SÃO BENEDITO Clerisvaldo B. Chagas, 1 de março de 2023 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.019   Nunca faltou tinta n...

 

SÃO BENEDITO

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de março de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.019

 



Nunca faltou tinta no mundo, mas a Igreja de São Benedito, em Maceió, sempre foi escura e nem sabemos por que. Situada ali no Comércio, defronte a, então, Secretaria de Educação, imediações da Praça Deodoro, sempre teve aquele aspecto de esquecida e discreta. Ali passei inúmeras vezes nas minhas andanças pela capital. Foi onde faleceu o ex-dirigente de Santana do Ipanema, ainda no tempo de vila, padre Capitulino, filho de Piaçabuçu, pároco de Santana, depois dirigente, substituto interino do governador Fernandes Lima, por alguns meses. Na época da vila quem mandava era a família Gonzaga, quando a irmã do padre casou com um deles. Padre Capitulino, terminou substituindo os Gonzaga, na política e fazia as duas funções em Santana do Ipanema.

Dividido pela opinião pública por ser um padre politiqueiro, estava quase sempre ausente do município. Foi ele que no ano de 1900, realizou a primeira reforma da Igreja de Senhora Santana. Com o governador afastado por problemas de saúde, Capitulino assumiu o cargo e que aproveitou para elevar à condição de cidade, a vila de Santana do Ipanema. Depois se dedicou somente à carreira sacerdotal e veio a falecer na igreja de São Benedito. Fora um ataque fulminante de coração, quando se preparava para celebrar a missa. Sua visita à Santana do Ipanema, como governador, é registrada no livro de cônicas do brilhante escritor santanense, Oscar Silva, “Fruta de Palma”.

Mas voltando a igreja de São Benedito e que tem sua marca na história santanense. Quando as igrejas pararam de receber defuntos, somente foi permitido receber cadáveres naquele templo. E na observação do início, sempre nos deparamos com aquela igreja escura por fora e por dentro, apesar da sua localização privilegiada na capital.  Acho que chegamos a um ponto em que havia muitas igrejas, poucos padres e verbas escassas, problemas esses que também notamos em nossa região. Porém, a Igreja de São Benedito, ali nas proximidades da Praça Deodoro, continua resistindo. E apesar de ser uma igreja discreta, somente notada por que já a conhece, é aberta a todos os devotos do santo e a todos aqueles que dela sempre precisaram para suas orações diárias ou visitas esporádicas de robustecimento da fé.

IGREJA DE SÃO BENEDITO EM MACEIÓ (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 

 

 

 

EU VI O POÇO Clerisvaldo B. Chagas, 29 de fevereiro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.019   Fui ao Bairro Dom...

EU VI O POÇO

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.019

 


Fui ao Bairro Domingos Acácio – o herói da Guerra do Paraguai – e fiz questão de dá uma espiadinha no antigo Poço dos Homens. Poço do rio Ipanema, imortalizado pelos meus escritos, especialmente no livro RG de Santana “Ipanema, Um Rio Macho”. A ponte General Batista Tubino, construída em 1969, foi o golpe final no poço da minha infância e dos meus antepassados. Todos os jovens e adultos da minha terra tomaram banho do Poço dos Homens, inclusive, até o, então, futuro governador Geraldo Bulhões. Poço dos Homens foi a página mais saudosa que escrevi na vida e que está registrada no livro acima. Mas quando espiei de cima da ponte, por estes dias, vi o mato aquático por cima do aterramento natural e do abandono. Doeu fundo ao vê a maior fonte de lazer de outrora da minha terra naquela ridícula e humilhante situação. Nem sequer, por cima das suas pedras grandes e lisas, um monumento de ferro ao banhista, como daqueles que o artesão Roninho Ribeiro sabe fazer.

Vem à memória o comerciante Júlio Silva e seu dente de ouro, o único homem que vi tomando banho de sabonete no Poço; Seu Alberto Agra, dando lição ao negro Zé Lima dizendo que o nome do que ele estava imitando na água não era microscópio e sim, periscópio; a adolescente Nicinha, nadando igual à piaba e seu irmão Gorila, dando sucessivas sapatadas na superfície, sem mostrar o rosto imerso. Os maldosos passando “tamiarana” nas costas dos companheiros. Toinho Baterista, pescando mandim; O alfaiate Seu Quinca, sem dá sorte de pesca para ninguém; As andorinhas revoando e molhando o peito nas águas, e indo à pousada na torre da Igreja; e o maior cantor da minha terra Cícero de Mariquinha mexendo na alma da gente cantando em dia frio e nublado, músicas de Cauby Peixoto:

Deu para entender agora o que senti ao olhar da Ponte General Batista Tubino, o poço sepultado a cerca de 20 metros da ponte, rio abaixo? Não tiveram piedade em deixarem pelo menos uma cruz, onde jaz o Poço dos Homens, isto é, um monumento, por mais simples que fosse! Acho que irei fazer uma campanha para tal fim, mas nem sei por onde e nem com quem contar.

POÇO DOS HOMENS NO PRIMEIRO PLANO. IMAGEM VISTA DA PONTE GENERAL BATISTA TUBINO (FOTO: B. CHAGAS).

 

 



  PRIMEIRA E SEGUNDA Clerisvaldo B. Chagas, 27 de fevereiro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.017   Bons temp...

 

PRIMEIRA E SEGUNDA

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de fevereiro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.017

 



Bons tempos quando a marca do café alagoano estava no auge. Ao passarmos pela Praça Deodoro, o aroma intenso saía da torrefação do Café Afa, bem ali, na esquina do teatro, do outro lado da rua. E nós, estudantes, ficávamos inebriados e os comentários choviam sobre àquela indústria tão famosa e aceita plenamente em todos os extremos de Alagoas. É certo, porém, que a Praça Deodoro, passou por várias reformas nas sucessivas marchas dos prefeitos. Uns aceitavam as reformas como mais belas, outros preferiam o modelo mais antigo. O Teatro com o mesmo nome da praça, também passava por altos e baixos. E a sorveteria Gut-Gut, tão famosa em Maceió quanto café, teatro e praça, já ameaçava cerrar às portas.

E assim nós pegamos essa fase de ouro do comércio da capital, quando as quatro referências acima, reinavam absolutas no auge da fama maceioense. Em Santana do Ipanema, perguntávamos ao dono do Café do Maneca, como ele fazia para preparar um café tão gostoso... Pouco importava se era um “café pequeno, meio café, ou café grande”, conforme classificava a clientela. Maneca dizia apenas: “Misturo o Café Afa de segunda com o café de primeira”. Mas ainda tinha o segredo da quantidade, da fervura... Que o nosso bom amigo não revelava. Em Maceió, o teatro resistiu, a praça resistiu, mas a Gut-Gut com o melhor picolé do paísl, fechou. E assim o famigerado Café Afa também deu adeus ao povo do meu estado. A saudade bate quando novamente circulamos por ali, quando lembramos também da mulher vendendo Tainha e que somente gritava “inha”, ô inha! E os estudantes, das janelas dos edifícios respondiam: Ôi, ôi!

E ainda vimos, homens de branco, elegantes e de sapatos espelhosos, no capricho dos engraxates da praça. Ali à frente paravam os ônibus, momentos de observações dos conquistadores, às senhoritas que desciam no rigor da moda para o passeio habitual pelo Comércio. Ah! Pouco importava a imponente estátua de bronze do Marechal Deodoro da Fonseca. Cheiro de perfume, aroma de café, gosto de sorvete... Movimentavam a praça chique da capital.

 

Alerta contra trombadinhas....

“Ô Maceió! É três mulé pra um homem só!”

PRAÇA DEODORO (FOTO: B. CHAGAS).