quarta-feira, 30 de junho de 2021

 

SEU JULHO

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de julho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.565


Chegou o Seu Julho, mês mais frio e chuvoso do nosso outono/inverno. E quando dissemos nosso, falamos do sertão de Alagoas. Julho é o mês de festa da Padroeira de Santana do Ipanema, a maior festa religiosa do interior do estado. Tradicionalmente é aberta com procissão de mais de 1.500 carros de boi que conduzem a santa de uma cidade circunvizinha até à sua paróquia, onde, geralmente é celebrada a missa no Largo Cônego Bulhões, ao ar livre. Mas também, para os amantes do tema, é o mês comemorativo do fim do cangaço nordestino, correspondente ao dia 28. E voltando à festa da Padroeira, sempre existe uma trégua da chuva no dia de abertura, quando multidão se desloca do campo para procissão rodando em carros de boi.

Já se foi aquela festa à moda antiga, um frio intenso, todos de japona (casaco de frio de moda importada), desafiando a “cruviana”, para lá e para cá por entre barracas e peças do parque de diversão. Músicas no alto falante enviadas como mensagem para namorados, namoradas e paqueras. Fileiras de bancas de jogos de dados, provocando a matutada. Carro de fogo no arame da praça, desenrolar de imagem da padroeira no poste, Passeio nos barcos, no curre, na onda, no carrossel de patinhas, na roda gigante. Balão colorido cortando os ares e banda de música abrilhantando tudo. Forró no mercado, bancas de jantares, leilão de produtos diversos, repentistas nos bares, bebidas para os apreciadores no entorno das brincadeiras.

Nave lotada, cada noite um pregador, apresentações religiosas, pessoas descalças pagando promessas, presença do bispo na última noite do novenário e procissão final interminável! Era essa a Festa da Padroeira da nossa cidade que, igualmente a outras do mundo inteiro, foi variando com o tempo, cai aqui, melhora ali, mas a devoção e a fé continuam inabaláveis na avó do Cristo que chegou por aqui na Ribeira do Panema em 1787. Mês de julho é tão esperado quanto o seu irmão junho. Além do que já foi dito, é a consolidação da safra anual do campo.  O que passa de julho é rebarba e muitas produções da zona rural já foram perdidas por causa da frieza do mês de agosto em outras ocasiões.

O mês 7 é um número místico, o maior de todos. Recebeu o nome de julho, em homenagem a Júlio César. Deus no comando.

TRABALHO CONSTANTE NAS RUA (B. CHAGAS).


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terça-feira, 29 de junho de 2021

 

ADEUS JUNHO

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.565

 

Chegamos ao final do mês tão querido de junho. Mês de um significado especial para os sertões nordestinos. Podemos afirmar que foram dois meses seguidos de clima bastante agradável para a zona rural detentora da nossa alimentação. Tanto maio, o mês de Maria foi um presente para o campo, quanto junho que soube temperar bem a parte de inverno que lhe cabia. Mesmo com os poucos festejos presenciais, eles não morrem por aí porque o inverno prossegue e a produção do campo se consolida. Tá certo que as comemorações foram acanhadas, porém, não poderia ter sido de outra maneira. Milhares perderam seus entes queridos pela COVID, deixando o respeito aos que partiram em primeiro lugar. Mas que a Natureza foi generosa com o campo, foi. Bem, pelo menos aqui no sertão das Alagoas.

Na parte social houve muitas realizações boas por parte do governo estadual, mas também inúmeras coisas lamentáveis, cuja Pandemia não é desculpa consistente. Assassinatos diversos em várias regiões do estado, assaltos sem conta na zona rural Sertaneja e também Agrestina, intensificação de estupros, principalmente tendo padrastos como protagonistas. Muitas dessas coisas péssimas têm a droga como causas, porém a própria índole do indivíduo se sobrepõe a droga que atingiu a zona rural com intensidade em todos os rincões. Infelizmente não existe mais aquele famigerado sossego do campo como se falava antigamente. A praga da droga antecedeu a praga da COVID 19. Vagar sozinho pelos campos é novo sinal de heroísmo.

Porém, nada tira o mérito tradicional de mês de junho, nada. Se você não comeu pamonha, canjica ou milho assado, pode aguardar o mês de julho que ainda vem por aí bastante produção da roça para as feiras da Agricultura Familiar e mesmo o despejo do milho em pontos conhecidos da sua cidade. Difícil está a avaliação do preço desses produtos, cremos, porém, que com a chegada de novas safras, o desejo de todos os consumidores será saciado.

Ontem, apesar da proibição, muitos fogos cruzaram os ares de Santana do Ipanema, principalmente na periferia. Foguetes, busca-pés e bombas de pouco impacto, comemoraram os últimos dias de junho, com São Pedro. Sentido Adeus Junho.

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SÃO PEDRO (DIVULGAÇÃO GLOBO).

 

 

 


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segunda-feira, 28 de junho de 2021

 

SECA BRABA

Clerisvaldo B, Chagas, 29 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.564

 

Em 1970 o sertão enfrentava uma das maiores secas já vistas por aqui. Era início de gestão do Dr. Henaldo Bulhões Barros, que recebeu esse impacto desolador. Lembramos que, mesmo nesse ano de seca braba, inúmeras carretas do Rio Grande do Sul e de outros estados, estacionavam lotadas de feijão, na Praça Manoel Rodrigues da Rocha. O vento soprava quente, caíam alguns grãos no calçamento, o que era avidamente catados por mulheres famintas, vítimas da rigorosa estiagem. As carretas vinham comprar feijão em Santana do Ipanema e Riacho Grande (Senador Rui Palmeira, os dois grandes produtores regionais. Mas como explicar tanto feijão em plena seca?

É que a década de 60 tivera uma sucessão de bons invernos até 1969 que parecia nunca ter existido seca alguma. A década estava tão boa que os criadores deixaram de plantar palma forrageira e passaram a plantar capim, muito mais ligeiro de corte. Foi a produção dessa década que assegurou o feijão estocado para a venda do ano 1970. Mesmo assim, o Dr. Henaldo Bulhões tratou de sinalizar e embelezar a cidade. O nosso teatro, fundado na época teve sua importante ajuda na estrutura física. Foi o Dr. Henaldo quem forneceu mão de obra de carpinteiro (Antônio d’Arca) e eletricista (José da COHAB) para montar a estrutura no auditório do Ginásio Santana. Comandado por Albertina Agra e Clerisvaldo B. Chagas, surgiu assim o 40 teatro de Santana do Ipanema, Teatro de Amadores Augusto Almeida, com 16 componentes, daí a equipe ter sido chamada Equipe XVI. Um sol muito bonito representava a luz da cultura na sociedade.

E vamos comparando as dificuldades da época com as facilidades administrativas de hoje, onde não faltam verbas para os diversos empreendimentos das gestões municipais. Porém, mesmo com o massacre da seca de 70, foi possível vermos a transformação da cidade, provando que não têm mais desculpas quando o gestor quer trabalhar. Foi assim que Santana passou a ter inúmeras placas indicativas aos lugares como museu, biblioteca, Câmara de Vereadores, saídas da cidade e ainda lixeiras distribuídas na posteação e campanha de limpeza.  Esperamos nunca mais termos que enfrentar seca braba, embora a estrutura da resistência esteja muito mais consolidada. Maravilha de mês de junho!

ASPECTO DA SECA NORDESINA (FOTO:  g1.globo.com).

 

 

 


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domingo, 27 de junho de 2021

 

SÃO PEDRO

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.563




 

Pedro completa a trilogia dos santos “nordestinos”: Santo Antônio, São João, São Pedro. Tem muito prestígio no semiárido onde recebe pedidos e agradecimentos todos os dias. Seu nome está presente em milhares de indivíduos no Brasil, em estabelecimentos comerciais, bairros, praças, sítios, fazendas e produtos da indústria.  Durante o mês de junho ganha prestígio dobrado do sertanejo religioso que implora e agradece pelas chuvas benfazejas. Conforme a cidade nordestina, um dos três santos se destaca mais do que os outros em seu festejo, contudo, ninguém vai medir o amor e a fé do indivíduo que tem o seu guia espiritual predileto. Todo o sertão alagoano encerra as comemorações juninas com a fogueira e as homenagens ao porteiro do céu.

“São Pedro nasceu na Betsaida, na Galileia. Filho de Jonas e irmão do apóstolo André, seu nome de nascimento era Simão (ou Simeão). Pedro era pescador e trabalhava com o irmão e o pai. Quando se encontrou com o Cristo, Pedro morava em Cafarnaum, com a família da sua mulher”.

Em Santana do Ipanema, São Pedro é nome de Bairro, nome de igreja, de praça e de rua. O Bairro São Pedro é tranquilo e sempre foi bom para moradia. É rico em história e, ultimamente ganhou reforma na sua praça e asfalto com ligação para o Comércio, direto para a BR-316 e para o subúrbio Maniçoba/Bebedouro. O famoso e tradicional ‘pãozinho de Santo Antônio”, é sempre distribuído na sua igreja (igreja de São Pedro).

Devido a pandemia, é proibida a festa em Alagoas, mas um ou outro desavisado manda foguete e bomba nos arredores da cidade. Vamos nos contentando apenas com as comidas típicas que estão vetadas ao consumo e, um forrozinho eletrônico no cantinho da casa. Agora que vai terminando o mês, intensifica-se a produção do milho, vendido na “rua” pelo preço das alturas de foguetes e balões. Viva São Pedro! Viva o porteiro do céu!!!

IGREJA DE SÃO PEDRO (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

 

 

 


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quinta-feira, 24 de junho de 2021

 

A PRAÇA DO ORMINDO

Clerisvaldo B. Chagas. 25 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.562


 A demolição da Pracinha Siqueira Campos, defronte a Escola Estadual Ormindo Barros, surpreendeu a todos. Situada no Bairro Camoxinga, foi construída no mesmo período da escola de nome Grupo Ormindo Barros, inaugurado em 10.05.1964. O trânsito na área é intenso, a pracinha é bem estreita e comprida dividindo a rua também Siqueira Campos em mão e contramão. As sucessivas árvores ali plantadas era seu grande patrimônio que dava o tom especial a quem da praça precisasse e para os passantes que descansavam as pernas sob elas, após a subida da ladeira no sentido Comércio – Bairro Camoxinga. A priori, a Pracinha Siqueira Campos foi inaugurada no período 1966-70, na segunda gestão do prefeito Adeildo Nepomuceno Marques.

Todavia, a demolição é para uma reforma planejada a fim de modernizá-la e proporcionar melhor conforto à população e usuários do logradouro, em especial aos que fazem a escola de tradição Ormindo Barros. A pracinha Siqueira Campos, precede à Rua Pedro Brandão, principal corredor de entrada-saída para o alto sertão. Transformada totalmente em comércio, o trânsito tem sido de tal intensidade que expulsou as residências. Os últimos moradores já estão partindo para outra área de morada devido ao estresse do trânsito, carros de som e muito mais o que torna a rua inviável para moradia. A rua precisa de mais becos para desafogar o ruge-ruge dos veículos e das motos do mundo todo. Mas nesse caso, a pracinha, mesmo estreita e comprida no meio da rua Siqueira Campos, é um fator de refrigério do trecho.

Esperamos que a prefeita Christiane Bulhões tenha êxito em mais essa empreitada e não ocupe o pouco espaço do logradouro com barracas e mais barracas que empurram o pedestre para o trânsito louco. Temos certeza que a pracinha Siqueira Campos, modernizada, poderá proporcionar bons momentos de lazer, descanso e bem estar aos seus frequentadores, admiradores e fãs. Quantos namoros iniciaram por ali e terminaram em casamento! Apesar de discreta, a pracinha é viva e querida. Vamos aguardar para ver o desfecho da roupagem nova.

A praça é nossa!

A praça é do povo!

Viva a Praça!...

PRAÇA SIQUEIRA CAMPOS, NORMAL Livro 230/B. CHAGAS).

PRAÇA DEMOLIDA PARA REFORMA (FOTOS: IRENE CHAGAS).

 


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quarta-feira, 23 de junho de 2021

 

CHEGOU! CHEGOU!

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.559



O governador prometeu e agiu com rapidez. Tanto é que para muitos foi uma surpresa e tanta, uma vez que já estávamos, semana passada, sendo informados de que a sinalização da via asfáltica Carneiros – Santana do Ipanema, estava sendo providenciada. Os sites noticiosos calaram o andamento da obra e, de repente a surpreendente notícia: o homem já havia concluído o trabalho, enquanto muitos jornais cochilavam. O município de Carneiros, satélite de Santana do Ipanema e desta desmembrado, há muito aguardava o asfalto para sua antiga sede, pelo menos até a AL-120, bem perto de Santana. A falta do asfalto dificultava a integração entre ambos os municípios, até que o que parecia impossível aconteceu. Agora totalmente integrados Santana e Carneiros, ligados sem rodeio, diretamente, irão ganhar um intercâmbio nunca visto antes, sendo muito mais comércio para Santana e um sem número de prestação de serviços para Carneiros.

A rodovia dessa integração, beneficia inúmeros sítios rurais como Olho d’Água da Cruz, Divisão e Alto d’Ema. O primeiro em Carneiros, o segundo na divisa entre os municípios – daí o nome Divisão, terra do saudoso e famoso repentista, Zezinho da Divisão – e o Alto d’Ema, já em território santanense, é área de terras das nossas origens, dos Chagas. O asfalto cobre a rodagem antiga entre os dois municípios e, vindo de Carneiros, sai na AL-120, ao lado do conhecido “Fazendas Bar”, bem perto do acesso a Olivença. Uma grandiosa vitória sertaneja, sem nenhuma sombra de dúvidas. E, melhor ainda, Carneiros também será ligado por asfalto a Senador Rui Palmeira pelo mesmo roteiro. Santana, então ganhará outro município para seus inúmeros relacionamentos, uma vez que para ali chegar tem que ser através de grande arrodeio ou por estrada de terra. Alcançando ambos os municípios como se diz por aqui: por dentro, será novo porvir. Portanto, para ir a Carneiros e Senador, será apenas um pulo e pela mesma estrada.

Os produtos do campo chegarão rapidamente às cidades, aos povoados, mercados, feiras e mercadinhos como o leite, o queijo, os cereais e as hortaliças. Hospitais, escolas, bancos, todos receberão pessoas com mais rapidez, assim como o comércio e serviços em geral. E finalmente, lá onde o novo asfalto desemboca na AL-120, provavelmente triplicará os encontros domingueiros nos bares e restaurantes rurais, típicos e convidativos do Alto d’Ema, Barriguda, São Bartolomeu e Moita dos Nobres.

Haja cerveja gelada e galinha de capoeira, comadre!...

CARNEIROS (FOTO: carneiros.al.leg.br).

 

 

 

 

 


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terça-feira, 22 de junho de 2021

 

SÃO JOÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.560

 

O melhor São João de Santana do Ipanema era na Rua Antônio Tavares. Desde à Cadeia Velha até encostar na Rua São Pedro era um corredor de fogo só. Seu Manezinho Chagas, sempre foi o primeiro da rua a tocar fogo na fogueira. O senhor José Urbano, o último a acender e deixá-la cerca de três dias fumaceando com um toco gigante. Dona Florzinha, sua esposa, entre outras coisas, fazia o quentão, bebida tradicional dos nosso ancestrais. À noite inteira na rua, bombas, chuvinhas, peido de véia, traques, peito de moça, diabinhos, rojões, busca-pés, foguetes e, de vez em quando, um balão cortava o espaço. Nós, os adolescentes, lançávamos, escondidos dos nossos pais, bombas de parede que explodiam na chapada de calçada alta da casa do então, padre Alberto Pereira, defronte a nossa.

A partir da meia-noite, ouvíamos estrondos terríveis; pareciam “bombas atômicas”, soltadas somente no leito seco do rio Ipanema, lá longe. No extremo da rua, imediações da casa da professora Adercina Limeira, mestre Eloy foi a grande atração da quadrilha, era ele quem gritava à dança. Após sua passagem, foi substituído pelo filho Walter, conhecido como Walter da Geladeira, devido seus consertos. Forrós de verdade não os conheci nessa rua. A véspera do São João era marcada por adivinhações, rosto d’água na bacia, faca na bananeira e ensaio para comadre e compadre de São João. Esfriada as cinzas das fogueiras, estas eram esfregadas nas pernas de crianças novas para andarem logo e reforço para a saúde das pernas de crianças já grandinhas e adolescentes. Bonito também e nostálgico era quando as fogueiras quase todas apagavam as chamas deixando apenas tufos de fumaça nos montículos de brasas.

O asfalto não suporta fogo e acabou a tradição da fogueira, juntamente com novas exigências ambientais. Quanto às quadrilhas juninas, o forró pé de serra, o coco-de-roda... Levaram uma carreira grande da COVID 19, este ano. Fazer o quê? Vamos ficar somente com a lembrança da voz poderosa de Gonzaga: “O fole roncou...”.

Melhor São João de faz de conta de que morte no São João.

Saudade...

Fui.

RUA ANTÕNIO TAVARES MODERNIZADA (B. CHAGAS/LIVRO 230).

 


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segunda-feira, 21 de junho de 2021

 

RIBEIRA DO PANEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.559

 

Hoje tem início o inverno na região alagoana. Olho o tempo nublado e faço as minhas contas. Estamos dentro dos quarenta anos da publicação do meu primeiro livro e romance Ribeira do Panema. Não tínhamos gráfica e nem editora e o livro foi impresso pela Tipografia Nordeste, pertencente ao Senhor Cajueiro, à Rua Antônio Tavares. Dei o motivo da capa ao amigo radialista e desenhista Adeilson Dantas. Quanto à capa em si, não houve verniz, não houve brilho e, a tinta preta, representando a noite com a silhueta de um vaqueiro à luz da lua, teve alguma dificuldade com o tempo. A mesma tipografia imprimia após, o nosso conto: Carnaval do Lobisomem. A apresentação do romance ficou a cargo do escritor palmeirense, saudoso Luiz B. Torres. E o Carnaval do Lobisomem, teve a apresentação do meu diretor do Ginásio Santana Adelson Isaac de Miranda. A apresentação tem o nome de Ladainha e dizia:

Santana está fincada no Sertão. É amiga íntima do rio Ipanema. Rio das venetas. Manhoso. Tão manhoso quanto burro de cachaceiro. Nunca deixou, no entanto, ninguém morrer de sede. Isso não. Permite que lhes rasguem o estômago para sugarem o precioso líquido. Dar muita liberdade. Quem conheceu esse coiteiro do São Francisco, é testemunha. Nas suas imediações, urrava a onça-de-bode. Ainda hoje as rolas-brancas dormem nas suas margens.  A acauã continua chamando a seca na serra do Cruzeiro. Algumas velhas, de cachimbo nos beiços, ainda fazem renda e contemplam o seu corpo cinza. Ali perto, na Rua do Sebo, os meninos ainda brin- cam de pinhão e ximbra. As mesmas estórias do papa-figo são recontadas de avós a netos. Cancão de fogo e João Grilo ainda são heróis. Mesmo o famoso, adorado e assassino poço dos Homens, continua ali comendo gente. O Panema tem imã.  Chama o carreiro, o botador d’água, o tangerino, o almocreve, o vaqueiro, o retirante, o boiadeiro... Conquista a todos com sua água grossa. Mas, às vezes fazem raiva ao Panema. Ele se dana, empesta-se. Aí é quando se faz de macho. Bebe ódio em Pesqueira e se vinga das afrontas. Negro come o diabo! Panema dá cabeçadas, rabos-de arraia, soquetes, leva tudo no peito. Na raça. Baraúnas são arrancadas, cercas são destruídas, casebres são diluídos. E o rio velho de guerra, arrotando valentia, tórax estufado, convida os riachos para o seu cordão. Só depois de saciada a vingança volta ao normal. Peito lavado. Começa a minguar. Fica manso de novo. Entrega o pescoço à canga.

Quem vê “a lua se banhando nas águas sujas do Poço dos Homens”, começa a recordar... Recordar... Também nasci na Rua do Sebo. Também sei contar histórias do meu povo. Por favor, cruze as pernas nessa esteira-de-caboclo.   O Autor.

PRIMEIRO LIVRO E ROMANCE (AUTOR)

 


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domingo, 20 de junho de 2021

 

INVERNO

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.558

 

Finalmente chegou o inverno para a nossa região. Após um outono rico intercalando sol e chuva, a estação das águas encorpadas anuncia boas esperanças para o sertanejo. Mesmo em tempo de pandemia, o povo vai engrossando as feiras e, os produtos ainda frescos vindos do campo, fazem sucesso na cidade. Não deixamos, porém, de destacar o milho, muito procurado neste mês de junho e que não deve faltar nem na tapera do pobre nem na mansão do rico. O milho é uma unanimidade nordestina e o seu gosto se derrama por humanos e animais. Isso nos faz lembrar a saudosa “irmã” holandesa Letícia (Colégio Sagrada Família) bebendo café sem açúcar e dizendo que na Holanda o milho é somente para ração animal. E ela mesmo comprovava as delícias eleboradas com o produto.

O mato verde, os matizes da tela da Natura, o cheiro gostoso do mato, a chuva cortando devagar à noite inteira e o orvalho estilizado das manhãs são bênçãos divinais que grudam na alma sertaneja. À noite, a frieza aperta pelos lugares de altitude, o camponês cerra às portas logo cedo e fica a escutar tomando seu café quente, os ruídos das aves que povoam às trevas, o soprar do vento gelado nas árvores da redondeza. O cachorro dorme encolhido, o gato procura à beira do fogão, a cabocla sertaneja esquenta a cama e o dono da casa procura o calor abençoado da costela. No aproximar do arrebol, o galo pula para a estaca mais grossa, estica o pescoço e abre a garganta anunciando a dia. O cheiroso cuscuz fumega à mesa e o aroma do café coado desperta os arredores.

Ontem à noite, último dia de outono, foi dia chuvoso e devagar, porém, ao anoitecer, o tempo lembrou-se de caprichar na entrega da próxima estação. Um pé-d’água daqueles gigantes fez rios nas biqueiras, nos telhados, nas sarjetas das ruas de Santana do Ipanema, no Médio Sertão Alagoano. Provavelmente o benefício divino deve ter atingidos o geral da região. Lá dentro das 20.30 horas, a faca enorme do tempo cortou a chuva de vez e um silêncio molhado invadiu o mundo. “Preste atenção, compadre, que o tempo não está de confiança”.  E olhe que ainda faltam a roqueira de São João e o olear da chave titã de São Pedro, o porteiro do céu.

Um cafezinho vai bem, não é, minha amiga.

Fartura no Sertão e Deus nos comando.

 


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quinta-feira, 17 de junho de 2021

 

HISTOREANDO

Clerisvaldo B. Chagas, 18 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.557


Foi o prefeito Hélio Rocha Cabral de Vasconcelos, gestão 1966-99, que, entre outras coisas importantes, construiu uma pracinha na entrada da cidade para quem vinha de Maceió. Na época, era ali na vizinhança da atual Caixa Econômica o final ou o início do Bairro Monumento. O prefeito fez erguer o logradouro elevado com acesso em degraus, ajardinou o local com motivos da flora da caatinga, colocou um mapa triangular de granito em pedestal onde estava escrito as Coordenadas Geográficas de Santana do Ipanema. A praça era pequena, mas bem feita e aconchegante e que recebeu o título de PRAÇA DAS COORDENADAS. Vizinho à praça, havia o Posto Esso de gasolina, parece que na época, único da cidade, pertencente ao senhor Everaldo Noya que chegou a vereador na urbe.

Foi nessa Praça das Coordenadas onde o, então, prefeito Adeildo Nepomuceno Marques mandou erguer em uma das suas gestões, a estátua em homenagem ao jumento e ao botador d’água. A referida estátua foi encomendada ao escultor Lisboa da cidade de Pão de Açúcar. Constava de jumento, cabresto, cangalha e as quatro ancoretas tradicionais. O botador d’água, calça arregaçada, conduzia à mão um cipó de tanger o jumento. A polêmica sobre a estátua dividiu a cidade e recebeu oposição ferrenha do vereador Everaldo Noya. O monumento ao jegue chegou às páginas da maior revista do Brasil, “O Cruzeiro”, pela reportagem do jornalista santanense Tobias Granja e também foi polêmica no Brasil. Vale salientar que a praça foi demolida quase no final do século XX e o jegue transferido para pedestal defronte à Rodoviária, onde hoje se encontra.

O local da citada pracinha, atualmente é somente um redondo de chão batido que facilita o trânsito em vários sentidos na entrada da Avenida Arsênio Moreira. O monumento ao jegue tem recebido a metade do mundo em turistas nas festas de Santana. Quanto à Praça das Coordenadas, pesquisadores ainda não sabem onde foi parar o pequeno mapa de granito de Alagoas, com as coordenadas de Santana do Ipanema. Pelo menos, em nossa última visita ao Museu Darras Noya ela ali não se encontrava.

Quem tem àquelas páginas da revista O Cruzeiro, tem um bom acervo da história do jegue santanense. Quanto às praças, são esses logradouros públicos que ajudam a democratizar o espaço. Castro Alves já dizia: “A praça é do povo como o céu é do condor”.

PRAÇA DA COORDENADAS JÁ NOS SEUS EXTERTORES. (FOTO: LIVRO 230/DOMÍNIO PÚBLICO).


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quarta-feira, 16 de junho de 2021

 

OS BOIS E OS CARROS

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.556

 

No início da segunda metade do século XX, já havia bastante caminhões, camionetas e automóveis no Sertão das Alagoas. Inclusive o automóvel táxi, chamado na época de “carro de praça” ou “carro de aluguel”. O condutor tinha o nome de “motorista de praça” ou chofer de praça. Gostava de usar boné. E o povo, que nada deixa passar, dizia: “cabra de boné ou é corno ou chofer!”. Os mais antigos motoristas de praça que conhecemos foi o senhor Mestre Abel Mecânico e seus filhos, além dos senhores conhecidos como Zé V8 e Dota (Leopoldo). Mesmo assim, os carreiros do Sertão continuavam ainda muito fortes na atividade com os carros de boi. A convivência entre o motor e o animal, nunca foi obstáculo. Em Santana do Ipanema, os carros de boi vindos da zona rural, tinham como final de linha o poço do Juá, no rio Ipanema quando seco ou com pouca água.

O carro de boi trazia a produção do campo como o milho, feijão, algodão, queijos, suínos, galináceos e muito mais, descarregava no Juá, alimentava os bovinos com ração de palma forrageira conduzida no próprio carro, enquanto despachava a mercadoria e aguardava os produtos da feira e dos armazéns para levá-los ao campo. Alguns carreiros, arriscavam a entrada na feira aos sábados para apanhar mercadorias pesadas como tonéis e latas de querosene, arame farpado, ferramentas, móveis, tecidos, pequenos animais e produção das fabriquetas da cidade. Em tempos de cheias, a espera acontecia na margem direita do rio e os canoeiros do Juá se encarregavam do vai e vem do comércio sobre as águas.

Na gestão municipal 1961-1964, o prefeito Ulisses Silva arrancou o calçamento bruto do tempo de vila e o substituiu por paralelepípedos, pedras quadriculadas e pequenas. Isso no quadro comercial da cidade. Os carreiros foram proibidos de circularem com seus carros de rodas com aros de ferro, no centro de Santana. Logo alguns carreiros passaram a usar rodas de pneus à semelhança das carroças que assim já procediam.  O golpe foi tão grande que a maioria dos carros de boi, desapareceram da cidade e Santana deixou de ser a “Terra dos carros de boi”. Nem aos sábados se encontra esse veículo de madeira em Santana, nem mesmo para uma simples foto. Entretanto, eles continuam  vivos na zona rural e surgem às centenas e milhares na procissão da padroeira e em vários desfiles em cidades circunvizinhas como Inhapi, Olivença, Poço das Trincheiras e São José da Tapera, inclusive com carros de carneiros, bodes e jumentos.

Sertão é Sertão!

ESTACIONAMENTO DE CARRO DE BOI NO POÇO DO JUÁ, RIO IPANEMA. (FOTO: LIVRO SANTANA DO IPANEMA CONTA SUA HISTÓRIA).

 


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terça-feira, 15 de junho de 2021

 

CADÊ O FEIJÃO?

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.555

 

Para homenagear o homem do campo, o produtor rural, foi criada a Festa do Feijão, em Santana do Ipanema. Tinha a participação de todos os municípios sertanejos produtores daquela leguminosa. A ideia partiu do saudoso Dr. Adelson isaac de Miranda rotariano, clube ao qual a festa passou a pertencer. A I Festa do Feijão, aconteceu em 1971, com a iniciativa do Rotary Clube em convênio com a prefeitura local e apoio do grupo Gazeta de Alagoas. Pode-se dizer que a festa foi um sucesso retumbante que abalou o Brasil inteiro. É de se notar que o ano de 1970, representou um dos mais seco da história santanense. Na época produzíamos muito feijão, Santana do Ipanema e Senador Rui Palmeira, notadamente. Contamos com 18 municípios participantes no evento.

Carros alegóricos saiam em desfile mostrando cenas diárias do campo, muitos discursos no palanque oficial sobre a Sorveteria Pinguim, no Bairro Monumento, políticos do estado todo, governador, autoridades diversas no miolo da agitação festiva. Houve bailes, concursos de misses e uma euforia nunca vista na cidade. Atraídas pela propaganda no país inteiro, quase todos os estados estavam aqui representados. A Festa do Feijão chegou a ser comparada com a Festa da Uva, no Rio Grande do Sul, sendo considerada a segunda festa do gênero.

Contudo, ninguém pensaria que a Festa do Feijão pudesse chegar ao pedestal em que chegou. Salvo engano, apenas três edições foram realizadas, pois devido a grandeza atingida, não havia condições de suportar tanta gente. Parecia até que o Brasil inteiro estava em nossa cidade. Isso em um tempo em que não havia tantos hotéis assim! As casas de morada enchiam-se de hóspedes e até se falava em organizar acampamentos. Temos a impressão de que ninguém foi culpado pela extinção da festa. Mas fica a lição de que é possível a realização de um sonho. Ninguém esperava tanto êxito apenas em três edições da festa. Foi assim que o anúncio do seu final foi um baque surdo que fez emudecer o Sertão.

Ainda bem que nunca faltou no prato o feijão nosso de cada dia.

UM DOS ASPECTOS DA FESTA DO FEIJÃO (FOTOS: SANTANA CONTA A SUA HISTÓRIA, LIVRO).

 


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segunda-feira, 14 de junho de 2021

 

POÇO DOS HOMENS

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.554

 

Devido a pandemia não foi possível fazermos lançamentos relâmpagos do livro “Canoeiros do Ipanema”. Aguardamos melhores dias para sairmos com os Canoeiros às ruas, às aglomerações, palestrando juntos sobre essa fase da história santanense que estava completamente esquecida. Entretanto, para se adquirir rapidamente um exemplar os pontos de venda estão divididos em três lugares, em Santana do Ipanema: Espaço Cultural, livraria à Rua Nova; Hiper Mercado Nobre e Salão Gil Cabeleireira. A parte física da história é o poço do Juá, no rio Ipanema, onde os canoeiros transportavam pessoas e mercadorias para ambas as margens do rio, e escoavam a produção das inúmeras fabriquetas da época.  Entretanto, a fama de outro poço parecia não a acabar nunca. Trata-se do Poço dos Homens, localizado logo abaixo do poço do Juá.

Desde cedo ouvíamos falar que a primeira pessoa que morrera no poço dos Homens, fora um cidadão chamado Zé Belebebeu, também chamado Jabobeu. Assim o poço foi virando assassino profissional e até as últimas notícias, há bastante tempo, contava com cerca de vinte afogamentos mortais. Sempre se dizia por ali: “Cuidado que Jabobeu puxa nas suas pernas, para o fundo do poço, rapaz!”. E de vez em quando surgia a notícia de mais um afogamento no poço. Lembramos da notícia de um homem de apelido estranho que morrera em suas águas, chamado pelo povo de “Tinteiro”. Após o finado Tinteiro, os banhistas ficaram mais cautelosos, principalmente em relação à bebida, que provoca um torpor e o cabra morre dormindo nas águas.

A ponte sobre o Ipanema, em 1969, foi o grande impacto que tornou o poço dos Homens inviável. A ponte ficou a pouco metros do poço e o casario de ambas as margens se aproximaram mais do rio. Do, praticamente, nada surgiram os Bairros Domingos Acácio, Floresta e Rua Santa Quitéria que atualmente é chamada também de Bairro. A estrutura atual da margem direita do rio Ipanema, corresponde praticamente a um terço da cidade. Possui hospital, faculdades federais, hiper mercado e um comércio não tão profundo mais bastante movimentado. O poço dos Homens não tem mais volta, mas também continua lá, sem clientes. Existe a necessidade de outra ponte que ligue à Rua São Paulo ao alto das antigas olarias, rodagem Santana – Olho d’Água das Flores

O poço dos Homens não mata mais, porém, vez em quando pula da ponte ali pertinho, um suicida! Ave!

POÇO DOS HOMENS, ENTRE PEDRAS NA PARTE CENTRAL DA FOTO. (FOT. B. CHAGAS).

 

 

 

 

 


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domingo, 13 de junho de 2021

 

SANTO ANTONIO

Clerisvaldo B. Chagas, 14 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.553

 

 

Dia 13 é comemorado o Dia de Santo Antônio, conhecido como o Santo casamenteiro e padroeiro dos humildes, sendo um dos mais populares do Brasil e também o segundo com mais devotos no País. Santo com muita devoção, com muitos devotos no mundo todo. Aqui no Sertão alagoano, os três santos “nordestinos” sempre foram festejados com a grandeza do amor dos seus devotos. Todos os três santos tiveram grandeza nos seus festejos, entretanto o mais popular em termo de movimento, festas, fogueiras, danças, São João parecia ser o mais festejado, talvez pelo impacto do nome. As ruas de Santana do Ipanema ficavam completamente tomadas de fogueiras, bem assim em todas as cidades sertanejas.

Com o tempo, porém, pelo menos em nossa juventude, vimos aumentar gradativamente os festejos também a São Pedro e Santo Antônio. A devoção feminina a Santo Antônio está enraizada no folclore nordestino que se espalhou pelo País inteiro, principalmente quando se trata de arranjar casamento. Vimos muitas mães de família agradecendo ao Santo Casamenteiro, à felicidade de ter feito um bom matrimônio, após os pedidos nessa época do ano. As formas de pedidos de um marido a Santo Antônio, tem inúmeras fórmulas, cada qual mais curiosa de que as outras. Entretanto existe a forma normal do pedido baseado apenas na oração e na fé. Além disso, ainda tem vários tipos de adivinhações que são feitas na véspera. 

Tem experiências nas cinzas da fogueira, na bacia de rosto com água, com faca no tronco da bananeira e tantas outras que enriqueceram e enriquecem as tradições e as ideias de solteiras e casadas que procuram também melhorar o relacionamento. A respeito do assunto, ouvimos uma religiosa solteira dizer: “Eu mesmo não peço a Santo Antônio, pois Santo Antônio manda qualquer um”, e dizia abertamente o nome de outro santo a quem pedia marido. Dessa não sabíamos, morrendo e aprendendo como dizia Camões.

Feliz quem cultiva suas devoções e sempre está em sintonia com o Cosmo. Quer um bom marido, faça também a sua parte.

Com pandemia ou sem pandemia

Viva Santo Antônio!!!

SANTO ANTÔNIO (PINTEREST).


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quinta-feira, 10 de junho de 2021

 

CACHIMBANDO

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.552

 

Cachimbar é fumar cachimbo, certo? Tem pessoas que detestam cigarros industrializados, mas adoram, adoram mesmo fumar cachimbo com fumo de rolo. Pode ser o tipo de cachimbo preto que tem uma parte torta, mas também pode ser um cachimbo de coco catolé de pito reto e todo de madeira. Depois que o fumante pega o vício, ê, ê... Meu senhor...   A avó da minha esposa, Aurora, era uma velhinha animada, risonha igual criança e gostava de fumar cachimbo. Morreu aos 94 anos de idade. E assim, para uns o fumo é um mal, para outros, não. Lembramos que em nossa juventude, nas brincadeiras lúdicas, falavam-se muito em músicas de velha cachimbeira. Entretanto, estamos querendo falar do vício da própria Natureza. É possível isto?

Em tempos de outono/inverno, em nosso sertão fala-se que “a serra está cachimbando”. Será coisa que o sertanejo inventa ou faz comparações? Vejamos, em tempos chuvosos, quando estia um pouco, é costume se apresentar nas serras, a neblina. Com sapiência, diz o nosso matuto alagoano que se a neblina estiver desde a base da serra ao topo, a chuva continuará. E se a neblina tiver apenas da metade da serra para o cume, o tempo estiará com certeza. A serra está cachimbando. Em Santana do Ipanema, observamos mais esse fenômeno, na chamada serra do Poço que é uma serra que divide os municípios de Santana e Poço das Trincheiras, sendo metade de um, metade de outro. A serra do Poço possui 500 e poucos metros de altitude, não é a maior, porém, um das maiores e mais famosas da região.

Nesse momento está chovendo em nossa terra, provavelmente no sertão inteiro. Numa estiada qualquer, se olha para a serra. Mas nem todas as pessoas, apesar de sertanejas, sabem das experiências dos mais velhos. E por falar nisso, nunca mais se ouviu por aqui a ladainha eterna do caminhão-pipa. Um mês de junho rico para a lavoura e pecuária continua a obra de maio. Em vários lugares já existe fartura no campo, em outros já vem chegando... E assim a esperança do sertanejo se renova na Natureza, mesmo com essa pandemia que deixa toda a espécie humana em alerta.

E por falar nisso, Arapiraca voltou a produzir fumo. “O vício do cachimbo deixa a boca torta”, diz o ditado.

Mas a serra do Poço continuará cachimbando quando quiser cachimbar, independente das Arapiracas.

SERRA DO POÇO SEM CACIMBAR VISTA DA IMEDIAÇÕES DO CENTRO BÍBLICO. (FOTO: B. CHAGAS).


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A PAISAGEM NATURAL

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.551


 

Par quem gosta do tema meio ambiente, Olivier Dolfus fala que “em o espaço geográfico, as paisagens podem ser classificadas em três Grandes famílias, de acordo com as modalidades da intervenção humana: a paisagem natural, a paisagem modificada e as paisagens organizadas. Vamos abrir esse espaço para dissertamos a paisagem natural, ficando as duas outras para próximas ocasiões. Esse é o momento em que estamos vivendo os grandes pesadelos do desmatamento em todos os biomas brasileiros. Digamos nós quando andamos pela caatinga alagoana, presenciando o grande desmatamento que não tem mais retorno

A paisagem “natural” ou “virgem” constitui a expressão visível de um meio que, tanto quanto podemos saber, não foi submetido, pelo menos em data recente, à ação dos homens. Seus limites podem ser desde logo vislumbrados. Em nossa época, paisagens naturais são aquelas que não se inserem no oekumeno em sentido estrito. Trata-se de regiões inadeguadas, por razões climáticas, às atividades agrícolas ou à criação de gado: entre elas se incluem os terraços das montanhas muito elevadas e as regiões geladas das grandes latitudes, os desertos frios ou quentes, por vezes as extensões florestais ou pantanosas dos domínios tropicais.

Entretanto, encontram-se salpicadas de instalações destinadas a atividades precisas: bases científicas e estratégicas nas latitudes elevadas, minas nos desertos ou nas montanhas. O clima, a dificuldade das comunicações e o isolamento tornam muito mais onerosa a presença do homem moderno nesses ambientes poucos favoráveis. Nessa base, trata-se de reduzir o tempo de permanência dos habitantes, geralmente técnicos e especialistas altamente classificados. A instalação do homem em pontos situados nesses espaços vazios, pode contribuir para modificar localmente o meio, sem, entretanto, afetar o caráter geral do conjunto.

Essas são afirmações de Elian Alabi Lucci. Geografia Geral de Curso Médio. Editora Saraiva.

FOTO NATUREZA (ÂNGELO RODRIGUES).

 

 

 

 

 

 


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terça-feira, 8 de junho de 2021

 

NOVAMENTE A AVENIDA

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de junho de 202

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.550





Nem sei o porquê de os políticos gestores colocarem dois nomes na compridez de uma rua. Um trecho com um, outro trecho com outro nome. Em Santana do Ipanema, temos algumas dessas fuleragens: Rua Nilo Peçanha com Antônio Tavares, Rua Manoel Medeiros com Nair Amaral, Avenida Coronel Lucena com Arsênio Moreira. Seria cada trecho um voto a mais? Isso é prática antiga. Mas vamos ao que interessa. Falamos aqui sobre a transformação da outrora elitizada Avenida Coronel Lucena. Essa é a Avenida principal da cidade e vai desde o Centro Comercial até Praça Adelson Isaac de Miranda (antiga da Bandeira). Dali para a BR-316, imediações da Caixa Econômica, a mesma Avenida recebe a denominação de Arsênio Moreira. Nem sabemos se tem ou não tem o “Dr.”.

A transformação desse corredor de entrada e saída da cidade ficou registrado há pouco, porém, vendo duas fotos do escritor Fábio Campos aposentadas, sobre edifícios novos que estão sendo construídos nesse corredor, resolvemos voltar ao tema. Em um deles irá funcionar mais um banco que está chegando a Santana do Ipanema. É um exemplo do modernismo que tomou conta de ambos os trechos. Muitas luzes e muitos cristais ornamentando o que já era destaque, vão agigantando a avenida de dois nomes. O edifício do novo banco ocupa o lugar onde funcionava o Posto de Combustíveis J. Pinto, ao lado do Banco do Brasil. Do outro lado da rua, surge uma clínica de alto nível também com primeiro andar, vidraças e luzes. O terreno era ocupado pela residência do saudoso médico Dr. Clodolfo Rodrigues.

Assim temos a Sétima Avenida dos Estados Unidos em Santana. Brincadeira à parte, Entre o Centro Comercial propriamente dito, temos no corredor, Quatro Bancos, Colégios, Prefeitura, Biblioteca, posto de gasolina, um sem número de lojas, farmácias, igrejas, EMATER, Equatorial, laboratórios, praças e prestadoras de serviços outras que atraem todas as cidades satélites para Santana. As avenidas de nomes emendados brilham como nunca e, o trânsito intenso carece cada vez mais de estacionamento.

CLÍNICA E BANCO ORNAMENTAM A AVENIDA (CRÉDITO: FÁBIO CAMPOS).

 

 


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segunda-feira, 7 de junho de 2021

 

VIAJE BEM

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

 Crônica: 2.549


 

A Ordem de Serviço do governador para o início da duplicação do trecho de rodovia Arapiraca – Olho d’Água das Flores, deslumbra melhores dias para Agreste/Sertão. Na realidade, a duplicação total será de Maceió ao Alto Sertão de Delmiro Gouveia, extremo oeste das Alagoas. Para quem não conhece esse trajeto, podemos esmiunçar para entendermos a grandiosidade da obra.

Chegada à duplicação da rodovia Maceió – Arapiraca, esta continuará até o município de Delmiro Gouveia, assim: Arapiraca (Agreste) chegando ao Sertão através de Jaramataia, depois Major Izidoro (acesso) Batalha, Jacaré dos Homens, Monteirópolis e Olho d’Água das Flores. Daí pega o entroncamento que leva até São José da Tapera, outros acessos, até o novo entroncamento em Olho d’Água do Casado daí ao município de Delmiro Gouveia.

Também do entroncamento de Olho d’Água das Flores, pode, de um lado, se chegar a Palestina e Pão de Açúcar (sem duplicação) por outro lado, pode se chegar a mesma Delmiro Gouveia (sem duplicação) desse entroncamento via Santana do Ipanema, povoado Carié. Do entroncamento de Olho d’Água do Casado, pode-se chegar até Piranhas (sem duplicação).

Quanto a Santana do Ipanema, pouco mudará, em relação à capital. As duas antigas opções permanecerão válidas. Ida a Maceió via Palmeira dos Índios (a mais utilizada) ou via Arapiraca, menos utilizada. Pode até ser que a duplicação da segunda, estimule, mas talvez a tradição permaneça.

Ganharão com a pista dupla o turismo interiorano, bastante viciado ao litoral, a segurança dos viajantes, o escoamento da produção sertaneja, a melhora das cidades para o recebimento de turistas, como exemplos, a construção da orla de Pão de Açúcar e a inclusão de Santana do Ipanema no roteiro do Cangaço, novos empreendimentos aplicados na Bacia Leiteira, no Médio e Alto Sertão e no Sertão do São Francisco, entre outras coisas boas que chegam de repente sem ninguém esperar. Um bom momento para industrializar às margens do Canal do Sertão, a exemplo de Petrolina.

A fé continua viva.

A fé não pode morrer.

ARAPIRACA (FOTO: B.  CHAGAS).


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MARIA FUMAÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 7 de junho de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.548


Louvada a ideia de ressuscitar a Maria Fumaça, em Maceió. Os anais marcam a história dos trens em Alagoas, como uma das mais belas da nossa terra e que hoje implanta saudade dos áureos tempos que buscavam com denodo o progresso para todos. Os trens de Alagoas que nos primórdios competiam com o caminhão, transporte cargueiro de extrema valia numa época de burros, cavalos e carros de boi, também rodavam pelos sertões onde a Maria Fumaça ainda não chegara. Trem de Viçosa a Quebrangulo, de Quebrangulo a Palmeira dos Índios, de Palmeira dos Índios para o Agreste de Arapiraca rumo ao rio São Francisco na presença de Porto Real de Colégio. Uma saga impagável que entrou em romance de Graciliano Ramos, de Adalberon Cavalcante Lins e de Clerisvaldo B. Chagas (Deuses de Mandacaru e Fazenda Lajeado).

Fazer a velha máquina da Maria Fumaça rodar novamente em Maceió, pode atrair milhares de turistas, gente da história e curiosos em geral. Pelo menos em parte os episódios épicos poderão ser mostrados num simples passeio pela capital, sítios e usinas, antigos engenhos transformados. O que temos atualmente são as imagens de antigas estações acabadas pelo abandono ou transformadas e trilhos semienterrados no solo coberto de capinzal. Interessante é o vai-e-vem das coisas, acabaram com as ferrovias em troca pelo pneu e agora querem o “mói de ferro novamente no Brasil.

Sobre Alagoas, na época em que o trem de ferro descia de Quebrangulo para Palmeira dos Índios, houve um projeto para que a linha férrea chegasse até o Sertão de Santana do Ipanema, registro do escritor conterrâneo Oscar Silva. Suponhamos que o desinteresse político sertanejo, tenha dado asas a outras lideranças que conduziram a Maria Fumaça para o agreste de Arapiraca e ao baixo São Francisco com Porto Real de Colégio. Em Santana do Ipanema e Sertão, nem o cheiro de fumaça da Maria! Para que o trem em Santana, meu Deus! Para ser extinto em pouco tempo como o de Palmeira dos Índios que mantém a máquina em museu da cidade.

Em Santana do Ipanema, bastava as mungangas de um doido que havia nos tempos de Oscar. Ganhava uns trocados para imitar o trem, enchia o peito de ar, batia as “asas” e soltava um apito alto e forte da gota serena! Estava ali o trem sertanejo

MARIA FUMAÇA (FOTO: DIVULGAÇÃO).


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