quarta-feira, 31 de maio de 2023

 

OS SE DO SERTÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 1 de junho de 2023

Escritor símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.896


 

Se o galo cantar fora de hora, é moça fugindo de casa. Se a sombra do sol estiver abaixo da barriga do cavalo, é meio-dia. Se o jumento ornejar, é hora redonda. Se a acauã cantar, vem tempo seco. Se o Vem-Vem cantar perto de casa, vai chegar à pessoa do seu pensamento. Se a ema gemer e a seriema cantar, coisa ruim vai acontecer. Se a coruja rasga-mortalha passar rasgando, vai morrer pessoa conhecida. Se a rãzinha rapa-rapa cantar rapando, vai chover em 24 horas. Se o João-de-barro fizer a porta da casa contrária ao vento, vai chegar muita chuva. Se a garrincha fizer ninho na sua biqueira, é sinal de casa abençoada.  Se a neblina estiver nas baixadas, o tempo será seco. Se o boi estiver cavando o chão, a chuva está próxima. Se formigas se arrancham nas baixadas, vem tempo seco.

Ora, muita gente fala em superstição. Mas se um fato é sempre repetido, como pode ser superstição? Poderiam argumentar: “Quando a ciência comprova o fato não é mais superstição. Beleza! Nesse caso pode se afirmar com mais segurança ainda o acontecimento. Aí se diz: “O povo estava certo”. Mas quando a ciência não estuda o caso e se estuda não sabe dar explicações... Continua o fato sendo superstição, invenção do povo? E onde fica a experimentação popular, a experiencia? Então um milagre acontecido e que a ciência não consegue explicar, é superstição? Os mistérios da Natureza somente são mistérios para os que não conseguem compreender nem estudar esses tais mistérios. Será que Deus só proporcionou sabedoria aos homens da ciência e a mais nenhuma outra pessoa?

E ainda tem os ditados populares que se perdem em quantidade. Muitos trazem uma sentença antecipada. E vários deles tanto foram aproveitados no romance “Curral Novo”, de Adalberon Cavalcanti Lins quanto nos meus: “Ribeira do Panema”, “Defunto Perfumado”. “Deuses de Mandacaru”, “Fazenda Lajeado” e “Papo-Amarelo”, todos do ciclo do cangaço. Vejamos alguns: Parente é carne nos dentes; filhos criados, cuidados dobrados; quando Deus tira os dentes enlarguece a goela; quem dá valor a “cachorro” fica com o rabo na mão; homem que jura, mulher que não jura e cavalo pedrês, desconfiar dos três; Boa romaria faz quem em casa jaz. Formiga quando quer se perder cria asa.

Ainda é pouco para se meditar muito.

SERTÃO, TERRA DA FILOSOFIA POPULAR (FOTO: B. CHAGAS).

 


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terça-feira, 30 de maio de 2023

 

COMO REGISTRAR?

Clerisvaldo B. Chagas, 31 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.895


 

Não havia negócio de celular. As máquinas de fotografias eram raras e marcas “Kodak”. E na década de 60 tínhamos somente na cidade os fotógrafos fixos profissionais, “Seu Antônio”, que atuava no início da calçada alta da Ponte do Padre e “Seu Zezinho”, que residia e trabalhava também em casa, na Rua Nova. Eram os “Fotos Sport” e o “Foto Fiel”.  Afora esses dois profissionais que depois se mudaram para a Avenida Coronel Lucena, a mais importante da urbe, só havia os lambe-lambes, que ficavam na porta da Matriz de Senhora Santana. A rotina de todos era praticamente a mesma, embora os lambe-lambes atuassem mais em dia de feira, aos sábados. A   rotina era: fotos de casamento, batizado e 3/4 para documentos. Era uma raridade convite para uma inauguração, uma praça, uma outra coisa de grande magnitude. Logo, material fotográfico era raro e caro.  E assim muitas cenas e coisas importantes deixaram de ser registradas através da fotografia.

Quando o padre Delorizano botou para correr os fotógrafos tipo lambe-lambe da porta da Igreja, eles (eram mais ou menos meia dúzia), não se adaptaram na feira em outro lugar: migraram, deixaram a profissão, desapareceram. Não havia mais ninguém para fotografar no interior da Matriz, casamentos, batizados, 10 Comunhão... O ato do padre, certo ou errado, representou a morte dessa etapa da fotografia em Santana do Ipanema. Dos dois fotógrafos fixos, um foi embora e outro morreu. E quantas e quantas coisas extraordinárias da evolução da terra deixaram de ser fotografadas para as futuras gerações! Também nunca vimos nenhum artista pintando a óleo cenas do cotidiano santanense. Escritor era coisa rara e se havia morava fora.

Falar nisso, recebi mensagem de pesquisador de uma cidade pernambucana perguntando se eu tinha foto do padre Francisco Correia, um dos fundadores de Santana do Ipanema e que foi homenageado na escola mais tradicional da cidade, antigo Grupo Escolar Padre Francisco Correia. Nada de foto, nada de retrato a óleo o que era mais evidente no tempo do padre. Portanto, vamo-nos contentando com cerca de uma dúzia ou um pouco mais, de fotografia antigas da nossa terra e que são raras e domínio público. E quando falo antigas, são da época de 1920 a 1950, mais ou menos em torno disso.

FOTÓGRAFO LAMBE-LAMBE (FOTO: GUILHERME MARANHÃO)

 

 


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segunda-feira, 29 de maio de 2023

 

GEO DAS VEIAS E CAPILARES

Clerisvaldo B. Chagas, 30 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.894

 Para meu ex-professor de Geografia José Pinto de Araújo



 

Uma bacia hidrográfica é formada por um rio principal, seus afluentes e subafluentes. Graças a esse sistema natural o nordestino resistiu durante séculos aos efeitos das estiagens e estiagens prolongadas, denominadas “secas”. Os caminhos desses cursos d’água, maiores, menores e minúsculos, mitigaram a sede do povo sertanejo com água corrente, água empoçada e suas reservas freáticas em processos de cacimbas, cacimbões e poços artesianos. Na mesma estrutura, bebia os diversos tipos de gado que alimentavam o homem. No período de estiagem formavam-se as várzeas, chamadas no sertão de vazantes ou baixios que são partes muito baixas do relevo local, banhadas imediatamente pelos riachos, rios e riachinhos.

Essas partes baixas, são fertilizadas por esses cursos d’água, que fazem nascer o pasto que permitem o sustento e a engorda de ovinos, caprinos, bovinos e aves que procuram bichinhos, além de ser lugar de refrigério. E se formos particularizar os sertões nordestinos, focaremos o município de Santana do Ipanema. A bacia do rio Ipanema recebe diretamente seus afluentes em todas as regiões do município e indiretamente acolhem todos seus subafluentes e todos os outros filhotes de riachos. A título de ilustrações vejam nomes populares dos que mais aparecem. Do Oeste para Leste: Mocambo, Salobinho, Tigre, Camoxinga Salgadinho, João Gomes, Bode e Gravatá. 

O Mocambo é interestadual e escorre no sítio do mesmo nome, vindo do Poço das Trincheiras. O Salobinho vem das imediações do sítio Baixa do Tamanduá, banha o sítio Salobinho e tem sua foz no bairro Barragem. O riacho Tigre, é montanhoso do Maciço de Santana do Ipanema, despeja no riacho Camoxinga e este cruza a cidade, divide o bairro topônimo, do Comércio e despeja sobre a Ponte do Padre, no Poço do Juá O riacho Salgadinho nasce na Reserva Tocaia, divide os bairros Domingos Acácio e o antigo Floresta e tem sua foz também no poço do Juá. O João Gomes vem do município santanense e do município de Carneiros contorna a cidade e tem sua foz no sítio Barra do João Gomes. O bode vem das imediações da serra da Camonga (que faz parte do maciço de Santana) e deságua no Bairro Bebedouro. E por fim, o riacho Gravatá vem de Pernambuco e banha vários sítios entre a serra do Gugi e a serra da Lagoa, tendo a foz no Ipanema. Cada um tem sua geografia própria e um histórico de bravura e ocupação humana.

São veias, artérias e capilares da bacia do Ipanema.

TRECHO DO RIACHO TIGRE (FOTO: BIANCA CHAGAS).


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domingo, 28 de maio de 2023

 

DEGLUTINDO AS ZONAS

Clerisvaldo B. Chagas, 29 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.893


 

Estive no local dos antigos sítios rurais Cipó e Curral do Meio (I). E este sítio é classificado como Curral do Meio (I), porque existe outro Curral do Meio mais afastado da cidade, o que naturalmente ficaria com o título de Curral do Meio (II). O antigo sítio Cipó, era paralelo a AL-130, saída da cidade para Olho d’Água das Flores. Início da estrada que leva até o sítio Sementeira, propriedade do governo transformada em reserva. O sítio Curral do Meio (I), era imediatamente ligado ao anterior. Acontece que a cidade se expandiu também para o leste e engoliu as terras do lugar erguendo residências e casas comerciais. Cipó passou a fazer parte do perímetro urbano. Perdeu o nome que desaparece na mente das pessoas.

Brevemente o seu vizinho Curral do Meio (I), também seguirá o mesmo destino do Cipó e, aquelas árvores nativas e frondosas que ali existem desaparecerão com ele. Digo mais, após o englobamento do Curral do Meio (I), as imediações da Reserva Sementeira, também será zona urbana; inclusive já está muito habitada e com casas bem modernas.  Nesse momento não nos cabe avaliar vantagens e desvantagens do fenômeno urbano. Apenas estamos registrando coisas da história e da geografia da cidade que ninguém registra. Perdem-se as origens de sítios e de bairros. No outro lado da cidade, ainda não aconteceu o avanço na tomada do sítio Tocaias, por causa da Reserva Tocaia e sua vizinha fazenda Coqueiros, mas não sabemos até quando durará a resistência rural em um bairro (Floresta) que não para de se expandir.

Vizinho ao antigo Cipó, por um lado, formou-se com rapidez o Bairro Santo Antônio, nas faldas do serrote do Gonçalinho, do outro, o bairro do antigo Loteamento Colorado. Antes e colado ao Cipó: posto de gasolina, restaurante, bares, churrascaria, curso superior...  Estabelecimentos estes que atestam a expansão da cidade ali na saída para Olho d’Água das Flores, com as benesses da AL-130. Isso também prova que basta haver um loteamento em qualquer tipo de terreno que o estiramento é certo. Porém, empreendimentos isolados como posto de gasolina, churrascaria, pousada, posto de saúde, escola... Atraem residências e negócios multiplicadores que ajudam a povoar áreas, antes impensáveis e desvalorizadas.

TELHADOS DO BAIRRO SANTO ANTÔNIO, VISTO DA AL-130. NOTE SUA LOCALIZAÇÃO NAS FALDAS DO SERROTE (FOTO: ÂNGELO RODRIGUES, ARQUIVO B.CHAGAS)..

 

 


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quinta-feira, 25 de maio de 2023

 

ARRANCA-RABO

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de maio de 2023

Escritor Símbolo do sertão Alagoano

Crônica: 2. 892



 

O “sobrado do meio da rua”, em Santana do Ipanema, tinha um salão grande e livre no 10 andar. Ali funcionou teatro, cinema, Fórum, escola e muito mais. O sobrado foi demolido juntamente com a grande construção vizinha “prédio do meio da rua”, na gestão do prefeito Ulisses Silva que os substituiu por duas praças modernas. Era um tempo em que havia apenas as diversões tradicionais da terra, nada ainda de televisão, rádio era coisa rara. Ficando o lazer nos periódicos bailes do Tênis Club, dos banhos no rio Ipanema, nos jogos de futebol, etc. Então, era garantido também os embates no Fórum que funcionou no “sobrado do meio da rua”.  Quando o caso tinha grande repercussão, o prédio ficava lotado, com pessoas até na escadaria de acesso.

Os maiores debates eram entre o Dr.  Aderval Tenório – considerado um dos dois melhores advogados do Nordeste – e o promotor Dr. Fernandes. Dr. Aderval, sertanejo, alto, vozeirão, intelectual e serpente no Direito. Dr. Fernandes, de fora, bigodinho, educado, morava na avenida principal da cidade vizinho ao cine-Glória. Quando os dois se engalfiavam num debate no Fórum, era de estremecer a base do prédio, pois o dr. Fernandes, era o único promotor à altura do dr. Aderval, daí o duelo de gigantes. E aquela diversão forçada para á época, também buscava justiça em cada caso que arranhava a sociedade. Muitos casos escabrosos levavam multidões para o “sobrado do meio da rua”, principalmente, se fosse um duelo entre os famosos Fernandes e Aderval.

Quando o prefeito Ulisses Silva, por vontade própria, resolveu demolir os dois prédios mais centralizados da cidade, não demorou muito entre a ideia e as ações. Demoliu primeiro o “prédio do meio da rua”, enorme, quadrangular e repleto de casas comerciais e   prestadoras de serviços nas suas quatro faces. Em seu lugar construiu uma praça. Chegou a vez do sobrado que seguiu o mesmo destino do primeiro. Houve aprovação e muita comoção na cidade.  O argumento era que precisava mudar o aspecto central da urbe. Apenas isso. O surgimento de muitas novidades que foram preenchendo o núcleo, foi aos poucos lambendo as feridas do ato brutal que demoliu a alma de vila. O Fórum foi parar onde hoje é a Câmara de Vereadores, para a frente do cine-Gloria, até ser erguido na BR-316. Houve muito embates, mas nunca um duelo igual ao do dr. Aderval e o dr. Fernandes. Um verdadeiro arranca-rabo.

“SOBRADO DO MEIO DA RUA”, SENDO DEMOLIDO. PRAÇA NO LUGAR DO “PRÉDIO DO MEIO DA RUA” (FOTO: RARÍSSIMA E DE DOMÍNIO PÚBLICO/ Livro 230).

 


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quarta-feira, 24 de maio de 2023

 

CARREIROS, CARROS E PROCISSÃO

Clerisvaldo B. Chagas, 26 de maio de 2023

Escritor Símbolo do sertão Alagoano

Crônica: 2891

 


Era ainda o auge dos carros de boi.  Na margem direita do rio Ipanema, só havia cercados de criação e de roças, casas pobres e longe uma das outras entre caminhos e estradas poeirentas e carroçáveis. Muitas vezes fui comprar o leite à casa do senhor Antônio Alcântara, compadre de meu pai e que morava onde hoje é o supermercado Nobre, vizinho a Ponte do Padre. Seu Antônio todos os dias atravessava o Ipanema para pegar o leite de venda no seu criatório da margem direita.  Perto da sua propriedade ou nela mesma, nas proximidades do Poço dos Homens, morava um carreiro gente boa, chamado Cícero. E meu pai mandou fazer um carro de boi muito bem feito, tamanho máximo e, com quatro bois enormes, vermelhos e bem nutridos, entregando-os ao Seu Cícero para carrear.

Santana ainda tinha um título de “Terra dos Carros de Boi”, carros esses que lotavam o poço do Juá, no rio Ipanema, aguardando mercadorias da feira do sábado para o destino da zona rural.  Mais progresso chegou e o carro de boi ficou obsoleto. Nos últimos tempos desapareceu da cidade, mas continua firme e forte na área rural que tanto precisa dos seus serviços no dia a dia. Mas, como o destino tece à sua maneira, a Paróquia de Senhora Santana incorporou uma procissão de carreiros e seus carros de madeira na abertura das festas do mês de julho.

A procissão aludida já chegou a desfilar com 1.800 carros de boi, contados pelos participantes. Logo cedo no dia anterior à procissão, os carreiros vão chegando e acampam no “Parque de Exposição Izaías Vieira Rego”, a 2 km da cidade, onde se preparam para o grande dia. Os carros desfilam rumo a Santana, pela AL-130, indo a imagem de Senhora Santana no carro de boi da frente, onde também vai o pároco da Matriz. Após a procissão é realizada a bênção que geralmente acontece no Largo Cônego Bulhões.   E no início dessa friezinha que está acontecendo no mês de maio, já se ouve carreiros providenciando coisas para a grande felicidade de escoltar a santa até a casa sagrada Matriz de Senhora Santana.

PADRE JACIEL, PARÓQUIA D SENHORA SANTANA (FOTO: B.CHAGAS/ARQUIVO)

 

 


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terça-feira, 23 de maio de 2023

 

O CACHIMBO DA SERRA

Clerisvaldo B. Chagas, 24 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2890



 

Terça-feira (23), mais um dia nublado frio e chuvoso. A chuva fina, insistente e molhadeira, como se diz por aqui no sertão de Santana do Ipanema. E a temperatura de 24 graus é bastante para o escritor buscar agasalho e abrigo. Sou filho da caatinga e bicho de 26 a 27 graus. Mesmo com essa particularidade, vejo a rua completamente deserta e seres semelhantes devem estar na preferência da cama, do sofá, sob a égide do cafezinho quente ou da pipoca estaladeira. E apesar do cinza esbranquiçado que cobre a cidade, posso assegurar que é um belo dia para um passeio de carro e apreciação do tempo. Vai continuar chovendo? Vai parar? Uma foto do serrote Gonçalinho, que circunda a cidade, mostra o monte cachimbando. E a serra cachimbando, por aqui é estar parcialmente coberta de neblina quando o tempo estia; ou no pé ou no pico do monte. Se a neblina é na base o tempo vai para o estio, se a neblina é no pico, mais chuvas chegará.

Como já disse antes, o nosso tempo chuvoso é de outono/inverno. E como ainda estamos no outono, as chuvadas vão iniciando suas jornadas anuais. Como não temos sites especializados, nem sabemos ainda se o homem do campo já iniciou o seu plantio. Mas o certo é que todos sonham com milho assado, pamonha e canjica do período junino. Ainda não se fala em São João por essas bandas... Nem forró, nem fogueira, nem quadrilhas, mas é a própria Natureza que vai pintando o cenário de festa e fartura para o próximo mês. Milho assado, milho cozinhado, bolo de milho, povoam mentes que antecipam o São João.

E o verde da periferia, das margens do rio, da estrada, da colina e dos elevados procura enquadra-se no verde da bandeira nacional. O perfume do mato molhado é uma saudação aos riachinhos que alegram o cenário e oferecem beijos carinhosos aos pés dos caminhantes. O orvalho nas folhas molha os braços de quem logo cedo ama ao tempo e rompe a trilha. E se tudo na vida tem a sua hora, por que pensar em seca, em acauã, em sacrifícios se os céus estão derramando bênçãos sobre a terra e sobre as esperanças do seu coração?

Ainda existe o arco-íris.

O Sol chegou tímido. Abra seu coração e deixe-o entrar.

PERIFERIA OESTE DA CIDADE (FOTO: B. CHAGAS).

 


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segunda-feira, 22 de maio de 2023

 

MANIÇOBA/BEBEDOURO

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.888

 



Vez em quando damos uma passada pelos bairros que formam um só, Maniçoba/Bebedouro. Lugar onde o casario se confunde ao longo da margem esquerda do rio Ipanema. Muitas rochas e árvores frondosas fazem de ambos os bairros, um belo jardim que vai sendo descoberto para chácaras da classe média que procura descanso. Na Maniçoba, o rio Ipanema recebe as águas de um riachinho que se forma em tempo de inverno, vindo da região do Residencial Brisa da Serra, parte norte da cidade e saída para o povoado São Félix. O riachinho não tem título e por isso o chamamos de “riacho Sem Nome”. Mais adiante, no Bebedouro encontra-se a estreita foz do riacho do bode, após as últimas casas do perímetro urbano. Hoje transformada em escoadouro do açude formado pelo riacho, porém, sem sangramento há muito tempo, é seca e coberta de mato.

Imortalizamos o lugar com o livro documentário ainda inédito, “Santana: Reino do Couro e da Sola”. Tendo como ponto central do documentário os curtumes daquela região que alimentava artesãos do couro, a rede de sapateiros autônomos e as fabriquetas de calçados da cidade. Muitos outros fatos, porém, ali acontecidos são narrados e vindos a lume para conhecimento dessa e das futuras gerações da terrinha. Curtumes são lugares onde o couro dos animais são transformados em couro curtido e/ou em sola. Nos tempos mais recentes nesses lugares que ostentam o primeiro documento sobre Santana do Ipanema, destacava-se a líder comunitária conhecida como “Dona Joaninha”, mulher combativa pela sua comunidade e terror dos políticos santanenses.

Tive a imensa honra de trabalhar com Dona Joaninha na “Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA.  A última vez que estive na sua casa, foi com alguns guardiões de folga que aproveitaram para pegar umas cervejas nas imediações. Dona Joaninha “deu um rela” na turma e mandou pegar cerveja gelada em um lugar próximo, dizendo: “Vocês estão na minha casa e a obrigação é minha, ora, ora, ora... Estava doente, mas não se entregava e pouco se referia aos seus problemas pessoais. Poucos meses ou semanas após esse encontro, Deus precisou daquela mulher sábia e guerreira para aconselhar alguns rebeldes na porta do Céu. Uma lacuna difícil de ser preenchida na Maniçoba/Bebedouro e em Santana do Ipanema.

CLERISVALDO E DONA JOANINHA, NO BEBEDOURO (FOTO: SÉRGIO CAMPOS).

 


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domingo, 21 de maio de 2023

 

SECA VERDE

Clerisvaldo B. Chagas, 22 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.888

 



Já foi tema de antigos vestibulares: “seca verde”, “quadrilátero Ferrífero”, recôncavo baiano”, “êxodo rural” e muitos outros. E nesse momento em que a mídia fala em seca verde em regiões de Sergipe e Alagoas, novamente voltamos a falar na Natureza.  Sábado passado foi o dia todo nublado no Sertão de Alagoas, frieza e, aqui, acolá, sereno de chuva. O domingo amanheceu nublado, chuveirinho e frieza, deixando a interrogação costumeira na região: Será o começo do inverno? Os pássaros mesmo assim, amanheceram o dia cantando. Logo cedo, aqui no perímetro urbano, a rolinha cantou forte no Bairro São José, como sinal de caminhos abertos e dia feliz. Depois os pardais vieram para fiação da rua enfrentaram frieza e umidade.

Mas o que é mesmo “seca verde”? É o fenômeno em que a vegetação está completamente verde, mas as águas das chuvas não foram suficientes para o desenvolvimento completo da lavoura. Os produtos do campo não conseguem chegar à época da colheita. E se chegam, nada ou quase nada se aproveita. Daí a preocupação do agricultor também com a chuva. Vai dar para sustentar todo o ciclo das plantações? E se vai dar, será que ainda vai sobrar água nos barreiros, nos açudes, nas lagoas... Para a travessia pós inverno? Mesmo por essa época, já começa uma certa inquietação pelos caminhões-pipa para abastecimento urbano e rural. E o sertão nordestino vai vivendo na incerteza entre Deus e os homens. A diferença da seca verde para a seca total é apenas o verde ou o cinza crestado dos vegetais. Pouca água ou água nenhuma, não ameniza o desespero contra a fome.

Conhecimento sobre a “seca verde” é bom... Melhor ainda são as ações preventivas e efetivas em defesa da produção e o pecado da gula na fartura de mesa campesina.

Enquanto, isso, nessa manhã de domingo em que a crônica se veste para a segunda-feira, o sereno de chuva é constante neste dia nublado, frio e triste. A beleza, todavia, da presença divina em cada uma das facetas do tempo renova esperança, fé e crença no Senhor dos Mundos.

 

E se a seca é verde, azul, cinza ou cor de rosa... Muito mais colorida é a misericórdia que desce e que mescla todos os climas da Terra.

Já é noite e a chuvada lenta do dia inteiro, penetra pela noite.

DIA FRIO E MELANCÓLICO (FOTO: B. CHAGAS).

 

 


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quinta-feira, 18 de maio de 2023

 

MINISTREI PALESTRA

Clerisvaldo B. Chagas, 19 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.887

 




Diante de uma plateia educada e atenta, ministramos palestra sobre parte da história de Santana com alguns episódios, onde desaguamos novamente na Santana industrializada, nas grandes cheias do rio e nos feitos dos gigantes canoeiros que impulsionaram o desenvolvimento da cidade. Prestamos homenagem ao último canoeiro, sustentáculo do resgate dos “Canoeiros do Ipanema”, Zé de Toinho, cuja passagem faz poucos dias, em Maceió, com 97 anos. de idade. E como a Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira Silva, completou 59 anos de existência, falamos das suas origens, situações geográficas e sociais que levaram a ser implantada ali, a primeira escola pública do município com 20 Grau (Curso Médio). Hoje a escola já não ostenta o nome original do seu fundador Deraldo Campos, e sim, do 10 diretor que esteve no cargo por 20 anos.

Houve problema técnico com os slides e tive que seguir somente no gogó como nos velhos tempos. Que pena que os alunos, professores e funcionários não viram as fotos que se tornaram históricas e relíquias dos anais da Santana do Ipanema ainda dos tempos do fotógrafo tipo lambe-lambe. O evento, organizado pelo 20 Ano B, tinha um título pomposo: “Café com Sabedoria”, onde uma mesa farta aguardava o final de palestra. Muita gentileza do diretor e escritor Fábio Campos e do empenho e boa vontade do professor e escritor Marcello Fausto, preparador carinhoso dos slides históricos da nossa terra. A propósito, o escritor Fábio Campos foi o prefaciador dos “Canoeiros do Ipanema”.

Aproveitei para rever a Galeria de Diretores e que se iniciou na minha gestão, ouvir opiniões espontâneas sobre o Magistério, todas   de baixo-astral, infelizmente, rever ex-alunos e ex-colegas e cravar os olhos na paisagem não tão renovada assim. O retorno à casa coincidiu com taxista ex-alunos do Estadual que também opinou sobre colegas professores antigos e assim o dia ficou enriquecido de tantas informações orais e visuais que de uma forma ou de outra sempre se agregam ao conhecimento.  Uma incursão desse porte sempre mexe com o corpo inteiro, mesmo no esforço grande para uma neutralidade de emoções. Não tem jeito. A história das coisas cala fundo na alma e impregna a mente.

SEU TOINHO (FOTO: ARQUIVO DE FAMÍLIA). FOTO ANEXAS (ALUNOS DO ESTADUAL).

 

 

 

 

 


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terça-feira, 16 de maio de 2023

 

DE QUEIXO CAÍDO

Clerisvaldo B. Chagas, 17 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.886

 

A Biblioteca Pública de Santana do Ipanema funcionou por um longo período no Centro Comercial, precisamente no 10 andar do “prédio do deus mercúrio”. No andar térreo funcionava a loja de tecidos do comerciante Benedito V. Nepomuceno, assim como estava escrito na fachada da loja. O acesso à biblioteca era pela lateral da loja que podia adentrar à residência aos fundos ou à casa dos livros através de uma escadaria. Era sim, em nossa opinião, um prédio de luxo construído ainda no tempo de vila pelo Cel. Manoel Rodrigues da Rocha. E como quase tudo do coronel vinha da Europa, calculamos que o corrimão da escadaria e os vidros coloridos das portas/janelas do 10 andar, tenham vindo do outro lado do Atlântico. Frequentar aquele ambiente tão simples e ao mesmo tempo tão sofisticado era quase um privilégio divino.

Compêndios nas prateleiras envidraçadas e no verniz; livros cuidadosamente assentados, catalogados e numerados; instrução como retirá-los e recolocá-los e amplos catálogos à disposição; Um silêncio civilizado protegendo a leitura dos usuários e consultas em voz baixa à bibliotecária; direito a empréstimo de um livro para quinze dias; cartão/ficha para renovação infinita da concessão. A imensa variedade de Literatura nos transportava para autores russos, franceses, americanos e famosos da Brasil, principalmente. A novela, o romance, o conto a poesia, a história, enciclopédias e dicionários famosos nos deslumbravam e agiam às mil maravilhas nas mentalidades em formação.

E por questões diversas vamos observando esse fenômeno de abandono das mansões e sobrados antigos com amostras, praticamente em todas as cidades e capitais brasileiras. Em nossa terra não poderia ser diferente. É a transformação inexorável do planeta erguendo novos pilares da história física no mundo. Assim são montanhas que se transformam em vales, ilhas que desaparecem, cachoeiras que se somem e rios que não choram mais. Ficamos apenas com receio de que as antigas grandes obras da cidade, por falta de manutenção, não causem tragédias nos seus prováveis desabamentos. Mesmo assim, ainda hoje, ao passarmos pelo casarão do “deus Mercúrio”, os olhos não conseguem fugir da estátua que ornamentou a Biblioteca Pública. Um momento, um passo ronceiro, uma saudade e um queixo caído.

CASARÃO DO DEUS MERCÚRIO, EM 2013 (FOTO: B. CHAGAS/LIVRO 230).

 


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segunda-feira, 15 de maio de 2023

 

AS SURPRESAS

Clerisvaldo B. Chagas, 16 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.885

 


“Pesquisadores encontraram as ruínas de uma estrada da Idade da Pedra submersa no Mar Mediterrâneo. A descoberta foi feita no sítio arqueológico de Soline, localizado na costa da ilha de Korčula, na Croácia. Estima-se que a construção tenha cerca de sete mil anos.      De acordo com os arqueólogos, a antiga passagem tem vários metros de largura feita de lajes de pedra. Além disso, os pesquisadores encontraram paredes de um antigo assentamento. Acredita-se que o local tenha sido construído pela cultura neolítica. que ocupava o leste do Adriático. A estrada está situada a cerca de cinco metros abaixo do Mar Adriático, no Mediterrâneo. Os cientistas identificaram ela ao examinar imagens de satélite das águas ao redor de Korčula. Depois, eles confirmaram a descoberta ao fazer mergulhos exploratórios na região.  Pesquisadores também anunciaram a descoberta de um outro assentamento similar durante inspeções na Baía de Gradina, no lado oposto de Korčula. Lá, os arqueólogos encontraram artefatos como lâminas e machados. Além disso, evidências de sacrifícios foram identificadas no local”. FONTE: DOL.

A história sendo recontada. Bem que se diz tudo que estiver oculto nesse mundo, será revelado. Contamos toda uma história e, lá à frente, descobertas desmancham tudo que você ensinou. Isso praticamente ocorre em todas as áreas de conhecimentos. Vimos, então, pela narrativa acima que o mar Mediterrâneo não teve sempre o mesmo nível e que essa região era enxuta a ponto de ganhar uma estrada. Posteriormente o mar se expandiu e inundou a parte em estudo. Assim são muitas regiões que eram antes fundos de mar e hoje aparecem como desertos, vales, montanhas e mais outras formas de relevo.

Mas essas ciências sobre rochas, escavações e afins, parecem não interessarem à grande quantidade de pessoas: Geografia, Geodésica, Arqueologia, Paleontologia, contam com poucos estudantes seguidores, porém, formam profissionais altamente apaixonados pelo respectivo trabalho. São atrações da vida à parte se se pode dizer assim. Tantos músicos no mundo, mas bem poucos atraídos pela música clássica. É coisa mais ou menos semelhante no pendor das ciências.

Aplaudamos a quem merece.

MAR MEDITERRÂNEO (FOTO: STOCK).

 

 

 

 

 


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domingo, 14 de maio de 2023

 

O COLÉGIO ESTADUAL

Clerisvaldo B. Chagas, 15 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.884

 


O riacho Camoxinga, há milhares de ano entulhou as imediações da sua foz, recuou o seu leito procurando novo caminho para chegar e despejar no rio Ipanema. Escorre atualmente por trás do casario das ruas, Prof. Aloísio Ernande Brandão e Gilmar Pereira de Queiroz, novo roteiro para chegar ao desaguadouro. Na área entulhada, foi implantada a sede da fazenda do antigo intendente, Frederico Rocha. O exército comprou a área e construiu ali o seu quartel. Meses depois, a unidade foi embora, deixando o enorme prédio ocioso. O prédio foi aproveitado para a implantação da primeira escola pública com Curso Médio, em Santana, recebendo o nome de Colégio Estadual Deraldo Campos. Depois foram construídas mais duas grandes escolas na mesma área entulhada do riacho Camoxinga, abandonada pelo exército.

Em uma chuvarada, caiu parte do muro de trás que cercava a área das três escolas. Anos e anos se passaram com o enorme rombo da murada. Pois bem, com uma grande investida do riacho Camoxinga no início do ano, as águas invadiram tudo e mais extensões da murada foram abaixo. Não faz tanto tempo do alerta que demos aqui sobre esse tema. Agora o estado está recuperando a murada que segundo informações de professores, será uma recuperação total. Pude sim, apreciar o bom trabalho que está sendo realizado, diferente de murada “meia-sola” acontecida numa outra unidade cujo trabalho foi feito por empreiteira. Mas isso já passou e a escola do estado voltou a ser municipal. Tudo isso para não perdermos o fio da meada.

Ficamos felizes pela recuperação da murada completa do Complexo Educacional do estado em Santana do Ipanema. Boa proteção ao patrimônio público físico e a integridade dos que fazem educação nos três colégios. E por falar nisso, estaremos no próximo dia 18 ministrando palestra na Escola Estadual Prof. Mileno Ferreira da Silva, onde parte da história de Santana será contada com testemunho de fotos de época.  Atualmente a unidade encontra-se sob a direção do professor e escritor Fábio Campos.

Velha estrada do Estadual! Caminho dos primeiros povoadores da serra do Poço. Lugar de produção das frutas doces e de qualidade como a laranja, a jaca, a banana e ainda o feijão e café andu.

Serra do Poço, serra do Poço, onde foram parar os seus pomares?!

PONTE DO ESTADUAL (FOTO; B. CHAGAS/LIVRO 230).


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quarta-feira, 10 de maio de 2023

 

NO ALTO SERTAO (III)

Clerisvaldo B. Chagas, 11 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.883

 



Penetramos pela estrada de terra ladeada pelo verdume da caatinga. Vez em quando, um barreiro, uma baraúna inclinada, árvores outras, destacando-se por cima dos arbustos. E, finalmente, o povoado Tapuio, completamente diferente daquele que conhecemos há 20 anos. Lugar pequeno, humilde, limpo e ensolarado que nos deixou com vontade de passarmos uma semana por ali. Fomos pedir informações e, coincidentemente, o informante, empresário no Tapuio disse: “Professor Clerisvaldo, fui aluno do senhor no Colégio Estadual”. Pense na alegria! Aí ficamos por um bom tempo. E enquanto meus companheiros tomavam uma geladinha, fui à casa da devota do padre Cícero colher seu depoimento e fotografá-la. A senhora de 80 anos estava rezando o rosário da Mãe de Deus e me recebeu com profunda euforia pelo nome de Cícero Romão.

Após todos os procedimentos preliminares, registrei a graça alcançada em 1985, diante de um drama pesado de vida ou morte. Retornei aos companheiros e melhor pude apreciar o povoado que tem agora uma quadra esportiva lá no final da rua principal. Ouvimos relatos sobre a educação no Tapuio e o destaque na avaliação nacional. Elogios aos trabalhos no Ensino ao prefeito Valmiro e as grandezas das festas com bandas famosas acontecidas no povoado.

Surgiu um rapaz de Santana do Ipanema que morava ali e a alegria foi redobrada com generosos convites para voltarmos ao Tapuio com promessas de vários petiscos exóticos da região. Finalmente partimos de volta à terrinha e nos deparamos com uma chuvada fina na BR-316.

   Temos em vista ainda duas incursões possíveis por dois sítios rurais de Santana do Ipanema, contudo, não depende de nós. E sem nenhum agendamento para a cidade de Poço das Trincheiras, passamos direto pelo acesso que leva até o antigo Olho d’Água da Cruz. As majestosas serras do Poço e da Caiçara continuam sendo grandes atrações, juntamente com esse verde maravilhoso que faz cenário de matizes na vegetação de caatinga. Dia abençoado por Deus, de tão bom.

Orgulho em ser sertanejo!

CARTAZ DE FESTA NO TAPUIO  (CRÉDITO: PREFEITURA POÇO)

 

 


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terça-feira, 9 de maio de 2023

 

NO ALTO SERTÃO (II)

Clerisvaldo B. Chagas, 10 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.882

 


Adentramos à cidade de Maravilha, geograficamente um brejo de pé de serra e logo notamos a expansão e modernização da cidade.  Um antigo açude de minação que havia já na saída para Ouro Branco, estava todo urbanizado e se tornara um sofisticado ponto de encontro. E ali estava sua relíquia máxima: a serra da Caiçara, imponente, com seus mais de 800 metros, ponto turístico e hoje transformada em Reserva Ambiental. Muitas chácaras lá para cima, inclusive naquele momento iria haver uma reunião política em uma delas. Fomos direto a uma casa recuada do ex-prefeito, vice-prefeito e atual candidato a vice, Luizinho, que nos estava esperando para conversar. Uma figura ímpar, bem humorada e que fora meu aluno Conversas e mais conversas agradáveis, cervejinha para que ainda bebia e   altíssimos elogio do ex-prefeito à minha pessoa como professor e como escritor, o que me deixou sem chão.

Quando dali saímos contemplamos as estátuas de mastodontes distribuídas pela cidade, mas não procuramos o museu local onde estão abrigados fósseis daqueles animais encontrados nas pesquisas e escavações no município. Tiramos direto para o povoado Tapuio, pertencente ao município de Poço das Trincheiras com acesso pela BR-316. Ao passarmos nas imediações de uma estrada de terra que corta caminho para Maravilha, entre Maravilha e Poço, veio a lembrança da indagação que fiz ao nosso entrevistado de Ouro Branco com seus 86 anos. A estrada que corta caminho se chama Maria Morena. “Vamos por Maria Morena que a estrada está boa”, etc. E com tanta curiosidade sobre essa denominação (por ande tanto rodamos) eu achava charmoso o título Maria Morena, tanto que coloquei o nome de uma personagem de um dos meus romances de Maria Morena.

E com mais de 20 anos de curiosidade que estava já perdida, resolvi indagar e o nosso romeiro explicou: “Maria Morena era mulher alta, forte e bem morena que vendia cocada naquele trecho da BR-316”. Naturalmente tinha seu rancho na estrada de terra que lhe perpetuou a homenagem. Como é bom pesquisar!

Já era muito mais de meio-dia quando chegamos ao acesso do Povoado pocense, Tapuio. Uma estrada de terra de cerca de 5 km de distância da pista ao povoado.

Amanhã: No alto Sertão (III). Final da série.

       A IMPONENTE SERRA DA CAIÇARA, VENDO-SE ASPECTO DE MARAVILHA.
FOTO: MARCELLO FAUSTO


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segunda-feira, 8 de maio de 2023

 

NO ALTO SERTÃO (I)

Clerisvaldo B. Chagas,9 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.881

 




Sábado próximo passado, ainda “não tinha caído a ficha” à nossa recepção do dia anterior na Escola Estadual Prof. Aloísio Ernande Brandão (CEPINHA), quando partimos para o alto Sertão das Alagoas. Há mais de vinte anos tínhamos andado por aquelas bandas e que nem asfalto havia entre Maravilha e Ouro Branco. Acompanhado pelo escritor Marcello Fausto e Iran Siqueira, fomos direto coletar graças alcançadas através do padre Cícero para o livro “100 milagres Nordestinos – Inéditos”. Tempo agradabilíssimo em todos os lugares, temperatura amena, mato verde geral em nossa área de atuação. Passamos pelas cidades de Maravilha e Ouro Branco, um professor e escritor desta última nos serviu de guia até a chácara da pessoa procurada, no Sítio Serrotinho, imediações da urbe.

Ficamos felizes por encontrarmos grande expansão do casario e modernidade visível, nos chamando atenção a igreja reformada que ficou um “verdadeiro brinco”. Não deu para visitarmos a escola em que fui um dos fundadores, vice-diretor e professor por cerca de quatro anos. E partimos para a chácara, onde encontramos o grande devoto do padre Cícero, que sempre vai a pé ao Juazeiro todos os anos, desde a sua juventude. Hoje, com 86 de idade, o nosso amigo sabe tudo sobre Ouro Branco. Natureza verde, partido de palma para o   gado, cão na corrente no oitão da casa, couro antigo de raposa enrolado à parede e um banco pela-porco no alpendre, coisa que me deixou maravilhado e que ali fiz questão de me sentar, recusando cadeira moderna para também usufruir daquele objeto rude de craibeira confeccionado há 63 anos.

Anotamos duas boas narrativas, agradecemos e retornamos à cidade de Ouro Branco, após vários casos contados e ouvidos com atenção pela nossa equipe. Mais uma vez apreciando a geografia do lugar composto de areia branca, lajeados, e que possui o lajeiro- mor, ponto turístico preservado. Lanche e pneu na estrada rumo de volta, fomos dar em Maravilha, onde tanto passei meia-noite de volta as idas constantes às aulas em Ouro Branco. Nada pagava meu retorno ao alto Sertão, nada. A paisagem sertaneja que sempre me cativava desde criança, continuava exercendo em mim um fascínio sobrenatural diante da Geografia Divina.

Continuaremos amanhã esta série de 03 crônicas sobre o alto Sertão. Participe conosco.

IGREJA (FOTO: B. CHAGAS).

 


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