RIBEIRA
DO PANEMA
Clerisvaldo
B. Chagas, 22 de junho de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.559
Hoje tem início o
inverno na região alagoana. Olho o tempo nublado e faço as minhas contas. Estamos
dentro dos quarenta anos da publicação do meu primeiro livro e romance Ribeira
do Panema. Não tínhamos gráfica e nem editora e o livro foi impresso pela
Tipografia Nordeste, pertencente ao Senhor Cajueiro, à Rua Antônio Tavares. Dei
o motivo da capa ao amigo radialista e desenhista Adeilson Dantas. Quanto à
capa em si, não houve verniz, não houve brilho e, a tinta preta, representando
a noite com a silhueta de um vaqueiro à luz da lua, teve alguma dificuldade com
o tempo. A mesma tipografia imprimia após, o nosso conto: Carnaval do Lobisomem.
A apresentação do romance ficou a cargo do escritor palmeirense, saudoso Luiz
B. Torres. E o Carnaval do Lobisomem, teve a apresentação do meu diretor do
Ginásio Santana Adelson Isaac de Miranda. A apresentação tem o nome de Ladainha
e dizia:
Santana está fincada no
Sertão. É amiga íntima do rio Ipanema. Rio das venetas. Manhoso. Tão manhoso
quanto burro de cachaceiro. Nunca deixou, no entanto, ninguém morrer de sede.
Isso não. Permite que lhes rasguem o estômago para sugarem o precioso líquido.
Dar muita liberdade. Quem conheceu esse coiteiro do São Francisco, é
testemunha. Nas suas imediações, urrava a onça-de-bode. Ainda hoje as
rolas-brancas dormem nas suas margens. A
acauã continua chamando a seca na serra do Cruzeiro. Algumas velhas, de cachimbo
nos beiços, ainda fazem renda e contemplam o seu corpo cinza. Ali perto, na Rua
do Sebo, os meninos ainda brin- cam de pinhão e ximbra. As mesmas estórias do
papa-figo são recontadas de avós a netos. Cancão de fogo e João Grilo ainda são
heróis. Mesmo o famoso, adorado e assassino poço dos Homens, continua ali
comendo gente. O Panema tem imã. Chama o
carreiro, o botador d’água, o tangerino, o almocreve, o vaqueiro, o retirante,
o boiadeiro... Conquista a todos com sua água grossa. Mas, às vezes fazem raiva
ao Panema. Ele se dana, empesta-se. Aí é quando se faz de macho. Bebe ódio em
Pesqueira e se vinga das afrontas. Negro come o diabo! Panema dá cabeçadas,
rabos-de arraia, soquetes, leva tudo no peito. Na raça. Baraúnas são
arrancadas, cercas são destruídas, casebres são diluídos. E o rio velho de
guerra, arrotando valentia, tórax estufado, convida os riachos para o seu
cordão. Só depois de saciada a vingança volta ao normal. Peito lavado. Começa a
minguar. Fica manso de novo. Entrega o pescoço à canga.
Quem vê “a lua se
banhando nas águas sujas do Poço dos Homens”, começa a recordar... Recordar...
Também nasci na Rua do Sebo. Também sei contar histórias do meu povo. Por
favor, cruze as pernas nessa esteira-de-caboclo. O Autor.
PRIMEIRO LIVRO E
ROMANCE (AUTOR)
Caro escritor! Trago comigo, muito desse romance, muito influenciou no que escrevi, na minha juventude, que escrevi. Enchi vários cadernos, espirais e brochuras. E hoje, tenho oportunidade de publicar num espaço semelhante a este. E ganham o mundo! ass: Fabio Campos
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