quinta-feira, 28 de abril de 2022

 

 

A ÓTIMA NOTÍCIA

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.693





 

Adquirido pela UFAL – Universidade Federal de Alagoas, o terreno onde funcionava o Campo do Ipiranga, defronte o Hospital Dr.Clodolfo Rodrigues de Melo, demorou, mas construiu o seu Campus do Sertão da Universidade Federal de Alagoas. O belíssimo complexo já foi inaugurado e suas aulas estão asseguradas no Bairro Paulo Ferreira com os cursos de graduação em Ciências Contábeis e Ciências Econômicas. Esperava-se um boom de desenvolvimento no bairro após o hospital, o que de fato aconteceu. Agora a expectativa é que o bairro desenvolva ainda mais, tanto por causa dos ensinamentos da escola quanto do funcionamento da sua própria estrutura que atrairá restaurantes, lanchonetes, dormitórios, e investimentos pelos empreendedores locais.

Naturalmente novos cursos surgirão na UFAL, atraindo mais universitários para Santana e para o bairro. Acima do Hospital saiu conversa a respeito de uma Escola Superior de Direito. Ainda chegou a ser construída pequena estrutura em um loteamento particular, mas o assunto morreu, pelo menos pela Imprensa local. Os Cursos Superiores estão bem distribuídos no espaço Santanense. Isso permite às autoridades dirigir políticas públicas para esses locais. A UFAL está na parte alta do Bairro Paulo Ferreira, defronte ao Hospital; a UNEAL na chã do Bebedouro/Maniçoba, entrada/saída de Santana em relação à capital; e IFAL, no Bairro Isnaldo Bulhões, saída para Olho d’Água das Flores, muito embora não seja sede própria.

Como foi dito no início, as obras físicas da UFAL, chamam atenção no Alto da Cajarana, pela sua arquitetura e beleza o que conta muito para visitantes, curiosos e alunos, encaixando-se além disso em atrativo turístico bem perto da serra Aguda e da Reserva Tocaia.

PARCIAL DA UFAL APÓS A CERCA. (FOTO: IRENE CHAGAS).

 

 

 

 

 


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COMPRANDO PELES

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.692




 

Sentindo dificuldades para arranjar um encosto de lona para uma cadeira de balanço, lembrávamos que o usuário dos anos 60 utilizava pele de animal selvagem. Eram comprados com certa facilidade, a pele de onça, raposa e gato-do-mato, também chamado jaguatirica. Não havia ainda a proibição dessa matança por aí, embora nos anos 60 não se falasse mais na existência de onça, quando muito, uma onça de bode, onça parda ou suçuarana, mas já muito distante do nosso Médio Sertão. Os caminhoneiros traziam a pele de onça de outros estados, devido às encomendas. Todo o sertão vendia os produtos. Em Santana do Ipanema mesmo, havia um armazém de couros e peles onde atualmente é a Casa Lira. Pertencia ao cidadão ausente Jacó Nobre e, o homem rouco Antônio Baixinho, tomava conta.

Havia (ainda há) também um armazém de venda de couros e peles, construído no final da Rua Barão do Rio Branco. Sendo o último da rua, às margens do Ipanema, está sempre ameaçado por ele em épocas de cheias. Foi edificado pelo saudoso Firmino Falcão Filho (o seu Nouzinho) comerciante e fazendeiro que também foi prefeito do município. Geralmente esse tipo de armazém fedia pra danar, embora os que neles trabalhavam já estavam de narinas viciadas. O preço do couro ou pele, nunca procuramos saber, mas bastava encomendar e tinha o produto.  As leis foram chegando e endurecendo à atividade que ou ficavam apenas na venda de couro de animais domésticos ou vendia o prédio.

Essa atividade enricou a muita gente, inclusive ao coronel Delmiro Gouveia. Virgulino Ferreira, antes de ser o Lampião, já transportou couros e peles para Gouveia. Nunca, porém, fizemos pesquisas a respeito da rentabilidade em Santana do Ipanema. A curtição do couro na terra de Santa Ana acontecia nos curtumes do Bebedouro/Maniçoba no poço do Escondidinho. Muita gente trabalhava nessa atividade que abastecia as fabriquetas de calçados da região. E voltando ao couro curtido silvestre, o último que vi recostado em cadeira de balanço foi na casa do ex-vereador Cleto Duarte e dava-me impressão que fosse de raposa escura. Quanto a sua durabilidade, morre o usuário e fica o couro por gerações e gerações.

ARMAZÉM ANTIGO DE COUROS E PELES, O ÚLTIMO DA RUA BARÃO DO RIO BRANCO, EM 2013. (FOTO: B.CHAGAS/LIVRO 230)


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terça-feira, 26 de abril de 2022

 

BEBEDOURO MANIÇOBA

Clerisvaldo B. Chagas, 27 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.691


Situadas a cerca de 2, 3, km do Centro de Santana do Ipanema, essas duas localidades, rio abaixo, fazem parte das primeiras formações do município. No geral são duas ruas compridas e contínuas que sempre sofreram de isolamento. Somente no governo Paulo Ferreira, essas comunidades começaram ter alguma chance de progresso. Tudo muito devagar, água, luz, calçamento e os combates constantes da saudosa líder comunitária Dona Joaninha. Vale salientar, que o time Ipanema Atlético Club passou uns tempos jogando por ali enquanto fazia qualquer coisa no seu Estádio próprio. Ultimamente essa região ganhou acesso asfáltico enchendo de esperanças os seus moradores. Bebedouro, porque era a região onde o gado bebia. Maniçoba, porque ali proliferava a maniçoba, planta que também produz uma espécie de borracha.

Antigamente, anos 60-70, as duas ruas também se comunicavam com a BR-316, através de um corredor de aveloz indo sair por trás da UNEAL. Uma pequena ladeira saindo das ruas, pega uma chã muito boa que chega até a BR. Pois bem, Bebedouro e Maniçoba, propriamente ditos, já deram o que podiam nessas partes baixas. O progresso estar chegando fortemente na chã onde antes era o corredor de aveloz que virou estrada e encontra-se lotado de habitações e mais: UNEAL, Batalhão de Polícia, Escola Modelo, conjuntos residenciais, repartições públicas e agora o Complexo Nutricional Dr. Isnaldo Bulhões Barros, dão uma dinâmica forte naquela saída/entrada de Santana do Ipanema. É bom saber que essa região da chã também fazia e faz parte do Bebedouro/Maniçoba.

As duas ruas de baixo, estão localizadas às margens do Ipanema onde encontramos o poço do Escondidinho. Um pouco rio abaixo encontra-se a estreita foz do riacho do Bode. Como não se houve falar em sangramento do açude, o trecho do riacho após o paredão até o Ipanema, só serve praticamente para levar as enxurradas das águas pluviais e servir de avenidas a Calangos e preás espertos. O primeiro documento sobre Santana do Ipanema, fala da Maniçoba, de venda de terras e gado, cujo vendedor deixou a Maniçoba e foi morar em Olho d’Água da Cruz, antigo Poço das Trincheiras. Assim é nossa terra. Assim é o progresso.

COMPLEXO NUTRICIONAL DR. ISNALDO BULHÕES BARROS (FOTO: FELIPE VIEIRA/AGÊNCIA ALAGOAS).


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MARCO PERMANENTE

Clerisvaldo B. Chagas, 26 abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.670



 

Construído na antiga Praça da Bandeira em Santana do Ipanema o marco de passagem do Século XIX para o Século XX, funcionou como profecia para um dos maiores acontecimentos do Século XX. Um marco de passagem de século representando uma igrejinha verticalmente cumprida, sem primeiro andar e tão estreita que de fato apresenta o edifício como apenas o registro do acontecimento tão significativo. O marco foi dedicado a Nossa Senhora Assunção, cuja imagem havia sido encomendada a Portugal. Somente muito depois da inauguração do prédio, a imagem da santa chegou a Santana do Ipanema. Veio de navio e de trem até à cidade de Viçosa, final dos trilhos na época, e dali para a nossa cidade veio em lombo de jumento. Antes a imagem de N.S. de Fátima ocupava o espaço aguardando a sua chegada.

A igrejinha de N. Senhora Assunção faz parte do Quarteto Arquitetônico do Bairro Monumento, juntamente com os edifícios do antigo Ginásio Santana, Tênis Clube Santanense e antigo Grupo Escolar Padre Francisco Correia. Aliás, o nome do bairro vem dessa igrejinha/monumento. Adiante, a Igreja Sagrada Família e o prédio tradicional dos Correios fazem parte também da tradição. O marco do século parecia profetizar o surgimento de Lampião e o seu fim nos degraus do edifício. A praça não se chama mais da Bandeira e sim Adelson Isaac de Miranda e, a qualidade do prédio continua excelente, pois nunca houve negligência na sua manutenção. É um ponto turístico por excelência. A propósito, a igrejinha está situada na beira da rua, hoje asfaltada.

Antes nos os degraus não havia grade de proteção. Era comum alguns fazendeiros e outros afins marcarem ponto nos degraus da igrejinha, O que saía sobre a vida alheia era um absurdo. O lugar sagrado era esquecido e o que se ouvia ali, causava rubor até em mulheres de meretrício. Em suma, não havia o menor respeito por parte daqueles hereges (alguns já morreram). Não sabemos se foi por isso que o padre Delorizano Marques gradeou os degraus da igrejinha. Tempos depois, surgiu sem a grade. Atualmente não temos prestado atenção naquela porta que quase sempre vive fechada. Portanto, esse marco do século poderá ser um ponto turístico de muito destaque para Santana do Ipanema.

A igrejinha/monumento pertence à Paróquia de Senhora Santana.

 


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domingo, 24 de abril de 2022

 

GINÁSIO E CANGAÇO

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.689



 

Quando o Ginásio Santana teve sua tentativa de hospital frustrada passou uma fase ociosa. Em 1936, foi ali instalado um batalhão de polícia para combater o banditismo cangaceiro em Alagoas e no Nordeste. O edifício passou a ser sede de todas as forças-volantes sertanejas. Seu comando esteve entregue desde o início, ao Coronel José Lucena de Albuquerque Maranhão. Com a morte de Lampião, o edifício voltou a ficar ocioso e somente tempos depois, iniciou suas atividades como escola. O Coronel Lucena chegou a se candidatar a prefeito, ganhou a eleição e governou Santana. Depois se afastou para ser deputado e foi prefeito de Maceió. Hoje a principal avenida da cidade homenageia seu nome, é   a avenida da prefeitura.

Conversando com uma autoridade, existe uma pretensão em se incrementar o turismo do cangaço na cidade para uma conexão com Piranhas e Pão de Açúcar. O atual edifício da Escola Cenecista Santanense seria o ponto principal dos que procuram esse tema de aventura. Somando-se a isso, nossos cinco romances do ciclo do cangaço poderiam fazer parte desses eventos. Temos que aproveitar todo o potencial da nossa história que, completamente esquecida, passou a ser lembrada em nosso livro “Lampião em Alagoas”, livro que conta tudo sobre essa fase cangaceira em Santana do Ipanema. Queira Deus que estas ideias prosperem e comecem a ficar conhecidas em terras de Senhora Santana. Afinal, foram três volantes de Santana do Ipanema que acabaram com Lampião e o banditismo cangaceiro no Nordeste.

Santana do Ipanema passou a ser o centro do mundo no dia em que as 11 cabeças dos cangaceiros trucidados na Fazenda Angicos em Sergipe, foram apresentadas em latas de querosene e depois dispostas em lençol branco nos degraus da igrejinha de Nossa Senhora da Assunção, na Praça da Bandeira, defronte o Quartel do 70 Batalhão de Polícia de Alagoas. Mas Santana pode disputar esse nicho histórico do cangaço numa parceria bem elaborada com a cidade de Piranhas e que saiu na frente. Leia o livro “Lampião em Alagoas”, um clássico da literatura cangaceira. Santana do Ipanema em foco. A terra que deu fim a Lampião.

 

 


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quinta-feira, 21 de abril de 2022

 

 

DIA DO RIO IPANEMA

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.688




 

Em mais um aniversário do Ipanema, fomos olhar as condições do rio, desde as últimas cheias que desestruturaram inúmeras ruas e parte do comércio. Havíamos visitado todo o trecho urbano até o poço do Escondidinho na região do Bebedouro há cerca de oito anos. Muita beleza no paraíso das “Cachoeiras”, porém, antes, poluição desenfreada quando carroceiros, comerciantes e grande parte da população ribeirinha descartam tudo quanto não presta nos areais do rio. Parece nada haver mudado. Um longo trecho urbano que ficou esquisito após as tragédias das cheias, um deserto grande e àquela poluição de sempre. Poço do Juá, poço dos Homens, poço do Escondidinho e outros menores totalmente cobertos de plantas aquáticas de poluição.

Dizia meu saudoso amigo, compositor, cantor, garrafeiro e pescador, Ferreirinha, que o peixe está sob aquele lençol poluente. Nada impede a sua pesca. Mas achamos que somente uma fome braba e uma grande imprudência leva o homem a comer o pescado de altas fontes poluidoras. Recordo quando a AGRIPA – Associação Guardiões do Rio Ipanema, apresentou o projeto e a Câmara de Vereadores aprovou o Dia do Rio Ipanema em 21 abril. Ferreirinha também fazia parte da Associação e abraçou a ideia lançada por mim. Com muito orgulho fui o autor do “Ipanema, um Rio Macho” e pai da Ideia do “Dia do Rio Ipanema”.

Nasce o Ipanema na serra do Ororubá em Pesqueira, Pernambuco. Penetra nas Alagoas pelo município de Poço das Trincheiras, povoado Tapera e recebe pela margem direita ali mesmo o primeiro afluente em Alagoas vindo de Itaíba (PE). Banha três cidades alagoanas, Poço das Trincheiras, Santana do Ipanema e Batalha e mais terras de dois municípios: Olivença e Belo Monte. O rio Ipanema banha ainda os seguintes povoados Tapera, Guandu e Tapera do Jorge (Poço); Fazenda Nova, Poço da Cacimba e Capelinha (Olivença); Funil, Saúde, Timbaúba (Batalha); Dionel, Poço do Marco, Telha e Barra do Ipanema, (Belo Monte) onde despeja. Ao todo terá percorrido cerca de 220 km entre os dois estados.

PARABÉNS a Santana do Ipanema e ao nosso “IPANEMA UM RIO MACHO” PELO ANIVERSÁRIO de 21 de abril. SALVE!

1.   POÇO DO ESCONDIDINHO COM SEU TAPETE POLUIDOR. 2. GUARDIÕES AGUARDAM RESULTADO DO DIA DO RIO IPANEMA NA CÂMARA DE VEREADORES TÁCIO CHAGAS DUARTE. (FOTOS: ACERVO/ B. CHAGAS).

 


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terça-feira, 19 de abril de 2022

 

DO ALTO

Clerisvaldo B. Chagas, 20/21 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2687





Fui forçado a passar uma tarde inteira no Hospital Dr. Clodolfo Rodrigues de Melo, devido à problema de hipertensão. Entretanto a tarde estava muito bonita e os arredores maravilhosos como sempre. O cenário santanense visto do Alto da Cajarana sempre foi magnífico, principalmente nesta época em que o tempo semeia o seu verde por todas as colinas da cidade. Os que estavam comigo repetiam sempre sobre a beleza da paisagem geral e faziam questão de fotografarem o que fosse possível. Vale salientar que estamos perto do final de abril e o relicário sertanejo mostra que vai haver bom inverno porque as provas já foram dadas. Somente o rio Ipanema ainda continua altamente poluído coberto de plantas aquáticas de poluição.

No sábado da Aleluia, fomos visitar o topo do Colorado, onde passamos o dia vizinho à Fazendinha, à 430 metros de altitude. Além de desfrutarmos a paisagem local, fomos também comer um churrasquinho que o dia estava para um bom vinho  para quem aprecia. Além disso, produtos da fazendinha foram introduzidos em nossa refeição como o saboroso queijo de coalho assado também em forma de churrasco.  Foi aí que o meu neto de Maceió se esbaldou nas diversas atrações do Sertão de Santana do Ipanema. Dia grande!  Nada ficamos devendo ao Xingó, à Pão de Açúcar ou a Piranhas, como o pessoal daqui costuma fazer. É de se registrar, entretanto uma temperatura nunca sentida antes.

À tardinha, o tempo começou a mudar, as nuvens borrifaram os arredores e um vento poderoso fez uma varredura muito boa, tornando o turno muito mais agradável. Na fazendinha, o galo comandou as galinhas tanto na pastagem pelo capinzal quanto na volta ao galinheiro. Vacas procuraram o abrigo de um galpão e o quero-quero chegou em bando fazendo alarido saudando a névoa finíssima que se formava. Num giro rápido vimos ainda guinés, patos, gansos, pavão, carneiros e outros animais domésticos que caracterizavam a fazendinha inspecionada pelo meu neto.

Em breve voltaremos ali, pois tem outro topo da fazendinha para conhecermos. Falam maravilhas do lugar.

A simplicidade ajuda a viver.

SERRA AGUDA E RESERVA TOCAIA. ARREDORES DA CAJARANA. (FOTOS: IRENE CHAGAS).


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quarta-feira, 6 de abril de 2022

 

COMPRAR CARVÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 7/8 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.686


 

Nesta época em que o preço do gás está um absurdo lembramos dos tempos do carvão e da lenha. Lembramos também dos combates às atividades carvoeiras e ao desmatamento, com o incentivo ao uso do gás. E agora? Nem gás, nem carvão, nem a lenha. É para chorar? Um cabra lá em Maceió usava na sua padaria, plástico no fabrico do pão. Cheiro ruim danado na chaminé. Eu chamava o pão daquela padaria de “pão de plástico”. Em Santana do Ipanema, conheci dois pontos que permanentemente vendiam carvão: Na Rua Delmiro Gouveia e na Rua Tertuliano Nepomuceno. Tanto é que o saudoso Luís Lira (Lirinha) dono de casa de jogo, ao procurar o baixo meretrício, seguindo pela Rua Tertuliano, dizia a quem perguntava para onde ele ia: “Vou comprar carvão”, respondia rindo, de óculos escuros lentes verdes, tipo ‘ray-ban’.

A maioria do nosso carvão vinha de fornos do alto sertão, cuja caatinga estava também sendo devastada para fazer cerca, lenha, móveis, roças e inúmeros utensílios domésticos. Entretanto, a qualidade do produto, ninguém contestava até porque era feito pelas mais variadas espécies locais. A maior parte era entregue pelo fornecedor em sacos de juta e ficavam uns sobre os outros nas casas de venda aguardando compradores. Não sabemos se ainda hoje você encontra esse tipo de carvão na cidade, já clandestino. Caso queira um churrasquinho o sujeito tem que se conformar com o carvão fraco encontrado à venda em postos de gasolina: quantidade pouca, porém, bem embalado em sacos de papel grosso com a vantagem de não se melar na compra e nem no transporte. Na certa tem licença para plantio artificial.

O último movimento do carvão que vimos, era transportado em lombo de jegue, nas margens do rio São Francisco (Belo Monte) por meninos carvoeiros. Vale salientar que onde se usava o carvão para cozinha também se usava no ferro de passar. Já a lenha era mais usada nos sítios rurais; na sua falta usavam-se tábuas velhas, varas e até garranchos secos. Como dizem que a moda é cíclica, pode ser que o carvão e a lenha estejam de volta, mas de onde? Da caatinga nua

Nem sabemos afirmar se o tempo era melhor ou pior, mas, inspirado no Lirinha, os homens promíscuos pareciam felizes na compra do carvão.

INÍCIO DA RUA TERTULIANO NEPOMUCENO, EM INÍCIO DE NOITE (FOTO: B. CHAGAS).


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terça-feira, 5 de abril de 2022

 

FUBA OU FUBÁ

Clerisvaldo B. Chagas, 6/7 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.685



A Feirinha Camponesa realizada às sextas, defronte à Secretaria de Agricultura, em Santana do Ipanema, costuma fazer surpresas com produtos extintos da nossa culinária. Surpresas agradáveis como banha de porco, mungunzá, castanha assada, ovos de galinha de capoeira... E mais. Lembram-nos a fuba e o fubá. Aqui em nosso Sertão, fuba é a massa triturada do milho para se fazer cuscuz. Fubá (com acento) é o milho triturado ou pilado fininho para se comer puro, com açúcar ou com leite. Este desapareceu e só resta o fubá da indústria e que para nós é fuba. Mas onde se encontra o fubá? Foi extinto e, seu nome traz uma saudade danada do cuidado de não se engasgar ao comê-lo puro.

Todo mundo no Sertão sabe distinguir a fuba do fubá. E se a indústria quer saber mais do que o sertanejo sobre os produtos seculares da nossa gastronomia, continue mandando seu fubá para cuscuz. Ninguém vai brigar por uma pronúncia, mas mande produto bem e barato.

Veja o texto abaixo extraído do nosso livro parceria, Negros em Santana, publicado em 2012, pag. 34

Uma panela de alumínio vertical e comprida, pelas ruas de Santana do Ipanema, vai remando no alto de dois metros do   negro Fubica. A meninada já sabe. O brilho do metal anuncia um produto não inflacionado que resiste ao tempo. As crianças, os velhos, os adultos esticam as bochechas com apenas cinquenta centavos de fubá. O jovem preto, fino e atlético, é calado e paciente. Serve a sua eterna clientela o “pão” de cada dia. É o fubá trabalhado com capricho que sai limpo, cheiroso e fininho para a alegria dos citadinos. Pode ser comido puro, com açúcar ou com leite. Esse é um quadro das últimas décadas do Século XX. O negro Fubica vem de longe. Lá do povoado Jorge ou melhor, da antiga Tapera do Jorge. Nada existe de especial no quadro urbano apresentado. (...) uma cena do Brasil antigo na tela de um pintor francês. É Santana do Ipanema terminando o milênio com a presença negra e simpática dos seus alforjes históricos.

Você conheceu o Fubá sertanejo?


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domingo, 3 de abril de 2022

 

IMBURANA

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de abril de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.684



Existem árvores na caatinga, verdadeiras preciosidades pelo porte, pela utilidade, pela beleza. Pena que a mata nativa já tenha sido amplamente devastada, muito boa parte dela por completa ignorância dos nossos agricultores passados. Mas, sempre encontramos fazendas com reservas de mata nativa, conservadas pelo próprio fazendeiro. Nelas geralmente encontramos todas ou quase todas as espécies contidas na literatura da caatinga. Tivemos a felicidade de participarmos de uma visita a uma dessas fazendas no município de Poço das Trincheiras, durante uma pescaria magra de açude. Em torno da barragem havia uma reserva de mata deixada pelo matuto proprietário. Admiramos a exuberância da caatinga, extremamente verde com um complexo invejável de espécies e cuja penetração na mata era muito difícil.  

Encontramos logo no início a Imburana (Commiphora leptophloeos). A imburana pode ser de cheiro e de cambão. A primeira é muito valorizada, a segunda, nem tanto. A imburana é uma árvore de grande variação na altura. É bastante utilizada no Sertão em cercas de fazendas, em acessório de carro de boi e no uso de ancoretas para armazenagem de aguardente. Isto sempre como preferência a imburana-de-cheiro. Sua casca tem certa semelhança com o chamado “pau-ferro”, em algumas regiões denominado “Jucá”. Tem o seu tronco de película ligeiramente enrolada, num fenômeno único.  A imburana-de-cambão, não presta para muitas coisas, mas é utilizada em galhos tortos para fazer cambão, pelos vaqueiros. O cambão é uma peça que é usada no animal de porte para que ele não se distancie muito ou como castigo, daí o nome imburana-de-cambão.

No mundo sertanejo, quando um do casal quer ter o domínio absoluto sobre o outro, se diz: “quer botar cambão”. Em Santana do Ipanema havia um casal: Zé e Regina Cambão que moravam por trás do Comércio, na Rua Prof. Enéas. Extrema pobreza, ele varredor de rua, ela, prestando serviços com vasculhamento de casas. Ambos moravam numa pequena casa de taipa que havia ficado como peça de museu, defronte ao Poço dos Homens. Pois assim são as coisas simples, naturais e humanas do nosso mundo interiorano.

A propósito, imburana em Tupi é Árvore d’água, falso imbu.

Você aceitaria cambão?

IMBURANA-DE-CHEIRO (CRÉDITO EMATER)


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