terça-feira, 15 de outubro de 2019

VIDA E MORTE DE UM CINEMA


VIDA E MORTE DE UM CINEMA
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de outubro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.198
LARGO DA FEIRA, SANTANA. (FOTO: B. CHAGAS/ARQUIVO).

       Entusiasmado com o êxito do Cine Glória, à Rua Coronel Lucena, o empresário Tibúrcio Soares, resolveu construir um cinema mais poderoso. Assim ergueu o gigante na Rua Barão do Rio Branco, em pleno centro comercial. Belíssima fachada, oitocentos lugares, cadeiras não acolchoadas de primeira, marca CIMO. Tela enorme, toalete, galeria e saída lateral para os espectadores. Alcançava-se a sala de projeção galgando alguns degraus passando-se por sala de espera espelhada, com poltrona longa e única. Recebendo ingressos, o porteiro do antigo cine, índio Fulni-ô de Águas Belas, Sinésio, conhecido como “Caboclo”. Houve concurso para o nome do prédio, ganhando a concorrência o título Cine Alvorada. Santana do Ipanema, sertão de Alagoas, ganhava assim seu segundo cinema de luxo.
       As paredes internas foram decoradas com estampas de motivos regionais: mandacaru, forrozeiro, carro de boi... Em pintura moderna. Fez o trabalho de arte o desenhista de fachadas e artista plástico denominado Zezinho Bodega. Pelas vidraças eram vistos alguns cartazes dos próximos filmes. Mas o cartaz de compensado que ficava no poste de esquina do Hotel Central, continuava anunciando. Tibúrcio Soares, também era proprietário de loja de tecidos denominada “Rainha do Norte”, entre o prédio do meio da rua e o sobrado do meio da rua. Ali também se vendia todos os artigos carnavalescos.
       Com o advento da televisão, divertimento em casa, houve forte abalo em outras atrações: clubes, cinemas, teatros... Levando ao fechamento de vários deles no Brasil inteiro. Não foi diferente com o gigantesco Cine Alvorada. Passou para outro empresário, mas os dias do cinema já estavam contados. Havia uma lanchonete ao lado, fechou e virou barbearia por muito tempo.
       O cinema, orgulho do interior, ficou ocioso por longa data e aos poucos foi sendo transformado em casa comercial. O interessante é que daquele mundo todo, não se tem notícia de que uma só peça esteja no Museu Darras Noya.
       É muito difícil se conservar a história de um município quando ele próprio não se interessa por ela.

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