“DEUSES DE MANDACARU”
(Clerisvaldo B. Chagas. 22.1.2010)
ANTES DA LEITURA
Carlos MoliternoSeja qual for o seu conteúdo — e há realmente uma variedade de temas dentro do romance — ele representa uma das grandes aventuras da inteligência do homem.
Os teóricos sempre tentaram estabelecer regras e limites para a sua elaboração, mas o problema continua discutível e controvertido, e embora algumas fórmulas tenham sido estabelecidas, elas não conseguem englobar “a totalidade extensiva de vida que ele reúne”, na opinião de Temístocles Linhares, o excelente ensaísta paranaense.
Na verdade, o que o escritor deseja mostrar, na urdidura de um romance, é o homem, visto dos seus vários ângulos, dentro da sociedade que o cerca e da qual ele é a peça mais importante. E realmente, não há gênero que o identifique de maneira mais objetiva do que o romance.
Aí, ele aparece de corpo inteiro, revelado nas suas características psicológicas, na sua posição social, nos seus conflitos cotidianos, na sedução e no desencanto, na alegria e no desespero, que são sempre os ingredientes da vida, hoje como antes.
São estas as divagações que nos ocorrem, após a leitura dos originais do romance de Clerisvaldo B. Chagas, intitulado “Deuses de Mandacaru”. O livro focaliza um episódio histórico, que se inicia na velha cidade de Olinda, dos tempos dos holandeses, e chega à época atual, principalmente ao cangaço que imperou nos sertões nordestinos.
E desse episódio histórico resultou a existência de um tesouro recolhido dos holandeses, em Olinda, e transportado para Penedo e em seguida para Santana do Ipanema, terra do romancista.
Nesse itinerário do tesouro, o autor desenvolve sua trama, focalizando várias épocas, ilustrando-as com uma movimentação de personagens, que dão ao romance um clima de aventura, de conflito, de dramas pessoais, e tudo isso dentro de uma atmosfera em que os numerosos fragmentos da história revelam a crônica de cada época.
Há neste livro tipos bem marcados como o de João Paulista, sertanejo e machão, de Levino e de Maria Pilar, todos eles levantando os seus próprios problemas, na revelação das suas próprias identidades. E diga-se, também, não se esqueceu o autor de nos mostrar, com uma relativa clareza, os mais escondidos sentimentos de suas personagens.
Já se disse que no desdobramento de uma história romanesca as explicações são desnecessárias. É possível que esse conceito se aplique a determinado tipo de romance. Neste de Clerisvaldo B. Chagas, cujo fundo repousa numa espécie de crônica de época, as explicações são sempre desejáveis, e elas servem para dar relevo ao roteiro da história. Também seus diálogos são explicativos e bem conduzidos, deixando o leitor em situação confortável para acompanhar os conflitos e descaminhos dos personagens.
“Deuses de Mandacaru” é mais um romance de escritor alagoano que vai conseguir um lugar em nossa história de ficção.
Nota: Romance inédito e engavetado há bastante tempo.Nota 2: Encerramos aqui a série de palavras de apresentadores das nossas obras. Segunda, voltaremos com as crônicas normais.
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