terça-feira, 31 de agosto de 2010

GARGALOS DA EXPANSÃO
(Clerisvaldo B. Chagas, 1º de setembro de 2010)
     Não surpreende saber que Arapiraca será metrópole como diz a revista “Veja”. Basta dizer que ela já é realmente uma metrópole estadual. O seu crescimento é extraordinário em todos os setores. Suas terras são férteis, planas, ligeiramente onduladas a se perder de vista. A cidade trabalha na infraestrutura e, seu crescimento físico acelerado, mais novas indústrias e importantes cursos na Educação asseguram o futuro promissor. O importante não é crescer, mas crescer com qualidade de vida.
     Em Santana do Ipanema vamos enfrentando o caos que toma conta do trânsito sem busca de vias alternativas. Fomos brindados ultimamente com as estruturas particulares da entrada de Santana pela AL-130. Posto de gasolina e distribuidora no início de quem vem de São José da Tapera, Pão de Açúcar, Senador Rui Palmeira, fizeram uma paisagem digna de uma cidade grande. Está faltando o básico, porém, desse local até o rio Ipanema passando pelas Cajaranas e Conjunto Eduardo Rita. Com asfalto, planejamento e a tão sonhada ponte, cuja ilusão se arrasta desde os anos 50, tudo poderia virar progresso. A região do conjunto que rodeia o serrote do Gonçalinho carece de toda atenção do poder público para se expandir. Uma ponte sobre o rio Ipanema naquela passagem molhada iria dá a mesma força que a ponte General Batista Tubino deu para a criação dos bairros Floresta e Domingos Acácio. Além disso, iria desafogar o trânsito caótico do comércio. A construção de duas ou três pontes menores sobre o riacho Salgadinho acabaria de integrar os dois bairros acima, ajudando no acesso ao hospital novo e ao polo da UFAL, além do incentivo a expansão de povoamento pelo sopé esquerdo do serrote do Cruzeiro. É urgente o alargamento com asfalto da Rua Abdias Teodósio para dá melhor acesso ao Hospital Clodolfo Rodrigues de Melo. Por outro lado, o caminho do hospital novo até o rio Ipanema para o Bairro São José, tem apenas 60 centímetros de largura. Se for alargado esse caminho e construída outra ponte no local, toda a região do Bairro São José iria economizar cerca de 6 km de rodeio, além de desafogar a Ponte Padre Bulhões e o comércio. Em suma, construções de pontes deveriam ser uma das metas de infraestrutura de Santana do Ipanema. Outros terrenos e fazendas que impedem a expansão de Santana devem ser enfrentados pela coragem do planejamento em nome da coletividade. Recentemente, no Bairro Barragem, um proprietário limpou uma boa área de terra para iniciar um conjunto habitacional, cujos terrenos já se encontram à venda. Isso, entretanto, é coisa rara por aqui. Investimentos particulares com estrutura para expansão é pé de cobra, ninguém vê. A cidade quer se expandir, mas está amontoada, sufocada por ideias retrógradas de quem pretende sustar uma avalancha com a mão.
     Enquanto isso a sociedade que se diz organizada, vai apenas cuidando do interesse uno. Um exemplo claro que alguma coisa precisa ser feita, é a Festa da Juventude e a de Senhora Santana que não cabem mais na região do comércio. Pense numa cela para dez presos onde estão oitenta! É preciso mentalidade nova e bons profissionais como urbanistas e outros peritos em crescimento e planejamento urbano para que a nossa cidade rompa com esses pontos que a impedem florescer. Para problemas grandes, grandes pensadores. Nem adianta reclamar todos os dias da UNEAL à Barragem, do Lajeiro Grande ao Cachimbo Eterno. Reclamar para quê? É enfrentar com firmeza os GARGALOS DA EXPANSÃO.


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segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ATACAMA

ATACAMA
(Clerisvaldo B. Chagas, 31 de agosto de 2010)
(Crônica: número 350)
     As atenções do mundo se voltam para o país chileno e a mina obstruída no deserto. Tragédias em minas de cobre, ouro, carvão e outros minerais, ocorrem em vários países do mundo. A China é a mestra em matar mineiros nas galerias que exploram o carvão. Com seus segredos sem fins, nunca se sabe quando os chineses divulgam verdades ou meias verdades sobre o assunto. Quem trabalha nos subterrâneos, vive em perigo permanente e, na maioria dos países, só Deus sabe em que condições. O caso atual do Chile é apenas um que até agora deu sorte, entre dezenas de outros semelhantes, mas com escapamento zero. A obstrução, entretanto, de um dos túneis da mina de cobre no Chile, dá ao mundo uma lição de fé e têmpera dos protagonistas.
     O deserto de Atacama está localizado ao norte do Chile, sendo banhado pelo Oceano Pacífico. É deserto porque as águas da chuva não conseguem chegar ao interior do continente por causa de fenômenos atmosféricos. São 200 km de extensão em que já foram contados até 400 anos sem indícios de chuvas. Com sua temperatura variando entre 0ºC e 40º C noite/dia, Atacama é o lugar mais árido do mundo com seus 2.400 metros de altitude. Mesmo assim, as minas do seu subsolo oferecem riquezas que contribuem para as exportações do país. Seu nome Atacama, tem origem com os nativos que habitavam a região e eram chamados de atacamenhos. Apesar da sua aridez, no deserto existem lugares com gente do mundo inteiro. São pessoas que procuram o Chile em busca de pesquisas e aventuras em cima do exótico. O lugar São Pedro do Atacama, com 3.000 habitantes é o principal deles. Em suas andanças, esses aventureiros também esquisitos, conhecem no deserto, lagoas, vulcões gêiseres, vales, canyons de águas claras e até múmias milenares. É por isso que São Pedro do Atacama possui uma animada vida noturna que passa da meia-noite. Alguns lugares surgem com arvoretas e arbustos e outros em completa aridez. Mesmo assim, ali vivem animais como ratos, lagartos e cobras e alguns outros domesticados que se adaptaram como lhamas, guanacos e flamingos. Calama é a maior cidade do grande deserto.
     Mas como ia dizendo, é a lição de fé, esperança, organização e resistência dos mineiros chilenos que está chamando a atenção para os valores que estão dentro do ser humano. Eles se mostram em situação adversa como a presente onde se calcula que esses homens de ferro passarão no mínimo dois meses em baixo da terra, antes do resgate. Isso faz lembrar o espírito Emanuel passando carão no médium Chico Xavier: “não berre, morra com dignidade”. Se quiser, alguém pode comparar também com Daniel à cova dos leões. O certo é que aqueles homens souberam manter a serenidade, a fé, a esperança e tiveram a capacidade de organização civil e espiritual que os fazem continuar vivendo. Essas lições dos mineiros chilenos não são encontradas com frequencia nos países do globo. O mundo inteiro está recebendo esses ensinamentos de valorização à dignidade humana e a inabalável certeza da existência de Deus. São os novos ícones mundiais os mineiros do ATACAMA.

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domingo, 29 de agosto de 2010

INTEGRAR OU DISCRIMINAR

INTEGRAR OU DISCRIMINAR

(Clerisvaldo B. Chagas, 30 de agosto de 2010)

     Quando o estádio de Maceió foi planejado para o terreno do Trapiche da Barra, foi positivo. Não se falava por ali ainda o nome favela. Mas na região oposta à entrada da futura praça de esportes, as habitações eram de uma pobreza de fazer medo. Não o medo direto dos donos da pobreza, mas da marginalidade gerada por ela. Construído o estádio – que logo recebeu o apelido de Trapichão – deu muito trabalho o escoamento de pedestres e automóveis após os jogos. O caso era difícil principalmente pelas imediações de casebres, lama, coqueirais, matagal e ruelas. O pensamento inicial era de que as rendas geradas após a obra, haveriam de melhorar os arredores. Fora a Avenida Siqueira Campos, coisa pouca mudou. A pobreza naquela área por trás do estádio ainda é grande. E há quanto tempo foi construído o Trapichão?
     Se tudo correr bem em Santana do Ipanema com o hospital novo e geral, já chamado Clodolfo Rodrigues de Melo, poderemos nos regozijar. Ao serem construídas ali vizinhas as instalações da UFAL – Universidade Federal de Alagoas – o júbilo, então, será em dobro. Não vamos ser pessimistas diante desses dois projetos arrojados. Queremos bons fluidos guiando ambos os empreendimentos. Vamos exorcizando as energias negativas mesmo diante do quadro da Saúde no estado, Nordeste e Brasil. Eles juntos irão gerar centenas e centenas de empregos, instruções, conhecimentos, ninguém tem dúvida alguma. Essas duas instituições sozinhas irão elevar, e muito, o nome de Santana do Ipanema e proporcionar sua expansão urbana. Além disso, ambas serão motivos de novos e formidáveis investimentos. Estaremos tirando o atraso em nosso progresso, desde a construção da hidrelétrica de Xingó quando passamos uma eternidade com a BR-316, trecho Palmeira ─ Delmiro via Santana, intransitável. A construção da rodovia por Olho d’Água do Casado até Delmiro Gouveia ajudou na agonia da “Rainha do Sertão”. Não se pode negar a nova oportunidade que Santana terá para progredir, nem mesmo pelo mais bronco caboclo sertanejo. Todavia, a empolgação pela presença da Universidade e pelo novo hospital, faz esquecer a pobreza do entorno. Sem planejamento social e desenvolvimentista para uma periferia carente de tudo (onde sobejam mirantes naturais) o local continuará como hoje. É triste ver as “casas de pombos” e os terrenos acidentados de conjuntos que teimam em existir. A continuação do atraso e da miséria com letras graúdas vai depender da visão dos novos gestores municipais. Uma coisa é certa: a grande oportunidade para os conjuntos Marinho, Santa Quitéria, Cajarana, localidade Alto dos Negros e todo o Bairro Floresta é agora. Os dirigentes de olhos voltados apenas para os dois gigantes, não podem esquecer o caso “Rei Pelé”. Ou aumentará a distância da exclusão ou acontecerá à metamorfose que movem os espíritos humanistas. Para quem interessar possa, eis aqui uma consulta grátis. É INTEGRAR OU DISCRIMINAR.



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sexta-feira, 27 de agosto de 2010

DESENGANOS

DESENGANOS
(Clerisvaldo B. Chagas, 27 de agosto de 2001)

Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

Fracassam o passado e o presente
Diniz, Zé Catota e Vitorino
Zé Limeira, Lourival, José Faustino
Zé Gaspar, Zé de Almeida, M. Clemente
Geraldo, Zé Viola, R. Vicente
Lourinaldo, Mocinha e Jó, além
De Daudeth Bandeira e mais uns cem
Ivanildo, versejos sobre-humanos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

Nem o Nelson Gonçalves, Altemar
Cauby, Lupicínio ou Alcione
Agnaldo Timóteo ao microfone
Netinho ou Sangalo à beira mar
 Moacir, Martinho ou Alcimar
Zé Ramalho, Belchior, Fafá Belém
Ciganas canções que vão e vem
Que apaixonam demais seres humanos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

Nem as flores suspensas do jardim
Nem a rosas dos prados coloridos
Nem as brisas dos vales mais perdidos
Nem o céu de safira ou de carmim
Nem gorjeios de aves no capim
Baladas sensíveis de um trem
O aceno do lenço de alguém
Não tocam na alma dos arcanos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

O vento que sibila à cordilheira
O cravo que nasceu no pedregulho
O balanço das águas no marulho
O convite da sombra à quixabeira
O melaço da cana da caldeira
O aroma da carne no moquém
O pipilo insistente do vém-vém
Vão pingando poesia nos meus planos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém

O escuro das noites mais escuras
O cenário de atos tenebrosos
As fossas abissais de assombrosos
Seres que habitam nas funduras
Fogo-fátuo de águas tão impuras
Cobre em moeda de vintém
Fuligem que ao vício faz refém
Vão rondando seus golpes mais tiranos
Só quem sabe cantar meus desenganos
É a flor madrugada e mais ninguém.
 
                                                               FIM












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quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Ê MEU FIO

Ê MEU FIO
(Clerisvaldo B. Chagas, 26 de agosto de 2010)

          Ainda lembro o cidadão santanense, já em avançada idade, Benedito Serra Negra, em suas visitas esporádicas a nossa loja de tecidos. Referia-se ele a certo pássaro da caatinga que durante o sofrimento do povo nas estiagens prolongadas, cantava. E o seu canto parecia mangação quando o povo interpretava assim: “ê, meu fio!...”
         Durante a Alta Idade Média, o pensamento filosófico recebia grande influência do cristianismo. Houve momentos em que essas idéias confundiram-se com a teologia, porque se amparavam na fé e em dogmas religiosos. Destacou-se naquele momento histórico, um dos maiores doutores da Igreja que foi Santo Agostinho, responsável pela síntese entre a filosofia clássica (platônica) e a doutrina cristã. Segundo a teologia agostiniana, a natureza humana é, por essência, corrompida. A remissão, a salvação eterna, estaria na fé em Deus. Santo Agostinho tem como principais obras: “Confissões” e Cidade de Deus”. Para muitos estudiosos, essa era uma visão pessimista em relação à natureza humana. Entretanto, na Baixa Idade Média surgiu uma concepção mais otimista e empreendedora do homem. A filosofia escolástica procurou harmonizar razão e fé. Nesse caso, o progresso do ser humano não dependia apenas da vontade divina, mas também do esforço do próprio homem. Com isso os atributos racionais do homem passam a ser valorizados. E por outro lado, não deve mais existir conflitos entre a fé e a razão. Os escolásticos são considerados precursores do humanismo e tiveram o mérito de restituir ao homem medieval a confiança em si próprio. Se a escolástica valorizou a razão substituindo o termo predestinação por livre arbítrio, mas continuou deixando para o clero o papel de orientador moral e espiritual da sociedade. O mais influente filósofo escolástico foi São Tomás de Aquino, professor da Universidade de Paris. São Tomás muito influenciou o clero, inspirado na teologia cristã e no pensamento de Aristóteles. Obra de São Tomás de Aquino: Suma Teológica.
         Com tantos estudos históricos e filosóficos ficamos a imaginar o comportamento do homem nos dias atuais. Será que são suficientes essas pesquisas da Sociologia que agrupam o ser humano em camadas sociais, estamentos ou castas? O homem moderno, preocupado com o seu padrão de vida, nessa luta feroz da concorrência empregatícia ou com a violência desenfreada nas ruas, tem tempo de pensar? Já perguntaram a algum assaltante de bancos ou aos consumidores inveterados de drogas se eles estão lendo a Suma Teológica? Já indagaram aos compradores de consciências sobre o pensamento escolástico? Será que todo sistema educacional está falido? Nada afirmamos nem analisamos. Apenas, em um momento de parada refletimos. Nesse emaranhado do tal “correr atrás”, fica bastante difícil correr a frente. E com essas filosofias que se arrastam pelo mundo o saudoso cantor Nelson Gonçalves se sai com a dele:

(...) “pois a vitória
Não pertence ao infeliz...

         Volto à ternura de Benedito Serra Negra, “filósofo” bem menos complicado. Diante de tantas coisas esquisitas que estão acontecendo com a humanidade, com certeza ele apenas repetiria o pássaro das caatingas alagoanas: “Ê, MEU FIO!...”

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quarta-feira, 25 de agosto de 2010

VIRANDO FUXICO

VIRANDO FUXICO
(Clerisvaldo B. Chagas, 25 de agosto de 2010)

          Sem telefone fixo e Internet no apartamento, vou ficando aborrecido com a prestadora ou imprestadora de serviços. Cuidando de legítimos outros interesses, vou perdendo contato com meus trabalhos publicados. Passo a enviar as crônicas através de terceiros que as conduzem em pen-drives. Eles as enviam das suas repartições para o blog, para os portais Santanaoxente e Maltanet. Quero me comunicar com o Malta e “João Neto de Dirce, mas não tenho os seus telefones na minha agenda. Aí veja compadre, como são as coisas no Brasil. Através de amizade, funcionário de certa empresa promete que vem ligar o aparelho, consequentemente a Internet. Pede para que fiquemos calados, sem dizer para os demais vizinhos que por certo também iriam querer o privilégio obrigatório. O cabra marca para as catorze horas, deixa-me aguardando até as dezessete para dizer que não vem mais. A empresa acaba, diz ele, de receber  certa resolução que impede a sua vinda. Inventaram para lá um calendário diferente, de modo que somente em torno do dia trinta essa ligação poderá ser feita. Agora nem por cima, nem por baixo do pano. E a Justiça, o PROCON e o jeitinho brasileiro não resistem as manhas da inrespeitável empresa. Quem acredita nesse tal dia trinta? No final de semana estarei na terrinha para examinar a caixa de correspondência.
          Recebo não boas notícias sobre um derrame que teria sofrido a esposa de um dos muralistas do Portal Maltanet. E como não posso ter certeza no momento, não publico o nome, mas vamos ajudar com orações.
          Quanto a essas companhias que vão engolindo umas as outras, parecem carregar a paranoia do lucro fácil e rápido, meta de todos os ambiciosos. Transportam o sádico prazer do mau atendimento, da indiferença e da certeza de que o castigo pequeno é lucro. Esquematizadas dentro de brechas de leis, de impunidades, de corrupção ativa e de cansaço do poder público, vão levando as economias de milhões de brasileiros através de serviços “marca peste”, como fala irritado o sertanejo alagoano. Muitas são estrangeiras que vem com um título à frente e o tenebroso conteúdo atrás. As listas de reclamações do Brasil inteiro demonstram esse infame descaso com o usuário. Causam-nos espanto e incredulidade, medidas radicais tomadas em países diferentes do nosso. Mas dizem que “remédio para um doido é doido e meio”, expressão que vem desde os tempos dos nossos avôs. E assim essas devoradoras da economia do povo quase sempre se dão mal diante de um martelo muito mais firme. Ante o escancarado desmando, o trabalhador vai se sentindo cada vez mais lesado, com sensação de ser apenas mais um palhaço diante da bocarra do estrangeirismo. Ê, comadre Salete, já nos viciaram na Internet, mulher! Quando ficamos sem ela a impressão é péssima. Ainda bem que o cronista não marcou reunião com os amigos da Cultura aí em Santana. O que acha Paulo Fernandes? Continue divulgando nossas crônicas no seu site “Tangará”; Jornalista Antonio Noya em suas revistas e, o site “Besta Fubana”, para o Brasil inteiro. O nosso mural de recados continua em aberto. E como diria o colega, amigo e empresário Juarez (Bêinha), vamos esperar que o filho da “foice” venha fazer minhas ligações. Afinal, comunicação sem a web vai VIRANDO FUXICO.

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terça-feira, 24 de agosto de 2010

PAUTAS NEGATIVAS

PAUTAS NEGATIVAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 24 de agosto de 2010)

     Os duelos políticos deveriam acontecer apenas nos dias que antecedem as eleições. Não temos certeza de que o prolongamento desses embates acontece em todos os municípios brasileiros. Mas no Nordeste, principalmente no interior, desprezo e investidas contra administrações se avolumam. Essa estranheza que se torna bastante particular, vai prejudicando em volume incalculável a população local. As obras construídas com a escassa verba pública, vão sendo abandonadas ao sabor do esquecimento, da manutenção e dos malfazejos, propositadamente. Assim os novos gestores públicos encontram uma forma mesquinha, anticívica, egoísta e criminosa de vingança aos que lhes fazem oposição. Isso custa caro ao País e ao povo do Município. Os próprios pesquisadores sentem dificuldades nos seus trabalhos de esclarecimentos à posteridade. Como pesquisar em logradouros sem placas, em repartições sem fachadas, em monumentos mudos? Carência de tintas, sumiço de documentos, fontes de pesquisas mascaradas, vão se avolumando nos bastidores da história. Não podemos afirmar que esses atos insanos sejam exclusividade contemporânea.
     No governo de André Ferreira da Silva, 1919-21, sexto intendente da vila de Sant’Ana do Ipanema, foi homenageado o imperador D. Pedro I. Na primeira praça que se tem notícia da história da urbe, é construído um obelisco e ali colocado o busto do imperador. A pracinha ficava no centro comercial, hoje denominado praça e Largo Senador Enéas Araújo. Já no final do seu governo, a intenção de André Ferreira era festejar e marcar os cem anos da Independência do Brasil. O obelisco e o busto foram inaugurados no ano seguinte, já no governo do sétimo intendente, capitão Manoel dos Santos Leite, quando Santana iniciava o período de cidade. No dia 7 de setembro de 1922, foi descerrada uma placa de mármore doada pelo povo. As duas bandas da cidade animavam o evento, a Filarmônica Santa Cecília (Carapeba) fundada em 1908 e a Filarmônica Santanense (Aratanha) fundada no início de 1922 exclusivamente para esse ato importante. A partir daí, a pracinha foi batizada com o nome de Praça do Centenário. Em torno de vinte anos depois, na gestão de Adauto Barros, 1942-45, o obelisco foi demolido violentamente e pouca gente sabe aonde  foi parar o busto do imperador e a placa de mármore do povo. Ódio, ignorância, egoísmo, truculência e falta de respeito ao Município e ao Brasil, continuam desfilando no interior do Nordeste como nos velhos tempos das botas dos coronéis. Quando não queimam a triste energia negativa por cima, devastam por baixo a própria dignidade de quem já não encontra o que oferecer à sociedade em que vive. Se um mil não enxergam, tem sempre dois olhos que acusam as manobras asquerosas dos filhos da PAUTA NEGATIVA.

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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

SEU QUEIRÓS

SEU QUEIRÓS
(Clerisvaldo B. Chagas. 23 de agosto de 2010)

          Estamos montados nos 102 anos de fundação da primeira banda musical de Santana do Ipanema. Foi no dia 22 de novembro de 1908 que o coletor federal Manoel Vieira de Queirós presenteou Santana. Nesta data foi criada a “Filarmônica Santa Cecília” que logo passou a injetar vida nova nos talentos da terra. Para uma vila que se desenvolvia sob os olhares da avó do Cristo, faltava um empreendimento cultural de grande porte. E naquele meio rude, entre religião, comércio, agropecuária e mandacarus, começa a desfilar garbosamente a briosa de “Seu Queirós”. O maestro logo angariou respeito e fama nessa tarefa tão bonita quanto espinhosa de lidar com instrumentos e homens. Assim vão sendo convocados, sapateiros, marceneiros, comerciantes, artesãos e logo se forma um elenco de músicos sertanejos. Não demorou a que a Santa Cecília recebesse o apelido de “Carapeba”. E a Carapeba sertaneja foi animando ruas, praças, avenidas, preenchendo a alma do povo de felicidade e sonhos imediatos. Eventos políticos, cívicos, religiosos, podiam contar com aqueles caboclos que se revelavam. Com a força e a vontade no sangue, os homens iam vencendo os dias de vila e entraram triunfantes na “década do esplendor”. Santana vila tem a honra de amanhecer cidade sob a mágica batuta de Seu Queirós. Achando poucas suas atividades de coletor e maestro, Manoel ainda funda também o primeiro teatro de Santana. Mas em 2 de dezembro de 1924, faleceu o pai da música de Santana do Ipanema. A cidade emudecida provou que até hoje não soube como pagar ao maestro tanto serviço prestado a nossa terra. A Santa Cecília, contudo, não esmoreceu e continuou a sua trajetória, honrando a determinação do mestre. Mas o vigor da Filarmônica não resistiu aos obstáculos outros que barraram o seu caminho. Infelizmente, no ano de 1926, a Filarmônica Santa Cecília morreu para a sociedade.
          Instrumentos musicais foram parar no museu do Município criado trinta e três  anos após a extinção da banda. Com o passar dos anos, o descaso das várias administrações municipais golpearam o museu até a exaustão. Sentimos falta de inúmeras peças que desapareceram desde quando o museu foi criado na administração Hélio Cabral. Agora com regras impostas de cima sobre o zelo com o patrimônio público, pode ser que haja encorajamento para importantes doações que relutavam sempre. Disfarçadamente vamos procurando uma homenagem póstuma a Seu Queirós e não vamos encontrando. Mesmo assim vale a pena lembrar aos jovens estudiosos da “Rainha do Sertão”, que existiu um homem que teve a coragem de fundar uma filarmônica. Uma filarmônica em um tempo em que a música valorizada era apenas a de pé-de-bode, tambaque e aboio de vaqueiro. Coletor federal, herói santanense, pioneiro da música e do teatro foi SEU QUEIRÓS. 

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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

O TIME DO PEIXE

O TIME DO PEIXE
(Clerisvaldo B. Chagas, 20 de agosto de 20l0)

O amigo sertanejo está incomodado com as chatices das propagandas em carros de som? Pois saiba que aqui na “Cidade Sorriso”, a fuleragem é dobrada. Não tem ouvido que aguente! Desculpe o termo “fuleragem”, mas a palavra acima é insubstituível no momento. Fazer o quê? Como diria meu velho: “O comércio está empestado”. E quando passa um bicho daquele roendo os nervos, a vendedora de coco verde se manifesta: “Lá na minha região só dá esse cara. Ele vai vencer, mas não com o meu voto. E eu nem sei se vou votar. Tomar dois ônibus para subir os outros! Repara!” Pertinho, o ambulante do cigarro entra na conversa: Ô Maria, tão dizendo na Internet, comadre, que a pessoa faz 222 e depois empurra no verde. Pronto, não vota em ninguém e estar acabado”. Deixo os vendedores e vou dar uma espiadela no Teatro Deodoro. Um baixinho careca se aproxima como quem não quer nada e eu fico atento a minha carteira. O amigo sabe como estão as coisas. Passamos a desconfiar de todos, não é isso? Mas o baixinho chega e indaga em quem eu quero votar.  Vou fitando o indivíduo, cujo bigode grosso compensa a calvície, e devolvo a pergunta: “O senhor é do serviço secreto? Não. É pesquisador do IBGE? Não. Por acaso faz parte da máfia dos matadores de gente? Olhe que o senhor leva jeito. Deus me livre, moço! Bem, então, só pode ser candidato a deputado...” O  bigodudo abre um sorriso de prazer. Ser chamado de deputado para uns é insulto, para outros, metade da realização pessoal. Mas ele diz que estar procurando gente de presença, “assim como o senhor”, para entrar no time do peixe. Falo que estou muito satisfeito com o Vasco da Gama. Ele desconversa e diz que não é isso que estou pensando. Eu perco a paciência e peço para que seja claro que eu não vou ficar conversando o tempo todo com desconhecido suspeito. Até porque, disse também, pelo que sei jogo de bicho não tem peixe. O senhor não é cambista, é? Ele vai direto ao assunto dessa vez, e diz que disponibiliza cem reais para cada voto que eu tiver ou arranjar, para votar no deputado Fulano. E que se eu aceitar, basta o número do título e o CPF. Demonstro ar de surpresa e cobiça e digo que estou bem interessado. “Pois se o senhor tivesse me oferecido apenas uma onça, já que seu negócio é bicho, eu iria rasgá-la agora. Mas com um peixe a conversa é outra. Saio do Vasco da Gama agora e vou para o Santos. O bigodudo se anima e pergunta quantos votos posso arranjar. Respondo que, entre sessenta e setenta. Peço que me deixe telefonar para o amigo Zezão que é uma pessoa de família enorme. O homem fica tão feliz que parece saltitante como tico-tico. Digito de mentira e falo em voz alta para o tenente Zezão que ali na praça está o homem que ele anda a procura. Descrevo o baixinho e peço para que o inexistente policial traga a patrulha que o comprador de voto tem cara de valente. Quando me viro para encarar o peixeiro, o baixinho parte numa velocidade, meu amigo, que nem bala pega. Na hora passava uma ambulância, cuja sirene ligada ajudava a untar sebo nas canelas. Lembrei de Neymar, Ganso, Robinho... Mas é nada, homem! Tem jeito!? Só faltava essa, entrar no novo TIME DO PEIXE.

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quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O SILÊNCIO DAS CATACUMBAS

O SILÊNCIO DAS CATACUMBAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 19 de agosto de 2010)

Quem se propõe a pesquisar sempre, pode esquecer tempos de folga. Ao sentir o gosto das descobertas, cada texto, cada frase, cada palavra, pode causar dependência. Uma vez dependente adeus lazer! Certa vez dividi uma das minhas turmas de alunos em dez grupos. Cada grupo ficou encarregado de pesquisar em lugares diferentes. Ainda lembro alguns desses lugares como o açude do Bode, um banco, o Abrigo São Vicente de Paula, o cemitério, uma fabriqueta, o mercado de carne, um compartimento da feira livre e outros que me escapam. Naturalmente o espanto da turma foi pesquisar no cemitério. Um daqueles alunos mais ousados, logo se prontificou, formando imediatamente a sua equipe. O resultado das pesquisas seria apresentado e discutido esse conjunto da nossa sociedade. Resumindo, o melhor trabalho foi aquele sobre o cemitério, apresentado e aplaudido vigorosamente.
Deve ter sido, nos meados do século passado, uma necessidade demolir o velho cemitério construído pelo padre Veríssimo. De certa maneira, a construção impedia o estiramento da cidade em direção ao serrote Pelado e a saída Santana do Ipanema – Maceió. Houve polêmica sobre a decisão vinda de cima para baixo. Mas, diante de uma sociedade passiva, coerente ou não, manda o poder. Não temos conhecimento de registros sobre as famílias ali sepultadas. No tempo em que bonitas e grandes catacumbas representavam a continuação do prestígio das famílias ricas ou tradicionais, epitáfio era coisa importante. Assim os cemitérios sempre representavam fontes de pesquisas para a Geografia, História, Artes, Arqueologia, Antropologia, Sociologia e outras “ias”. A cidade ganhou em expansão, mas perdeu essa fonte importante de pesquisas sobre as primeiras famílias ali sepultadas, cujas lápides poderiam ter ajudado no quebra-cabeça da formação social santanense. Os Rodrigues, Gaia, Gonzaga, que dominaram o núcleo por bastante tempo, ficaram apenas na memória de algumas pessoas, mas também em confrontos com outras informações que não se complementam.
Os cemitérios modernos guardam apenas nomes e datas, mas por certo tem seus arquivos informatizados. Sem dúvida o ambiente de morte tem seus mistérios que são coisas invisíveis aos encarnados. Um terrível drama é formado entre os espíritos que não receberam ainda autorização para se desvencilharem de redes que os mantém presos a terra. A leitura kardecista, em parte importante sobre a passagem, também se encaixa na tarefa do bom pesquisador. Na superfície, a tranquilidade conhecida pelos vivos, no plano espiritual, coisas que só excelentes leituras nos podem esclarecer. Entretanto, queríamos apenas falar na importância da pesquisa em qualquer lugar, inclusive nos cemitérios. Desde os subterrâneos do Vaticano até aquele cemitério tão pequeno de uma vila, povoado, fazenda, encontramos muitas informações em letras e números estilizados ou tortuosos. É desse modo que fala O SILÊNCIO DAS CATACUMBAS.

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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

DESENHANDO A TARDE

DESENHANDO A TARDE
(Clerisvaldo B. Chagas, 18 de agosto de 2010)

Prefiro o PC normal a esse tal notebook. Mas como é o jeito vamos registrando o cotidiano. Ainda estou aqui na “Cidade Sorriso” sem a definitiva Internet. Telefona-se para “A” e “B” e nada de ligação. Falam que instalaram um cabo. E que cabo é esse, tão difícil assim. Lembro logo do cabo de vassoura, rolo frágil quebrado na cabeça de muitos maridos por aí. Cabo de guerra, brincadeira de gente besta que teima em medir forças. Cabo Zeferino, antigo barbeiro de Maceió, gozado pelos clientes do Bairro do Prado.  Cabotino, cabo Henrique e o cabuloso que deve ser o mesmo cabo que futuca na Web. Encontramos na BR-316 Santana – Maceió um caminhão tombado, pneus contando os pingos de chuva. E logo a jornada agradável vira uma irritante espera. Os botijões da carga imitam brancos soldados da paz, tesos no asfalto. Acolá, um gipão moderno, aos beijos, namora o mato verde, marginal. Alguém fala que foi um “quebra de asa” para não ser esmagado pelo carro grande. A amiga sabe o que é “quebra de asa”? Nem pergunte! Uma velhinha não se contém e diz que foi Deus. Foi Deus o que, minha velhinha? Mas ela nem estirou o pescoço ainda para ver a cena. Apito a boca, um guarda cáqui acena perto dos soldados brancos. O trânsito flui.
Maceió parece em festa inaugurando supermercado novo. O motorista diz que “é gente como a peste!” Ah! Agora são as donas de casa falando em promoção, dando o preço de tudo, somando vantagens, babando a ausência. Passam as horas. No fim da tarde o tempo muda, sopra um vento frio. Enquanto aguardo exames de rotina vejo do alto as águas da lagoa. POR FAVOR, NÃO ABRA A JANELA. Mas é nada, compadre! Quem diabo quer deslocar a vidraça! Basta o pulo de tal “Jamaica” da ponte de Santana. Concentram-se as nuvens sobre as água da lagoa. Cinza muito escura no alto, superfície clara, cinza uniforme até as barreiras. Longe, uma faixa parece metal incandescente contrastando com as nuvens da tardinha. As águas de cassa conquistam e vão aspergindo na lagoa Mundaú.
Chega minha vez de atendimento. A mulher de branco manda sentar, pergunta e anota. Anota e pergunta. E como quer saber sobre as minhas atividades, falo também dos escritos diários na Internet., no compromisso comigo mesmo que faço questão de cumprir. A médica fica sem saber como é que alguém pode escrever crônicas diárias. Onde encontrar tanto assunto assim, continua a mulher da Ciência. Encolho meus ombros e digo que não sei, mas assunto não falta. E enquanto ela baixa a cabeça e escreve, digo acanhado, tímido, com reservas: “O assunto de amanhã é a senhora”. O Sol quer se esconder quando deixo o prédio. A lagarta de automóveis na Avenida vai se encorpando na volta doida para casa. Passageiros parecem cansados nos pontos de espera. Passa o vendedor de CDs piratas poluindo o ar. Coletivos param bruscamente. Um homem observa da esquina, puxa um lápis e anota. Talvez também seja cronista DESENHANDO A TARDE.
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segunda-feira, 16 de agosto de 2010

MOVIMENTOS DE CULTURA

MOVIMENTOS DE CULTURA
(Clerisvaldo B. Chagas, 17 de agosto de 2010)
Os amantes da cultura em nossa Santana, nunca tiveram um lugar natural de reunião, como a Confeitaria Colombo, no Rio de Janeiro ou o Café Central de Maceió. Após tentativas intercaladas por décadas, eu, o Marcelo Almeida, juntamente com outros admiradores das letras e das artes, fundamos a Academia Interiorana de Letras. Não se pode dizer (e essa é uma das raras vezes) que o poder público não quis ajudar. Contávamos com o apoio do prefeito Dr. Marcos Davi e da Secretária de Cultura Selma Campos. O movimento não continuou, graças à fraqueza de pessoas que não se julgavam capaz, juntamente com as desculpas conhecidas sobre comparecimento. Há pouco tentei formar um movimento de interesse pela cultura da terra, com o único compromisso de reunião uma vez por semana para trocarmos ideias. Esse movimento foi quebrado por duas autoridades ligadas à prefeitura que iniciaram conosco. Ficaram de enviar o segundo convite para a próxima reunião e até hoje espero. Deixaram-me a ver navios diante das outras pessoas que fizeram parte da primeira assembleia. Que coisa feia! Falta de palavra, carência de ação. Deixando o negativo de lado, estamos numa segunda tentativa de formar novo grupo a princípio independente. O movimento está bem adiantado e apesar de ser apenas para reuniões semanais e troca de ideias sobre letras, artes e coisas da nossa terra, bebendo o chá ou o café das quatro, coisas novas já surgiram, aliás, pensamentos importantes que poderão se materializar.
Já foram sugeridos dois excelentes lugares para as futuras reuniões, porém, distante do centro. Estamos tentando descobrir outro mais central, se possível, no comércio ou nas proximidades. Se o (a) prezado (a) santanense estiver interessado (a) em ouvir e ser ouvido (a), (por favor, sem vínculo político partidário) dentro da proposta apresentada, escreva para o nosso e-mail, telefone, mande um recado, venha a nossa casa. No momento ainda não tenho autorização dos demais companheiros para divulgação dos seus nomes. Posso assegurar, entretanto, que surgiram várias propostas além do simples bate-papo cultural. Inclusive, já temos oferta de mãos beijadas de amplo terreno para um projeto de cultura nota dez. Um segundo plano é adquirir certa casa para uma realização antiga. Temos certeza de que o proprietário será sensível a nossa solicitação. Quer saber mais? Vá chegando para a ciranda.
Aproveito para agradecer ao professor da Zona da Mata (ainda não nos conhecemos) que fez um trabalho com meu romance “Defunto Perfumado”, ganhando o primeiro lugar em Brasília. Agradeço ainda a manifestação da palavra de ilustre pessoa que me visitou domingo próximo, ao dizer que “Defunto Perfumado” foi um dos melhores livros que já leu na vida. Aos outros leitores que me escrevem, empolgados com “Ribeira do Panema” e o mesmo “Defunto Perfumado”, também meu muito obrigado pelo incentivo. A próxima batalha é pela apresentação de ambos na TV, assim como os inéditos romances “Deuses de Mandacaru” e “Fazenda Lajeado”. Após o lançamento do “Boi a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema”, vamos para a luta mais leve de publicação do “Ipanema Um Rio Macho” (memória de viagens) paradidático e o livro de poesias “Colibris do Camoxinga”. Aguardamos seu interesse pelos MOVIMENTOS DE CULTURA.


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domingo, 15 de agosto de 2010

BILOCAÇÃO

BILOCAÇÃO
(Clerisvaldo B. Chagas, 16 de agosto de 2010)
(Para meus compadres professores Alberto Pereira e Salete Bulhões assíduos e importantíssimos leitores das nossas crônicas diárias).
Victor Mature estava no papel de escravo. Olhava com espanto para ti, Senhor, no filme “O Manto Sagrado”. Mas por que me levaste até o Gólgota? Estou mais perto de ti de que o ator de cinema. Estremece as minhas carnes, vibra o meu espírito. Irmano-me a tua dor. Atravesso a dor. Sinto a sua dor... Mas não é, Pai, a dor que traz a dor. São formas de translúcidos cristais que fulminam as minhas veias mutantes de crisálidas. O sangue listrado do teu corpo é o encarnado escarnecido do teu manto. Por que meus passos não são passos, não passam dessa cruz? Vigorosa, martirizante... sacra. Minha íris débil reluta a tua íris santa. Cai em mim, silêncio morto, cheio de vida do reluzir grande. Um soldado inerte, um rei no trono que a madeira ampara. Mas eu vejo na transparência fluida o que não via. Por que me elevas, Senhor, ao nível do teu sofrido e sereno rosto? Sim, vejo sim, pontos de luzes brancas em ordem de esfera. Cabelos com respingos escarlates nos fios naturais. Terríveis espinhos do horror humano. Estou vendo, Senhor: o céu é plúmbeo, à hora é nona. Faíscas de ouro escapam dos picantes ecúleos. Dardejam mistérios divinos nesse temerário céu. Longas manchas negras de caudas leitosas cortam o etéreo por trás de ti. Estendo meus dedos que se alongam em busca das tuas chagas. Um poderoso imã impede a proximidade profana. E sinto meus dedos suavemente girando em torno das tuas feridas. As mãos, as mãos, Senhor, por vontade espontânea erguem o interior das palmas e recebem fragmentos de ferro que ardem como fogo. Novamente olho nos teus meigos olhos. E o sangue dos teus ferimentos forma jorros finos que sobem, curvam-se, caem nos espalmados das minhas mãos. Vão-se os fragmentos de limalhas. As dores baixam, aliviam, desaparecem.
Vejo tua boca, Senhor, ouço o teu brado. Vou além sem saber como, na velocidade/luz. O véu do templo rasga em minha frente e meu ser estremece como em busca do teu espírito. Volto lentamente ao Gólgota e já não encontro o teu calvário. Tua cabeça pendida me expulsa lágrimas como o jorro do teu sangue. Da baixada, sobe um ornejar. À altura do teu corpo, a mesma força me conduz a te examinar sem toque da cabeça aos pés. Como o colibri que esvoaça em torno da flor, vou circulando sucessivamente em tua volta. Não pode ser irreal esse coro que ouço e não conheço. Porque ele toma o que sou e me permite a retirada. Não vejo centurião, não enxergo centúria, ignoro apóstolos. Somente o céu, a música e ti. E a mesma força que me conduziu a Judeia, vai me afastando como cheguei ao monte.
Sem saber se isto é uma crônica, um sonho, um conto... Olho as minhas mãos, descubro vestígios vermelhos dos tiranos pregos. E um perfume profundo que supera as rosas, emana fortemente das marcas encontradas. Choro copiosamente. Vacilante, espio a sua imagem hirta na parede do quarto. E fico entendendo sem compreender essa BILOCAÇÃO.


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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

OLHANDO DE CIMA

OLHANDO DE CIMA
(Clerisvaldo B. Chagas, 13 de agosto de 2010)
Quando em sala de aula, fiz o possível e o quase impossível para colocar a Geografia Física na cabeça da juventude. Sempre achei um absurdo às marteladas constantes nas paisagens alheias e o esquecimento interminável das nossas. O rio Amazonas e a serra do Mar são importantes. Muito mais importante para nós é o rio Ipanema que construiu essa cidade, que nos permite a ventilação vinda pelo seu leito seco. Muito mais considerável de que a serra do Mar é o serrote do Gonçalinho (do Cristo) que nos ampara no inverno de uma frieza excessiva. Se todos os professores fizessem assim na cultura, no folclore, na História, na Geografia mesmo, talvez os jovens tivessem muito amor a terra e não se envergonhassem do seu berço. Certa vez saí sozinho a fotografar pelas redondezas, pois gosto das chamadas fotos artísticas. Projetei um dos meus slides que representava belíssimas flores silvestres à margem de um lago. Os alunos ficaram abismados com tanta beleza. Dei três países como opção para que eles dissessem a origem da fotografia. A maioria apontou o Canadá. Fiz suspense e depois revelei a verdade. A foto representava o açude público Bode, hoje, vizinho das últimas casas da Lagoa do Junco, a cerca de seiscentos metros da ESSER. A gargalhada foi geral.
O riacho do Bode na sua pequenez nasce nas imediações da serra da Camonga, corta os arredores de Santana e despeja no rio Ipanema, no lugar chamado Cachoeiras. Sua localização permitiu a existência do açude do Bode, construído na época em que Santana lutava por água encanada do rio São Francisco. Do seu paredão se avista a “Baronesa”, serra da Camonga, com toda sua majestade, que também é vista da ESSER. Pois foi com espanto que recebi uma foto da bacia hidrográfica do riacho do Bode, tirada da cabeça da “Baronesa”. Coisa do “Primo Vei” (João Neto de Dirce) que a enviou por e-mail lá do Mato Grosso e que poderá servir de papel de parede para qualquer computador do Brasil. Não. Não senhor, não é do Canadá meu camarada. É de Santana do Ipanema, mesmo.
A brincadeira da IV caminhada movimentou bem o Portal Maltanet. Relatam uma caminhada cheia de saudosismo, curiosidades e amor ao torrão. Notamos, entretanto, uma maioria veterana, fato que nos leva a perguntar onde fica o espírito aventureiro dos mais jovens. A nossa fazenda Santa Helena ficava no sítio Timbaúba, sopé do lombo da Camonga. Nunca fui até o cimo por falta de oportunidades, mas nunca deixei de galgar outros montes do mesmo maciço: Poço, Macacos, Gugy, Pau-Ferro e Caracol. Sempre repito: quem não conhece a Geografia das serras, os costumes dos seus habitantes, não conhece Santana. Que tal um incentivo aos alunos de todas às escolas da cidade: incursões, divertimentos e aulas para conhecimento total do município? Deixe, deixe... deixe, já sei a resposta. Estou cansado de saber. Voltando ao antigo assunto, vênia aos participantes da IV caminhada. Menos vê quem não vai OLHANDO DE CIMA.


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DEIXE CAIR

DEIXE CAIR
(Clerisvaldo B. Chagas, 12 de agosto de 2010)

Se no Sertão de Alagoas o mês de julho é muito frio, perde longe para o irmão agosto. Muitas veze o mês de julho, por ser o mais chuvoso, deixou o homem do campo em situação difícil. A parte da lavoura que conseguia escapar das águas pluviais caía na malha fina do mês seguinte. A frieza e as pragas, principalmente de lagartas, aplicavam o golpe final no campesino. Esse ano de 2010, ambos os meses quiseram lembrar o que tanto já fizeram.
Sobre o mês de julho, dizia um soldado combatente do Caso Angicos: “Na madrugada do dia 28 de julho de 1938, entre a cidade de Piranhas e o coito de Lampião, a frieza era de matar sapo”. Agosto também vai castigando com suas características: pouca chuva e muito frio. O seu nome vem do latim e substitui a antiga denominação do oitavo mês do calendário gregoriano. Por decreto em honra ao imperador César Augusto, fica selada a vaidade do dirigente de Roma. Agosto é considerado por supersticiosos e adivinhos, um mês perigoso por causa de vários acontecimentos catastróficos nele ocorridos. No Nordeste era chamado “o mês do cachorro doido”. Pescadores dizem ser um mês péssimo para a pesca. Muitas pessoas nem sequer compram ou vendem coisas importantes nesses trinta dias. Será mesmo que a divindade discriminou esse período? Só sei meu “irimão”, dizer como minha sogra Ana Maria Amorim, falava: “Lá fora está caindo gelo”. E para esse sertanejo, comedor de carne assada de bode com farinha seca, somente duas coisas restam. Aguardar com alegria as últimas garoas de agosto e se abrigar covardemente nos velhos casacos de outros agostos. Mas nem somente de previsões negativas é repleto esse mês. Lembremos o Dia dos Pais, marcante e inesquecível, grande reconhecimento festivo que mexe com os sentimentos de todos. Mês de seu Manoel Celestino das Chagas com seus noventa e cinco anos de idade. Esteio de luz e segurança, pai do autor. Não, não é certo o ditado: “Mês de agosto, mês do desgosto”. Desenganos acontecem o ano todo. Ninguém perde sem ganhador. Vamos aproveitar o limão para uma boa limonada. Usar a frieza do mês para escrever, refletir, poetizar o tempo, tomar café e contar loas.
As noites são mais longas, indivíduos se recolhem cedo e, os ferrolhos nas portas ficam nervosos. Até os gatos procuram a quentura dos recantos. Nem sei por que melodias tão distantes teimam em perfurar o silêncio noturno. Uma noite de umidade bailarina, acrobática, “retorcível”. As lâmpadas escondem os focos nos postes altaneiros. Beatas dormem nas calçadas, sem calor, sem brasas, sem dono. Um cão se enrosca nos jornais da marquesa. Um boêmio assovia solitário numa rua qualquer. A noite prossegue pintando os telhados de nostalgia.
Afinal, quem está fazendo traquinagens sob os grossos lençóis, não pode falar mal da frieza de agosto. Hum rum! “Lá fora está caindo gelo!” Ah, seu besta, DEIXE CAIR.

À ESCRITORA LÚCIA NOBRE

Prezada escritora Lúcia Nobre.

Só agora tive a oportunidade de ler o livro “À Sombra do Juazeiro”. Ocorreu um lapso na página setenta e três, na sua crônica “Estudantes Anos Sessenta do Colégio Estadual Deraldo Campos”, ao se referir a minha pessoa como estudante daquele colégio, colega de Reginaldo Falcão e por ele liderado. Nunca fui colega estudante de Reginaldo em escola nenhuma, somente colega como professor. Também nunca fui aluno do Colégio Deraldo Campos. Minha vida estudantil foi somente no Grupo Padre Francisco e no Ginásio Santana, onde fui aluno colega da futura escritora Lúcia Nobre. Infelizmente ficou registrado e não tem como consertar. Teria sido para mim uma imensa alegria ter sido colega estudante de Reginaldo. Sem mais, meu respeito e consideração.




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terça-feira, 10 de agosto de 2010

TUDO DE NOVO

TUDO DE NOVO
(Clerisvaldo B. Chagas, 11 de agosto de 20100)

     Escorrida as lágrimas africanas, os brasileiros tentam ainda absorver o direto levado da Holanda. Orgulho ferido, o torcedor tenta amenizar a vergonha nos desafios internos entre clubes estaduais. Respira-se uma nova atmosfera no futebol verde e amarelo desse planeta bola. Desabam as ilusões de um titã invencível criadas pelos fanáticos do país. E os jogos sucessivos entre times que se vão nivelando por cima, vão sarando as pisaduras da derrota além-mar.
     A escolha do novo técnico da Seleção Brasileira, não chegou a seduzir ninguém. Fosse quem fosse o indicado, o efeito seria o mesmo, pois a cura de caso grave não acontece com apenas uma indicação. Um recomeço partindo do zero, deixa muita indiferença no torcedor. Com o amistoso marcado para a América do Norte, os que gostam do fuá ficaram espiando por cima dos ombros apanhados. Uma vitória, uma derrota, nada entusiasma ainda. E como o tempo nada tem a ver com isso, trouxe a data e à hora da partida.
     Sem a transmissão direta pela TV, viramos reféns das tramas poderosas. Um vídeo gaguejador foi tudo que pode consolar quem queria ver o jogo em toda plenitude. Ainda bem que o Brasil ganhou pelo placar de dois a zero dos Estados Unidos. Sem muita euforia, ainda, o estádio ficou pequeno para retratar o embate do gramado. Foi bom o placar final que derrubou o saudosismo. E se ninguém é de fato insubstituível, colocaram o Ganso e o Neymar para a prova dos nove. Vendo à prestação e ouvindo comentários, podemos afirmar que foi um bom recomeço, não unicamente pelo resultado dos gols, mas pelo “futebol alegria do povo”, ressuscitado em território americano. Como o Brasil costuma imitar os outros países, até o futebol sofreu a influência da Europa quando se falava em futebol moderno. E foi nesse tal moderno que embarcamos e naufragamos em águas estrangeiras. E dizendo como se pronunciou um amigo no Estádio Rei Pelé em dia de Seleção: “os homens jogam bola!” Digo que os meninos jogam bola! São endiabrados de verdade. E o melhor é que se divertem e divertem os outros. E como foi dito, não é hora de entusiasmo ainda com roupa de luto. Outro ponto contado foi o trabalho que a seleção americana estava dando antes e durante a Copa, mantendo agora sua base. Isso significa dizer que uma possível vitória brasileira não seria tão fácil assim. Mas foi. Os gols perdidos pelos garotos do Brasil poderão ser acrescentados positivamente, como anexos do baile canarinho. Pode ser que a partir do próximo amistoso, o torcedor deixe de olhar enviesado e queira encarar essa renovação. Dizem também que todo técnico tem que trazer um pouco de sorte assim como um bom goleiro. Esperamos que o senhor Mano Menezes esteja entre os iluminados para desenhar nova esperança ao povo. Dessa vez a cautela popular vai prevalecer. Impossível mesmo de não acumular esperanças é quando se assiste a garotada se divertindo. E mesmo se não quisesse mais acreditar: os meninos jogam bola! Com a bicharada Pato, Ganso e outros, não custa nada, vamos começar TUDO DE NOVO.



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segunda-feira, 9 de agosto de 2010

SOMBRINHAS

SOMBRINHAS
(Clerisvaldo B. Chagas, 10 de agosto de 2010)

     Vou conversando sob o sol forte da capital. Os assuntos são vários, mas de repente entro na matéria sombrinha. Nunca mais havia visto mulheres de sombrinhas. Será que elas não usam, em Maceió? A pessoa me explica isso e aquilo, mas não fica bem clara a ausência do objeto nas ruas. Talvez para me contrariar, encontramos na esquina uma senhorita portando uma. Ficamos admirados e alegres com a prova repentina. Não resisto, paro a mulher e falo da conversa que eu vinha puxando. Ela ri. Fica feliz por ter sido parada por desconhecidos para trocar gentilezas. Diz que gosta de usar aquela armação, novamente ri e vai em frente. Vejo elegância intransferível na mulher que usa bolsa a tiracolo, suspensa ao ombro, ou a sombrinha aberta, protetora do sol e da chuva. Toda mulher fica elegante ao usar bolsa; toda mulher é bonita usando sombrinha. São duas coisas completamente desiguais do sapato alto que tanto classifica o bom gosto quanto ressalta o ridículo. Depende da pessoa e das circunstâncias. 
    Ninguém se arrisca a dizer quando surgiu a sombrinha. É certo, contudo, que a arte registra a sua existência no Egito, China e Pérsia. No Egito as sombrinhas serviam ao faraó com uma serva encarregada dessa tarefa. Depois o seu uso passou a Grécia e Itália servindo aos dirigentes também com sentidos simbólicos. Para eles havia uma relação entre o arco celeste e a soberania. De qualquer maneira, a sombrinha, primeiro funcionou para as classes altas entre gregos e romanos. Somente veio a se popularizar na Europa, durante a Renascença Italiana. Mesmo assim já havia se tornado comum durante todo o decorrer do império romano. A França propagou o seu uso no século XVII e, a vizinha Inglaterra, a partir do século seguinte.
     Vendi muitas sombrinhas, guarda-chuvas, chapéus, capotes e lonas. Inclusive vejo nos caminhões de hoje as lonas com a mesma marca de quando eu as vendia. Será que ainda vou conhecer a fábrica de lonas “Locomotiva”? Os panos das sombrinhas raramente vinham com estampas. Eram lisos de variadas cores e cabos curvos. Como havia ainda poucos automóveis, as mulheres usavam e abusavam do seu uso, tanto no período chuvoso quanto na estiagem. Era um prazer pegar uma carona na sombrinha, como meio de conquista. Lembro de dois consertadores desses guarda-sóis femininos da minha terra: Josefina, a “Zifina”, avó do escritor Oscar Silva e o Salvino, que morava numa rua transversal a São Paulo, Bairro São Pedro. Ambas as pessoas eram funileiras, também chamadas no Sertão de flandreleiras. Pela sua atividade, Salvino ganhou o apelido de “Sombrinha”. As sombrinhas foram surgindo depois com os cabos sem curvaturas, evoluindo até embuti-los. Fora os raros consertadores fixos, apareciam nas ruas, de vez em quando, consertadores de fora que passavam anunciando a arte, assim como os amoladores (imortalizados por Jackson do Pandeiro). Houve uma queda no uso das sombrinhas que ressurgiram décadas atrás com belíssimas estampas como gostam as japonesas. Novamente o seu uso parece rarear. Venturosos os guarda-chuvas que encontraram suas SOMBRINHAS.


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domingo, 8 de agosto de 2010

PAZ NA AMÉRICA DO SUL

PAZ NA AMÉRICA DO SUL
(Clerisvaldo B. Chagas, 9 de agosto de 2010)
     As propostas de criação do MERCOSUL vão além de uma singela troca de mercadorias. Além de representar profundas ações que mexem com o social dos quatro países envolvidos, vislumbra um futuro próspero. Guerra significa desastre. Os conflitos do passado entre essas nações mostraram apenas a face negativa desse mundo repleto de ilusões. Com seus erros e acertos o Comércio do Sul, vai integrando de várias maneiras as quatro nações, deixando para trás os erros absurdos de outrora. Essa união que vai se aperfeiçoando com o intercâmbio, sem dúvida reflete sobre os outros vizinhos que não fazem parte do bloco. É certo, porém, que de vez em quando surge um desavisado que não consegue se libertar das fantasias de domínio. Representa perigo e barulho quando chega ao poder, agindo no retrocesso da sua pátria. No todo, a América do Sul vai aprendendo que o progresso acima da ignorância, prepotência, arrogância e miséria é o único embaixador da estabilidade social.
     Esperamos novos tempos de paz e prosperidade para a Colômbia e seus vizinhos. Pesa muito o equilíbrio de um dirigente em país como a Colômbia, pelo seu tamanho, posição estratégica e vontade de ascender. A Colômbia faz fronteira com Brasil, Venezuela, Peru e Equador. Suas terras são banhadas pelo Oceano Pacífico e pelo Mar das Caraíbas, representando a terceira força da economia sul-americana. Com a capital Bogotá, sua língua oficial é o Castelhano e sua população representa cerca de 47 milhões de habitantes. Não é pouca a sua dificuldade por causa da produção de maconha que aparece em primeiro lugar no mundo. Seguem-se a cultura da coca e a grande produção de cocaína. Mas nem só desses produtos fora de lei vive a Colômbia. Ela é rica em elementos naturais como petróleo, carvão, ouro e esmeraldas, além de uma agricultura que produz café (segundo produtor mundial) e cana-de-açúcar. Entra no seu desenvolvimento ainda o couro, produtos têxteis e químicos.
     A posse do novo presidente, no último sábado (7), senhor Juan Manuel Santos, já chamado pela Imprensa de Santos, traz esperanças de soluções internas para os conflitos com as FARC e, externas de boas relações com a vizinhança, notadamente com Venezuela e Equador. Nós todos da América do Sul precisamos de uma Colômbia pacificada e dinâmica para ser importantíssimo ponto de equilíbrio e solidez regional. Muitos brasileiros estudam e fazem a vida nesse país irmão, enquanto milhares de colombianos ─ muitos deles imigrantes ilegais, ainda ─ trabalham em inúmeras atividades no Brasil. Almejamos, dentro da boa vontade dos homens, que o novo presidente, substituto de Álvaro Uribe, faça um governo repleto de êxito para a felicidade do seu povo. Esperamos que após a solução do problema FARC, não exista mais motivo para a continuação de bases americanas no Sul, um desconforto que o senhor Santos terá que resolver. O Dia dos Pais merece notícias agradáveis oriundas de qualquer parte do Planeta. O melhor presente, sem dúvida alguma, é a harmonia entre nações. Compreensão ao mundo, particularmente, PAZ NA AMÉRICA DO SUL.




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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

LUÍS DOIDO

LUÍS DOIDO
(Clerisvaldo B. Chagas, seis de agosto de 2010)
Quando falamos em malucos nem sempre dizemos sozinhos. O nosso romance “Ribeira do Panema” bem que procura descrever os doidos da cidade. Encontramos referências também em outros livros de autores santanenses e de Palmeira dos Índios, como Oscar Silvar e Valdemar Cavalcanti, sobre essas pessoas sem juízo. Sem sabermos sobre sua origem, surgiu na “Rainha do Sertão” um doido chamado simplesmente Luís. Jovem, em torno de vinte e dois anos, Luís era alegre a todo o momento e babava sempre. Não sabemos se a baba era proveniente de algum medicamento ou consequência mesmo do seu mal. Parece que sua mãe sempre aparecia e o mantinha limpo. Por onde passava, Luís era querido e cumprimentado. Para aumentar a felicidade do rapaz, causou tremendo sucesso um forró lançado no Nordeste. “O Relabucho”, de melodia muito boa e cantada em ritmo alucinante por Zeca Balero, alegrou muita gente nessa terra. Luís doido logo se identificou com a composição de Elino Julião e Lucas Evangelista/Athaíde Pereira. Se o rapaz já era contente sem música, dobrava o ânimo quando o rádio bradava:

“Aproveita o relabucho Maricota venha cá
Eu relo, você rela, tu rela eu torno a relar...”

(...) “anda Maricota que o tempo está passando
Todo mundo tá relando, você fica sem relar...”

Estávamos aproximadamente na época da Guerra do Vietnã, 1959-1975. O forró de alta qualidade chegava e agradava a todas as camadas sociais. Luís se apaixonou pela música e passou a ser solicitado pelo comércio inteiro. Cantava e dançava rindo e babando o que era uma atração constante. “Cante aí o relabucho, Luís!” E era somente o que o doido queria:

(...) “maracujá só é bom quando tá murcho
Eu entro no relabucho só deixo quando relar...”

Palmas para Luís e Vibração na plateia.
Difícil é governar os Estados Unidos. O país ficou viciado em mandar invadir e derramar sangue. Há anos um repórter de TV fez uma entrevista com vários pistoleiros presos no Brasil. Um deles, em presídio de Pernambuco citou o vício de matar como principal causa de setenta e tantas mortes: “não tendo quem me contrate, mato só para vê a queda”. Repetindo mais uma vez, a ONU não manda em nada. Não manda porque virou títere em mãos americanas. Barack, mal anuncia a retirada do Iraque ─ onde foi fabricada ‘só para ver a queda’ uma enorme montanha de cadáveres ─ gente do governo já anuncia a invasão ao Irã. Manobras militares ameaçam também a Coreia do Norte e só falta tirar o breve do meio. Não basta o Iraque, o Afeganistão engolidor de defuntos de jovens ianques, porque o vampiro Tio Sam, não bebe em taça pequena. “Negro jurado negro apanhado”, diziam no Império brasileiro. E se Obama pensava ser um pacifista, foi perdendo a cor dos cabelos sob pressão interna. Até a ex-candidata a vice-presidenta, vulgar senhora parecida com atriz pornô, chega a dizer que o Barack não tem “Culones”. Encheu a boca do seu uso. Não sabemos se ela mandou alguém ou foi verificar in loco. Vai, Obama, cumprir a sina homicida do seu país! Vá construindo novos Vietnãs, mas não venha para cá. Ao invés de bombas e canhões, preferimos as estrofes de Zeca Balero:

“Aproveite o relabucho, Maricota venha cá...”

O Brasil já tem lunáticos de sobra, cópias, carbonos, clones... de LUÍS DOIDO.





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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

VELHO CRUZEIRO

VELHO CRUZEIRO
(Clerisvaldo B. Chagas, cinco de agosto de 2010)
Vou novamente subindo lento e solitário a trilha do serrote. Agora a capoeira é verde. Galhos se debruçam nos degraus de cimento e pedra. O silêncio resmunga na indefinição de um ruído, no farfalhar quase imperceptível de folhas, no som longínquo da cidade. Meia volta no corpo, nivelar de cabeça, trena nos olhos. Novo fôlego no aclive longo, no fim dos batentes, na terra banhada e nua. Rachões nos pedregulhos, garranchos de caminho e a sensação estranha de está sendo olhado, acompanhado, fotografado. Ali está, por entre espaços da folhagem, ali está. Ele, o velho cruzeiro de madeira resistindo ao tempo. Braços abertos abençoando casas tão longe e de longe tão perto, beijando-lhes os pés, pedindo-lhes a bênção. E eu vou pisando no lajeiro enorme, contando as passadas, flutuando no Sinai da minha terra. Sento-me na calçadinha da capela e acompanho o abraço de amor a urbe de Senhora Sant’Ana. Uma vigilância eterna de considerável afeto. Serras do Poço, Camonga, Macacos, Remetedeira... Lá se vai o fio d’água barrenta seguindo o destino, como o destino da gente. A torre da Matriz quer competir, mas não tem altitude. Berra o sino no protesto longo contra o concorrente natural. E me vem às narinas o perfume agreste de mato verde. Como é bela a imponência da cruz! Alastrados, urtigas, macambiras, vão fazendo o cinturão de segurança ao símbolo deixado pelos homens.
Antigo morro da Goiabeira, receptora energética do alto, jorro de fé dos que te escolheram entre os montes. Ah! Vejo as pessoas simples fazendo promessas, tijolos à cabeça, bandas de música a tocar. E os chapéus de palha, e os pés descalços e o espocar de foguetes. Onde estão as multidões que procuravam as alturas para a comunhão com Deus? Por que você está sozinho depois de curar tantos e tantos males dos que vieram após agradecer? Como notar Santa Terezinha trancada aí dentro, espelho quebrado, protegida por marimbondos? Que malvadezas fizeram com o Cristo que iniciou profanado num alto que não era de confiança. E onde estava a confiança, por que deixaram o Mestre e carregaram a fé? Não foi assim que recomendei esse lugar.
Depois de longas e longas espiadelas pelos arredores, deixo o cimo e vou degustando a descida numa lentidão de quem perde alguma coisa. Onde eram as estações de via-sacra? Não vejo marco nenhum. É verdade, mato não precisa de vias-sacras. Mato reza sempre ao sopro do vento nas manhãs fagueiras, nas noites de lua ou na escuridão enigmática de inverno. Vento sempre reza, Seu Clero! Sabia não? E nas faldas do serrote, misteriosamente desaparece a multidão que acompanhava os atores nas semanas santas. Brigas de padres não permitiram a sequencia do teatro da paixão no lugar apropriado. E lá da outra margem do rio, dos quintais da Rua Antonio Tavares, volto-me, imaginariamente aponto para a igrejinha do serrote e digo que ali estive. Nada resolvi para o morro da Goiabeira. Mas por certo as boas energias irão fazer muito por mim. Não pretendo deixar de visitar de vez em quando o cimo sagrado do VELHO CRUZEIRO.


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terça-feira, 3 de agosto de 2010

LEITE DE QUIXABA

LEITE DE QUIXABA
(Clerisvaldo B. Chagas. Quatro de agosto de 2010)
Diz a sabedoria popular que “tudo tem a sua vez”. Eu queria porque queria encontrar o Arenilson nascido em São Miguel dos Campos. Enfrentamos a batalha pelos estudos em república de estudantes na capital alagoana. Arenilson falava baixo, gostava de Química e era bom sujeito. Quando tomava banho ficava imóvel e dizia que era para não suar. Falava que banho demais estragava a pele. Quando nos referíamos a esses sucos em pó como cancerígenos, ele pedia que juntássemos todos os pacotes e levássemos para ele. O pai era caminhoneiro em São Miguel. E certa feita, dirigindo o caminhão do pai, Arenilson me chamou e fomos transportar melaço de uma usina no vale do Mundaú para o cais do porto. Pela primeira vez eu vi como funciona o sistema, novidades que bem impressionaram ao sertanejo. Meu colega sempre perguntava o tamanho de Santana e foi quem primeiro me falou da “feira da ponte”, tradição miguelense de Semana Santa. Tentei ultimamente localizar o homem, mas nada consegui. Na época morávamos vizinho à casa do Pedro Vieira, garoto inteligentíssimo. Tornar-se-ia Pedro, muito mais tarde, prefeito de Maceió. Encontramo-nos por acaso anos após o seu mandato e ele simplesmente provocou à memória: “Você não é o Clerisvaldo?”
Procurando como pesquisador procura os endereços de Maherval, Silvio Bulhões e Sebastião das Queimadas, fui encontrar os dois primeiros no encontro dos muralistas, festa de gala do Portal Malta net. Maherval, rapazinho, franzino, educado, sempre ia à casa de meu pai a mando da grande amiga da minha mãe, professora Adelcina Limeira. Não reconheci logo aquele cabra alto, bonito e elegante que estava no salão. Silvio Bulhões, colega de DNER do meu sogro (poeta Rafael Paraibano da Costa) professor de Matemática, deixou a escola quando eu entrava no Magistério. Nunca conversamos antes. Foi assim que eu matei dois coelhos de uma só varada de quixabeira. “Primo Vei” que compareceu em minha companhia, dava conta de tudo. Um cavalheiro! Poucos dias após o evento, encontrei-me com o Sebastião, ex-funcionário do Produban, matuto do sítio Queimadas, excelente pessoa. Pude recordar os três dias, como hóspede, em sua residência na tentativa vencedora de enfrentar o vestibular. Ainda hoje sinto o cheiro que varava o quarteirão, da inigualável carne-de-sol de porco, preparada por sua esposa Zuleide. Ê “Bastião”, macho caboclo de tantas batalhas! Andou noticiando Omir Pereira que poderia nos brindar de novo com “Hoje a Notícia Correu” (Moacir Franco) por que não? Dos quatro que eu procurava achei pelo menos três.
“À Sombra da Quixabeira” é uma coletânea de crônicas, principalmente de pessoas que escrevem através do Portal Malta net. Até agradeço por ter tido a honra de ter participado com duas das trezentas e trinta e uma, com essa. Foi lançado na mesma noite, o primeiro livro do amigo e ex-bancário Luiz Antonio de Farias, “Capiá”. Impossível resumir a grandeza do encontro em uma crônica. O evento, Encontro dos Muralistas, foi uma noite em que o Sol prestigiou a Lua. Apesar de todos estarem à sombra da quixabeira, o astro rei brilhou forte sobre a copa. Foi bom rever os amigos, armar rede à sombra e provar do sabor adocicado do LEITE DE QUIXABA.

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