Clerisvaldo B. Chagas. 1.1.2010)
Vamos iniciando o ano de 2010, desconfiados como cachorro na igreja, porém, otimistas em relação ao futuro do País. Viemos passar a vista no Sertão velho de guerra, símbolo de resistência que glorifica o Nordeste. E vão passando as imagens de Antonio Conselheiro, do padre Cícero, de Lampião, das promessas, das ladainhas, das histórias de trancoso... Pela caatinga esverdeada o mandacaru ainda é o rei com sua coroa de espinhos e seu porte de atalaia nos umbrais das serranias. As cancelas quebradas e gastas, os arames no chão, o solo folheado, indicam um mundo oco e sem porteiras. As jiboias ainda caçam mocós nos pés dos lajeiros; espanta-boiada insiste nos gritos pelas várzeas dos açudes caboclos; e o matuto ainda lê os rastros nas encruzilhadas. Pelos serrotes esparsos transitam os bodes nas curvas das veredas. Rondam gaviões no céu anil, procurando caça. O preá cheira os arredores com o focinho nervoso e, o cassaco procura galinhas nos quitais abertos. Nos leitos arenosos dos riachos, rastejam os calangos; brotam as craibeiras; floresce o mussabê. Continua a luta da macambira brava pela sobrevivência. O cheiro da mandioca perfuma os arredores; a farinha torrada enche as narinas saindo dos fornos de barro vermelho. Relincha o cavalo na baixada e o jumento marca a hora sob frondosa quixabeira. Pontilhando os planos e as colinas os ipês vão manchando o crestado do mato cinza. Longe das luzes artificiais, as estrelas mostram o brilho e ensinam o caminho ao viajor. Quando o rebanho bovino marcha pela tarde continua à procura da malhada. Mas o meu Sertão velho chega em 2010, devastado em sua fauna, em sua flora, em seu coração sofrido. Continua ouvindo lorotas dos enganadores, dos maculosos, dos infames. E segue esse pedaço bravio do Brasil como guerreiro resoluto que não abre, que não vacila, que não se entrega. Sertão de granito, de terras áridas, de sonhos doces. Sertão que altifica o vaqueiro nas quebradas misteriosas, altaneiras, desumanas. Lá no alto o tempo não passa para o cruzeiro rude, para a igrejinha encardida, para as marcas nas antigas baraúnas. Flutua a poeira da tardinha montada na leve brisa. O poeta senta, afina a viola e canta a tristeza do lugar.
Como será 2010? O que dizem os arcanos, os adivinhos, os sinais dos tempos? Vamos jogando fora a roupa velha e vestindo a roupa nova da esperança como companheira inseparável na caminhada. Vamos tentando nos livrar do ódio que maltrata; da ira que destroi; do rancor que infelicita. Chega o ano novo para o velho homem, cheio de defeitos, cheio de mágoas, mas também trazendo um sentimento de fé que a Natureza oferta. Rapidamente os dias passam e os mais sábios vão entregando ao tempo as soluções dos seus problemas insolúveis. E como supervisionamos o Sertão, Deus também passa supervisionando tudo. Hora de uma renovação de dentro para fora. Momento de escrever na areia os negativos; hora de gravar na rocha as virtudes. Afinal, o Supremo nos concedeu mais uma oportunidade. Acho que merecemos UM FELIZ 2010.
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