segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

 

 

FREI DAMIÃO, FARRAS E VELÓRIOS

Clerisvaldo B, Chagas,1 de fevereiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.652

 

Em tour pela cidade, demoramos alguns minutos na Praça Frei Damião que fica no Bairro Camoxinga. O Largo faz parte de convergência de quatro ruas: Delmiro Gouveia, Maria Gaia, Manoel Medeiros e mais outra pequena rua. É naquele largo onde está montada toda a estrutura de moderníssima funerária, mercadinho que se expande a cada dia e, outras estruturas que vão fazendo do lugar um dos maiores pontos de referência de Santana do Ipanema. Aproveitamos para bater uma foto, mas a hora imprópria do meio-dia e um sol escaldante não permitiram àquela sonhada apresentação. A Estátua do Frei está completamente desbotada e arranhada pelos vândalos, motos em cima da praça, nos canteiros e um privilegiado grupo de motoqueiros donos absolutos das reduzíssímas árvores que margeiam o logradouro.

Pela noite, principalmente fins de semana, dezenas de motos com rapazes e “cocotas” de shortinhos” curtos, preenchem o lugar, a bebida, o churrasquinho, a música, estão em todos os espaços do logradouro, transformado em verdadeira Babel. Do outro lado da rua, a cerca de 4 ou 5 metros de distância, onde fica a Central de Velórios, quase sempre tem familiares chorando os seus mortos. Choro de um lado da rua, farras homéricas do outro lado. Ainda não indagaram a Frei Damião o que acha disso tudo. O “cachorro-quente do Tonho”, ali na esquina da Maria Gaia com Delmiro Gouveia, vai alimentando a multidão faminta. Naquela hora de meio-dia em que por ali passamos, apenas um conhecido e querido alcoólatra daquelas imediações, parecia se lamentar solitariamente aos pés do Santo do Nordeste.

Após a pavimentação asfáltica por diversas ruas do Bairro Camoxinga e São José, parece ter aumentado o fluxo de veículos pela Rua Delmiro Gouveia via Praça Frei Damião, para a saída Oeste de Santana do Ipanema rumo ao Alto Sertão. Aos poucos, o Largo da Praça ganha notoriedade e atrai investimentos para àquela área. Não há de se negar que a Rua Delmiro Gouveia até à Praça Frei Damião é um dos trechos mais movimentados de Santana do Ipanema, tanto de dia quanto de noite, embora  não tenha alcançado ainda o estresse da Rua Pedro Brandão, que virou comércio e expulsa residências. Assim como o Largo do Maracanã, o Largo da Praça Frei Damião também continua humilde e popular.

Salve o Santo do Povo.

PRAÇA FREI DAMIÃO (FOTO: B. CHAGAS).

 

 


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domingo, 30 de janeiro de 2022

 

A VOLTA DOS PROFETAS

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.651


O novo Encontro com os Profetas das Chuvas, novamente volta a mobilizar Santana do Ipanema e cidades do Sertão Alagoano. O evento está previsto para este mês de fevereiro. O Carnaval será de profecias sobre o clima sertanejo. Este será o IV Encontro a ser realizado sempre defronte a Secretaria de Agricultura e que está se tornando tradição em Santana. O sucesso das previsões têm sido o motivo de novas palestras em via pública, desses homens experientes e que nada deixam a desejar. Geralmente os apresentadores ou Profetas das Chuvas, são da zona rural, filhos da Agricultura e da Pecuária onde acumularam sabedoria.

Mas, é de se ver também que os tempos mudaram no mundo inteiro e em nosso sertão nordestino não foi diferente. É um dos profetas mesmo que afirma com outras palavras: “Hoje está tudo mudado e nem sempre se acerta nas previsões. Aconteceu de o mandacaru florar por tudo que é canto e não chover”. Nesse caso as tradições de séculos, começam a não valer mais porque os climas mudaram no Globo. As novas profecias do homem rural, segundo imaginamos, teriam que recomeçar do zero. Observações novas, deixando as obsoletas para trás, porém, perguntamos se ainda há tempo. De qualquer maneira está acumulada a história do Brasil e acumulado está o conhecimento rural adquirido. E se o tempo é novo, entrar no novo tempo.

Para quem nunca viu o espetáculo das profecias, aqui em Santana, geralmente arma-se uma espécie de palanque no meio da rua, nesse caso, defronte a Secretaria de Agricultura (vizinha à Caixa Econômica) no Bairro Monumento, onde tem apresentações de repentistas, cantores e outras atrações regionais em que o povão assiste de pé como quem assiste a um comício. O encontro é um momento bem dirigido, onde o Secretário da Agricultura e Meio Ambiente, Jorge Santana, procura cada vez mais aperfeiçoar o quadro com novas atrações deixando o povo e os protagonistas bem à vontade na festa do homem rural com seus espetáculos exuberantes. Parabéns à prefeita Christiane Bulhões e ao Secretário Jorge pela valorização das nossas tradições rurais em grande estilo.

CARTAZ DIVULGAÇÃO (PREFEITURA)


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quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

 

ESCRAVIDÃO ANIMAL

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.650


 

Correu mundo a imagem do carroceiro que em Maceió transportava a carcaça de um fusca e foi preso. Enquanto estivemos em Maceió por longo período, sempre ficamos inturidos com cenas semelhantes de peso excessivo nas carroças e no maltrato aos animais. Esse negócio de tração animal em zona urbana é um desastre. Sempre defendemos (em mais de um artigo) que os carroceiros deveriam fundar uma associação com ajuda das autoridades para facilitar a compra de motos e de carrocerias seguido de curso de condutor. Erradicar de vez o trabalho escravo dos animais e continuar ganhando o sustento da família. Já existe isso no estado de Goiás, se não estamos enganados. Vimos muitos cavalos velhos, torturados, esqueléticos, trabalhando nas carroças em Maceió. Só faltavam cair a qualquer momento, mortos, no meio do trânsito.

Em Santana do Ipanema, os carroceiros trabalham com burras, não existe burro e nem cavalo. Os animais são bem zelados e adquiridos na região de Palmeira dos Índios. Mesmo assim, vez em quando acontece caso estúpido que vai parar na delegacia. Não existe na cidade uma associação protetora de animais. O ser humano continua bruto e descontando os dissabores de casa no pobre animal de trabalho que não tem como se defender. Uma covardia espetacular que se inicia no açoite ao animal o dia inteiro, muito mais pelo vício de bater de que qualquer outro motivo. Até filhos pequenos de carroceiros são flagrados conduzindo e batendo de relho nas burras, sem parar, pelo exemplo que tem em casa.

A propósito, uma explicação: A burra é muito mais eficiente no mister da carroça. O burro não aguenta o rojão de puxar carroça o tempo todo. O jumento é para carregar peso no lombo e, o cavalo não é apropriado para esse tipo de trabalho. Costuma abrir os peitos pelo esforço, dito pelos próprios carroceiros. Cavalos e jumentos são impróprios para subir e descer serras com cargas, logo adoecem e morrem. Nesse caso o burro não enjeita parada para o trabalho de subir e descer os montes bem como para longas caminhadas, o que os outros animais não fazem. O mundo doméstico tem muitos segredos dominados pelos especialistas.

São parecidos, mas não confundir jacu com urubu.

 

 

 


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quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

 

VISITEI O BAIRRO ISNALDO BULHÕES

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.649


 

Na primeira curva da AL-120, Santana do Ipanema – Olho d’Água das Flores, era destaque uma granja que produzia mais de 2.500 ovos/dia. Limite entre a zona rural e urbana a citada granja pertencia ao senhor Milton dos Anjos, apontada por todos como a “granja de Seu Milton”. O local, segundo a embalagem do produto, chamava-se Lagoa do Mato. Um grande empreendimento para Santana e região, sem nenhuma dúvida. Mas as circunstâncias não permitiram a continuação do negócio e o terreno da granja foi vendido ao Loteamento Colorado, um núcleo residencial previsto para 800 residências, inclusive com estabelecimentos comerciais mais próximos à pista. Os lotes foram escalonados por ruas desde às margens da AL-120 até uma altura de 340 metro de altitude. Uma interessante colina antes escondida pelo matagal que cercava a granja.

O Loteamento colorado já construiu mais de cem residências, a maioria com arquitetura futurista de telhado embutido. Muitas construções ainda estão sendo feitas, porém, antecipadamente o local ganhou status de bairro com o nome Isnaldo Bulhões. Salvo a pista AL-120, o novo bairro é totalmente margeado por terras de fazenda. No topo da colina, a última rua só tem um lado, o outro é uma faixa de terra natural ajardinada de construção proibida. A paisagem é de tirar o fôlego. À noite, de um lado, inúmeros sítios iluminados. Do outro, o centro de Santana a piscar suas luzes lá embaixo. É de se passar uma noite só contemplando a paisagem paradisíaca. O Bairro Isnaldo Bulhões, calçado com pedras, é agora a nova elite santanense que sonha com pavimentação asfáltica.

Ainda aparecem cobras, lagartos, formigas pretas, corujas buraqueiras e pássaros diversos tal o quero-quero. Eis aí o histórico do bairro mais recente de Santana do Ipanema.  Na parte de baixo, ao lado da pista, encontramos restaurante, churrascaria, posto de gasolina, Loja de material de construção e o IFAL (Instituto Federal de Alagoas).  Agora a margem direita do rio Ipanema ficou assim, de Oeste a Leste, isto é, das imediações do Hospital da Cajarana à saída para Olho d’Água das Flores, Bairros: Paulo Ferreira (antigo Floresta), Domingos Acácio, Santa Quitéria, Santo Antônio e Isnaldo Bulhões.

PAISAGEM VISTA DA ÚLTIMA RUA, TOPO DA COLINA DO BAIRRO ISNALDO BULHÕES (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES).


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segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

 

A NOVELA DO CANAL

Clerisvaldo B. Chagas, 25/26 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.648




 

Muito boa a notícia de continuidade da grande obra hídrica de Alagoas, o Canal do Sertão. Estamos nos arrastando ainda pelos municípios sertanejos quando na realidade o previsto é para se chegar até Arapiraca, vencendo 250 km de Canal. O próximo trecho previsto deverá vencer os municípios de São José da Tapera, Olho d’Água das Flores e Monteirópolis. Para sair do Sertão e entrar no Agreste, ainda falta muita obra. Ao encerrar o trecho acima que nem começou, ficará faltando ainda Jacaré dos Homens, Batalha e Jaramataia. Pelo menos dentro totalmente do Sertão já estará de bom tamanho. Jaramataia representa a divisória entre Sertão e Agreste e que pelo visto vai demorar e muito para receber o benefício da sua passagem por ali.

A novela parece interminável. Morre o burro e o dono do burro e esse canal não sai do Sertão. Mas não se pode negar o serviço de engenharia brasileira no projeto. Rasgar a terra para fazer um canal deste porte é como se estivesse fazendo um rio novo brotar nas terras sofridas do Nordeste. Túneis, pontes e outros babados são coisas de uma das mais avançadas engenharias do mundo, isso não se pode negar. Porém, o aproveitamento das suas águas, o que foi feito até agora com elas. O resultado concreto do uso do canal, chega com timidez e não dá nenhuma firmeza ao povo sertanejo. Uma obra desse porte era para sair satisfações todos os dias. Muitas vezes o silêncio é tão grande que parece não existir canal algum. E você o que acha?

Como dizia o pro. Ivan Fernandes (Geografia de Alagoas-anos 60) a região da Bacia Leiteira, Batalha, foi artificialmente “transformada num sertão agrestado”.  Timidamente ou imperioso o Canal do Sertão ao passar por ali, poderá trazer uma transformação espetacular com boa administração das águas e planejamento no agronegócio. Tudo sobre o Canal do Sertão é grandioso, bem como será a região beneficiada com pés no chão e tino futurista. E por ali onde o rio Ipanema reina absoluto, verá suas águas despejadas no São Francisco de volta pelas calhas do Canal. Torcer, meu camarada, torcer para que tudo dê certo. Queremos um Sertão próspero, rico e feliz. Nossos netos muito agradecerão.

CANAL DO SERTÃO (CRÉDITO: SEINFRA, ALCOM/ARQUIVO).


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OS JACUS DA ESCOLINHA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.647



 

Como tudo se coloca na Internet, o jacu está sempre aparecendo para quem quer pesquisar. Trata-se de uma ave do gênero cruciformes e com suas 15 espécies são encontradas na América Central e América do Sul. Gosta de áreas de florestas e seu nome jacu ou cujá significa comedor de grãos. O povo sempre complementa o nome das espécies de variadíssimas maneiras. O bairro de Maceió, por exemplo, chamado Farol, antigamente era chamado Alto do Jacutinga. Nunca me deparei com um jacu em carne e osso. Bicho geralmente preto do tamanho de um pavão, mas de cores variadas na plumagem, conforme a espécie.  Entretanto na escolinha onde fiz exame de Admissão ao Ginásio, a professora particular Helena Oliveira, parecia entender muito bem desse animal.

Tudo que eu sabia a respeito da ave era sobre uma caçada que as pessoas do alto sertão faziram e nada mais. Nem mesmo soube se a sua carne selvagem era saborosa ou não. Mas na escolinha quando o aluno apresentava à professora sua redação, tinha sempre uma resposta igual da falta de paciência: “Essa redação está mais parecendo com uma cagada de jacu”. Pessoalmente, nunca gostei da palavra “cagada” e sempre uso um termo mais civilizado. Mas na escolinha quem não tinha letra boa, ia para “jacutância”.

Falam que quando o Jacu se aproxima de uma residência rural, quer participar da ração de grão jogadas no terreiro para as galinhas e semelhantes. Se alguém não o espantar poderá ir ficando e ganhando terreno no criatório doméstico. Mas, quase todo animal selvagem faz isso desde que haja cumplicidade com o zelador. Sempre que eu me dirigia para o povoado Pedra d’Água dos Alexandres, passava no terreiro de uma casa que mantinha uma seriema cantadeira criada com outros animais da fazenda, aproximadamente no sítio Morcego. Ora, seriema é predadora de serpentes e não bem vista por maus presságios sobre a seca. E se ela pode, por que o Jacu não pode! Infelizmente esses animais maiores estão ficando cada vez mais raro encontra-los na Natureza. O bicho homem é um exterminador nato.

Você gostaria de criar um Jacu no seu apartamento?

JACU (FOTO DE AUTOR NÃO IDENTIFICADO).


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quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

 

SANGUE AZUL

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de janeiro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.646


 

Todos os domingos estávamos a chupar as mangas ”Gobom”, carnudas, caroços quase inexistentes, no sítio do senhor Olavo, na serra do Gugi ou almoçando no sítio Cedro do Gugi, no pé desta serra, na casa do eterno candidato a vereador Jonas. Isso tudo após um belo banho num poço aprazível do riacho Gravatá, afluente do rio Ipanema. Duas léguas do centro de Santana até ali, o equivalente a 12 quilômetros, vencidos rapidamente a pé. Aproveitávamos o prestígio da família Carvalho na serra do Gugi com José Carvalho e Mileno Carvalho e sítio Cedro do Gugi com a amizade entre o senhor Jonas e nosso amigo Francisco de Assis que sempre ia conosco. Após comermos a galinha de Jonas e dona Creusa, sua paciente esposa, subíamos à serra para o sítio da família Carvalho, casa de dona Neném e para o engenho de pau de Olavo para tomar caldo-de-cana a que eles chamavam de “garapa”.

Certo dia fomos convidados para um almoço às margens do Gravatá onde estava havendo uma festinha caseira, talvez de um batizado. Na hora da mesa muitas mãos nuas das cozinheiras retiravam macarrão para os pratos e aquilo me deu náuseas. Aleguei que não queria almoçar, estava de barriga cheia, mas fui contestado por uma solteirona da cidade, no meio de todos. “Esse povo é fidalgo, não come na casa de pobre, não”. Disfarcei a conversa daquela “doida”, mas fiquei morto de vergonha. Tive que esperar pelos amigos até que eles resolveram retornar a Santana. Aí sim, eu conheci na realidade o que povo falava: “duas léguas de fome”, até chegar em casa.

Não faz muito tempo assim, fomos convidados, eu e minha esposa, por uma exímia cozinheira, para uma buchada em sua residência. Fomos com a maior satisfação parar no Bairro Lajeiro Grande. Durante o almoço a cozinheira dizia: “Ah, minha gente, pessoas da vizinhança se ofereceram para almoçar buchada com vocês. Cortei tudo na hora dizendo que a buchada era para fidalgos, pessoas do sangue azul. Foram gargalhadas para todos os quadrantes da casa com àquela brincadeira.  Logo veio à lembrança do almoço do Gravatá. E dessa vez, a amizade verdadeira e sincera me deixou mesmo quase acreditando – de mentira – que nós éramos fidalgos e de sangue azul.

Sangue azul comendo buchada... Pode! Mas não era o sangue azul do Gravatá.

RIACHO SANTANENSE (FOTO: BIANCA CHAGAS).

 


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quarta-feira, 19 de janeiro de 2022

 

O CASAMENTO NA ROÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 20/21 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.645




 

Zé Mulato não queria passar vergonha. Deveria seguir a tradição da zona rural. Não era rico, mas conhecido como barriga-cheia (pessoa equilibrada financeiramente).  E como não era todo dia que casava uma filha, sim, faria uma festa para ninguém botar defeito. Mandou abater o maior e mais gordo porco da fazenda; Galinhas, capãos, patos e guinés; um carneiro de 15 quilos e fez avaliação se precisaria matar um boi para assegurar a demanda. Um carro de boi chegou da “rua” repleto de bebidas e descarregado na ampla dispensa por trás da casa. Dona Creusa Mulato, sua esposa, trouxe as mais famosas cozinheiras dos arredores para o preparo dos quitutes.  Outras pessoas vieram para ajudar a abater os animais.  Da cidade, foram convidados o padre e suas comadres da Igreja.

A sobrinha de Dona Creuza, Tereza, que havia chegado recentemente de São Paulo, tomou à frente da parte do cartório, da Igreja, do vestido da noiva e de coisas semelhantes. Foi contratado um sanfoneiro que ainda se dizia parente de Luiz Gonzaga.  Enfim, dentro de um mês de corre-corre, estava tudo preparado para o grande dia. Inúmeros cavaleiros acompanhariam os noivos a cavalo e após o retorno da Igreja, teria início a festança em que Mulato calculara em três dias. Um cabra mal-encarado, sobrinho do pai da noiva, estava encarregado da segurança; esse nem bebia nem fumava, era só de olho duro em possíveis malfeitos.

A festança durou os três dias previstos por Zé Mulato. Forró dia e noite. Pela tradição, a noiva só poderia dormir com o noivo após a festa. O que coincidiria com os três dias previstos. Mas, devido o alto efeito da cachaça, não havia vigilância sobre eles. E acontece que após o cair da tarde, quando começavam a chegar as primeiras sombras da noite, ninguém via mais a noiva... Nem o noivo. Será que estavam rezando! Bucho tinindo de tanta comida e cabeça nos pares do forró, quem iria querer saber da noiva que não fosse a sua. E como tudo seus mistérios, até Zé Mulato e Creusa caíram no sapateado da sanfona. Os noivos estavam cansados de tanta espera.

A prima Tereza lembrou-se que ali pertinho havia um belíssimo arvoredo. Mas...Pensando bem...

Arvoredo não fala.

 

 


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segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

 

MARACANÃ

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.643




 

O Largo do Maracanã, apesar de ter perdido o símbolo que originou o seu nome – Churrascaria Maracanã – continua aceso e forte com suas sete bocas. É o centro do grande Bairro Camoxinga e o lugar mais pronunciado da cidade. É centro conversor e dispersor de sete ruas, aqui chamadas de bocas. Rua Maria Gaia, Pedro Gaia, Santa Sofia, Pedro Brandão, Pancrácio Rocha 1, Pancrácio Rocha 2 (BR-316) e a pequena via murada que acompanha a BR. Possui apenas um semáforo e mais nada e que às vezes quebra e da dor de cabeça até em cabeça de prego. Ali é caso de qualquer coisa da engenharia moderna que pudesse resolver definitivamente o problema. Uma obra federal. Entre 18 e 19 horas aquilo vira uma loucura de veículos e gente a pé para caminhadas, compras nas padarias, farmácias e posto de gasolina.

Clima Bom, Barragem, Lajeiro Grande, Baraúna, São José e Camoxinga, são bairros que convergem e divergem do Largo do Maracanã. A antiga Churrascaria transformou-se em clínica médica, mas o lugar não deixa de ser Maracanã, pequena ave parente do papagaio. Ali na esquina da Rua Santa Sofia, na BR-316, bem defronte a uma farmácia, naturalmente as pessoas aguardam transporte para o Oeste do Sertão: Poço das Trincheiras, Maravilha, Ouro Branco e até mesmo para o Canapi e o extremo do estado. Todas às tardinhas têm caminhadas dali ao DENIT ou até a Barragem, caminhadas estas, arriscadíssimas porque acontecem no leito da pista em disputa com os variados tipos de veículos. O lusco-fusco aumenta o perigo, porém os caminhantes não se dão conta de uma tragédia anunciada.

O Largo do Maracanã é sempre um protagonista de Santana do Ipanema. Vez em quando, uma pequena feira improvisada no terreno onde era o antigo posto de gasolina, faz a alegria das donas de casa com a venda de macaxeira, milho, tapioca, banana e outros produtos frescos vindos da roça. O Largo é ponto predileto para comício de políticos em épocas de eleição. Dizia um antigo delegado de polícia: “De dez ocorrência em Santana, nove são relativas ao Maracanã”. O local está para sempre marcado na terrinha, mas é bom que se diga, com seu grande movimento e pequeno comércio popular o Largo nunca foi elite no Bairro Camoxinga, possui os seus próprios personagens e faz circular dinheiro todos os santos Dias.

Maracanã, um logotipo imorredouro.

LARGO DO MARACANÃ EM DIA FERIADO: (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 


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domingo, 16 de janeiro de 2022

 

TOCAIAS PEDE SOCORRO

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.642






Ontem (domingo), foi realizada às quatro da madrugada, uma caminhada da igreja de São Cristóvão até a Igrejinha das Tocaias, defronte a Reserva Tocaia, além do Bairro Floresta. Uma verdadeira multidão, liderada por Maria José Lírio, zeladora da igrejinha, deixou a Matriz de São Cristóvão com os primeiros raios da aurora conduzindo em charola a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Além da multidão, havia carro-de-som e ambulância em direção aos confins da Floresta. A igrejinha das Tocaias, localiza-se no início da zona rural e seu pequeno terreno foi cedido pelo proprietário da Reserva Tocaia e da Fazenda Coqueiros, o agrônomo, Albertinho Agra. Entretanto ainda não foi oficializado.

A Zeladora da citada igrejinha pede socorro para reconstrução da calçada alta que foi destruída pelas últimas chuvas.  Além disso, se for feita a doação oficial do terreno (documento em cartório), a igrejinha poderá ser incorporada ao patrimônio da Paróquia de São Cristóvão.  Enquanto isso a ermida encontra-se impossibilitada de restauração e reforma, entregue apenas às mãos de uma pessoa que pede socorro à coletividade visando melhorias onde já houve tantas novenas, fontes de promessas e inúmeras graças alcançada com seu mentor, São Manoel da Paciência. Sua história foi resgatada pelo escritor Clerisvaldo B. Chagas, vencendo o tempo que separa a escravidão quando se deu ali uma emboscada onde foi morta uma senhora. A igrejinha se desenvolveu a partir de uma Santa Cruz de beira de estrada.

Apelamos para a sensibilidade do Secretário da Educação e Meio Ambiente, Jorge Santana; do Diretor de Cultura, Robson França; e da Prefeita Christiane Bulhões, no sentido de um “chega juntos” à luta de dona Maria José Lírio, à Rua Joel Marques, bem defronte à Pracinha do Amor. A Igrejinha das Tocaias tradição religiosa e turística necessita restaurar sua calçada alta, um amplo compartimento para ex-votos, um lugar adequado, tipo escritório para A Administração. A ridícula cerca de arame farpado e porteira que a protegem poderiam ser substituídas por coisa mais decente. Esse episódio de mais de duzentos anos da história santanense não pode ficar entregue às intempéries e ao desprezo. Vamos voltar às novenas de outrora e à seriedade das coisas sagradas da nossa terra.

A ermida das Tocaias pede socorro!  

RUMO ÀS TOCAIAS (FOTOS: MARIA JOSÉ LÍRIO). IGREJINHA (FOTO: B. CHAGAS).

 


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quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

 

CISP TIPO 3

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.641




 

Quando o governador Renan Filho anunciou a construção do CISP 3, em Santana do Ipanema, anunciava como o primeiro desse tipo em Alagoas.  O CISP tipo 3, permite que estejam abrigados no prédio ao mesmo tempo, Polícia Civil, Militar e Corpo de Bombeiros. O investimento, segundo sites noticiosos será de mais de 18 milhões num prédio novo que não foi divulgado o local ainda.  Um heliponto será construído para utilização de aeronaves para Santana e região. Tudo isso faz lembrar a história militar em Santana do Ipanema com a Cadeia Velha, fundada no tempo de vila à Rua Nilo Peçanha que antecede a Rua Antônio Tavares. Cadeia Velha que funcionava como Cadeia, Necrotério, Delegacia e ponto de venda de escravos. Uma história segura de Santana do Ipanema.

Quando foi construído o prédio, moderno para a época, para funcionar a Delegacia e algumas celas, foi demolida a Cadeia Velha da Rua Nilo Peçanha. A Delegacia fora construída no lugar chamado Aterro e ficava praticamente isolada, salvo os antigos cabarés um pouco mais abaixo da rodagem que hoje é asfaltada e tem nome de BR-316. Pela municipalidade esse trecho é denominado Pancrácio Rocha. A delegacia tem inúmeras história e atualmente virou Casa de Custódia. Nos últimos anos algumas reformas ali aconteceram e, pelo menos o aspecto externo tem mesmo aparência com a época atual.

É a evolução da história militar em Santana do Ipanema. Os antigos policiais dos primeiros tempos daquela delegacia ainda são lembrados, como Gonçalo, Joaquim Soldado, Dema e outros mais que passaram os dias de aposentadoria em reuniões diária na porta da igreja Matriz de Senhora Santana. Portanto, O CISP 3 será uma ótima notícia para os que fazem a Segurança Pública, uma grande evolução para Santana e um bárbaro anúncio para a economia local. Baseado num amigo empresário bem sucedido que só pensa em dinheiro as 24 horas do dia, além do investimento inicial de mais de 18 milhões, ainda tem a força de uma repartição pública estadual despejando dinheiro todos os dias e as mensalidades circulando pelo comércio local. Todo mundo pegando em dinheiro.  Se isto não representar progresso para a Rainha do Sertão, não sei mais o que seria esse progresso.

DELEGACIA DO ATERRO EM 2013. FUNDADA EM 1973 (FOTO: B.CHAGAS/LIVRO 230).

 

 

 

 


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quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

 

CASACA-DE-COURO

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2;640


 

O dia amanheceu muito bonito, céu azul claro com nuvens esparsas, apesar da temperatura desse período que atinge os 36 graus, caindo à noite até os 24. Uma diferença enorme de variação térmica, que racha facilmente as pedras mais resistentes do Sertão. Mas, parecia que alguma coisa boa iria acontecer, era uma algazarra enorme da passarada. Passou nos ares um bando fazendo alarido de alegria. Os pássaros da rua responderam em coro e depois os pardais escoltaram uma solitária rolinha a catar pequenas pedras na rua. Se eu fosse viciado em jogo de bicho e na roda tivesse “passarinho”, seria a ocasião perfeita para jogar. Pois, ainda a vizinhança coloca um forró de Jacson do Pandeiro que dá um show sobre a casaca de couro, você já ouviu?

A casaca de couro (família Furnarildae) é ave passeriforme endêmica do Nordeste brasileiro. Sua plumagem é de um amarelo cremoso muito bonito e tem como atração o seu ninho de todos os tipos de garrancho que chama atenção de longe. O seu canto também é muito atrativo pois canta em dueto como se uma delas cantasse e outra respondesse. Escute o Jacson que você entenderá melhor. Ah, foi ali nas minhas andanças pela zona rural, no sítio Icó, em Santana do Ipanema, bem perto do conhecido Campo de Aviação que eu conheci as três atrações: a ave, o canto e o ninho. Terreno de barro vermelho, amplo terreiro limpo e plano... Cadê vontade de ir embora, preso por aquele espetáculo para turista. Sertão é mesmo coisa de Deus!

O sítio Icó fica a 6 km do centro de Santana do Ipanema. Icó significa arbusto ou árvore arbustiva, porém venenosa e que os cavalares não podem comer. Não são poucos os que falam erradamente, Incó. Pois, ali no Icó senti-me bem à vontade na casa de fazenda de Dona Maria, conhecida como fabricante artesanal de queijos. Fiquei tão distraído que não tentei saber se por ali ainda se podia ver um pé da planta que dá nome ao sítio. Também, com o espetáculo das casaca-de-couro e a beleza do lugar!... Pela noite não sei que todo sítio nas trevas é esquerdo, mas naquela hora senti que seria um grande privilégio morar naquele paraíso. Desculpem amigo e amiga, se não gostam do tema, mas não pude resistir à crônica porque o dia estava muito profundo para os passarinhos.

NINHO DE CASACA-DE-COURO. (CRÉDITO: WIKI AVES/LUIZ GONZAGA).


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terça-feira, 11 de janeiro de 2022

 

CASA DE TAIPA

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.639

 A casa de taipa representa a pobreza do Brasil passado em todas as regiões brasileiras, notadamente no Nordeste. Do litoral ao Sertão a casa de taipa sempre esteve presente respeitando algumas formas de arquitetura. As belas cenas em telas românticas do litoral, continuadamente, mostravam a casinha de taipa coberta de palha sob os coqueirais. No Sertão, elas apareciam principalmente na zona rural, nos sítios, nas fazendas, cobertas de palhas do coqueiro Ouricuri ou mesmo de telhas de barro. Consiste a casa de taipa numa construção cuja estrutura é feita de varas entrançadas e preenchidos seus espaços com argila local jogada e alisada à mão. A personagem famosa do cangaço, Maria Bonita, morava em casa de taipa. Apesar de programas para a erradicação desse tipo de moradia, ela ainda se encontra fortemente na ativa nos estados nordestinos.

A disseminação da casa de taipa foi justamente pelas precárias condições do usuário que procurou o material encontrado nas imediações mais a habilidade artesanal do vizinho, do parente, do amigo. A construção da morada muitas vezes foi comemorada com cachaça, tira-gosto e coco de roda no amassar do barro com os pés no ritmo musical e no jogar o barro no quadrado das varas que formavam as paredes. Essa comemoração para incentivar a vizinhança na ajuda, chamava-se: ”Tapagem de casa”.  E tinha gente que andava mais de uma légua (12 km) para não perder uma tapagem de casa. Essa construção artesanal pode até ser muito bem feita, resistir à chuva e ao Sol, durante mais de cem anos, desde que exista sempre manutenção.

Quando a casa de taipa vai ficando velha, a preguiça do seu habitante, a idade ou miserabilidade, deixam cair pedaços da parede, muitas vezes cobertas por lona preta de plástico fino. As frestas criadas no barro podem abrigar o “barbeiro”, inseto terrível conhecido pela Doença de Chagas. Daí um dos motivos da erradicação. A tapagem de casa ficou imortalizada no romance Curral Novo, do escritor palmeirense, Adalberon Cavalcante Lins, para mim o melhor escritor do mundo.

E como Deus não discrimina moradias humanas, leva o brilho do Sol e da Lua também aos litorais e sertões do homem trigueiro e da cabocla amorosa da casa de taipa.

CASA DE TAIPA (CRÉDITO: PORTAL APRENDIZ)

 

 


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domingo, 9 de janeiro de 2022

 

GRUTA DE LOURDES

Clerisvaldo B. Chagas, 10/11 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2. 638



 

Quando o padre Luís Cirilo Silva, edificou o Salão Paroquial, da Igreja Matriz de Senhora Santana, fez um belo trabalho. O salão ficou um pouco acima do nível da igreja, com entrada lateral para a nave em cerca de dois degraus. Para a rua puxou uma área de entrada com vista para o comércio, principalmente com uma visão total de mirante para a Avenida Barão do Rio Branco, via ladeirosa que se inicia ali e vai até a margem do rio Ipanema. Aproveitando o ensejo o pároco fez construir na base da frente do salão, rente a calçada, uma réplica da gruta de Lourdes que ficou famosa no mundo inteiro quando da aparição da Virgem Maria no sudoeste da França. Vale salientar que ainda foi usada parte do jardim da casa de esquina, (hoje museu) para complementar o salão.

Encerrado o trabalho, a Gruta de Lourdes de Santana do Ipanema passou a ser uma grande atração para os fiéis, visitantes e transeuntes. Havia perto do gradeado de proteção, um recipiente para angariar donativos. A imagem da santa, recuada e a semelhança de gruta rasa, natural, impressionava. Com o passar do tempo a gruta foi deixando de ser novidade, foi ficando esquecida interna e externamente. Semana passada passei por ali à tardinha, ocasião em que estava havendo a reza do terço na Matriz. Visitei a gruta que, fisicamente estava original, com enfeites de fim de ano. A imagem de Lourdes, bem apresentável parecia distribuir bênçãos aos seus visitantes. Saí dali pensativo com a possibilidade de maior divulgação e marco turístico para o município.

Já estive há muito no Bairro Gruta de Lourdes, em Maceió, quando desci a barreira para visitar a gruta, um imenso atrativo à época. Mas fiquei feliz também pela gruta artificial de Santana do Ipanema, tão esquecida que fui saber se ainda existia. Estava ali, ativa, ornamentada e sóbria. Creio que não foi feita para ninguém entrar, acender vela nem trazer seus ex-votos, pois e rasa e não tem espaço para tanto. Por lado é bastante exposta, mas muito representativa. Por cima da gruta o “puxadinho” do Salão Paroquial – ao lado do Museu Darras Noya – continua sendo um mirante não oficial para o Comércio, a Praça Cel. Manoel Rodrigues da Rocha e a imensa ladeira da Avenida Barão do Rio Branco.

Santana se redescobrindo.

GRUTA DE LOURDES DE SANTANA DO IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS).


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quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

 

VIVA OLIVENÇA!

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.637



 

Voltamos a falar da rodovia sertaneja Olivença – Batalha. Atualmente para sair de Olivença para a cidade de Batalha é preciso, se for pelo asfalto, rodear por Olho d’Água das Flores, Monteirópolis e Jacaré dos Homens. Mas existe uma estrada de terra que chega a Batalha, por dentro. Um atalho que é apenas um pulo. Pois bem, prometida pelo governo estadual o seu asfaltamento, ano passado, agora o tema volta com toda força possível. É anunciada a ordem de serviço para o aniversário da cidade, no próximo mês de fevereiro. O anúncio foi feito pelo seu prefeito e o deputado federal Isnaldo Bulhões, relativo à comunicação com o governador Renan Filho, noticiam sites da terra. Assim sendo está bem pertinho esta grande vitória oliventina e do médio sertão como um todo.

Agora todos os caminhos da Bacia Leiteira se entrelaçarão, permitindo um intercâmbio supimpa pelos caminhos do leite. E Olivença que sempre foi parceira de Major Izidoro, integrar-se-á fortemente àquele município rei da agropecuária. Novos investimentos no progresso da antiga Capim, poderão ocorrer com o benefício do asfalto e, Olivença que não para de crescer alcançará com certeza a mesma fama do criatório do triângulo do leite Major Izidoro, Batalha e Jacaré dos Homens. Todos serão beneficiados, principalmente naquela grande área que engloba também Jaramataia, Belo Monte, Monteirópolis, Palestina e Até Pão de Açúcar. O importante é que o mundo esteja todo furado de estradas negras de piche do progresso.

Qual é a cidade que não gostaria de receber um presente deste na sua emancipação! É bem verdade que não podemos mais viver no sertão atrasado. E a era do “grande sertão veredas” está ficando longe, tão longe que as novas gerações sertanejas nem lembram do atraso que cegava seus habitantes. Não é mais o tempo em que foi invadida por Lampião que de quebra ainda quis ocupar sua vizinha Major Izidoro, então Sertãozinho. Ao passar ali com destino a um dos seus povoados, fiquei surpreendido com sua expansão territorial. O oliventino deve estar feliz assim como o santanense estava quando chegou à cidade o asfalto pela AL-220. Vamos ficar viciados com o desenvolvimento sertanejo e jamais chorar o cangaço das vacas mortas nos aceiros e nas estradas carroçáveis.

Viva Olivença!

OLIVENÇA (FOTO DIVULGAÇÃO)

 

 

 


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terça-feira, 4 de janeiro de 2022

 

 

O OURIVES

Clerisvaldo B. Chagas, 5/6 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.636

 

Já dissemos que a Rua Antônio Tavares foi a primeira de Santana do Ipanema, após o quadro comercial. Apelidamos a via de Rua dos Artesãos, pois havia inúmeros deles. Artesãos que trabalhavam fazendo candeeiros, bicas (calha), sapatos, selas, sofás, colchões, malas, capotas... E assim, sucessivamente. Certa feita chegou à rua um preto alto e caladão e se estabeleceu na parte baixa, primeiro trecho da rua de quem vem do comércio. Logo ficamos sabendo seu negócio: trabalhava com ouro. O ourives logo demonstrou que entendia profundamente da arte, conquistando bela freguesia. Era um mestre! Fabricava várias peças de ouro, mas era muito procurado para confecções de alianças, cada uma mais perfeita do que a outra. Naturalmente ensinava o ofício aos filhos e um deles acompanhou fielmente a arte do pai: O cidadão Maurílio.

Um dos filhos do ourives dedicou-se ao futebol. Era muito bom de bola e chegou a jogar no Ipiranga. Parece que não tinha muita afinidade com a arte do pai. Minhas alianças de casamento saíram daquelas mãos bem treinadas. No desenrolar da vida, a família mudou-se de Santana.  Há bem pouco tempo parei de súbito em Maceió, na Rua Senador Mendonça ao reconhecer o artesão da minha juventude, Maurílio Ourives. Era ele sim: Preto comprido e fino, do mesmo jeito do passado.  Não ousei me apresentar e puxar conversa. Conversa para quê? O homem era sisudo igual ao genitor, poderia não querer saber de conversa. Uma placa indicava onde era o seu atelier. Maceió foi quem ganhou incorporando ao seu cotidiano, um artesão de altíssima qualidade.

É isso que os alunos gostam e aprendem no extraclasse. Visitar uma indústria grande ou simplesmente uma fabriqueta. Entrevistar um artesão demostrando sua arte, um museu, uma organização social... No caso do ourives que poderia ser um, quanto interesse despertaria no jovem com o encanto do trabalho! Poderia até depois querer seguir a mesma carreira do artesão ou entrar no ramo das joias ou no comércio das pedras preciosas. Isso foi o que conversamos ontem com amigos em visita. Uma avaliação da prática no ensino antigo e monótono de apenas entre quatro paredes. Pois o exemplo de hoje vai para o amigo Maurílio: brincos, anéis, alianças... A vida é uma joia animada.

Viva a vida!

Assim seja.


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domingo, 2 de janeiro de 2022

 

SANTA QUITÉRIA

Clerisvaldo B. Chagas, 3/4 de janeiro de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.635


 

Em Santana do Ipanema, andando pela Rua Santa Quitéria, lembramos as caravanas do mês de setembro ao Santuário da Santa tão querida no sertão de Alagoas. A religiosidade do povo nordestino e sertanejo é impressionante. Nem precisa ser tempo de romaria para suas visitas de necessidade ou de cortesia, aos lugares santos. E mesmo ainda no início do ano, já escutamos pessoas falando em viajar até à vila de Frexeiras, bem perto da importante cidade de Garanhuns, no estado de Pernambuco. Existem as preferências pelos dias menos movimentado em Frexeiras pelos que querem mais tranquilidade. Outros preferem mesmo as caravanas de setembro e o Santuário lotado. Geralmente esses devotos vão por Palmeira dos Índios, subindo a serra das Pias, em direção a Garanhuns. De lá, mais quinze minutos até a vila, nos informa um devoto.

Santa Quitéria é uma santa portuguesa que resistiu às pressões de abandono ao Cristianismo. Terminou sendo decapitada. Após essa tragédia, mesmo com essa parte separada do corpo, caminhou até a cidade vizinha sustentando com as mãos a própria cabeça. Ali, no meio da rua, caiu e foi sepultada. Aqui em Santana do Ipanema, foi homenageada com nome de rua na margem direita do rio Ipanema, ainda no século passado. Era rua de ferreiro, artesão de bicas de zinco e da classe trabalhadora popular. Ultimamente, a sua região de saída para o município de Olho d’Água das Flores, está sendo chamada de Bairro Santa Quitéria. Não sabemos se oficialmente procede essa nova denominação pelo povo. Ganhou pavimentação e, no seu entorno, empreendimentos importantes, notadamente na AL-120.

Portanto, seus devotos vão a Frexeiras, pagar e fazer promessas, visitar o santuário repleto de ex-votos, distribuídos e bem organizado pelos administradores; Inúmeras peças do corpo representando as graças alcançadas, em madeira principalmente e em formas de fotografias. As paredes estão repletas de ex-votos e novas peças não param de chegar através da devoção dos seus romeiros. Da nossa parte, gostaríamos de conhecer o santuário e até agradecer uma antiga deferência da Santa para conosco.

Santa Quitéria, a santa portuguesa, foi introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses. Todos chamam a vila de Frexeiras, diferentes da cidade de Alagoas, Flexeiras.

Então, rumo a Frexeiras.

SANTA QUITÉRIA (IMAGEM DIVULGAÇÃO).

 

 

 

 

 


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