quinta-feira, 30 de abril de 2020

A MODA E A CRIATIVIDADE


A MODA E A CRIATIVIDADE
Clerisvaldo B. Chagas, 1 de maio de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.204
Extração de areia e rodas de pneus, ontem de 40 anos e hoje.
 (Foto: B. Chagas).

Muitas cidades mineiras orgulham-se dos seus ciclos históricos e conservam entre outras coisas, o calçamento bruto dos tempos de vila. Algumas nem permitem mais circulação de veículos por esses patrimônios compostos por edifícios e pedras antigas. Em Santana do Ipanema, Alagoas, a vila também ganhou calçamento bruto em toda a área do comércio, inclusive a Avenida principal Coronel Lucena. Era sim um orgulho santanense para uma vila que agia como cidade e ganhara pavimento moderno para a época. Mais alguém de fora sempre comparava a ignorância de “A” ou de “B” com o calçamento bruto de Santana do Ipanema. No governo municipal do senhor Ulisses Silva, foram demolidos os prédios antigos do comércio e arrancado o calçamento bruto da cidade. As pedras foram substituídas por paralelepípedos, pedras quadriculadas de granito apontadas como mais modernas.
Daí em diante as centenas de carros de boi de roda com aro de ferro, ficaram proibidos de circularem no calçamento novo. As cargas que o carro de boi pegava no próprio armazém e levava para a zona rural, ficaram então sendo transportadas de outra maneira dos armazéns para as areias do rio Ipanema, ponto de estacionamento dos carros de pau. O transporte de areia do rio em carro de boi também teve que ser adaptado. (toda Santana foi construída com areia do Panema). Diante disso, surgiu a nova moda para o carro de boi urbano. As rodas de madeira com aro de ferro, foram trocadas por pneus e seus acessórios no eixo. Assim o carreiro pode continuar seu trabalho rua acima, rua abaixo sobre o calçamento novo do prefeito Ulisses.
Aproveitando a transformação, os carroceiros passaram a imitar os carreiros. As carroças puxadas por burras, também foram adaptadas e as rodas que eram de outra modalidade, passaram a se apresentar com pneus de automóveis. Com pneus ou sem pneus  não parou a extração mineral no rio Ipanema. Mesmo agora em 2020 o seu leito é tremendamente explorado sem nenhuma restrição. Teve gente até que já se apoderou da imensa fatia do rio, extrai e vende o que é de todos os santanenses.
Vergonha!

                                                                                                     


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quarta-feira, 29 de abril de 2020

LATA NA CABEÇA


LATA NA CABEÇA
Clerisvaldo B. Chagas, 30 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.303
FOTO RARÍSSIMA (B. CHAGAS).

Dizem que uma imagem vale mais do que mil palavras, mesmo que essa imagem tenha seus defeitos relativos ao tempo. Mas uma fotografia faz reviver aos mais velhos e refletir os mais novos. Representa sempre um testemunho inconteste de um passado, de uma situação e mesmo de uma dor. E quando se trata da história, da sociologia, da geografia santanense, sempre fica preso na garganta um ranço de nostalgia por alguns segundos ou por vários minutos. Os abnegados pesquisadores parecem sentir com maior intensidade os apertos emocionais das suas descobertas. E aquilo que não é mais possível acontecer, continua acontecendo na foto hibernosa do baú. Rever foto antiga é suspirar, reviver, lacrimar, esvanecer... Vamos fazer a leitura da foto abaixo:
1.   Voltemos ao passado em torno de 60 anos. 2. Santana sem água encanada. 3. Toda água de consumo vem das cacimbas arenosas do rio Ipanema. 4. Foto do trecho urbano do rio no local chamado Poço do Juá. 5. Leito seco do rio com alguns poços. 6. Vejamos o mundo de areia grossa no primeiro plano. 7. Duas mulheres e duas adolescentes apanham água das cacimbas invisíveis.  Lata e baldes são utilizadas. 8. Fundo médio: pessoas em outras atividades. 9. Terceiro plano, fundos de residências no início do Bairro da Floresta; parte ainda não habitada na barranca do Panema. 10. Mussabês no rio, coqueiros nos quintais. 11. Céu azul de verão. 12. Trajes humildes das pessoas. Foto raríssima do histórico santanense. 13. Faina diária das mulheres ribeirinhas do passado.
É esse o rio que sempre matou a sede do seu povo e alimentou a sua gente. Deu água, deu peixe, deu pasto, deu cura para os males, deu lazer, barro para seus telhados, areia para suas construções, juncos para seus colchões, esconderijos para os casais clandestinos, madeira para seus móveis, para seus carros de boi, monturos para seus descartes.
É esse o rio pai e mãe que tentam matá-lo em retribuição. Obstruem o seu caminho. Não querem deixá-lo escorrer. Mas o velho Panema ainda resiste e não pode faltar ao São Francisco onde se mistura e formam um só.
“Agua corrente, água corrente, teu destino é igual ao destino da gente”






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terça-feira, 28 de abril de 2020

BOCA DE CAIEIRA


BOCA DE CAIEIRA
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.302
FAZENDO TIJOLO ÀS MARGENS DO IPANEMA, EM TORNO DE
40 ANOS ATRÁS. (FOTO: B. CHAGAS).

Atualmente a juventude que naturalmente vem substituindo ditados populares, costuma chamar uma situação ou pessoa inflexível de “tampa de crush” ou de “boca de caieira”. Caieiras para quem não sabe, são pilhas organizadas de tijolos crus com boca para se colocar lenha e, alguns suspiros por onde entra o fogo e sai a fumaça durante o cozimento. O tijolo bom tem que ser bem cozido na caieira onde perde a cor esverdeada da argila original e fica da cor que conhecemos e que todo mundo chama “cor de tijolo” – atual moda de cor de tecidos. A profissão do oleiro é muito dura. Extrai o barro e molda os tijolos pelo dia até a quantidade suficiente para queimá-los. Prepara a caieira.  À noite toca fogo. Evitar beber água e tomar banho durante a queimada para “não estuporar”, dizem os entendidos.
Em Santana do Ipanema, havia no Minuino as três olarias que sustentaram a cidade com esse material de construção, durante décadas. A de José Cirilo, a de Eduardo Rita (que também fabricava telha do barro) e a do senhor Pedro Cristino (Seu Piduca). Todas elas tinham os seus limites nos terrenos, mas pessoas outras também aproveitavam o barro da ribanceira do rio e vez em quando éramos surpreendidos à noite com os belíssimos fogos das caieiras contrastando com o negror do tempo. Lá de longe, dos alpendres dos fundos das casas da Rua Antônio Tavares avistávamos nas margens do rio Ipanema a labuta renhida dos oleiros.
Mas em outros trechos urbanos do rio Ipanema também havia o fabrico dos tijolos, esporadicamente. A retirada contínua da argila das ribanceiras, provocavam grande barrocas que não paravam de crescer, mudando a feição e alargando o leito. Nos dias atuais as caieiras são raras por ali, mas sempre aparece alguém com necessidade e parte para fazer tijolos. Ainda hoje, no Minuino, nota-se o espaço e uma barreira enorme de onde era extraído o barro da olaria de José Cirilo, bem na subida do Conjunto Eduardo Rita, antiga estrada para Olho d’Água das Flores.
A quem interessa fatos e fotos da história santanense? Pelo menos quando desaparecem os primeiros ficam as fotos saudosistas e provocadoras de emoções.









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segunda-feira, 27 de abril de 2020

HISTORIANDO A CIDADE


HISTORIANDO A CIDADE
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.301
MERCADO DE CARNE EM 2013, ANTES DA SEGUNDA REFORMA.
 FOTO (B. CHAGAS/LIVRO 230).

Estamos dentro dos 70 anos de fundação do Mercado de Carne de Santana do Ipanema -AL. Foi na gestão do prefeito coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão que foi inaugurado o edifício que abrigaria os marchantes da época e de hoje. Situado em espaço do quadro comercial e na feira livre, o prédio rígido impressiona pela sua durabilidade. A fachada vem de terreno relativamente plano, mas os fundos pegaram um declive que de tão alto impressiona aos olhos de pesquisadores. Quantos caminhões, carros de boi ou carroçadas de burro foram necessários para fazer aquele enorme aterro que sustenta a obra? Quem observa com olhos inquiridores da parte   baixa dos arredores, é quem fica extasiado com a construção do ano 1950.
Para consolidar o alicerce, este foi cercado de muretas, grandes pedras quadradas comparáveis às que resguardavam o casarão do padre Bulhões contra as cheias do riacho Camoxinga. A mesma engenharia, o mesmo desenho nas junções que levam a crer ter sido a mesma pessoa que construiu ambas as obras. Reformado duas vezes o Mercado de Carne continua servindo à população que não tem alternativas. Não existe um segundo mercado público de carne. Ao lado do prédio, desce um beco até o riacho Camoxinga que outrora fazia parte da capoeira dos fundos de quintais. Era ali naqueles quintais onde os bodes eram abatidos com rapidez e sem higiene, durantes as feiras semanais dos sábados. O beco era o mictório escancarado dos feirantes.
Desde a formação do quadro da feira, passando pelo ano da construção do mercado até agora, as modificações na paisagem foram relativamente mínimas. As casas comerciais mudaram pouco adaptando as várias portas de madeira, a uma só, de ferro com rolamento vertical. Surgiram pequenos compartimentos comerciais no quadro oriundos do fechamento da Usina de Beneficiamento do Algodão do senhor Domício Silva. O restante continua sem novidades a não ser o asfalto que por ali passou. Disse um pedreiro ao trocarmos ideias sobre o Mercado de Carne: “Foi construído no tempo em que os homens tinham vergonha”.
A placa de fundação do Mercado continua encravada na parede. Foi uma das raríssimas que os vândalos não conseguiram roubar e com elas apagando a história.
Está escrito: 1950.






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domingo, 26 de abril de 2020

SANTANA: QUARTETO E TERCETO


SANTANA: QUARTETO E TERCETO
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.300
CASARÃO DO DEUS MERCÚRIO (FOTO: B. CHAGAS).

A Emancipação de Santana do Ipanema, lembrada na semana passada, faz repensar sua arquitetura no Bairro Monumento e Centro Comercial da cidade. O quarteto arquitetônico do Bairro Monumento, parece amplamente assegurado na paisagem urbana de Santana. O casarão construído para ser hospital que virou quartel e depois escola, continua em plena atividade escolar sempre conservado. O antigo Grupo Escolar Padre Francisco Correia, também continua na ativa com recente reforma em suas dependências. O edifício primeiro do quarteto, a igrejinha/monumento que deu nome ao bairro, sempre conservou o seu patrimônio interno e externo. E o prédio do Tênis Club Santanense, apesar da crise do divertimento em casa, prorroga sua existência em mãos de pessoas abnegadas. Avaliamos como pontos seguros no histórico do século passado.
Mas como anda o terceto arquitetônico do Centro Comercial? Os três imponentes edifícios erguidos pelo coronel Manoel Rodrigues da Rocha na época de vila? Como está o Casarão de Esquina de primeiro andar vizinho à Matriz de Senhora Santana? E o casarão do deus mercúrio, primeira moradia do coronel? E o casarão morada definitiva de Manoel Rodrigues? Todos fechados cada um com seus problemas particulares. Entretanto a preocupação com a História não é por que eles estão fechados ou abertos, mas pelo problema da deterioração que não perdoa casas fechadas. O casarão de esquina foi uma espécie de “Shopping” da época, espaço enorme transformado em vários compartimentos para aluguel. Sua parte inferior continua abrigando uma dezena de lojas. E a superior?
A casa grande do deus mercúrio (tem estátua do deus mercúrio no seu frontispício, importada da França) já foi biblioteca pública em sua parte de primeiro andar. E a casa famosa onde morou o coronel (vai de uma rua a outra) já hospedou pessoas ilustres como o coronel Delmiro Gouveia e vários governadores do estado. Não sabemos se existe algum plano de conservação de parte da prefeitura local, uma vez que os prédios pertencem a particulares.
Esperamos apenas que o terceto arquitetônico do Comércio não siga o mesmo destino do casarão do padre Bulhões na foz do riacho Camoxinga.
Os edifícios simbolizam a nossa luta de vila em busca do progresso trabalhoso do sertão. Foi essa luta que a transformou em Rainha. Não percamos a coroa.





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sexta-feira, 24 de abril de 2020

OS SERROTES SERTANEJOS


OS SERROTES SERTANEJOS
Clerisvaldo B. Chagas, 24 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.299
Serrote do Carié. Livro Repensando a Geografia de Alagoas (B. Chagas).

Serrote no sertão nordestino é uma pequena montanha, uma elevação residual em média entre 50 e 300 metros de altitude. Pode possuir várias formas, mas sempre é avistado de longe por ser destaque na paisagem plana. O mais famoso e o mais bonito serrote do sertão alagoano, é o serrote do Carié. Carié é um dos entroncamentos mais importantes do Nordeste, bem perto da cidade de Canapi. Antes sozinho, evoluiu e agora é povoado. Das quatro “bocas” do entroncamento duas levam a Pernambuco, uma a Pernambuco e Bahia e outra ao restante de Alagoas. O serrote tem forma norte-sul de gigantesca lagarta. Vem aqui ilustrado com a foto  do livro inédito “Repensando a Geografia de Alagoas”.
Os serrotes são referências no interior. A vegetação, quando original, é muito mais densa, surgindo arvoretas e árvores de consideráveis tamanhos. É refrigério para o gado e não raramente possuem olhos-d’água que bem abastecem aos humanos. Serrotes são refúgios para animais maiores como raposas, sussuaranas, gato do mato, saguins e mesmo de terríveis cobras cascavéis. Muito sertanejos preferem construir suas residências no alto dos serrotes, mesmo enfrentado as dificuldades de caminhos íngremes. No Município de Santana do Ipanema temos lugares bastante  conhecidos, habitados e frequentados. Trazem nomes como Serrote, Serrotinho e outros, sempre com a expressão à frente: “serrote do ou dos...” Severiano, Amparo, Brás, Bois, França e Angicos.
Ouçamos uma professora que possui fazenda no serrote dos Angicos. “É lugar muito bonito, meu colega, bela paisagem, tranquilidade, microclima agradabilíssimo e constante canto da passarada. Ali é o meu refúgio”. A propósito, o serrote dos Angicos fica perto da divisa Santana do Ipanema com Senador Rui Palmeira. Pode se chegar até o local por dois extremos: indo pelo sítio Olho d’Água do Amaro ou pelo povoado Pedra d’Água dos Alexandre.
Já sobre serrotes urbanos temos vários que circundam a nossa cidade, sendo mirantes naturais de primeira linha. Perto de Arapiraca existe o serrote do Japão, lugar de destaque de bons vaqueiros e famosas vaquejadas. Em Estrela de Alagoas o conhecido é o serrote do Vento, lugar de romaria durante a Semana Santa.
Um serrote nas planuras sertanejas, faz a diferença na monotonia do relevo.





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quarta-feira, 22 de abril de 2020

A EMA GEMEU


A EMA GEMEU
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.298

EMA (IMAGEM WIKIPÉDIA).
A nova geração e outras do sertão nordestino não chegaram a conhecer e nem a conviver com a Ema. Sendo a maior ave do Brasil a (Rhea americana) foi muito perseguida pelos caçadores resultando praticamente em seu desaparecimento. Nesse sertão das Alagoas era simplesmente chamada Ema, mas em outras regiões recebia nome como nandu, nhandu, guaripé e xuri. Tem asas mão não voa. Usa asas para se equilibrar e mudar de direção em suas corridas. O macho é encarregado da incubação e cuidado com os filhotes. Em nosso romance ainda inédito, Fazenda Lajeado, existe uma cena interessante com o capataz da fazenda e companheiros tentando pegar uma ema para curá-la de uma asa. “Ema é uma palavra de origem oriental, talvez molucana. Nandu e nhandu se originaram no tupi nã’du. Guaripé também do tupi. Xuri se originou do tupi xu’ri.
A Ema pode pesar até 36 quilos e alcançar 1.70 de comprimento. É uma ave onívora, se alimenta de sementes, folhas, lagartos, moscas, cobras, moluscos, peixes e outros. Um ovo de ema pesa em média 600 gramas e sua postura varia entre 10 e 30 ovos. Seu principal predador é a onça-pintada que costuma atacá-la durante à noite para evitar sua carreira espetacular. Dificilmente se pode avistar uma ema de verdade nos sertões nordestinos. Mas o seu nome gerou por todos os lugares pontos de referência como sítios e povoados. No município santanense mesmo, existem dois sítios que se referem a ave pernalta: Várzea da Ema e Alto d’Ema. Este último mantém dúvida entre “Alto do Dema” (pessoa) ou “Alto da Ema”. Várzea, lugar baixo e úmido. Provavelmente seria Alto da Ema, uma vez que ambos os sítios estão próximos entre si, um no alto outro na baixada.
Como dizem que o seu canto dá azar, disse Jackson do Pandeiro no seu Canto da Ema:

“A ema gemeu
No tronco do juremá
Foi um sinal bem triste, morena
Fiquei a imaginar
Será que o nosso amor, morena
Está para se acabar...”.   

A EMA CONTINUA GEMENDO PARA O MUNDO INTEIRO.                     







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terça-feira, 21 de abril de 2020

OLHO d'ÁGUA DO AMARO


OLHO d’ÁGUA DO AMARO
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.297
Mais de 200 anos fornecendo água. Fonte do Amaro protegida por concreto.
(Foto em 2012. B. Chagas).

Ao adquirir uma sesmaria de doze léguas na Ribeira do Panema, seu futuro desbravador assegurava no porvir, sítios, povoados, vilas e cidades na caatinga sertaneja. Da serra do Caracol à Ribeira do Riacho Grande, terras de norte/sul seriam conquistadas transformando a região selvagem em fazendas de criar e de produção agrícola. O burro, o cavalo, o carro de boi e a coragem dos descendentes portugueses, escreveram uma grande história de lutas e conquistas no semiárido alagoano quando a civilização estava tão distante. O imenso naco de uma família fomentou a multiplicação de novos núcleos que faziam surgir fazendas em lugares escolhidos e privilegiados. Foi assim que nasceram vários sítios pastoris, entre eles o que seria depois denominado Olho d’Água do Amaro.
Certa feita em tempo de seca braba, caçadores descobriram uma fonte com alguém morando perto. No lugar investigado pelos donos das terras foi encontrado um negro fugitivo da Escravidão de nome Amaro que ali tinha se refugiado e descoberto a fonte. Daí para a frente o lugar passou a ser denominado Olho d’Água do Amaro. Até os dias atuais a fonte (olho d’água) existe e continua abastecendo de água a quem dela precisa. Este sítio estar localizado entre a cidade de Santana do Ipanema e Senador Rui Palmeira. É servido por estrada de barro e terra denominada rodagem. Hoje possui igreja e escola no centro do sítio e é referência em todos os acontecimentos daquelas redondezas. Apesar dos inúmeros outros sítios vizinhos, sempre é apontado como “na Região de Olho d’Água do Amaro”.
Dali saíram altos comerciantes, heróis de guerra, intelectuais diversos, escritores e abastados fazendeiros. Pode ser a região mais rica da zona rural e possui tradição no lazer de vaquejadas, embora o desmatamento acompanhe a tristeza dos períodos secos. É por ali que o santanense corta caminho para atingir as cidades de Carneiros e Senador Rui Palmeira. Tanto pode se chegar no Amaro pelo antigo Campo de Aviação quanto pelo sopé da serra Aguda. Pena não ter sido ainda asfaltado como liame entre as cidades citadas acima. Passear aos domingos pela região é lazer agradabilíssimo para quem ama os campos sertanejos.
Vários escritos já apontaram o lugar.
Muitas histórias e lendas foram contadas sobre o sítio.
Ah! Muito bem fez o negro Amaro no tempo do CATIVEIRO.







                                                                       


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CHEIA ESCAVA, CHEIA ATERRA


CHEIA ESCAVA, CHEIA ATERRA
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.296
TRAVESSIA DO MINUINO EM 1983. (FOTO: LUÍS EUCLIDES).

Quando a Ponte General Batista Tubino (era interventor de Alagoas) estava para ser iniciada, em Santana do Ipanema, também houve certa frustração. O povo esperava que a citada ponte fosse construída sobre o rio Ipanema, mas no trecho da antiga rodagem que deva acesso a Olho d’Água das Flores. Um dos lugares mais largo do rio Ipanema, em torno de 150 metros, o trecho chamado Minuino, era uma travessia de areia grossa. Em torno dos anos 1960, uma surpresa para a nossa geração: O Ipanema em uma das suas grandes cheias, escavou o trecho e trouxe à tona uma passagem molhada construída não se sabe quando. Foi para a meninada e os passantes como a descoberta de um belíssimo tesouro.
Pode ter sido ou não, obra do Dr. Otávio Cabral (fora interventor da cidade em 1932) para melhorar o trajeto entre Santana e a Sementeira, estação agrícola experimental do governo no sítio Curral do Meio II. Cabral foi o agrônomo que revolucionou a Agricultura do sertão de Alagoas com respaldo para Sergipe e Pernambuco, anos 20. Voltando à passagem molhada, tempos após a sua descoberta pelo rio, foi retocada aqui e ali pelas autoridades locais. Quando as cheias eram mínimas, as águas passavam por algumas bueiras quadriculadas enquanto nós, os meninos deslizávamos com elas   pelas bueiras de cimento e pedras. Nessa época de adolescência já ninguém ouvira falar do nome daquele trecho: Minuino. Agora, principalmente, o topônimo foi extinto do conhecimento santanense.
Pode ter tido origem no espanhol ou na linguagem indígena. Tudo leva à palavra Menino.
No caso da ponte, o antigo Minuino não viu nem o cheiro. A ponte de concreto foi mesmo erguida na região do Centro Comercial com complemento de rodovia para Olho d’Água das Flores. Até hoje o Minuino ficou esquecido e passou a ser um atalho para quem quer seguir para a cidade acima. Depois de muitas peripécias durante as pequenas cheias, meninada e passantes contemplaram os estragos dessa última que se foi com a passagem molhada que estava sendo o lazer da garotada e depósito de lixo dos arredores.
A prefeitura atual tenta consertar a passagem molhada que desde a época de Minuino clama por uma ponte na porta da ingratidão.
Ô Santana, minha terra.



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domingo, 19 de abril de 2020

TÁ FICANDO DEZ


TÁ FICANDO DEZ
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.295
RUA DO TÊNIS CLUB. (CRÉDITO: SITE SERTÃO NA HORA/JEAN SOUZA

Muito bom o acompanhamento de um site da terra na movimentação asfáltica da cidade. É assim que a população fica  bem informada, principalmente nessa fase difícil de não sair às ruas. Mas enquanto acontece o confinamento, os heróis populares do asfalto, continuam firmes nas ruas e avenidas de Santana do Ipanema, passando o piche em lugares estratégicos da cidade. Quem diria que ruas anteriormente esquecidas fossem receber esse beneficiamento moderno! Chegam até nós texto e fotos dos lugares contemplados pelo modernismo. A Rua Professor Enéas, humilde e sofrida foi premiada, segundo o referido site. Assim também teria acontecido na Rua Ormindo Barros (rua da Rádio Milênio) e Rua  Adeildo Nepomuceno Marques (via do Tênis Clube Santanense) que também pega toda a lateral da Escola Padre Francisco Correia.
Assim sendo, todos os veículos motorizados da região do Bairro São Pedro e imediações, evitarão o Centro Comercial aliviando o trânsito, rumo à capital. É que a Rua Ormindo Barros asfaltada, terá papel preponderante naquela periferia servindo de alentador atalho. E se a Capital do Sertão já é bela por natureza, muito mais bela ficará, principalmente após as sinalizações horizontais e verticais que dão segurança, colorido e ornamentação. Pode parecer ufanismo tolo, mas as ruas empoeiradas da própria Maceió, lutam com suas associações pelo benefício a que todos têm direito. “Circular na “maciota” para cima e para baixo não tem preço”, como falou um mototaxista entusiasmado.
O projeto do governo estadual junto às prefeituras dá um salto circense de qualidade no padrão de vida das cidades interioranas. Poeira no verão e lama no inverno viram coisas do passado. E com o predomínio do asfalto nas ruas, os próprios prefeitos agraciados com o Projeto, imaginam de imediato novos empreendimentos que valorizam ainda mais os trechos com pretume que cobrem os paralelepípedos tronchos. Claro que não esquecemos das ruas que ficarão sem o petróleo, mas com apenas 18 km de asfalto muitas delas ficarão sem o benefício como a da minha residência. Fazer o quê? Mas se o prefeito de Santana do Ipanema fizer posteriormente um novo esforço, cremos que todos os lugares, sem exceção, estarão incluídos neste sonho mais avançado.
Novamente parabéns ao prefeito Isnaldo Bulhões, a sua equipe e aos incansáveis operários de cor laranja que fazem a cobertura.








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quinta-feira, 16 de abril de 2020

SANTANA E LAGOAS


SANTANA E LAGOAS
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.294
TÍPICA LAGOA DO SEMIÁRIDO. (BLOG FATOS E FOTOS DA CAATINGA).

O rio São Francisco extrapola o leito e forma inúmeras lagoas, muitas das quais se tornaram famosas de Pão de Açúcar a Penedo. Matam a fome do povo ribeirinho com plantio de arroz, peixes e pastagem de várzeas para bovinos e gado miúdo. Os rios intermitentes do semiárido não produzem lagoas: nem o Ipanema, nem o Traipu, Capiá, Desumano, Canapi, Farias, Jacaré... Quando sem corrente, apenas poços em lugares pedregosos. Entretanto, o Sertão possui inúmeras lagoas que em grande parte desapareceram vítimas do desmatamento, da ignorância e da apatia de moradores que sempre delas precisaram. Elas são pequenas e quando possuem 50 m2 já são enormes. Formam-se em depressões de terrenos com bons lençóis freáticos abastecem rebanhos domésticos, bichos selvagens e os humanos.
As lagoas sertanejas sempre demarcaram lugares sendo denominações de sítios, porém, muitas delas extintas deixaram apenas o nome nos históricos dos municípios. Em Santana do Ipanema temos os sítios rurais: Lagoa do Algodão, Bonita, De Dentro, Garrote, João Gomes, Junco, Mijo, Morais, Pedro, Redonda, Torta, Volta e outras lagoas sem o nome do lugar. O desmatamento do entorno de muitas delas, foi o primeiro golpe. Em seguida vieram a areia tangida pelo vento; barro, areia e cascalhos trazidos pelas enxurradas das chuvas torrenciais. Depois, a indiferença do homem que nunca fez limpeza alguma de assoreamento nem reflorestou pelo menos em vinte metros às suas margens. Quem possui lagoa em suas terras, possui riqueza traduzida em água para a família e para o rebanho, vida selvagem, umidade, refrigério e plantio, mas onde está o “faz que te ajudarei” proposto pela Natureza?
Pena não podermos oferecer subsídios sobre os nossos mananciais sertanejos, uma vez que não encontramos apoio para um trabalho extraordinário que iniciamos sobre a zona rural. Autoridades não ajudam a produzir nem a publicar documentários sobre interesses coletivos. A conversa é sempre a mesma: “mas, mas, mas...” Que só não enche o saco de bajuladores.
Esta crônica foi inspirada em relatório publicado por órgão estadual falando sobre a enorme perda de nossos mananciais.
A propósito, a família Chagas em Santana do Ipanema, é originária da sua fixação no sítio Pedra da Lagoa, a cerca de 12 km do centro da cidade. Região do alto d’Ema.









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quarta-feira, 15 de abril de 2020

MULHERES DE BARRO


MULHERES DE BARRO
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.293
PANELAS NO ALTO DO TAMANDUÁ. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

Preso na quarentena, nunca mais passeei pela feira livre semanal. Mas soube que a feira das panelas desapareceu da rua  costumeira e talvez também tenha sido extinta. Era ali que se compravam panelas, potes, jarras, bois e éguas de barro. O artesanato era mantido pelas mulheres da Lagoa do Mijo ou Baixa do Tamanduá e do Povoado Alto do Tamanduá. A baixa do Tamanduá é sítio às margens da BR-316 na fronteira Santana/Poço das Trincheiras, enquanto o povoado é vizinho e pertence ao Poço, também na BR-316. Não faz muito tempo assim, os homens fabricavam balaios de cipó e as mulheres lidavam com a família das panelas. Local de barro vermelho, a matéria-prima tornou-se escassa para ambos os sexos e  os homens foram os primeiros a abandonarem a arte.
As duas comunidades são irmãs e originárias das pessoas pretas oriundas do também vizinho povoado Jorge. Ali frequentei muitas cantorias com os repentistas Rafael Paraibano (sogro) e José de Almeida, sempre com recepções calorosas dos humildes habitantes, gente boa. No final dos desafios, o samba de roda tomava conta da casa de taipa, acompanhado de peneira, pandeiro e versos de um ou dois cantores. Com o desmatamento na redondeza acabou o cipó, com o povoamento sobre o povoado acabou o barro. Homens e mulheres tiveram que procurar outras fontes de renda e abandonar os artesanatos centenários. As casas isoladas se tornaram um povoado alegre que tem de tudo, inclusive é cortado pelo asfalto da BR-316.
Levamos nossos alunos para uma aula de campo na Geografia, eu e o saudoso professor José Maria Amorim. Numa sexta-feira estávamos nas casas da mulheres do barro, apreciando o atribulado fabrico das panelas. Trabalho de pesquisa,  relatório, discussão posterior em sala de aula. Quando as peças de barro foram queimadas no finalzinho da tarde, retornamos a Santana depois de participarmos de uma roda de samba. No dia seguinte as panelas seriam vendidas na feira da Rainha do Sertão. Excelente oportunidade para irmos cumprimentar aquela gente boa na manhã do sábado, na feira das panelas.
Quanta saudade das MULHERES DE BARRO!.
·        Peneira: instrumento musical feito de palha rígida com pedrinhas no interior. Assegura o ritmo do samba.




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terça-feira, 14 de abril de 2020

CANDEEIRO, PLACA, LÂMPADA: LUZ


CANDEEIRO, PLACA, LÂMPADA: LUZ
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de abril de 2020
Escritor símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.292
PARCIAL DE SANTANA (FOTO: B. CHAGAS).

A Lei No 893 de 31 de maio de 1921, elevou a vila de Sant’Ana do Ipanema, à categoria de cidade com o nome de Santana do Ipanema. Essa lei foi sancionada pelo governador em exercício, padre Manoel Capitulino de Carvalho. Isso aconteceu na gestão municipal de Manoel dos Santos Leite. Capitulino, filho de Piaçabuçu, fora pároco e dirigente de Santana vila. Vivíamos a época dos candeeiros de flandre que eram produzidos por artesãos e artesãs de destaques na cidade. Encomendado direto ao fabricante ou comprados nas feiras semanais que vendiam aos montes, o candeeiro funcionava com pavio de algodão retorcido e gás óleo ou   querosene. Produzia muita fumaça da luz amarelada, cujo tamanho do pavio ditava a intensidade do clarão. A placa com os mesmos combustíveis era comprada nas casas comerciais. Colocada em prego na parede, sua parte de vidro precisava ser limpa da fuligem no dia seguinte.
Pouco tempo depois da elevação à cidade, Santana é contemplada com luz elétrica motriz, inaugurada em 30 de novembro de 1922, na mesma gestão do prefeito Manoel dos Santos Leite. O motor alemão que abastecia a urbe funcionou primeiro à Rua Barão do Rio Branco. Tempos depois, foi definitivamente para a Rua Nossa Senhora de Fátima com estrutura completa. Atualmente esse prédio reformado funciona como a Câmara de Vereadores. Ali havia o salão enorme onde abrigava o motor, um anexo para recebimento de contas e um corredor com grandes tanques de refrigeração. A luz dos postes da cidade e das residências funcionava até a meia-noite, anunciada com três piscadelas. A conta era paga mensalmente no próprio local particular de produção, Empresa de Luz e Força.
Dessa maneira a cidade de Santana do Ipanema, em pleno  sertão alagoano, funcionou com esse tipo de energia até a exaustão do motor, em 1959, na gestão do prefeito Hélio da Rocha Cabral de Vasconcelos. Os candeeiros, placas e “Petromax”, voltaram a funcionar a todo vapor. Virou moda as belas lanternas pessoais e manuais das marcas Evereadi e Rayovac. Após quatro anos no escuro e muita luta do povo santanense, finalmente a vitória com a luz elétrica de Paulo Afonso, em 1963, gestão estadual do Major Luiz.
Luz espiritual é o que precisa a humanidade.





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segunda-feira, 13 de abril de 2020

FERRÃO, CURRIÃO E OUVIDOS MOUCOS


FERRÃO, CURRIÃO E OUVIDOS MOUCOS
Clerisvaldo B. Chagas, 14 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.091
IMAGEM: (YOU TUBE).
 É verdade que o Encontro dos Carreiros na cidade de Inhapi, no alto sertão de Alagoas, é a maior festa de carros de boi do mundo. Encontro, espetáculos, festas e mais festas ecoando por todo o Brasil de meu Deus. Méritos para o idealizador do evento saído do Sindicato Rural. Méritos para o prefeito da época que encampou o acontecimento e fez a fama da festa nos quadrantes do mundo. E o carro de boi, primeiro veículo terrestre do Brasil a transportar peso extra animal, fica definitivamente reconhecido em nosso país. Com eventos como esse, a resistência é acesa, o desbravamento dos sertões não será esquecido e as fazendas brasileiras perpetuam séculos de história do semiárido. Mas, e os carreiros? Os carreiros, condutores dos carros de pau do Brasil colônia?
A vestimenta do condutor é qualquer uma, assim como o seu tipo de chapéu. Todavia, das três “ferramentas” obrigatórias, duas delas deveriam ser proibidas pelas autoridades. As mesmas autoridades que queriam acabar com a corrida de mourão e a vaquejada (pega de boi no mato). Facão, currião e ferrão continuam sem faltar a qualquer condutor, iniciante ou veterano. O facão é indispensável para mil coisas que se precisa ao carrear, porém o currião e o ferrão, são instrumentos de torturas que jamais poderiam existir. O mau carreiro bate muito nos bois descarregando suas frustrações de casa e da vida. Do mesmo modo ferroa os animais até sem necessidades, quando o sangue esguicha pelo couro grosso. E os pobres animais que não têm condições de defesa, ficam a mercê dos torturadores que a Lei não percebe.
E como as autoridades de cima não proíbem essa prática, deveria partir do atual prefeito do Inhapi, que apoia a maior festa do gênero no mundo. “Só participa da festa carreiro sem ferrão na vara de carrear e sem currião”. “Fica decretado no município de Inhapi, a extinção do currião e do ferrão no trato com bois de carro”. E assim a nova prática de proteção animal se espalharia pelo sertão de Alagoas e além fronteiras. Sendo complementada a Lei por governadores nordestinos, essa prática infame de tortura e covardia, seria extinta no Nordeste brasileiro. E como político gosta de fama, logo o prefeito ficaria famoso pela prática do bem e como o pioneiro na abolição desses castigos ao bicho bruto. Pressionemos em favor dos indefesos. Cadê os vereadores de Inhapi?
*Currião (correão). Chibata de couro cru usada para bater e torturar o boi.



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sábado, 11 de abril de 2020

(PASTORAL MARANATA)


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quinta-feira, 9 de abril de 2020



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quarta-feira, 8 de abril de 2020

CANTE, CANTE CANTADOR


CANTE, CANTE CANTADOR
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.280

    Imagem apenas ilustrativa (TIDAL.COM)












Lugar de pintura é tela
Lugar de formiga é roça
Lugar de barbeiro é choça
Lugar de moça é janela...
Lugar de lume é na vela
Lugar de grau é calor
Lugar de santo é andor
Lugar de lã é a touca
Lugar de beijar é boca
Cante, cante cantador.

Lugar de chave é “tramela”
Lugar de prego é madeira
Lugar de bunda é cadeira
Lugar de chute é canela...
Lugar de vaqueiro é sela
Lugar de corola é flor
Lugar de som é tambor
Lugar de agulha é seringa
Lugar de boi é caatinga
Cante, cante cantador.

Lugar de moeda é cuia
Lugar de tinta é parede
Lugar de cansado é rede
Lugar de beleza é lua...
Lugar de passeio é rua
Lugar de reta é vetor
Lugar de vela é motor
Lugar de muleta é manco
Lugar de namoro é banco
Cante, cante cantador.

Lugar de preá é loca
Lugar de pilha é lanterna
Lugar de onça é caverna
Lugar de raposa é toca...
Lugar de índio é maloca
Lugar de zona é setor
Lugar de giro é rotor
Lugar de estrofe é cordel
Lugar de puta é motel
Cante, cante cantador.


Lugar de lobo é covil
Lugar de lazer é praia
Lugar de cavalo é baia
Lugar de bala é fuzil...
Lugar de pinga é barril
Lugar de sonho é langor
Lugar de casca é licor
Lugar de ovo é a cesta
Lugar de cangalha é besta
Cante, cante cantador.

Lugar de força é cambão
Lugar de grampo é estaca
Lugar que fede é ticaca
Lugar de cobra é grotão...
Lugar de mecha é canhão
Lugar de fama é fulgor
Lugar de marcha é trator
Lugar de letra é artigo
Lugar de bela é comigo
Canta, cante cantador.

FIM


















                                 









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terça-feira, 7 de abril de 2020

O INVERNO DOS PROFETAS


O INVERNO DOS PROFETAS
Clerisvaldo B. Chagas,8 de abril de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.289

BARRAGEM CONFIRMA OS PROFETAS (F.OTO: ÂNGELO RODRIGUES).

Com êxito total ainda repercute o encontro anual do Profetas das Chuvas em Santana do Ipanema, sertão de Alagoas. Todos os sertanejos experientes que se apresentaram no evento, confirmaram o que a Ciência vinha pregando sobre um ano bem chovido e um inverno profícuo para a Agricultura e a Pecuária do semiárido. Baseados nas observações da Natureza, os profetas acumulam conhecimento durante décadas e décadas. A Ciência até erra às vezes, mas os Profetas das Chuvas continuam firmes com seus olhares sobre a fauna, a flora, o tempo e os sinais do céu na barra, nas estrelas, no Sol, na Lua e em outros segredos transmitidos pelos     ancestrais. E esse mundo mágico do homem rural dedicado a inquirir
O ambiente, até agora tem sido verdadeiro.
As chuvas que antecedem o inverno de Sergipe, Pernambuco e Alagoas, com o nome trovoadas, vêm surpreendendo pela intensidade e volume. Não ficou um só rio, um só riachinho que não extrapolasse suas enchentes, aguardadas há anos seguidos de seca braba. E o espanta-boiada canta sobrevoando as lagoas; o bem-te-vi não para o bico; sapinhos formam exércitos e marcham dos rios pelas ruas mais próximas das cidades. O inverno para nós tem início em maio, mas muitos agricultores já seguiram conselho dos antigos: “é chover é plantar”. Dessa vez o acauã não cantou; as formigas fugiram dos riachos secos; o mandacaru florou bonito e o rio Ipanema botou cheias e mais cheias torando o São Francisco pelo meio. O sertão queimado ficou verde, belo e espetacular com seus matizes.
São as chuvas que alimentam os rios. São os rios que alimentam a terra e o mar. Os detritos das correntes engordam o peixe que mata a fome do ribeirinho. E os campos ficam dourados entre o sol e a chuva, nasce o grão, chega à espiga, boneca verde de cabelos ouro. Nos terreiros das fazendas, canta-se o “mineiro-pau” na batida do cacete no feijão de arranca. O galo assanha o desejo correndo de asas abertas atrás das frangas. Até mesmo a raposa faz festa em rondas curtas pelos galinheiros. Produtos no mercado, dinheiro no bolso, barriga cheia... Viva Sertão paraíso do mundo.
Com certeza os Profetas das Chuvas estão em alerta.
Com certeza Deus está no comando.
“E nada como um dia atrás do outro e uma noite no meio”.



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