você já viu aquele tema usado pelos repentistas: “Voa sabiá/do galho da laranjeira/que a bala da baladeira vem zoando pelo ar...”

Já estou VOANDO.

ANTIGA ESCOLA BACURAU. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

 

 


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sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

 

MORREU O MOTIVO DA TRADIÇÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.447


 

Acaba de falecer o motivo do tradicional título do lugar Maracanã no Bairro Camoxinga em Santana do Ipanema. Maracanã é a palavra mais citada diariamente na cidade. É ponto de convergência e divergência do grande bairro, referência em toda a região. Há mais de sete décadas ali foi instalada uma churrascaria que recebeu o nome Churrascaria Maracanã, gerando o nome do lugar. (sua história se encontra no livro “O Boi, A Bota e a Batina; História Completa de Santana do Ipanema”, ainda inédito. Pois bem, após longas tentativas de venda, o prédio da Churrascaria Maracanã (há muito desativada) agora, no dia 4 de janeiro de 2021, foi iniciado como um grande empreendimento, transformado em Centro Médico de Saúde Fácil, com fachada total reformada.

O Centro Médico de Saúde Fácil, é um empreendimento santanense, particular, pertencente aos irmãos médico Pedro Salgueiro e o engenheiro André Salgueiro, família da saudosa professora Iracema Salgueiro. O Centro foi planejado para facilitar consultas médicas e exames laboratoriais a preços moderados, oferecendo várias facilidades para que a população de menor poder aquisitivo possa usar satisfatoriamente a medicina em seu favor. Santana do Ipanema agradece aos filhos da terra que não mediram esforços em investir na Rainha e Capital do Sertão, principalmente numa área tão nobre quanto esta. Quem passar no Largo do Maracanã, agora, sentirá falta da imagem da antiga churrascaria que lhe emprestou definitivamente o nome. Em seu lugar, porém, verá uma bela fachada, atestando o progresso da cidade como mais uma opção médica para o estado de Alagoas.

Faleceu o motivo da tradição do nome do Largo, mas ninguém vai deixar de continuar chamando o ponto de referência do Bairro Camoxinga e da cidade pela mesma denominação construída há mais de meio século. Santana do Ipanema tem se transformado tão rapidamente que se torna impossível o acompanhamento pari passu, como fazíamos sempre. Mesmo assim continuamos descrevendo para os ausentes, o que está acontecendo nas terras abençoadas de Senhora Santana. A priori, a vizinha farmácia Santa Cruz, chamada Farmácia de Jânio, fará parte do empreendimento com o nome Farmácia MedFácil, com descontos de até 80% nos medicamentos, segundo divulgação.

Parabéns mais uma vez aos empreendedores santanenses que dão exemplo de investimentos na terra.

“Nada desaparece, tudo se transforma”.

(em breve publicaremos extra a fachada do Centro Médico)

EXTERTORES DA HISTÓRICA CHURRASCARIA MARACANÃ.

(RARA FOTO: B. CHAGAS).

 


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quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

 

A PRINCESA DE CORISCO

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.446





Quando o bando de Corisco passou pela fazenda Lagoa da Pedra, mostrava-se no céu a barra do dia. Os cangaceiros não interromperam a marcha, porém o chefe fez uma observação à Dadá e aos parceiros. Disse Corisco, vendo a minha tia Dorotéia no curral, sentada no banquinho de tirar o leite, saia rodada: “Olhem ali aquela dona, tá parecendo uma princesa!”.

Voltemos aos costumes do Sertão. Nas fazendas de gado, qualquer pessoa pode tirar o leite das vacas. O vaqueiro, o morador comum, o dono da fazenda ou o profissional específico denominado “tirador de leite”. No Sertão nordestino não se diz: ordenha e nem ordenhador. É “tirar o leite”, é “o tirador de leite”. Como foi dito, qualquer pessoa da fazenda pode fazer esse serviço, principalmente quando se trata de uma, duas, cinco vacas. O vaqueiro pode realizar isso, embora sua missão principal seja campear o gado. O vaqueiro pode ser um bom tirador de leite ou não.

Quando a fazenda possui muitas reses, é costume contratar o tirador de leite. Este é um profissional com experiência, habilidade e boa munheca para dá conta de tantas reses. Logo madrugada, em torno das quatro horas, o tirador de leite já está no curral com seu equipamento: um banquinho, uma corda e um balde. No inverno, enfrenta a chuva e o curral enlameado com estrume, situação tremendamente desconfortável. Mas ele é o homem que garante a produção leiteira da fazenda nas fábricas, nas residências... Nas mamadeiras das crianças.

Raríssimas fazendas sertanejas possuem sistema de ordenha moderno, através de máquinas. Assim, o tirador de leite ainda é peça fundamental de imenso valor na pecuária nordestina, muito embora sua remuneração não chegue nunca à altura da sua importância; cabra bom na munheca que o diferencia de todos os moradores empregados. É moda falar sobre o vaqueiro, mas o verdadeiro e específico tirador de leite fica invisível na literatura sertaneja.

E nós da cidade, nem temos a mínima ideia da rotina de uma fazenda sertaneja de criar. É dali que sai o leite, o queijo, o iogurte, a carne, o couro dos sapatos, a diversão das vaquejadas e a moda do chapéu de couro dos forrozeiros.

Estamos mostrando detalhes do Sertão que nem sempre está ornado com a PRINCESA DE CORISCO.

CORISCO (FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO).

 

 

 

 


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