quarta-feira, 9 de julho de 2025

 

PORRÃO – PURRÃO

Clerisvaldo B. Chagas 9 de julho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.263

 



Mas menino! Não é que encontrei no dicionário a palavra Porrão! É que estava vendo algumas panelas de barro e fui transportado para o meu tempo de criança e adolescente quando via os adultos comprando na feira, panelas de barro, potes, jarras e porrões. Brinquedos de barro, pratos, panelas, cuscuzeiras, potes, jarras e porrões, eram vendidos, mas será que um jovem ou uma jovem sabe o que significa “porrão” (porrão, sem safadeza) que se pronunciava “purrão”? Pois bem, o pote de barro era bojudo e baixinho para carregar e armazenar água. Esse todo mundo conhece. A jarra, era semelhante ao pote, porém, muito maior três ou quatro vezes. E “porrão”, com a pronúncia “pu”, era a mesma jarra, porém, maior e mais bojuda. Cabia mais água que para passar à semana fazia grande diferença. Tudo era abastecido com água do Ipanema ou do Panema.

Vejo o adulto comprando o porrão na feira, batendo com os nós dos dedos na parte bojuda, experimentando o objeto. Vejo o botador d’água despejando sua ancoreta no porrão com a boca de filtro improvisado, de pano. Ouço a rãzinha rapa-rapa cantar por trás do porrão e a matuta dizer: “Escute, vai chover”. Vejo o senhor Filemon, fazendo feijoadas em pratos de barro, contratado pela sociedade. E por fim, vejo a feira das panelas após o “Beco do Mercado” e sua mudança para outro ponto, muito mais acima, na feira. Revejo a visita que fiz com meus alunos às fabricantes de panelas, no povoado Alto do Tamanduá, em Poço das Trincheiras

Querem pesquisar o tema, este é o começo.

Não precisa registrar a EMOÇÃO.

Porrão (foto: Pinterest).


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segunda-feira, 7 de julho de 2025

 

ESCURO

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de julho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.263



 

Quando Santana do Ipanema passou à cidade, em 1921, um grupo de pessoas criou uma companhia de abastecimento de luz. No ano seguinte, 1922, a companhia começou a funcionar através de um grande motor alemão. A cidade era abastecida pela eletricidade motriz, a partir das seis horas até a meia-noite. Havia três piscadelas na energia quinze minutos antes de apagar. E o restante, era escuridão até o amanhecer. Postes de madeira pelas ruas, mostravam a dignidade de início da urbe. O motor de abastecimento começou abrigado em um prédio da Rua Barão do Rio Branco, quase na última esquina que dá para o rio Ipanema. Hoje é casa comercial. Depois foi construído um prédio exclusivo para a Companhia à Avenida Nossa Senhora de Fátima, hoje, Câmara de Vereadores, após reforma.

Havia três compartimentos. Um grande, do motor, um pequeno, de gerência, outro médio, dos tanques d’água que abasteciam o motor. No pequeno, pagávamos a conta da luz a um dos sócios, Valdemar Lins. Em 1959, o motor exauriu e nós santanenses passamos quatro anos no escuro. Sim, eu estava com treze anos lia à noite com candeeiro de flandres ou com placa de parede, também à querosene. Ferro de engomar na janela avivando as brasas de carvão, pela parte de trás; quartinha com água refrescando o conteúdo. Em noites enluaradas, histórias de Trancoso e assombrações, aprendizado dos nomes de estrelas e constelações. Em tempo mais frio, lençóis brancos e história de almas na calçada escura.

Por incrível que pareça, a cidade nunca deixou de progredir. Quando o cansaço bateu na paciência do povo foi iniciada uma campanha que tomou conta das ruas e repercutiu em Maceió, pela luz elétrica de Paulo Afonso. O governador sentiu o baque e com pouco tempo trouxe a energia que o povo reivindicava na Rádio Candeeiro, improvisada e clandestina no Tênis Clube e as procissões de lanternas, velas e candeeiros pelas avenidas escuras de Santana.  Com poucos anos depois também chegou água encanada do rio São Francisco e aposentou os mais de cem jumentos que botavam água nas residências trazidas das cacimbas do rio Ipanema seco. E essas duas lutas foram apenas o início de outras grandes. Depois eu conto.

Afinal, escuro só presta para ladrão e para... Aquilo.

MINHA RUA MADRUGADA (FOTO OBRA-DE-ARTE DE B. CHAGAS).


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domingo, 6 de julho de 2025

MACEIÓ

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de julho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.262

 



“Às vezes a gente enfrenta um elefante e se engasga com um mosquito”, é assim que diz mais um ditado sertanejo. Além de estudar por um bom tempo na capital, desde criança que a frequentava, isto é, desde os tempos do trem de ferro em Palmeira dos Índios. Estudei, pesquisei muito, solitariamente, como sempre, mas não consegui conhecer de perto dois lugares e rever mais um.  E não eram coisas do outro mundo não, mas quando o destino não quer, é porteira fechada. Alguns pontos famosos de época, bem consegui visitá-los como o “Gogó da Ema”, o “Farol da Jacutinga” que emitia feixes de luzes alternadas vermelhas e azuis, o “Bar das Ostras”, no seu ocaso. As três coisas ainda a serem citadas me faltaram, porém.

E vamos a elas: o Parque Municipal, que é uma boa parte da Floresta Tropical ou Mata Atlântica. A Bica da Pedra + a Estação do Catolé e uma segunda visita muito mais consistente ao Porto do Cais. Esses eram os pontos famosos de Maceió, que eu nunca consegui visitá-los. Ao cais fui somente com um colega de República de Estudantes, de carona na cabine de um caminhão transportando melaço de uma usina de Rio Largo. Pense! Tudo para mim era novidade. Fiquei impressionado com a região do cais, porém, nunca voltei ali para matar a minha curiosidade e anotar coisas. E sem conhecer o Catolé, suas águas e seus banhos, ponto alto da capital, parti para outros lugares. Do Parque, só tive conhecimento da sua existência, muito tarde e nem tive oportunidade de abraçá-lo. Hoje em Santana do Ipanema, ainda penso na frustração.

Mas, ainda baseado em mais um ditado sertanejo, “a gente só faz o que pode”, misturei-me às multidões e perambulei muito pelas ruas, avenidas, pontes, vielas, praias e lagoa sempre procurando meus alvos, meus objetivos. Muitas vezes, em busca de atenções da Medicina mesmo, aproveitava e transformava o possível estresse em novas pesquisas e assim ia ampliando os meus horizontes literários.   Lembro-me até como fiquei feliz em realizar uma pesquisa em plena Estação Ferroviária e o carinho como uma senhorita encarregada me recebeu. Tudo isso agradeço à vida. Continuo pesquisando e escrevendo até a hora do desembarque...

Assim seja!

PELAS RUAS DE MACEIÓ (FOTO: B. CHAGAS).

 

                                                                       

 

 


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quinta-feira, 3 de julho de 2025

 

PARAÍSO

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de julho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.261

 



Pense num inverno arretado!  Chuva e Sol se alternando no Sertão com temperatura agradável. As chuvas são moderadas, educadas e benfazejas; pode até não ser inverno de juntar água nos grandes reservatórios das fazendas, porém, está sendo muito bom e sadio. Estou escrevendo essa crônica na manhã do dia 28 de junho, véspera de São Pedro e São Paulo diante de um dia ensolarado, cheio de verde e com aspecto de paraíso. Foi não foi, uma olhadela na rua, nos montes, na Natureza. Um cafezinho para relaxar, um naco de bolo de milho e nova jornada no Book, vestindo a crônica do início de julho. Que belo dia inspirador de um passeio pelos campos, pelo asfalto, pelas serras. Um dia diferente, profícuo e cheio de alegria desejado por todos nós.

As ruas amanheceram penteadas da chuvarada de ontem à noite. Mas, ainda amanheceu nublado, fez desaparecer todos os pássaros do calçamento e das fiações. E o Sol, ao furar pouco a pouco o cerco das nuvens cor de marfim, esquentou os corações e trouxe de volta os pardais, as rolinhas, o bem-te-vi, refugiados da humidade.  Mal vou fechando esses pensamentos, amigo, amiga, o tempo, por birra quer mudar de novo. Ameaça voltar a chover e me empurra para o casaco costumeiro do refúgio. Ah, meus leitores, não tem como não retornar ao cafezinho. Teclado, café, café, teclado e... Asas ao pensamento. É preciso driblar a frieza do mês de julho, frieza imortalizada com a madrugada de 28 de julho de 1938, quando trucidaram o Rei do Cangaço.

Entretanto, segue o tempo “entre tapas e beijos” e importante é não haver tragédias por enchentes, deslizamentos e outras modalidades que se vê todos os dias na televisão do mundo inteiro. Certa vez disse o pároco da paróquia de São Cristóvão de Santana do Ipanema, hoje em Maceió na paróquia da Serraria, José Augusto, sobre as futuras chuvas: “que venham, mas venham mansas”. Pois, desde que o padre foi embora, há muitos anos, as chuvas nunca chegaram bravas. Nessa crônica feita em três tempos, já noiteceu e eu estou ouvindo o tamborilar da chuva educada nas telhas. Quanto a frieza desse momento, acha-se tão educada quanto a chuvadinha.

É melhor rezar o terço da Mãe de Deus e colocar água quente na garrafa. Estou indo...

PERIFERIA/PARAÍSO VERDE (FOTO: B. CHAGAS).

Ontem, dia 3, 18 graus na noite santanense.

 


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quarta-feira, 2 de julho de 2025

 

ENTREVISTA FEITA

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de julho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.260

 



Ainda sem recuperação total de um probleminha de saúde, como havia prometido, enfrentei o frio e a chuva e fui para a entrevista com senhora e senhoritas acadêmicas da UNEAL. Fomos para os estúdios de Podcast do jornalista Lucas Malta ao invés do Departamento de   Cultura, onde ocorreu o desenrolar da história de Santana. Muito proveitosa a palestra que fez movimentar os neurônios e que trouxe à superfície inúmeros fatos que reacenderam o passado e emocionaram entrevistado e entrevistadoras. O que faz a inspiração do entrevistado, é ao notar o interesse sincero, sem maquiagem dos entrevistadores e assim entregar o peixe como um rio generoso. Temos que passar o bastão para um sangue bom, pois, os fracos de espírito rejeitam os obstáculos da jornada.

Todo filho da terra deveria assumir um compromisso sério com o seu berço. Sim, nem todo mundo tem o pendor das letras, mas a sua terra pode ser exaltada de várias maneiras. Creio que o início de tudo é conhecer bem o município em que nasceu. Suas dificuldades, suas belezas, e todos os aspectos históricos e geográficos. Daí em diante você cria amor e vontade de fazer algo pelo seu torrão, na música, nas letras, no artesanato, na culinária, na política... Retribuindo em parte  seu nascimento na região. Existem ainda alguns aspectos de Santana do Ipanema que ainda não estão totalmente registrados, mas apenas citados superficialmente na tradição oral. Cabe aos mais jovens, descobrirem essas relevantes passagens históricas, desvendá-las e mostrá-las à sociedade.

Como dizia meu melhor professor de Geografia, Alberto Nepomuceno Agra: “O rio Amazonas é o maior do mundo, mas para nós o rio Ipanema é mais importante”. E eu repito aos jovens: “A serra do Mar é importante, mas para nós, mais importante ainda é o serrote do Cruzeiro, a serra Aguda, a serra da Camonga”. Ah, sim! Vamos estudá-las para saber o porquê. Ora, eu que sou professor e escritor, estive aprendendo com as minhas formosas entrevistadoras, quanto mais um aluno comum, o que terá que aprender!? E assim vamos tentando louvar o nosso Sertão intimorato, bravo, heroico, porém, mais doce do que o mel mais doce. Sertanejo com muito orgulho! Fé e resistência!

UM IDOSO NUM JARDIM (FOTO: EQUIPE DA UNEAL).

 

 

 

 


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terça-feira, 1 de julho de 2025

 

ALAMEDA

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de julho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.259

 



Sempre achei belíssimo o nome “Alameda”. Tanto é que em Maceió vi esse nome pela primeira vez, se não me engano no Bairro Jatiúca, por ali assim, quase pulo do automóvel para conhecê-la. Mas como estava em carro alheio, nada falei. E entre as vias de uma cidade, encontramos: Ruas, Avenidas, Becos, Vielas, porém, não é fácil encontrar o termo Alameda. Em Santana do Ipanema, mesmo, não tem. Rua, é uma via pública comum; Avenida, a rua principal e mais larga, às vezes, mais arborizada; Beco, uma pequena passagem de uma a outra rua; Viela, um beco sem saída. Em Santana do Ipanema têm todas elas e a viela nunca é chamada viela, mas sim, beco sem saída. Não temos o nome Alameda, que é uma via, geralmente, com alas de árvores em ambos os lados. Deve vir de Álamo, um bosque dessa árvore.

A Avenida Coronel Lucena, sempre foi a principal da minha terra e continua sendo, mesmo com a mania dos gestores em dividir uma rua, uma avenida longa em várias partes e mais títulos a esses trechos. Interessante também, em Santana eram quatro becos seguidos e contínuos, fazendo com que você saísse de um e entrasse imediatamente no próximo, era só atravessar a rua. Eram assim os quatro becos contínuos, denominados pelo povo, conforme cada habitante de esquina. E como os quatros becos eram ladeirosos, vamos denominá-los de baixo para cima: “Beco da Salgadeira”, “Beco de Seu Deoclécio”, “Beco de Seu Felisdoro”, “Beco de Maria Zuza”. Novamente de baixo para cima, ligavam pela ordem, as ruas: Prof. Enéas com a Antônio Tavares, Rua Nova (Benedito Melo) e a rua denominada popularmente de “Garagem de Sebastião Jiló”.

Mas existe uma via longa sem saída no final. Vai mais ou menos da Igreja de São Cristóvão em direção Oeste, paralela a BR-316. Parece-me que seu nome é Rua Joaquim Ferreira. E não sendo um beco, acho que ficaria denominada rua/viela.  Indo quase até o final, notei que é uma rua boa de se morar. Agradável, calçada com paralelepípedos e cheias de casas modernas. Mas bem que eu gostaria de morar numa rua/viela ou numa via com nome Alameda. Mas no momento o mais importante é se esconder desse frio de matar sapo seja em viela, alameda ou avenida. Arre!

RUA ANTÔNIO TAVARES (FOTO OBRA-DE-ARTE DE GLACILDA).

 

 

 


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segunda-feira, 30 de junho de 2025

 

VÍTOR

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de julho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.258

 



É meu irmão, já apreciamos muitas coisas em Santana do Ipanema. Mas. hoje, ao assistir jogo da copa de clubes, vi um cidadão muito parecido com um doido da minha infância. Sim, um maluco já imortalizado por um antigo escritor santanense chamado Oscar Silva. O escritor foi embora de Santana, mas deixou registrada uma referência ao homem, exatamente como o conheci muitas décadas depois: branco, alto, olhos azuis, perscrutadores e uma permanente gravata no pescoço. O escritor dizia que tudo indicava que Vítor seria de família abastada. Não mexia com ninguém, viera ninguém sabe de onde e sua distração era passar o dia no Comércio, em determinada casa comercial que talvez tenha sido a “Casa O Ferrageiro” mais a “Farmácia Confiança”.   

Vítor era pacato e de olhar doce. Andava devagar como se tivesse medo de cair. Neste exato momento, lembrei-me também que era apelidado de “Charuto”, isto porque, se não me engano gostava de fumar charuto. E como muitos outros em condições mentais difíceis, “Charuto” desapareceu tão misteriosamente como chegara a Santana. Escritor palmeirense também registrou que nunca havia visto tanto doido como tinha em Santana do Ipanema. Ora, O único doido em condições perenes de rua, genuinamente santanense que eu conheci, foi o Justino, o qual ganhou o apelido de “Maceió”, porém, fora Justino todos os outros malucos que apareciam no Comércio e nas ruas da cidade eram de fora, gostavam daqui e aqui iam ficando.

Alcancei outros malucos bem populares que também se tornaram queridos pelo povo de Santana. Propício “Peru Baixeiro”; Felipe; Luís; Teresão; Oliveira, fora os filhos da florista dona Hermínia: Poni, Agissé, Bibi, mas esses não eram de rua. Propicio foi o mais simpático, pacato e querido do povo.  Felipe assemelhava-se ao Jeca Tatu e só andava enrolado numa estopa. Luís era muito novo e babava muito, só vivia cantando o forró sucesso do momento: “Aproveite o Rela-Bucho” Teresão era uma mulher alta bonita, gostava de fumar e gritava alegre: Viva os noivos, Senhor!” Oliveira era um senhor que dava toda qualidade de discurso na porta da Matriz de Senhora Santana, quando estava com fome. Ainda faltou Maria Raimunda, desbocada e que só andava com um cassetete na mão. Agradecer a Deus por sermos sadios, não é isso?

SANTANA DO IPANEMA. FEIRA CAMPONESA (FOTO: B. CHAGAS).

 


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HOJE TEM

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.257

 

Mais uma vez estarei a conceder entre


vista na Casa da Cultura. Na Casa da Cultura, porque acho o lugar mais adequado para se fomentar e distribuir conhecimentos. O tema para trabalho acadêmico da UNEAL, será sobre a História de Santana, tão profundamente apresentada em nosso livro “O Boi, a Bota e a Batina; história completa de Santana do Ipanema”. É lógico que não tenho restrições e o momento reflexivo poderá cair em mote outro, mas que em nada atrapalha o miolo dos registros. Afinal, tudo faz parte mesmo da nossa bravia trajetória. É de se entender que Santana do Ipanema era o maior município de Alagoas, antes de perder território para oito povoados que se emanciparam: Olho d’Água das Flores, Carneiros, Poço das Trincheira, Maravilha, Ouro Branco, Senador Rui Palmeira Dois Riachos e Olivença.

Mas é bom repassar dados da nossa história para pessoas mais jovens, notadamente universitários. Quem sabe, no meio de inúmeros alunos fazendo pesquisas, surge a esperança de pelo menos um se empolgar e partir de vez para o mundo da literatura da terra e se tornar exímio escritor. Precisamos muito de escritores/pesquisadores, altamente curiosos e com amor ao lugar onde nasceram. É por isso que valorizamos um Tadeu Rocha, um Oscar Silva. Um nascido em berço de ouro, outro fugindo da fome, porém, ambos com um compromisso íntimo em desvendar segredos e mistérios de Santana do Ipanema para o mundo. Basta lermos as suas obras e iremos compreendendo que é o amor ao torrão eu ilumina os trabalhos.

Portanto, estaremos na Casa da Cultura às quinze horas, para mais uma entrevista aos nossos jovens. Ali encontramos um ambiente acolhedor, dirigidos pelo Departamento de Cultura nas pessoas da professora Gilcélia Gomes e o escritor professor, coordenador do Departamento, Marcello Fausto. Ambos, ex-colegas de Geo-história e pessoas de fino trato. A Casa da Cultura estar localizada na Avenida Coronel Lucena, hoje, em pleno Comércio, perto de tudo e de todos. Fica quase defronte à prefeitura e seu prédio já foi residência de família tradicional e Fórum da cidade. Por coincidência foi na sua calçada para onde muita gente correu no Século passado, quando o cine-Glória quis incendia a tela durante o filme Aída, cine quase defronte a hoje Casa da Cultura. Estar registrada a cena no livro O Boi, a Bota e a Batina; História Completa de Santana do Ipanema.  


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sexta-feira, 27 de junho de 2025

 

PASTORIL

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.256

 



Homenageando meu primo velho, escritor João Neto Chagas, fui buscar no passado da década 60, os pastoris de Santana do Ipanema que ainda proliferavam por ali. Ao lado dos “Guerreiros”, “Reisados”, “Tapagens de casas”, “Forrós” e “Novenas” que divertiam o povo ainda naquela metade de século. Funcionava o Pastoril com duas alas de mocinhas, enfileiradas em azul e encarnado. Comandava a fileira do azul, a Contramestra e, a fileira do encarnado, a Mestra. A coluna do meio só havia uma pastorinha denominada Diana, que se dividia entre as cores Azul e encarnado. Colocavam nas cabeças das fileiras, as mais altas e bonitas figuras para que elas atraíssem dinheiro que pediam à multidão. A disputa era para ver quem mais ganhava dinheiro para as suas cores

Ainda havia outras figuras como a borboleta e o pastor. As   apresentações aconteciam durante o período Natalino, a multidão torcia pelo azul ou pelo encarnado, chamava as pastoras de uma ala ou de outra e pregava dinheiro nas blusas de ambas. Às vezes a agraciada era a Diana. Aliás foi dessa disputa de pastoris que nasceram o CSA e o CRB, os dois principais clubes esportivos de Alagoas: Encarnado e Azul. Quase sempre os palanques eram armados entre o “prédio do meio da rua” e o “sobrado do meio da rua”.  Daí ter falado o “primo Véi”, a cantiga inicial do Pastoril:

 

Meu São José

Dai-me licença

Para meu pastoril dançar

Viemos

Para adorar

Jesus nasceu para nos salvar...

 

Mas como dissemos outras vezes, a televisão, o divertimento em casa, acabou todas as tradições do interior.

Fecharam-se teatros, clubes de futebol, cinemas, clubes sociais e foram extintos os folguedos. Fazer o qu


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quarta-feira, 25 de junho de 2025

 

ABANDONO – SAUDADE

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.255



 

Não é especificamente, saudosismo, mas alguma coisa mexe com a gente, diante da decadência da nossa agremiação. Mais uma vez passei pela rua lateral do Estádio Arnon de Mello e contemplei o muro alto, desgastado e cheio de lodo. Por coincidência encontrei na Rua Santa Sofia (rua principal do Estádio) dois atletas dos áureos tempos do Ipanema: Zé Cuinha e Severiano. Este agora com o apelido de “Paraná” e ainda exercendo de mecânico. Com a morte do Ipanema, todo o esporte santanense veio abaixo. Entretanto, vem a nós também o conhecimento das dificuldades em se manter um clube de futebol numa cidade do interior sem indústrias, sem a verba de prefeitura, sem uma outra fonte de renda que possa sustentar toda uma estrutura das precisões de um clube, imediatamente ou não. Além disso, a habilidade que deve ter uma administração é fundamental nos destinos de qualquer agremiação.

Quando a direção é séria, tem o dever de ser criativa idealista e inovadora, para que haja êxito no destino dos seus comandados. No meio de tudo isso, conheci dirigentes egoístas que tudo que queria parecia ser apenas serem chamados pela função do cargo que exerciam.  Difícil fazer milagres sozinho, mas se pode fazer parte do milagre. E assim fui me afastando do alto muro mal retratado e nem tive a iniciativa nem a coragem de tirar uma foto da murada altamente maltratada pelas intempéries. Recusei a mim mesmo voltar novamente à Rua Santa Sofia pela parte frontal de estádio, adentrar a arena vazia e passar o rabo de olho na conservação interna. Ah! Se eu que era torcedor do meu querido “Canarinho do Sertão” estava tristonho com as cenas vistas, imaginem estas cenas avistadas por   torcedores fanáticos!

 Bem diz o poeta:  “Tudo passa na vida, tudo passa, mas nem tudo que passa a gente esquece” (tema de cantoria de viola em martelo agalopado).

É... Deixe o tempo passar

SANTANA DO IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS).

 


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quinta-feira, 19 de junho de 2025

 

O SANTO

Clerisvaldo B. Chagas, 20 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.254

 



Ainda não sou devoto de São José, mas um admirador de muito respeito ao pai de Nosso Senhor. Segundo o que sabemos sobre ele, fica evidente no meu peito essa admiração grande. Homem pacato, tranquilo e muito trabalhador, São José exercia a profissão de carpinteiro. Isso também vai nos indicar por outro lado, essa profissão que hoje ainda se encontra em evidência, seja nas capitais, seja no interior. É diferente do marceneiro, pois marceneiro faz e conserta móveis. enquanto o carpinteiro trabalha fazendo muitos outros tipos de objetos de madeira, mas não faz móveis.  E se entramos nesse mérito, ainda podemos apontar o Carapina que trabalha com madeira para ser usada na estrutura de casas. Surgem eles bastante na zona rural, em construção civil.

O certo é carpina, mas existe essa variedade, carapina, vinda do Tupi karapina que era uma espécie de pica-pau. Por causa disso, o profissional que trabalha com madeira usada nas construções de casa, pegou o apelido Tupi de carapina, isto é, pica-pau. Podemos encontrar o carapina, principalmente nas construções da zona rural, fazendo cumeeira, portas, janelas, forras e alisais. Por ele temos o mesmo respeito que temos ao marceneiro e ao carpinteiro. E por mais modesta que seja a casa as marcas do seu trabalho coopera com o conforto e a segurança do novo lar.

Portanto, ao compreender a mansidão, o caráter e a coragem de trabalhar do pai de Jesus, posso simplesmente compará-lo a simplicidade do bairro sob a sua égide. Um bairro onde o trabalho medra na força das pessoas do povo. E São José, pacato, laborioso e bom, continua trazendo para o Sertão, as chuvadas benfazejas desde o seu dia tão aguardado pelos devotos que dependem dos frutos da terra, da companhia permanente dos rebanhos, das imagens misteriosas dos campos. Como se pode desassociar a imagem atrativa do balcão aqui de dentro com as pancadas educadas da chuva lá de fora? E quem se chama José, se envaidece ao se sentir sob a proteção segura, leal e amorosa de um pai bravamente defensor que a história milenar não nega.

A propósito, ontem foi dia do Corpo do seu FILHO, hoje se inicia o inverno, seu INVERNO.

SÃO JOSÉ, DO POSTO DE SAÚDE (FOTO: B. CHAGAS).


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quarta-feira, 18 de junho de 2025

 

IGREJA: NA FORÇA DA GRADE

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.253

 



Após uma entrevista na Casa da Cultura, resolvi estacionar defronte a Igreja Matiz de Senhora Santana, que estava muito bonita ao entardecer e com o sol refletindo em partes metálicas da parede com um céu bonitão ao fundo. Não tive como não me lembrar quando havia vários fotógrafos tipos lambe-lambe que atuavam naquela calçada alta. Eram homens que registravam casamentos, batizados, crismas... Enfim, registravam o andamento da cidade, usos e costumes de uma época. Ao nosso ver, nada tinham de vendilhões do templo. Para mim, eram historiadores registrando a história santanense através do milagre da foto. Mas, por isso ou por aquilo, o padre Delorizano Marques, muito abusado e pernóstico, resolveu expulsar todos os fotógrafos da calçada alta da Igreja Matriz. Aliás, ali também costumava se reunir para palestra entre si, os remanescentes das forças volantes que trucidaram Lampião.

Não conformado com a expulsão daqueles profissionais que alimentava a família do que ali produziam nos dias de feira, resolveu passar uma grade nos degraus da Matriz. Os profissionais, desarvorados desapareceram da calçada da Igreja, da feira e da cidade. A grade colocada pelo padre ainda hoje permanece passados mais de uma década. A calçada sem grade sempre foi corta-caminho dos passantes por ali e nunca se ouviu dizer que a calçada afundasse porque os passantes cortavam caminho. Mas, do meu tempo de criança até os presentes dias houve cerca de três reformas no aspecto do acesso à Matriz.

Igreja construída em 17...  teve sua primeira reforma no ano de 1900 e depois na década de 1940, quando se apresenta no aspecto de hoje. A Igreja Matriz de Senhora Santana, foi erguida no curral do gado do fazendeiro Martinho Rodrigues Gaia e, esse núcleo que já era um arraial, passou a ser as origens da futura cidade de Santana do Ipanema, divinamente acidentada. Quanto às grades que ostenta limitando os seus degraus, o que pensaria disso o seu fundador, padre Francisco Correia de Albuquerque? Entretanto, esses pensamentos tão fugazes, não me impedem de continuar admirando o grande templo de dentro do carro. O trânsito de fim de expediente já começou com sua loucura, principalmente de motoqueiros.  Hora de comprar pão quente.

IGREJA MATRIZ DE SENHORA SANTANA À TARDINHA. (FOTO: B. CHAGAS).

 


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terça-feira, 17 de junho de 2025

 

A SANTA DA SERRA

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano.

Crônica: 3.252



 

Em visita ao Unidade de Saúde do Ba

irro São José, mais uma vez fiquei de boca aberta com a paisagem que se vê dali. É o cenário da parte alta das barreiras do outro lado do rio, onde se localiza o Hospital Regional. Acontece que quando chove, as barreiras do rio ficam muito verdes e parecem com uma floresta tropical. Dali a gente vê muito próxima, a estátua da santa que estão construindo na serra Aguda. A estrutura da estátua, ainda não concluída, parece muito perto de nós e que fica a cerca de quase 20 km de rodeio. Além disso se tem a impressão também que a serra está pegada com a barreira do rio Ipanema. Tudo é ilusão de óptica.  Tirei a foto abaixo para “matar a cobra e mostrar o pau”.

Por enquanto as obras estão paradas, dizem que aguardando verbas. A serra Aguda, geograficamente falando, é uma serra residual, isolada e que fica a cerca de quatro quilômetros por trás do Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo e já na zona rural. Tem a forma de sela e com apuro se vê o seu desgaste no meio, causado pelas enxurradas. Faz parte hoje do Quarteto Turístico: Santuário de Senhora Santana, Represa Isnaldo Bulhões, Igrejinha das Tocaias e Reserva Tocaia. Tudo vizinho.  Estamos aguardando a conclusão também do Anel Viário que ligará a AL-130 com a BR-316 e passará por ali. Além disso, estar se formando um bairro novo entre os seus pés e o hospital e que deverá tomar impulso com o asfalto.

Mas, voltando as barreiras – só existem barreiras no trecho do rio que vai do bairro Barragem ao final do Bairro Paulo Ferreira – As cores da vegetação são amostras do que acontece com as chuvas ou sem elas, conforme a estação, no município. Nesse momento estão tão verdes que vistas de longe parecem uma floresta tropical como já foi dito. Então, o restante do município deve estar do mesmo jeito, graças às últimas chuvas que serenaram por aqui. Antes que as barreiras fiquem ralas de novo, sem as chuvas, querendo, aproveite para filmar como se estivesse na selva amazônica. Enquanto isso, são muitas as máquinas fotográficas dirigidas rumo a pré-estátua da santa da serra Aguda.

ESTÁTUA DA SERRA À CERCA DE 6 Km. VEJA A COR DAS BARREIRAS (FOTO: B. CHAGAS).

 


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segunda-feira, 16 de junho de 2025


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AS IGREJAS

Clerisvaldo B, Chagas 17 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.251

 



Em nosso livro “O Boi a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema”, temos páginas dedicadas a todas as igrejas da cidade, com o título de “IGREJAS E IGREJINHAS.   E são citadas as construídas ou reformadas pela paróquia ou erguidas por particulares, distribuídas no Centro e nos bairros de Santana. Quando as igrejas são relativamente grandes, são chamadas Igrejas, quando são menores, são denominadas pelo povo de igrejinhas. Em resumo, ou é igreja ou igrejinha, na avaliação instantânea do sertanejo. Estão entre elas, a Matriz de Senhora Santana, a Matriz de São Cristóvão, a da Sagrada Família, a de São Pedro, de São José, de São Sebastião, de N.S. Guadalupe, de Santo Antônio, de seu Carrito, de seu Euclides, de Zé Rosa, de São João, de Santa Terezinha a de padre Cícero, e assim por diante.

Achei, entretanto, que tem muita igreja para poucos padres, fazendo com que as igrejas com menos evidência fiquem ociosas e mesmo abandonadas, inclusive, encontrei uma que servia de depósito. Raramente ou nunca se chama uma igrejinha de ermida, capela, templo ou coisa parecida, por aqui. É como disse no início: É igreja ou igrejinha. Entretanto, ociosa ou não, ao entrarmos em qualquer uma delas sentimos uma atmosfera divina, muita ou pouca, mas sentimos. Queremos dizer ainda, que após a publicação do livro falado no início, ainda foi inaugurada uma igreja no Bairro Clima Bom, e que há muito havia sido iniciada e estava esquecida só com as paredes. De qualquer maneira a fonte de pesquisa ficou aberta para outros.

Nos tempos de movimentações do Centro Bíblico, era expansão da religião católica e verdadeiras festas de tanta gente. Com a morte dos seus líderes, o senhor José Vieira e o senhor José Nogueira, o movimento foi minguando, perdeu o rumo e nunca mais se ouviu falar. Até mesmo o Retiro de Carnaval desapareceu. Então, vem a pergunta: Para que tanta igreja sem assistência nenhuma? Caso fôssemos registrar as igrejas e igrejinhas do município, seria outro tanto de páginas que precisaríamos. Visitei duas delas, uma mais arrumada de que a outra, em propriedades particulares. O campo é vasto, quem entrar por aí poderá registrar mil coisas incríveis.

IGREJA DA SAGRADA FAMÍLIA, BAIRRO DO MONUMENTO, SOBRE PARTE DO PRIMEIRO CEMITÉRIO DE SANTANA. (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

 


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domingo, 15 de junho de 2025

 

CLADIO CANELÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertã Alagoano

Crônica: 3250

 



Ninguém teve o direito de escrever tanto sob a Rua Antônio Tavares quanto este escritor. São crônicas e mais crônicas a perder de vista, sobre a primeira rua da cidade, após o Centro Comercial. São inúmeros os personagens de infância citado em crônicas soltas e livros publicados. São fontes riquíssimas de pesquisas sobre a primeira rua da cidade. E entre tantos e tantos personagens comuns e simples da época, destacava-se no primeiro trecho da rua, logo após a primeira travessa, o sapateiro Claudio Canelão, cujo pai também era sapateiro. Claudio crescera muito, devia ter mais de 18 anos e possuía bigodinho. Ajudava o pai na arte, mas tinha uma alma de criança e gostava de jogar ximbra na rua com os adolescentes.

Ninguém conseguia ganhar de Claudio Canelão. Tinha palmo grande e já apontava perto da ximbra. Nem o Nicó, filho de seu José Leite, que também era bom de ximbra e tremia as mãos ao jogar, conseguia superar o sapateiro. Mas Claudio era educado e gente boa. Lembro-me que no grupo escolar murado do Padre Francisco Correia, ele corria sobre os balaústres numa demonstração rara de habilidade. Nome correto não dar para lembrar, até porque, apelido pegou, substitui definitivamente o nome. E se você encontrava o sapateiro na guerra das ruas, era com o bolso cheio de ximbras coloridas todas ganhas dos seus adversários. Havia na rua sem calçamento, gangorra, pinhão, carro de puxar, carro de ladeira, pedra na pedra em apostas de notas de cigarro, brincadeiras de artistas, pega, chicote queimado, esconder, mas a ximbra predominava ao longo de toda rua e do Bairro São Pedro.

O que faz um homem feito, já sapateiro profissional, ir jogar ximbra com os adolescentes no meio da rua? E o jogo de ximbra continuava na via empoeirada e nem mesmo as incursões do juiz de direito, Aloísio Firmo, montado numa burra e o soldado Genésio, a pé, procurando tomar bolas e ximbras, não surtiram o efeito desejado. As modificações de tantos brinquedos só foi acontecer na Rua Antônio Tavares, após a primeira etapa de calçamento na gestão Jaime Chagas. Depois, a continuação do calçamento se não me engano, com o prefeito Henaldo Bulhões.

Onde andará Claudio Canelão

                    (FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO. RUA ANTÕNIO TAVARES, SENDO PLANEADA PARA CALÇAMENTO EM 1970.)


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quinta-feira, 12 de junho de 2025

 

PAPAGAIO

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.249

 



Era uma casa de taipa, isolada, bem no sopé do serrote do Pelado. A estrada iniciava ali na periferia, Bairro São Vicente e levava seu usuário para o povoado São Félix e região. Era na cumeeira, diante da porta da frente que havia um rude cata-vento de madeira e ao lado da metade da porta, um poleiro também de madeira, com um papagaio a tomar sol, acorrentado pela perna. Essa paisagem simpática, modesta e atípica, sempre me chamava atenção e me deixava pensativo, quando por ali passava em direção à serra do Gugi, quase todos os domingos. Uma jornada de 2 léguas (12 km) a pé, para comer galinha na casa de Jonas, no pé da serra do Gugi, beber caldo-de-cana e chupar manga Gobom no pé, no alto da serra no sítio do senhor Olavo e dona Neném. Eu, e os saudosos amigos Mileno Carvalho e Francisco Assis. 

Toda a região, nos últimos anos foi modificada. O casario do Bairro São Vicente, se expandiu pelo sopé do serrote do Pelado e emendou com diversas construções do bairro vizinho, Lagoa do Junco. Agora tem hotel de luxo, condomínios de alto nível, conjuntos diversos, mercadinhos e inúmeras prestadoras de serviços. A nova paisagem urbana ocupa ladeiras, grotas, planos com asfalto e planejamento. A vizinha Lagoa do Junco tornou-se um Complexo de Justiça, muitas prestações de serviços, faculdade, escola modelo, CISP e a transformação quase completa dos dois barros pegados, em uma nova cidade. Nada mais de casa de taipa, cata-vento e papagaio.

Já faz muito tempo que me dirigi à serra do Gugi, ponto culminante de Santana do Ipanema, mas deixei registrado uma cena fictícia do meu romance DEUSES DE MANDACARU, lá no sítio de Olavo. Continuo admirando aquele monte situado na região do povoado São Félix. Foi decantado por dois escritores, Oscar Silva e Clerisvaldo B. Chagas. E para não ficar somente em nós, é por ali que o simpático riacho Gravatá vem lamber-lhe os pés. E a região do serrote do Pelado e adjacências vão focando noutra Santana do Ipanema, inclusive ornamentando a entrada da cidade, para quem chega da capital. A Lagoa do Junco, mesmo já está se estruturando para ser o futuro local da feira semanal de Santana que sairá do Cento da cidade. Ê... Meu papagaio...

UNEAL NA LAGOA DO JUNCO, EM 2013 (FOTO: B.CHAGAS/LIVRO 230).

 


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quarta-feira, 11 de junho de 2025

 

BAMBÁ

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.248


 

Nome muito utilizado no rio Ipanema, imediações e por onde se vendia peixes. Enquanto a pobreza chiava no campo e na cidade dentro dos lares ou nas andanças das ruas, o rio temporário do Sertão nunca abandonara a sua generosidade, ou durante as cheias ou na sequidão com os diversos poços que restavam da fartura, inúmeras famílias conseguiam criar os meninos com a pesca miúda oferecida. No rio Ipanema, um peixe de três quilos já era considerado grande, enorme, bem-criado. E todos nós que amávamos o rio sabíamos os nomes doshabitantes das águas: Bambá, Traíra e Mandim, os maiores. Piaba, carito ou chupa-pedra, os menores. A bambá, no rio São Francisco era chamada Xira e decantada em prosa e verso. O carito era o mais vil. E, praticamente somente uma família muito pobre da Rua São Pedro, pescava carito. A família Rei.

Ninguém conhecia por ali outro tipo de peixe produzido no trecho citadino. Certo dia, porém, surgiu no Poço dos Homens o advogado Aderval Tenório, que também era farrista, mas que nunca aparecia no Poço dos Homens e que daquela vez apareceu ostentando um Pitú dos grandes. Dizia haver comprado no poço do Escondidinho, coisa que ninguém jamais pensara que existisse. Na certa subira do rio São Francisco e fizera essa surpresa em Santana do Ipanema. Surpresa mesmo! Grande novidade na pesca local. Este sim, era para a farra propriamente dita, todos os peixes maiores ou menores, era, na maioria, para matar a fome e no mínimo complementar o almoço sertanejo. Os lugares de pesca, principais eram a barragem, no bairro do mesmo nome; o poço do Juá, no trecho do Comércio; o poço dos Homens, abaixo e quase ligado ao de cima; e o poço do Escondidinho, muito abaixo no Bairro Bebedouro.

Entretanto o pessoal batia constantemente por todos os outros  poços menores que ficavam das cheias. A pesca era na base da tarrafa, do anzol, do jequi, da rede e do litro, para as piabas.

Era o Panema romântico e caridoso

CHEIA NO PANEMA (FOTO DE ÂNGELO RODRIGUES).

 

 


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terça-feira, 10 de junho de 2025

 

CACHAÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de junho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3,247


 


O irmão do padre Bulhões, Pedro Bulhões, era dono de cartório, mas o outro irmão, Antônio Bulhões, era proprietário de fabriqueta de cachaça, em pleno comércio de Santana do Ipanema. Ficava muito perto da esquina que desaguava para a Avenida Barão do Rio Branco, entre a farmácia Confiança do senhor Hermínio Tenório (Moreninho) e a alfaiataria do senhor Walter Alcântara.  Mas, havia também uma fábrica de cachaça na esquina da primeira travessa da Rua Antônio Tavares, pertencente ao senhor Manoel Lopes. Á margem do Rio Ipanema, bem perto da Ponte Padre Bulhões, havia uma outra fábrica de cachaça. Esta pertencia à família Lemos, porém, não temos certeza se era a mesma em que o Sinval o rapaz recitadorl tomava conta.

A produção dessa mercadoria era transportada em lombo de jumento: tanto surgia em ancoretas para longas viagens, quanto nas garrafas em caçuás. Não temos lembrança de outra bebida alcoólica fabricada na cidade. Estamos querendo dizer que havia muitas fábricas dos mais diferentes artigos em Santana do Ipanema e que tudo acabou, não existindo uma só fábrica de nada. Havia três fabricas de calçados, de vinagre, de corda, oito de sola, de carne-de-sol, de doces, de fubá, de tempero, de colchas, de mosaicos, chapas de fogões (fundição) de selas, de arreios, de colchões. Tudo que havia foi extinto, inexplicavelmente e a cidade passou a importar tudo o que antes produzia. Deixou de ser uma cidade industrial para comercial. Hoje somos uma cidade comercial.

Quanto ao consumo de bebidas alcoólicas, não notamos nenhuma diferença da metade do século passado para hoje. O que varia são as marcas de cachaça que aparecem, geralmente importadas de Pernambuco. Algumas delas são mais sofisticadas, mas outras ainda são chamadas de “rinchonas”, o que vem a ser cachaça ruim cachaça fuleira, cachaça peba, cachaça que não vale nada. E se não há mais indústria, não há mais empregos melhores e a juventude vai montar no seu futuro, apenas atrás de um balcão de loja qualquer.

Nem uma cachaça de Santana você consegue hoje tomar.

Fazer o quê?


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