HEROÍNAS
DO RIO
Clerisvaldo B. Chagas, 22 de abril de
2025
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica:
3.231
Às
pressas, tive que passar ferro em algumas camisas e logo veio o pensamento para
dona Antônia Lavadeira e Zefinha Engomadeira, personagens reais da minha
adolescência. As lavadeiras levavam as trouxas de roupas para o rio Ipanema e
lavavam à beira de cacimbas escavadas na areia. O sofrimento era está ali
debaixo do girau de madeira e pano a uma temperatura altíssima, no verão. E
mais sofrimento ainda, uma criatura ficar de cócoras o tempo todo, até manhã
inteira lavando, lavando, lavando para quem podia pagar pelos serviços. Durante
as cheias, não havia cacimbas, quando a água barrenta limpava um pouco – após
uns três do início da enchente – as lavadeiras usavam essa mesma água pela
margem do Panema.
Já
as engomadeiras – as que passavam ferro nas roupas – eram assim denominadas
porque vários tipos de tecidos levavam goma. Tinham também o sofrimento
continuado da quentura do ferro em brasa e ainda a curvatura do corpo nesse
mister, por horas e horas seguidas. Como adolescentes não tínhamos ainda essa
conscientização, mas o tempo aponta. Sabemos também que essas atividades como
são descritas acima, aconteciam em todas as regiões do nosso País, mas estamos
no referindo apenas a labuta das mulheres do Ipanema. Hoje, sumiram as cacimbas
e surgiram lavanderias coletivas em alguns bairros. A goma não existe mais para
aquela função. O ferro em brasa evoluiu para o ferro elétrico e, atualmente
para um aparelho a vapor.
O
romance inédito AREIA GROSSA, resgata a labuta dessas mulheres do rio. E vamos
caminhando para um tempo em que, já chegou, muitos tecidos não precisam mais de
passar, de engomar e de coisa parecida. Estamos aguardando agora, aquele tecido
de vestir pessoas que não seja mais preciso lavar. Nesse caso, se está
dispensada lavadeira e engomadeira, iremos dispensar também a valente máquina
de lavar. Economia, mulher! E assim prossegue a humanidade. Os mais velhos
viveram todas essas fases até agora, os mais novos, só sabem do passado
mediante pesquisas.
Sertão
fala.
Sertão
conta.
Sertão
contribui com a cultura brasileira.
LAVADEIRAS
DO SÃO FRANCISCO. (AUTOR NÃO IDENTIFICADO).
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