CARROSSEL
Clerisvaldo
B, Chagas, 1 de novembro de 2021
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.603
Termina
o mês de outubro sem definir sua antiga posição no calendário anual. Primavera
na agenda, inverno na aparência e verão na vontade escondida. Último domingo
mesclado de incertezas, ora frio, ora pegando fogo, com ameaças de chuvas cujas
nuvens não se resolvem, “carregação”, dizem os entendidos. Assim caminhamos
para o Dia de Todos os Santos, sem definição, sem chuva, sem caminhão-pipa, sem
olhar de futuro, mas ainda confiante nas forças divinas que estão sempre no
coração e no bizaco do homem sertanejo. Céu azul, céu de cinza, céu
carrancudo... O clima da terra vai se virando como pode e nós vamos buscando
esperanças onde as esperanças são rechaçadas pelas ações humanas. Covid,
Carestia, Gasolina, Violência, poluição,,,
Já
vivi tempos assim quando a responsabilidade era pouca. Como criança, fui
passando no Beco de Sebastião Jiló, primeira travessa da Rua Antônio Tavares
pera o rio Ipanema quando um grupo de homens conversava espiando para o céu.
Falava sobre o tempo abafado e sem chuva. O flandreleiro Zé Gancho que fazia
bicas de flandres (zinco) ali pertinho, dizia que “no Ceará choveu foi muito!...”.
Não sei se foi pela sua fala arrastada ou alguma coisa assim que este passante
disse repentinamente: “Choveu bo....”. O artesão sentiu o baque e ficou dizendo
palavras exasperadas. Mas o menino continuou o seu caminho, porque menino é
menino e o saudoso Zé Gancho voltou à sua palestra. Ficava muito brabo ao ser
chamado de Zé Gancho, cujo apelido nem sei o motivo.
Deve
ter chovido mesmo no Ceará. Zé Gancho estava certo e preocupado com o tempo.
Sertanejo só fala em chuva. É o núcleo do agronegócio e suas periferias
diversas que fazem andar as coisas em solos do semiárido. Se vai chegar água do
céu, têm encomendas de bicas (calhas) para Zé Gancho, Manezinho Quiliu e outros
artesãos que perscrutam o tempo todos os dias. O simples sinal do relâmpago já
desperta o interesse, a alegria e a curiosidade: “está chovendo em Cacimbinhas,
Dois Riachos, Palmeira dos Índios, no Alto Sertão que as nuvens trouxeram
notícias. Ontem como hoje, o tempo é senhor de tudo e o Senhor, senhor do
tempo. Deixe que chegue novembro, Dia de todos os Santos... Dia de Finados... E
a sequência do que Deus planejou para nós.
TEMPO
EM SANTANA, FINAL DE OUTUBRO (FOTO: B. CHAGAS)
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