quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

 

SÃO BENEDITO

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de março de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.019

 



Nunca faltou tinta no mundo, mas a Igreja de São Benedito, em Maceió, sempre foi escura e nem sabemos por que. Situada ali no Comércio, defronte a, então, Secretaria de Educação, imediações da Praça Deodoro, sempre teve aquele aspecto de esquecida e discreta. Ali passei inúmeras vezes nas minhas andanças pela capital. Foi onde faleceu o ex-dirigente de Santana do Ipanema, ainda no tempo de vila, padre Capitulino, filho de Piaçabuçu, pároco de Santana, depois dirigente, substituto interino do governador Fernandes Lima, por alguns meses. Na época da vila quem mandava era a família Gonzaga, quando a irmã do padre casou com um deles. Padre Capitulino, terminou substituindo os Gonzaga, na política e fazia as duas funções em Santana do Ipanema.

Dividido pela opinião pública por ser um padre politiqueiro, estava quase sempre ausente do município. Foi ele que no ano de 1900, realizou a primeira reforma da Igreja de Senhora Santana. Com o governador afastado por problemas de saúde, Capitulino assumiu o cargo e que aproveitou para elevar à condição de cidade, a vila de Santana do Ipanema. Depois se dedicou somente à carreira sacerdotal e veio a falecer na igreja de São Benedito. Fora um ataque fulminante de coração, quando se preparava para celebrar a missa. Sua visita à Santana do Ipanema, como governador, é registrada no livro de cônicas do brilhante escritor santanense, Oscar Silva, “Fruta de Palma”.

Mas voltando a igreja de São Benedito e que tem sua marca na história santanense. Quando as igrejas pararam de receber defuntos, somente foi permitido receber cadáveres naquele templo. E na observação do início, sempre nos deparamos com aquela igreja escura por fora e por dentro, apesar da sua localização privilegiada na capital.  Acho que chegamos a um ponto em que havia muitas igrejas, poucos padres e verbas escassas, problemas esses que também notamos em nossa região. Porém, a Igreja de São Benedito, ali nas proximidades da Praça Deodoro, continua resistindo. E apesar de ser uma igreja discreta, somente notada por que já a conhece, é aberta a todos os devotos do santo e a todos aqueles que dela sempre precisaram para suas orações diárias ou visitas esporádicas de robustecimento da fé.

IGREJA DE SÃO BENEDITO EM MACEIÓ (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 

 

 

 


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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

EU VI O POÇO

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.019

 


Fui ao Bairro Domingos Acácio – o herói da Guerra do Paraguai – e fiz questão de dá uma espiadinha no antigo Poço dos Homens. Poço do rio Ipanema, imortalizado pelos meus escritos, especialmente no livro RG de Santana “Ipanema, Um Rio Macho”. A ponte General Batista Tubino, construída em 1969, foi o golpe final no poço da minha infância e dos meus antepassados. Todos os jovens e adultos da minha terra tomaram banho do Poço dos Homens, inclusive, até o, então, futuro governador Geraldo Bulhões. Poço dos Homens foi a página mais saudosa que escrevi na vida e que está registrada no livro acima. Mas quando espiei de cima da ponte, por estes dias, vi o mato aquático por cima do aterramento natural e do abandono. Doeu fundo ao vê a maior fonte de lazer de outrora da minha terra naquela ridícula e humilhante situação. Nem sequer, por cima das suas pedras grandes e lisas, um monumento de ferro ao banhista, como daqueles que o artesão Roninho Ribeiro sabe fazer.

Vem à memória o comerciante Júlio Silva e seu dente de ouro, o único homem que vi tomando banho de sabonete no Poço; Seu Alberto Agra, dando lição ao negro Zé Lima dizendo que o nome do que ele estava imitando na água não era microscópio e sim, periscópio; a adolescente Nicinha, nadando igual à piaba e seu irmão Gorila, dando sucessivas sapatadas na superfície, sem mostrar o rosto imerso. Os maldosos passando “tamiarana” nas costas dos companheiros. Toinho Baterista, pescando mandim; O alfaiate Seu Quinca, sem dá sorte de pesca para ninguém; As andorinhas revoando e molhando o peito nas águas, e indo à pousada na torre da Igreja; e o maior cantor da minha terra Cícero de Mariquinha mexendo na alma da gente cantando em dia frio e nublado, músicas de Cauby Peixoto:

Deu para entender agora o que senti ao olhar da Ponte General Batista Tubino, o poço sepultado a cerca de 20 metros da ponte, rio abaixo? Não tiveram piedade em deixarem pelo menos uma cruz, onde jaz o Poço dos Homens, isto é, um monumento, por mais simples que fosse! Acho que irei fazer uma campanha para tal fim, mas nem sei por onde e nem com quem contar.

POÇO DOS HOMENS NO PRIMEIRO PLANO. IMAGEM VISTA DA PONTE GENERAL BATISTA TUBINO (FOTO: B. CHAGAS).

 

 




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segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

 

PRIMEIRA E SEGUNDA

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.017

 



Bons tempos quando a marca do café alagoano estava no auge. Ao passarmos pela Praça Deodoro, o aroma intenso saía da torrefação do Café Afa, bem ali, na esquina do teatro, do outro lado da rua. E nós, estudantes, ficávamos inebriados e os comentários choviam sobre àquela indústria tão famosa e aceita plenamente em todos os extremos de Alagoas. É certo, porém, que a Praça Deodoro, passou por várias reformas nas sucessivas marchas dos prefeitos. Uns aceitavam as reformas como mais belas, outros preferiam o modelo mais antigo. O Teatro com o mesmo nome da praça, também passava por altos e baixos. E a sorveteria Gut-Gut, tão famosa em Maceió quanto café, teatro e praça, já ameaçava cerrar às portas.

E assim nós pegamos essa fase de ouro do comércio da capital, quando as quatro referências acima, reinavam absolutas no auge da fama maceioense. Em Santana do Ipanema, perguntávamos ao dono do Café do Maneca, como ele fazia para preparar um café tão gostoso... Pouco importava se era um “café pequeno, meio café, ou café grande”, conforme classificava a clientela. Maneca dizia apenas: “Misturo o Café Afa de segunda com o café de primeira”. Mas ainda tinha o segredo da quantidade, da fervura... Que o nosso bom amigo não revelava. Em Maceió, o teatro resistiu, a praça resistiu, mas a Gut-Gut com o melhor picolé do paísl, fechou. E assim o famigerado Café Afa também deu adeus ao povo do meu estado. A saudade bate quando novamente circulamos por ali, quando lembramos também da mulher vendendo Tainha e que somente gritava “inha”, ô inha! E os estudantes, das janelas dos edifícios respondiam: Ôi, ôi!

E ainda vimos, homens de branco, elegantes e de sapatos espelhosos, no capricho dos engraxates da praça. Ali à frente paravam os ônibus, momentos de observações dos conquistadores, às senhoritas que desciam no rigor da moda para o passeio habitual pelo Comércio. Ah! Pouco importava a imponente estátua de bronze do Marechal Deodoro da Fonseca. Cheiro de perfume, aroma de café, gosto de sorvete... Movimentavam a praça chique da capital.

 

Alerta contra trombadinhas....

“Ô Maceió! É três mulé pra um homem só!”

PRAÇA DEODORO (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 


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domingo, 18 de fevereiro de 2024

 

ÁGUA DE COCO

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.016

 



Sempre achei aquele trabalho empolgante. Trabalhar no IBGE, eram duas bênçãos ao mesmo tempo. Lidar com Geografia e salário firme. E como se fala muito ultimamente em São Sebastião, sempre estou a recordar uma viagem de pesquisa até ali com o meu chefe, então, José Pinto Araújo, no seu fusca azul. Cito essa recordação porque fiquei impressionado com aquelas terras férteis e bonitas da região.  E foi ali nas belas grotas da zona rural onde pela primeira e única vez, flagrei uma cobra jiboia descansando após engolir um caprino. Somente as pontas do animal doméstico se mostravam no lado externo da boca do ofídio. Para mim foi mesmo uma surpresa nas terras agrestinas daquele município. Uma bica permanente às margens da rodovia São Sebastião – Penedo, também foi novidade para este matuto de Santana do Ipanema.

Mas o que mais me impressionou mesmo foi o sítio, bem perto da cidade, o nosso destino. Ali, o contato nos esperava numa bela chácara de pomar exuberante, onde a água de coco era mais doce e mais abundante. Senti-me dentro de um paraíso que nos fez esquecer a missão “ibegiana”, por algumas horas. Por isso que sempre preguei em sala de aula: “primeiro conhecer o seu estado e só depois o restante do Brasil e do mundo”. Pois, a boa impressão que a cidade do Santo Mártir me deixou, eu a carreguei durante a minha vida até o presente momento. A propósito, São Sebastião possui em torno de 34.000 habitantes, está localizada a 200 metros de altitude e tem com Economia, mandioca, milho, fumo, amendoim, feijão, banana e laranja, mas também puxa um pouco para a pecuária e o artesanato de renda de bilro.

Sua padroeira é Nossa Senhora da Penha e sua Emancipação política se deu em 31 de maio de 1960. Antes, o lugar tinha o apelido de Salomé, porque um cidadão, isoladamente, vendia para quem passava, sal e mel. São Sebastião faz parte da grande região metropolitana de Arapiraca, é saída estratégica para a região do São Francisco, como Porto Real de Colégio, Igreja Nova, Penedo e, Piaçabuçu, Porém, acreditamos no ditado que diz: “Conhecer de perto, para contar de certo”. Pois faça essa visita e depois nos conte como foi, “cabra véi”. E a senhora não quer comprar renda!? Alagoas é massa!

IGREJA EM SÃO SEBASTIÃO (FOTO DEVULGAÇÃO)

 

 

 


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quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

 

O CALANGO E O DOCE

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.015




 

          Criativas e sem sentidos eram muitas as modinhas inventadas no mundo rural do Sertão:

 

“Calango matou um boi

Retaiou botou na teia

Lagartixa foi bulir

Calango largou-lhe a peia

Lagartixa foi dar parte

Calango foi pra cadeia.

 

Quando a moça ia casar-se vinha do sítio rural para a igreja, na cidade. Além da comitiva a cavalo, vinha por último um cidadão escanchado numa égua conduzindo o baú de roupas da noiva. Era chamado de “calango”. Ao passar o calango pela praça defronte à igreja, era alvo de engraxates e desocupados que gritavam: Calango! Calango! E calango respondia às investidas, erguendo o braço e estalando bananas e mais bananas para a turba. (Fonte: Alberto Nepomuceno Agra).

Quando a comitiva retornava à casa da noiva, havia muito exibimento dos cavaleiros com seus animais baixeiros em corridas pelas estradas poeirentas. Ao chegar perto da casa da noiva, os mais afoitos corriam à frente, pegavam doce de coco na casa da noiva e traziam para ela ainda no caminho. A noiva e o noivo, felizes da vida, comiam o doce ali mesmo, cavalgando e metendo os dedos cheio de poeira nas taças abarrotadas. Era uma tradição. (Fonte: Escritor Oscar Silva).

 A pressa dos cavaleiros que iam buscar o doce, esquecia das colheres. Mesmo sem colher, o doce era doce. A figura do calango desapareceu, mas o doce de coco ainda é encontrado aqui ou ali sem a frequência do passado. Gostoso é. O “enjoativo” fica por conta de quem quer almoçar doce. E assim, os registros vão sendo feitos em livros esporádicos e ganham vida na boca dos mais velhos. Que bom, ouvir as narrativas da vovó, do vovô... E o Sertão velho de meu Deus, vai moendo, nos mitos, nas lendas, nas verdades, enriquecendo conhecimentos orais e literaturas curiosas que graças a elas seguramos a lupa preciosa de quem quer aprender. Envelheça, se puder e, conte seu mudo aos que virão.

 

 

 


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quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

 

O QUANTO PODE UMA TROVOADA

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.014



 

A última chuvada em Santana do Ipanema, na tardinha do domingo passado, foi rápida, muito forte, acompanhada de ventos, relâmpagos e trovões. Na verdade, uma bela trovoada de natureza mansa. Apenas muitos benefícios para este Sertão encantado, de meu Deus. Diz o homem rural: enche a palma, revigora o pasto, nivela barreiros e açudes, reverdece o mundo, traz fartura para o campo e dinheiro para o bolso. Mesmo assim, o tempo de verão vai se disfarçando de outono quase todos os dias, quando o sertanejo diz olhando para os céus manchados de cinzas fechadas: “tá bonito pra chover”. Diferente do cinza que engana: “não é nada, é só carregação”.

Nos cercados, corre o cavalo saudando o tempo, escaramuça a novilha, o boi cava o chão, o mandacaru, o alastrado, o xiquexique escurecem o verde e botam flor. As montanhas largam o marrom e se veste de bandeira nacional. A favela estica o galho de espinhos esbranquiçados, o teiú estira-se no lajeiro e vai à caça de serpentes. Centenas e centenas de sapinhos deixam os rios secos e formam exércitos a percorrerem a periferia, Nos ares, gaviões, carcarás, sacodem as penas, procuram as folhagens, espreitam animais ariscos. Batido na cancela, passa a morena faceira, o vaqueiro assoviador, o dono gordo da fazenda.

É novembro, dezembro, janeiro, fevereiro... Caatinga fechando, alegria na terra, fluir de vaquejadas, pega-de-boi no-mato. Prova de macheza exposta, famas de bois ligeiros, cavalos encouraçados, gibões anônimos nas quebradas silenciosas. Ouça o hino da seriema, da fogo-pagou, da juriti... É a hora do café encorpado, do cuscuz fumegante, do queijo da hora, dos afagos macios da cabocla com perfume de mato.

Como posso deixar

O meu Sertão

Pra morrer no concreto da cidade?

MOMENTO DO TEMPO NO SERTÃO (Foto: B. Chagas)

 

 


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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

 

O BOI VAI BERRAR

Clerisvaldo B. Chagas, 13 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.013



 

Finalmente, após 18 anos ano de nascido, O Boi vai berrar em Maceió, na Jatiúca, precisamente na “Estaiada Choperia e Drinkeria” no dia 13 de março. Mas vai também berrar em  Santana do Ipanema no dia 20 de março no “Restaurante Santo Sushi”, no Bairro Domingos Acácio. Na verdade, trata-se do lançamento do livro O BOI, A BOTA E A BATINA, HISTÓRIA COMPLETA DE SANTANA DO IPANEMA, tão ansiosamente esperado no Sertão inteiro de Alagoas. Pix e convites para o grupo das 100 pessoas, virão após o dia vinte de fevereiro, oficialmente. Os que não fazem parte do grupo dos 100, poderão também receberem convites no papel. Daremos um jeito para que ninguém fique sem adquirir, o maior documentário sobre Santana do Ipanema, jamais produzido na terra.

O livro ainda se encontra na gráfica editora, moendo até ser entregue ainda este mês. O grupo dos 100 irá adquirir o livro nos locais de lançamento, já devidamente autografados. Os que não fazem parte do grupo também poderão adquirir o seu exemplar logo após os do grupo e, autografados na hora. São 436 páginas contando toda a história desde os primeiros habitantes da Ribeira do Panema até, rigorosamente em ordem cronológica, chegar ao ano de 2006. Sesmarias, formações rurais, expedições, Brasil Colônia, Brasil Vice-Reino, Brasil Império e a Ribeira do Panema passando por todas essas fases, até o início do Século XXI. Essa história completa de Santana não é a história das elites governistas, mas sim uma história que congrega e descreve todas as camadas sociais. Um livro profundo, complexo, mas de escrita simples e cristalina onde o leitor poderá alimentar a sua alma com as 436 páginas informativas, acolhedoras e amigas.

A capa do livro, amarela e cinza, representa no mesmo plano o Museu Darras Noya, a Igreja Matriz da cidade e o céu santanense, no primeiro plano. No segundo, a silhueta da Ponte da Barragem, o coronel Lucena e o padre Bulhões. Ainda a figura do boi e a representatividade nordestina do chapéu de couro. Tudo em montagem do autor e modificado em arte pelo PC. Abaixo, estamos exibindo a capa do livro, ainda incompleta, como aperitivo. Portanto, estamos aguardando a sua presença ou no dia 13 ou no dia 20 de março, em Maceió ou Santanna do Ipanema, onde um cantor da terra abrilhantará o evento do povo.

BÁSICO DA CAPA DO LIVRO O BOI, A BOTA E A BATINA...

 


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FALANDO EM CANGACEIRO

Clerisvaldo B. Chagas, 12 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.011



 

O Josias Mole, morador na serra da Remetedeira, em Santana do Ipanema, vingou a humilhação do pai, matando seu desafeto, comeu cadeia por duas vezes, além de levar uma sova da polícia. Procurou Lampião, ingressou no bando e recebeu o vulgo de Gato Bravo. Tempos depois, fugiu do cangaço e foi preso como barbeiro nas imediações de Arapiraca. Seu nome foi registrado por um cordelista quando esteve em Juazeiro com Lampião. Porém, além de Gato Bravo, Santana do Ipanema teve outro cangaceiro que assim como o Gato também fugira do cangaço após seis meses no bando.

Filemon e dona Júlia era um casal moreno.  Ela, desbocada e vendedora de comida nas feiras de sábado, assim como sarapatel.  Muita conversadeira em voz alta. Filemon, moreno alto, magro e muito calado, só falava quando era preciso. Sempre era contratado pela sociedade, para fazer feijoadas nas festas, bem como matar e preparar cágados (jabutis) para os boêmios da cidade. Era incomparável cozinheiro nas iguarias acima e muito procurado para o mister. O casal era cliente da loja de tecidos de meu pai, onde ouvi sua narrativa resumida como ex-cangaceiro. Trabalhava na vila Mariana, em Pernambuco, quando por ali passou Lampião e seu bando, convido-o para suas hostes e ele aceitou na hora. Acompanhou o bando. Não falou o vulgo que recebeu e se falou não lembro. Disse que passara seis meses no cangaço e, sentindo que aquilo não era vida para ele, fugiu do bando do qual ninguém podia deixar. Estava presente no sequestro de um coronel de Águas Belas e explicou direitinho porque Lampião não o matou. Bate com alguns escritores que falam do assunto.

Na época em que nem pensava em pesquisar o cangaço, inclusive, havia muitas fontes de soldados volantes que mataram Virgulino, todos os dias em reuniões de amigos na porta da igreja principal de Santana; e ainda um dos ordenanças do coronel Lucena, o soldado reformado como sargento Idelfonso, vulgo Fon-Fon.  Esse era alto, magro e branco, puxava por uma perna e ainda usava cartucheira com revólver e lenço vermelho no pescoço. Orgulhava-se tremendamente em ter sido da “confiança de Lucena Maranhão”.  Sobre Gato Bravo, sua vida civil foi descrita pelos escritores Oscar Silva e Valdemar Souza Lima. Sobre Filemon foram registradas poucas linhas por mim, semelhantes a estas. Fora avô do presente funcionário público, lotado no Colégio Estadual Mileno Ferreira da Silva, Carlão, que também fora líder sindical.


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terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

 

PONTE – PONTE

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.011

 



Assim como o prefeito Firmino Falcão Filho, deixou seu nome bem alto em Santana do Ipanema, ao construir a ponte Cônego Bulhões sobre a foz do riacho Camoxinga, estamos precisando de novo pensador. A redenção da cidade foi sem dúvida a construção da Ponte General Batista Tubino sobre o rio Ipanema, na região do comércio, o que elevou o nome do prefeito que conseguiu a façanha com o, então, interventor estadual. Porém, a cidade se expandiu, o trânsito ficou caótico e a nova Santana do Século XXI, necessita de pelo menos duas grandes pontes para aliviar a mobilidade urbana. Uma ligando o Bairro São Jose, na Avenida Castelo Branco, ao Bairro Floresta, ao lugar Cajarana onde se encontram o Campus da UFAL e o Hospital Regional Clodolfo Rodrigues de Melo. Um atalho de uma volta de cerca de quatro ou cinco quilômetros que se tornaria trecho de apenas 800 metros.

Por outro lado, é gritante a falta de outra ponte sobre o rio Ipanema no trecho do antigo Minuíno, rodagem velha para Olho d’Água das Flores, da Rua São Paulo com o Conjunto Eduardo Rita, famoso e tradicional trajeto das olarias. Essa realidade continua desafiando prefeitos e mais prefeitos, aguardando o dirigente premiado que um dia realizará as obras citadas, talvez em 2069, como a cidade pode crescer sem estrutura básica de mobilização?

Não estamos mais na era do carro de boi, onde tudo era devagar com os mesmos prédios, com as mesmas ruas, com os mesmos pensamentos... Estamos virando a Índia, em matéria de trânsito urbano. Projetos arrojados e vitais iriam solucionar coisas do momento e que se renovarão quando chegar o novo caos.

O fluxo viário do Oeste santanense, isto é, todo o trânsito oriundo

do Alto Sertão, em busca do hospital, poderia evitar o centro da cidade, seguindo diretamente pelo Bairro São José – Alto da Cajarana, retornando pela mesma via sem causar nenhum constrangimento no gargalo da Ponte General Batista Tubino. Não foi à toa que a Ponte Cônego Bulhões (1948-50), fez do fraco Bairro Camoxinga, uma poderosa “cidade”; que a Ponte General Batista Tubino (1969) permitiu uma nova Santana, na margem direita do rio Ipanema, antes, completamente desabitada. Passagem molhada é apenas um par de muletas; Ponte, representa duas pernas sadias para longas caminhadas.

AVENIDA CASTELO BRANCO NO BAIRRO SÃO JOSÉ, DISPONÍVEL PARA UMA PONTE ATÉ O HOSPITAL (FOTO: B. CHAGAS)

 


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segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

 

FREI DAMIÃO, PRESENTE

Clerisvaldo B. Chagas, 6 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.009

 



Após a passagem do primeiro santo do Nordeste, padre Cícero Romão Batista, em 1930, a nação nordestina apegou-se ao segundo santo, Frei Damião, de Bozzano. Mas a dor veio do mesmo jeito em 1997, quando da passagem do Frei.

O Nordeste aguardava, mas não resistiu a dor do falecimento de Frei Damião de Bozzano. O Santo do Nordeste vinha doente, passando quase um mês internado no Hospital Português, do Recife, por grave problema de insuficiência respiratória. O Frei italiano nascera em 5.11.1898, em Bozzano e falecera aos 99 anos de idade, em 31.05.1997.

Com a morte de Frei Damião, o presidente da república, então, Fernando Collor de Mélo, decretou luto oficial por três dias. O féretro ficou à visitação pública, durante também três dias na Basílica de Nossa Senhora da Penha dos Frades Capuchinhos, em Recife.

O sepultamento ocorreu na capela dedicada à Nossa Senhora das Graças, no Bairro do Pina, na capital pernambucana.

Santana do Ipanema chorou a morte de Frei Damião e o homenageia com uma modesta pracinha que leva seu nome e sua imagem de corpo inteiro em redoma de vidro. O local fica na confluência das Ruas Manoel Medeiros de Aquino, Delmiro Gouveia e Maria Gaia no Bairro Camoxinga. Ultimamente não existe mais a redoma de vidro e a imagem está em pedestal mais baixo do que o original, ao alcance de todos.

Informações compiladas com alterações do livro O BOI, A BOTA E A BATINA; HISTÓRIA COMPLETA DE SANTANA DO IPANEMA que será lançado no próximo mês de março em Maceió e em Santana.

Mesmo invisíveis aos encarnados, os dois santos nordestinos não deixam de trabalhar pelos que apelam para suas intervenções sobre os males terrenos.

Em Canafístula Frei Damião, as romarias parecem sem fim, bem como as romarias à Pedra do Padre Cícero, na cidade sertaneja de Dois Riachos.  E no Juazeiro do Norte, nem se fala, de multidões e multidões que chegam à cidade vindas de todas as partes de País.

A região de Alagoas é que, por certo, envia mais devotos aos principais eventos anuais ao Cariri.

 

Frei Damião continua servindo, padre Cícero nunca parou de servir.

IMAGEM DE FREI DAMIÃO (FOTO: MARLENE COSTA/LIVRO O BOI, A BOTA E A BATINA...)

 


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domingo, 4 de fevereiro de 2024

 

OS CARNAVAIS DOS ANOS 60

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.009



No sábado saía o Zé Pereira. E nos três dias seguintes, o procedimento era praticamente igual. Pela manhã, desfilavam blocos nas ruas e avenidas. Uns mais famosos, outros não. Esses blocos compostos de somente homens, somente mulheres e raramente mistos seguiam nas ruas até aproximadamente uma hora da tarde. Entravam na casa de políticos e de outras pessoas influentes onde bebiam e comiam. Sempre puxados por um pequeno grupo musical com sanfona, violão, pandeiro e coisas assim. À tarde, lá para as quatro horas, havia frevo no comércio com pessoas da mesma orquestra que tocariam à noite no clube. Nesse frevo pulavam adolescentes, adultos e até crianças e tinha uma duração aproximada de duas horas. Enquanto isso, outras pessoas faziam o corso, isto é, passeavam em jipes e outros carros pelas ruas. Havia frevo à tarde também no Tênis Clube Santanense.

À noite, Carnaval era no Tênis Clube Santanense e na Sede dos Artistas.

O bloco tradicional e o mais aguardado era o do Urso Preto, porém, outros blocos também atraiam foliões como o dos Cangaceiros, fundado pelo saudoso Luís Fumeiro. Os caretas andavam em bando, arrulhando, estalando relho com ponteira, dando carreira em menino. Ainda alcançamos blocos antigos da era de vinte que se perpetuavam como “As Negras da Costa”.  Homens pintados de preto de carvão, vestidos de baianas... Como o conhecido Zé Urbano e Filemon e o bloco do “Bacalhau”, com o deputado Siloé Tavares. Quanto a foliões individuais, havia o ex-prefeito, comerciante e fazendeiro Firmino Falcão Filho, o Seu Nozinho, que, com apenas uma máscara, perambulava sozinho, rua acima rua abaixo; e o professor Reginaldo, seu sobrinho, que inventava uma porção de presepadas.

Tem várias histórias humorísticas dentro dos carnavais de Santana Anos 60, como a dor de barriga do Urso Preto e outra em que um cabra ameaçou estuprar o Urso. Muitos homens conhecidos como sérios, caiam na folia que só um adolescente.

 

 

 

 

 

 


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quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

 

SÍMBOLOS CAÍDOS

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.008

 




Faz pena ver pontos de referência da nossa cidade, acabando com o tempo, sem registro nos anais do município. É que a cultura sempre correu por fora nas sucessivas administrações há décadas e décadas. Afora isto, um ou outro escritor, particularmente registra alguma coisa nos seus escritos e só. Aproveitando o ensejo, a origem do lugar mais falado hoje em Santana do Ipanema é o Maracanã. Temos o único registro sobre sua origem no livro que será lançado em março. Um dos símbolos de bairro foi eliminado pela natureza: trata-se da árvore cajarana, que deu origem a localidade situada no bairro Floresta, onde hoje se encontra o hospital gigante Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo.

A árvore da qual se originou o lugar Cajarana, está registrada no livro nosso “Negros em Santana” e, seus restos mortais, registrados pelos bombeiros, em foto, após ser atingida e destroçada por um raio. Também está registado no mesmo livro, a origem do lugar chamado Alto dos Negros, nas proximidades do citado hospital. Os pesquisadores do presente e do futuro, procurarão a fonte principal sobre a cidade e o município no Arquivo Municipal, onde deverá constar o grosso da história da cidade. Mas, no momento nós não conseguiríamos responder se esse arquivo existe. No outro extremo da cidade, em relação ao Bairro Floresta, o lugar Cajaranas, teve seus símbolos decepados por vândalos: quatro ou cinco pés da fruta, muito altos, mostravam somente os tocos das ações maléficas. Também fui o único santanense a registrar o fato.

E para não me alongar muito, citando inúmeros exemplos, fiquemos no extremo leste da cidade com o lugar tradicional Cipó. Foi removida a santa-cruz de beira de estrada, que marcava uma tragédia no serrote do Gonçalinho. O local foi invadido pelo casario da periferia e nenhum registro foi feito. E assim caminha a humanidade. Muitas Cidades sem passado, sem memória e sem futuro, outras sobrando raízes e orgulho dos feitos até os presentes dias.

Fazer o quê?!

CAJARANA TOMBADA, SÍMBOLO DO LUGAR CAJARANA (FOTO: CORPO DE BOMBEIROS).

 

 

 

 

 


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