terça-feira, 15 de março de 2011

O VEI E A FIA

O VEI E A FIA
(Clerisvaldo B. Chagas, 16 de março de 2011).

       Em visita a caríssimo paciente no hospital geral Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, fomos conhecendo alguns setores possíveis, pelo menos de relance. É realmente admirável o que vamos observando nesse moderno hospital em Santana do Ipanema, próximo às faldas da serra Aguda. E dentro daquela rotina prevista pelos dirigentes, saímos colocando em prática o espírito de observação do pesquisador atento. Muitos acompanhantes dos seus doentes, ficam defronte a unidade, aguardando, conversando, desabafando. Assim aparecem inúmeras informações que vão sendo filtradas de acordo com o interesse de quem ouve ou faz perguntas. Surgem pessoas da região ribeirinha, do médio e alto Sertão, entrelaçam-se em conversas variadas, curtas ou compridas, que revelam as nuanças do dia a dia. A mulher da cidade de Delmiro Gouveia está sozinha e tem parto de risco. O cidadão de Pão de Açúcar veio visitar o pai. A moça de Jacaré dos Homens tem problemas respiratórios. O tema varia para transporte, chuva, calor, política, dinheiro. Complementam-se as informações nos pequenos negócios criados ali bem perto. É o mercadinho, a sorveteria, a lanchonete onde se houve muitos desabafos sobre o aumento exorbitante do transporte de moto. De dois reais para três e três meio, dizem que os motos taxistas estão aproveitando a falta de coletivo.
       Deixamos um pouco essa feira discreta para descansar a vista. O cenário deslumbrante de morros que circundam a urbe. Os destaques de pontos longe na cidade, como as duas igrejas paroquiais, o acender das luzes pelo centro, pelos bairros, atestam uma visão nobre, bela e analítica para geógrafos, poetas e românticos em geral.
       Estando embevecido com os arredores, inclusive com o vermelhão do terreno defronte, onde serão erguidas as instalações da Universidade Federal de Alagoas, uma voz chama atenção. É de certa mulher morena e jovem que procura apressar a subida de um idoso em cadeira de roda, para a ambulância. O idoso, calvo de voz baixa, parece não aguentar a implicância da mulher que fala alto, abusada e ameaçadora. Imaginem a mundiça! Aqueles horrores que chamam atenção de todo mundo. A dona nem parece estar rodeada de gente. Ficamos na expectativa de fazer respeitar o direito do idoso. Alguém pensa ir ali e meter-se na arenga. Outro deseja enxugar a munheca no pé do ouvido da mulher. Alguém pede calma e diz que se a coisa esquentar telefona para a polícia. A mulher insiste; o idoso responde com firmeza; a plateia gosta da reação. Cada um ali vai perguntando quem serão aquelas pessoas. Um diz que a mulher deve ser amásia do senhor, pelo dinheiro. Outra acha que devem ser parentes. E assim cada qual vai formulando opinião. Cessado o barulho, um cabra curioso, bem vestido, habitante da área rural, vai lá discretamente, investiga e ─ dando título à crônica de hoje ─ lasca o veredito: É O VEI E A FIA.


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CASA DE ENFORCADO

CASA DE ENFORCADO
(Clerisvaldo B. Chagas, 15 de março de 2011).

       O mundo em notícia vai-se dividindo entre o Japão e a Líbia. Em relação ao país asiático, a parte atingida pelo tsunami, repetida vezes pela mídia, mostra a paisagem como se fosse de um bombardeio aéreo de muitos dias. Esse cenário de horror não fica restrito, porém, a área em que ocorreu o fato. O Japão, afetado como um todo vai sofrendo as consequências pós-onda gigante. Além do amontoado de entulhos, os corpos encontrados nos mais inusitados lugares, representam uma espécie de sina comparativa às hecatombes da Segunda Grande Guerra. Os sobreviventes contemplam em redor como se tivessem sido jogados de repente no inferno. Como fica o psicológico de uma pessoa que passa por um choque radical dessa natureza? Além do trauma central, vem o frio, a falta d’água, a fome e a incerteza. Para completar o quadro dantesco, surge o escapamento radioativo que ameaça não somente o país, mas a vizinhança do arquipélago japonês. Péssima hora para algumas nações falarem a favor de continuados programas nucleares, como Brasil, por exemplo.
       Enquanto isso o povo líbio continua sua luta armada contra um homem que prefere derramar o sangue dos seus irmãos, a deixar o poder. Pelo menos nesse caso da Líbia, o ditador mostra-se pior do que o ex-colega do Egito, também apegado à posição de poderoso. O hábito pode não fazer o monge, mas o indivíduo que dirige um país há trinta anos, acha sim que aquele território lhe pertence. É assim que acontece em menor escala em grande parte dos municípios brasileiros. Mesmo com todas as garantias constitucionais e votado por um período de quatro anos, o reizinho, na sua individualidade, esquece que é apenas o gerente, o empregado do povo, partindo para as estratégias que assegurem a sua permanência no pote de mel. Esses acontecimentos no Japão e no Oriente Médio podem até não ser o início do final dos tempos, mas é o flagrante, o âmago de mudanças históricas que ainda irão se definir. Na Ásia Seca, mesmo que esse novo tsunami das multidões descansem por algum tempo, já foi suficiente para mostrar que essa marcha não retrocederá. Acusamos uma grande lição para os países europeus e os Estados Unidos, que dessa vez aguardam às resoluções da ONU. Ninguém quer se aventurar por conta própria com uma invasão militar em terras líbias. Já? Já aprenderam? Também, depois de Vietnã, Afeganistão e Iraque, só os brocos não aprendem.
       Nesse ínterim, o nosso ex-presidente, não tendo muito que fazer, vai circulando pelo Oriente, ganhando seu “cachezinho”, falando para uma plateia saudosista das suas atuações. Prega a democracia numa região repleta de ditadores. E lá no meio daqueles lobos todos, Lula vai magoando a ferida como pode, aplicando arriscadas lições sobre corda em CASA DE ENFORCADO.


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