quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

UMA CASA ABENÇOADA

UMA CASA ABENÇOADA

(Clerisvaldo B. Chagas. 28.1.2010)

Sabemos que o maior driblador do mundo em todos os tempos foi o Garrincha. Um mágico da bola que fazia vibrar as multidões. Todavia temos outras lembranças gratificantes que ficaram gravadas nas fases criança e adolescência. São coisas simples que ornam a vida das pessoas sensíveis. As cenas do cotidiano que dão material ao guri para os escritos de amanhã. O alimento da alma que faz a diferença entre artistas e comuns. Lembramos das criaturinhas de Deus, criadas para alegrar o homem. São os pássaros que povoam o mundo com suas particularidades regionais e das próprias espécies, porém, com as mesmas finalidades da música que acalma os nervos. Alguns passarinhos ganharam fama nas lendas do povo sertanejo. A lavandeira, por exemplo, presente no meu romance inédito Fazenda Lajeado, “enquanto os judeus riam ao maltratarem Jesus, a lavandeira lavava os paninhos ensaquentados de Nosso Senhor”. No Sertão não se mata lavandeira por causa dessa lenda. Já o bem-te-vi, também presente naquelas páginas, não tem bom conceito com o povo. “Quando Jesus Menino fugia para o Egito com Maria e José, os soldados perguntavam se haviam visto essas pessoas. O povo negava, mas o bem-te-vi dizia no seu canto: bem que vi! Bem que vi! Outro pássaro, por nome de anum (tem o preto e o branco) é difícil de ser atingido, porque pula para cima tantas vezes venham balas; daí a expressão popular de advertência para quem quer fazer o que não pode: quem tem pólvora pouca não atira em anum. O joão-de-barro e a maria-de-barro constroem suas casas voltadas para o nascente prevendo um ano sem chuvas. O casal trabalha a semana toda e descansa aos domingos.
Conversando com certo eletricista que trocava uma caixinha de energia na minha casa, aprendi mais. Falei a ele que um casal de garrinchas fez ali o seu ninho, colocou os ovos e levou os pelocos. Ninguém mexeu com eles. Fiz ver o tempo de criança quando esse pássaro saltitante, marrom claro, empinado, nervoso e alegre, fazia seus ninhos nas biqueiras da casa de meu pai. Sempre gostei de garrinchas. Mas outros animais como vários marimbondos se arrancharam em minha casa, fizeram seus ninhos e levaram seus filhotes. Nunca os expulsei nem eles atacaram nem a mim nem aos visitantes. Foi quando o eletricista disse: “Professor, a casa onde a garrincha tem guarida é uma casa abençoada. Meus avôs já diziam e minhas bisavós também. Deus está presente na casa e a garrincha é como um enviado de Deus para confirmar a benção”. Lembrei da proteção divina à morada de meu pai. Senti que a minha casa também era abençoada; apenas confirmamos a crença popular. Aprendi mais essa sobre as observações da nossa gente.
Histórias que o povo conta a respeito de aves e pássaros sertanejos enriqueciam somente o folclore do País; atualmente, muitas dessas histórias são comprovadas através de estudiosos do assunto. Torça meu caro internauta, para que uma garrincha procure a biqueira da sua residência. Acredito sim, numa CASA ABENÇOADA.




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