ESCRITORES
E GAZETA DE ALAGOAS REDESCOBREM RIO IPANEMA (V)
(Série de 5 crônicas)
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de
março de 2014
Crônica Nº 1160
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Escritor Clerisvaldo B. Chagas detalha para a TV Gazeta as belezas da região. Foto: Manoel Messias. |
O povoado Barra do
Panema estava ali sob meus pés. Mal acreditava naquilo. Dava uma tremenda
vontade de chorar ao fluir à lembrança de 1986 quando cheguei ali com
Wellington Costa e João Quem-Quem, a pé, pelos areais do rio Ipanema. Havíamos
saído de Batalha, povoado Funil, às três da madrugada e adentramos a Barra às
cinco da tarde. Vejamos trecho do livro “Ipanema um rio macho”. “Penetramos
triunfantes no povoado Barra do Panema às cinco horas da tarde do dia 9 de
janeiro de 1986. Fomos comemorar com aguardente no bar Toca da Raposa, aonde
havíamos chegado. Não havia tira-gosto. No povoado não tinha pão. Não havia bolachas
para vender. Não havia peixe, nem carne, nem nada (...)”. A zeladora da igreja
de N.S. Assunção nos recebeu bem e falou que a igreja, no morro-ilha, estava
fechada para reforma. Desistimos de ir lá agradecer à santa. Dormimos num grupo
escolar indicado pela zeladora. No livro “Ipanema um rio macho”, falamos da
miserabilidade do povoado de Alagoas e o progresso de outro povoado bem à
frente, em Sergipe. Diz o livro: “Voltei infeliz e envergonhado com o que
constatei no lado alagoano”.
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Igreja centenária em morro do São Francisco. Foto: Clerisvaldo. |
A única mudança que
encontramos foi a estrada boa de acesso; a rua da frente calçada com pedras; um
prolongamento do povoado em direção à foz do Ipanema e algumas barracas na
praia porque a estrada melhorada de acesso ao povoado estava atraindo pessoas
de fora em final de semana. Afora isso, várias residências desabando ou
desgastadas significando regressão. O rio São Francisco continuava bonito, mas
assoreado.
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Parcial do povoado Barra do Panema. Foto: Clerisvaldo. |
Peguei o livro
“Ipanema um rio macho”, abri na página 60 e indaguei aos moradores se eles
conheciam a foto de uma mulher com sua netinha. Todos reconheceram dona Eliete,
a zeladora que nos recebera na época. Não pude lhe abraçar porque ela estava em
Salvador, fazendo exame de vista. A netinha de colo deveria estar com quase
trinta anos agora, mas também se encontrava em outra região. Deixei um livro
autografado para ser entregue à zeladora. Fui, então, ao Bar Toca da Raposa.
Estava lá ainda o bar, o desenho da raposa, a dona do bar (antes bonitona)
completamente envelhecida. Foi uma farra de alegria. Depois o marido apareceu e
disse me haver reconhecido. De homem atlético, passou àquela figura típica de
homem sessentão. Li trechos do livro sobre “A Toca da Raposa” e deixei um com
eles. Para outros moradores indaguei sobre fotos de um casal perto de uma
camioneta que nos traria de volta do povoado à Batalha, em 1986, páginas 62, 63
e 64. Ela seguiu conosco como passageira, o marido ficou. Muita bonita a
fumante cabocla sertaneja. As pessoas identificaram os personagens na hora. Ela
já havia falecido e ele também um ano depois. Fiquei triste novamente.
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Marcílio e Manoel Messias animam a noite da Rua Delmiro Gouveia, em final de reportagem. Foto: Clerisvaldo. |
Após saborosa
peixada, escritores, profissionais da TV Gazeta de Alagoas e acompanhantes
pisaram fundo de volta as suas bases.
Eu lembrava de 1986,
página dinâmica, pura e nostálgica da minha vida.
* Final da série de cinco crônicas sobre o trabalho para o programa "Terra e Mar" da TV Gazeta de Alagoas.
obs. Uma das fotos da (IV) crônica, na legenda onde tem "geólogo", leia-se "GEÓGRAFO".
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