FREI DAMIÃO E O PÂNICO Clerisvaldo B. Chagas, 1 de novembro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.989   As Sant...

 

FREI DAMIÃO E O PÂNICO

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de novembro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.989

 



As Santas Missões no distrito Canafístula Frei Damião, em Palmeira dos Índios, Alagoas, inspira-me a contar mais uma vez a chegado de Frei Damião em Santana do Ipanema, entre 1956 e 1960. O respeito, a admiração, a devoção e o carinho ao Frei pelo povo santanense e da região, eram quase um fanatismo. Eu ainda era criança quando foi anunciada a vinda de Frei Damião a Santana para suas pregações. Existia uma agonia geral por falta de chuvas há muito. Comentava-se que quando o Frei chegava a um lugar seco trazia chuva, era uma esperança. Frei Damião chegaria por Olho d’Água das Flores. Inúmeros veículos foram ao encontro do homem, nas imediações de Olho d’Água, fora os que já vinham o escoltando. Uns ganzelões de minha rua, motivados pela euforia, formaram um pequeno grupo para encontrar Frei Damião na estrada. Segui com eles.

Atravessamos o rio Ipanema seco, subimos pelas olarias e em breve estávamos na estrada de terra rumo a Olho d’Água das Flores. Era um fim de tarde, passamos sobre o riacho João Gomes e um pouco mais para lá, no deparamos com a comitiva em sentido contrário. Eu já estava muito cansado e vi passar automóveis e mais automóveis, caminhões e mais caminhões lotados passaram com muita rapidez. Fiquei choroso em não ter havido uma única parada para nos acolher. Voltamos a pé tal a ida. O tempo anoitecia e eu cansado e choroso acompanhando “morcegos”. Ao chegarmos perto de Santana, chegaram a chuva e o véu da noite. Esbarramos diante do Ipanema bebendo água. Tive medo de atravessá-lo, mas tive que seguir os ganzelões, chorando muito. Deu para atravessar sem ser levado pelas águas que aumentavam de volume rapidamente.

Houve sermão diante da Matriz, com o quadro comercial completamente lotado. Porém, dois lugares de Santana, segundo o povo, debocharam do Frei e promoveram bailes de forró. Um na rua de Zé Quirino (Prof. Enéas) outro no lugar Cachimbo Eterno. De repente os respectivos salões com grande distância entre eles, encheram-se de potós que caiam de todos os lugares e espirravam até dos foles dos sanfoneiros. Gritos, pânico geral. Muita gente queimada pelos insetos. Algumas pessoas tiveram que ser transportadas para hospitais de outras cidades. A seca acabou na região de Santana do Ipanema e o rio continuou escorrendo no período das Santas Missões. Sou testemunha viva do acontecimento.

ESTÁTUA DE FREI DAMIÃO EM CANAFÍTULA FREI DAMIÃO (FOTO: B. CHAGAS).

  IOLANDA, MULHER, CANÇÃO E CIGARRO Clerisvaldo B. Chagas, 31 de outubro de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.988 ...

 

IOLANDA, MULHER, CANÇÃO E CIGARRO

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de outubro de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.988

 



Vendo nesse momento uma pasta de sabão de nome Urca, vem à lembrança nesse final de outubro de 2023, a Urca da minha adolescência. Vejo-me à Rua Antônio Tavares, brincando de nota com os companheiros. E o que chamávamos ‘nota”, era o descarte de carteira de cigarro em que o fumante amassava e jogavam-na em qualquer lugar. Nós, os adolescentes masculinos, desamassávamos a carteira de cigarro, descartávamos o papel celofane do envoltório – quando havia – estirávamos o papel em forma de cédula, dobrávamos as laterais. Cada nota funcionava como dinheiro de verdade. O valor de cada uma dependia da maior ou menor quantidade encontrada. O alumínio que envolvia diretamente os cigarros, era o mais comum e consequentemente o de menor valor.

Depois saíamos pela rua poeirenta jogando. Um rapazinho jogava uma pedra alguns metros à frente. O outro tentava acertar a pedra imóvel com outra pedra e assim sucessivamente. Quando uma pedra batia m outra, o que acertou ganhava uma nota cujo valor era combinado. Nunca vi jogo tão bom! Lembramos ainda algumas marcas de cigarros como: Continental, Astória, Hollyood, Fio de Ouro, Urca e Yolanda. Iolanda também era uma colega ginasiana, relativamente bonita. Era irmão da Dilma, outra colega ginasiana e, não tenho muita certeza, mas parece que eram filhas de um cidadão muito popular na época, chamado Imídio Birunda. Também cem certeza tinha a Socorro, colega de sala, colega de teatro e, irmã de ambas. Surgiu uma canção com o nome Iolanda a que a turma associava à nossa colega.

Peça a música no Google e pesquise a inspiração de Chico Buarque de Holanda.

 Já os cigarros Urca mostravam o morro do Rio de Janeiro no rótulo. Quando adulto tive oportunidade de conhecê-la, em excursão no passeio do bondinho que serve à montanha isolada com cabos de aço. O sabão pastoso Urca, não mostra a paisagem do rio de Janeiro.

Hoje, vejo no meu neto o jogo de outrora, transformado no brinquedo celular. Dizem que é a chamada Evolução. Será?  Estou escrevendo para extravasar essa noite mal dormida, sem nenhum sentimento de saudosismo, mas é impossível em determinados momentos não lembrar fatos corriqueiros das nossas vidas.

 

  JARAMATAIA Clerisvaldo B. Chagas, 30 de outubro de Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.987   Última cidade do sertão ...

 

JARAMATAIA

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de outubro de

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.987



 

Última cidade do sertão para quem se dirige a Arapiraca pela AL-220 e que pode ser a primeira em sentido contrário. Estar localizada no limiar entre sertão Agreste e faz parte da Bacia Leiteira de Alagoas. Jaramataia é uma cidade, relativamente nova que foi emancipada de Batalha em 17 de maio de 1962. A sua distância à capital, Maceió é de 138 quilômetros. Foi originária de uma fazenda de gado, onde hoje está o piso urbano e cuja denominação era fazenda Jaramataia. Jaramataia é uma arvoreta que atinge cinco a seis metros de altura, além de ser considerada medicinal. Sua população, de acordo com o último censo, possui quase 5.000 habitantes e fica a 164 metros de altitude. A grande festa da padroeira, Nossa Senhora da Conceição, acontece no dia 8 de dezembro.

Esta cidade fica a cerca de 1 km da AL-220, com dois acessos de entrada e saída. Sendo criador de gado, o município tem nessa atividade o seu forte. As atividades da Agricultura, são as mesmas de todo o Sertão. Suas imediações são as mais “agrestadas” da Bacia Leiteira, segundo nossas observações geográficas. Entretanto, também há muito, observamos vários quilômetros de terras que nos tempos secos, ultrapassa a temperatura de todas às vizinhanças. Parece se conectar com uma faixa de terras da BR-316, semelhante, entre a cidade de Dois Riachos e a Pedra do Padre Cícero. Nunca pude estudar esse fenômeno e nem tive conhecimento que outra pessoa tivesse feito essa observação. Seus filhos são denominados jaramataienses.

O chamado “Açude de Jaramataia”, é um dos maiores de Alagoas e construído pelo DNOCS. É alimentado pelo “riacho do Sertão” afluente do rio Traipu. Além de ser a principal atração turística física de Jaramataia, o açude banha também o povoado São Pedro (antigo Bacurau) e congrega quase 500 famílias de pescadores. Às vezes, em tempos de estiagem surgem alguns problemas no açude que afetam a existência de quem dele vive. Porém, a cidade de Jaramataia, prossegue sua lida entre Batalha e Arapiraca, centros mais pertos para seus intercâmbios sócio comerciais.

Jaramataia (Vitex gardneriana Schauer) é uma das poucas encontradas no sertão nordestino, usada tradicionalmente por suas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas.

JARAMATAIA (DIVULGAÇÃO/PREFEITURA)