segunda-feira, 22 de maio de 2023

 

MANIÇOBA/BEBEDOURO

Clerisvaldo B. Chagas, 23 de maio de 2023

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 2.888

 



Vez em quando damos uma passada pelos bairros que formam um só, Maniçoba/Bebedouro. Lugar onde o casario se confunde ao longo da margem esquerda do rio Ipanema. Muitas rochas e árvores frondosas fazem de ambos os bairros, um belo jardim que vai sendo descoberto para chácaras da classe média que procura descanso. Na Maniçoba, o rio Ipanema recebe as águas de um riachinho que se forma em tempo de inverno, vindo da região do Residencial Brisa da Serra, parte norte da cidade e saída para o povoado São Félix. O riachinho não tem título e por isso o chamamos de “riacho Sem Nome”. Mais adiante, no Bebedouro encontra-se a estreita foz do riacho do bode, após as últimas casas do perímetro urbano. Hoje transformada em escoadouro do açude formado pelo riacho, porém, sem sangramento há muito tempo, é seca e coberta de mato.

Imortalizamos o lugar com o livro documentário ainda inédito, “Santana: Reino do Couro e da Sola”. Tendo como ponto central do documentário os curtumes daquela região que alimentava artesãos do couro, a rede de sapateiros autônomos e as fabriquetas de calçados da cidade. Muitos outros fatos, porém, ali acontecidos são narrados e vindos a lume para conhecimento dessa e das futuras gerações da terrinha. Curtumes são lugares onde o couro dos animais são transformados em couro curtido e/ou em sola. Nos tempos mais recentes nesses lugares que ostentam o primeiro documento sobre Santana do Ipanema, destacava-se a líder comunitária conhecida como “Dona Joaninha”, mulher combativa pela sua comunidade e terror dos políticos santanenses.

Tive a imensa honra de trabalhar com Dona Joaninha na “Associação Guardiões do Rio Ipanema – AGRIPA.  A última vez que estive na sua casa, foi com alguns guardiões de folga que aproveitaram para pegar umas cervejas nas imediações. Dona Joaninha “deu um rela” na turma e mandou pegar cerveja gelada em um lugar próximo, dizendo: “Vocês estão na minha casa e a obrigação é minha, ora, ora, ora... Estava doente, mas não se entregava e pouco se referia aos seus problemas pessoais. Poucos meses ou semanas após esse encontro, Deus precisou daquela mulher sábia e guerreira para aconselhar alguns rebeldes na porta do Céu. Uma lacuna difícil de ser preenchida na Maniçoba/Bebedouro e em Santana do Ipanema.

CLERISVALDO E DONA JOANINHA, NO BEBEDOURO (FOTO: SÉRGIO CAMPOS).

 


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