quarta-feira, 31 de março de 2021

 

EU NO SAGRADA FAMÍLIA

Clerisvaldo B. Chaga, 1 de abril de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.502


Quando descobri aquele casarão abandonado na Rua Martins Vieira, tive desejo de conhecê-lo por dentro. A enorme obra inacabada era composta de inúmeros vãos, mas só havia mesmo o telhado e as paredes caídas de branco. Um dos compartimentos era somente uma grande vala de barro aguardando um dia ser aterrada para o nível correto do piso. Para mim, um pequeno abismo. Pessoas falavam que obra era mal-assombrada. Passei a brincar ali dentro. Vinha da Rua Antônio Tavares, cruzava a Rua Nova, pegava um matagal e chegava pelos fundos no prédio do mal assombro. Eu tinha medo por um lado, mas o desejo de brincar ali dentro era maior e nunca vi nada que me botasse para correr. Às vezes saía do Grupo Escolar Padre Francisco Correia e seguia para casa passando por dentro do edifício sinistro.

Eu não sabia, mas Deus me preparava para ser no futuro, professor de Geografia do Casarão temido. Já adulto e lecionando Ciências no Ginásio Santana, via aquele prédio, antes ao abandono, transformar-se em Colégio com o nome de Instituto Sagrada Família, cuja direção pertencia as irmãs holandesas (freiras) Leôncia e Letícia. Convidado pelas irmãs, passei um tempo feliz naquele estabelecimento, assim como também amava o Ginásio Santana.

Lembro-me que foi o professor Alberto Nepomuceno Agra que me falou que a outrora obra inacabada, pertencera ao cidadão que fora interventor de Santana nos anos trinta e passara a ser agiota, Frederico Rocha. E que Frederico emperrava a construção para especular. Por isso dera certo trabalho quando pessoas da sociedade foram tentar adquirir a obra inacabada para transformá-la no Colégio Sagrada Família, naturalmente, com verbas holandesas.

Para não ferir a memória de ninguém, não falarei aqui o motivo do fechamento das portas do Colégio. Ainda hoje conservo uma placa de estojo em homenagens “aos relevantes serviços prestados” naquele estabelecimento, diz a placa. Atualmente o edifício vai de uma rua a outra e funciona também como escola municipal. Aquelas árvores plantadas no pátio com bancos de granito rodeando-as, foi ideia minha. Recordo-me disso quando passo por ali em tempos eleitorais, pois funciona com várias sessões para os votantes. Ali também passei cerca de trinta anos sendo mesário na sessão 115. Nas últimas vezes em que fui votar, por coincidência, o presidente da mesa era um ex-aluno, funcionário do Banco do Nordeste.

Está aí a história para os pesquisadores santanenses sobre a origem de mais um dos admiráveis casarões de Santana do Ipanema, uma das 10 escolas desse território onde lecionei, do total de 12 com outros municípios.

Continuo amparado pela SAGRADA FAMÍLIA. AMÉM.

 

PRÉDIO QUE PERTENCERA AO SAGRADA FAMÍLIA, FUNDADO EM 1976.  (FOTO EM 2013: LIVRO 230/ACERVO B. CHAGAS).

 

 


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