BALEIA EM SANTANA Clerisvaldo B. Chagas, 23 de julho de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.275   Santana do Ipane...

BALEIA EM SANTANA

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de julho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.275

 



Santana do Ipanema, da situação de vila até o ano em que foi elevada à cidade, 1921, era iluminada a lampião em postes de ferro. Coisa sofisticada, gente, que somente as vilas e cidades adiantadas possuíam. Mas, qual o combustível usado na posteação? Segundo meu saudoso professor de Geografia, Alberto Nepomuceno Agra, os lampiões dos postes eram abastecidos com óleo de baleia. Podemos acreditar nisso até porque não havia proibição em matar os cetáceos e o óleo de mamona que havia na região se resumia a carro de boi e talvez a candeeiro. Não haveria suficiente óleo para abastecer uma vila, uma cidade. Contemple a foto e note a elegância dos homens e postes de iluminação em pleno Comércio de Santana, em 1920.  Vá entendendo.

Podemos afirmar que existe em nosso município, a 12 quilômetros de distância, um recente povoado denominado Óleo. E sua denominação vem justamente do tempo em que ainda não era povoado e ali se fabricava óleo e tijolo. O óleo de mamona também chamado azeite, era muito utilizado no auge dos carros de boi, para azeitar o eixo do veículo, evitar atrito de incêndio e fazer o carro cantador ao transitar carregado (orgulho do carreiro). O óleo também era utilizado para iluminação, a exemplo do óleo de baleia. Cada carreiro (condutor do carro de boi) ainda hoje somente viaja abastecido com azeite de mamona seu recipiente que é uma ponta de boi, tampada e pendurada em um dos fueiros do carro. É uma tradição muito mais do que bissecular.

1920, foto abaixo, ainda éramos a “TERRA DOS CARROS DE BOI”, cujo estacionamento maior, era no Poço do Juá com o rio Ipanema seco. Ali, em dia de feira, aguardavam a hora de carregar e descarregar mercadorias. O próprio carro de boi conduzia a alimentação dos bois que era a palma forrageira, pinicada com facões e servida em balaios de cipós. Deduzimos, então, como era precioso e valorizado o óleo ou azeite de mamona, também conhecido por óleo de carrapato (mamona) fruto da Carrapateira e chamado nas farmácias (como remédio para expelir lombrigas) de óleo de rícino. Ainda existe carros de boi, jumento e burro nas fazendas e que estão sendo substituídos por motos e outros veículos motorizados.

HOMENS ELEGANTES, DE BRANCO, ENCOSTADOS A POSTE DE ILUMINAÇÃO E NA ESQUINA DO “PREDIO DO MEIO DA RUA”. (FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO/LIVRO 230)

 

 

 

 

 


  O POVO E A SANTA Clerisvaldo B. Chagas, 22 de julho de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.274   Dia 17 último, ...

 

O POVO E A SANTA

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de julho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.274

 



Dia 17 último, tivemos o início da Festa de Senhora Santana, padroeira do nosso município. De alguns anos para cá, tem sido o início da festa com a “procissão dos carreiros”; os carreiros guiando seus carros de boi saem do Parque Izaías Vieira Rego, rumo ao centro de Santana do Ipanema. Eles chegam no dia anterior e acampam no parque distante da cidade em 3 km, pela AL-120. Pela manhã seguem em procissão para o centro da cidade, onde receberão a bênção dos carreiros no Largo Cônego Bulhões. É uma prática que virou tradição e contempla amplamente o homem do campo dedicado ainda a esse tipo de transporte que fez progredir o Brasil antigo. Portanto, além de ações de fé, existe na procissão um longo lastro da história brasileira.

Enquanto isso, Senhora Santana aguarda as conclusões das obras da serra Aguda que estão paralisadas. A nós, parece-nos que o grosso já foi feito e que de longe tem aspecto de antigas obras romanas ou gregas. Coisa de primeiro mundo! Porém, a imagem de Senhora Santana ali não foi ainda colocada, dizem por que faltou verba. Até que poderia ter sido inaugurada em sua Festa, agora. Mas, fazer o quê? Quem já esperou até agora, aguardará mais um pouco para nos orgulharmos de uma das maiores estátuas sacras do mundo. E não tem como não me lembrar de quando criança nas faldas da serra Aguda montado num jegue cargueiro com carga de palma forrageira, tangido, pelo empregado Cololô. Terreno de meu pai repleto de palma e agave. A mesma serra da estátua.

Não tem como turismo, romaria e anel rodoviário deixarem de acelerar a expansão do Bairro Paulo Ferreira (antigo Floresta).  Um novo bairro estar se formando entre o Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, a serra Aguda, a serra da Remetedeira e lá em baixo, a BR-316, ao lado da barragem. Em muito breve será consolidado e desmembrado. A região ficará, então, como aquelas imensas periferias de Caruaru, apenas com aspecto de relevos diferentes. É longe do Centro, é. Mas será moderno, agradável, com clima de altitude e muito bom de se viver. O pequeno comércio, mas intensivo, das imediações do hospital, irá se estender para cima, fortalecendo e sendo fortalecido pela nova estrutura de avenidas, ruas e outras novidades nessa nova Santana.

É a Geografia Urbana falando muito alto!

ESTRUTURA PARA A IMAGEM DE SENHORA SANTANA. (FOTO: DIVULGAÇÃo/PREFEITURA).

  CARRO DO OVO´- MOTO DO LEITE Clerisvaldo B. Chagas, 22 de julho de 2025 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.273 (3271) ...

 

CARRO DO OVO´- MOTO DO LEITE

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de julho de 2025

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.273 (3271)

 



Refletir, pensar, meditar no cotidiano. Ser simples como as flores do campo. Levando-se em consideração o trabalho, é sempre motivo de elogio no Sertão à mulher batalhadora e ao homem trabalhador. E assim vejo e ouço o carro do ovo passar todos os dias úteis em nossa rua oferecendo seu produto. Chovendo, fazendo sol, o seu condutor e vendedor está quase sempre às mesmas horas no batente do dia a dia. Sim, não sabemos de procedimentos outros, pois o não conhecemos, mas o fato de todos os dias está na labuta e dando viagens longas à Pernambuco para se abastecer e continuar renhidamente o mister, só pode ser motivo de admiração, de louvor ao homem trabalhador. Mas, outro exemplo poderemos apresentar com a moto do leite.

Aquele homem magrinho já de idade avançada, todos os dias, às oito horas, buzinando à sua porta, trazendo leite bom e fresco à sua refeição, sem nenhum esforço da sua parte em procurar leite por aí. Louvo sim, ao homem trabalhador que acorda nesse inverno às quatro da madrugada e, com chuva gelada às costas, frio de matar, lama no curral, se desdobra para a hora de sempre, complementar seu café.  É ou não é digno de elogios e louvor? Acabo de ler trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo que termina na coincidência dos exemplos práticos acima. Produtos caros ou baratos, eles estão à sua porta todos os dias. Será que agradecemos a Deus a oferta de alimentos cotidianamente ou apenas olhamos o outro lado e achamos “chato” ambos os anúncios dos produtos?

Bem diz o filme: “Assim Caminha a Humanidade”. E a compreensão da vida, das coisas, dos momentos, da rotina, dos extraordinários, parecem fora da realidade de quem não busca. E uma luz suave, firme e perene não se afasta nunca daquele que entre tantas e tantas trilhas outras escolhe a do Mestre. Mas façamos por merecer a trilha, seus êxtases, seus amargos, sua água e seu pão, suas vitórias, seus gemidos, porque tudo tem selo de qualidade e valia. E você, que ainda é pedra bruta, não compreenderá, porém, busque o polimento e a pedra polida lhe dará a resposta. E se assim caminha a humanidade, quero caminhar com ela, mas quero seguros passos, caridade no sangue, amor no coração e a luz das montanhas para iluminar os passos seguros.

Meu Senhor e meu Deus, meu Senhor e meu Deus, meu Senhor e meu Deus...

REPRESENTAÇÃO DO CARRO DO OVO (IMAGEM: DIVULGAÇÃO).