domingo, 31 de janeiro de 2010

TEMPOS DE EXCURSÕES

TEMPOS DE EXCURSÕES

(Clerisvaldo B. Chagas. 1.2.2010)
Para o “Primo Véi” e todos os da 8º Série que estavam nesse episódio

Corria a época de bailes e excursões no Ginásio Santana. Nas formaturas de 8ª série apresentavam-se as escolhas, ou baile no Tênis Clube Santanense ou excursão em outros estados. Em 1966, trabalhamos duro para a segunda idéia. Promoções, rifas, contribuições, nos deixaram com um bom dinheiro em caixa. Ganhamos o transporte e a hospedagem. A verba ficou apenas para as despesas comuns. Era uma turma enorme. Escolhida Fortaleza como destino, iríamos pelo litoral e retornaríamos pelo interior. Ante do amanhecer, estávamos no ônibus novo vindo de Maceió e, as colegas cantavam o sucesso do momento: Madrugada vem chegando, ô/ o sereno vem caindo/ cai, cai sereno, devagar/ meu amor está dormindo...
Fomos pernoitar no Recife após grande animação de viagem. No dia seguinte acampamos em João Pessoa, aliviando a algazarra e o enfado nas areias da praia de Tambaú. Estávamos perto do ponto extremo leste do Brasil. Foi uma delícia! Nem dava mais vontade de sair. Continuamos viagem e fomos dormir em Natal, estranhando o costume das redes em todos os hotéis. Antes de chegarmos ao destino, passamos uma noite na beira da estrada de areia branca. Houve serenata sobre um lajeiro numa bela noite de luar. Depois cada um se acomodou como pode e, nas primeiras horas do dia entrávamos em Fortaleza, nosso destino. Ficamos hospedados à Avenida Senador Pompeu em um hotel pertencente à família alagoana. Conhecemos todos os pontos turísticos, inclusive a praia de Iracema e o mercado que muito me impressionou pela higiene. Após cerca de dois dias e meio, iniciamos o retorno pelo interior. Depois de Mossoró, rumo a Juazeiro do Norte, enfrentamos uma longa travessia monótona de garranchos e pedregulhos. Após esse trecho sem graça, finalmente despontamos nas serranias do vale do Cariri. Bela paisagem vista do alto no dramático torrão do padre Cícero. Excursão bem comportada sob o comando do professor Antonio Dias, não dava trabalho em lugar algum. Assim visitamos o horto, as igrejas, museus, mercado e comércio da “Meca nordestina”.
A volta a Santana do Ipanema, foi cheia de comentários de causar inveja em outros estudantes. Ainda sobrou dinheiro na caixa e gastamos coletivamente. Dessa 8ª série, acho que entre 49 e 51 alunos, lembro de todos. (Foto no livro ainda não publicado: “O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema). Dos investimentos de pais e Ginásio, saíram da 8ª de 1966, os mais diversos profissionais que estão servindo à sociedade. Professores, engenheiros, políticos, contadores, empresários, escritores, bancários e mais de uma dezena de outras profissões (político entra como profissão, humm!).
Como juntar agora todo esse pessoal para um dia inteiro de recordação? Tenho comigo que esse hábito saudável não permanece mais. Pelo menos fica registrado para essa juventude como fazíamos nos TEMPOS DAS EXCURSÕES.



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quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

O MUNDO GIRA

O MUNDO GIRA

(Clerisvaldo B. Chagas. 29.1.201)
Parece tolice dizer que o mundo gira. Muita gente, porém, nunca ouviu falar sobre esse assunto da Geografia. Em Santana do Ipanema, lá para as bandas do Sertão alagoano o filho de “Chica Boa” decorava bem essa aula espacial. Beberrão e servente de recados, ”Giramundo”, sem inimigos aparentes, batia o chão da cidade andando mais do que a besta de “Zé Urbano”. Vez em quando Giramundo desaparecia, mas sempre retornava ao lugar da velha doceira da porta do cinema. Ao contrário de Giramundo, pessoas escoladas, tido mesmo como sabidas, tem uma noção quase perfeita dos movimentos planetários. Mas é que, chegada à hora do uso, a sabedoria põe uma venda. Muitos são surpreendidos, então, pelo giro da Terra, ou seja, pelo giro da vida. Os que mandam, os que perseguem, os que semeiam pedras, não raramente são levados para a parte baixa. A parte baixa, tanto pode ser a mola impulsora para cima, quanto à expiação dos que estavam acima. Ô... É complicado? Bem, aí é outra história. Estão usando agora essa palavra para novas funções. Mas isso não impede o giro do mundo como estávamos dizendo. E os simples entendem. E os arrogantes não conseguem o entendimento porque a eles não lhes foi dado compreender.
Mas também existem outros giros que intrigam os pesquisadores. Muitos brasileiros deixam a terra natal e se aventuram pelo mundo, enfrentando os obstáculos do estrangeiro. Inúmeros não querem mais voltar, Outros querem e nunca podem, morrendo em terras estranhas. Mas o que estar acontecendo com os nossos craques? Foram aos paraísos da fama, da riqueza, do alto luxo (nem sabemos como conseguem gastar tanto dinheiro que adquiriram com o suor do rosto). Então, por que o Adriano retornou ao Brasil da violência do Rio? Qual o verdadeiro motivo da volta de Ronaldo? Quais os sentimentos que trouxeram Wagner Love? Por que Roberto Carlos preferiu São Paulo? E a fama? E o luxo? E os carrões? Por que fugir das platéias civilizadas da Europa? Por que tanta gente boa de bola abandona aqueles estádios e reiniciam no Brasil?
Será que estamos diante de um novo fenômeno de volta da emigração também de jogadores de futebol? Queremos dizer, de volta em massa, depois desses quatro. Aliás, cinco, para falar apenas nos mais conhecidos. Robinho vem aí. Quando retornarão Ronaldinho e Kaká? Será que acontecendo um êxodo ao contrário, jogadores europeus também procurarão o Brasil? Nunca houve uma crônica com tantas interrogações.
Pulando dos grandes para os menores centros: como vai o Ipanema na luta pelo título alagoano? Vamos girar essa roda e torcer para que o “canarinho” vá para cima. Ora! Vamos conversando as amenidades de fim de semana. Conversa de bar também faz parte da web. E uma cerveja geladinha... Vale o esforço dos dias anteriores. Conversando miolo de pote... Gira o mundo; mundo com Giramundo... O MUNDO GIRA.




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quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

UMA CASA ABENÇOADA

UMA CASA ABENÇOADA

(Clerisvaldo B. Chagas. 28.1.2010)

Sabemos que o maior driblador do mundo em todos os tempos foi o Garrincha. Um mágico da bola que fazia vibrar as multidões. Todavia temos outras lembranças gratificantes que ficaram gravadas nas fases criança e adolescência. São coisas simples que ornam a vida das pessoas sensíveis. As cenas do cotidiano que dão material ao guri para os escritos de amanhã. O alimento da alma que faz a diferença entre artistas e comuns. Lembramos das criaturinhas de Deus, criadas para alegrar o homem. São os pássaros que povoam o mundo com suas particularidades regionais e das próprias espécies, porém, com as mesmas finalidades da música que acalma os nervos. Alguns passarinhos ganharam fama nas lendas do povo sertanejo. A lavandeira, por exemplo, presente no meu romance inédito Fazenda Lajeado, “enquanto os judeus riam ao maltratarem Jesus, a lavandeira lavava os paninhos ensaquentados de Nosso Senhor”. No Sertão não se mata lavandeira por causa dessa lenda. Já o bem-te-vi, também presente naquelas páginas, não tem bom conceito com o povo. “Quando Jesus Menino fugia para o Egito com Maria e José, os soldados perguntavam se haviam visto essas pessoas. O povo negava, mas o bem-te-vi dizia no seu canto: bem que vi! Bem que vi! Outro pássaro, por nome de anum (tem o preto e o branco) é difícil de ser atingido, porque pula para cima tantas vezes venham balas; daí a expressão popular de advertência para quem quer fazer o que não pode: quem tem pólvora pouca não atira em anum. O joão-de-barro e a maria-de-barro constroem suas casas voltadas para o nascente prevendo um ano sem chuvas. O casal trabalha a semana toda e descansa aos domingos.
Conversando com certo eletricista que trocava uma caixinha de energia na minha casa, aprendi mais. Falei a ele que um casal de garrinchas fez ali o seu ninho, colocou os ovos e levou os pelocos. Ninguém mexeu com eles. Fiz ver o tempo de criança quando esse pássaro saltitante, marrom claro, empinado, nervoso e alegre, fazia seus ninhos nas biqueiras da casa de meu pai. Sempre gostei de garrinchas. Mas outros animais como vários marimbondos se arrancharam em minha casa, fizeram seus ninhos e levaram seus filhotes. Nunca os expulsei nem eles atacaram nem a mim nem aos visitantes. Foi quando o eletricista disse: “Professor, a casa onde a garrincha tem guarida é uma casa abençoada. Meus avôs já diziam e minhas bisavós também. Deus está presente na casa e a garrincha é como um enviado de Deus para confirmar a benção”. Lembrei da proteção divina à morada de meu pai. Senti que a minha casa também era abençoada; apenas confirmamos a crença popular. Aprendi mais essa sobre as observações da nossa gente.
Histórias que o povo conta a respeito de aves e pássaros sertanejos enriqueciam somente o folclore do País; atualmente, muitas dessas histórias são comprovadas através de estudiosos do assunto. Torça meu caro internauta, para que uma garrincha procure a biqueira da sua residência. Acredito sim, numa CASA ABENÇOADA.




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terça-feira, 26 de janeiro de 2010

UM SAPO SE DIVERTE


UM SAPO SE DIVERTE

(Clerisvaldo B. Chagas. 27.1.2010)
Para os professores da ESSER, em particular à Profª Mª Cledilma Costa.

Quando em Santana do Ipanema só havia pequenas escolas particulares ou dos governos, trabalhavam até a antiga 4ª série primária (hoje, 4ª do Fundamental). A primeira escola grande que surgiu no Município era particular e funcionava até a 8ª série. Com o nome de “Colégio Santanense”, foi fundado o estabelecimento no ano de 1934, à Rua Benedito Melo (Rua Nova) nº 281. Conduziu esse colégio o Prof. Flávio Aquino de Melo, substituído depois pelo futuro escritor Floro de Araújo Melo que cerrou as suas portas em 1940. O Grupo Escolar Padre Francisco Correia, lecionando somente até a 4ª série, foi fundado em 1938, trabalhando assim paralelamente ao colégio particular durante dois anos. Uma vez extinto o Colégio Santanense, Santana passou mais dez anos sem o ensino da 5ª a 8ª. Quando o Ginásio Santana chegou ─ 1950 ─ teve início o tão desejado Curso Ginasial que iria trabalhar da 5ª a 8ª série.
Além de tantas coisas a respeito do Ginásio, era costume acontecer formaturas e excursões de final de ano. Em uma delas, uma turma de 8ª foi conhecer a capital da Bahia, conduzida pelo motorista senhor José Gomes, mais conhecido como “Sapo”. José Gomes, sujeito paciente e querido por todos, gozava de ótima capacidade pardalesca. Uma espécie de cientista sem incentivo. Ao retornar a excursão, cada um que contasse entusiasmado a resenha da viagem onde jorravam as gargalhadas com as situações vividas. Falaram sobre um paliteiro que ninguém soube como puxar o palito. Disseram sobre um colega que de posse do cardápio pediu um copo de “leitão”. E coisas e mais coisas que se passaram no hotel, na praia, no comércio... A que mais chamou a atenção foi à coincidência no trânsito de Salvador. O trânsito estava caótico, os condutores de veículos nervosos e a temperatura altíssima. Ao passar por outro carro lotado de estudantes, José Gomes fez uma manobra que não agradou aos baianos. Foi aí quando um deles, vendo a placa de Alagoas, gritou como xingamento: “Volte para sua (A) lagoa, sapo!” E ficou aguardando a reação dos alagoanos que caíram numa tremenda gargalhada coletiva. Ainda hoje os baianos não sabem por que um xingamento transformou-se em festa do outro lado. Era realmente um “sapo” que estava dirigindo. Meu irmão mais velho fez parte da excursão e ria a valer ao lembrar o episódio.
José Gomes, carinhosamente “Sapo”, continua amigo de todos e caladão frequentando as ruas de Santana. O Ginásio ainda existe, porém, não é mais o mesmo. Acho que os costumes de excursões em final de ano são coisas esporádicas. Dessa maneira só resta aos saudosistas a dolorosa mexida no baú do tempo. Se não são fábulas, pelo menos aparentam. De qualquer maneira é assim que UM SAPO SE DIVERTE.




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segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

ONDE ESTÃO NOSSAS INDÚSTRIAS?

ONDE ESTÃO NOSSAS INDÚSTRIAS?

(Clerisvaldo B. Chagas. 26.1.2010)

Acontece muitas vezes um pai sufocar a vocação do filho. Como o poema sertanejo cantado ao som da viola nordestina, o filho resiste à pressão paterna:

“... Eu disse papai não tome
Esse dom que é todo meu
Aquilo que Deus me deu
Só mesmo a terra é quem come...”

Santana do Ipanema, já foi dito aqui, é cidade comercial por excelência desde os tempos de povoado/vila. Foi entreposto entre Pão de Açúcar (porto fluvial exportador e importador da época) e todo Sertão alagoano. Atualmente Santana possui o segundo melhor comércio do interior, perdendo apenas para a cidade de Arapiraca. Entretanto, a terra de Santa Ana bem que poderia ter sido também industrial. O descaso, a falta de compromisso ou a ignorância, “sufocaram a vocação do filho”.
Na segunda metade do século passado, Santana do Ipanema iniciava um processo fabril rudimentar, movimentando o Município com várias fabriquetas. Em se tratando de calçados, tínhamos a fábrica de “Seu Pimpim” à Rua do Comércio; a de Evilásio Brito à Rua Barão do Rio Branco; a de “Seu Elias” à Rua São Pedro; e a de “Zé Limeira” à Rua Antonio Tavares (inclusive anexada a uma fábrica de malas). Havia ainda fabriquetas de colchões espalhadas pela cidade, entre as quais a de “Júlio Pisunha” à Rua Antonio Tavares. Compravam-se carne-de-sol em duas ou três fábricas chamadas “salgadeiras”, com destaque para a salgadeira de “Otávio Magro” também à Rua Antonio Tavares. Perto da igreja São Pedro havia uma fábrica de mosaico que se destacava pela qualidade e pelas variadas estampas, pertencente a “Zezito Tenório”, dono das terras do futuro bairro São José. Nas localidades suburbanas da Maniçoba e do Bebedouro, curtumes movimentavam a cidade com a compra de cinzas dos fogões a carvão e à lenha e vendiam rolos de sola. No Bairro Floresta funcionava uma fabriqueta de corda de caroá. Quanto ao fabrico de móveis, havia várias fábricas, cujo destaque era a do senhor José Costa que funcionava no Bairro Monumento. Na Rua do Comércio encontrava-se uma fábrica de aguardente e vinagre do proprietário Antonio Bulhões. Nas proximidades da Ponte Cônego Bulhões, Rua Margem do Ipanema, também funcionava outra fábrica de aguardente do Sinval (bom declamador de poesia matuta).
Nada mais existe. Tudo foi riscado do mapa pelos motivos vistos acima. Há alguns anos, elaboramos e distribuimos a “Carta de Santana”, documento que mostrava didaticamente como fazer a cidade progredir, inclusive com detalhes na parte industrial. O que mais existe nos lugares afastados do mar é ouvido de mercador. É melhor aproveitar idéias arcaicas próprias de que pensamentos luminosos alheios. A região de Santana do Ipanema abate um número significativo de bovinos, semanalmente. Couros, ossos, chifres, cascos, são exportados a preços vis. Uma só fabriqueta de sola não existe. Poderíamos ter sido a cidade do couro e progredido como Caruaru com fábricas de derivados do boi. Tudo foi entulhado, sufocado... Desprezado. Meu Deus! ONDE ESTÃO NOSSAS INDÚSTRIAS?



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domingo, 24 de janeiro de 2010

MOLION NÃO É MOLE

MOLION NÃO É MOLE

(Clerisvaldo B. Chagas. 25.1.2010)

Vivemos uma época em que os valores vão sendo substituídos por lixos de toda qualidade. Ficamos procurando esses valores sufocados por essa onda negativa que, como a neblina encobre os vales, mascara também as pessoas brilhantes nas mais diversas atividades do conhecimento humano.
Já havíamos ouvido falar no Prof. Molion, várias vezes. Uma das últimas foi quando uma pessoa de Arapiraca contava entusiasmada sobre uma palestra ministrada pelo professor. Molion, ultimamente vem aparecendo com mais frequência na mídia alagoana, falando sobre o tempo e dissertando cientificamente suas previsões. Mas uma dessas noites, ao ligarmos certo canal de televisão, aleatoriamente, reconhecemos o Prof. Molion cercado por feras do jornalismo brasileiro. O assunto debatido era o aquecimento global, quando o Professor, “atacado” em todos os ângulos, se defendia muito bem e com tranquilidade de quem conhece profundamente o que está debatendo. O Professor Luiz Carlos Molion tem quarenta anos de estudos climáticos e leciona na Universidade Federal de Alagoa – UFAL. Além disso, Molion tem pós-doutorado em Meteorologia e representa a América Latina na OMM-Organização Meteorológica Mundial. A cada investida dos jornalistas sabatinadores, o telespectador imaginava não haver saída para o representante alagoano. Eis que o cientista da “Terra dos Marechais”, respondia numa calma toda dele e com tremenda base de segurança. Estavam ali aqueles jornalistas interrogando como se fossem representantes de todos os outros cientistas da terra, numa corrente contrária a Molion. E, se palavras provam, o alagoano provou que todos os outros colegas do mundo estavam errados. O debate envolveu diversos aspectos do clima, o desmatamento, os efeitos do carbono, o aquecimento, as ações do homem e da natureza e muito mais. Não queremos dizer que o ilustre Professor esteja certo ou errado nos seus estudos e teorias, mas que o professor Molion deu um verdadeiro espetáculo, isso deu. Paulada de um lado, paulada de outro, e Molion absorvendo firme e quebrando os tacos a ele dirigidos. E o melhor de tudo, descobriu-se no meio do nevoeiro mais um alagoano que honra a profissão que abraçou; um valor expressivo dentro de um estado cheio de podridão, que faz até lembrar a “lanterna” do filósofo Diógenes. Durante o debate apresentado pela televisão, comparamos com o duelo de estréia do repentista Zé de Almeida em Paulo Afonso, Bahia:

“Já cantei com Manoel
E agora canto com Jó
Um é cobra canina
Outro é cobra de cipó
Eu no mei’ me defendendo
Com um taco de mororó”

Como foi dito, não sabemos se o Professor estava certo ou errado, porém, Alagoas deve estar orgulhosa do seu cientista professor de Climatologia. Quem quiser que duvide, mas MOLION NÃO É MOLE.


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quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

"DEUSES DE MANDACARU"


“DEUSES DE MANDACARU”

(Clerisvaldo B. Chagas. 22.1.2010)

ANTES DA LEITURA
Carlos Moliterno

Seja qual for o seu conteúdo — e há realmente uma variedade de temas dentro do romance — ele representa uma das grandes aventuras da inteligência do homem.
Os teóricos sempre tentaram estabelecer regras e limites para a sua elaboração, mas o problema continua discutível e controvertido, e embora algumas fórmulas tenham sido estabelecidas, elas não conseguem englobar “a totalidade extensiva de vida que ele reúne”, na opinião de Temístocles Linhares, o excelente ensaísta paranaense.
Na verdade, o que o escritor deseja mostrar, na urdidura de um romance, é o homem, visto dos seus vários ângulos, dentro da sociedade que o cerca e da qual ele é a peça mais importante. E realmente, não há gênero que o identifique de maneira mais objetiva do que o romance.
Aí, ele aparece de corpo inteiro, revelado nas suas características psicológicas, na sua posição social, nos seus conflitos cotidianos, na sedução e no desencanto, na alegria e no desespero, que são sempre os ingredientes da vida, hoje como antes.
São estas as divagações que nos ocorrem, após a leitura dos originais do romance de Clerisvaldo B. Chagas, intitulado “Deuses de Mandacaru”. O livro focaliza um episódio histórico, que se inicia na velha cidade de Olinda, dos tempos dos holandeses, e chega à época atual, principalmente ao cangaço que imperou nos sertões nordestinos.
E desse episódio histórico resultou a existência de um tesouro recolhido dos holandeses, em Olinda, e transportado para Penedo e em seguida para Santana do Ipanema, terra do romancista.
Nesse itinerário do tesouro, o autor desenvolve sua trama, focalizando várias épocas, ilustrando-as com uma movimentação de personagens, que dão ao romance um clima de aventura, de conflito, de dramas pessoais, e tudo isso dentro de uma atmosfera em que os numerosos fragmentos da história revelam a crônica de cada época.
Há neste livro tipos bem marcados como o de João Paulista, sertanejo e machão, de Levino e de Maria Pilar, todos eles levantando os seus próprios problemas, na revelação das suas próprias identidades. E diga-se, também, não se esqueceu o autor de nos mostrar, com uma relativa clareza, os mais escondidos sentimentos de suas personagens.
Já se disse que no desdobramento de uma história romanesca as explicações são desnecessárias. É possível que esse conceito se aplique a determinado tipo de romance. Neste de Clerisvaldo B. Chagas, cujo fundo repousa numa espécie de crônica de época, as explicações são sempre desejáveis, e elas servem para dar relevo ao roteiro da história. Também seus diálogos são explicativos e bem conduzidos, deixando o leitor em situação confortável para acompanhar os conflitos e descaminhos dos personagens.
“Deuses de Mandacaru” é mais um romance de escritor alagoano que vai conseguir um lugar em nossa história de ficção.
Nota: Romance inédito e engavetado há bastante tempo.
Nota 2: Encerramos aqui a série de palavras de apresentadores das nossas obras. Segunda, voltaremos com as crônicas normais.
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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

"DEFUNTO PERFUMADO"


“DEFUNTO PERFUMADO”

(Clerisvaldo B. Chagas. 20.1.2010)

PROF. Ernani Otacílio Méro
(Escritor)

Recebi, com espanto até, do meu caro amigo Clerisvaldo Braga das Chagas, como ele mesmo afirma: “o meu Defunto Perfumado”.
Realmente, não sou um perito em avaliar um romance, todavia, a confiança do amigo em um simples escrevedor de histórias me faz aceitar o desafio.
Li com aquela certeza, pois já conhecia o seu primoroso e agradável “Ribeira do Panema”, de que iria ter em minhas mãos mais uma produção vitoriosa de Clerisvaldo, essa inteligência nova, taluda e ousada no bom sentido.
Conforme afirmam os críticos, duas linhas existem dentro da temática do romance brasileiro ─ a regional e a psicológica. Duas correntes da literatura nossa abraçaram as temáticas acima citadas, ou seja: o Romantismo e o Modernismo.
No Modernismo, vamos encontrar uma preocupação pela narrativa abrangente de um “status” urbano social, onde o leitor acompanha, envolvido pela narrativa, todo o desenrolar de fatos que o leva a sentir uma realidade social vivida.
O que seria ─ DEFUNTO PERFUMADO ─ a não ser um romance que sai da pena talentosa de um jovem dentro da linha da narração segura e clara de fatos que envolvem toda uma situação, toda uma época vivida na região de sua tão decantada e simpática ─ SANTANA DO IPANEMA ─ .
A sequência dos fatos narrados é feita com alma e poesia, impulsiona o leitor a prosseguir, pois, cada página é uma motivação à curiosidade de tomar contato com o que segue.
DEFUNTO PERFUMADO, dentro de uma linha narrativa, é envolvente e joga com os nossos sentimentos levando-nos até a um comportamento de revolta diante de certas cenas, ou, a momento de total paz espiritual quando Clerisvaldo nos pinta com alma:
“O vento acalentava os galhos mais finos das árvores. A noite prosseguia. E às vezes pensava-se que o frio da madrugada cantava com o sertanejo as mais doridas paixões:

─ Meu amô se foi embora
Num sei quando vai vortar
Meus óio choram com raiva
Da saudade a mim matar”.

Toda a narrativa histórica, feita com alma e poesia de DEFUNTO PERFUMADO”, fala, e o faz com eloquência, do valor e da pontencialidade criativa desse jovem escritor que já está entre os nomes maiores, apontando, não há como negar, como ─ valor expressivo ─ do romance histórico em terras das Alagoas.
Não posso e não devo ir além em minhas observações. Não sou, volto a afirmar, o apontado para falar sobre esta obra que me caiu às mãos para fazer uma apresentação. Li por mais de uma vez e ficava até meio aborrecido quando tinha que interromper, pois cada página é um convite, um estímulo, para continuar.
Clerisvaldo, com sua inteligência jovem, consegue empurrar o leitor para não soltar de suas mãos o ─ DEFUNTO PERFUMADO ─ que é mais perfumado pelo sabor “gostoso” do estilo suave, envolvente e poético, do que mesmo pelo “aroma” que continua envolvendo o misterioso serrote.
FIM.

Adalberon Cavalcante Lins (Escritor)-(“Curral Novo”, “Sidrônio”, “Caminhos Incertos”, “O Tigre dos Palmares”): “Ninguém se espante, pois, se em breve tempo Clerisvaldo estiver entre os maiores romancistas do Brasil”.

UM ROMANCE FORTE

“Defunto Perfumado” não é apenas mais um livro nordestino. É sobretudo um romance corajoso, cru, cheio de nuances imprevisíveis onde o misticismo junta-se ao sexo, a violência... Ao lirismo.
O desenrolar dos fatos é descrito com rara fidelidade por um escritor que nasce e vive mergulhado no mesmo cenário dos seus personagens: a misteriosa e difícil caatinga cheia de cactáceas, pelo dia, e à noite banhada em fecundos inpiradores luares.
Pelo seu estilo “turbulento e macio”, Clerisvaldo B. Chagas, autor de “Geografia de Santana”, “Carnaval do Lobisomem” e “Ribeira do Panema”, diz realmente a que veio e toma, sem dúvida alguma, seu lugar definitivo ao lado dos grandes autores das Alagoas.

José Conrado de Lima
Cadeira de História
da
Faculdade de Filosofia de Arapiraca

Nota: Livro publicado em 1982.
Nota 2: Grifos nosso (A).
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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"FLORO NOVAIS, HEROI OU BANDIDO?"

“FLORO NOVAIS HEROI OU BANDIDO?”

(Clerisvaldo B. Chagas. 20.01.2010)

Antonio Machado
─ Escritor ─

A arte de prefaciar um livro deve ser tão antiga, quanto à de escrevê-lo.
Honrou-nos, sobremaneira, o emérito escritor CLERISVALDO B. CHAGAS e o estreante FRANÇA FILHO, ambos santanenses de sete costados, em prefeciarmos este novo livro, congnominado “Floro Novais, Heroi ou Bandido?”.
Reconhecemos que não possuímos a tutela literária e abalizada de prefaciarmos um compêndio, e sobretudo, em se tratando de um trabalho escrito a quatro mãos de inteligências tão dadivosas e fecundas de dois jovens da terra de Breno accioly. Todavia, dentro das nossas limitações dimensionais, nos aventuramos a escrever esta conversa franca, embasada no que o livro nos proporcionou.
A convite de Clerisvaldo B. Chagas e França Filho, participamos de algumas pesquisas deste livro, realizadas no Município de Olivença, Alagoas, onde Floro Gomes Novais viveu sua infância e constitui família, pois nessa fecunda área sertaneja os pesquisadores encontraram substancioso subsídio para a realização da meta desejada, escrever a vida de Floro Novais num livro que enfeixaria suas facetas, aventuras e peripécias de qualidades nordestinas.
O livro FLORO NOVAIS, HEROI OU BANDIDO? Dessa dupla incrível, narra com muita precisão à vida e os nuances desse sertanejo calmo e pacato, que no verdor de sua infância, viveu uma vida igual aos jovens de seu “habitat”, que dentro de sua simplicidade não passava de um homem da roça e de casa, cuja vida não diferenciava dos demais rurícolas do Nordeste, sem jamais pensar em ofender a ninguém, contudo, quando se sentia magoado no mais íntimo do seu ser, revoltava-se, como todo mortal de sangue e osso.
Éramos garotos na época, mas, curiosos que sempre fomos, ouvimos de Floro Gomes Novais esta expressão, numa visita que ele fizera a meu pai, também chamado Floro: “Xará, quando eu apanhei os miolos de meu pai, espalhados pelo chão, não chorei, mas senti dentro de mim uma revolta”.
Nós outros que não somos causídicos, e nem possuímos conhecimentos sobejos nesta área, interrogamo-nos e interrogamos:
─ O filho que procura vingar a morte do pai, pode ser acusado pela sociedade como bandido?
─ Será que Floro Gomes Novais só era vingador mesmo ou matava por dinheiro?
Cabe ao leitor o dilema, absolver ou condenar. O poder intelectivo de cada um será o tribunal de consciência onde FLORO NOVAIS, HEROI OU BANDIDO? Será julgado.
As faces múltiplas da vida levam o homem a percorrer caminhos que jamais ele os imaginou. O ingresso de Floro Novais no cangaço, não se deve ao mero desejo de se tornar cangaceiro famoso, ou mesmo, um facínora espertalhão, para galgar as páginas dos jornais, através de um caminho tão escabroso e ínvio, mas com o desejo precípuo e íntegro, de salvaguardar e venerar o nome de sua família. E depois?
O livro FLORO NOVAIS, HEROI OU BANDIDO?, das inteligências pródigas desses alagoanos, narra a epopéia de uma saga sangrenta, enfrentada por um homem simples, que se tornou famoso, Floro Novais; cujo trabalho, pelo seu valor, certamente dissipará nuvens geradas a respeito desse homem tão controvertido, odiado por uns, endeusados por outros, porém, respeitado por todos. Floro Novais, para muitos foi homem de palavra empenhada, sertanejo de boa cepa e de uma têmpera irresistível. Sabia ser amigo sem jamais ter traído a nenhum deles, era possuidor de uma grande alma e temente a Deus. Também para muitos não passava de um tipo acostumado a matar gente. Onde está a verdade?
Referindo-me ao escritor Clerisvaldo B. Chagas, é hoje um nome respeitado dentro da Literatura Alagoana, sendo este o quarto livro de sua lavra. É o escritor do “Defunto Perfumado”, “Carnaval do Lobisomem”, “Ribeira do Panema”... Trabalhos de grande capacidade criadora e imaginativa dentro do estilo ímpar, gostoso de se ler, tornando Clerisvaldo um forte candidato a Academia de Letras. Um grande romancista de Alagoas já dizia, em artigo publicado no “Jornal de Alagoas”: "Ninguém se espante, pois, se em breve tempo, Clerisvaldo estiver entre os maiores romancistas do Brasil”. Este jovem também, é professor por vocação do Colégio Estadual de Santana do Ipanema, desfrutando de um prestígio invulgar naquele setor educacional de tantas tradições, sendo formado em Nível Superior na área de Estudos Sociais, especificamente em Geografia onde possui valioso e autêntico trabalho publicado nesse campo, focalizando sua cidade-berço.
O jovem escritor Clerisvaldo B. Chagas, é hoje um nome de peso dentro da educação e das letras de Santana do Ipanema. Grande professor que tem recebido de seus colegas e alunos os mais efusivos elogios, como um respaldo de seu trabalho feito, não só em sua cidade, mas hoje em todo estado e além fronteiras. Geógrafo, conhecido como, talvez, o maior professor da matéria, no interior.
FLORO NOVAIS, HERÓI OU BANDIDO? Foi escrito com alma e capacidade e, acima de tudo por um escritor de renome, Clerisvaldo B. Chagas. É o “escriba” que mais vende livros em Alagoas e o mais festejado do interior. Naturalmente, Clerisvaldo teve que mudar um pouco o seu estilo por não está no seu campo, mas que promete voltar com toda a força criativa de sua bagagem em um novo romance sertanejo (sua especialidade) já escrito e intitulado “Deuses de Mandacaru”.
Fazemos nossas, as palavras do filósofo Buyere, que sabiamente afirma: “Quando um livro eleva o nosso espírito inspira sentimentos nobres e corajosos, não procureis outro critério para julgá-lo, é um livro escrito por um mestre”.
França Filho, jovem comunicador e radialista, que, gradativamente, vem galgando os pontos elevados dentro da radiofonia alagoana, mormente na região sertaneja, agora também envereda pelos caminhos íngremes de escritor e, ao lado de Clerisvaldo B. Chagas, produziu este livro. Sua inteligência também o credencia a prosseguir com outros trabalhos no gênero, surgindo assim no cenário alagoano na soma com tantos outros valores da terra.
Convictos estamos caros escritores, que o livro FLORO GOMES NOVAIS, HEROI OU BANDIDO? Que vocês oram oferecem ao nosso povo, não será um ópio, mas um apanágio dentro de uma sociedade tão manipulada pelos meios de comunicação de nosso tempo, e onde a Literatura ainda é tão mal difundida. O livro de vocês é realmente digno de elogios, porque além da fidelidade dos fatos, possui uma narrativa acessível e um linguajar bem “assertanejado”, e, indubitalvemente, tornar-se-á um “best-seller” dentro da literatura alagoana e quiçá nordestina.
O livro FLORO NOVAIS, HEROI OU BANDIDO?, está aí, caro leitor, é seu, leia-o, depois faça o seu julgamento. Não somos advogados de Floro nem seus promotores. Mas, certamente, participaremos das milhares de discussões que irão ocorrer nas ruas, nos bares, nas praças e nas portas de igrejas, sobre o livro que ora entra no mercado.

Nota: Esse livro foi lançado em 1985.
Nota 2: Esse livro encontra-se esgotado e não teve nova edição. Escolas e biblioteca pública de Santana do Ipanema receberam exemplares do Autor, na época. Pode ser encontrado também em sebos do Brasil inteiro, como livro raro.
Nota 3: Frisos nosso (A).






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CARNAVAL DO LOBISOMEM

“CARNAVAL DO LOBISOMEM”

(Clerisvaldo B. Chagas. 19.01.2010)
Por ocasião do lançamento de seu primeiro livro, Clerisvaldo explicava que sua infância tinha registro especial nas areias do Ipanema, no banho do Poço dos Homens, e que a Rua do Sebo se constituía no pequeno mundo de um menino que viveu feliz entre sua gente.
É, portanto explicável a tendência do jovem escritor em buscar nas coisas simples da terra, na fertilidade dos acontecimentos populares, a Musa que alimenta a sua bagagem literária.
O bom, na leitura de Clerisvaldo, é a pureza dos fatos. Ninguém fica a ver estrelas. Zé Conceição temia lobisomens das estórias de arrepiar cabelos, mas não temia lobisomens de carne e osso...
Seu conto tem o desfecho passional característico da gente simples da beira do rio. Seus personagens não se arrastam; eles estão providos de almas sensíveis e seus movimentos são verdadeiros, pois são bem nosso, são tirados do meio do povo.
Cada palavra estou certo, não foi inventada, foi tirada do linguajar das massas, da simplicidade de uma gente periférica que a cidade conserva como riqueza e o tempo não relegará ao esquecimento. Djalma Carvalho, Clerisvaldo, Darras, continuam por aí anotando, pesquisando.
Uma característica muito do Clerisvaldo é que ele consegue prender a atenção alheia da primeira a última palavra. Neste ponto de sua carreira poder-se-ia dizer que ele vai longe. Se não aspira a proeminência, mas já tem o seu lugar ao Sol.
O espírito criticista do jovem escritor evidencia-se em “Ribeira do Panema”. Depois o Professor de Geografia dá uma de mestre com a “Geografia de Santana”. Agora, o contista. Sempre o desejo de não parar. Criar impactos.
Com satisfação nós, seus leitores, ficaremos aguardando o próximo lançamento.

ADELSON ISAAC DE MIRANDA
Prof. de História

Nota: Livro lançado em 1979.
Nota 2. Frisos nosso (A).
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domingo, 17 de janeiro de 2010

"RIBEIRA DO PANEMA"

PROSSEGUIMOS COM AS PALAVRAS DOS APRESENTADORES SOBRE NOSSAS OBRAS.


"RIBEIRA DO PANEMA"
(Clerisvaldo B. Chagas. 18.01.2010)

Santana está fincada no Sertão. É amiga íntima do Rio Ipanema. Rio das venetas. Manhoso. Tão manhoso quanto burro de cachaceiro. Nunca deixou, no entanto, ninguém morrer de sede. Isso não. Permite que lhes rasquem o estômago para sugarem o precioso líquido. Dá muita liberdade. Quem conheceu esse coiteiro do São Francisco, é testemunha. Nas suas imediações, urrava a onça-de-bode. Ainda hoje, as rolas brancas dormem nas suas margens. A cauã continua chamando a seca na serra do Cruzeiro. Algumas velhas, de cachimbo nos beiços, ainda fazem renda e contemplam o seu corpo cinza. Ali perto, na Rua do Sebo, os meninos ainda brincam de pinhão e ximbra. As mesmas estórias do papa-figo são recontadas de avós a netos. Cancão de Fogo e João Grilo ainda são heróis. Mesmo o famoso, adorado e assassino Poço dos Homens continua ali comendo gente. O Panema tem imã. Chama o carreiro, o botador d’água, o tangerino, o almocreve, o vaqueiro, o retirante, o boiadeiro... Conquista a todos com sua água grossa. Mas, às vezes fazem raiva ao Panema. Ele se dana, empesta-se. Aí é quando se faz de macho. Bebe ódio em Pesqueira e se vinga das afrontas. Negro come o diabo! Panema dá cabeçadas, rabos-de-arraias, soquetes, leva tudo no peito. Na raça. Baraúnas são arrancadas, cercas são destruídas, casebres diluídos. E o Rio velho de guerra, arrotando valentia, tórax estufado, convida os riachos para o seu cordão. Só depois de saciada a vingança, volta ao normal. Peito lavado. Começa a minguar. Fica manso de novo. Entrega o pescoço à canga.
Quem vê a “lua se banhando nas águas sujas do Poço dos Homens”, começa a recordar... Recordar... Também sei contar histórias do meu povo. Por favor, cruze as pernas nessa esteira-de-caboclo.

O Autor

"RIBEIRA DO PANEMA"

Os vários aspectos da vida nordestina, principalmente aqueles vividos pela população interiorana, formam um celeiro inesgotável de material para romancistas e, sobretudo de subsídios inestimáveis para estudiosos de sociologia. Embora muito já se tenha escrito a respeito, há lacunas a serem preenchidas. Muita coisa resta para se escrever ainda.
Se é verdade que um Graciliano Ramos, um José Lins do Rego, ou mesmo um José Américo Almeida, luminares da literatura nacional, publicaram vários livros sobre o assunto, isto, porém, não impede que outros possam fazê-lo. Não se pode encerrar a vida sertaneja entre as capas de cinco ou seis livros apenas. Está sobrando material ainda. Material inédito, capaz de encher muitos e muitos volumes, sem dúvida alguma. Aqueles escritores não esgotaram a fonte, ela está praticamente virgem e jorrando aos borbotões.
Não está saturada a temática sertaneja. Dizer o contrário é desconhecer a visão panorâmica de uma região que abriga cerca de trinta milhões de brasileiros. Uma cidade, um povoado, ou um lugarejo, podem ter pontos coincidentes, mas cada um possui uma particularidade inconfundível, com histórias próprias e facetas distintas.
Clerisvaldo Braga das Chagas, santanense de 29 anos, terceiroanista de Estudos Sociais, está estreando com o romance RIBEIRA DO PANEMA. Como agente de coleta do IBGE, profissão que o obriga a comunicar-se com pessoas e inteirar-se de situações, armazenou boas histórias e tipos humanos, que agora os enfeixou num romance de grande estilo. Basta dizer que o li, do começo ao fim, fascinado pelo enredo atraente e empolgado pela fidelidade com que abordou aspectos sociais do sertão.
Há de tudo no seu livro: política, sexo, folclore, sangue, desmandos e traições. Há doçura e maldade. É agressivo e romântico. Quando cheguei à última página fiquei lamentando que o livro não se prolongasse mais. É muito, por isso. É preferível se deixar o leitor na ansiedade de desejar ler mais, do que escrever demais.
Clerisvaldo Braga das Chagas atrairá muitos leitores para o seu romance de estréia. Santana do Ipanema e o Estado de Alagoas serão revolucionados. Muita gente irá pretender identificar, através de suas páginas, um ex-prefeito, um político, um coronel, um grandola enfim, personagens muito bem diluídos na urdidura do romance. Será motivo de assunto para os encontros nos bares, conversas de calçadas e também da porta da igreja. É gostoso, porque a carapuça irá ajustar-se à cabeça de muita gente. Não há mal nenhum nisto. A vida dos homens públicos pertence à história. Seus atos refletem-se na vida inteira de uma comunidade.
Da próxima vez que eu visitar Santana do Ipanema, procurarei conhecer os lugares citados por Clerisvaldo. Será um roteiro turístico que gostarei de palmilhar, sob o embalo das coisas gostosas que ele escreveu: a casa da amante do prefeito Maximino, a Rua do Sebo, o Poço dos Homens, e os demais recantos apresentados na Ribeira do Panema. Sentar-me-ei nas areias do “Rio Manhoso”, sem água, no verão, mas “arrotando valentia” e aliciando todos os “riachos para o seu cordão”, durante o inverno.
RIBEIRA DO PANEMA é um livro fadado ao sucesso, e seu autor iniciou muito bem sua carreira literária.

Luiz B. Tôrres
Nota: Frisos nosso (A).

Outros comentários:
a. “Ribeira do Panema” é muito para quem considera que se trata de um primeiro trabalho. Você começou por onde muitos desajariam terminar
Ribeira do Panema, já disse, merece os melhores aplausos, motivo porque abrilhanta a minha estante.
Aldemar Medonça (escritor)
Nota: frisos nosso (A).
b. O livro “Ribeira do Panema”, obra literária que vem alcançando excelente sucesso de livrarias do Estado, é merecedor dos maiores elogios da parte dos apreciadores de romance do gênero.
Sucursal da Gazeta de Alagoas
Nota: Friso nosso (A).






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quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

O COICE DO BODE

A PARTIR DE HOJE ESTAREMOS LEMBRANDO PALAVRAS DE APRESENTADORES DAS NOSSAS OBRAS PUBLICADAS, NÃO NECESSARIAMENTE PELA ORDEM. LOGO VOLTAREMOS ÀS CRÔNICAS (SEGUNDAS AS SEXTAS).


“O COICE DO BODE”
Piadas maçônicas
(Clerisvaldo B. Chagas. 15.01.2010)

APRESENTAÇÃO DOS EDITORES: O querido irmão Domingos de Oliveira Prado, Grão-Mestre do Grande Oriente do Estado de Alagoas, mandou-me, com sua dedicatória, um livreto maçônico intitulado “O Coice do Bode”, de autoria do irmão Clerisvaldo B. Chagas, da Academia Arapiraquense de Ciências, Filosofia e Letras. E como fazemos sempre, demos um lida dinâmica no livreto recebido – e aí veio o impacto. Esse livreto vai matar maçom, de rir. Precisamos editá-lo e divulgá-lo entre os leitores de “A TROLHA” e do Cículo do Livro Maçônico.
Não deu outra, o irmão Fernando se entusiasmou também e, de imediato, entrou em contato com o autor – e o resultado é este livreto de bolso.
Nós acabamos de lançar uma nova coleção “Cadernos de Bolso”, para atender pequenos trabalhos. Já estamos, com este, com 4 livretos publicados.
Este é um livro especial. Especial porque seu conteúdo é composto de mais de uma centena de boas piadas de cunho maçônico. No Brasil, não há outro livro no gênero. O irmão Clerisvaldo teve a pachorra de colecionar quase duas centenas de piadas, e depois, enfeixá-las em um pequeno volume. Não é um livro instrutivo, mas é um belo e bom passatempo e desopilador do fígado.
Veja esta:
TIRADENTES

Um profano cabuloso perguntava muito ao consertar objetos de um Templo, no Rio Grande do Sul. O Arquiteto foi perdendo a paciência. E foi aí que o profano apontou para a Corda de 81 nos.
─ E essa corda? ─perguntou.
─ Foi a que enforcou Tiradentes ─ disse o Arquiteto sem se conter.
Os Editores
APRESENTAÇÃO

Enriqueço agora, em tons de acentuados matizes, o já amplo mosaico de minhas manisfetações aos nordestinos.
A verve inata desse sofrido e valente contingente de brasileiros emerge, vigorosamente, do humor saudável que ele imprime ao seu cotidiano. Sua arte de praticar o sério tem elevado conceito no que divulga a sua filosofia de viver os dramas sem admitir que se destrua o seu ânimo de vivê-los, ainda, com estóica brejeirice
Eis o que se tem notado no seu repentismo poético, fruto de um apurado senso de observação dos fatos que tem marcado a vida do nordestino, regional ou nacionalmente. Nestes registros de humor maçônico, é de se ver que toda a profunda problemática de uma ritualística milenar, envolvente de uma trilogia de humanidade em seus valores mais absolutos de filosofia, filantropia e educação, não foi capaz de impedir ao autor a exteriorização do que de ameno e fraterno existe nos reservados ambientes dos irmãos maçons.
Fraternalmete
                                                                                                                               Humberto Lucena

Nota do autor: Humberto Lucena, então, Presidente do Senado brasileiro.
Nota 2 – livro lançado em 1983. Faz parte do Círculo do Livro Maçônico com circulação nacional. Encontrado nas livrarias maçônicas de todo o país.
Nota 3 – Friso nosso. (A)
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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

VÍTIMAS DE EXPLORAÇÃO

VÍTIMAS DE EXPLORAÇÃO

(Clerisvaldo B. Chagas. 14.01.2010)
Para o mundo estarrecido diante de mais uma catástrofe que se abateu sobre a América Central. Mais uma porque aquele belo país da Ilha Espanhola tem sido fustigado constantemente pela miséria, tirania, invasões e fúrias da natureza. O Haiti não é aqui, é bem ali, é acolá. Situado no mar do Caribe, O Haiti possui forma de jacaré com boca aberta. Tendo uma superfície de 76.192 km2 e cerca de 11 milhões de habitantes, esse país é considerado o mais pobre das Américas e um dos mais atrasados do mundo. Suas terras são formadas de montanhas e pequenas planícies nos vales de rios e no litoral. Outra forma de relevo é um planalto no leste e centro do território. Sua capital é Porto Príncipe com cerca de dois milhões de habitantes e, apesar do nome bonito, parece não dá sorte. País exportador de açúcar, banana, manga, milho, batata-doce, legumes e tubérculos, o Haiti, não consegue o progresso diante de tantos acontecimentos importantes e negativos. A maioria da população segue o catolicismo, sendo Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, sua padroeira. Com dez departamentos (semelhantes aos nossos estados), o país fala o crioulo, porém, 10% dos seus habitantes se expressa na língua francesa, também oficial.
Como o Caribe é uma zona perigosa devido aos violentos furacões, chuvas torrenciais e abalos sísmicos, o Haiti é óbvio, sofre todas as pressões de ordem natural. O terremoto que atingiu horrivelmente seus limites na última terça, segundo as primeiras notícias, matou milhares de pessoas. A capital ficou como se tivesse recebido um ataque áereo de grandes proporções. Sete pontos na Escala RITCHER, são mesmo de grandes proporções. O próprio presidente daquele país, René Préval, se espanta dando a catástrofe como coisa inimaginável. E o que estava fazendo ali naquela hora a nossa tão querida Zilda Arns, fundadora da Pastoral da Criança? Tombou na igreja durante uma apresentação para mais de uma centena de pessoas. Assim o Brasil perde no Caribe uma das heroínas do nosso país e do mundo. Além disso, vão-se também onze brasileiros do nosso glorioso exército em missão de paz. Um dia de inferno completo em Porto Príncipe. Capital marcada também por ditaduras como a do feroz François Duvalier ─ apelidado Papa DOC ─ a partir de 1964. Duvalier conseguiu exterminar a oposição, foi inimigo e perseguidor da Igreja Católica. Mas o Haiti tem histórico de outros tiranos em seu governo. Quando não é a natureza que aciona de um lado, são os aventureiros insanos que atacam de outro. A pobreza, a fome e a miséria tomam conta das ruas de Porto Príncipe. Lembra da Levada, bairro de Maceió nas imediações do centro comercial do mercado? O Haiti também é aqui.
Será que o castigo natural da América Central foi o meio que Deus encontrou para chamar a atenção do mundo para aqueles seres, também humanos? A verdade é que ditadores e natureza tramam contra aquele povo moreno. Relembrando o tempo da escravidão negra no continente:
É sim
O Haiti
Aqui
Ali
Acolá
As mesmas VÍTIMAS DE EXPLORAÇÃO.

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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

POR TRÁS DOS MUROS

POR TRÁS DOS MUROS

(Clerisvaldo B. Chagas. 13.01.2010)

Quando o famigerado muro de Berlim foi derrubado, houve festas na Alemanha e no mundo. O essencial naquele momento não era apenas a demolição do socialismo, mas o reencontro de familiares e parentes separados pela brutalidade de algumas nações. Anos após a euforia, eis que os Estados Unidos, alegando invasões de imigrantes clandestinos, resolvem construir outro “muro da vergonha”, entre o seu território e o México. Aquele país que anexou terras mexicanas antigamente e que hoje são estados americanos, continua humilhando seu vizinho, emergente do sul. Eles, os Estados Unidos, estavam lá na Europa ajudando os russos a dividirem Berlim. Mas a questão divisória também se abriga em Israel ao erguer um muro alto e longo contra os palestinos. Agora o mesmo Israel cisma em construir outras barreiras entre seu território e o Egito. Alega falta de controle com imigrantes ilegais e penetrações terroristas, devendo chegar às novidades em pouco tempo.
Casos de xenofobia vão alastrando-se no mundo e não constituem mais surpresas no continente europeu. Ali os países procuram fechar cada vez mais as fronteiras para imigrantes africanos, os mesmos explorados por eles durante décadas. Estão esquecidos da máxima que diz que a fome dá direito ao pobre de importunar o rico. Além disso, existe a própria discriminação no continente entre países do mesmo bloco. Essa aversão a estrangeiros vai expandindo-se pelo mundo afora, principalmente entre países desenvolvidos. Discriminam-se também pela cor da pele, pela origem do continente, chegando à antipatia pessoal. Apesar dos esforços de muitos pela união dos povos, esses muitos parecem poucos diante da crescente intolerância. No Brasil mesmo, as leis não impedem totalmente essa antipatia vexatória. Estados do Sul não se entendem; o Sudeste e o Sul torcem o nariz para nordestinos. Moradores de rua, índios, gays, prostitutas, mendigos, são vítimas fatais constantes nas grandes metrópoles do país. Os corações vazios de Deus trabalham apenas com a saúde e o ódio bestial, discriminatório e demolidor. Assim a discriminação vai formando círculos de isolamentos como uma pedra produz ondas sucessivas em águas tranquilas.
Não conseguimos enxergar povos felizes em isolamentos semelhantes. Aliás, os muros dos Estados Unidos e Israel, só fazem acirrar os ânimos e estimular a criatividade dos que detestam as fronteiras. No caso dos Estados Unidos, desde a Segunda Grande Guerra que procuram dominar o mundo fomentando ódio e derramando sangue em todos os continentes. Como podem colher morangos se plantam espinheiros? Terroristas não saem do nada. Quanto a Israel, sua história contemporânea de lutas com seus vizinhos, vem desde os tempos da volta do cativeiro no Egito. Deus prometeu a paz com as nações do seu entorno apenas a Salomão em homenagem a Davi. Enquanto vozes de amor e razão não tomarem a frente de Estados Unidos e Israel, a incerteza infeliz estará fazendo o seu papel dilacerante POR TRÁS DOS MUROS.






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segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

AS CORES BRASILEIRAS

 AS CORES BRASILEIRAS
(Clerisvaldo B. Chagas. 12.01.2010)

Bastante proveitosa a reportagem do Globo Rural do último domingo. Um tema empolgante sobre índios do Mato Grosso com excelentes qualidades de imagens e sons. É de impressionar a qualquer branco cuidadoso o desempenho indígena. Morando em uma reserva do tamanho de Sergipe, mesmo assim a preferência é pela carne branca, deixando a caça como segunda opção. Assim fazendo, os índios zelam pela saúde com sua dieta à base de peixe. A reportagem teve o cuidado de também mostrar a prática do exercício físico, o que nós fazemos através das academias. Outro aspecto interessante são os pomares de pequis plantados a cada criança que nasce. Funcionam como se fossem poupanças seguras para o futuro dos filhos. Sendo o pequi e a mandioca bases alimentares, compreendem-se os sábios gestos da aldeia. Também é digno de nota o sistema de armazenagem do alimento básico para assegurar o consumo coletivo durante um ano. Suas danças tradicionais, além de agradecimentos aos espíritos protetores, tem objetivos de manter a alegria, evitando assim a depressão. (Lembrar que o cristianismo diz que Deus não quer a tristeza nos seus filhos). Além da mentalidade adiantada na economia, saúde, religiosidade, os índios mantém a tradição sem dispensar a tecnologia branca como o uso do computador, da televisão e de filmadoras, como destaques. Em relação ao desmatamento, só o fazem em redor da aldeia quando são obrigados; mantendo atenção especial para evitar a expansão do fogo pela floresta. Em não precisando desbastar, simplesmente usam o sistema de descanso da terra, alternando a cultura. Existe até um ritual (que nós chamamos de junta de reconciliação) para reconciliar marido e mulher que se desentendem e se separam.
Inúmeras pesquisas sobre alimentos consumidos pelos brasileiros tem como início os trabalhos mantidos pelas tradições indígenas; entre elas, o milho, feijão, mandioca, arroz e, agora, o pequi amazônico.
Negros e indígenas não apenas ajudaram a colorir o povo brasileiro, mas também possibilitaram o orgulho saudável que carregamos dentro de nós. Isso causa respeito e admiração no mundo globalizado. E diante de tantas informações provadas através do Globo Rural, é de se perguntar quem é o índio e quem é o civilizado. O que os médicos nos recomendam, os da aldeia vem fazendo há centenas de anos. São reportagens dessa magnitude que aguardamos no nosso dia a dia. Estamos fartos de tantos direcionamentos para o negativo que preenchem as páginas sangrentas dos noticiários. É preciso, pelo menos, algumas dosagens de coisas boas para levantar o moral das multidões estressadas. Afinal o que não presta possui uma facilidade medonha para se propagar.
Nem tudo está perdido na televisão brasileira. Mas cabe também ao telespectador escolher os programas da sua preferência. Pelo menos não existe a falta de liberdade como no Iraque, China e Cuba. Enquanto isso vamos seguindo diante do mundo com as nossas CORES BRASILEIRAS.

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domingo, 10 de janeiro de 2010

MARIA BERRO GROSSO

MARIA BERRO GROSSO

Clerisvaldo B. Chagas. 11.01.2010)
─ Do CD do autor: “Sertão Brabo” – Dez poemas engraçados ─



1
Era forte e bonitona
Os braços dessa grossura
Não gostava de pintura
Morava lá na Cambona
Cada perna dessa dona
Era u´a mão de pilão
Rasteira tapa e balão
Deixavam os home no fosso
Que Maria Berro Grosso
Brigava que só o cão
2
Querendo encontrar Maria
Era nas briga de galo
Nas corrida de cavalo
Nas casas de bruxaria
Berro Grosso todo dia
Bebia pinga e conhaque
No baralho virou craque
Montava em lombo de burro
Se num cristão desse um murro
Foi na titela era um baque
3
Ela zombava e se ria
Se fosse fraco o matuto
Dava tragada em charuto
Que o fumaceiro cobria
Cachimbava todo dia
Na bodega de João Coxo
Dizia que homem frouxo
Nem passasse perto dela
Que só dava um cheiro nela
Se tivesse aquilo roxo
4
O fi de Mané Rebeca
Lhe chamou de popozuda
Ela grandona e parruda
Danou-lhe mão e munheca
Chegaram lá dois careca
Que vinheram se amostrar
Quase morrem de apanhar
Na briga a saia subia
Quem tava de longe via
Mas cadê macho encostar
5
Para lhe falar namoro
Nem mesmo morcego vampa
Porque se visse a estampa
Fazia bico de choro
Receio de entrar no couro
Se não agradasse a loba
Coxa de dezoito arroba
Quem olhasse se engraçava
Mas o medo atrapaiava
Nervoso grande da boba
6
Não aparecia home
Mode se ajeitar com ela
Falar fino perto dela
Só se tivesse com fome
De brinco nem lobisome
Nem amarelo bochudo
Chegou um rapaz sambudo
Com essas carça bem funda
Toda apertada na bunda
Levou porrada e cascudo
7
No futebol da cidade
No fubek deram um grampo
A torcida entrou em campo
O pau quebrou de verdade
Berro Grosso com vontade
Meteu soco em maloqueiro
Mordeu a mão do ponteiro
Como quem dançava regue
Deu um coice que nem jegue
No treinador de goleiro
8
Mas um dia o geringonça
Vaqueiro Zé Bolachão
Que montava em barbatão
Dava na cara de onça
No bar de Pedro Mendonça
Entrou tomando rapé
Deu espirros a grané
Berro Grosso se enfezou
Deu-lhe um chute que pegou
Bem nos negócio de Zé
9
Se virou-se Bolachão
Com seu braço de marreta
Depois duma pirueta
Rodou-lhe a parma da mão
Maria caiu no chão
Sem gritar e sem gemer
Pernas aberta a valer
Se fosse vender retrato
Gritou um cabra gaiato
Todo mundo ia querer
10
Ao levantar-se azoada
Ela disse agora achei
O macho que procurei
Já tou com ele amigada
Zé aceitou a cantada
Que também era donzelo
Depois daquele duelo
Só quer viver na cozinha
Com Bolachão tá mansinha
Já fez dezoito bruguelo

FIM
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quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

INTEGRAÇÃO E TURISMO


INTEGRAÇÃO E TURISMO

(Clerisvaldo B. Chagas. 8.1.2010)

Notícias sobre Alagoas dão conta de que o governo quer integrar as cidades ribeirinhas do rio São Francisco. No governo Lessa já se falava nesse projeto, mas não sabemos se a idéia é anterior a ele. No momento, porém, é o que menos importa. As dificuldades para se chegar a algumas dessas cidades, principalmente as interligadas por estradas de terra, são grandes. Durante a época chuvosa piora tudo. Para se chegar a determinados povoados ribeirinhos, sofre o carro e sofre o dono. Quem sai do Sertão e alto Sertão para Penedo ou Piaçabuçu, por exemplo, tem que viajar por Arapiraca e dali tomar destino sul. Com essa decantada rodovia, tudo seria facilitado. Piranhas fica perto do Sertão e Alto Sertão. Daí em diante seria somente descer margeando o São Francisco na sequência Piranhas, Pão de Açúcar, Belo Monte, Traipu, São Brás, Penedo. Daí em diante já existe a rodovia que leva até Piaçabuçu, foz do grande rio. Prosseguindo desse ponto, as cidades já estão interligadas por revestimento de asfalto. Caso aconteça o que estar sendo previsto, o turismo poderá, enfim, chegar até aqueles lugares também através dos transportes terrestres. Muito tem para ser visto na região. Piranhas, cidade presépio, oferece sítios arqueológicos, histórias do cangaço, trilhas, culinária e, além da hidrelétrica de Xingó, várias outras atrações. Pão de Açúcar, cidade plana, também tem suas histórias de cangaço, de D. Pedro II; casarios típicos, além de ser terra de músicos. Belo Monte mostra o encanto da paisagem tendo o rio como atração máxima. Traipu, cidade entre morros, antiga Porto da Folha, tem muito que contar pelo seu duro relacionamento com a natureza, bem assim como sua vizinha São Brás. Penedo já tem fama no Brasil inteiro. Resistiu bravamente às invasões holandesas, sendo a primeira cidade de Alagoas. Foi o sangue irrigado para todos os outros municípios ribeirinhos. Nessa cidade, não esquecer os livros do escritor penedense, saudoso amigo, Ernani Otacílio Mero (A História do Penedo).
Talvez essa estrada (ela só não basta), traga incentivos para desenvolver essa região tão esquecida pelo poder público. Muitos povoados e mesmo cidades parecem paradas em várias décadas anteriores. Constatamos em alguns lugares uma pobreza absoluta de cortar coração. Mas, ao contrário, constatamos o progresso crescente na outra margem do Opara. E para quem perdeu quase tudo na economia pesqueira após a hidrelétrica, bem que a nova rodovia é uma esperança. Mesmo sendo a esperança do nosso povo alagoano elevada ao quadrado. As encantadoras, deslumbrantes paisagens do “Velho Chico” não podem ficar ignoradas porque as classificamos entre as mais belas do mundo. Quem nunca esteve na região do São Francisco nas Alagoas, não sabe o que estar perdendo. Esperamos que o governo atual possa de fato investir nas cidades ribeirinhas para incrementar a sua economia e promover INTEGRAÇÃO E TURISMO.


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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

OS VALORES DO GRUPO

OS VALORES DO GRUPO
(Clerisvaldo B. Chagas. 7.1.2010)
Para os que fazem a Escola Estadual Padre Francisco Correia

Inaugurado em fevereiro de 1938 no Bairro Monumento, o Grupo Escolar Padre Francisco Correia, em Santana do Ipanema, Alagoas, é um prédio histórico. O citado grupo foi quem marcou a primeira etapa oficial funcionando até a antiga 4ª Série. Antes dessa parte, as escolas que existiam eram particulares e, mesmo oficiais lutavam com bastantes dificuldades em todos os aspectos. Podemos dividir a história das letras em Santana em seis fases. Primeira: escolinhas particulares (nem todas eram pequenas e particulares); segunda: do Grupo Escolar Padre Francisco Correia (séries: 1ª a 4ª); terceira: do Ginásio Santana (séries: 5ª a 8ª); quarta: do Colégio Estadual Deraldo Campos (segundo grau); quinta: (da Faculdade, ESSER); sexta: (escolas superiores à distância). Recebendo o nome de um dos fundadores de Santana, o Grupo Escolar, trouxe as primeiras normalistas da capital para o Sertão alagoano. Várias dessas professoras ficaram famosas na história educacional do Município, entre elas, Helena Braga das Chagas, Hilda D. de Carvalho, Iracema Salgueiro, Leopoldina Lima, Maria José Carrascosa, Durvalina Pontes, Maria de Lourdes Queirós, Audite, Nelzinda Nogueira Campos, entre tantas outras. Construída na gestão do 6º prefeito interventor, Joaquim Ferreira da Silva, a escola que estar completando 72 anos, pouco foi reformada. O pátio externo é grande e, o benefício que recebeu até agora, parece ter sido apenas a troca de um muro baixo cheio de pilares, por outro alto e fechado completamente. Isso há muito tempo. A parte do prédio, poucos benefícios recebeu. É de causar pena, uma escola de tantas tradições, localizada na avenida principal da cidade, continuar praticamente da mesma maneira de 1938. Ali estudaram milhares de crianças, entre as quais aquelas que exerceram ou exercem altos cargos na hierarquia estadual. Se existe em Santana uma escola resistente à falta de reconhecimento pelos seus filhos mandatários, é o antigo grupo Padre Francisco Correia. Está precisando de uma ampla reforma para se transformar em um prédio moderno e digno das suas tradições, com anexos e benfeitorias no terreno que aguarda há sete décadas. Enquanto isso a avenida ganhou praça de luxo, bancos e estabelecimentos comerciais que fazem jus à entrada de Santana. Mas o primo pobre continua lá aguardando, talvez, o centenário, para receber tais vantagens. Enquanto isso as esperançosas e competentes professoras dão continuidade à brilhante história da sua implantação.
Atualmente o grupo mudou o nome para Escola Estadual Padre Francisco Correia. Honrou-me bastante o convite que recebi para uma palestra naquela unidade, tempos atrás. Mas fiquei triste em notar o esquecimento dos que estão no poder estadual e mesmo municipal a respeito da Escola. Os mesmos que beberam daquele mingau que eu bebi durante seus recreios. Só o reconhecimento não é tudo. Gostaria muito de sair com aquelas professoras para uma aula viva sobre a história da nossa cidade pelo comércio e ruas de Santana. Estou sempre fazendo a minha parte. Autoridades, por que perdem a ocasião dos proveitos às raízes? Não esqueçamos, mesmo com atraso, os VALORES DO GRUPO.




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HISTÓRIAS DE TRANCOSO

HISTÓRIAS DE TRANCOSO

(Clerisvaldo B. Chagas. 6.1.2010)

Ainda nos tempos do rádio, ouvíamos boas histórias contadas pelas mães, pelas domésticas, pelos vizinhos. Os mais diversos gêneros tinham vez na cama, nas esteiras, nas redes coloridas. Histórias de amor, assombrações, comédias e de muitos outros gêneros. As narrativas vinham quase sempre da criatividade cordelista, mas também de variadas fontes que não sabíamos precisar. Com certeza não eram sobre a “Gata Borralheira” e nem indicavam “Branca de Neve e os Sete Anões”, pelo menos com maior frequência. Essas histórias divertiam, amedrontavam, criavam expectativa e bastante curiosidade. Quando nos reuníamos nas noites estreladas para esse tipo de diversão, os mais velhos diziam que iam contar histórias de trancoso. Qualquer história que não fosse real, séria, era rotulada como história de trancoso. Trancoso era, então, um termo qualquer cujo significado era mentira, coisa inventada para divertir crianças. Tanto é que podia e pode ser escrita com inicial minúscula (não estamos nos referindo ao novo Acordo da Língua Portuguesa).
Crescemos curiosos sobre a palavra que sempre escapou as nossas buscas. Só agora nos lembramos de mergulhar no assunto e, para surpresa, já encontramos o problema resolvido. Descobrimos, postado em seis de outubro de 2006, trabalho de pesquisa da insigne escritora Djanira Silva. A escritora pertence à Academia de Letras e Artes de Pernambuco e possui vários livros publicados. Diz a pesquisadora em longo artigo que Trancoso era o cidadão português Gonçalo Fernando Trancoso que teria sido contemporâneo de Cervantes, Montaigne, Shakespeare, Erasmo e Camões. Homem moralista e de poucas letras, entendia muito de Justiça e Tribunal. Diz ainda Djanira Silva que Trancoso escreveu 38 histórias e foi um dos iniciadores de contos em Portugal. As histórias de Trancoso eram simples e bem escritas e caiu no gosto popular.
Ainda encontramos muitas novidades nas coisas antigas do Sertão. Pesquisa é coisa sagrada e fundamental para a juventude. Infelizmente o termo para a maioria é uma cópia retirada da internet e entregue até sem leitura ao coitado professor. Temas para mestrado e doutorado não faltam nesse Nordeste velho de meu Deus.
A pesquisa da ilustre escritora pernambucana veio preencher esse espaço em nossa literatura de tradições nordestinas ─ sobretudo. É pena que atualmente histórias de Trancoso tenham se transformado em deslavadas mentiras dos mandões. Louvemos a pesquisa da nobre escritora Djanira Silva. Não foram poucas as pessoas embaladas em sonhos de crianças com as HISTÓRIAS DE TRANCOSO.


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segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

AS TRAGÉDIAS CONTINUAM

AS TRAGÉDIAS CONTINUAM

(Clerisvaldo B. Chagas. 5.1.2010)

Mais da metade das notícias de início de ano foi sobre as tragédias do Sudeste. Desabamentos de encostas que vitimaram dezenas de pessoas. As tragédias anunciadas não são privilégios de São Paulo, Minas Gerais ou Rio de Janeiro. Elas estão espalhadas pelos estados das cinco Grandes Regiões Brasileiras. São frutos ─ em quase sua totalidade ─ do descaso dos seus governantes que permitem construções em lugares impróprios. Quando não é a permissão oficial ou comprometida é a omissão ao acompanhamento do alargamento urbano. As maiores tragédias acontecem em encostas e em margens de rios e seus afluentes. A população pobre, não podendo comprar terrenos em áreas seguras, apelam para lugares insalubres. Um rio pode passar anos sem grandes enchentes, porém, tem seus limites marginais. A população constroi dentro desses limites e fica na esperança de que o rio ou córrego nunca venha rever o que é seu. Quanto às encostas que são declives por onde descem as águas pluviais, também levam nomes de barreiras, grotas, morros e outras denominações populares. Esses acidentes geográficos estão sempre ameaçados pelas chuvas. Bombas prestes a explodir a menor mudança do tempo. O desmatamento das encostas, hoje proibido por lei, desprotege o solo que desliza igualmente pneus carecas em pistas molhadas. Engolem o que encontram abaixo como casas, cercas e outros beneficiamentos humanos. Aliás, novos tipos de vítimas começam a aparecer no Brasil. São pessoas da classe média e rica atraídas no tempo de estio pelas belezas naturais dos lugares. Fazem como os americanos com suas mansões à beira-mar. A fúria das ondas leva tudo de roldão acabando o veraneio.
As autoridades são culpadas sim, quando consentem ou se omitem. Construções exigem planejamento, principalmente quando vão comportar uma quantidade exagerada de pessoas. Mas os “numerosos” afazeres dos dirigentes não permitem que eles se preocupem com os sinistros do amanhã. Depois dos fatos, abrigos e cobertores, algumas palavras de consolo e tudo fica definitivamente resolvido. Os lares cobertos de luto vão refazer suas vidas em cima da tristeza, do trauma, da depressão, abandonados depois a própria sorte. Afinal o que restou de vida continua; de qualquer jeito continua. Os maiorais apenas lavam as mãos como Pilatos. Logo, logo, todos esquecerão. Depois surgem outros dirigentes semelhantes e novas notícias opostas chegarão à mídia. Caso esquecido, ninguém punido. Até porque se houver punição será para os “teimosos” que construíram ali suas residências. As vítimas transformar-se-ão em culpados. Por outra rua, 2010 é ano de eleição. Tempos de festas e dinheiro a granel. Talvez chova, talvez não chova. Se não chover, adiam-se os funestos. Tem nada não. Para o ano AS TRAGÉDIAS CONTINUAM.


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domingo, 3 de janeiro de 2010

TUPIS E TAPUIAS

TUPIS E TAPUIAS

(Clerisvaldo B. Chagas. 4.1.2010)

Como já foi dito várias vezes, o senadinho na porta grande da loja de meu pai, teve importância fundamental nessas crônicas publicadas. Ali se reuniam várias pessoas em conversas de todo tipo. Eu, como adolescente, apenas gravava na cabeça para futuros escritos. Além disso, ponto estratégico entre o Largo da Matriz e o Largo da Feira, permitia observação completa do meu posto. Vem à lembrança pessoas que frequentavam o senadinho regularmente e outras, vez em quando: Entre os que ainda estão na memória: Tibúrcio Medeiros (fazendeiro), Diógenes Wanderley (funcionário), Antonio Correia, Sebastião Gonçalo (fazendeiros) Pompeu, Lucas, Enéas (boiadeiros), Domício Silva (industrial), Siloé Tavares (deputado), Ivo Wanderley (fazendeiro), Isaías Rego (comerciante e fazendeiro) e outros mais que contribuíram para o progresso de Santana e região. Entre eles surgia Álvaro Granja que mantinha uma padaria perto da ponte Gel. Batista Tubino, onde hoje funcionam o “Mercadinho Nobre” e a “Casa Guido”. Homem franzino, educado e agradável, Álvaro Granja contou aos parceiros de senado que certa feita fora visitar uma filha casada no interior do Rio Grande do Sul. Cidade pequena, pouco movimento, Granja sentou-se em um banco de praça para apreciar os transeuntes. Ao voltar a vista para o jardim, veio a vontade de colher uma flor e sentir de perto o seu perfume. Eis que um comerciante o observava do outro lado da rua e veio até ele com a seguinte pergunta: O senhor não é daqui? E como a resposta foi a esperada, o comerciante prosseguiu: Logo vi. Porque o pessoal da terra não arranca flores dos canteiros. Disse ainda o panificador que a vergonha foi tanta que procurou um buraco para se esconder.
A gente nota na maioria das cidades nordestinas o atraso de mentalidades exemplificadas nas ruas e em outros logradouros. Com ilhas de exceção, é a metralha nas ruas; praças destruídas por vândalos nos seus canteiros, bancos, estátuas; placas indicativas pichadas, aos pedaços; terrenos baldios repletos de lixo; animais à solta; criação de porcos dentro da cidade e muitas outras mazelas que permitem claramente fazer comparações. Quando nós, os nordestinos, viajamos por aí, vislumbramos nos três estados do Sul, uma cultura diferente na conservação dos bens públicos. E no Nordeste, mesmo com a força da lei em determinados projetos, o povo não respeita mesmo. Usa e destroi o patrimônio público, como ira de guerra contra o inimigo. De onde vem essa herança avassaladora sobre a propriedade coletiva? Será rescaldo dos indígenas? Dos tupis, dos tapuias? Virá da arrogância portuguesa? Da índole africana? Ou será da própria criação do indivíduo? Estamos numa fase de comunicação farta: rádio, televisão, internet, jornal, escolas, além dos diálogos constantes através das boas estradas. Todo mundo vê tudo, observa, ouve. Mas por que o vandalismo e o descaso não esbarram na educação sugerida? O exemplo do comerciante Álvaro Granja, apesar do tempo, continua bem firme e atualizado nesse Nordeste para vergonha geral. E como os índios no Brasil são ainda sacos de pancadas, os mais civilizados poderão nos acusar pela descendência: é que eles são filhos de TUPIS E DE TAPUIAS.


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sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

2010

2010

Clerisvaldo B. Chagas. 1.1.2010)

Vamos iniciando o ano de 2010, desconfiados como cachorro na igreja, porém, otimistas em relação ao futuro do País. Viemos passar a vista no Sertão velho de guerra, símbolo de resistência que glorifica o Nordeste. E vão passando as imagens de Antonio Conselheiro, do padre Cícero, de Lampião, das promessas, das ladainhas, das histórias de trancoso... Pela caatinga esverdeada o mandacaru ainda é o rei com sua coroa de espinhos e seu porte de atalaia nos umbrais das serranias. As cancelas quebradas e gastas, os arames no chão, o solo folheado, indicam um mundo oco e sem porteiras. As jiboias ainda caçam mocós nos pés dos lajeiros; espanta-boiada insiste nos gritos pelas várzeas dos açudes caboclos; e o matuto ainda lê os rastros nas encruzilhadas. Pelos serrotes esparsos transitam os bodes nas curvas das veredas. Rondam gaviões no céu anil, procurando caça. O preá cheira os arredores com o focinho nervoso e, o cassaco procura galinhas nos quitais abertos. Nos leitos arenosos dos riachos, rastejam os calangos; brotam as craibeiras; floresce o mussabê. Continua a luta da macambira brava pela sobrevivência. O cheiro da mandioca perfuma os arredores; a farinha torrada enche as narinas saindo dos fornos de barro vermelho. Relincha o cavalo na baixada e o jumento marca a hora sob frondosa quixabeira. Pontilhando os planos e as colinas os ipês vão manchando o crestado do mato cinza. Longe das luzes artificiais, as estrelas mostram o brilho e ensinam o caminho ao viajor. Quando o rebanho bovino marcha pela tarde continua à procura da malhada. Mas o meu Sertão velho chega em 2010, devastado em sua fauna, em sua flora, em seu coração sofrido. Continua ouvindo lorotas dos enganadores, dos maculosos, dos infames. E segue esse pedaço bravio do Brasil como guerreiro resoluto que não abre, que não vacila, que não se entrega. Sertão de granito, de terras áridas, de sonhos doces. Sertão que altifica o vaqueiro nas quebradas misteriosas, altaneiras, desumanas. Lá no alto o tempo não passa para o cruzeiro rude, para a igrejinha encardida, para as marcas nas antigas baraúnas. Flutua a poeira da tardinha montada na leve brisa. O poeta senta, afina a viola e canta a tristeza do lugar.
Como será 2010? O que dizem os arcanos, os adivinhos, os sinais dos tempos? Vamos jogando fora a roupa velha e vestindo a roupa nova da esperança como companheira inseparável na caminhada. Vamos tentando nos livrar do ódio que maltrata; da ira que destroi; do rancor que infelicita. Chega o ano novo para o velho homem, cheio de defeitos, cheio de mágoas, mas também trazendo um sentimento de fé que a Natureza oferta. Rapidamente os dias passam e os mais sábios vão entregando ao tempo as soluções dos seus problemas insolúveis. E como supervisionamos o Sertão, Deus também passa supervisionando tudo. Hora de uma renovação de dentro para fora. Momento de escrever na areia os negativos; hora de gravar na rocha as virtudes. Afinal, o Supremo nos concedeu mais uma oportunidade. Acho que merecemos UM FELIZ 2010.






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