quinta-feira, 31 de outubro de 2019

DOIS RIACHOS EM CENA


 DOIS RIACHOS EM CENA
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de novembro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.207
PEDRA DO PADRE CÍCERO. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

Sendo cidade pequena – pouco mais de 11.000 habitantes – Dois Riachos, no Sertão alagoano, luta com as armas que tem. Com a fama mundial da atleta, filha, possui bastante moral para exibir na faixa de entrada, em forma de arco: “Aqui é a terra da Marta”. Tem um pouco mais dependendo do que o amigo procura. Estamos respondendo ao advogado que nos indagou quais seriam as atrações do lugar. A família de Marta já passou a ser uma atração, tanto na presença quanto na ausência da jogadora. Mas o município oferta ao visitante, a maior romaria ao padre Cícero, de Alagoas; um dos maiores açudes do estado; a maior feira de gado do Nordeste e fama mundial de Marta. Além disso, tem vaquejada boa, festa de emancipação e dos dois padroeiros: Nossa Senhora da Saúde e São Sebastião.
Situada às margens da BR-316, a cidade é banhada pelo regato Dois Riachos – afluente do rio Ipanema – e de expressiva largura de calha. Suas cheias periódicas representam uma atração à parte, além do que já foi citado. As grandes romarias crescem a cada ano e se concentram na chamada Pedra do Padre Cícero, um pouco afastada da cidade e também à margem da BR-316. Rodando alguns quilômetros por estrada vicinal, chega-se ao Açude Pai Mané, no atual povoado do mesmo nome. Construído pelo governo federal na época de Getúlio Vargas, o citado açude foi um pedido de eminente fazendeiro local (Seu Zezinho), em carta endereçada ao próprio Getúlio. A estrada é de barro, tipo rodagem e atende bem aos usuários da região.
O município não possui histórias de cangaceiros, salvo passagem ligeira de Corisco por aquelas imediações e a naturalidade de um cangaceiro pouco conhecido denominado Tempestade. Com a BR-316 em ótimas condições, Dois Riachos a Santana é um pulo e estimula seu desenvolvimento de cidade satélite. Na época de estiagem, são vistas muitas carroças na BR puxadas por jumentos e burros transportando água em tonéis de plástico rígido de cor azul. Essa fase exige cuidado especial com quem trafega na região da Pedra do Padre Cícero.
Outras ótimas atividades, quem procurar encontra.
Ê sertão velho de guerra, compadre!
Estamos indo para lá.






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quarta-feira, 30 de outubro de 2019

SANTANA: AS TRÊS FARMÁCIAS


SANTANA: AS TRÊS FARMÁCIASI
Clerisvaldo B. Chagas, 30/31 de outubro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.206
SANTANA DO IPANEMA. 9FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).
                                                                                                                       
As três casas que vendiam remédios, mais antigas que alcançamos em Santana do Ipanema, já eram chamadas de farmácias. Se existiu alguma botica, não temos conhecimento. Todas as três ficavam no Comércio uma perto da outra. Temos como referências a Farmácia de Seu Alberto (Vera Cruz), a Farmácia de seu Moreninho e a Farmácia de Seu Caroula, cujos títulos não recordamos.
A Farmácia Vera Cruz, pertencente ao ex-pracinha, Alberto Nepomuceno Agra – mais moderna – tinha duas coisas que serviam bem ao povo: uma balança na entrada para quem quisesse usá-la sem pagar nada. Era uma atração e tanto e muito serviu ao povo santanense. Havia um cartaz que chamava atenção com desenhos e advertência: "Entrai pela porta estreita”.
A Farmácia do senhor Cariolando Amaral, também conhecido como Seu Caroula, funcionou no “prédio do meio da rua” e em dois pontos sob o Hotel Central, no Casarão da Esquina. Galego, tipo alemão, Caroula gostava de camisa branca mangas curtas e uma eterna gravata borboleta. Usava vários potes de vidros nas prateleiras, iguais aos das antigas boticas, assim como ultrapassada moda da sua invocada gravata. Chamava atenção o busto de um negro forte e lustroso envergando uma barra de ferro. Talvez fosse a propaganda de um remédio chamado Xarope Fimatosan.  
 Por sua vez, a Farmácia de Seu Moreninho, funcionou à Rua Barão do Rio Branco e depois no Comércio. O dono fora enfermeiro
E se chamava Hermínio, fazendo muitas vezes o papel de médico pela prática e habilidade adquiridas. Adolescentes iniciando a sexualidade com as peniqueiras e cabarés da cidade, sempre procuravam esta farmácia, após contrair doenças venéreas. Estava em voga a tal injeção Benzetacil, aplicada pelo senhor José Fontes, também conhecido como Zé de Moreninho.
Essas três farmácias prestaram relevantes serviços a minha terra e nunca soubemos de homenagem alguma. Inclusive, quando Santana do Ipanema somente contava com médicos em outros centros mais adiantados, era o trio da saúde da urbe.
Águas passadas, novos moinhos.


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terça-feira, 29 de outubro de 2019

NA TERRA DOS MASTODONTES


NA TERRA DOS MASTODONTES
Clerisvaldo B. Chagas, 29 de outubro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.205
Monumento ao tigre, acesso a Maravilha. (F. Com B. Chagas/Arquivo).

A cidade de Maravilha – Microrregião de Santana do Ipanema e Mesorregião do Sertão Alagoano – continua fazendo sucesso com seus monumentos de mastodontes distribuídos pela urbe e cercanias. As réplicas dos animais titãs que viveram na região, além de novo alento na paisagem urbana, atraem constantemente estudiosos, estudantes e turistas em busca das estátuas e do museu ali implantado. Todos querem posar com esses animais para suas reflexões ou simplesmente enviar lindas fotos para a Internet. Maravilha é um brejo de pé de serra famosa pela altura da serra da Caiçara e que agora soma com a descoberta de fósseis que impressionam; provas de que viveram naquelas paragens animais gigantes como a preguiça, o tatu e o tigre-dente-de-sabre.
O município de Maravilha que antes pertencera a Santana do Ipanema fica a uma distância de 232 km da capital, Maceió. Quem nasce no lugar é maravilhense e pertence à Paróquia da Sagrada Família. “Em 2007, foi inaugurado, na praça principal da cidade, o Museu Paleontológico Otaviano Florentino Ritir, único museu brasileiro voltado exclusivamente à Paleontologia. Ele reúne fósseis de mamíferos pré-históricos que foram encontrados na região (...)”. O município de Maravilha tem como limites outros como Ouro Branco, Canapi, Poço das Trincheiras e o estado de Pernambuco. Tendo como referência Santana do Ipanema, fica apenas a um salto da “Rainha do Sertão”.
Para quem gosta de coisas sobre o cangaço, foi por ali que foi assassinado a pedradas um dos irmãos Porcino. O bando dos Porcino foi o primeiro em conceder abrigo a Virgulino Ferreira, antes de virar Lampião. Era chefiado por três irmãos, mas o irmão assassinado na região de Maravilha, não fazia parte da caterva. Foi morto por Caiçara, o mesmo soldado que assassinara o pai de Virgulino, sem nem saber quem ele era. A área sertaneja de Maravilha e sua vizinha Ouro Branco foi bastante visitada por esses bandidos alagoanos que atuavam no alto sertão.
Portanto, se você é pesquisador, está aberto o sertão dos mastodontes e os primórdios lampionescos.
Visite Maravilha, cuja serra recentemente se transformou em reserva de caatinga.







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domingo, 27 de outubro de 2019

A BENGALA DO CAMPO


A BENGALA DO CAMPO
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de outubro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.204
SERRA DO POÇO, S. DO IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO)

Como professor de Geografia percorri inúmeras vezes o trajeto Santana do Ipanema – povoado Pedra d’Água dos Alexandre. Constatava muitas terras e poucos cuidadores. Até mesmo em império de terras, o mato tomava conta cobrindo tarefas e mais tarefas de palma forrageira. Velhice dos donos falta de mão de obra, êxodo da juventude. Sem mãos para agredir a natureza, surgiam bandos de pássaros das mais variadas espécies, cantando e agradecendo a falta de predadores humanos. Após a infância, nunca mais tinha visto aquilo.
Na serra do Poço, monte entre Santana e Poço das Trincheiras, notava o desmatamento, o abandono dos pomares pelo envelhecimento dos proprietários, falta de mão de obra e êxito da juventude. A maior fornecedora de frutas de qualidade da região estava combalida.
Na região do sítio santanense Olho d’Água do Amaro visitei um amigo que vivia sozinho, tipo ermitão. Cuidava da fazenda somente ele e Deus. Uma solidão que me deu medo. Os mesmos problemas das demais regiões refletiam-se nesse espaço entre Santana e Senador Rui Palmeira. A tese do envelhecimento do campo não tinha com quem ser discutida. Com prefeito? Com governador? Com faculdades? Um egoísmo domina o mundo e os jovens dizem: “cada um no seu quadrado”.
Agora o IBGE constata a teoria do geógrafo solitário, cerca de quinze anos depois. O campo está envelhecendo. Vários são os motivos, como alguns já citados acima. E para solucionar parte do problema só encontramos o incentivo do governo para fazer retornar ao campo os que fizeram cursos de agronomia, veterinária, zootecnia... E outras medidas que assegurem o futuro do trabalhador rural.
E para produzir nossa alimentação de cada dia, graças ainda a agricultura de roça, pois as grandes produções são exportadas para matar a fome do mundo.
A coisa é braba, Zé.





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quinta-feira, 24 de outubro de 2019

FURANDO A CAATINGA


FURANDO A CAATINGA
            Clerisvaldo B. Chagas, 23 de outubro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.203

POVOADO BARRA DO IPANEMA. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO)
Para satisfação do povo sertanejo, o gove        rno vem através da “Agência Alagoas” (22) reafirmar que será entregue a pavimentação asfáltica Batalha – Belo Monte. Marca para 90 dias o prazo da entrega. O percurso de 27 quilômetros que liga as duas cidades, a AL -125, já teve concluído os serviços de drenagem e terraplanagem. Agora estar sendo preparada a base para recebimento do asfalto que ligará aquela rodovia à AL-220, em Batalha. O percurso era totalmente de barro com dificuldades em épocas chuvosas. Dentro de 15 dias será iniciado o asfalto com a devida sinalização. Quando o trecho estiver pronto, o tempo gasto para percorrê-lo ficará pela metade dos atuais 40 minutos.
Todo movimento de Belo Monte é por essa única estrada, mas a comunicação com outras cidades acontece através do rio São Francisco, principalmente com as de Sergipe. Hoje Belo Monte está mais integrada ao solo sergipano em todos os setores. Espera-se que essa realidade mude a favor de Alagoas após a pavimentação da AL-125. Bem perto de Belo Monte, a estrada se bifurca e um dos braços leva até o povoado Barra do Ipanema com a praia fluvial mais bela da região. É ali onde está o morro/ilha de Nossa Senhora dos Prazeres, cuja igreja no topo foi tombada pelo IPHAN. Como ninguém falou sobre o assunto, tudo indica que o acesso a Barra não será asfaltado.
Atravessando boa parte de caatinga ainda bruta, o trecho de barro Batalha – Belo Monte é perigoso devido ao seu isolamento. Aguarda-se para um futuro próximo um ganho exponencial para Alagoas, quando Batalha deverá incorporar essa nova economia. Saúde, turismo, educação e comércio terão uma dinâmica maior entre as duas cidades alagoanas. A previsão de entrega total da obra está prevista para o início de 2020, quando a nova realidade chegar à Bacia Leiteira.
No momento em que Alagoas é apontado em primeiro lugar no Brasil como melhor malha viária, a novidade soa bem aos ouvidos sertanejos. Uma vitória e tanta a ser comemorada com peixes, pitus e geladinhas na praia da Barra onde despeja o tão querido rio Ipanema.


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