domingo, 31 de outubro de 2021

 

CARROSSEL

Clerisvaldo B, Chagas, 1 de novembro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.603




Termina o mês de outubro sem definir sua antiga posição no calendário anual. Primavera na agenda, inverno na aparência e verão na vontade escondida. Último domingo mesclado de incertezas, ora frio, ora pegando fogo, com ameaças de chuvas cujas nuvens não se resolvem, “carregação”, dizem os entendidos. Assim caminhamos para o Dia de Todos os Santos, sem definição, sem chuva, sem caminhão-pipa, sem olhar de futuro, mas ainda confiante nas forças divinas que estão sempre no coração e no bizaco do homem sertanejo. Céu azul, céu de cinza, céu carrancudo... O clima da terra vai se virando como pode e nós vamos buscando esperanças onde as esperanças são rechaçadas pelas ações humanas. Covid, Carestia, Gasolina, Violência, poluição,,,

Já vivi tempos assim quando a responsabilidade era pouca. Como criança, fui passando no Beco de Sebastião Jiló, primeira travessa da Rua Antônio Tavares pera o rio Ipanema quando um grupo de homens conversava espiando para o céu. Falava sobre o tempo abafado e sem chuva. O flandreleiro Zé Gancho que fazia bicas de flandres (zinco) ali pertinho, dizia que “no Ceará choveu foi muito!...”. Não sei se foi pela sua fala arrastada ou alguma coisa assim que este passante disse repentinamente: “Choveu bo....”. O artesão sentiu o baque e ficou dizendo palavras exasperadas. Mas o menino continuou o seu caminho, porque menino é menino e o saudoso Zé Gancho voltou à sua palestra. Ficava muito brabo ao ser chamado de Zé Gancho, cujo apelido nem sei o motivo.

Deve ter chovido mesmo no Ceará. Zé Gancho estava certo e preocupado com o tempo. Sertanejo só fala em chuva. É o núcleo do agronegócio e suas periferias diversas que fazem andar as coisas em solos do semiárido. Se vai chegar água do céu, têm encomendas de bicas (calhas) para Zé Gancho, Manezinho Quiliu e outros artesãos que perscrutam o tempo todos os dias. O simples sinal do relâmpago já desperta o interesse, a alegria e a curiosidade: “está chovendo em Cacimbinhas, Dois Riachos, Palmeira dos Índios, no Alto Sertão que as nuvens trouxeram notícias. Ontem como hoje, o tempo é senhor de tudo e o Senhor, senhor do tempo. Deixe que chegue novembro, Dia de todos os Santos... Dia de Finados... E a sequência do que Deus planejou para nós.

TEMPO EM SANTANA, FINAL DE OUTUBRO (FOTO: B. CHAGAS)

 

 

 

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/10/carrossel-clerisvaldob-chagas-1-de.html

quinta-feira, 28 de outubro de 2021

 

NOSSA CACHAÇA DE CADA DIA

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.602


     Deixada a garrafa de cachaça pelo pedreiro, no Loteamento Colorado, em nossa inspeção por aquelas bandas, lembramos do tempo em que fábricas e fabriquetas de tudo proliferavam em Santana do |Ipanema. A cidade sinalizava como futura industrial, mas a falta de incentivo foi apagando a chama de todas elas. Até mesmo nos tempos das grandes cheias do rio Ipanema as canoas transportavam as produções das fabriquetas: cordas, colorau, aguardente, calçados, vinagre, sabão, refrigerante, pré-moldado, arreios, vasos de feijão, bicas de zinco (Canoeiros do Ipanema) e muito mais. E voltando a garrafa de cachaça vazia deixada pelo pedreiro, com marca famosa já no Brasil total, lembramos de pelo menos três fabriquetas que geravam emprego e faziam progredir a terra.

Nunca, porém, procurei saber o nome de cada uma delas. Na Rua Antônio Tavares, primeira travessa para a Rua Nova, havia na esquina a casa do senhor José Lopes, com um grande corredor descoberto. Nunca fomos olhar a “cana”, mas todos diziam que lá para dentro havia uma fabriqueta de aguardente. Já em pleno comércio, vizinha à Alfaiataria “Nova Aurora”, se não estamos enganados, funcionava a fabriqueta de aguardente do senhor Antônio Bulhões que entregava o produto em jegues e caçuás.  Por trás da atual Loja Maçônica, às margens do Ipanema, bem perto da ponte sobre o riacho Camoxinga, o senhor Sinval, morador da Rua Nova, também produzia aguardente, enquanto recitava poemas de Zé da Luz.

E como recuperar fábricas e fabriquetas fica muito difícil, a cidade continua dependendo de indústrias de fora em todos os ramos que se imagina. Por aqui não se fabrica nem picolé redondo. Enquanto isso Arapiraca, Major Isidoro, Maceió e Murici se enchem de indústrias cada vez mais. A cidade se desenvolve sem dúvida com o comércio, a prestação de serviço particular. as repartições públicas e as atividades sofridas do agronegócio. Mas como cada fase na vida é uma fase, vamos vivendo essa nova que de “nada adianta chorar o leite derramado...” 

E nem a cachaça consumida de Santana do Ipanema.

ALAMBIQUE (CRÉDITO: DIÁRIO DO RIO).

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/10/nossacachaca-de-cada-dia-clerisvaldob.html

terça-feira, 26 de outubro de 2021

 

O PROGRESSO DA RAINHA NÃO PÁRA

Clerisvaldo B, Chagas, 27/28 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.601



Procuramos tomar a terceira dose da vacina contra o Covid. Fomos conduzidos a um novo Ginásio de Esportes situado às margens do riacho Camoxinga. Como fazia certo tempo que havíamos passado por ali, fiquei abismado com a transformação do lugar que fica após o Aterro de quem vai passar pela ponte que leva ao Colégio Estadual. Na última vez em que ali estive, o local funcionava como Curral do Gado da feira dos sábados. Estava pesquisando e fotografando para “Repensando a Geografia de Alagoas”. Saí constrangido com o desconforto, a insalubridade e o descaso com pessoas e animais. Ali estava agora implantado o Ginásio de Esportes, grande, confortável, sem luxo, mas mostrava atender as necessidades do usuário.

Ao lado do Ginásio, outra surpresa agradabilíssima, uma bonita unidade de saúde chamada “Unidade de Saúde da Família da Baraúna”. Baraúna é uma região de Santana onde se encontra o complexo municipal da Saúde. Uma paisagem completamente transformada que me impressionou bastante. Tudo pavimentado à `base de paralelepípedos, com limpeza total pelos arredores. Sob um sol de 40 graus, fiz questão de percorrer a pé o final da rua até onde faz uma charmosa curva no calçamento, com interrupção â frente. Dali fiquei contemplando o bravo riacho Camoxinga seco (riacho que empresta nome ao maior bairro da cidade). Voltei encantado com a transformação progressista de Santana até nas pontas de ruas.

Informações afirmavam que o Curral do Gado havia se mudado para o outro lado do Aterro, mas não fomos até lá.  Na certa para um terreno antigo pertencente ao saudoso comerciante José Accioly, espaço baldio onde a matutada amarrava os cavalos em dia de feira. E com minha cidade cada vez mais progressista e bela, fomos conhecer a frente da padaria estilo europeu que será inaugurada na Rua São Vicente e mais os prováveis pontos onde funcionarão em breve uma filial da ,mais famosa farmácia de Maceió e um dos mais conhecidos hiper da capital que virão apostar em Santana do Ipanema. Em seguida fomos ao topo do Loteamento Colorado, onde todo estresse desaparece na hora.

Os nossos amigos ausentes de Santana há pelo menos dez anos, ficariam entusiasmados como eu quando visito Centro e periferia. Primeiro comércio do Sertão e segundo do interior das Alagoas.

Progresso à frente rebocando o orgulho.

SAÚDE ONDE ANTES ERA O CURRAL DO GADO (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES).

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/10/o-progressoda-rainha-nao-para.html

domingo, 24 de outubro de 2021

 

EXTRA! EXTRA! SANTANA DO IPANEMA.

Clerisvaldo B. Chagas, 25/26 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.600


 

Vivendo um Boom de progresso, Alagoas vem mais uma vez anunciar alvissaras ao povo alagoano. Com tantas AL já realizadas ou anunciadas, principalmente em nosso Sertão, como a duplicação Arapiraca – Delmiro Gouveia, via- Batalha, Olho d’Água das Flores, Olho d’Água do Casado. Ficamos alegres com essa duplicação, porém, tínhamos dúvidas se o trânsito pela BR-316, via- Palmeira dos índios, tradicional rota dos santanenses a Maceió, não ficaria esvaziado! Uma rota tranquila, tradicional e segura. Como adivinhando nossos pensamentos, eis que o Ministro da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, anuncia a duplicação da BR-316, trecho Maceió – Pilar. Isso proporcionará maior segurança ao trecho mais movimentado de Alagoas, na planície litorânea, incluindo as onze curvas perigosas de Satuba, no vale do rio Mundaú.

Mas para vibração do povo do Sertanejo e que habita toda a extensão da BR-316, o ministro afirma que a duplicação continuará em direção à cidade de Palmeira dos Índios, Santana do Ipanema.... A primeira estrada asfaltada de Alagoas, Palmeira-Maceió, continua estreita e sempre precisou de uma duplicação. Já o trecho Palmeira do Índios- Santana do Ipanema, Carié, Inajá (PE), é uma estrada larga, boa e segura. E se agora entra nos planos imediatos do ministro da Infraestrutura, melhor ainda. Isso poderá beneficiar municípios como Atalaia, Maribondo, Belém, Palmeira dos Índios, Estrela de Alagoas, Cacimbinhas, Dois Riachos, Santana do Ipanema e, se houver prolongamento, ainda Canapi até a fronteira com Pernambuco. Isso fora municípios atingidos indiretamente, com acessos, a exemplos de Minador do Negrão, Poço dos Trincheiras, Maravilha e Ouro Branco.

Bem que diz o sertanejo: “quando terminam as terras de Nosso Senhor, começam as de Nossa Senhora”. Com essa nova estrutura muitos e muitos outros empreendimentos acontecerão no trecho e nos municípios citados, permitindo um desenvolvimento contínuo e jamais visto por essas bandas. O transeunte viaja sem medo algum pela BR-316, de dia ou de noite, achando-a mais segura do que pelas ALs que levam a Arapiraca, por causa dos longos trechos desabitados entre cidades. De qualquer maneira, não devemos contar com o ovo dentro da galinha. Aguardar, aguardar que políticos têm conversas que o cão duvida.

 TRECHO URBANO DA BR-316 EM S. DO IPANEMA (FOTO: ÂNGELO RODRIGES)


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/10/extraextra-santana-do-ipanema.html

quinta-feira, 21 de outubro de 2021

 

SANTANA, UM VULCÃO EXTINTO?

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2. 599

 

Quem consegue subir a ladeira extenuante do morro do Pelado ou Alto da Fé, em Santana do Ipanema é porque busca apreciar Santana do Ipanema do alto. Mas aqui fica o aviso: de que em nenhum mirante de Santana você observa a cidade total. É que Santana do Ipanema é abaulada e cada mirante mostra apenas paisagens de alguns lugares, cenários parciais. Mesmo assim é como se diz hoje em dia: “é de tirar o fôlego, Santana vista por qualquer um deles. Estamos, porém, querendo indicar ao visitante ou santanense desatento, a paisagem mais distante que circunda Santana, vista do serrote Pelado, onde um bom desenhista poderá levar ao papel o cenário entre o dia e a noite. (ultimamente algumas árvores cresceram à frente do ponto principal do mirante atrapalhando a visão).

Olhando-se com atenção para os horizontes, no serrote Pelado, temos a impressão de que Santana do Ipanema acha-se no interior de uma enorme cratera extinta há milhões de anos. As grandes muralhas que circundam à cidade seriam as paredes vulcânicas em círculo. Vamos iniciar essas paredes com o serrote do Gonçalinho à sudeste (já dentro da cidade) e se afastando para a direita, sempre em círculo: serrote do Cruzeiro, serrote Pintado, serra Aguda, serra da Remetedeira, serra do Poço, serra da Camonga, serra dos Macacos, fechando o circulo com o serrote do Gonçalinho. Com a extinção vulcânica e erosões posteriores, foram se formando o piso interior, aplainado, ondulado, repleto de colinas onde sugiram riachos e por onde o rio Ipanema encontrou falhas nas montanhas, fez o seu vale e criou sua rede hidrográfica.

Não estamos afirmando nada, até porque nos falta embasamento para uma teoria geológica, mas, que parece, parece. Estamos abordando o assunto para não dizer que isso não foi percebido, embora o interesse da terra esteja morando próximo a zero. Do citado mirante avista-se com clareza a Avenida principal do Bairro Monumento, mas apenas um trecho e aão muita coisa mais, sobre a cidade propriamente dita. Os complementos dos cenários santanenses são acrescidos por outros vários mirantes, pois, como foi dito, nenhum deles mostra a cidade completa.

Tirar a vista do umbigo e apreciar os horizontes, Zé!

SERRA DA REMETEDEIRA VISTA DO BAIRRO SÃO JOSÉ (FOTO: B. CHAGAS).


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/10/santanaum-vulcao-extinto-clerisvaldob.html

terça-feira, 19 de outubro de 2021

 

SANTANA HISTÓRICA

Clerisvaldo B. Chagas, 20/21 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.598




Foi em 1938, mesmo ano em que mataram Lampião, que o prefeito Joaquim Ferreira, originário de outro estado, construiu o Grupo Escolar Padre Francisco Correia, no Bairro Monumento, em Santana do Ipanema. A obra foi em conjunto com o governo estadual. Surgia assim em Santana do Ipanema uma escola oficial de grande porte. Havia certa resistência de mão de obra para o Magistério, sobretudo de senhorinhas de Maceió, por causa da fama de barbaridades praticadas no Sertão. Mesmo assim o grande passo na Educação da terra fora realizado e o quadro completo da unidade se formou. Professoras de Santana do Ipanema e de outros lugares, preencheram todos os cargos para o início de um futuro de prosperidade no semiárido.

Com esse grupo sendo a grande atração estudantil do Médio Sertão, o sucesso da educação santanense esteve sempre em evidência numa fase chamada “Época de Ouro”. A minha mãe, Professora Helena Braga, não estava presente, não fez parte da turma de inauguração do Grupo. Proveniente de Viçosa, chegou de Maceió para se engajar na luta em 1944. Aqui aconteceu o seu casamento, sua aposentadoria e o seu falecimento. Um novo brilho veio a acontecer na Educação da cidade quando foi inaugurado o Ginásio Santana, em torno de 12 anos após. Iniciava assim uma nova fase educacional da quinta à oitava série numa escola da Rede Cenecista de Alagoas, uma das primeiras do interior.

Não está com tanto tempo assim, o antigo grupo ganhou uma reforma e ficou mais belo ainda. Sua arquitetura e seu histórico fazem parte do Patrimônio Cultural e Arquitetônico de Santana do Ipanema, justamente ao lado do Tênis Clube Santanense, do Ginásio Santana e da Igrejinha de Nossa Senhora da Assunção. É o grande quarteto que enobrece à cidade. Quem passa pela sua calçada como simples transeunte jamais imagina que dentro daquele enorme e bem conservado muro tem tanta história de progresso e amor em seus anais. Motivo de honra em ter estudado naquele casarão que até o presente momento envaidece Santana.

(FOTO: AUTOR DESCONHECIDO).

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/10/santanahistorica-clerisvaldob.html

domingo, 17 de outubro de 2021

 

CARNE DE SOL

Clerisvaldo B. Chagas, 18/19 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.597



A faca enorme e afiada cortava carene como se fosse manteiga. Salão com dois ou três cochos grandes, era cenário da salgadeira do senhor conhecido como Otávio Magro. As mantas de carne repousavam nos cochos dentro da salmoura. Algumas peças ficavam penduradas na parede em ganchos de ferro como amostras daquela delícia. Foi a única salgadeira de fabricar carne de sol, em Santana do Ipanema que eu conheci. Ficava a salgadeira na Rua Antônio Tavares, esquina do beco que fazia ligação com a rua de baixo, Rua de Zé Quirino, hoje prof. Enéas. Era ali, defronte a casa do sargento Leôncio, do outro lado da via que se comprava carne de sol.  O povo jogava lixo por trás da salgadeira e que descia até a rua de baixo, malgrado à fábrica de carne de sol, de um lado, e uma fábrica de vinagre do outro.

Neste momento em que me delicio com um naco de carne de sol, carne preta, como diz o meu netinho Davi, fã dessa iguaria, à semelhança do bisavô Manezinho Chagas. A pedido do meu pai, anos 60, lá ia eu até à salgadeira do senhor Otávio comprar carne que era enrolada à mão e embrulhada em papel comum. Em casa a carne iria para o varal, secar ao Sol, enquanto eu a vigiava com um cabo de vassoura contra ataques de possíveis urubus. Hoje não existe mais o beco. Foi transformado em residência, embora tenha sido formada uma rua de ligação entre ambas, bem vizinho. Após o fechamento da salgadeira, não conheci até hoje nova fabriqueta em nossa cidade.

Marchantes e comerciantes alegam muito trabalho e demora na venda pelo alto custo do produto bem feito. Ensinam, porém, a você fazer sua própria carne de sol, sem levar ao Sol e usando geladeira. É fácil e fica muito gostosa, mas não é a original fabricada pelos nossos antepassados. Mais uma relíquia sertaneja que poderia gerar emprego e exportar o produto como acontece no Pernambuco, em São Caetano. Você poderá encontrar a carne de sol num restaurante à Rua Delmiro Gouveia, deliciosa, mas não espere que seja na fórmula original com o Sol sertanejo. Assim vamos matando a vontade com o produto feito em casa com quem aprendeu com o famoso marchante e fazendeiro, saudoso Eufrásio Militão.

Na verdade, era muito melhor quando carne de sol se escrevia com hífen. Você até pode chamar de carne de geladeira.

Sertão em festa!

PRATO DE CARNE DE SOL (IMAGEM DE AUTOR NÃO IDENTIFICADO).


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/10/carne-desol-clerisvaldob.html

quinta-feira, 14 de outubro de 2021

 

O CRISTO

Clerisvaldo B. Chagas, 13/14 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.597




É melhor um Cristo feio do que Cristo nenhum. Há 90 anos, com a implantação do Cristo Redentor do Rio de Janeiro, a inspiração percorreu todos os municípios do Brasil. Muitos procuraram imitar o marco maior colocando imagens nos montes das suas respectivas cidades. Quando não dava, apenas um cruzeiro de madeira já era o suficiente. Essa moda de cunho cristão nunca deixou de crescer. Algumas imagens do Mestre foram ficando famosas além do estado de origem, outras ficaram apenas dentro do seu território e outras, ainda, não conseguiram fama além do próprio município. Muitas são bem feitas, porém, outras, valem apenas pela boa vontade de escultores esforçados e pela fé dos visitantes. São estátuas (imagens) erguidas pelo poder público ou por algum dedicado cristão querendo servir.

Em Alagoas mesmo, nas bandas do Sertão, pelo menos conhecemos três dessas imagens que passam temporadas em evidência, temporadas de esquecimento. Ficam sujeitas à intempéries e aos vândalos que perambulam por todos os lugares. As de maiores destaques são a de Palmeira dos Índios, no Agreste e a de de Pão de Açúcar na região do São Francisco. Em Palmeira dos Índios a imagem estar situada numa das serras que circundam a cidade de nome Goiti, daí a denominação popular: “Cristo do Goiti”, isto é, da serra do Goiti. Em Pão de Açúcar, a estátua fica num pequeno monte à beira do rio São Francisco, na periferia da cidade. O “Cristo de Pão de Açúcar”, o “Morro do Cristo”. Dizem que o local de banho é favorável aos ataques de Piranhas aos banhistas. A imagem está voltada em direção a jusante, isto é, à foz do “Velho Chico”.

Mas Santana do Ipanema também possui a imagem do Cristo de braços abertos. Fica no serrote do Gonçalinho, também chamado de serra do Cristo e serra das Micro Ondas, uma das elevações mirantes da cidade. Um pouco abaixo do topo, situado sobre uma pedra fixa, a imagem deve ter sido ali implantada na década de trinta. Passaram-se muitos e muitos anos no anonimato, até por não ser tão grande assim, foi redescoberta por um prefeito que a iluminou, chamando atenção para a obra de autor desconhecido. De qualquer maneira é um convite explícito para se conhecer o serrote que vai tendo as suas faldas a barlavento urbanizadas por um bairro novo chamado Santo Antônio. A estátua completa seus 90 anos igual ao Cristo Redentor.

Vamos subir o serrote?!!!

SERROTE DO CRISTO EM SANTANA DO IPANEMA (FOTO: PREFEITURA).

 

 

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/10/ocristo-clerisvaldob.html

terça-feira, 12 de outubro de 2021

 

DEGUSTANDO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 13/15 de outubro

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.596



Muitas iguarias tradicionais do Sertão, desapareceram definitivamente, outras retornaram aos poucos para matar a saudade dos apreciadores do que é bom. Culinária sertaneja, rica em comidas de origens africanas, indígenas, juntamente com a portuguesa, são delícias nordestinas. A fuba, chamada por nós sertanejos, é a massa do milho para fazer o cuscuz. Já o fubá é o milho triturado, em pó que se come com açúcar. Desapareceu da nossa cidade o cidadão que vendia fubá numa panela enorme pelas ruas da cidade. Panela à cabeça, calado, mas os clientes já sabiam. Onde está o fubá? Precisamos de fubá. O xerém também foi desaparecendo das feiras, das ruas, e só se encontra em pacotes industrializados. O xerém da roça era feito moído em pedra-mó.

Mas ressurgiu nas ruas da cidade, o vendedor de mungunzá. Carroça de mão e utensílios acoplados haja a gritar: Ui-ui! Ui-ui! E o povo cerca o carrinho a pedir um copo de chá-de-burro, com também é chamado por aqui o mungunzá. Mas, na feira de Santana também está de volta essa delícia africana. Uma senhora da zona rural, especialista em tapioca gigante, tem ao lado da sua banca, uma filha que está iniciando a venda do mungunzá. Ela pede aos clientes que classifiquem a iguaria porque está fazendo testes. Mas os seus testes já estão sendo aprovados com nota máxima e vamos viciando no chá-de-burro da morena sertaneja. Quer dizer, seu café está garantido aos sábados com a tapioca e o mungunzá de mãos ruralistas.

A propósito, o mungunzá, além do chamado milho branco desolhado, leva ainda leite, leite de coco, leite condensado, cravo e canela em pau. Ah, feira de Santana! Se queremos implementar mesmo o turismo, precisamos lembrar também da nossa culinária esquecida, incentivá-la para trazermos de volta definitiva as guloseimas que deliciam o turista e a nós mesmos. Essas tradicionais guloseimas estão sempre presentes no povoado Pé-Leve, além de Arapiraca, na própria capital do fumo que preserva a tradição e na rodovia da Barra Nova, em Marechal Deodoro.

Vamos passear no Sertão, gente!

Boca cheia e pança estourando, Ave!

MUNGUNZÁ (IMAGEM: SIMEONI/GLOBO)


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/10/degustandosertao-clerisvaldob.html

domingo, 10 de outubro de 2021

 

FINALMENTE

Clerisvaldo B. Chagas, 11/12 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.594




Sai o boato de que o terreno para a construção de casas das vítimas da enchente do rio Ipanema, já está sendo trabalhado. Fonte não oficial diz que serão construídas 400 residências, o que representa uma significativa vila, distrito ou povoado. Segundo essa mesma fonte, o local onde acontecerão as construções fica no sopé do serrote do Cruzeiro, numa área entre o plano e a encosta, longe do centro, mas a expansão benfazeja da nossa cidade tem mesmo que seguir pelas periferias já dividindo terras com a zona rural. O crescimento da cidade está sendo dirigido naturalmente para os quatro pontos cardeais. Esperamos, portanto, que não haja aborrecimentos futuros entre os novos moradores da área e a vegetação de segunda do próprio serrote do Cruzeiro, mas bastante conservada. Um dos pulmões verdes de Santana.

Neste momento em que estamos vivenciando a Festa do Padroeiro São Cristóvão, a boa notícia das 400 casas novas, alivia todos aqueles que viverão uma diferente realidade, longe de área de risco, nem enchentes, nem barreiras, um lugar privilegiado pela firmeza do terreno e uma das mais belas paisagens de Santana. São pessoas de cerca de três bairros diferentes que irão conviver numa outra situação. Desejamos paz, harmonia e progresso para todos os habitantes que chegarão à área oferecida. Os esforços para o empreendimento estão sendo dirigidos pelo deputado Isnaldo Bulhões e a prefeita Christiane Bulhões.

Não somente apenas um novo lugar de morada. 400 casas, um verdadeiro povoado, traz mercadinhos, farmácias, manicures, cabeleireiros, mototaxistas, lanchonetes... Isto é, os mais diversos do comércio, prestações de serviços que sempre iniciam pelos mais simples ou básicos. Vão gerando emprego, renda e novas oportunidades para empreendedores. O grande beneficiário será o Bairros Domingos Acácio, onde está localizada a entrada para o alto do serrote Cruzeiro, o maior mirante de Santana do Ipanema. Não longe dali, funciona o Instituto Federal de Alagoas – IFAL, na AL´-125. Paz e progresso. Adeus, águas do PANEMA.

TERRENO LIMPO VISTO DO ALTO DO LOTEAMENTO COLORADO A 330 METROS DE ALTITUDE. (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES).

 

 

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/10/finalmente-clerisvaldob.html

quarta-feira, 6 de outubro de 2021

 

POR CIMA DOS TELHADOS

Clerisvaldo B. Chagas, 6/7de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano



Crônica: 2.593

Quando se aproxima o final do ano, os montes que circundam Santana do Ipanema ficam de vegetação seca e cinza. A ausência de chuvas para os serrotes é sinal seguro para a zona rural. Nesses momentos, árvores como a Craibeira e o pau d’arco exibem as suas belas floradas no campo e na cidade. Da caatinga à vegetação de agreste, entre Santana e Maribondo, a paisagem fica completamente ressequida, mas ilhas de craibeira e pau d’arco ornamentam o cinza com suas floradas amarelas e roxa, respectivamente, como prévio louvor ao Natal e à esperança. Faltando cerca de 20 ou 15 dias para Ano Bom, costuma cair uma chuvada leve pelo entorno de Santana. Rapidamente os serrotes se cobrem de verde e quando chega o NATAL eles estão rigorosamente vestidos para o aniversário de Nosso Senhor. Nem sempre esse fenômeno é registrado.

O encanto da vida está na simplicidade. Do posto de Saúde São José, mais alto, tem-se a paisagem longínqua do sítio Salobinho, a serra da Remetedeira, na zona rural, mas também parte do antigo Bairro Floresta, parte alta, e os telhados do conjunto São João, onde moro. O espetáculo belíssimo da craibeira florida por cima dos telhados, é momento compensativo para qualquer estresse.  A craibeira e filha na murada da Escola Profa. Helena Braga das Chagas, dão um espetáculo antecipado de ornamento natalino. Mais charmosa fica quando se apresenta na moldura saudosista dos telhados, das tintas, dos quintais. O soberbo não enxerga o simples que faz a diferença na felicidade humana.

As garças brancas do Pantanal de Mato Grosso, já estão chegando e fazendo o ninhal no mesmo lugar: na barreira direita do rio Ipanema. Estamos vendo agora mesmo o revoar da tarde, à volta para o ninhal no retorno em grupos. O contraste do branco com o cinza dos serrotes, vai animando o sertanejo santanense nesses primeiros quinze dias de primavera. A floração da craibeira e do pau d’arco saúdam as “noivas” pantaneiras que escolheram o Bairro da Floresta. E o marasmo da tardinha vai rezando o terço na aproximação do Ângelus. Breve, o lençol negro da noite envolverá o corpo sagrado da Natura e, o poeta se recolherá às incertezas noturnas.

Ô SERTÃO!.

FLORADA DA CRAIBEIRA (FOTO: B. CHAGAS).


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/10/porcima-dos-telhados-clerisvaldob.html

domingo, 3 de outubro de 2021

 

MISSÃO CUMPRIDA E COROA À CABEÇA

Clerisvaldo B. Chagas, 4/5 de outubro de 2021

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano



Crônica: 2.592

Nesse momento em que a SEDUC procura homenagear seus professores em via de aposentadoria compulsória (quinta, passada), vamos refletindo nessa trajetória no Magistério. Aposentado parcial, vamos para a aposentadoria total no próximo 2 de dezembro.  Uma vida inteira servindo à minha Alagoas ilustrado na Geografia a qual completamente me dediquei. Agradeço a convivência profícua nas escolas Ginásio Santana, Instituto Sagrada Família, Colégio Estadual Deraldo Campos, Escola Ismael Pereira, Escola São Cristóvão, Escola Prof. Ernande Brandão, Escola Lyons, Escola Ormindo Barros, Escola Prof. Helena Braga das Chagas, no município de Santana do Ipanema e Colégio Mestre Rei (Olho d’Água das Flores) e Escola Rui Palmeira no município de Ouro Branco.

Estudando em cursos superiores, nunca além de giz e quadro-verde, giz e quadro-verde e mais nada. Tive que partir sozinho para aulas práticas tipo autodidata. Fui pioneiro no sertão nas aulas de campo da Geografia rural e urbana; uma revolução que essa abençoada matéria exigia. Fui referência no Sertão de Alagoas da ciência geográfica até do meu grande mestre, Prof. Alberto Nepomuceno Agra, o melhor da matéria com o qual estudei. Disse-me ele discretamente (não gostava muito de elogiar o homem) “Você me superou”, o que para mim foi uma glória. Tendo a Geografia como segunda esposa, a ela me dediquei como se fosse a melhor das ciências do Globo. Nela viajei com milhares de alunos por Alagoas, pelo Brasil e pelo mundo inteiro, nos livros, nos mapas e nas mentes.

Igual a minha mãe, Profa. Helena Braga das Chagas, constrangida em ser diretora do antigo Grupo Escolar Padre Francisco Correia, dizia que o que queria mesmo era sala de aula. Segui os seus passos com respeito, honestidade e amor ao magistério, cuidando dos filhos alheios como se fossem meus.

Lencinho branco para o dever cumprido e um agradecimento infinito ao Senhor dos Mundos.

Escrevi os maus pedaços na areia e o vento os levou. Os bons momentos ainda estão escritos em rochas de difícil destruição.

Mas nem sei ainda quanto vale um excelente professor!

 

 

 


Link para essa postagem
http://clerisvaldobchagas.blogspot.com/2021/10/missaocumprida-e-coroa-cabeca.html