RECEPÇÃO DE REI Clerisvaldo B. Chagas, 8 de maio de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.880   Convidado pela dir...

 

RECEPÇÃO DE REI

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.880

 





Convidado pela direção da Escola Estadual Prof. Aloísio Ernande Brandão, estivemos ministrando uma palestra sobre parte da história de Santana do Ipanema (sexta pela manhã) cujo estabelecimento é parte consistente dessa história. Assessorado pelo Prof. e escritor Marcello Fausto, encontramos uma plateia atenta entre professore, alunos e funcionários em geral que muito nos impressionou. Aproveitamos para falar sobre o aniversário da Escola (31 anos) sua origem e sua localização geográfica formada pelo riacho Camoxinga a milhares ou milhões de anos. Falamos sobre os canoeiros do rio Ipanema, das cheias, das pontes, das praças e de todas as fotografias antigas que foram apresentadas em sistema de slides.

Aos 76 anos de idade, ficamos felizes com essa geração buscando conhecimentos sobre a terra em que nasceu, muitos deles jamais abordados antes. No decorrer da sessão de autógrafos e fotografias, uma senhora aproximou-se para dizer que era de Maravilha e que fora minha aluna. Pense na emoção! Confesso que não estava esperando, mas a longa fila formada após a palestra para autógrafos e foto com o palestrante foi um reconhecimento desses que não tem como a gente agradecer. E no final ainda uma recepção com lanche caprichado à base de galinha de capoeira, diretamente da fazenda da diretora e o tradicional xerém de milho: Uma delícia!...

 

Ôi pisa o milho

Peneira o xerém

Eu não vou criar galinha

Pra dá pinto a seu ninguém!...

 

Voltei tremendamente agradecido da Escola Estadual Aloísio Ernande Brandão. Aproveito para emitir frase da atual geração: É noite já “e a ficha ainda não caiu”. Ao deixar a Escola, passamos por outra, cujo diretor também quer fazer homenagem no mesmo nível. Dia grande! Amanhã, sábado, estaremos no Alto Sertão, na cidade de Ouro Branco, visitando membros da Associação dos Romeiros do padre Cícero, colhendo novos depoimentos para o livro “100 Milagres Nordestinos – Inéditos”. E Que estará chegando à casa dos 80% concluídos. Viajaremos com os companheiros Marcelo Fausto e Iran Siqueira, também devotos do homem. Foi uma recepção de rei feita pela diretora Elisângela.  Agradeço com todo coração e humildade.

PALESTRA NO CEPINHA (FOTOS: ALUNOS).

 

 

 

  PRAÇA E CACETE NA MÃO Clerisvaldo B. Chagas, 5 de abril de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.879   Praça é uma...

 

PRAÇA E CACETE NA MÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 5 de abril de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.879



 

Praça é uma área de lazer, feita pelo poder público e pertencente ao povo. É uma área de lazer, descanso, exposição, manifestações culturais e cívicas. Quando Santana passou à cidade, construiu a sua primeira praça. Pequena, ainda acanhada, mas estava ali o sagrado lugar das fofocas sociais, das críticas políticas, do passeio das crianças e dos inflamados protestos. Já dizia o poeta: “A praça é do povo como o céu é do condor”. Mas, no início da década de 30, foi construída a mais bela praça de Santana do Ipanema, até hoje. Enquanto a primeira foi construída no atual Largo Prof. Enéas, a segunda aproveitou todo o terreno baldio que havia defronte a igreja de Senhora Santana. A primeira, Praça do Centenário; a segunda, Cel. Manoel Rodrigues da Rocha.

Conheci um vigia da Praça da Matriz. Sim, tinha vigia. Percorria o logradouro com um cacete à mão. Nunca bateu em ninguém, mas comia fogo com os rapazotes que estudavam na Escola de dona Helena Oliveira e que aprontavam com ele.  Certa feita a garotada viu o vigia cochilando, amarraram sua perna à estaca do canteiro, bateram na sua cabeça e saíram correndo. O restante fica por conta da imaginação. E o último vigia da praça que conhecemos, foi o soldado reformado Gonçalo: tipo Bonachão, amigo e que recebia alguns trocados dos comerciantes do entorno da praça. Dava pena! Vivia soluçando, parece que bebia. Daí para cá nunca mais soube que praça tem vigia. Os vândalos nada respeitam, quanto mais praça abandonada.

Vale salientar, entretanto, que todas as antigas praças de Santana do Ipanema, foram extintas ou modernizadas. Mais bonita ou mais feia depende da opinião individual de quem conheceu a todas. E assim podemos nos referir ao bairro São José, desmembrado do enorme Bairro Camoxinga e que tem como base a COHAB Velha. A única praça que havia, fora construída às pressas no apagar das luzes da gestão Marcos Davi. Vândalos, drogados, ladrões e muitos moradores destruíram-na, transformando-a em lixeiro, estábulo e ponto inseguro dessas mazelas sociais. Sobre esse terreno desprezado foi recentemente inaugurada outra praça de características diferentes. Esperamos que desta vez seja respeitada pelos usuários e não precise de vigia para andar de cacete na mão.

PARCIAL DA NOVA PRAÇA (FOTO: B. CHAGAS).

 

  REINO DO COURO Clerisvaldo B. Chagas, 4 de maio de 2023 Escrito Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.878   O espetáculo da pesage...

 

REINO DO COURO

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de maio de 2023

Escrito Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.878

 

O espetáculo da pesagem do couro no lugar em que a população comprava carne, não era muito agradável, mas pertencia a própria época, mesmo tendo aqueles que defendiam que a venda de couro deveria ser em outro lugar.

Nesse contexto, entra o bode e o cabrito. Vizinho ao Mercado de Carne, ainda existe um beco ladeiroso que vai dar no riacho Camoxinga, cerca de 150 a 200 metros abaixo. Havia muitos quintais por ali e, após os quintais, capoeira rala que dominava as duas margens do riacho. No início e na esquina do beco, havia uma mercearia e por trás dela, um pequeno plano repleto de mato que servia de matadouro de urgência para o sacrifício dos caprinos.

Nos dias de feira, aos sábados, o bode era morto a pauladas com muita ligeireza. Ouvia-se apenas um berro abafado e nada mais. O sangue escorria da boca para a poeira cinzenta do chão. Imediatamente o bode ou cabrito era amarrado de cabeça para baixo e, o esfolador, habilidoso e rápido retirava o couro da carne. Higiene zero. A nós parecia uma matança clandestina para atender a demanda do mercado público, no mínimo, vistas grossas das autoridades.

A carne era enrolada em um saco de pano e conduzida nos ombros, beco poeirento acima, cuja parede externa do mercado servia de mictório a céu aberto para os homens, não importava o movimento dos transeuntes, homens ou mulheres na feira.

Numa época em que não havia mictório público, os homens se aproximavam da parede, puxavam a “torneira” para fora, amparavam o sexo com a mão e procediam como os cachorros, só não faziam levantar a perna. Durante à noite o beco do mercado também servia para quem quisesse defecar. Era um beco fedorento por excelência.

Vale salientar que o Mercado de Carne, público, foi construído em 1950, cuja placa permanece até a presente data, apesar das várias reformas. E se o leitor quer saber quem o construiu, foi a gestão do coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão.

Extraído do livro inédito:  CHAGAS, Clerisvaldo B. Santana: Reino do Couro e da Sola. Pág.33.