quarta-feira, 30 de março de 2022

 

PONTE, PASSARELA, VIADUTOS

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.683



 

Novamente viemos bater na tecla de pontes em Santana. Na década de 60, o prefeito Adeildo Nepomuceno Marques conseguiu uma ponte para o rio Ipanema, através do, então, governador João Batista Tubino. Após estudos do melhor local, optaram pela região do Comércio onde foi construída em 1969; contrariando a vontade do povo que preferia a ponte sobre o rio, na região antigamente chamada Minuíno ou região das olarias, antiga estrada para Olho d’Água das Flores, pelo Bairro São Pedro. Com a ponte, a margem direita do Ipanema, antes desabitada, hoje é dona dos bairros: Domingos Acácio, Paulo Ferreira, Santa Quitéria, Santo Antônio e Isnaldo Bulhões. O que não faz uma ponte!

Passados os mais de 30 anos, uma nova ponte no Minuíno é necessária. É necessária para desenvolver diretamente os bairros São Pedro, Santa Quitéria, Isnaldo Bulhões e Santo Antônio e no geral, auxiliar a mobilidade urbana e Santana do Ipanema. Ver o exemplo acima. Além disso, o rio que atravessa toda à cidade Oeste-Leste, necessita também uma outra ponte ligando diretamente a Avenida Castelo Branco – Bairro São José – às imediações do Hospital da Cajarana. No mínimo, uma passarela que evitaria cerca de 6 km de rodeio e aliviaria o trânsito pela ponte do Comércio. Viadutos curtos e longos são necessários em regiões de sufoco desta cidade ladeirosa. Temos que formar estruturas urbanas para hoje e para o futuro. Não podemos ficar só no feijão com arroz. Muito já foi feito, muito se tem a fazer.

Quando será construído um anel viário no Maracanã? Aqui não existem críticas à gestão municipal, porém, sugestões arrojadas para a realidade de Santana século XXI. Uma faculdade de Medicina continua a ser o sonho da cereja do bolo, mas é tão difícil assim? As aspirações santanenses por uma ponte no Minuíno – hoje com o nome de Passagem Molhada – é uma aspiração legítima em que a verba federal faria isso num piscar de olhos. Ali funcionavam as três olarias que ajudaram no crescimento urbano: de Zé Cirilo, de Eduardo Rita e de Seu Piduca. Aliás aquela parte da cidade bem que deveria ser chamada de Bairro Olarias, como no Rio de Janeiro, justa homenagem à tradição e seus heróis.

Construir pontes é erguer ideais.

RIO IPANEMA NA REGIÃO DAS OLARIAS (FOTO: JEANE CHAGAS)


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terça-feira, 29 de março de 2022

 

POU-POU-TÁ-TÁ... BUM!

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.682



As festas mais antigas da padroeira de Santana do Ipanema tinham um alto padrão de festejos que os tempos atuais não conseguem. Considerada a maior festa religiosa de Alagoas, era repleta de atrativos sacros e profanos que faziam da terra um paraíso. De Penedo vinham cantoras famosas para o coral da Igreja e banda de música. Na praça central, foguetório, balão, barco de fogo, estandarte aberto com fogos, banda de música, parque de diversão e uma infinidade de bancas defronte a Matriz, no Largo da Feira, a se estender pelas ruas José Américo e Tertuliano Nepomuceno. Os balões flutuavam a partir dos fundos do “sobrado do meio da rua” (“Casa A Triunfante” de José e depois Manoel Constantino). Já o foguetório acontecia a partir do Beco de São Sebastião, ao lado da sua igrejinha.

Antes da banda de música do maestro Miguel Bulhões, anos 60, 70, e que tocava tanto fora da igreja, quanto dentro, havia um fogueteiro famoso e muito querido pelo povo, mas não vem à memória o nome dele. Faleceu. Passou uns tempos sendo substituído nos preparativos e fogos da igreja, através do moreno Manoel Domingos que também ajudava nas missas. Depois surgiu o fogueteiro Zuza, principal personagem nesta crônica. O fogueteiro era importante porque raramente aparecia fogos de indústria. O fogueteiro do interior fazia tudo: foguete normal, foguetão, foguete de lágrimas e bombas de todas as espécies. A maior bomba não era atômica, mas só era lançada   bem longe da cidade, no rio Ipanema. Abalava tudo.

Zuza fogueteiro surgiu do nada. Aos poucos conquistou todo o povo santanense. Branco, forte (quase gordo) só andava sem camisa. Paciente e educado, morava numa esquina da rua Tertuliano Nepomuceno, onde fabricava seus artefatos. Podemos dizer que a última banda de música de Santana do Ipanema foi a do senhor Miguel Bulhões (seu filho Ivaldo herdou, mas durou pouco). E o último fogueteiro da terrinha foi o carismático Zuza Fogueteiro. Em se tratando de fogos, deixava a festa da Padroeira sempre na vanguarda. Quanto ao beco de São Sebastião, deva acesso à Rua Prof. Enéas, por trás do comércio, e ao rio Ipanema. Devido à multidão, era dali de onde ganhava asas os foguetes de Senhora Santana.

Deus o proteja e guarde por onde se encontrar.

·         O título da crônica refere-se ao foguetório do Zuza.

COMÉRCIO ATUAL DE SANTANA (FOTO: B. Chagas)

 


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segunda-feira, 28 de março de 2022

 

MANDIOCA

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.681


 

Passeando pelos campos encontramos uma pequena roça de mandioca, o que indica persistência de certo agricultor. Para quem aprecia a zona rural, a paisagem de um roçado qualquer é sempre gratificante, porém, existem muitas coisas de ordem pessoal no olhar. Não deixamos de registrar as roças que chamam mais atenção pela beleza das plantas em estágio avançado. Ver uma roça de milho bonecando faz parte da beleza exuberante da planta. Uma roça de milho é belíssima, com seus frutos ou mesmo ainda sem eles, foi o que sempre acusou o nosso olhar durante tanto tempo de vida sertaneja. Outro plantio que sempre nos chamou a atenção também pela beleza e elegância, foi o pé de mandioca.  Sua folhagem completamente diferente, rendada, é de uma beleza única nos roçados.

 Realça a elegância da planta, o espaçamento dirigido pelo agricultor e a limpeza da roça em questão. Você contempla ao mesmo tempo a planta e a terra trabalhada. E por ser um plantio de baixo porte, dá para vê muito bem a Natureza e a interferência do homem. Em nossa opinião, nem uma roça “plantation” de algodão supera a planta ajardinada da mandioca. Esse produto sempre fez parte do tripé da agricultura de roça do sertão: feijão, milho e mandioca. Sempre foi a tradição sertaneja e que vem rareando sua existência e crescendo esse mesmo cultivo na região de Agreste. Lembra-me que quando os incentivos governamentais chegaram ao sertão com as construções de modernas casas-de-farinha, houve a coincidência de queda gradativa desse produto;

Nem toda terra serve para o cultivo da mandioca. Talvez tenha sido isso que influenciou no desestímulo ou até mesmo o preço não compensativo. Mas, falar da mandioca em geral é entrar numa vasta literatura de páginas sem fim. Seu histórico, seus benefícios para a saúde, sua diversidade na indústria e sua aceitação em todos os recantos do País. Ainda tem a parte chula dos engraçadinhos de plantão. Entretanto, queríamos apenas expressar a beleza da planta que infelizmente não serve para jardim doméstico, embora seja ajardinada. De qualquer maneira afastamos o estresse citadino do cotidiano e voltamos de pulmões limpos e leveza na alma, após cenário verde e calmante do campo.

Os indígenas estavam certos.

MANDIOCAL (FOTO G1).

 


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domingo, 27 de março de 2022

 

NA TERRA DA MARTA

Clerisvaldo B. Chagas, 28 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.680



 

O município de Dois Riachos, entre Cacimbinhas e Santana do Ipanema, tirou a sorte grande. A terra da jogadora Marta acaba de inaugurar o asfalto que liga a BR-316 ao povoado Pai Mané que possui um dos maiores açudes de Alagoas. O governador prometeu e cumpriu com intensa rapidez essa incrível obra. Um dos pontos turísticos altamente valorizado daquele município, forma parceria natural agora com a Pedra do Padre Cícero já consolidada pelo turismo religioso e pelas levas e mais levas de romeiros que prestigiam anualmente o local. Coincide que a entrada de acesso ao Pai Mané, fica bem vizinha à Pedra do Padre Cícero.  Isso permite que o visitante visite os dois lugares em uma só viagem e com todo conforto viário possível.

São 5,7 km de estrada inaugurada que assim consolida o trio econômico do próprio Dois Riachos: o açude, a pedra e a feira de gado, atrativos de além fronteiras. Para melhor informar, cidade e município são banhados pelo riacho Dois Riachos que empresta o seu nome como afluente poderoso do rio Ipanema. Este é mais uma atração histórica e estética da cidade. Ultimamente a Terra de Marta – que tem faixa receptiva na entrada do comércio – vem se destacando no sertão de Alagoas, desenvolvendo e atraindo cada vez mais gente para turismo, negócios e lazer. Portanto, a ligação asfáltica ao povoado Pai Mané, soa como uma ordem de serviço para outros importantes povoados sertanejos, como São Félix, Óleo e Pedra d’Água dos Alexandre, em Santana do Ipanema e muitos outros da região, cansados de poeira e lama.

Sem querer endeusar o atual governador, nunca se fez tanto pelas estradas sertanejas e pelo Sertão, no todo. Mas o governador vai renunciar para concorrer ao senado. Quem irá assegurar um novo “boom” sertanejo? Quem garante? Sem apontar erros, apenas benefícios, meu pai dizia que “um bom administrador mora longe um do outro, um aqui outro na Mata Grande”, exemplificava. Os demais povoados sertanejos não contemplados com acessos asfaltados, certamente ficarão arrepiados com um novo gestor estadual seja ele quem for. Mas, como define a sabedoria popular nordestina: “é melhor uma esperança longa do que um desengano cedo”.

Afinal, a pisadinha de espera sertaneja é secular.

Virá por aí um bom administrador ou apenas um Zé Banana!

ACESSO AO PAI MANÉ (FOTO: NENO CANUTO/DIVULGAÇÃO).

 

 


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quinta-feira, 24 de março de 2022

 

AGUARDANDO PELOS PÁSSAROS

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.679


 

Tive que deixar outros afazeres e correr para à novidade. Cedo ainda no domingo passado quando o bando de espanta-boiadas passou em alarido, dessa vez foi diferente. O bando não apenas passou. Voltou rápido por algumas vezes repetindo a algazarra nos céus. Oque eles estariam tentando dizer? Era uma festa e tanta. Acostumado com os sinais do Sertão, na flora, na fauna, nos astros... Notava a mensagem de intensa alegria dos também chamados quero-quero. Resolvi aguardar para saber da notícia boa anunciada, ou para mim ou para todos. E o certo, amigo, é que todo o alarido dessas aves, era o anúncio do início do outono naquele mesmo dia.

Já na quarta-feira à tarde, após excelentes pés d’água – três ou quatro com pequenos intervalos – e com direito à trovões, o bando passou novamente no alarido normal de saudação à chuva. Lembro-me então da frase do Gonzagão: “Deus é bom, o homem é mau!”. Depois do grosso, veio uma chuvadinha que durou à tarde inteira, a   temperatura dos 36, 37 caiu para 27 graus centígrados e o tempo deu ares de inverno com todas as características. Como os climas do mundo estão se transformando, difícil uma resposta da Natureza sobre regiões específicas do globo. Será que teremos um período chuvoso antecipado? Dizia o padre Cícero Romão Batista: “Choveu, plantou”. Embora aqui no Sertão estejamos comendo feijão verde em pleno mês de março, o produto é oriundo de regiões outras de irrigação. Geralmente o feijão-de-corda vai antecipando o inverno, matando a fome e revolucionando a carestia das feiras interioranas.

Ensolarado foi o dia da quinta-feira seguinte, parecendo nada ter acontecido. Apenas uma Natureza calma agradecida pela chuvarada da quarta. E com tanta coisa acontecendo também tive uma boa no campo literário. Os pássaros estavam certos. Vamos continuar torcendo para que tenhamos um ano de fartura no campo e que esta fartura reflita na cidade, como sempre. Por enquanto vemos o caminhão-pipa encostado. Perde o dono de ganhar dinheiro, mas ganha o povo com as bênçãos do céu. Vamos continuar aguardando os desígnios de Deus e a volta alegre e contagiante dos pássaros que ornamentam o mundo.

NATUREZA VERDE EM TORNO DE SANTANA DO IPANEMA (FOTO: B. CHAGAS).

 

 

 

 

 


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quarta-feira, 23 de março de 2022

 

É SERVIDO?

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2678


 

O serviço de ordenha no Sertão ainda obedece ao ritual dos nossos antepassados, de modo geral. Algumas fazendas se modernizaram, porém, o pequeno produtor continua no antigo sacrifício e romantismo repaginando. O empregado, vaqueiro, morador ou o próprio dono da fazenda, levanta-se ainda com o escuro para se dirigir ao curral. Caso seja tempo de chuvas, o sacrifício dobra dentro do lamaçal com esterco. Seu equipamento é um banquinho ou tamborete, um pedaço de corda, um balde curto e um balde grande. Amarra as patas traseiras da rês, puxa nas tetas com técnica, enche o balde curto e vai despejando no balde maior. Quase sempre fica à frente das patas traseiras. A corda evita surpresas e a posição também, embora já tenhamos visto mulheres estrangeiras ordenhando por trás da vaca.

O chamado tirador de leite profissional, tem que ser bom na munheca para dá conta de dezenas de vacas. É um empregado diferenciado e que sabe todos os truques da vaca em lactação. Outra coisa que sabemos é que tudo é leite das vacas que comem no mesmo pasto, usam da mesma ração, bebem da mesma água, mas algumas têm o leite muito mais saboroso dos que as suas parceiras de cercado. Esse tema faz lembrar uma página do livro “Lampião em Alagoas”, quando numa certa manhã, já no claro do dia, passa o bando de Corisco e Dadá e vê minha tia Doroteia, ordenhando, sentada no banquinho e saia rodada. O chefe do bando passa direto sem mexer com ninguém, aponta para Doroteia e diz: “Veja ali aquela dona, parece uma princesa!”.

Quando íamos ao curral de ordenha, levávamos sempre os nossos copos para a bebericagem do leite quentinho do peito da vaca. Uma delícia e que nada acontecia aos outros, mas a mim a diarreia era certeira após alguns poucos minutos. Mas é muito bom quando o vaqueiro diz: “Vou arranjar o leite mais saboroso de todos para você”, aponta com o dedo e diz o nome da vaca. E para quem é da capital e pensa que leite verdadeiro vem da caixinha, precisa visitar um curral de gado bem sertanejo na hora da ordenha. Faça como nós. Veja o leite espumante, quentinho na hora...

Você também pode levar um tamborete e aguardar a sua vez, sentado.

Hummm!... Uma delícia!...

É servido?

FAZENDA (FOTO: PINTEREST)

 

 

 


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terça-feira, 22 de março de 2022

 

COMENDO MOCÓ

Clerisvaldo b. Chagas, 23 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.677



Temos constantes informações na Internet sobre gente na fila do osso ou assaltando carro do lixo em busca de comida. Vemos também previsões para saques nos mercados ainda para este ano de 2022. Isso faz lembrar a seca de 1970, em Alagoas, quando a salvação dos humildes foi carne de preá e de mocó. Não se falava em meio ambiente, falava-se de fome braba que assolava o sertanejo nordestino. Assim como Deus mandou chuvas de maná para o deserto, aqui em Alagoas, surgiu uma praga de preás no campo, atacando principalmente a palma forrageira, alimento do gado. Começou, então, a chegar às feiras, ao mercado de carne, preás em balaios e sacos cheios.  Foi a salvação do sertanejo alagoano em busca de proteína. A praga de roedores matou a fome dos humildes. Aconteceu também em Pernambuco, porém, lá a praga foi combatida com veneno.

O preá e o mocó são roedores da família Cavidae. A diferença aparente é que o preá é cinza. O mocó tem a pelagem com manchas coloridas e é maior. Quem nunca viu um mocó, veja uma cobaia. O primeiro é muito comum em nosso Sertão. Está nos aceiros, na macambira, nos lajeiros, na estrada, nas roças de palma. O mocó não se encontra em todos os lugares. Gosta de terrenos abertos e habitar em pedregulhos. Ambos se alimentam de capim verde, raízes, brotos, frutos, casca de pau, gravetos... Não temos coelhos, lebres... Somente preá e mocó. Deve ser por causa da fiscalização que não encontramos mais na feira, esses animais. Mas nos sítios, para a própria refeição ninguém consegue impedir. Caso encomende, não é difícil conseguir às escondidas.

O preá e o mocó estão na parte de baixo da cadeia alimentar. O que mais possuem são predadores como cobras, gaviões carcarás e o próprio homem. Já encontramos aguardente de marca Mocó e   tipo de algodão nordestino da mesma marca. Muita gente tem aversão a esses cavídeos por eles se parecem com uma ratazana sem rabo. O sabor vai depender do modo de preparo. De qualquer maneira ambos estão protegidos por lei.

Sem preá, sem mocó, o Sertão fica sem graça.

Proteja a Natureza.

MOCÓS EM CIMA DE PEDRA (FOTO: JORGE SANTANA)

 


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segunda-feira, 21 de março de 2022

 

REVENDO O CAMPO

Clerisvaldo B. Chagas, 21 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.676


 

Os barreiros representam a forma mais comum de se armazenar água nas propriedades rurais, sertanejas. É certo que existe o açude, também chamado barragem, porém, os custos particulares com um barreiro são muito menores. Ai da pequena propriedade que não possui um barreiro! Eles são formados em lugares onde existem uma excelente bacia que possa facilitar a captação d’água da chuva, até às condições financeiras do ruralista.  Pode ser feito com pequenas escavações usando-se ferramentas simples e manuais, até respeitáveis tamanhos com uso de máquinas como tratores. Nos intervalos das chuvaradas, são limpos e desassoreado para renovar as águas. Seu uso vai para matar a sede dos humanos, do criatório, do gasto da casa e para lavar roupa. Geralmente as mulheres conservam uma ou mais pedras chatas e cuias de cabaças na beira do barreiro para a lavagem de roupa.

O barreiro não aguenta uma estiagem longa. Mesmo assim, terá cumprido o seu papel depois de cheio. Hoje em dia, os governos municipais ajudam na limpeza periódica, contribuindo na tradição da armazenagem. Ilustramos abaixo com um barreiro seco na Reserva Tocaia, em Santana do Ipanema. Suas águas e a das imediações formam o riacho Salgadinho de pequeno percurso até despejar no rio Ipanema. Parece insignificante, mas já deu muito trabalho e interditou a estrada. É o riacho Salgadinho que divide os bairros da Floresta e Domingos Acácio. Aperreou tanto que ganhou uma ponte em uma das administrações do prefeito Adeildo Nepomuceno e que foi alargada pelo gestor Isnaldo Bulhões. Sua foz encontra-se no famoso Poço do Juá, a maior largura do Ipanema em trecho urbano.

Não confundir o bravo riacho Salgadinho, também chamado Joel Marques, com o riacho Salobinho. Ambas as denominações indicam água salgada, porém, o Salobinho nasce nas imediações do povoado Alto do Tamanduá, cruza a BR-316, banha o sítio rural Salobinho e despeja ao lado do antigo matadouro municipal, um tranquilo afluente do rio Ipanema. O barreiro tanto pode formar nascente de riacho quanto pode ser abastecido por ele. Algumas residências já dispõem de filtro de barro no uso da água do barreiro. É esse o Sertão que eu conheço.

BARREIRO SECO AGUARDANDO LIMPEZA E ÁGUA CORRENTE. RESERVA TOCAIA. (FOTO: B. CHAGAS).

 


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domingo, 20 de março de 2022

 

SÃO JOSÉ

Clerisvaldo B, Chagas, 21 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.675


 

Sábado passado, dia 19, estava desatento à data, quando Jeane Chagas e Paulo Moraes, me enviaram mensagens de bela estampa do pai de Cristo. Fiz como o antigo doido Agissé de Santana do Ipanema, batei a mão à cabeça ao lembrar do padroeiro do meu bairro. A imagem é tão bela que reproduzi aqui abaixo, muito embora não viesse o seu autor. Além da sua própria história tão conhecida no mundo inteiro, ainda tem a construção da sua igreja na veterana localidade COHAB VELHA no incentivo de elevação a bairro. Para quem observou o antes e o depois, muito foi acrescentado àquela região após a inauguração da igrejinha de São José. Como várias outras igrejas, teve muita política no meio, discussões e tempo longo para conclusão, à exemplo da igrejinha de São Pedro e a do Bairro Clima Bom.

Prestigiado no Sertão inteiro, O santo é quem marca o período chuvoso, segundo os sertanejos. Mas, este mês de março já choveu várias vezes pouco ou muito. E se não choveu no sábado passado, exatamente no seu dia, não será por causa disto que teremos um inverno fraco. Nosso tempo sertanejo está variando sempre entre dias quentes e dias nublados com aspectos de inverno. E ainda pelo conhecimento do povo, temos no sertão o marceneiro, o carpinteiro e o “carapina”, sabe a diferença entre eles? São José foi carpinteiro, diz a tradição. Não sabemos informar se houve missa ou outros atos na igreja do nosso bairro, mas à tardinha muitos foguetes espoucaram para aquelas bandas.

São José é padroeiro da Igreja Universal da Boa Morte, das famílias, dos artesãos, dos engenheiros e trabalhadores. É também padroeiro das Américas, Canadá, China, Croácia, México, Coreia, Áustria, Bélgica, Peru, Filipinas e Vietnã, segundo nos informa certo site.

São José teria morrido aos vinte anos de Jesus. Também informações apócrifas dizem que ele era discreto, trabalhador e viúvo, ao casar com Maria. Muito pouco se fala dele nos Evangelhos. Entretanto quem é devoto de São José continua com fé inabalável independente de novas descobertas do esposo da Mãe de Deus.

SÃO JOSÉ (DIVULGAÇÃO)  

 

 

 


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quarta-feira, 16 de março de 2022

 

ADELSON ISAAC DE MIRANDA

Clerisvaldo B. Chagas, 16/17 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.674


 

Conheci o Dr. Adelson Isaac de Miranda como um dos primeiros dentistas formados de Santana do Ipanema. O homem viera de Bom Conselho, Pernambuco, casara com filha de Santana e se adaptara aos modos vivendi sertanejo. Estou lembrando tudo isso por está nesse momento na cadeira de um dentista da minha terra, onde a lembrança medra. Adelson gostava de trabalhar com músicas clássicas e assovios para relaxamento da clientela. Consultório defronte ao Grupo Escolar Padre Francisco Correia, lugar seguro para encontrá-lo e tratar dos mais diferentes assuntos. Foi um homem social intensamente participativo e chegou a ser um dos diretores do antigo Ginásio Santana, grande fonte do Saber, na época. Participava quase sempre de todos acontecimentos sociais da elite da terra.

Deixou-se apaixonar também por terra e gado chegando a adquirir uma fazenda à margem do rio Ipanema, muito acima do espelho d’água Barragem e dera a sua nova conquista o nome de “fazenda Berra Boi”. A entrada ficava na BR-316, perto do sítio Baixa do Tamanduá, cujo caminho por dentro da fazenda levava à sede, justamente voltando em direção ao rio. Um enorme cajueiro cuja galhada arrastava-se pelo chão, era um dos seus orgulhos da fazenda Berra Boi.

Trabalhei como professor sob a sua direção no Ginásio Santana. Adelson foi o prefaciador do meu livro e conto “Carnaval do Lobisomem” que ao sair da gráfica ele disse: “danado, você conseguiu ser imortal...” E eu respondi “Você deve ter muita coisa para contar, quando vai começar a escrever? Ele me disse que estava tentando arrumar seu consultório e arranjar um cantinho a seu gosto para iniciar na literatura. Acho que não teve tempo.

Homem dinâmico e futurista, estava sempre na vanguarda progressista da cidade. Tive o prazer de participar de um encontro/almoço/farra na fazenda Berra Boi e que se tornou inesquecível. Ainda fiz muitas caminhadas até a porteira da sua fazenda, pela BR-316, percurso em que eu calculava em três quilômetros. O homem de Bom Conselho recebeu homenagem póstuma quando seu nome substituiu a denominação da Praça da Bandeira defronte ao Ginásio Santana. Uma crônica não passa de uma gota d’água no açude da sua vida.

Um profissional competente

Um intelectual à frente do seu tempo.

 


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segunda-feira, 14 de março de 2022

 

DEBAIXO DA JAQUEIRA

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.673


 

 Não podíamos deixar de registrar a cena. Uma farra animada e barulhenta de homens na praça. Não havia bebida, mas o grupo aglomerava-se em torno de uma escancarada jaca mole, cada qual com um espetinho improvisado e parecia uma competição amundiçada. Os passantes achavam graça ou ficavam com inveja da brincadeira produtiva. Jaca não é fruto abundante no Sertão. Os terrenos de planura, inclinam-se mais para a criação de gado e raramente possuem fruteiras plantadas. Vamos encontrá-la em relevo de serra onde a fruticultura toma conta das elevações. Entretanto, durante época de safra sua presença nas feiras apresenta-se nas modalidades jaca dura e jaca mole.

A jaqueira (Artocarpus heterophyllus), é uma árvore alta e geralmente mais comprida de que esgalhada. Os seus frutos, as jacas, são ricos em açúcares, gorduras e proteínas. Pode funcionar como anti-inflamatório e contém outras propriedades medicinais. Troncos e galhos são usados para confecção artesanal com os mais diferentes tipos de peças, inclusive, instrumentos musicais. Apesar do seu plantio reduzido, aqui em Santana do Ipanema tem um sítio rural bastante conhecido e visitado chamado exatamente Jaqueira. Mas o bom mesmo disso tudo é a farra que se faz quando todos habitantes da casa participam da “comilança” dos seus gomos. Ou com garfo ou com espeto de pau os gomos moles vão sendo catados e deglutidos. A jaca dura vai mesmo de mão limpa. Dura ou mole, o resultado é sempre o mesmo: uma batidinha no ‘bucho” para medir o volume consumido e expressar a satisfação em ter passado tão saboroso fruto.

As expressões feias e chulas “Vá tomar na jaca” e “atolou o pé na jaca”, tentam desmerecer o fruto divino da jaqueira, porém, o seu prestígio crescente ganha corpo, notadamente, entre os mais humildes pelo volume tamanho família e que momentaneamente mata a fome de muitos. Em Maceió, a Chã da Jaqueira, bairro atingido pelo escândalo Braskem, oferece um cenário belíssimo do seu mirante para a laguna Mundaú, além de produzir o fruto na região.  Os que não podem comer açúcar, devem tomar cuidado com a glicemia alta dos seus gomos amarelos.

É tirar o pé da jaca e seguir em frente que atrás vem gente

JAQUEIRA E SEUS FRUTOS (FOTO: REVISTA NATUREZA)


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domingo, 13 de março de 2022

 

VISITANDO O MIAÍ

Clerisvaldo B, Chagas, 14 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.672


 

Não estamos tão distantes da Semana Santa, tempo em que nos dá bastante vontade para mudar de ares nas belas praias do Miaí de Baixo, litoral de Coruripe. Era uma viagem longa que passava em Arapiraca, São Sebastião, Penedo, Piaçabuçu e Feliz Deserto. Não compensava sair de Santana do Ipanema para Miaí, para ficar na praia por apenas um dia. Segundo boas informações, o governo estadual encurtou a distância quando asfaltou o trecho Colônia Pindorama – Coruripe. Após Arapiraca entra-se por atalho via Usina Pindorama, uma das cooperativas mais pujantes do Brasil. Já andamos outra vez ali por aquele atalho, porém sem asfalto e por dentro de desertos canaviais. Falam que agora é apenas um pulo de Arapiraca para Miaí, fora o direito de visitar a Colônia Pindorama já em terras de Coruripe, com seus fabricos de deliciosos sucos tendo como carro-chefe o de maracujá.

O pequeno povoado litorâneo ainda é um bom refúgio para quem quer descansar, mas no Carnaval descanso no lugar é perdido, tanto no Miaí de Baixo quanto no Miaí de Cima até a Lagoa do Pau. O que sempre nos chamou atenção por ali foi a praia que faz recuar suas águas fazendo o banhista andar muito ao encontro das ondas. Vezes que não se vê viva alma nas extensas praias desertas. Os mercadinhos se encarregam de abastecer a dispensa e, a feira do peixe na sede municipal é uma delícia para quem aprecia o pescado. Ainda é possível comprar camarão em barcos pesqueiros se o turista assim o preferir. Caso a preguiça não chegue dá para conhecer a cidade de Feliz Deserto e a própria Coruripe. Muito coqueirais e comidas típicas: paraíso alagoano.

Mesmo com esse atalho pela Colônia Pindorama, era muito bom rever os casarões e a orla de Penedo, cidade extremamente limpa e turística. A movimentação da cidade ensolarada de Piaçabuçu com seus barcos pesqueiros ancorados. Os infinitos coqueirais que levam até o Miaí de Baixo. O esforço de Feliz Deserto para progredir... Dunas, vegetação de beira de rio, vegetais praianos, atrações para uma boa câmera fotográfica. Geografia profunda na Foz do São Francisco, na Praia do Peba, nos desenhos dos encantadores cenários.

Alagoas, onde a felicidade mora.

“A gente faz uma latada

Cobre com paia de coco

De noite vê-se o pipoco

Da rapaziada...”

Obrigado, saudoso Jacinto Silva, forrozeiro do litoral.


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quarta-feira, 9 de março de 2022

 

ÁGUA DO POTE

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.67



 

“Puxa! Seus cabelos como estão bonitos, mulher! O que você usou?”.  “Água do pote, comadre”. Quantas e quantas vezes ouvimos esses fraseados no Sertão! Será que as águas de cacimbas do rio Ipanema, tinha mesmo esse poder mágico de embelezar os cabelos? Que as caboclas sertanejas tinham lá seus truques, tinham. Óleo disso, óleo daquilo, deixavam os cabelos brilhantes para a estreia da festa de Senhora Santana. Mutamba, babosa... Mas como a água salobra das cacimbas poderiam realizar esse desejo? Seria a cacimba de lugares específicos? O enigma estaria na armazenagem da água? É até bom que a gente não saiba tudo sobre as mulheres e seus segredos. Quanto mais misteriosas, mais atraentes elas ficam.

Mas como falamos em armazenagem d’água, ainda hoje quebramos a cabeça com cisterna, tonel de plástico rígido, caixa de banheiro e outros babados. Sem água encanada em Santana do Ipanema e em todas as cidades sertanejas, usávamos a armazenagem em recipiente de barro. Para o uso do cotidiano, era o pote, a jarra e o purrão. O pote, mais leve, arredondado, tanto servia para o transporte da água, quanto para a armazenagem. As mulheres mais humildes usavam uma rodilha e pote à cabeça em procura do rio. A jarra era comprida e pesada. Ficava em local da cozinha, escorada à parede com pedras ou tijolos soltos ajudando o equilíbrio. Depois vinha o “purrão”, uma jarra muito maior que complementava na cozinha das residências mais abastadas, o trio famoso de barro que fazia feliz a dona de casa.

Todas as três peças de argila, tinham obrigatoriamente um pano na boca para servir de coador. Depois, outro pano definitivo para cobrir jarra, pote, purrão, contra poeira, insetos e rãs. Depois de algum tempo a água ficava fria e gostosa. Pessoas que gostavam de beber, na falta de geladeira colocava a cerveja no pé do pote ou dentro do recipiente. “Quem não tem cão, caça com gato”, diz o povo. É só lembrar a música de Luiz Gonzaga, onde ele pede cerveja fria do pé do pote, no forró. O Sertão não tem condições de pagar tantos favores prestado pelos seus exímios artesãos, do barro, da palha, do couro e de um sem fim de material que serviu e encantou gerações. Ainda hoje o filtro de barro brasileiro é considerado o melhor do mundo. Não falta um filtro de barro de marca São João em nossa casa.

Zero água de geladeira. E seus cabelos como estão?

 


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terça-feira, 8 de março de 2022

 

VOLTANDO ÀS TOCAIAS

Clerisvaldo B. Chagas, 9 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.670


 

Após duas edições em cordel, esgotadas, sobre a história da Igrejinha das Tocaias, temos que voltar àquela ermida para novas fotos. É que, a necessidade de publicar a segunda parte da história ainda não foi contada e resolvemos repassar para a nova geração o lado social e religioso, novenas leilões, missas, promessas, assombrações e lutas de pessoas abnegadas no intuito de não deixarem morrer absolutamente nada desse nosso patrimônio de Santana do Ipanema. Assim convidamos os escritores João Neto Félix e José Elgídio da Silva para escreverem Atessa segunda parte tão bem vivida pelos seus pais na contribuição cotidiana da igrejinha em foco. Da minha parte, o que era cordel transformou-se em prosa para bem respaldar a parte de ambos os escritores. Os trabalhos das duas partes estão praticamente encerrados, faltando apenas alguns reajustes aqui ou acolá pelo zelo de repassar qualidade para a Santana moderna.

Atualmente a Igrejinha das Tocaias, está sob a responsabilidade da zeladora Maria José Lírio, está sempre precisando de ajuda popular, pois não pertence oficialmente a nenhuma Paróquia. Portanto, além de livro contando a história completa da ermida, iremos liderar um movimento social para trazer melhorias significativas para àquela localidade. Precisamos colocar decentemente a Igrejinha das Tocaias no circuito municipal do turismo. Isso também vai depender dos apaixonados pelo tema e pela prefeita Christiane Bulhões. No caso, são duas grandes atrações que existem na localidade rural Tocaias: a Igrejinha bissecular e a Reserva Tocaia, a primeira criada no Sertão de Alagoas e muito visitadas pelas escolas de Santana do Ipanema. Mais ainda temos três outras reservas em nosso município. Estudante em aula de campo fica felicíssimo, quando visita essas áreas verdes.

Temos reservas também em outros lugares como Senador Rui Palmeira, Água Branca e Maravilha, sendo uma maneira de preservar a Natureza e evitar desmatamento sem critério. Além disso, reserva é amplo laboratório para pesquisas dos mais diferentes profissionais e pulmão verde para cidades próximas. Mas o danado é o homem inconsciente que não procura respeitar a lei, invadindo a reserva para matar animais já em extinção e roubar madeira, principalmente madeira-de-lei.

Aguardando boa companhia para mais uma visita às Tocaias, ali a quinhentos metros do final da Rua Joel Marques, no Bairro Paulo Ferreira (Floresta).

Tempo convidativo entre sol e chuva.

IGREJINHA DAS TOACAIAS (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES)


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segunda-feira, 7 de março de 2022

 

COLCHETE

Clerisvaldo B. Chagas, 8 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.669




Colchete é nome de acessório de roupa, colchete foi nome de cangaceiro, colchete é cancela, porteira de pobre no Sertão. E quando se diz porteira de pobre, é porque fica mais fácil e barato confeccionar, fechar e abrir uma passagem com o colchete de que com a porteira. A cancela ou porteira é comprada nas   feiras livres ou feitas de encomenda aos carpinas da região. O colchete, qualquer vaqueiro sabem fazer. Consiste em uma peça móvel composta de duas estacas e alguns fios de arame farpado. Uma estaca é grossa e fixa, a outra, ligada à primeira por fios de arame, é fina e móvel. Fica encostada à outra estaca atada por uma corda, arame liso ou outra coisa qualquer. O transeunte levante a corda, tira da amarração, pega na estaca móvel e a arrasta até o outro lado, abrindo a passagem. Faz ação contrária ao fechar.

Pense num objeto cabuloso do sertão! Carregar aquela coisa molenga de um lado para o outro e repetir fechando, cozinha a paciência de qualquer cidadão. Mas fazer o quê?  O dono das terras quer economizar, manda fazer a espécie de porteira que engole a paciência de quem passa por ela o dia todo. Detestamos o colchete do sertanejo. Acontece que tem gente melhorando o troço, tornando-o mais duro nas extremidades do aramado, porém, a parte do meio continua molenga e a chateação é a mesma, bem assim é a insuportável porteira de buracos, de travessas ou de caibros finos. Consiste em dois mourões fixos, um de um lado, outro no lado oposto, com buracos redondos cada, entre cinco ou seis. Esses buracos são preenchidos com caibros roliços.

O gado não passa com a porteira fechada, mas se deixar somente alguns caibros, algumas reses abusadas pulam sem dificuldades. O chato é que o amigo tem que retirar de um lado todos os caibros, passar e repetir os gestos fechando. Caso esteja muito apressado e não querendo enfrentar a chatice, pode-se passar agachado por entre os paus. Esses dois sistemas de abrir e fechar cercado, remontam aproximadamente aos anos trinta quando as propriedades rurais que não tinham cercas, iniciaram esse mister. Assim vamos descobrindo as coisas da nossa terra, não enxergadas antes, como se não possuíssem valor algum. Ainda tem o passador, sistema curvo, inteligente para passar apenas pessoas. Este sim, é bem louvável.

Sertão universidade!

Sertão que voltou a chover!

PORTEIRA DE BURACOS (FOTO: HORSE)


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quinta-feira, 3 de março de 2022

 

ANCORETAS

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.668

 




Está muito difícil nos tempos atuais, encontrar um marceneiro para consertos. Antes, marceneiro para consertos de pequenos objetos, era um em cada esquina de Santana do Ipanema. Atualmente, com ideias de criação de polo moveleiro, nem polo, nem ideia e nem nada. Alguns marceneiros tentam desafiar o tempo fazendo peças de encomendas até porque é difícil concorrer com a organização desses profissionais de Arapiraca. Portanto, o amigo irá bater muita perna para encontrar quem conserte um tamborete, uma perna de mesa, uma cadeira quebrada... É como se a época dissesse: Tudo que quebrar na sua casa, jogue no lixo, compre outro na loja e pague até em doze prestações.

Dentre os fabricos de selecionados marceneiros dos anos 60, estavam os fabricantes de ancoretas – pequenos barris para transporte d’água em jumentos – Feitas com madeiras arqueadas e presas por arcos de metais, a ancoreta vinha com a tampa e o suspiro também de madeira. As pessoas menos letradas chamavam o pequeno barril de “ancorota”. O usuário ainda rodeava a tampa de madeira com um pedaço de pano velho para evitar vazamento,  como se usa hoje o tal veda-rosca. Quando a tampa original era perdida, usava-se o sabugo em seu lugar e no lugar do suspiro. As ancoretas eram utilizadas para transportar água do rio Ipanema para as residências. Havia na cidade, mais de cem botadores d’água e seus jumentos de raças pegas ou canindés.  Quatro ancoretas ficavam acopladas em ganchos de ferro na cangalha do animal, que ainda tinha manta por baixo da cangalha e cabresto de corda de caroá. O dono do jegue conduzia ou não vasilha e funil para encher as ancoretas nas cacimbas do rio seco.

Os mais humildes, no lugar das ancoretas, usavam latas de querosene ou de outra coisa numa plataforma de madeira, penduradas por cordas de caroá no pau da cangalha, chamada caçamba. Na ladeira que fica defronte o Mercado de Carne, tinha o marceneiro Lourival que fabricava ancoretas na sua oficina em casa Homem idoso, tranquilo e educado. Depois que chegou em Santana a água encanada, tudo o que disse acima foi desaparecendo. No final do século XX, havia marceneiros que fabricavam ancoretas pequenas de imburana-de-cheiro para vender a donos de bares. Era o barrilzinho de cachaça e que tinha uma torneira para alimentar os beberrões. Por hoje basta.

ESTÁTUA AO JEGUE AO ANOITECER EM SANTANA DO IPANEMA. (FOTO:   B. CHAGAS)

 


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quarta-feira, 2 de março de 2022

 

MARÇO, OUTONO, CINZAS

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.666


 

Finalmente passou o mês pesado e mais curto do ano. Vamos iniciando uma nova marcha completamente estranha com incógnitas mais severas sobre o dia de amanhã. Ganhamos da Secretaria de Desenvolvimento Rural, Meio Ambiente e Recursos Hídricos um Kit de camiseta e boné dos Profetas das Chuvas. Uma lembrança do recente encontro sobre o clima na área sertaneja. Muita chuva em fevereiro, mas também altíssimas temperaturas durante os dias, variando entre 36 graus a 24 durante às noites, no contraste. Março é um mês comprido, psicologicamente o mais comprido do ano e sem nenhum feriado para amenizar o batente. Março, tradicionalmente é um mês severo de estiagem, porém marca o início do outono, estação de começo das nossas chuvas no Sertão a partir de maio.

Os alastrados do antigo Loteamento Colorado estão floridos e frutificados, os pássaros se deliciam com seus frutos roxos e o vento sopra bem pelo relevo da colina. Será o anuncio de bom inverno?  E nessa Quarta-Feira de Cinzas, marcou as cinzas antecipadas do Carnaval e, infelizmente o triunfo do COVID l9 em nosso estado. Mas o nosso Soberano tem o poder de mandar a pandemia para um lugar distante do Universo onde não passa ninguém e frear a sede de ambição dos que pretendem dominar o mundo. Enquanto isso vamos espiando os movimentos mágicos das nuvens que trazem o pão aos nossos sertões nordestinos. Joelhos ao chão, olhares nas variações do tempo.

Passado o dia tão aguardado da Quarta-feira de Cinzas, lembramos quando as igrejas da cidade ficavam lotadas de fiéis para a tomada de cinzas na testa. Uma lembrança e advertência que todo somos frágeis e que voltaremos a virar pó. Uma quarta-feira triste de fim de mundo. Tudo, tudo está diferente já nos antecipavam as forças do Universo. Mas mesmo com todas as tristezas da terra, prossegue o mês de março a sua marcha inexorável.  Início de Quaresma, um período longo e santo perfeito para orações, meditação e oportunidades de abandonar o negativismo da vida. Tempo de fortificar a alma e garantir a luz. Quem sabe! Em meio à guerra e pandemia não aparece um facho luminoso no final do túnel!

Louvado seja o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó... E nosso também

ANOITECER NO COLORADO (FOTO: GUILHERME CHAGAS).

 


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terça-feira, 1 de março de 2022

 

VOLTANDO AO BAIRRO ISNALDO BULHÕES

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de março de 2022

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.665



Segunda de Carnaval, para tirar a monotonia do peito, fomos almoçar no topo da colina do Bairro Isnaldo Bulhões (antigo loteamento Colorado). Subimos todos os patamares com a mesma alegria de outras vezes, pois estávamos novamente em contato com à Natureza. Após o almoço fui gozar a beleza dos arredores daquele monte com 340 metros de altitude. No topo da colina mesmo, na última rua, somente duas casas habitadas e abaixo dessa rua, casas e mais casas em construção preenchendo aos poucos os terrenos vermelhos e baldios. Ao lado, limite com uma fazendinha que nos encanta bastante com o mesmo padrão de zona rural. Mais uma vez ficamos mostrando ao neto e família da capital, cenas da fazendinha.

Ao entardecer, galináceos deixando o abrigo e se espalhando pelos arredores, ciscando e catando bichinhos. Para eles, na hora aprazada, o galo pintado comandou a volta ao galinheiro, sem ninguém mandar. Ali estariam ao abrigo contra cassacos e raposas dos arredores. Vacas e Bezerros também se recolhiam no galpão de alvenaria. Mais perto de nós, formigas, abelhas, maribondos, inúmeras aves logo identificadas ou não: bem-te-vis, azulões, corujas... Para fazerem parte de um céu que se ornamentava no horizonte onde as primeiras luzes se acendiam nas habitações dos sítios rurais, lá longe, lá embaixo... Que maravilha de se vê! De um lado os sítios e fazendas, do outro, as milhares de lâmpadas acesas no centro da cidade.  E a ingênua pergunta repetida: Será que estamos em Santana, mesmo?

Deixamos nos encantar com o arrebol do lado dos sítios e fazendas. Cadê vontade para descermos até a realidade pela AL-220? Devaneio interrompido, descemos a colina com o cruzar de aves notívagas que igual a nós, penetravam nas trevas. Nem só de beleza de praia vive o mundo! Morando lá bem no alto você ainda compra ovos frescos de galinha de capoeira, leite verdadeiro tirado na hora e ainda adquire adubo para vicejar seu jardim. De sobra arranjamos por ali o melão-de-são-Caetano que prolifera nas cercas de arame e se tornou febre na Internet com o seu poder curativo.

Dia magnífico e pessoal, mas que não resisti em dividir com os nossos leitores do blog.

Amar a Natureza é amar o Criador. Desculpe a emoção.

ALASTRADO EM LAJEIRO. AO FUNDO MÉDIO, SERROTE DO CRUZEIRO, AO FUNDO DISTANTE, SERRAS DA CAIÇARA E DO POÇO RESPECTIVAMENTE. (FOTO B. CHAGAS).

 

 


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